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[Resumo dos Textos] Resumo Psi

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Freud
Aula 29.04
Conversa entre Freud e Rolland sobre a expressão “futuro de uma ilusão”. Ambos acreditam que a religião é uma instituição que produz ilusões, mas Rolland diz que Freud não percebe o sentido da religião quando diz que esta é uma ilusão; pois por ser um cientista, ele tem dificuldades de lidar com sentimentos. 
Fonte da religiosidade: sentimento oceânico (uma certa sensação de eternidade, de pertencimento a algo ilimitado e sem fronteiras). Apesar de Freud não sentir esse sentimento oceânico, ele existe em muitas pessoas e sua origem remonta a uma fase primitiva do sentimento do ego (sentimento primário do ego: originalmente, o ego inclui tudo, separando apenas depois de si mesmo um mundo externo, daí a criança achar que tudo que a cerca faz parte dela mesma). Ao longo do tempo, traz-se este sentimento primário do ego para a vida adulta, e este conviverá com o ego maduro. Assim, a origem da atitude religiosa tem a ver com o desamparo infantil, e a necessidade de relação com o pai não celestial. 
Na modernidade, o inconsciente foi reprimido, dando-se prioridade à razão. Para Freud, porém, é o inconsciente que guia a vida dos homens, através dos sonhos, atos falhos, etc. Os homens buscam a racionalidade, mas são orientados mas pelo inconsciente, impulsionado mais pelos desejos. 
O reconhecimento do mundo externo é proporcionado pelas freqüentes e múltiplas inevitáveis sensações de sofrimento e desprazer, cujo afastamento e fuga são impostos pelo princípio do prazer. O que os homens buscam, assim, é a felicidade. No processo de busca da felicidade, há dois aspectos:
Meta positiva: diz respeito aos nossos intensos sentimentos de prazer (satisfação repentina e momentânea, derivando prazer intenso do contraste, e contentamento tênue).
“Meta negativa”: fiz respeito a ausência de sofrimento e desprazer. Há uma busca para não sentir sofrimento; que ameaça o ser humano em três direções: pelo próprio corpo (condenado à decadência, à velhice, à morte); pelo mundo externo (a natureza no sentido de ambiente); pelos nossos relacionamentos (mais importante fonte).
Aprende-se a equacionar felicidade e sofrimento, e muitas vezes, evitar o sofrimento coloca a obtenção do prazer em segundo plano; até porque esta felicidade da meta positiva é passageira. Não podemos afastar totalmente o sofrimento, mas podemos mitigá-los (métodos interessantes influenciam o próprio organismo, como nas drogas). Outras medidas seriam utilizar-se de derivativos (extrair luz da própria desgraça) ou as satisfações substitutivas (ilusões em contraste com a realidade, como a arte ou a religião). 
Ou o indivíduo realiza os seus desejos, colocando em risco o progresso da sociedade; ou esta impõe uma série de limitações aos desejos do homem para que ela possa progredir; e o homem se sente infeliz na sociedade onde vive. O mal estar deriva justamente da impossibilidade de estabelecer uma relação com a sociedade que nos garanta também a realização de nossos desejos. Há um conflito irreconciliável entre indivíduo e sociedade, pois o Direito de cada um termina quando começa o do outro; não podendo o homem colocar em prática sua meta positiva da realidade na sociedade: o homem não pode ser totalmente livre, pois é limitando a sua própria liberdade que se respeita o outro. 
Assim, não há como, na sociedade, alcançar felicidade plena, o máximo que se pode conseguir é evitar o sofrimento. A civilização é construída sobre a renúncia do instinto, gerando frustração cultural, que dará lugar a neurose. Para Freud, o homem em sociedade é necessariamente neurótico. Quaisquer que sejam as metas para a felicidade, esta é uma busca individual. Se o individuo é erótico, tem preferência por relacionamentos emocionais; se é narcisista, tem satisfação nos processos mentais internos; se é um homem de ação, testa sua força no mundo externo. Não buscar a totalidade de nossa satisfação em uma única aspiração é sinal de sabedoria.
Aula 13.05
Um paradigma é um conjunto de pressupostos ou crenças que organizam e limitam o pensamento.
O pensamento na modernidade é constituído por uma série de crenças que tomamos por verdade absoluta, pelas pressupostos (oposições) criados abaixo:
Epistemológico: dualismo entre razão (monopólio da razão sobre os processos de conhecimento) e afetos. É preciso de neutralidade para dominar o objeto.
