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PROCESSO PENAL II
PROF. MARCOS TÚLIO
ALGUNS AUTORES DA SEARA DO PROCESSO PENAL
- NESTOR TÁVORA
- AURY LOPES JÚNIOR
- EUGÊNIO PACELLI DE OLIVEIRA
- FERNANDO COSTA TOURINHO FILHO
- RENE ARIEL DOTTI
- ANTONIO SCARANCE FERNANDES
- JOSÉ FREDERICO MARQUES
- GERALDO PRADO
- AFRÂNIO SILVA JARDIM
De acordo com o art. 5º, inciso XXXVIII, da Constituição Federal, é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: 
a) a plenitude de defesa; 
b) o sigilo das votações; 
c) a soberania dos veredictos; 
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
a) Plenitude de defesa
A primeira garantia constitucional do júri é a plenitude de defesa. Enquanto a ampla defesa é assegurada a todos os acusados (CF, art. 5º, LV), inclusive em relação àqueles que são submetidos a julgamento perante o Tribunal do Júri, a plenitude de defesa é prevista especificamente como garantia do Júri. A plenitude de defesa implica no exercício da defesa em um grau ainda maior do que a ampla defesa, ou seja, o defensor não precisa se restringir a uma atuação exclusivamente técnica, ou seja, é perfeitamente possível que o defensor também utilize argumentação extrajurídica, valendo-se de razões de ordem social, emocional, de política criminal, etc. 
b) Sigilo das votações
Por força da garantia constitucional do sigilo das votações, a ninguém é dado saber o sentido do voto do jurado. Por esse motivo, aliás, é que o próprio Código de Processo Penal prevê que a votação ocorra em uma sala especial, onde serão distribuídos aos jurados pequenas cédulas, feitas de papel opaco e facilmente dobráveis, contendo 7 (sete) delas a palavra sim, 7 (sete) a palavra não, sendo que o Oficial de Justiça deve recolher em urnas separadas as cédulas correspondentes aos votos e as não utilizadas.
b-1) Incomunicabilidade dos jurados
Em virtude do sigilo das votações, adota-se o sistema da incomunicabilidade dos jurados, cuja violação é causa de nulidade absoluta (CPP, art. 564, III, “j”, in fine). Por conta da incomunicabilidade, uma vez sorteados, os jurados serão advertidos que não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa, no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do jurado (CPP, art. 466, § 1º).
Na verdade, em homenagem à incomunicabilidade, deve permanecer no prédio do Fórum, dormindo em local apropriado.
b-2) Votação unânime
Atenta à proteção do sigilo das votações, a Lei nº 11.689/08 corrigiu antiga falha da quesitação no júri nos casos de votação unânime. De fato, antes da reforma processual de 2008, o sigilo do voto do jurado era prejudicado na hipótese de votação unânime, porquanto era possível que se soubesse que todos os jurados haviam votado num ou noutro sentido. Afinal, antes da reforma processual de 2008, se o resultado da votação a determinado quesito terminasse em 7 (sete) a 0 (zero), era possível aferir o sentido do voto de cada um dos jurados, já que todos eles teriam votado num mesmo sentido. 
Com a entrada em vigor da Lei nº 11.689/08, essa incorreção foi sanada. Afinal, de acordo com a nova redação do art. 483, § 1º, do CPP, a resposta negativa de mais de 3 (três) jurados aos quesitos atinentes à materialidade do fato e autoria ou participação encerra a votação e implica a absolvição do acusado, sem que seja necessário se proceder à colheita dos demais votos. 
Apesar de não haver disposição expressa nesse sentido, doutrina e jurisprudência têm entendido que essa nova forma de quesitação deve ser trabalhada em relação a todos os demais quesitos, e não apenas em relação àqueles relativos à materialidade e autoria. Como se percebe, por força desse novo regramento, a votação será automaticamente interrompida quando 4 (quatro) votos forem atingidos num sentido. 
c) Soberania dos veredictos
Na medida em que representa a vontade popular, a decisão coletiva dos jurados, chamada de veredicto, é soberana (CF, art. 5º, XXXVIII, “c”). Da soberania dos veredictos decorre a conclusão de que um tribunal formado por juízes togados não pode modificar, no mérito, a decisão proferida pelo Conselho de Sentença.
Por determinação constitucional, incumbe aos jurados decidir pela procedência ou não da imputação de crime doloso contra a vida, sendo inviável que juízes togados se substituam a eles na decisão da causa. 
d) Competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida
Da leitura do art. 5º, XXXVIII, “d”, da Constituição Federal, depreende-se que o Tribunal do Júri possui uma competência mínima, qual seja, a de processar e julgar os crimes dolosos contra a vida, aí incluídos o homicídio (CP, art. 121), induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (CP, art. 122), infanticídio (CP, art. 123) e abortos (CP, arts. 124, 125 e 126).
Trata-se de uma competência mínima, que não pode ser afastada nem mesmo por emenda constitucional, na medida em que se trata de uma cláusula pétrea (CF, art. 60, § 4º, IV), o que, no entanto, não significa que o legislador ordinário não possa ampliar o âmbito de competência do Tribunal do Júri. É isso, aliás, o que já ocorre com os crimes conexos e/ou continentes. Com efeito,
por força do art. 78, inciso I, do CPP, além dos crimes dolosos contra a vida, também compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes conexos, salvo em se tratando de crimes militares ou eleitorais, hipótese em que deverá se dar a obrigatória separação dos processos.
PROCEDIMENTO BIFÁSICO DO TRIBUNAL DO JÚRI
O procedimento do Júri é bifásico, porquanto estruturado em duas fases distintas: a primeira, denominada judicium accusation ou sumário da culpa, tem início com o oferecimento da peça acusatória e perdura até a preclusão da decisão de pronúncia. A segunda fase, chamada judicium causae, passa a ocorrer com a preparação do processo para julgamento em plenário (CPP, art. 422).
Com o início da segunda fase, abre-se a oportunidade em que as partes são intimadas para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer diligência.
IUDICIUM ACCUSATION (OU SUMÁRIO DA CULPA)
Nesta fase, há apenas a intervenção do juiz togado, aqui denominado de juiz sumariante. O judicium accusation é a fase em que se reconhece ao Estado o direito de submeter o acusado a julgamento perante o Tribunal do Júri.
Por força do art. 406, § 2º, do CPP, a acusação pode arrolar na denúncia ou na queixa até 08 (oito) testemunhas, independentemente da natureza (reclusão ou detenção) e quantidade de pena cominada ao delito, já que o procedimento é único e não estabelece qualquer distinção quanto aos crimes dolosos contra a vida.
Em relação à primeira fase do procedimento do júri, o art. 410 do CPP estabelece que, ouvida a acusação sobre preliminares e documentos apresentados na resposta à acusação, deve o juiz determinar a inquirição das testemunhas e a realização das diligências requeridas pelas partes, no prazo máximo de 10 (dez) dias.
O art. 412 do CPP prevê que o procedimento pertinente à primeira fase deve ser concluído no prazo máximo de 90 (noventa) dias. 
IMPRONÚNCIA
Nos exatos termos do art. 414 do CPP, o acusado deve ser fundamentadamente impronunciado pelo juiz sumariante quando este não se convencer da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação.
Apesar de tratada equivocadamente como sentença no art. 416 do CPP, trata-se, a impronúncia, de decisão interlocutória mista terminativa: decisão interlocutória, porque não aprecia o mérito para dizer se o acusado é culpado ou inocente; mista, porque põe fim a uma fase procedimental; e terminativa, porquanto acarreta a extinção do processo antes do final do procedimento.
Logo, se não há análise do mérito, forçoso é concluir que referida decisão só produz coisa julgada formal. Isso significadizer que, enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova (CPP, art. 414, parágrafo único).
Da redação do art. 416 do CPP, “contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação”.
DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO
De acordo com o art. 419 do CPP, quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1º do art. 74 do CPP (homicídio, induzimento, instigação ou auxílio a suicídio, infanticídio e aborto, em suas diversas modalidades), e não for competente para seu julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja.
Na decisão de desclassificação, a fim de se evitar indevida antecipação do juízo de mérito, deve o juiz sumariante se abster de fixar a nova capitulação legal, ou seja, basta que o magistrado aponte a inexistência de crime doloso contra a vida (v.g., em virtude da ausência de prova do animus necandi). 
Conforme Távora, ao receber os autos, e independentemente da hipótese de desclassificação, deve o juízo singular competente dar oportunidade às partes para que se manifestem e, eventualmente, requeiram a produção de provas, em fiel observância ao contraditório e à ampla defesa, sendo vedado proferir sentença de imediato.
O recurso cabível é o RESE, com fundamento no art. 581, II, do CPP. Afinal, trata-se, a desclassificação, de decisão que concluiu pela incompetência do juízo. 
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA
Com o art. 415 do CPP, o juiz sumariante deverá, fundamentadamente, absolver o acusado quando:
I – provada a inexistência do fato;
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato: essa hipótese de absolvição sumária não se confunde com a impronúncia. Na absolvição sumária, o juiz está plenamente convencido de que o acusado não é o autor do fato delituoso, ao passo que, na impronúncia, não há indícios su--ficientes de= -autoria ou de participação;
III – o fato não constituir infração penal: reconhecida a atipicidade formal ou material da conduta delituosa, é possível a absolvição sumária do agente;
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime: o acusado deve ser absolvido sumariamente quando o juiz estiver convencido que o crime foi praticado sob o amparo de causa excludente da ilicitude, ou seja, em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e no exercício regular de direito. Também será cabível a absolvição sumária do agente quando verificada a presença manifesta de causa excludente da culpabilidade.
Como exemplos, podemos citar a coação moral irresistível, a obediência hierárquica ou a inexigibilidade de conduta diversa, esta como causa supralegal de exclusão da culpabilidade. Corretamente, a presença de causa extintiva da punibilidade não está elencada entre as causas de absolvição sumária do art. 415 do CPP, ao contrário do que se dá no bojo do procedimento comum, em que referida hipótese foi inserida indevidamente no art. 397, inciso IV, o que se deu de maneira indevida, já que prevalece o entendimento de que a sentença que declara extinta a punibilidade não tem natureza absolutória, mas sim declaratória. A despeito da diferença, é bom lembrar que, por força do art. 61 do CPP, em qualquer fase do processo, se o juiz reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício.
