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Resenha Acerto de contas com a Administração uma reflexão a partir de Tragtenberg Motta e Guerreiro Ramos

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Acerto de contas com a Administração: uma reflexão a partir de Tragtenberg, Motta e Guerreiro Ramos
O artigo foi recebido em dezembro de 2006 pela Fundação Getúlio Vargas e aceito para publicação em fevereiro de 2007.
Autor: Rafael Kruter Flores
 	Doutor em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com período sanduíche em University of Essex, no Reino Unido, concluiu seu Mestrado em 2007, na Universidade do Rio Grande do Sul, no mesmo curso. Tem experiência em ensino e pesquisa na área de Administração, com ênfase em estudos organizacionais e administração pública. 
Fonte: CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Currículo LATTES http://lattes.cnpq.br/5309054259572811
Teorias como ideologia
 	Flores toma como uma de suas referências a obra de Tragtenberg, Burocracia, Ideologia e Poder (1974), onde para ele as teorias gerais da administração são consideradas como ideologias, formas de falsa consciência, representando os interesses das classes dominantes.
 	Conforme consta no artigo, para Maurício Tragtenberg (um dos autores estudados por Flores) a Administração pode ser interpretada como uma ideologia, ou seja, a ideologia orienta a relação entre os indivíduos e suas ações nas organizações.
 	A base do sistema de poder do século XIX, de acordo com MOTTA, era formada pelas quatros instituições abaixo:
As grandes potências;
O ouro como padrão de uma organização econômica internacional unificada;
O mercado auto-regulável;
e o Estado Liberal.
 	 “Para Tragtenberg, as raízes das teorias administrativas estão em Saint-Simon, Fourier, Proudhon e Marx.” São elas:
Saint-Simon (1760-1825), segundo o texto , sua maior esperança era na Classe Industrial, se preocupou com um ideal de organização da sociedade, para ele deveria haver uma homogeneidade da organização;
Charles Fourier (1772-1837), segundo Tragtenberg, esse teórico valorizava a harmonia universal, o planejamento, que seria alcançada pelo controle das paixões humanas, a fim de eliminar os males da sociedade;
Já para Marx, ele propôs uma filosofia da ação para constituição do proletariado como classe e a derrubada da supremacia burguesa, onde para ele concentrava sua teoria na produção da mais-valia;
 	O autor Motta, retorna ao socialismo utópico na busca pelas raízes das teorias organizacionais. Com as teorias de Fourier, Motta percebe que há certo enfoque na psicologia com o objetivo de solucionar os problemas sociais. Segundo Motta, para se alcançar a tão sonhada “sociedade equilibrada” a base seria o afeto e a solidariedade e ainda aponta a pouca importância conferida às relações econômicas nas teorias de Fourier.
 	Para Robert Owen (1771-1858) socialista utópico, havia uma certa necessidade de reforma no setor de produção. Owen procura organizar a sociedade de uma forma mais justa através da eliminação das diferenças econômicas através da propriedade comunitária e do trabalho coletivo.
 	“Segundo Motta, sua filosofia (a de Owen) é uma das principais origens do sindicalismo e do cooperativismo, e uma dificuldade em seu pensamento é a abordagem exclusivamente social”.
Já para Proudhon, ele se opôs às ideias centralistas e autoritárias de Marx acerca da organização do movimento socialista e propôs uma forma de socialismo mais libertária e mais descentralizada. Para Proudhon era difícil conscientizar a classe operária, pois eles sofrem alienação política e cultural. 
 	No artigo foram revisados vários autores que contestavam a ordem imposta pelo sistema capitalista a partir da Primeira Revolução Industrial. Muitas teorias e ideias que viriam surgir no futuro estão embasadas na psicologia de Fourier e no assistencialismo de Owen.
 	Proudhon e Marx questionaram a sociedade em suas bases econômicas: o mercado. Eles viam no sistema capitalista uma ordem de exploração e dominação que funcionava a partir da divisão do trabalho, e suas obras representam as bases do socialismo. Ambos, afirmavam a socialização dos meios de produção. O marxismo defendia a tomada de poder pela classe operária como condição para o socialismo e as idéias de Proudhon defendiam coletivos autogestionários com autonomia em relação ao poder do Estado. (MOTTA, 1981).
 	Com a Segunda Revolução Industrial há um aumento de demandas na produção industrial e consequente elaboração das formas de produção em massa. Surgem os monopólios empresariais e o monopólio mundial da produção. Segundo Tragtenberg, na Segunda Revolução Industrial, ocorre uma mutação das teorias globais para as teorias microindustriais.
 	Motta destaca o aumento do tamanho das empresas, o surgimento da teorização em nível macro e a separação entre funções de direção das de execução a partir da Segunda Revolução Industrial.
 	Taylor é considerado o primeiro cientista da Administração. Seu método baseava-se em incentivos econômicos, cálculo de tempos e movimentos. Uma empresa de grande poder econômico e político eram pré-requisitos essenciais para a aplicação do método de Taylor, segundo Tragtenberg.