Ontológico: oposição entre cultura (conjunto de produtos e criações humanas que vão servir na intervenção do homem sobre a natureza; serve ao domínio da natureza) e natureza. É um dualismo básico, porque daí outros dualismos vão surgir. A nossa natureza humana tende ao descuido e a irresponsabilidade. A beleza, o asseio, a ordem são obras do homem, sendo parte do processo civilizatório. O que chamamos de civilização se opõe a essa natureza, sendo muito responsável pela desgraça humana, pois tenta dominar a natureza. A natureza tem uma estrutura passageira, uma limitada capacidade de adaptação e realização. A civilização é o conjunto de coisas que buscamos para nos proteger contra as ameaças oriundas do sofrimento, sobretudo das forças violentas da natureza. 
Antropológico: sobre o homem, separando mente e corpo. O corpo na modernidade funciona como uma máquina, o corpo é o instinto, as paixões humanas, e precisa ser controlado.
Quando Freud constrói sua teoria sobre o que acontecia na clínica, tentando impor e adequar o que se vida nas crenças modernas, ele se aproximava da modernidade. Ao afastar-se da modernidade, vai-se observando que os pressupostos modernos não servem para explicar aquilo que ele observava com seus pacientes. Freud se aproxima do paradigma moderno quando ele tenta impor aos seus conceitos já cristalizados, quando ele ignora o que a realidade está mostrando e tenta impor os seus conceitos fechados. Quando, ao contrário, ele primeiro observa a realidade para depois construir a sua teoria, ele se afasta do paradigma moderno e vê que os pressupostos não correspondem com a realidade. Quando ele teoriza sobre o inconsciente, por exemplo, ele percebe que os seres humanos são muitos mais movidos pelos sentimentos do que pela razão.
Aula 27.05
É difícil para o homem encontrar a felicidade, é muito mais fácil chegar a uma acomodação conveniente entre os desejos individuais e as exigências sociais. Existem uma série de métodos pelos quais os homens podem afastar os sofrimentos. Uma pessoa torna-se neurótica porque não pode tolerar a frustração que a sociedade lhe impõe, visto que a civilização é construída na renúncia, pressupondo a não satisfação de instintos poderosos. Chamamos substituição do poder do indivíduo pelo poder da comunidade, quando a frustração é mobilizada pela cultura e as exigências do grupo ao indivíduo. A liberdade do individuo não constitui o dom da civilização, sendo maior antes da existência de qualquer civilização. A liberdade do individuo seria, portanto, característica do estado de natureza. Sua essência reside no fato de que os homens da sociedade se restringem em sua possibilidade de satisfação, e o individuo isolado desconhece restrições (pois está no estado de natureza).
São dois os fundamentos para entender a vida comunitária: 
A compulsão pelo trabalho criada pela necessidade (ananke), observada a partir do momento em que os homens descobrem que podem melhorar sua sorte na terra através do trabalho. É o momento que o homem primitivo se fixa à terra, saindo de sua posição de nômade e buscando companheiros.
O poder do amor (Eros) se refere à família. Quando o homem se fixa à terra, a sua satisfação com o amor não é mais casual. A mulher precisa do homem forte para protegê-la e à sua prole. O reconhecimento do amor é fundamento da civilização, pois Freud é um autor pessimista, para quem a agressividade faz parte de uma tendência natural do ser humano. O homem se realiza no social a partir do momento que inclui o outro nessa realização. 
O amor, mesmo reconhecido, traz alguns problemas em sua continuidade:
Erotismo genital(amor sensual): satisfação genital com o objeto amoroso escolhido. Esse amor representa um perigo, porque quando amamos, temos medo de perder o objeto amoroso escolhido. É o amor responsável pela formação das famílias. 
Amor inibido em sua finalidade: sendo essa finalidade plenamente sensual. É aquele responsável pela afeição, amizade. Na base de qualquer amizade, existe o amor plenamente sexual, só que inibido. O amigo nada mais é que um potencial objeto sexual que se inibe. O amor que forma famílias continua a operar, mas de outro modo: não se escolhe um objeto isolado, evitando-se as incertezas do amor genital. Esse amor é efeito de um processo sublimatório, onde o indivíduo desloca a energia da pulsão sexual para atividades mais valorizadas socialmente (trabalho, produção cultural, realização artística). Tudo isso é fruto de uma retirada pulsão sexual. 
A mesma mulher responsável pela formação das famílias vai exercer sobre o homem uma influência. Além de as mulheres serem pouco capazes de sublimar para contribuir à sociedade (segundo o contexto da época), ela reivindica o interesse do homem em prol da família e dos interesses sexuais, impedindo que este faça as sublimações. Ela reivindica a energia da pulsão sexual, e o homem não pode deslocar a energia para as sublimações necessárias para o progresso social. 