Inimputável do art. 26, caput, do CP
No âmbito do procedimento comum ordinário, não é cabível a absolvição sumária do inimputável do art. 26, caput, do Código Penal (CPP, art. 397, II). No âmbito do procedimento do júri, no entanto, a situação do inimputável é diferente. Isso porque, nos termos do art. 415, parágrafo único,
do CPP, não é possível sua absolvição sumária, salvo quando esta for a única tese defensiva.
Se a inimputabilidade do art. 26, caput, não for a única tese defensiva, não é possível a absolvição sumária imprópria. O motivo para tal vedação é evidente: quando o agente é absolvido com base na inimputabilidade decorrente de doença mental ou desenvolvimento incompleto ou retardado (CP, art. 26, caput), a ele será imposta medida de segurança (CPP, art. 386, parágrafo único, III, c/c art. 97, caput, do CP). Ora, como a internação não deixa de ser uma espécie de sanção penal àquele cidadão desprovido de capacidade de culpabilidade (imputabilidade), porquanto o acusado fica internado ou em tratamento ambulatorial até a cessação de sua periculosidade, sua aplicação está condicionada ao prévio reconhecimento da prática de conduta típica e ilícita. 
Assim, reconhecida a existência de conduta típica e ilícita, porém ausente a capacidade de culpabilidade, e desde que a inimputabilidade seja sua única tese defensiva, é possível a absolvição sumária do agente. Havendo outra tese defensiva, não deve o magistrado absolver sumariamente o acusado. Neste caso, o acusado deve ser pronunciado e remetido a julgamento perante o Tribunal do Júri, cabendo aos jurados decidir sobre esta(s) outra(s) tese(s) defensiva(s).
PRONÚNCIA
A pronúncia encerra um juízo de admissibilidade da acusação de crime doloso contra a vida, permitindo o julgamento pelo Tribunal do Júri apenas quando houver alguma viabilidade de haver a condenação do acusado. Sobre ela, o art. 413, caput, do CPP, dispõe que, estando convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, deve o juiz sumariante pronunciar o acusado fundamentadamente.
Há na pronúncia um mero juízo de prelibação, por meio do qual o juiz admite ou rejeita a acusação, sem qualquer valoração acerca do mérito. 
Decisão interlocutória porque não julga o mérito, ou seja, não condena nem absolve o acusado; mista, porque põe fim a uma fase procedimental; e não terminativa, porque não encerra o processo. Prevalece nessa fase, o princípio in dubio pro societate.
Deve o magistrado se limitar a apontar a prova da existência do crime e os indícios suficientes de autoria ou participação, valendo-se de termos sóbrios e comedidos, para que não haja indevida influência no animus judicandi dos jurados, que podem ser facilmente influenciados por uma pronúncia dotada de excessos.
Quando o juiz sumariante abusa da linguagem, proferindo a pronúncia sem moderação, caracteriza-se o que se denomina de eloquência acusatória, causa de nulidade da referida decisão, que, uma vez declarada, acarreta o desentranhamento da pronúncia dos autos do processo e consequente necessidade de prolação de nova decisão.
Infrações conexas
Ao pronunciar o acusado, deve o magistrado se ater à imputação pertinente ao crime doloso contra a vida, abstendo-se de fazer qualquer análise em relação à infração conexa, que deve seguir a mesma sorte que a imputação principal. Logo, se o magistrado entender que há prova da existência de crime doloso contra a vida e indícios suficientes de autoria, deverá pronunciar o acusado pela prática do referido delito, situação em que a infração conexa será automaticamente remetida à análise do Júri, haja ou não prova da materialidade, presentes (ou não) indícios suficientes de autoria ou de participação. Não lhe é permitido pronunciar o acusado pelo crime doloso contra a vida e absolvê-lo ou impronunciá-lo pelo crime conexo, ou proceder à desclassificação da infração conexa. 
Intimação da pronúncia
Com o advento da Lei nº 11.689/08, a intimação da pronúncia continua sendo obrigatória, como não poderia deixar de ser. Porém, a novidade fica por conta da possibilidade de o acusado solto ser intimado por edital, caso não seja encontrado, pouco importando a natureza do delito (afiançável ou inafiançável).
De acordo com o art. 420 do CPP, a intimação da decisão de pronúncia será feita: 
I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério Público; 
II – ao defensor constituído, o querelante e ao assistente do Ministério Público, por publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca, ou, em sua ausência, diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com comprovante de recebimento,ou por qualquer outro meio idôneo.
Por sua vez, segundo o art. 420, parágrafo único, do CPP, será intimado por edital o acusado solto que não for encontrado. Assim, se o acusado, intimado por edital, não comparecer, será declarada sua revelia e o processo seguirá seu curso normalmente, sendo plenamente possível a realização do julgamento sem a sua presença (CPP, art. 457, caput).
Quanto ao recurso cabível contra a decisão de pronúncia, não houve qualquer alteração pela Lei nº 11.689/08. A impugnação deve continuar sendo feita por meio do recurso em sentido estrito, nos termos do art. 581, IV, do CPP.
DESAFORAMENTO
No âmbito do CPP, consiste o desaforamento no deslocamento da competência territorial de uma comarca para outra, a fim de que nesta seja realizado o julgamento pelo Tribunal do Júri. Cuida-se de decisão jurisdicional que altera a competência territorial inicialmente fixada pelos critérios constantes do art. 70 do CPP, com aplicação estrita à sessão de julgamento propriamente dita. Assim, não é cabível o desaforamento no sumário da culpa, que é a primeira fase do júri (judicium accusation).
A decisão que decreta o desaforamento tem caráter jurisdicional e não administrativo, necessitando ser proferida por uma das Câmaras (ou Turmas) Criminais do Tribunal de Justiça (ou do Tribunal Regional Federal), e não pela Presidência do Tribunal ou outro órgão diretivo da Corte, que estaria agindo em sua competência administrativa e não jurisdicional. 
Legitimidade para o requerimento de desaforamento
Como deixa claro o dispositivo do art. 427, o desaforamento pode ser decretado em virtude de requerimento do Ministério Público, do assistente da acusação, do querelante ou do acusado ou mediante representação do juízo competente. Caso a medida não tenha sido solicitada pelo juiz-presidente do Tribunal do Júri, deve o relator do pedido de desaforamento providenciar sua oitiva.
Ademais, é nula a decisão que determina o desaforamento de processo da competência do júri sem audiência da defesa (Súmula nº 712 do STF).
Momento para o desaforamento
Só há falar em desaforamento após a decisão de pronúncia, como deixa entrever o art. 427, § 4º, do CPP. Portanto, não é possível o desaforamento se ainda está pendente o recurso da defesa contra a pronúncia, ou seja, só é possível após a preclusão da decisão de pronúncia do réu, mesmo porque, até então, não há como se cogitar de julgamento pelo Tribunal do Júri, diante da possibilidade de não ser o acusado pronunciado (desclassificação da imputação, impronúncia ou absolvição sumária) ou de ser a pronúncia reformada em sede recursal.
Mas e depois do julgamento pelo Júri? Ainda é possível o desaforamento? Somente se admite o desaforamento após o julgamento pelos jurados se somadas duas condições (CPP, art. 427, § 4º): se houver nulidade da decisão e o fato tiver ocorrido durante ou após a realização do julgamento.
Assim, se no curso do julgamento em plenário se verifica que há risco à segurança pessoal do acusado e caso este julgamento venha a ser anulado por qualquer causa, poderá ser formulado novo pedido de desaforamento. A restrição neste ponto tem razão de ser: caso fosse admitido o desaforamento após o julgamento, o instituto poderia ser utilizado para buscar censurar a decisão anterior dos jurados, em violação ao princípio da soberania dos veredictos. 
Hipóteses que autorizam o desaforamento
O desaforamento deve ser usado de maneira excepcional, somente quando demonstrada a presença de um dos motivos constantes dos arts. 427 e 428, pois a regra fundamental é que o acusado seja julgado no distrito da culpa, no local onde cometeu o delito. Os motivos que autorizam o desaforamento estão elencados nos arts. 427 e 428 do CPP:
a) interesse de ordem pública: tem fundamento na paz e tranquilidade do julgamento, que não podem ser comprometidos, tal como se dá em casos de convulsão social ou risco à incolumidade dos jurados.
b) dúvida sobre a imparcialidade do júri: estará presente quando a infração penal, apaixonando a opinião pública, gerar no meio social animosidade, antipatia e ódio ao acusado. 
c) falta de segurança pessoal do acusado: esse motivo estará presente quando, pela revolta que acometeu os cidadãos da comarca competente, pela indignação popular ou comoção social provocadas pela repercussão do delito, haja receio de que a integridade física do acusado esteja em risco, com ameaças de linchamento;
d) quando o julgamento não for realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado da preclusão da decisão de pronúncia, desde que comprovado excesso de serviço e evidenciado que a demora não foi provocada pela defesa: de acordo com o art. 428, caput, com redação determinada pela Lei nº 11.689/08, o desaforamento também poderá ser determinado, em razão do comprovado excesso de serviço, ouvidos o juiz presidente e a parte contrária, se o julgamento não puder ser realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado da preclusão da decisão de pronúncia. Para a contagem desse prazo de 6 (seis) meses, não se computa o tempo de adiamentos, diligências ou incidentes de interesse da defesa.
	Observação importante a fazer, é que o pedido de desaforamento não pode ser formulado pelo juiz, de ofício.
Aceleração de julgamento
De acordo com o art. 428, § 2º, do CPP, não havendo excesso de serviço ou existência de processos aguardando julgamento em quantidade que ultrapasse a possibilidade de apreciação pelo Tribunal do Júri, nas reuniões periódicas previstas para o exercício, o acusado poderá requerer ao Tribunal que determine a imediata realização do julgamento. Não se trata, propriamente, de um desaforamento, mas sim de uma aceleração do julgamento.
Apesar de o § 2º do art. 428 do CPP dizer que o acusado poderá requerer, pensamos que ao Ministério Público, ao querelante e ao assistente também se defere a possibilidade de requerer a aceleração de julgamento, porquanto a todos é assegurado o direito à razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII).
Crimes conexos e coautores
Uma vez deferido o desaforamento, este também tem o condão de atingir os crimes conexos aos delitos dolosos contra a vida atraídos para o Tribunal do Júri por força do disposto no art. 78, inciso I, do CPP. Da mesma forma, havendo concurso de agentes, todos os acusados serão atingidos pelo desaforamento, ainda que a medida seja adotada em virtude de um único corréu.