 	Outro nome da Escola Clássica é Fayol, para ele a administração da empresa se dava de cima para baixo, o princípio de Fayol era a hierarquia. A comunicação deve fluir do topo para a base, sempre exaltando a autoridade. Para Fayol, a concorrência é o fundamento da eficiência. Motta analisa o taylorismo de forma semelhante à Tragtenberg.
 	O autor (Motta) destaca a presença de um ideal de formação humana em Taylor, um vínculo entre sua administração cientifica e um estilo de vida.
 	Motta analisa em sua obra a crença de Taylor na inexistência de uma divergência entre capital e trabalho. Para Taylor, “o sucesso da empresa é o sucesso do trabalhador” (MOTTA, 1986, p. 63). Motta é bastante influenciado por Proudhon e controverso a posição de Taylor.
 	A separação do trabalho tem duas consequências: a separação do ambiente de trabalho em dois ambientes distintos (escritório e oficina); e a separação entre os funcionários em dois grupos sociais distintos ( planejadores e executores), o que acaba gerando rivalidade entre ambas.
 	Com o surgimento da Escola das Relações Humanas, que tem como principal teórico Elton Mayo, se inicia uma nova fase na administração alterando as configurações organizacionais e de trabalho. A necessidade nesse período é de cooperação e comunicação.
 	Mayo considera que “a direção não é função unificada da organização e coordenação, e sim, ponto de união em que se combinam exigências políticas e funcionais da empresa” (TRAGTENBERG, 1980, p. 81).
 	Tragtenberg afirma que a Escola Clássica era menos alienada, pois não considerava a moral do trabalhador, apenas os salários. Já a Escola das Relações Humanas busca pela psicologia, com um certo cinismo afirma está preocupada com o trabalhador.
 	O surgimento da Teoria de Sistemas se deu devido a importância atribuída por Mayo à comunicação na empresa , considerada como um sistema integrado.
 	Para Motta, segundo Rafael, as análises de Mayo eram análises do pequeno grupo, a fábrica está isolada da sociedade industrial e o objetivo é o consenso no pequeno grupo. Uma vez que o foco da Escola das Relações Humanas está no grupo informal de trabalho e sua influência nos trabalhadores, a persuasão deve atingir estes grupos.
 	Os teóricos sociais que responderam à Primeira Revolução Industrial obedeciam às suas orientações, sendo que elas contra ou a favor do sistema de produção capitalista e o mercado. Mas, a partir da Segunda Revolução Industrial, as teorizações estão restritas a uma orientação ideológica, e por este motivo não podem contemplar a totalidade do sistema em que estão inseridos.
 	Para finalizar a primeira parte do artigo em que Rafael, conclui a “Teoria como ideologia” sua opinião fica expressamente exposta a Teoria Geral da Administração nasce nas determinações sociais reais com as teorias de Saint-Simon, Fourier e Marx – como resposta à Primeira Revolução Industrial; mas se afasta destas determinaçõesa partir de Taylor e Fayol – direcionando-se ao advento da eletricidade na Segunda Revolução Industrial. Já as Escolas das Relações Humanas, Estruturalista e Sistêmica correspondem aos dilemas sociais atuais. Este movimento se fecha em si mesmo e deforma o real, representando “interesses de determinados setores da sociedade que possuem o poder econômico – político” (TRAGTENBERG, 1980, p. 89).
Ciência ingênua
 	A administração é uma ciência social aplicada. Guerreiro Ramos realiza, da mesma forma que Tragtenberg e Motta, uma revisão histórica. O autor busca, a partir de vários outros autores das ciências sociais uma conceituação de razão e racionalidade que sustente a perda do sentido antigo do significa razão, de distinção entre o bem e mal, falso e verdadeiro.
 	Em seu livro “A nova Ciência das Organizações”, Guerreiro Ramos afirma que a teoria das organizações é ingênua e pelo fato de se apoiar em pressupostos ingênuos a teoria é também pouco prática e inoperante.
A noção de razão foi apropriada para tornar-se compatível com a estrutura normativa da sociedade moderna.
 	Guerreiro Ramos, faz uma revisão, o primeiro autor a ser revisado é Max Weber, que realizou uma análise sociológica funcional. Ele se recusou a basear sua análise sobre a indignação moral e isso caracteriza sua análise como funcional.
 	Se baseando em Weber, Karl Mannheim distingue racionalidade substancial e funcional. A primeira é um “ato de pensamento que revela percepções inteligentes das inter-relações de acontecimentos, numa situação determinada” (MANNHEIM apud GUERREIRO RAMOS, 1989, p. 6). Já a segunda “diz respeito a qualquer conduta, acontecimento ou objeto, na medida em que este é reconhecido como sendo apenas um meio de atingir uma determinada meta” (GUERREIRO RAMOS, 1989, p. 10). Pra Guerreiro Ramos, Horkheimer demonstra que o deslocamento da razão e sua transformação em atributo da sociedade tornam impossível a ciência social.