Para Freud, todos se amam, mas a cultura exerce uma importante restrição a nossa sexualidade. A monogamia é uma posição cultural. O homem no estado de natureza é livre para amar. Mas para progredir na sociedade, é preciso o amor inibido em sua finalidade, indo o amor sensual para o inconsciente. Esse amor pela humanidade é difícil, pois nem todos os homens são dignos de amor. Os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas, mas sim criaturas com dotes instintivos com uma poderosa cota de agressividade (“o homem é o lobo do homem”). 
Freud observa que a civilização não apenas impõe restrições à sexualidade humana, mas também à agressividade. A existência de inclinação para agressão força a civilização para um elevado dispêndio de energia, com esforços a fim de estabelecer limites aos instintos agressivos do homem. A agressividade é entendida como algo destrutivo. 
Dada a dificuldade de se abandonar essa agressão, o homem precisa manifestá-la em relação aos outros. É sentimento de culpa quando deve-se controlar os impulsos que o ego gostaria de manifestar para fora, mas que são reprimidos voltando-se para o próprio ego, criando uma necessidade de punição. Assim, a culpa seria fruto da dinâmica agressiva. A culpa se dá por causa do desejo reprimido. O remorso é quando faz-se algo proibido. 
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Winnicott
Crescimento emocional do indivíduo:
São três os estágios da jornada do crescimento emocional:
Dependência Absoluta: nos estágios iniciais do desenvolvimento emocional, o bebê é completamente dependente da provisão física da mãe. Ao mesmo tempo, ele tem certas tendências patológicas que têm uma realidade própria. O processo de maturação depende do ambiente para sua evolução, de modo que um ambiente favorável torna possível o progresso continuado desse processo. O ambiente não faz a criança, apenas possibilita, na melhor das hipóteses, a criança a concretizar seu potencial. Não existe uma essência do homem, mas uma potência. 
Freud e Winnicott: enquanto para Freud o sacrifico do desejo gera a neurose; a questão de Winnicott para a liberdade e espontaneidade é fundamental para o sujeito tornar-se maduro emocionalmente. 
Dependência Relativa: nesse segundo momento, é natural que a mãe comece a se afastar e frustrar o bebê. Essa separação deve ocorrer para a criança crescer e se desenvolver. A mãe só se afasta quando o bebê tem condições de lidar com a frustração – num estágio inicial, a ausência da mãe causaria trauma. Essa separação é favorecida por objetos transicionais (cobertores, chupetas). 
Rumo à Independência: em círculos cada vez mais abrangentes da vida social, a criança se identifica com a sociedade, pois esta é um exemplo de seu próprio mundo pessoal. Esse estágio descreve os esforços da criança pré-escolar e da criança na puberdade. Aqui se desenvolve uma verdadeira independência, com a criança se tornando capaz de viver uma existência pessoal satisfatória, ainda que envolvida com as coisas da sociedade.
A partir daí, os adultos continuam o processo de crescer e amadurecer. A maturidade do ser humano implica não somente crescimento pessoal, mas também socialização. O adulto é capaz de se identificar com a sociedade sem sacrifício demandando da espontaneidade pessoal. Para Freud, porém, o adulto não poderia fazer isso sem a sublimação.
A independência do sujeito nunca é absoluta; sempre se depende de algo em alguma medida. O indivíduo normal não se torna isolado, mas relacionado ao ambiente de modo que sejam os dois interdependentes. 
A relação entre o indivíduo e o ambiente social é importante para o Direito, visto que o crescimento emocional do indivíduo não se dá deslocado do social. A maturidade completa do indivíduo não é possível no ambiente social imaturo ou doente. Normalidade significa tanto saúde do indivíduo como da sociedade. 
Sentimento de Culpa:
Freud: há uma essência do ser humano, no caso, destrutiva, onde o sujeito nasce já com determinadas características que são dadas e imutáveis. A lei controlaria os instintos mais destrutivos desse homem, não pretendendo modificá-lo, mas controlá-lo. É este o máximo que a sociedade pode fazer.
Winnicott: aqueles que pensam que a moralidade deve ser imposta deixam de observar uma coisa que é um dado da natureza, mas não uma essência, e sim uma tendência. Uma tendência se modifica com a história, na relação do sujeito com o ambiente; enquanto a essência não se modifica. Uma dessas tendências é o sentimento ético instantâneo (deve se desenvolver naturalmente nos indivíduos). Ela é uma tendência porque depende da relação do sujeito com o ambiente, podendo assim desenvolver-se ou não. O homem aqui não é bom ou mau; ele possui potências para ser um ou outro, sendo que a tendência que vai se desenvolver é aquela que resulta da relação do sujeito com o ambiente. 
