Buscar

01) MATERIAL DE APOIO Para a Turma de Recursos.docx

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 36 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 36 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 36 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

MATERIAL DE APOIO
RECURSOS E PROCESSO NOS TRIBUNAIS
 
 
 
01) DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
 
​Para a generalidade dos casos decididos pelos juízos de primeiro grau, em nosso sistema processual, vigora o princípio
da dualidade de jurisdição, segundo o qual as causas decididas pelos juízes de direito são passíveis de reexame e novo
julgamento pelos Tribunais de segundo grau, mediante provocação por meio da apelação. Há, também, na sistemática do novo
Código, além do voluntário, um duplo grau de jurisdição necessário, que ocorre nos casos do art. 4961 (antigo recurso ex officio).
 
​Certos processos, porém, acham-se excluídos da competência dos juízes de primeiro grau. Considerações em torno da
natureza especial da lide, e da condição das pessoas em litígio, bem como razões de ordem política, levam o legislador a atribuir
alguns feitos à apreciação originária (ou direta) dos Tribunais.
 
02) COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS
 
​Os Tribunais, os órgãos colegiados do segundo grau de jurisdição, exercem sua competência, portanto, em três situações
distintas:
(i) em grau de recurso;
(ii) em reexame no duplo grau de jurisdição necessário (remessa necessária); e
(iii) em processos de competência originária.
 
​Particularmente, o Supremo Tribunal Federal, órgão máximo do Poder Judiciário nacional, decide em matéria recursal
tanto a título ordinário como extraordinário (CF, art. 102, II e III).
 
​São ordinários os recursos de agravo e apelação interpostos pelo vencido em decisão de juiz de primeiro grau
para obter reexame da matéria decidida em seu prejuízo. O pressuposto objetivo de admissibilidade do recurso ordinário, seja
entre o primeiro e o segundo grau de jurisdição, seja naquelas hipóteses em que o apelo se endereça aos tribunais superiores, é a
inconformação do vencido com a decisão.
 
​Diz-se extraordinário o recurso interposto com base em permissivo constitucional, das decisões dos Tribunais para o
Supremo Tribunal Federal, visando apenas e tão somente à apreciação da tese de direito federal aplicada no julgamento do órgão
judiciário local. É extraordinário porque não cabe na generalidade dos casos decididos por tribunais, mas apenas nas situações
específicas previstas na Carta Magna da República. O fim dessa especial modalidade de recurso é essencialmente político e se
prende à tutela que a Federação exerce para manter o respeito à Constituição e preservar a unidade das leis federais (art. 102, III,
da CF).
 
​Da mesma natureza e objetivo é o recurso especial, previsto pela Constituição Federal de 1988, interponível para o
Superior Tribunal de Justiça (art. 105, III). A diferença está em que o recurso extraordinário, manejável perante o Supremo
Tribunal Federal, cuida de solucionar questão federal no terreno das normas constitucionais, enquanto o especial, endereçado ao
Superior Tribunal de Justiça, versa sobre questões travadas em torno da legislação federal infraconstitucional.
 
03) CARACTERÍSTICAS DOS PROCESSOS DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS TRIBUNAIS
 
​Não vigora, em princípio, para os processos de competência originária dos tribunais a dualidade de jurisdição. São eles
julgados em uma única instância, não desafiam recursos ordinários em decorrência do simples fato da sucumbência.
 
​Dão ensejo, porém, em circunstâncias especiais, à interposição do recurso extraordinário para o Supremo Tribunal
Federal ou de recurso especial para o Superior Tribunal de Justiça, impugnação essa que é típica dos julgamentos de Tribunais
locais (Constituição Federal, arts. 102, III, e 105, III).
 
​Note-se porém, que o recurso extraordinário tanto é cabível contra os acórdãos proferidos em grau de recurso
como nos de processos de competência originária. O mesmo se dá com o recurso especial. Há, porém, previsão excepcional
de recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal, de julgamentos em única instância dos Tribunais Superiores, quando
ocorrer denegação de mandado de segurança, habeas data e mandado de injunção (Constituição Federal, art. 102, II, “a”).
 