Comarca (ou subseção judiciária) para a qual o processo será desaforado
Em caso de deferimento do pedido, deve o julgamento em plenário ser deslocado para outra comarca da mesma região, onde não existam os motivos que levaram à adoção da medida, preferindo-se as mais próximas. Perceba-se que a comarca para a qual o julgamento será desaforado não é necessariamente a mais próxima ou a vizinha. 
Isso porque, a depender do caso concreto, é possível que o crime acarrete uma comoção regional, com um impacto que transcenda os limites territoriais da cidade onde o delito foi perpetrado. Nessa hipótese, o desaforamento deve se dar para uma comarca onde aqueles motivos que ensejaram a alteração da competência não estejam presentes, como deixa claro a parte final do art. 427, caput, do CPP.
Efeito suspensivo
Antes da Lei nº 11.689/08, não havia previsão legal de efeito suspensivo para o pedido de desaforamento, o que, na prática, significava que seria possível a realização do julgamento em plenário na pendência do trâmite do pedido perante o Tribunal. Hoje, esta questão encontra-se superada, na medida em que o art. 427, § 2º, do CPP, com redação dada pela Lei nº 11.689/08, autoriza que o relator suspenda a realização do julgamento pelo Júri, desde que relevantes os
motivos alegados. 
Recursos
Conquanto não haja previsão legal de recurso contra a decisão que acolhe ou que rejeita o pedido de desaforamento, a jurisprudência tem admitido a utilização do habeas corpus em favor do acusado. Outrossim, indeferido o desaforamento, nada impede que novo pedido seja formulado com fundamento em fatosdiversos daqueles que embasaram o primeiro. Afinal, a decisão que indefere o desaforamento é baseada na cláusula rebus sic stantibus, ou seja, modificados os pressupostos fáticos, nada impede que novo pedido seja formulado. 
Reaforamento
Consiste na possibilidade de, após ter sido determinado o desaforamento, retornar o processo ao foro de origem, onde fora cometido o delito. Pelo menos em regra, o reaforamento não é admitido pelos Regimentos Internos dos Tribunais, ainda que ocorra o superveniente desaparecimento das
causas que autorizaram o desaforamento (v.g., art. 168, § 1º, do Regimento Interno do TJDFT). Isso não significa dizer que não seja possível novo desaforamento. De fato, se, na comarca para a qual foi desaforado o julgamento, surgir um dos motivos do art. 427 do CPP, é perfeitamente possível novo desaforamento.
PREPARAÇÃO DO PROCESSO PARA JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI
De acordo com o art. 421, caput, do CPP, preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente do Tribunal do Júri. Ao receber os autos, diz o art. 422 do CPP que o presidente do Tribunal do Júri deve determinar a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer diligência (v.g., reconstituição do crime, complementação do laudo pericial, etc.).
Qualquer testemunha pode ser arrolada na fase de preparação do processo para julgamento em plenário. Portanto, independentemente de a testemunha ter sido ouvida (ou não) no inquérito policial e/ou na primeira fase do procedimento escalonado do júri, é plenamente possível que seja arrolada para depor em plenário. 
Nesse contexto, como já se pronunciou o Supremo, a falta de qualquer das testemunhas não será motivo para o adiamento da sessão do tribunal do júri, salvo se alguma das partes houver requerido sua intimação, declarando expressamente não prescindir do depoimento, com indicação de seu paradeiro para intimação (CPP, antiga redação do art. 455, caput). Com o advento da Lei n° 11.689/08, há clara indicação do desestímulo quanto à não-realização da sessão de julgamento pelo tribunal do júri. 
Assim, o julgamento não será adiado em razão do não comparecimento do acusado solto, do assistente de acusação ou do advogado do querelante que fora regularmente intimado (nova redação do art. 457, do CPP). A respeito do não comparecimento de testemunha, a nova redação do art. 461, do CPP, reproduz substancialmente o mesmo tratamento anteriormente dispensado.
Habilitação do assistente do Ministério Público
Se o assistente do Ministério Público – ofendido ou seu representante legal, ou, na falta, cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão – pretender atuar no plenário do Júri, deve requerer sua habilitação até 5 (cinco) dias antes da respectiva sessão de julgamento. É esse o teor do art. 430 do CPP, que dilatou o prazo fixado na antiga redação do parágrafo único do art. 447, que era de 3 (três) dias.
ORGANIZAÇÃO DO JÚRI
De acordo com o art. 447 do CPP, o Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, seu presidente, e por 25 (vinte e cinco) jurados que serão sorteados dentre os alistados, 7 (sete) dos quais constituirão o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento. Apesar de tomarem parte nos trabalhos, o Ministério Público e o defensor não compõem o Tribunal do Júri.
Aos jurados compete decidir sobre a existência do crime e se o acusado concorreu para a prática do fato delituoso na condição de autor ou partícipe. Também incumbe a eles decidir pela condenação ou absolvição do acusado, sendo que, no caso de condenação, devem deliberar sobre a presença de causas de diminuição de pena, qualificadoras ou causas de aumento de pena. Lado outro, ao juiz presidente compete proferir a sentença em conformidade com a decisão do conselho de sentença.
Como vigora, em relação aos jurados, o sistema da íntima convicção, pode-se dizer que, no mérito, a sentença é desprovida de motivação. Na hipótese de decreto condenatório, deve o juiz presidente fixar a pena em fiel observância à decisão dos jurados, hipótese em que deve haver fundamentação quanto à pena fixada. Recai sobre o juiz presidente a função de presidir a sessão e resolver eventuais controvérsias de direito que surjam no curso do julgamento. Daí por que se diz que o Tribunal do Júri é um órgão colegiado heterogêneo e temporário, já que formado apenas para aquele julgamento.
Trata-se, portanto, de verdadeira espécie de competência funcional horizontal por objeto do juízo, pois ao Conselho de Sentença compete o julgamento da existência do fato delituoso e de sua autoria, por meio de respostas aos quesitos formulados, enquanto ao juiz-presidente compete prolatar a sentença condenatória ou absolutória de acordo com o decidido pelos jurados, fazendo a dosimetria da pena, além de decidir questões de direito que possam surgir ao longo da sessão de julgamento, tais como arguições de nulidades, suspeição, etc. 
Requisitos para ser jurado
O serviço do júri é obrigatório, sendo que o alistamento deve compreender os cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade (CPP, art. 436, caput).
O art. 436, caput, do CPP, exige que o jurado (também chamado de juiz de fato, leigo ou do povo) seja cidadão, assim compreendido aquele nascido no Brasil ou naturalizado brasileiro e que se encontre no gozo de seus direitos políticos. 
De se ver, então, que a função de jurado pode ser exercida tanto por brasileiro nato quanto por brasileiro naturalizado. Afinal, ao dispor sobre os cargos privativos de brasileiro nato, o art. 12, § 3º, da Constituição Federal, não contempla qualquer restrição em relação à função de jurado.
Não há vedação à atuação de cidadão maior de 70 (setenta) anos como jurado. Na verdade, o que a lei diz é que este indivíduo pode requerer sua dispensa, caso não queira julgar seu semelhante. Portanto, enquanto o cidadão maior de 18 (dezoito) anos é obrigado a atuar como jurado, o maior de 70 (setenta) atuará apenas se quiser, podendo requerer sua dispensa ao juiz presidente.
É imprescindível que o jurado consiga ouvir os debates, sendo inviável pensar-se na nomeação de um intérprete para acompanhar todo o julgamento, até mesmo porque poderia dar ensejo à violação da incomunicabilidade. 
A Lei nº 11.689/08 também teve a preocupação em coibir a presença do jurado profissional no Conselho de Sentença. Prevê o art. 426, § 4º, do CPP, que o jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses que antecederem à publicação da lista geral fica dela excluído. Para que ocorra a exclusão da lista geral, é necessário que o jurado tenha efetivamente composto o Conselho de Sentença, não sendo suficiente o fato de ter ingressado na lista geral e, tampouco, de uma vez sorteado, ter sido recusado motivada ou imotivadamente por uma das partes. 
Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tribunal do Júri de:
- 800 (oitocentos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 (um milhão) de habitantes, 
- 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de 100.000 (cem mil) habitantes e de 
- 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de menor população (CPP, art. 425, caput). 
Recusa injustificada
A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do jurado (CPP, art. 436, § 2º). 
SESSÃO DE JULGAMENTO
Verificação da presença de, pelo menos, 15 jurados
Realizadas as diligências referidas nos arts. 454 a 461, ou seja, verificada a presença das partes e das testemunhas, o juiz presidente verificará se a urna contém as cédulas dos 25 (vinte e cinco) jurados sorteados, mandando que o escrivão proceda à chamada deles. 
Para que o juiz possa declarar instalados os trabalhos,anunciando o processo que será submetido a julgamento, há necessidade da presença de pelo menos 15 (quinze) jurados, valendo ressaltar que os jurados excluídos por impedimento, suspeição ou incompatibilidade serão considerados para a constituição do número legal exigível para a realização da sessão. Comparecendo, pelo menos, 15 (quinze) jurados, o juiz presidente declarará instalados os trabalhos, anunciando o processo que será submetido a julgamento (CPP, art. 463, caput).
O oficial de justiça fará o pregão, certificando a diligência nos autos. Esse pregão consiste na anunciação, em voz alta, do processo que será submetido a julgamento, devendo o oficial de justiça fazer menção expressa ao nome do acusado, do órgão do Ministério Público e do defensor, bem como do juiz que irá presidir os trabalhos, apontando se há (ou não) testemunhas a serem ouvidas. A par de conferir publicidade à sessão de julgamento, esse momento do pregão é extremamente importante, porquanto, logo depois de anunciado o julgamento e apregoadas as partes, recai sobre as partes o ônus de arguir as nulidades relativas ocorridas posteriormente à pronúncia, sob pena de preclusão e consequente convalidação, ex vi do art. 571, V, c/c art. 572, inciso I, ambos do CPP.
Caso não haja a presença de pelo menos 15 jurados, o juiz presidente deverá proceder ao sorteio de tantos suplentes quantos necessários, designando nova data para a sessão do Júri. 
