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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/237066974 Composição Corporal e Somatótipo Article · January 2003 CITATION 1 READS 195 1 author: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Master Volleyball Team View project Nelson Kautzner Marques Junior 294 PUBLICATIONS 484 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Nelson Kautzner Marques Junior on 26 May 2014. The user has requested enhancement of the downloaded file. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 2, p. 75-81, 2003 75 PONTO DE VISTA COMPOSIÇÃO CORPORAL E SOMATÓTIPO Nelson Kautzner Marques Junior INTRODUÇÃO As tabelas de altura e peso eram usadas para se conhecer a gordura corporal do indivíduo (MARINS e GIANNICHI, 1998; McARDLE, et al., 1992); contudo, a partir dos anos 40 ocorreram as primeiras descobertas significativas sobre a gordura corporal. O médico da marinha americana Albert Behnke identificou, em 17 jogadores de futebol americano considerados com excesso de peso, ou seja, inaptos para o serviço militar (Behnke, 1942, citado por McARDLE et al., 1992), que na composição corporal predominava a hipertrofia muscular (McARDLE et al., 1992). Atualmente existem diversos métodos indiretos para avaliar a composição corporal (FARINATTI e MONTEIRO, 1992). A somatotipia é uma das disciplinas da antropometria. Para Sodhi (1980) e Thorland et al. (1981), citados por FOX et al. (1991), ela serve para “relacionar o tipo corporal com o sucesso no desporto” (Mínima alteração, p. 396). De acordo com as características físicas da pessoa, seu somatótipo pode apresentar os três componentes dominantes, dois ou um, e os demais em menor quantidade (MARINS e GIANNICHI, 1998). Na etapa 2 o leitor vai entender a diferença entre somatótipo e composição corporal, e o momento de usar uma ou as duas disciplinas da antropometria. 1. QUAL AVALIAÇÃO É MAIS ADEQUADA PARA COMPOSIÇÃO CORPORAL: PESAGEM HIDROSTÁTICA OU MEDIDA DAS DOBRAS CUTÂNEAS As avaliações indiretas da composição corporal, analisadas neste capítulo, são a pesagem hidrostática e a medida das dobras cutâneas. Inicialmente será descrita a pesagem hidrostática; a seguir, o leitor terá as mesmas informações sobre a medida das dobras cutâneas. Especialista em Fisiologia do Exercício e Avaliação Morfofuncional - UG - RJ. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 2, p. 75-81, 200376 A pesagem hidrostática ou subaquática é uma técnica laboratorial (POLLOCK e WILMORE, 1993) que determina a densidade corporal real (GUEDES e SAMPEDRO, 1985). A água deve estar numa temperatura entre 32 e 35 °C, para o testado ter mais conforto no momento da medida (POLLOCK et al., 1993). Katch (1968), citado por POLLOCK et al. (1993), aconselha de 6 a 10 medidas para o resultado ser mais preciso. Behnke e Wilmore (1974), citados por POLLOCK et al. (1993), recomendam o seguinte método para a pesagem hidrostática real: (1) seleção do peso mais alto observado, caso este tenha sido obtido mais de uma vez; (2) se o critério 1 não for satisfeito, selecione o segundo peso mais elevado que tenha sido registrado mais de uma vez; (3) se os critérios 1 e 2 não forem satisfeitos, selecione a terceira medida mais elevada (p. 314). Após a pesagem hidrostática, coloque os valores na fórmula apresentada a seguir e saiba sua densidade corporal (Dc): Dc = peso fora da água (PF) (PF – peso na água) – (volume residual + 0, 100 ml de ar do trato gastrintestinal) densidade da água Em seguida, aplique o valor da Dc na equação de Siri (1961), citado por POLLOCK et al. (1993), e/ou Brozek et al. (1963), citados por POLLOCK et al. (1993), e saiba o seu percentual de gordura (%G). A seguir ambas são exibidas para o leitor: Siri (1961), citado por POLLOCK et al. (1993): %G = (495/Dc) – 450 Brozek et al. (1963), citados por POLLOCK et al. (1993): %G = [ (4, 570/Dc) – 4, 142] x 100 Segundo Clínicas Médicas da América do Norte (1989), citado por FARINATTI et al., (1992), a maioria dos métodos laboratoriais é de alto custo; entretanto, para FARINATTI et al. (1992), a medida das dobras cutâneas