​Há, igualmente, recurso ordinário para o Superior Tribunal de Justiça, de julgamentos em única instância proferidos em
mandados de segurança pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, Distrito Federal e Territórios
(Constituição Federal, art. 105, II, “b”).
 
04) CASOS DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS TRIBUNAIS
 
I – Supremo Tribunal Federal
 
​Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal, em matéria civil, processar e julgar
(Constituição Federal, art. 102, I):
 
(a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual;
(b) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território;
(c) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, e União e o Distrito Federal, ou entre uns
e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;
(d) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
(e) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;
(f) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de
atribuições para a prática de atos processuais;
(g) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados,
e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente
interessados;
(h) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou
entre estes e qualquer outro tribunal;
(i) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;
(j) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do
Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal
de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
(l) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério
Público.
 
II – Superior Tribunal de Justiça
 
​É da competência originária do Superior Tribunal de Justiça processar e julgar, em matéria civil (Constituição Federal, art.
105, I):
(a) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado ou do próprio
Tribunal;
(b) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, o, bem como entre tribunal e juízes
a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos;
(c) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados;
(d) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;
(e) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre autoridades judiciárias de um
Estado e administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as
deste e da União;
(f) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade
federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da
Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;
(g) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias.
 
III – Tribunais Regionais Federais
 
​É da competência originária dos Tribunais Regionais Federais (Constituição Federal, art. 108, I):
(a) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região;
(b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal;
(c) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal.
 
IV – Tribunais dos Estado e do Distrito Federal
 
​Para os TribunaisEstaduais, dispõe o art. 44 do NCPC que obedecidos os limites estabelecidos pela Constituição
Federal, a competência é determinada pelas normas previstas no Código ou em legislação especial, pelas normas de organização
judiciária e, no que couber, pelas constituições dos Estados.
 
​A norma codificada, portanto, está em conformidade com a Constituição Federal, que remeteu a matéria para as
Constituições estaduais e leis de organização judiciárias (art. 125, § 1º).
 
​De maneira que, em questões cíveis, a competência originária é aquela traçada pelas respectivas organizações
judiciárias, em sentido lato.
 
​Atualmente, no Estado de Minas Gerais, a competência originária do Tribunal de Justiça, exercida pelo Órgão Especial,
compreende o processamento e julgamento dos seguintes feitos civis:
(a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual e de lei ou ato normativo municipal, em face da
Constituição do Estado, e os incidentes de inconstitucionalidade;
(b) o mandado de segurança contra ato do Governador do Estado, da Mesa e da Presidência da Assembléia Legislativa, do
próprio Tribunal ou de seus órgãos diretivos ou colegiados e do Corregedor-Geral de Justiça;
(c) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Governador do Estado, da
Assembléia Legislativa ou de sua Mesa, do próprio Tribunal de Justiça, do Tribunal de Justiça Militar ou do Tribunal de Contas do
Estado;
(d) o habeas data contra ato de autoridade diretamente sujeita à sua jurisdição;
(e) a ação rescisória de seus julgados;
(f) a reclamação para preservar a competência do Tribunal ou garantir a autoridade das suas decisões;
(g) decidir dúvida de competência entre tribunais estaduais, câmaras de uniformização de jurisprudência, câmaras cíveis e
criminais de competência distinta ou seus desembargadores, bem como conflito de atribuições entre desembargadores e
autoridades judiciárias ou administrativas, salvo os que surgirem entre autoridades estaduais e da União, do Distrito Federal ou de
outro estado;
(h) julgar, em feito de sua competência, suspeição oposta a Desembargador ou ao Procurador- Geral de Justiça;
(i) julgar restauração de autos perdidos e outros incidentes que ocorrerem em processos de sua competência;
(j) julgar recurso interposto contra decisão jurisdicional do Presidente do Tribunal, do Primeiro Vice-Presidente, do Segundo Vice-
presidente ou do Terceiro Vice-Presidente do Tribunal de Justiça, nos casos previstos em lei ou neste regimento;
(k) executar acórdão proferido em causa de sua competência originária, delegando a Juiz de Direito a prática de ato ordinatório;
(l) julgar embargos em feito de sua competência;
(m) julgar agravo interno contra decisão do Presidente que deferir pedido de suspensão de execução de liminar ou de sentença
proferida em mandado de segurança;
(n) julgar agravo interno contra decisão do Presidente que deferir ou indeferir pedidos de suspensão de execução de
liminar ou de sentenças proferidas em ação civil pública, ação popular e ação cautelar movidas contra o poder público e
seus agentes, bem como as decisões proferidas em pedidos de suspensão de execução de tutela antecipada deferidas
nas demais ações movidas contra o poder público e seus agentes;
(o) deliberar sobre a inclusão de enunciados na súmula, bem como sua alteração ou cancelamento.
 