Suspeição, impedimento e incompatibilidade
Dos jurados
Comparecendo, pelo menos, 15 (quinze) jurados, o juiz presidente deve declarar instalados os trabalhos, anunciando o processo que será submetido a julgamento. O Oficial de Justiça fará o pregão, certificando a diligência nos autos. Antes do sorteio dos membros do Conselho de Sentença, o juiz presidente deve advertir os jurados acerca das causas de impedimento, suspeição e incompatibilidade previstas nos arts. 448 e 449 do CPP. 
Também deve advertir os jurados de que, uma vez sorteados, não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho de Sentença e multa no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do jurado, valendo ressaltar que esta incomunicabilidade deve ser certificada nos autos pelo Oficial de Justiça (CPP, art. 466, § 2º).
O art. 448 do CPP elenca as pessoas que são impedidas de servir no mesmo Conselho. Também se aplica aos jurados o disposto sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados, valendo ressaltar que, dos impedidos entre si por parentesco ou relação de convivência, servirá o que houver sido sorteado em primeiro lugar. Por sua vez, nos termos do art. 449 do Código de Processo Penal, também não poderá servir o jurado que:
I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa determinante do julgamento posterior: mesmo antes do advento da Lei nº 11.689/08, doutrina e jurisprudência já entendiam que o jurado que havia atuado em julgamento anterior não poderia participar de um segundo julgamento do mesmo processo, nos termos do art. 252, III. 
II – no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de Sentença que julgou o outro acusado: o raciocínio a ser empregado nesta hipótese é semelhante à anterior, ou seja, se o jurado já manifestou sua convicção quanto ao fato delituoso, mesmo que em relação a outro acusado, não possui imparcialidade suficiente para participar do julgamento de outro acusado;
III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o acusado: se a lei exige dos jurados a mesma imparcialidade que se exige de um juiz togado, não se deve admitir a participação de jurado que tenha externado predisposição para julgar neste ou naquele sentido. 
Se o jurado não revelar espontaneamente a causa de suspeição, impedimento ou incompatibilidade, incumbe à parte interessada argui-la oralmente, imediatamente após a realização do sorteio. O jurado, em seguida, será ouvido, podendo reconhecer o impedimento, a suspeição ou a incompatibilidade.
Caso não o faça, o excipiente deverá comprovar o alegado de imediato, podendo fazê-lo por quaisquer meios de prova (v.g., apresentando certidão que demonstre que o jurado sorteado teria participado de julgamento anterior do mesmo processo, oitiva de testemunhas, etc.). Não se pode objetar que essa prova imediata da suspeição do jurado seja causa de qualquer prejuízo às partes.
Afinal, as partes sabem, antecipadamente, quais jurados são convocados para a sessão de julgamento, daí por que podem, de antemão, colher prova acerca da matéria para levar ao conhecimento do juiz presidente em plenário.
Nesse caso, incumbe ao juiz decidir o incidente de plano, nos termos do art. 106 do CPP. Se a exceção for acolhida, o jurado será automaticamente excluído, sorteando-se outro. Rejeitada a arguição, o jurado integrará o conselho de sentença, salvo se recusado imotivadamente (recusa peremptória). De todo modo, o incidente deve constar da ata, permitindo-se que a parte prejudicada suscite a nulidade do feito em preliminar de eventual apelação, já que a decisão da exceção não faz coisa julgada.
Do juiz-presidente
Às partes assiste o direito de arguir oralmente o impedimento, a suspeição e a incompatibilidade do juiz presidente do Tribunal do Júri. Acolhida a exceção, o juiz presidente marcará nova data para o julgamento, que será presidido por seu substituto automático; não acolhida a arguição, o magistrado
continuará presidindo os trabalhos e a sessão de julgamento será realizada normalmente, devendo constar da ata o seu fundamento e a decisão para fins de posterior arguição em preliminar de apelação.
Composição do Conselho de Sentença
Após o esclarecimento aos jurados das causas de impedimento, suspeição e incompatibilidade, e depois de advertidos quanto à incomunicabilidade, deve ser verificada na urna a presença das cédulas relativas aos jurados presentes. O juiz presidente, então, sorteará 7 (sete) dentre eles para a formação do Conselho de Sentença.
Recusas motivadas, imotivadas (ou peremptórias) e estouro de urna
Uma vez realizado o sorteio, é possível que a parte recuse o jurado. Essas recusas podem ser de duas espécies:
a) recusa motivada: caso o jurado não revele espontaneamente a causa de suspeição, impedimento ou incompatibilidade, incumbe à parte interessada argui-la oralmente, imediatamente após a realização do sorteio. Tão logo recusado o jurado, a parte deve comprovar o alegado (v.g., apresentando certidão que demonstre que o jurado sorteado teria participado de julgamento anterior do mesmo processo). O jurado, em seguida, será ouvido, podendo reconhecer o impedimento, a suspeição ou a incompatibilidade. Caso não o faça, incumbe ao juiz decidir o incidente de plano, nos termos do art. 106 do CPP. Acolhida a recusa, o jurado será automaticamente excluído, sorteando-se
outro. Rejeitada a arguição, o julgamento será realizado normalmente, devendo o incidente constar da ata, permitindo-se que a parte prejudicada suscite a nulidade do feito em eventual recurso de apelação ou habeas corpus. Como a recusa motivada é baseada na falta de imparcialidade do jurado sorteado, à parte interessada é facultada a utilização de tantas recusas quantas forem necessárias;
b) recusa imotivada (ou peremptória): consiste na recusa de até 3 (três) dos jurados presentes e sorteados, sem necessidade de declinação dos motivos da recusa. 
Tomada do compromisso dos jurados
Formado o Conselho de Sentença, o juiz presidente, levantando-se, e, com ele, todos os presentes, fará aos jurados a seguinte exortação: “Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça”. Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, responderão: “Assim o prometo”.
Em seguida, o jurado receberá cópias da pronúncia ou, se for o caso, das decisões posterioresque julgaram admissível a acusação e do relatório do processo.
Do relatório entregue aos jurados:
Como adverte Nucci, deve constar deste relatório: 
a) resumo do conteúdo da denúncia ou queixa;
b) resumo da resposta à acusação apresentada pela defesa, com suas alegações preliminares e/ou exceções: 
c) elenco das provas (basta enumerar e não detalhar uma por uma) colhidas ao longo do inquérito, em especial as periciais, que não são refeitas; 
d) elenco das provas (basta enumerar e não detalhar uma por uma) colhidas na fase de formação da culpa; 
e) resumo do conteúdo do interrogatório do réu, em especial se levantou e qual foi a sua tese de autodefesa (se preferiu valer-se do direito ao silêncio, basta mencionar o fato, sem valoração alguma); 
f) resumo do conteúdo das alegações finais das partes; 
g) resumo do conteúdo da pronúncia, acolhendo e/ou rejeitando as teses das partes (se houve impronúncia, desclassificação ou absolvição sumária, expor o resumo do seu conteúdo, fazendo menção à reforma pelo Tribunal); 
O art. 452 do CPP permite que os membros do Conselho de Sentença que participaram de um julgamento, desde que estejam de acordo, componham outra sessão, no mesmo dia. No dia-a-dia do Tribunal do Júri, isso costuma ocorrer quando o Ministério Público pede a absolvição do acusado no primeiro julgamento, o que acaba por encurtar o tempo de debate, facilitando possível decisão absolutória dos jurados, que, no entanto, não estão obrigados a concordar o pedido ministerial.
Nesses casos, após breve intervalo, é possível a realização de outro julgamento, para o qual deve ser colhido novamente o compromisso dos jurados a que se refere o art. 472 do CPP.
Instrução em plenário
Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária quando o juiz presidente, o Ministério Público, o advogado do assistente, o advogado do querelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação (CPP, art. 473, caput).
Ao contrário do que ocorre no âmbito do procedimento comum, em que as perguntas são formuladas inicialmente pelas partes, podendo o juiz depois complementar a inquirição em relação aos pontos não esclarecidos (CPP, art. 212), quem pergunta primeiro no plenário do Júri é o juiz presidente. Somente depois de o juiz presidente formular suas perguntas é que as partes poderão questionar o ofendido e as testemunhas, devendo fazê-lo de maneira direta, sem a necessidade de que suas perguntas passem pelo presidente. 
A provável justificativa para essa contradição está relacionada ao fato de os destinatários da prova testemunhal no Tribunal do Júri serem juízes leigos. Logo, caso as partes pudessem iniciar a inquirição das testemunhas, fazendo-o diretamente, poderiam, de forma abusiva, fazer perguntas sugestivas ou capciosas, gerando situações capazes de induzir a erro o Conselho de Sentença. 
Assim, as perguntas iniciais do magistrado podem contribuir para evitar esses problemas, posto que às partes restarão apenas as reperguntas. Os jurados também poderão formular perguntas ao ofendido e às testemunhas, porém seus
questionamentos devem ser feitos por intermédio do juiz presidente. A medida se justifica para preservar a incomunicabilidade dos jurados, que poderia ser posta em risco caso as perguntas fossem formuladas diretamente ao ofendido e às testemunhas.
Encerrada a oitiva das testemunhas arroladas pela acusação – de acordo com o art. 422 do CPP, cada parte pode arrolar até o máximo de 5 (cinco) testemunhas para depor em plenário –, passa-se à oitiva das testemunhas arroladas pela defesa, quando o defensor do acusado formulará as perguntas antes do Ministério Público e do advogado do assistente, mantidos, no mais, a ordem e os critérios estabelecidos no caput do art. 473.
Tendo em conta que os jurados devem apreciar o caso concreto com imparcialidade e segundo a consciência de cada um deles e os ditames da Justiça, sempre se questionou acerca da possibilidade de utilização de provas psicografadas por médiuns espirituais no plenário do Júri. Trata-se de tema extremamente polêmico. Não obstante, somos levados a acreditar que tal meio de prova é inconstitucional por violar vários preceitos constitucionais, dentre eles o contraditório e a ampla defesa. 
Se, porventura, a prova psicografada vier a ser utilizada no plenário do Júri, o julgamento deve ser anulado.
Leitura de peças
De acordo com o art. 473, § 3º, após a oitiva do ofendido e das testemunhas, eventuais acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimentos dos peritos, as partes e os jurados poderão requerer a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis.