apresenta “fácil disponibilidade do equipamento, facilidade de aplicação e baixo custo” (p. 222). Ela prediz os valores da Dc (GUEDES e SAMPEDRO, 1985), e os procedimentos para fazer as medidas são os seguintes (FARINATTI et al., 1992): R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 2, p. 75-81, 2003 77 a) Todas as medidas devem ser feitas no lado direito. b) A dobra cutânea deve ser destacada com o polegar e o indicador, ambos da mão esquerda. c) O compasso entra perpendicular à dobra, e espera-se dois segundos para fazer a leitura. d) As dobras devem ser medidas três vezes, para se encontrar o valor da região corporal através da média. No entanto, se ocorrer, em uma das medidas, um valor de 5% superior ou inferior ao de outras dobras, o professor deverá fazer nova série de medidas. Imediatamente, o professor consulta a Tabela 1 e sabe o %G do atleta ou aluno (DINTIMAN et al., 1999). Tabela 1 – Porcentagem de G com base na soma de quatro dobras cutâneas (tríceps, bíceps, subescapular e supra-ilíaca) do sexo masculino Fonte: reduzido de DINTIMAN et al. (1999). No primeiro e no segundo parágrafo foram descritos os procedimentos das medidas da Dc e como achar o %G. A melhor estratégia para análise da composição corporal está de acordo com os objetivos do avaliado e o acesso ao material. A pesagem hidrostática é mais precisa para aferirmos a Dc, mas se adequa melhor à pesquisa, devido aos equipamentos caros e de difícil transporte, ao enorme tempo despendido na avaliação e à longa série de equações que o cientista tem que fazer. A medida das dobras cutâneas é pouco menos precisa no resultado da Dc, se comparada com a pesagem hidrostática, mas está de acordo com a realidade de trabalho da maioria dos professores de educação física. Por exemplo: um aluno de 28 anos acaba de se matricular em sua academia e tem o %G de 18%. Na avaliação funcional foi constatado que possui 83 kg e tem boa composição corporal, porém deseja ficar com 80 kg, por motivos estéticos. Após os cálculos necessários, recomendamos ao cliente a perda de 3% do %G para atingir o peso ideal. A medida foi das dobras cutâneas por causa do tempo “comercial” da avaliação funcional em academia (30 minutos), do custo reduzido e da boa precisão nos resultados. Soma da Dc (mm) %G masculino na idade de 17 a 29 anos 15 4, 8 20 8, 1 25 10, 5 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 2, p. 75-81, 200378 2. DIFERENÇA ENTRE COMPOSIÇÃO CORPORAL E SOMATÓTIPO E O MOMENTO DE USAR ESSAS DISCIPLINAS NA AVALIAÇÃO FUNCIONAL A composição corporal é constituída principalmente por músculos, gordura e ossos (McARDLE et al., 1992). Matiegka (1922), citado por FARINATTI et al. (1992), inclui mais um componente os resíduos e “considera as estruturas formadas pelos órgãos internos, pele, sangue etc (...)” (p. 220). Na Figura 1, BULGAKOVA (2000) apresenta a característica da composição corporal de nadadores de alto nível. Figura 1 – Composição corporal de nadadores de alto nível (BULGAKOVA, 2000). A composição corporal é recomendada para atletas e alunos na academia, no clube e no personal training; segundo MARINS et al. (1998), ela possibilita um maior controle da sessão. Mas, de que forma? Podemos aferir com boa precisão se o aluno ou atleta diminuiu o %G, “ganhou” hipertrofia ou aumentou a densidade óssea e indicar o peso ideal. Por meio das equações exibidas por FARINATTI et al. (1992), PETROSKI e PIRES-NETO (1995) e RODRIGUES (1990), podemos verificar as mudanças morfofuncionais afirmadas anteriormente: %G = (495/Dc) – 450 PG = PA x %G/100 MCM = PA – PG PI = MCM x 100/100 – (%G desejado)O somatótipo é o meio pelo qual o professor pode determinar o tipo físico do indivíduo (VÍVOLO, 1998). De Rose (1973), citado por R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 2, p. 75-81, 2003 79 MARINS et al. (1998), ensina que o somatótipo de qualquer pessoa possui os seguintes componentes: endomorfia (magreza), mesomorfia (muscularidade) e ectomorfia (gordura). FOX et al. (1991) lembram que “os professores de educação física manifestam um grande interesse na somatotipagem como meio de