 	A denúncia de Mannheim é o fato de a racionalidade funcional, que em outras sociedades era restrita a esferas limitadas, abranger vários aspectos da vida humana, tolhendo sua autonomia.
 	Ao revisar os teóricos da Escola de Frankfurrt, Guerreiro Ramos observa a racionalidade como instrumento de repressão social, ao invés de razão verdadeira. Para Guerreiro, Horkheimer demonstra que o deslocamento da razão e sua transformação em atributo da sociedade tornam impossível a ciência social.
 	Outro autor revisado por Guerreiro Ramos é o Habermas, uma teoria critica da sociedade deve ter como interesse orientador a emancipação do homem, mas conforme afirma Ramos, na ciência social estabelecida, o interesse orientador é o controle técnico. O critério de validade para as ciências é a eficiência no controle da realidade.
 	Concluindo sua revisão, Guerreiro Ramos passa da ingenuidade da teoria das organizações para o caráter de credo das ciências sociais. As ciências sociais estão embasadas em um proposito que não mais responde às demandas da sociedade.
 	Os mais variados problemas que enfrenta a sociedade atualmente deixam evidentes, na visão do autor, que a autodefinição das sociedades ocidentais como portadoras da razão é constantemente “solapada”. O autor convoca para uma nova busca intelectual, centrada na razão, que é o “conceito básico de qualquer ciência da sociedade e das organizações .” (Guerreiro Ramos, 1989, p. 23)
 	A racionalidade instrumental de Weber, ou a funcional de Mannheim não podem ser consideradas razão, no seu sentido original. À medida que as teorias organizacionais se posicionaram ideologicamente, as ciências sociais identificaram novas categorias que procuraram explicar e até mesmo justificar este movimento que não tem nenhum proposito de avaliação, ponderação, bom senso, prudência ou qualquer outro que esteja associado ao sentido original da razão (FERREIRA, 1999).
Acerto de Contas
 	No curso de graduação de administração, segundo o artigo, não estudam a fundo as teorizações organizacionais que foram citadas ao longo dessa resenha. Os estudantes de administração não compreendem onde, como, quando e por que nasceu a administração, falta uma postura crítica em relação aos propósitos das teorias que deveriam ser estudadas. Os cursos de graduação ocultam o movimento histórico que fez surgir as teorias administrativas, sendo que o conhecimento sobre essas teorias são fundamentais para a formação crítica de um estudante de graduação em administração.
 	Rafael Flores faz todo um estudo revisando os autores brasileiros (Tragtenberg, Motta e Guerreiro Ramos) em questão e conclui que a administração na atualidade falta aprofundar seus conhecimentos nas Teorias Administrativas. Que ao invés de afirmar a autonomia do homem e o livre arbítrio para julgar, emancipar e definir, a razão foi, ao longo desses últimos séculos, transformada em instrumento de repressão e controle social.
 	No texto Flores cita muito da “transavaliação da razão” que aparece no estudo dos autores em questão, onde ele compara que os cursos de graduação não questionam o surgimento das teorias administrativas, levando aos estudantes a não questionarem, não possuírem senso critica diante das situações vivenciadas pela administração, segundo Guerreiro Ramos. 
 	O último parágrafo do artigo resume bem toda a idéia do contexto da artigo com o seu objetivo que é comparar o ensino da administração hoje com as teorias administrativas impostas pelos Teóricos estudados pelos autores em questão: “Tanto teoria quanto prática relacionadas à sociedade encontram a mesma raiz, a que determinou a “transavaliação da razão”, a ingenuidade das ciências sociais, e criou a ideologia das teorias administrativas: o livre mercado. Os autores brasileiros revisados indicam que é somente recuperando o sentido original da razão e desvendando ideologias (como Motta se refere à obra de Tragtenberg) que será possível construir um corpo teórico adequado à realidade, e acertar as contas com teorias ideológicas a serviço da dominação e com ciências convenientemente ingênuas.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Acerto de contas com a Administração: uma reflexão a partir de Tragtenberg, Motta e Guerreiro Ramos.
 	Autor: Rafael Kruter Flores
- Texto de Apoio: A questão da formação do administrador.
 	Autor: Fernando Cláudio Prestes Motta
- A formação do administrador no ensino de graduação: uma reflexão
 	Autor: Paulo da Costa Lopes
- Revista Eletrônica de Ciência Administrativa (RECADM) - ISSN 1677-7387 
Faculdade Cenecista de Campo Largo - Coordenação do Curso de Administração 
v. 6, n. 2, nov/2007 - http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm/ 
 “A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER”: 
LEITURAS CRÍTICAS NA FORMAÇÃO DO ADMINISTRADOR1
Carolina Machado Saraiva de Albuquerque Maranhão2
Fernanda Miranda de Vasconcelos Motta
- http://www.infopedia.pt/$pierre-joseph-proudhon
- http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/p/proudhon.htm
- http://www.infopedia.pt/$robert-owen
- http://www.brasilescola.com/biografia/robert-owen.htm

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