A culpa não é algo inculcado, mas algo que vem antes da capacidade do sujeito de distinguir certo e errado. Afinal, a lei tem que se instaurar a algo que vem antes dela, visto que algo deve acontecer com o indivíduo para que ele consiga respeitar a lei. Assim, um sentimento ético é natural.
Etapas do sentimento de culpa:
Capacidade presumida do sentimento de culpa: para Winnicott, a culpa é uma conquista, não um dado, ou seja, nem todas as pessoas podem adquirir a capacidade de sentir culpa. O crime verdadeiro não é a causa do sentimento de culpa; a culpa pertence à intenção criminosa. A culpa legal se relaciona ao crime (remorso), a culpa moral com a realidade interna, sendo esta uma conquista do indivíduo. 
Respeitar a origem da culpa: a culpa é uma ansiedade que se sente por causa de um conflito entre amor e ódio, então o sentimento de culpa, para Freud, é uma tolerância dessa ambivalência. Ao passar pelo sentimento de Édipo, para Freud, todos nós estamos aptos a sentir culpa.
Agressividade:
Se a sociedade se encontra em perigo, não é por causa da agressividade do homem, mas por causa da repressão da agressividade pessoal nos indivíduos. 
Em um bom ambiente, a agressividade pode ser trabalhada de modo pessoal. Essa agressividade não significa necessariamente destrutividade, sendo fundamental para o indivíduo. O problema é quando ela se transforma em destruição. O estudo da agressividade também deve voltar-se para o estudo da intenção agressiva. É trabalhando essa intenção que a agressividade deixa de se transformar em destruição, podendo ela ser canalizada para valores sociais, sendo assim a matéria-prima do que precisamos para desenvolver a nossa participação ou função social. Assim, a agressividade é sinônimo de atividade, é o que faz as pessoas se mobilizarem. Já para Freud, toda manifestaçãono sentido da atividade é destrutiva. A sociedade ganha quando a agressividade é trabalhada, não apenas pelas questões sociais, mas porque retira-se a possibilidade de destruição. 
O impulso agressivo já existe independente do seu raciocínio a respeito, não importando se a agressividade é produtiva ou não.
A agressividade faz parte da expressão primitiva do amor. Para Winnicott, os primeiros impulsos do amor têm a ver com a oralidade (boca), uma vez que na fase narcísica ele não reconhece o não-eu e está voltando para si mesmo; e na fase oral. Para Freud, o narcisismo antecede a oralidade. O bebê vai reconhecendo o outro pela experimentação da agressividade, é assim que ele percebe que a agressividade pode machucar a quem o bebê ama.
Estágios da agressividade: 
Inicial: estágio da pré-integração. O sujeito existe como pessoa, mas sem consciência do resultado dos seus propósitos. A integração do ego ainda não aconteceu, e o sujeito nessa etapa não consegue perceber a figura materna. Não tem noção ainda do que ele deseja pôr em prática no real, pois não conhece a mãe como figura total, visto que se relaciona com ela ainda a partir da parcialidade. Se você perde a agressividade, você perde a capacidade de se relacionar com os objetos. Quando o sujeito parece desvinculado do mundo real. Perde-se a capacidade de amar. É o resultado da repressão da agressividade no estágio inicial; o amor primitivo é expressado pela atividade. Ele a perde se o ambiente tolher essa expressão da agressividade. 
O bebê começa a se integrar e reconhecer o outro como pessoal total, e não parcial. A partir do momento que o ego vai se organizando, portanto, e começa a aceitar que ama e odeia a mãe, e a figura materna é a que recebe a voracidade do bebê, este começa a sentir culpa. Organizando seus próprios limites com o apoio do ambiente, as tendências naturais se desenvolvem se o ambiente não atrapalhar. A mãe pode reparar a agressividade. O bebê percebe que pode fazer algo em relação a essa culpa, tentar entendê-la e lidar com ela, descobrindo um anseio pessoal por dar, construir e reparar. O individuo humano precisa de ambientes atentos e vivos para descobrir em si esse anseio. Quando o ambiente não repara, a agressividade reaparece muito pior. O impulso agressivo é necessário para que nos mobilizemos diante o outro, reivindicando o que quer. Existe agressividade na base de toda relação, e ela é importante.

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