relacionar o tipo corporal com o sucesso em vários desportos” (p. 396). BULGAKOVA (2000) apresenta na Figura 2 o somatótipo de nadadores de alto nível. Figura 2 – Somatótipo dos nadadores de alto nível (mínima modificação na nomenclatura das provas dos nadadores de BULGAKOVA, 2000). FRANCHINE et al. (1998) determinam, na Figura 3, o somatótipo de atletas juvenis (15 a 17 anos) e adultos (acima de 18 anos de idade) de judô. Figura 3 – Somatótipo de judocas juvenis e adultos de diferentes categorias (FRANCHINE et al., 1998). R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 2, p. 75-81, 200380 Ainda é ensinado, conforme discussão do artigo original de FRANCHINE et al. (1998), que o somatótipo influencia o ritmo das lutas e a vantagem biomecânica do golpe aplicado pelo atleta, e as explicações são as seguintes: Araújo et al. (1978), citados por FRANCHINE et al. (1998), afirmam que lutas entre atletas com maior endomorfia tendem a ter um ritmo mais lento e com maior decisão de lutas no solo, e que técnicas como soto-makikomi tendem a ser bastante eficientes neste grupo, uma vez que o judoca se utiliza de sua massa corporal para arremessar o adversário (técnica de sacrifício – sute-waza). Análise semelhante pode ser feita com relação aos outros componentes, [...] atletas com membros inferiores longos e mais ectomorfos apresentam maior facilidade mecânica para executar técnicas de perna (ashi-waza), como o ô-soto- gari e sassal-tsuri-komi-ashi, por exemplo (Santos et al., 1993, citados por FRANCHINE et al., 1998). Portanto, a constatação do grande desenvolvimento ou predominância de um dos componentes do somatótipo pode auxiliar os técnicos e treinadores a adequar as técnicas à estrutura corporal do atleta (p. 33). É desnecessária a aplicação prática do somatótipo em não- atletas, porque esta disciplina da antropometria determina o tipo físico adequado à performance, e pessoas “comuns” não estão interessadas nesses objetivos. Referências Bibliográficas BULGAKOVA, N. J. Natação: seleção de talentos e treinamento a longo prazo. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 2000. p. 22 e 23, 25-36. DINTIMAN, G. B.; WARD, R. D.; TELLEZ, T.; CONTRIBUIÇÃO de SEARS, B. Velocidade nos esportes. 2. ed. São Paulo: Manole, 1999. p. 25-28. FARINATTI, P. T.; MONTEIRO, W. D. Fisiologia e avaliação funcional. 2. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 1992. p. 219-222 FRANCHINE, E.; TAKITO, M. Y.; KISS, M. A. P. D. M. Somatótipo de atletas de judô de 15 a 17 anos e acima de 18 anos de idade de diferentes categorias. Revista da Associação dos Professores de Educação Física de Londrina, v. 13, n. 1, p. 29-34, 1998. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 2, p. 75-81, 2003 81 FOX, E. L.; BOWERS, R. W.; FOSS, M. L. Bases fisiológicas da educação física e dos desportos. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. p. 396. GUEDES, D. P.; SAMPEDRO, R. M. Tentativa de validação de equações para predição dos valores de densidade corporal com base nas espessuras de dobras cutâneas em universitários. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 6, n. 3, p. 183, 1985. MARINS, J. C. B.; GIANNICHI, R. S. Avaliação e prescrição de atividade física: guia prático. 2. ed. Rio de Janeiro: Shape, 1998. p. 43, 51-59. McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992. p. 387, 392-399. PETROSKI, E. L.; PIRES-NETO, C. S. Validação de equações antropométricas para a estimativa da densidade corporal em mulheres. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v.1, n. 2, p. 67, 1995. POLLOCK, M. L.; WILMORE, J. H. Exercícios na saúde e na doença: avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. 2. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1993. p. 312-337. RODRIGUES, C. E. C. Musculação na academia. 2. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 1990. p. 33-36. VÍVOLO, M. A. Somatótipo de Heath-Carter. In: MATSUDO (Ed.) Testes em Ciências do Esporte. 6. ed. São Caetano do Sul: CELAFISC, 1998. p. 135. View publication statsView publication stats
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