​O Regimento também dispõe sobre a competência dos Grupos de Câmaras e das Câmaras Isoladas.
 
05) POSIÇÃO DA MATÉRIA NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
 
​O novo Código reservou, na Parte Especial, dois Títulos do Livro III (Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de
Impugnação das Decisões Judiciais) (Títulos I e II) para regular o processamento dos feitos de competência dos Tribunais.
 
​No Título I foram regulados o procedimento para a Valorização da Jurisprudência (Capítulo I), o Incidente de Assunção de
Competência (Capítulo III), o Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade (Capítulo IV), o Conflito de Competência (Capítulo V),
a Homologação de Decisão Estrangeira e a Concessão do Exequatur à Carta Rogatória (Capítulo VI), a Ação Rescisória (Capítulo
VII), o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (Capítulo VIII) e a Reclamação (Capítulo IX).
 
​No Capítulo II fixou-se a “ordem dos processo no Tribunal”, com pertinência à matéria de recurso e feitos de competência
originária. As normas desse capítulo não se aplicam inteiramente ao Supremo Tribunal Federal, em virtude de antiga previsão
constitucional, que assegurava, àquela Corte, o poder normativo para estabelecer em seu Regimento Interno o procedimento a ser
observado nos feitos “de sua competência originária ou de recurso”.
 
​Embora a norma não tenha sido reproduzida na Constituição atual, as disposições regimentais editadas ao tempo da
vigência da Carta de 67/69 continuam em vigor até que alguma lei venha a revogá-las.
 
​No Título II foram minuciosamente definidos e disciplinados os recursos cabíveis, tanto em
decisões de primeiro grau como de graus superiores de jurisdição, por meio de seis capítulos. O Código de 1973 reservava dois
Títulos do Livro I (Processo de Conhecimento) (Títulos IX e X) para regular o processamento dos feitos de competência dos
Tribunais. No Título IX eram regulados o incidente da “Uniformização da Jurisprudência” (Capítulo I), a “Declaração de
Inconstitucionalidade” (Capítulo II), a “Homologação de Sentença Estrangeira” (Capítulo III) e “Ação Rescisória” (Capítulo IV).
 
​No Título X eram definidos e disciplinados os recursos cabíveis. No Capítulo VII fixava-se a
“ordem dos processos no Tribunal”, com pertinência à matéria de recurso e feitos de competência
originária.
 
06) O FUNCIONAMENTO DOS TRIBUNAIS
 
​No sistema processual civil brasileiro, os juízes de primeiro grau são singulares e os órgãos de segundo grau
são coletivos.
 
​O modo de julgar, portanto, pela própria natureza de cada espécie de juízo, há de ser muito diverso: enquanto no primeiro
caso será a manifestação de vontade unipessoal do juiz singular, no segundo será a conjugação das opiniões dos vários membros
do Tribunal. Daí a denominação de “acórdão” (derivado do verbo acordar) que se aplica às decisões dos colegiados de grau
superior de jurisdição.
 
​Os tribunais nem sempre decidem pela totalidade de seus membros. Na prática, há uma divisão de trabalho e função
entre seus integrantes, que se agrupam em Câmaras Cíveis e Câmaras Criminais.
 
​Referidas Câmaras poderão, conforme a natureza das decisões a proferir, funcionar como Câmaras isoladas ou como
Câmaras Reunidas. Quando atua o tribunal como um todo, tem-se o Tribunal Pleno.
 