Interrogatório do acusado
Na sequência, o acusado será interrogado, se estiver presente à sessão de julgamento, na forma estabelecida no Capítulo III do Título VII do Livro I do CPP, com as seguintes alterações:
a) O Ministério Público, o advogado do assistente, o advogado do querelante e o defensor, nessa ordem, poderão formular, diretamente, perguntas ao acusado: como o art. 474, caput, faz remissão ao art. 188 do CPP, as perguntas serão feitas, primeiro, pelo juiz. Depois, o juiz presidente deve indagar aos jurados se há alguma pergunta que desejam fazer para esclarecer algum fato. Posteriormente, poderão fazer perguntas o órgão ministerial, o advogado do assistente e a defesa. Na hipótese de ação penal privada subsidiária da pública, pergunta primeiro o advogado do querelante, depois o Ministério Público e, por último, a defesa.
b) Os Jurados formularão perguntas por intermédio do juiz presidente: de modo a evitar que o jurado, ao formular uma pergunta diretamente ao acusado, possa vir a revelar o sentido do seu voto, quebrando a incomunicabilidade e acarretando a nulidade absoluta do julgamento (CPP, art. 564, III, “j”), a lei prevê que suas perguntas deverão ser formuladas por intermédio do juiz presidente.
Havendo mais de um acusado, os interrogatórios devem ser realizados separadamente (CPP, art. 191), sob pena de nulidade relativa.
Uso de algemas
Ao julgar o HC 91.952, referente a cidadão que permanecera algemado durante toda a sessão do Júri, entendeu a Suprema Corte que o uso das algemas estaria em confronto com a ordem jurídico-constitucional, tendo em conta que não havia uma justificativa socialmente aceitável para submeter o acusado à humilhação de permanecer algemado durante horas, quando do julgamento no Tribunal do Júri, não tendo sido, ademais, apontado um único dado concreto, relativo ao perfil do acusado, que estivesse a exigir, em prol da segurança, a permanência com algemas. 
Aduziu-se que manter o acusado algemado em audiência, sem que demonstrada, ante práticas anteriores, a periculosidade, implicaria colocar a defesa, antecipadamente, em patamar inferior. 
Acrescentou-se que, em razão de o julgamento no Júri ser procedido por pessoas leigas que tiram ilações diversas do contexto observado, a permanência do réu algemado indicaria, à primeira vista, que se estaria a tratar de criminoso de alta periculosidade, o que acarretaria desequilíbrio no julgamento, por estarem os jurados influenciados.
Debates
Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério Público, que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante.
À acusação é assegurada a possibilidade de iniciar sua sustentação oral como melhor lhe aprouver, porém recomenda-se que o faça com uma saudação aos integrantes do Tribunal do Júri (juiz presidente e os jurados), além daqueles que participam da sessão de julgamento (defensor, acusado, servidores do Poder Judiciário, etc.). Quanto aos jurados, é sempre importante enaltecer a relevância da função por eles exercida, destacando que, a partir do momento em quecompõem o Conselho de Sentença, passam a fazer parte do Poder Judiciário, sendo sua decisão protegida pela garantia constitucional da soberania dos veredictos.
Realizada a saudação, a acusação é livre para apresentar aos jurados o fato delituoso pelo qual o acusado foi pronunciado e as provas constantes do processo, procurando convencê-los da melhor maneira possível no sentido da procedência de seu pedido.
Na visão da doutrina, conquanto não seja fácil a tarefa de convencer pessoas, alguns predicados são essenciais a qualquer orador: conhecimento do direito e do processo, linguagem apropriada, experiência de vida, postura adequada, conhecimento de psicologia e da alma humana, preparo jurídico e psicológico para os apartes e as interferências, abandono de texto previamente escrito e de trabalho em coro ou sincronizado, vestes e asseio corporal, humildade, postura firme e contundente, sintonia da voz com os movimentos, discurso direcionado aos jurados.
No plenário do Júri, o Ministério Público é absolutamente livre para sustentar a procedência total ou parcial da pretensão acusatória, assim como a própria improcedência do pedido de condenação do acusado. Ao Estado não interessa a condenação de um inocente. Portanto, é possível que o Ministério Público faça sua sustentação oral pleiteando a absolvição do acusado, a desclassificação da conduta delituosa, o reconhecimento de uma atenuante ou de uma causa de diminuição de pena, etc. Significa dizer que, a favor do acusado, a acusação não está vinculada à pronúncia.
Na verdade, o que não se admite é que o pedido do órgão do Ministério Público ultrapasse os limites delimitados na decisão de pronúncia em prejuízo do acusado. Finda a acusação, terá a palavra a defesa.
O tempo destinado à acusação e à defesa será de uma hora e meia para cada, e de uma hora para a réplica e outro tanto para a tréplica. Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor, combinarão entre si a distribuição do tempo, que, na falta de acordo, será dividido pelo juiz presidente, de forma a não exceder o determinado na lei. 
Por sua vez, havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido de 1 (uma) hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica (CPP, art. 477, § 2º).
Em sua manifestação, deve a defesa buscar, precipuamente, a absolvição do acusado, sendo livre para sustentar em plenário as teses que reputar mais oportunas, não estando vinculada àquelas anteriormente apresentadas (v.g., em alegações orais ao final da primeira fase do júri). 
Porém, há de se ter em mente que nem sempre será viável um pedido absolutório. Revelando-se descabido um pedido de absolvição, não se pode considerar o acusado indefeso se a manifestação da defesa técnica ocorrer no sentido da exclusão de uma qualificadora ou de uma causa de aumento de pena, do reconhecimento de crime tentado, etc. Ao defensor, aliás, doutrina e jurisprudência são uníssonas em reconhecer a possibilidade de abordar tese defensiva distinta daquela apresentada pelo acusado em seu interrogatório, em fiel observância à plenitude de defesa, muito embora o juiz presidente esteja obrigado a formular quesitos sobre ambas as teses.
Visando evitar que um profissional sem escrúpulos induza os jurados ao erro, fazendo menção a uma peça que não está nos autos, ou alterando o conteúdo de outra peça constante do processo, o art. 480 do CPP estabelece, durante os debates, réplica e tréplica, a acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer momento e por intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado.
Réplica e tréplica
Após a manifestação do advogado de defesa, o juiz presidente deve indagar à acusação se pretende fazer uso da réplica. Cuida-se, a réplica, de ato da acusação consistente em voltar à fala depois da sustentação oral da defesa, seja para reafirmar os termos da imputação delimitada pela pronúncia, seja para contestar os argumentos apresentados pelo defensor técnico. 
Trata-se de mera faculdade que a acusação pode exercer livremente. Manifestando-se favoravelmente, a acusação terá o prazo de mais uma hora, oportunidade em que poderá reforçar os argumentos trabalhados em sua sustentação inicial, bem como refutar as teses apresentadas pela defesa em sua manifestação.
Se houver réplica por parte da acusação, a defesa passa a ter direito de ir à tréplica. Discute-se, nesse caso, se a defesa está (ou não) obrigada a ir à tréplica. Parte da doutrina entende que, apresentada a réplica, a defesa passa a ter a obrigação de ocupar a tribuna para a tréplica de modo a rebater os argumentos apresentados pela acusação, sob pena de o acusado ser considerado indefeso.
Com a devida vênia, da mesma forma que a acusação não é obrigada a exercer a réplica, a tréplica também encerra mera faculdade, da qual a defesa pode se valer, ou não, a depender do caso concreto. A nosso juízo, incumbe ao defensor verificar se é (ou não) conveniente à defesa de seu cliente rebater os argumentos apresentados pela acusação em sede de réplica, rememorando os pontos da defesa. 
Inovação na tréplica
Outro ponto que provoca acirrada discussão na doutrina diz respeito à possibilidade de o advogado de defesa inovar sua tese defensiva por ocasião da tréplica. A título ilustrativo, suponha-se que o acusado, em seu interrogatório, tenha sustentado a tese de negativa de autoria, tese esta corroborada pelo advogado de defesa em sua primeira manifestação oral. 
Na réplica, o Ministério Público refuta tal tese, fazendo menção à prova testemunhal produzida em juízo, capaz de confirmar que o acusado teria sido o autor do delito. Em sede de tréplica, o advogado de defesa resolve, então, inovar a tese defensiva, dizendo que o crime teria sido praticado sob o amparo da legítima defesa.
Sobre o assunto, são 3 (três) as correntes doutrinárias:
a) uma primeira corrente entende que à defesa não se defere a possibilidade de, em sede de tréplica, invocar tese nova, até então não ventilada na sessão de julgamento, sob pena de violação ao contraditório: nesse sentido, Hidejalma Muccio entende que, em sede de tréplica, a defesa fará a sustentação das teses que já foram apresentadas no tempo dos debates, ressaltando que a proibição de inovar na tréplica não atinge a tese pessoal do acusado, uma vez que, ainda que referida tese não tivesse sido abordada nos debates, não haveria surpresa para a acusação, porquanto o interrogatório precede à sustentação oral da acusação;
b) uma segunda corrente entende que, por força do princípio da plenitude de defesa (CF, art. 5º, XXXVIII, “a”), é plenamente possível que o advogado invoque tese nova por ocasião da tréplica. Para os adeptos desta corrente, qualquer tese pode ser sustentada em favor do acusado a qualquer momento, sendo plenamente possível que o Ministério Público seja surpreendido. 
Nesse sentido, a 6ª Turma do STJ já se manifestou no sentido de que, no âmbito do Júri, é possível a inovação de tese defensiva (no caso, de inexigibilidade de conduta diversa) quando da tréplica, visto que essa instituição vem pautada, sobremaneira, pela plenitude de defesa. Havendo, assim, conflito entre o contraditório (pode o acusador replicar, a defesa, treplicar sem inovações) e a amplitude de defesa, o conflito, se existente, resolve-se a favor da defesa, privilegiando-se a liberdade.
c) uma terceira corrente, à se filia Nestor Távora, entende que a defesa deve ter a possibilidade de inovar sua tese por ocasião da tréplica, mas à acusação deve ser concedida a palavra imediatamente depois, pelo mesmo prazo da tréplica, em fiel observância ao contraditório. 
Se, de um lado, a plenitude de defesa autoriza que o advogado inove sua tese por ocasião da tréplica, do outro, a Constituição Federal também assegura a observância do contraditório (art. 5º, LV), compreendido como a ciência bilateral dos atos e termos processuaise a possibilidade de contrariá-los. 
Logo, se a defesa invocou tese nova ao se pronunciar em sede de tréplica, não há motivo para não se deferir ao Ministério Público a possibilidade de se manifestar na sequência. 
Exibição e leitura de documentos em plenário
De acordo com o art. 231 do CPP, salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresentar documentos em qualquer fase do processo. A regra, portanto, é a possibilidade de juntada de documentos a qualquer momento. Porém, o próprio dispositivo ressalva os casos expressos em lei. Uma das exceções à regra geral do art. 231 do CPP é aquela constante do art. 479 do CPP, segundo o qual durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tenha sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte.
Esse prazo de 3 (três) dias úteis deve ser computado a partir da data do julgamento, voltando-se no tempo e valendo-se do critério do art. 798 do CPP. Assim, se o julgamento estiver marcado para o dia 15 (quarta-feira), o documento pode ser juntado aos autos até o dia 10 (sexta-feira). Isso porque o art. 479 do CPP exige o transcurso de 3 (três) dias úteis. Logo, levando-se em consideração os três dias anteriores ao dia 15, o prazo terminaria no domingo (dia 12), que não é dia útil. Transfere-se, portanto, para o dia 10 (sexta-feira anterior). 
O art. 479 do CPP também deixa evidente a necessidade de se dar ciência à parte contrária. Destarte, a simples juntada aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis não atende ao preceito legal, acarretando indevido cerceamento à acusação ou à defesa. A nosso ver, esse prazo de 3 (três) dias úteis diz respeito exclusivamente à juntada do documento, daí por que a comunicação à parte contrária pode ser feita a menos de 3 (três) dias do julgamento.
Como se pode perceber, só estão sujeitos à restrição do art. 479 do CPP documentos e/ou objetos que guardem relação com a matéria de fato versada no processo. Logo, se se tratar de questão genérica, sem qualquer relação com os fatos imputados ao acusado, a exibição é autorizada independentemente de prévia comunicação à parte contrária. Por isso, é plenamente possível a leitura de livros técnicos, de modo a auxiliar a tese acusatória ou defensiva. 
Quanto à pretensão da acusação em exibir, no Tribunal do Júri, fita de vídeo que contenha programa de televisão com a reconstituição do homicídio imputado ao acusado (v.g., “Linha Direta”), entende-se que não há ilegalidade da prova, desde que observado o disposto no art. 479 do CPP. Afinal, os efeitos que, porventura, surjam com a exibição da fita poderão ser amplamente combatidos no decorrer do julgamento, principalmente quando dos debates orais.
Há quem entenda que a leitura de documento ou a exibição de objeto no plenário do júri que não tenha sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, ou seja, com patente inobservância do art. 479, autorize o reconhecimento de mera nulidade relativa, exigindo-se, portanto, oportuna arguição, além da comprovação do prejuízo.
Ao juízo de Távora, cuida-se de evidente violação a preceito constitucional – princípio do contraditório – autorizando, por conseguinte, o reconhecimento de nulidade absoluta. Afinal, se a parte fez a leitura de documento que não havia sido juntado aos autos com antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, significa dizer que a parte contrária se viu surpreendida durante a sessão de julgamento, não tendo a oportunidade de oferecer resistência. 
Argumento de autoridade
Argumento de autoridade é uma falácia lógica que apela para a palavra de alguma autoridade a fim de validar o argumento. 
Este raciocínio é absurdo, visto que a conclusão baseia-se exclusivamente na credibilidade do autor da proposição e não nas razões que ele tenha apresentado para sustentá-la. No âmbito do júri, pode-se dizer que, ao invés de se valer da prova constante dos autos, as partes tentam formar o convencimento dos jurados apelando para uma anterior decisão do juiz presidente ou do Tribunal acerca do caso concreto. 
Como os jurados são pessoas leigas, geralmente desprovidas de conhecimento técnico, podem ser facilmente influenciados no sentido da condenação (ou absolvição) do acusado se lhes for revelado o entendimento do juiz togado acerca do caso concreto. Daí a importância de se vedar a utilização do argumento de autoridade. Visando evitar que os jurados sejam convencidos pelas partes senão com base na prova constante dos autos, o art. 478 do CPP dispõe que, durante os debates, as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências:
I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado: considerando que os próprios jurados recebem cópia da decisão de pronúncia (CPP, art. 472, parágrafo único), é perfeitamente possível que o acusador faça a leitura da pronúncia no plenário do Júri, objetivando expor aos jurados o fato objeto da acusação. No entanto, não lhe é franqueado se referir à pronúncia, ainda que não a leia, ou ao magistrado que a proferiu, como argumento de autoridade;
II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo.
Parece-nos que o rol do art. 478 do CPP não é taxativo. A título de exemplo, na hipótese de a leitura do decreto de prisão preventiva ser levado a efeito com o objetivo de extrair uma presunção de culpa, haverá indevida influência do julgamento dos jurados, acarretando a nulidade de eventual veredicto condenatório. A jurisprudência, no entanto, parece caminhar em sentido diverso. 
Em recente julgado, a 1ª Turma do Supremo concluiu que a leitura, pelo Ministério Público, da sentença condenatória de corréu proferida em julgamento anterior não teria o condão de gerar a nulidade de sessão de julgamento pelo conselho de sentença, notadamente diante da ausência de comprovação de que o documento teria, de fato, sido empregado como argumento de autoridade de modo a causar prejuízo insanável à defesa.
Direito ao aparte
O aparte é o pedido formulado pela parte durante a sustentação oral do ex adverso para que interceda na sua fala, seja para fazer um questionamento, uma retificação, uma observação, seja para discordar de afirmação contrária a seus interesses.
Com a reforma processual de 2008, o art. 497, inciso XII, do CPP, passou a prever que o juiz presidente do Tribunal do Júri detém a atribuição de regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes, quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparte requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última.
Doravante, os apartes acarretarão prorrogação do tempo da parte que estiver com a palavra. Por conta disso, é de se esperar que os apartes deixem de ser solicitados indiscriminadamente, apenas com o escopo de atrapalhar a parte adversa. Deve haver, portanto, maior comedimento na utilização dos apartes.
Acusado indefeso
Ao estudarmos os princípios constitucionais do Júri, foi dito que a Constituição Federal garante aos que serão submetidos a julgamento pelo Júri Popular a plenitude de defesa (art. 5º, XXXVIII), princípio muito mais amplo e complexo do que a ampla defesa, sendo, desta forma, inadmissível que o acusado fique indefeso em processo que apura a suposta prática de crime doloso contra a vida. Daí o motivo pelo qual o art. 497, V, do CPP, prevê que incumbe ao juiz presidente nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo defensor. 
Essa ausência de defesa técnica, causa de nulidade absoluta, segundo a súmula 523 do Supremo, pode ser reconhecida nas seguintes hipóteses:
a) ausência de defesa técnica: a defesa técnica é indisponível e irrenunciável. Logo, mesmo queo acusado, desprovido de capacidade postulatória, queira ser processado sem defesa técnica, e ainda que seja revel, deve o juiz providenciar a nomeação de defensor. Exatamente em virtude disso, dispõe o art. 261 do CPP que “nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou
julgado sem defensor”. Não se admite, assim, processo penal sem que a defesa técnica seja exercida por profissional da advocacia. 
Logicamente, se o acusado é profissional da advocacia, poderá exercer sua própria defesa técnica. Todavia, se o acusado não é dotado de capacidade postulatória, não tem o direito de redigir pessoalmente sua defesa técnica, salvo em situações excepcionais expressamente previstas na Constituição Federal ou no Código de Processo Penal (v.g., interposição de habeas corpus, recursos e incidentes da execução penal). 
Como já entendeu o Supremo, ao acusado é assegurado o exercício da autodefesa consistente em ser interrogado pelo juízo ou em invocar direito ao silêncio (direito de audiência), bem como de poder acompanhar os atos da instrução criminal, além de apresentar ao respectivo advogado a sua versão dos fatos para que este elabore as teses defensivas (direito de presença). No entanto, a ele não é dado apresentar sua própria defesa, quando não possuir capacidade postulatória.
b) quando a somatória da desídia do defensor revelar verdadeira ausência de defesa técnica: para que seja preservada a plenitude de defesa a que se refere a Constituição Federal, a defesa técnica, além de necessária e indeclinável, deve ser plena e efetiva. Não basta, assim, assegurar a presença formal de defensor técnico. No curso do processo, é necessário que se perceba efetiva atividade defensiva do advogado no sentido de assistir seu cliente. Com efeito, de que adianta a presença física de defensor que não arrola testemunhas, que não faz reperguntas, que não oferece memoriais, ou que os apresenta sucintamente, sem análise da prova, em articulado que poderia ser utilizado em relação a qualquer processo criminal? Na verdade, em tal hipótese, haveria um
profissional da advocacia formalmente designado para defender o acusado, mas a sua atuação seria tão precária que seria como se o acusado tivesse sido processado sem defesa técnica. 
Em casos como este, recai sobre o Ministério Público e sobre o juiz o dever de fiscalizar a atuação defensiva do advogado, evitando-se, assim, possível caracterização de nulidade absoluta do feito, por violação à ampla defesa. Por isso, em caso concreto no qual o defensor proferiu sua sustentação oral por apenas quatro minutos, concluiu o STJ que não teria havido insuficiência de defesa, mas sim verdadeira ausência.
Se é verdade que a lei não estipula um tempo mínimo que deve ser utilizado pela defesa, também não é menos verdade que não é razoável que a defesa técnica fale por apenas quatro minutos, por mais sintética que tenha sido a tese defensiva. 
c) colidência de defesas: é perfeitamente possível que um mesmo advogado patrocine a defesa técnica de dois ou mais acusados, desde que não haja teses colidentes. Havendo teses antagônicas, a defesa técnica não poderá ser exercida por um mesmo advogado, porquanto haverá, invariavelmente, prejuízo a um dos acusados. Logo, se um dos acusados nega sua participação no crime, enquanto o outro o incrimina em suas declarações, a defesa de ambos não pode ser promovida pelo mesmo advogado, sob pena de nulidade do feito.
Esclarecimentos aos jurados e possível dissolução do Conselho de Sentença
Encerrada a sustentação oral das partes, o juiz presidente indagará dos jurados se estão habilitados a julgar ou se necessitam de outros esclarecimentos (CPP, art. 480, § 1º). Havendo dúvida sobre questão de fato, o presidente prestará esclarecimentos à vista dos autos (CPP, art. 480, § 2º). Este é o momento que o jurado tem para obter esclarecimentos sobre questões fáticas, sempre que necessário para firmar sua convicção (v.g., verificação de determinado laudo pericial, análise de determinado depoimento, etc.). Nesta fase do procedimento, os jurados terão acesso aos autos e aos instrumentos do crime se solicitarem ao juiz presidente (CPP, art. 480, § 3º).