​A Lei de Organização Judiciária fixa a competência do Pleno, das Câmaras isoladas e das
Câmaras Reunidas. O Regimento Interno, por sua vez, determina o sistema de processamento e
julgamento dos feitos perante cada órgão do tribunal.
 
​Como adverte Lopes da Costa, cada um desses órgãos “não representa um juiz colegiado diverso do Tribunal, mas é o
mesmo Tribunal de Justiça. A divisão em órgãos não quebra a unidade do organismo”.
 
​É sempre o Tribunal que decide, seja pelo Pleno, seja apenas por uma Câmara isolada. Tanto é assim que os recursos
são endereçados ao Tribunal e não às Câmaras. O presidente é que, após o recebimento, o distribui ao órgão competente para
conhecer da medida pleiteada, de conformidade com o Regimento.
 
​Em alguns casos, o Código atribui ao relator competência para decidir, singularmente, questões incidentais durante a
tramitação do feito no tribunal, e até mesmo para admitir, inadmitir e julgar recursos (NCPC, art. 932).
 
​Mas, quando isso acontece, a decisão é sempre passível de agravo interno, que permite ao colegiado reanalisar,
em caráter definitivo, o julgamento (art. 1.021).
 
​Também no conflito de competência é permitido o julgamento singular do relator quando sobrea questão suscitada já
houver pronunciamento da jurisprudência dominante do Tribunal (art. 955, parágrafo único), sempre, porém, desafiando agravo
interno.
 
07) O SISTEMA DE JULGAMENTO DOS TRIBUNAIS
 
​Tanto o Pleno como cada uma das Câmaras em que se subdivide o Tribunal têm o seu presidente, que é o magistrado
que dirige os trabalhos da sessão de julgamento do órgão colegiado.
 
​Durante a tramitação do processo há um membro do colegiado que assume posição de relevo, por caber-lhe a direção do
feito, inclusive no que toca à coleta das provas.
 
​Trata-se do relator, que é escolhido por sorteio (distribuição) entre os componentes do órgão julgador.
 
​Compete ao relator, em caráter principal:
 
(i) ordenar as intimações;
(ii) receber contestação;
(iii) despachar os requerimentos das partes;
(iv) delegar competência a juiz de primeiro grau para ouvida de testemunhas ou realização de perícia;
(v) fazer o relatório geral do processo (NCPC, arts. 931 e 932, I).
 
​A última função é de grande importância para o julgamento da causa. Na verdade, não são todos os membros do
órgão colegiado que examinam os autos antes do julgamento. Esse minucioso exame é feito apenas pelo relator, que faz o
histórico do caso sub judice perante os demais julgadores.
 
​No regime do Código anterior, em hipótese de maior relevância, funcionava um revisor que fiscalizava o trabalho do
relator, o que não foi mantido pela legislação atual.
 
​Agora, concluído o relatório, o processo será encaminhado ao presidente, para designação de dia para o julgamento,
ordenando a publicação da pauta no órgão oficial (art. 934).
 
08) RELEVANTE FUNÇÃO DO RELATOR
 
​O NCPC ampliou as funções do relator, tanto nos recursos quanto nas ações de competência originária do Tribunal,
permitindo-lhe, em muitos casos, decidir os processos por meio de decisão monocrática, ou seja, sem que ocorra o
julgamento colegiado, com a participação de outros juízes.
 
​As funções do relator podem se revestir de natureza de:
 
a) gestão processual; ou
b) de decisão. ​
 
​Assim, incumbe ao relator (NCPC, art. 932):
 
I – Funções de natureza de gestão processual
 
(a) dirigir e ordenar o processo no tribunal, inclusive em relação à produção de prova, bem como, quando for o caso,
homologar autocomposição das partes (inciso I). Essa atividade tem por fim dar regular andamento ao processo,
proporcionando e abreviando a sua resolução;
(b) determinar a intimação do Ministério Público, quando for o caso (inciso VII);
(c) exercer outras atribuições estabelecidas no regimento interno do tribunal (inciso VIII).
 
​Trata-se de cláusula aberta que deve ser preenchida pelo regimento interno dos tribunais.
 