Se a verificação de qualquer fato, reconhecida como essencial para o julgamento da causa, não puder ser realizada imediatamente, o juiz presidente dissolverá o Conselho, ordenando a realização das diligências entendidas necessárias (CPP, art. 481, caput).
Caso a diligência seja requerida pelas partes durante ou após o encerramento dos debates, incumbe ao juiz presidente decidir a respeito, nos termos do art. 497, inciso XI, do CPP. Todavia, se a diligência for solicitada pelos jurados, há divergência acerca da possibilidade de o juiz presidente indeferi-la. Parte minoritária da doutrina entende que o juiz presidente é obrigado a determinar sua realização, ainda que se trate de diligência impertinente, sob pena de o jurado se manifestar no sentido de não estar habilitado para o julgamento, nos termos do art. 480, § 1º, do CPP.
Prevalece, no entanto, o entendimento de que o juiz presidente deve analisar a pertinência (ou não) da diligência, ainda que a solicitação seja feita por um jurado, até mesmo como forma de se evitar que um jurado mal intencionado se utilize indevidamente do expediente para livrar-se do julgamento. Ao jurado não se defere a possibilidade de se recusar a proferir seu voto, sob a justificativa de os fatos não estarem esclarecidos. Afinal, se ao juiz togado não é permitido deixar de proferir a sentença diante da ausência de algum esclarecimento, idêntico raciocínio deve ser aplicado ao juiz leigo. Deve o juiz presidente, portanto, demonstrar aos jurados que o julgamento deve ser feito com as provas até então produzidas, cabendo às partes comprovar suas teses com fundamento nos elementos probatórios constantes do processo.
Uma vez deferida a diligência, incumbe ainda verificar se há necessidade de certo lapso temporal para sua realização. Se a diligência puder ser realizada imediatamente, em tempo razoável, como, por exemplo, a oitiva de uma testemunha referida, deve o juiz presidente suspender a sessão pelo tempo indispensável à realização da diligência, mantida a incomunicabilidade dos jurados (CPP, art. 497, VII). Entretanto, se a diligência não puder ser realizada imediatamente (v.g., exame pericial a fim de apurar a sanidade mental do acusado), o Conselho de Sentença deve ser dissolvido, designando-se nova data para o julgamento, nos termos do art. 481, caput, do CPP. Se a diligência consistir na produção de prova pericial, o juiz presidente, desde logo, nomeará perito e formulará quesitos, facultando às partes também formulá-los e indicar assistentes técnicos, no prazo de 5 (cinco) dias (CPP, art. 481, parágrafo único).
Evidentemente, com a dissolução do Conselho de Sentença, haverá necessidade de sorteio de novo Conselho de Sentença, já que não poderá servir o jurado que tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa determinante do julgamento posterior (CPP, art. 449, I). A súmula nº 206 do STF tem redação semelhante: “é nulo o julgamento ulterior pelo júri com a participação de jurado que funcionou em julgamento anterior do mesmo processo”. 
Além dessa hipótese do art. 481 do CPP, a dissolução do Conselho de Sentença também pode ocorrer em outras situações anteriormente analisadas: a) quando ocorre violação à incomunicabilidade dos jurados; 
b) quando o magistrado considerar o acusado indefeso (CPP, art. 497, V); 
c) quando o juiz presidente considerar a sociedade indefesa; 
d) quando um jurado e até mesmo o juiz presidente e as partes falecer ou sentir-se mal durante o julgamento.
QUESITAÇÃO
Os quesitos são perguntas formuladas aos jurados para que se pronunciem quanto ao mérito da acusação. Como os jurados não fundamentam seu voto, porquanto vigora o sigilo das votações, há necessidade de elaboração de quesitos para que se possa colher, por maioria de votos, o veredicto do Conselho de Sentença.
De acordocom o art. 482 do CPP, o Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido. Os quesitos devem ser redigidos em proposições afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações das partes. 
Todas as teses defensivas levantadas pelo acusado e por seu defensor devem ser quesitadas.
Leitura dos quesitos
De acordo com o art. 484, caput, do CPP, concluídos os debates, se os jurados disserem que estão habilitados a proceder ao julgamento (CPP, art. 480, § 1º), o juiz presidente deve fazer a leitura dos quesitos, indagando das partes se têm requerimento ou reclamação a fazer, devendo qualquer deles, bem como a decisão, constar da ata.
Portanto, o momento processual oportuno para que as partes formulem eventuais impugnações aos quesitos elaborados pelo juiz presidente é este, ou seja, imediatamente após a leitura e explicação de seu conteúdo em plenário. 
Por isso, caso a parte não concorde com algum quesito, se vislumbrar a
não inclusão de tese levantada durante os debates em plenário, caso tenha interesse em impugnar a redação conferida a determinado quesito – na hipótese de constatar que dificulta sua compreensão pelos jurados (v.g., dúbia, equívoca) –, ou se pretender impugnar a ordem dos quesitos, deve se insurgir contra os quesitos tão logo seja indagada se concorda com o questionário. 
Ainda em plenário, o juiz presidente deve explicar aos jurados o significado de cada quesito. Essa explicação não deve conter qualquer juízo de mérito, sob pena de indevida influência no animus judicandi dos jurados e consequente nulidade do julgamento. 
Na verdade, o juiz deve ler cada um dos quesitos e explicar a que ele se refere (v.g., materialidade do fato, autoria e participação, tese da defesa, etc.). Deve esclarecer o que representa o voto “sim” e o voto “não”.
Votação
Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser procedida a votação. Na falta de sala especial, o juiz presidente determinará que o público se retire, permanecendo somente as pessoas acima mencionadas. O juiz presidente advertirá as partes de que não será permitida qualquer intervenção que possa perturbar a livre manifestação do Conselho e fará retirar da sala quem se portar inconvenientemente.
Antes de proceder-se à votação de cada quesito na sala especial, o juiz presidente mandará distribuir aos jurados pequenas cédulas, feitas de papel opaco e facilmente dobráveis, contendo 7 (sete) delas a palavra sim, 7 (sete) a palavra não (CPP, art. 486). De modo a assegurar o sigilo do voto, o oficial de justiça recolherá em urnas separadas as cédulas correspondentes aos votos e as não utilizadas. Após a resposta, verificados os votos e as cédulas não utilizadas, o presidente determinará que o escrivão registre no termo a votação de cada quesito, bem como o resultado do julgamento (CPP, art. 488, caput). Do termo também constará a conferência das cédulas não utilizadas.
Considerando que, segundo o art. 489 do CPP, as decisões do Tribunal do Júri são tomadas por maioria de votos, e, de modo a se evitar que uma possível votação unânime revele o sentido do voto de cada um dos jurados, a apuração deve ser suspensa assim que definido o quarto voto vencedor. É nesse sentido, aliás, a nova redação dos dos §§ 1º e 2º do art. 483 do CPP. Apesar desses dois parágrafos referirem-se apenas aos quesitos atinentes à materialidade e autoria, doutrina e jurisprudência têm entendido que essa nova 
forma de quesitação deve ser trabalhada em relação a todos os demais quesitos. 
Como se percebe, por força desse novo regramento, a votação será automaticamente interrompida quando 4 (quatro) votos forem atingidos num sentido. Como o voto do jurado é sigiloso, esse novo regramento da contagem dos votos impede a revelação do sentido de cada um dos votos, vez que não mais será declarado pelo juiz que os 7 (sete) jurados votaram num mesmo sentido.
Ordem dos quesitos
Um dos objetivos declarados da Lei nº 11.689/08 foi o de simplificar a formulação dos quesitos. Afinal, a estrutura anterior era por demais complexa, dando ensejo ao reconhecimento de inúmeras nulidades. Em proposições afirmativas, simples e distintas, os quesitos devem ser elaborados na seguinte ordem:
1) Materialidade do fato: o primeiro quesito versa sobre a materialidade do fato delituoso (CPP, art. 483, I). 
EXEMPLO
1.1) No dia 25 de março de 2011, na Rua “A”, Bairro “B”, nesta cidade, a vítima ... foi atingida por disparo de arma de fogo, sofrendo as lesões corporais descritas no laudo de fls. 14/16? 
Obs: A resposta negativa de mais de 3 (três) jurados ao primeiro quesito encerra a votação e implica a absolvição do acusado (CPP, art. 483, § 1º), vez que reconhecida a inexistência do fato. A resposta afirmativa faz prosseguir a votação.
2) Autoria ou participação: neste quesito, os jurados serão indagados sobre a autoria, coautoria ou participação (CPP, art. 483, II). 
EXEMPLOS:
2.1) Autoria: Tício foi o autor dos disparos referidos no primeiro quesito?
2.2) Coautoria: Ao pilotar a motocicleta usada para a abordagem da vítima, Mévio concorreu como coautor para a conduta referida no primeiro quesito ?
2.3) Participação: Tício, ao instigar o atirador, concorreu de qualquer forma para a realização dos disparos referidos no quesito anterior?
A resposta negativa de mais de 3 (três) jurados a este quesito encerra a votação e implica a absolvição do acusado, em virtude do reconhecimento da negativa de autoria, coautouria ou participação. A resposta positiva de mais de 3 (três) jurados determina o prosseguimento da votação.
3) Tentativa ou desclassificação para crime da competência do Júri: de acordo com a ordem estabelecida nos incisos I, II e III do art. 483, o quesito seguinte à materialidade e autoria seria aquele pertinente à absolvição do acusado (“O jurado absolve o acusado?”). 
Porém, de acordo com o art. 483, § 5º, sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito. 
EXEMPLOS:
3.1) Tentativa: Tício, assim agindo, deu início à execução de um crime de homicídio que não se consumou por circunstâncias alheias à sua vontade, consistente na imediata intervenção de policiais que passavam pelo local?
3.2) Desclassificação para infanticídio: Tícia agiu sob a influência do estado puerperal, matando o próprio filho durante ou logo após o parto?
3) Se o acusado deve ser absolvido: sem dúvida alguma, a nova redação do art. 483, inciso III, do CPP, é a grande novidade pertinente à quesitação introduzida pela Lei nº 11.689/08. De acordo com o art. 483, § 2º, do CPP, respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos à materialidade e à autoria/participação, será formulado quesito com a seguinte redação: “O jurado absolve o acusado?”
O jurado absolve o acusado?” Cuida-se, portanto, de quesito obrigatório, a ser apresentado aos jurados independentemente do fato das teses apresentadas pela defesa já terem sido objeto de possível apreciação pelos jurados por ocasião da votação dos dois primeiros quesitos. 
4) Causa de diminuição de pena alegada pela defesa: de acordo com o art. 483, § 3º, I, do CPP, decidindo os jurados pela condenação, ou seja, diante da resposta negativa de mais de 3 (três) jurados ao quesito pertinente à absolvição do acusado, o julgamento deve prosseguir, devendo ser formulados quesitos sobre causa de diminuição de pena alegada pela defesa.
Como se percebe, em fielobservância à plenitude de defesa, as teses benéficas ao acusado – causas de diminuição de pena – devem ser questionadas antes das qualificadoras e causas de aumento de pena. Aliás, mesmo antes da reforma processual de 2008, já era esse o entendimento pretoriano: “É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, quando os quesitos da defesa não precedem aos das circunstâncias agravantes” (Súmula nº 162 do STF). 
Os exemplos mais comuns de causas de diminuição de pena são:
- semi-imputabilidade (CP, art. 26, parágrafo único), 
- participação de menor importância (CP, art. 29, § 1º), 
- homicídio ter sido cometido impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima (CP, art. 121, § 1º). 
- erro inescusável sobre a ilicitude do fato (CP, art. 21, segunda parte) 
- embriaguez decorrente de caso fortuito ou força maior (CP, art. 28, § 2º) também funcionam como causas de diminuição de pena. 
A tentativa também é uma causa de diminuição de pena, porém, por força do disposto no art. 483, § 5º, do CPP, o quesito a ela pertinente deve ser elaborado após o segundo quesito (autoria ou participação).
Para que não haja dúvida acerca da causa de diminuição de pena, este quesito deve ser obrigatoriamente individualizado. Exemplo:
4.1) Homicídio privilegiado: O acusado (...) agiu sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima?
4.2) Semi-imputabilidade: O acusado (...), em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento? 
Reconhecida pelos jurados a existência do denominado homicídio privilegiado (CP, art. 121, § 1º), ou seja, que o crime foi cometido por relevante valor moral ou social, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima, estarão automaticamente prejudicados os quesitos pertinentes a eventuais qualificadoras de natureza subjetiva (CP, art. 121, § 2º, I, II, V, VI e VII, com redação determinada pelas Leis 13.104/15 e 13.142/15). 
Afinal, doutrina e jurisprudência só admitem a possibilidade de homicídio qualificado-privilegiado se a qualificadora tiver natureza objetiva (CP, art. 121, § 2º, III e IV).
5) Circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação: superado o quesito pertinente às causas de diminuição de pena, o próximo é aquele referente às qualificadoras e causas de aumento de
pena (v.g., CP, art. 121, § 7º, com redação dada pela Lei nº 13.104/15), nesta ordem. 
Para que o quesito seja respondido com suficiente clareza e necessária precisão pelo jurado, as qualificadoras e causas de aumento de pena devem ser individualizadas. Exemplos:
5.1) Qualificadora do motivo fútil: O acusado (...) agiu por motivo fútil consistente numa briga de trânsito?
5.2) Majorante do homicídio cometido contra menor de 14 (quatorze) anos: A vítima era menor de 14 (quatorze) anos, tendo o acusado (...) consciência dessa circunstância?
Desclassificação e crimes conexos
Como dito acima, ao Tribunal do Júri compete o julgamento dos crimes dolosos contra a vida e dos delitos conexos, salvo se eleitorais ou militares. Havendo crimes conexos, os quesitos serão formulados em séries distintas, devendo sempre ser formulada inicialmente a série pertinente ao crime doloso contra a vida. Se os jurados concluírem que não se trata de crime doloso contra a vida, desclassificando, por exemplo, para homicídio culposo, ao juiz presidente também caberá o julgamento dos crimes conexos.
Antes da Lei nº 11.689/08, havia certa controvérsia em torno do assunto. Parte minoritária da doutrina entendia que, ainda que houvesse a desclassificação da imputação do crime doloso contra a vida, dar-se-ia a prorrogação da competência do Conselho de Sentença para julgar os crimes conexos, nos termos do art. 81 do CPP. Prevalecia, no entanto, o entendimento de que, havendo a desclassificação, pelo Júri, para crime não doloso contra a vida, o juiz presidente assumiria a competência para julgar tanto o delito resultante da desclassificação quanto as infrações penais conexas.
Com a reforma processual de 2008, o assunto passou a ser regulamentado expressamente pelo art. 492, § 2º, do CPP: “em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto no § 1º deste artigo”.
Portanto, operando-se a desclassificação quanto ao crime doloso contra a vida, ao juiz presidente caberá o julgamento da imputação desclassificada, assim como dos crimes conexos, porquanto não há cabimento em se permitir que o Conselho de Sentença aprecie crimes não dolosos contra a vida. No entanto, se os jurados votarem pela absolvição do acusado, isso significa dizer que implicitamente reconheceram sua competência para o julgamento do feto. Logo, ao Conselho de Sentença também caberá o julgamento das infrações conexas.
SENTENÇA
Concluída a votação e verificada a decisão dos jurados, que é tomada por maioria de votos (CPP, art. 489), incumbe ao juiz presidente proferir sentença. Esta sentença, regulamentada pelo art. 492 do CPP, é tida como subjetivamente complexa ou de formação complexa, pois envolve dois órgãos jurisdicionais diversos: o Conselho de Sentença, que aprecia o fato e suas circunstâncias, e o juiz presidente, a quem cabe aplicar a pena. 
Essa sentença deve ser lida em plenário pelo presidente antes de encerrada a sessão de instrução e julgamento. Essa publicação da sentença em plenário é de fundamental importância para o início do prazo recursal. Afinal, se todas as partes estão presentes à sessão de julgamento, a publicação da decisão em plenário marca o início do prazo para interposição de eventual recurso de apelação.
Portanto, se uma sentença condenatória for publicada em plenário na mesma data em que o acusado for submetido a julgamento, estando presentes o acusado e seu defensor, conforme registrado na ata de julgamento, o termo inicial do prazo recursal para ambos será a data da condenação proferida em plenário, nos termos do art. 798, § 5º, “b”, do CPP.
Evidentemente, se o acusado não comparecer à sessão de julgamento, abrindo mão do exercício da autodefesa, como lhe é franqueado pelo art. 457, caput, do CPP, seu prazo recursal só terá início a partir do momento em que for devidamente intimado acerca da sentença condenatória. 
Sentença absolutória
Na hipótese de absolvição do acusado, deve o magistrado fazer breve relatório, julgando improcedente o pedido de condenação formulado pela acusação. Deve o juiz presidente se limitar a explicitar que os jurados acolheram o pedido da defesa, tendo absolvido o acusado. 
Como vigora, em relação ao Conselho de Sentença, o sistema da íntima convicção, os jurados não são obrigados a fundamentar o sentido do seu voto. Logo, essa decisão absolutória dispensa qualquer fundamentação, porquanto quem aprecia o mérito não é o juiz presidente, mas sim os jurados. De acordo com o art. 492, inciso II, no caso de absolvição, deve o juiz presidente: 
a) colocar em liberdade o acusado se por outro motivo não estiver preso: como a apelação contra a sentença absolutória não é dotada de efeito suspensivo, o acusado preso deve ser colocado imediatamente em liberdade;
b) revogar as medidas restritivas provisoriamente decretadas: o dispositivo refere-se a eventuais medidas cautelares patrimoniais e/ou pessoais decretadas durante o curso do processo. Se o acusado foi absolvido, devem ser revogadas eventuais medidas assecuratórias, tais como o sequestro de bens (CPP, art. 125) e a inscrição da hipoteca legal (CPP, art. 141), ante o desaparecimento do fumus
boni iuris;
c) impor, se for o caso, a medida de segurança cabível: reconhecida a inimputabilidade do art. 26, caput, do CP, deveo juiz impor a medida de segurança pertinente – internação ou tratamento ambulatorial –, por meio de sentença absolutória imprópria.
Sentença condenatória
Na hipótese de condenação, também não há necessidade de fundamentação da decisão, pelo menos em relação ao mérito. Em outras palavras, quanto à matéria apreciada pelos jurados – materialidade, autoria, eventual absolvição do acusado, causas de diminuição de pena, qualificadoras e causas de aumento de pena – não há necessidade de motivação do decreto condenatório, porquanto os jurados estão submetidos ao sistema da íntima convicção. Todavia, quanto à pena a ser aplicada pelo juiz presidente, há necessidade de fundamentação do decreto condenatório, já que vigora, em relação ao juiz togado, o sistema da persuasão racional (convencimento motivado). 
Segundo o art. 492, inciso I, em caso de condenação, deve o juiz presidente: 
a) fixar a pena base; 
b) considerar as circunstâncias agravantes ou atenuantes alegadas nos debates; c) impor os aumentos ou diminuições da pena, em atenção às causas admitidas pelo júri; 
d) observar as demais disposições do art. 387 do CPP; 
e) mandar o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se fencontrar, se presentes os requisitos da prisão preventiva; f) estabelecer os efeitos genéricos e específicos da condenação.
Ata
Nos exatos termos do art. 494 do CPP, de cada sessão de julgamento o escrivão lavrará ata, assinada pelo presidente e pelas partes. Tamanha a sua importância que o próprio CPP estabelece que a falta da ata sujeitará o responsável a sanções administrativa e penal (art. 496). A ata, que goza de fé pública, deve descrever fielmente todas as ocorrências da sessão de julgamento (CPP, art. 495). 
O CPP não prevê de maneira expressa um prazo para a elaboração da ata da sessão de julgamento. Não obstante, se o próprio art. 494 estabelece que a ata deve ser assinada pelo juiz presidente e pelas partes, é evidente que a ata deve ser concluída ao final da sessão de julgamento. De mais a mais, fosse a ata elaborada alguns dias depois da sessão de julgamento, sua finalidade estaria comprometida, porquanto seria complicado exigir que as partes atestassem a fidedignidade dos registros nela consignados.
REFERÊNCIAS
TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Proc. Penal. 11 ed. Salvador: Juspodium, 2016.
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
BONFIM, Edilson Mougenot. Júri: do inquérito ao plenário. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

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