II – Funções de natureza decisória
 
(a) apreciar o pedido de tutela provisória nos recursos e nos processos de competência originária do tribunal (inciso II). Essa
função não tem o condão de colocar fim ao litígio, que será posteriormente julgado pelo próprio relator ou pelo órgão
colegiado, mas, contém força decisória no tocante à medida urgente;
(b) não conhecer de recurso INADMISSÍVEL, PREJUDICADO ou que NÃO TENHA IMPUGNADO ESPECIFICAMENTE OS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO RECORRIDA (inciso III). Essa função tem por finalidade desestimular as partes de interpor
recursos manifestamente inadmissíveis ou que não impugnem especificamente a decisão recorrida;
(c) negar provimento a recurso que for contrário a (inciso IV):
(i) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
(ii) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
(iii) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas(IRDR) ou de assunção de competência. O NCPC
prestigia, em todos esses casos, a autoridade da jurisprudência, quando a ela se confere força vinculante. Trata-se,
também, de uma função de caráter decisório, com nítida preocupação de simplificar e abreviar a prestação jurisdicional (CF, art.
5º, LXXVIII);
(d) depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for contrária a (inciso
V):
(i) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
(ii) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
(iii) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência. Também aqui, por
meio dessa função decisória, prestigia-se o entendimento jurisprudencial já sedimentado e a celeridade processual preconizada
pela Constituição;
(e) decidir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, quando este for instaurado originariamente perante o tribunal
(inciso VI). Isto poderá ocorrer principalmente nas execuções de sentença proferidas em processos de competência originária do
tribunal.
 
​A propósito de falhas ou deficiências da peça recursal, dispõe o Código que o relator, antes de inadmitir o
recurso, deverá conceder o prazo de cinco dias ao recorrente para que seja sanado o vício ou complementada a
documentação exigível. Somente após essa diligência e não tendo sido sanada a falha, é que será possível a inadmissão (art.
932, parágrafo único).
 
​Com isso se reafirma a posição fundamental do novo direito processual de que o processo deverá, sempre que possível,
ser solucionado pelo mérito, e só em casos extremos inevitáveis é que se admitirá sua extinção por defeitos formais.
 
III – Ocorrência de fato superveniente à decisão recorrida ou existência de questão apreciável de ofício pelo tribunal
 
​Se o relator constatar a ocorrência de fato superveniente à decisão recorrida ou a existência de questão apreciável de
ofício ainda não examinada que devam ser considerados no julgamento do recurso, intimará as partes para, em cinco dias, se
manifestarem (art. 933).
 
​Embora não houvesse previsão expressa nesse sentido no CPC/1973, a jurisprudência já permitia essa diligência pelo
relator.
 
​Se o relator verificar esses fatos durante a sessão de julgamento, deverá suspendê-lo imediatamente, para que
as partes possam se manifestar sobre a questão (art. 933, § 1º). Trata- e de aplicação prática do princípio do contraditório
efetivo e da não surpresa, que impede o juiz de decidir sobre questão que não foi debatida nos autos pelas partes, ainda que de
ordem pública e conhecível de ofício (art. 10).
 
​Se a constatação for feita por outro juiz ao ter vista dos autos, deverá encaminhá-los ao relator para que possa abrir vista
às partes para manifestação e, em seguida, solicitar ao Presidente que inclua o processo em pauta para julgamento. Essa questão
superveniente ou apreciável de ofício deverá ser submetida ao órgão colegiado para decisão (art. 933, § 2º).
 
IV – Vícios sanáveis
 
​Se for constatada pelo relator, ou pelo órgão competente para o julgamento do recurso, a ocorrência de vício sanável,
inclusive aquele que possa ser conhecido de ofício, determinará a realização ou a renovação do ato processual, no tribunal
ou no juízo de primeiro grau, intimando devidamente as partes, para que seja respeitado e cumprido o indispensável
contraditório (art. 938, §§ 1º15 e 4º16). Após a diligência, o relator, sempre que isso for possível, prosseguirá no julgamento do
recurso (art. 938, § 2º).
 
V – Necessidade de produção de prova
 
​Quando for reconhecida a necessidade de produção de prova, o relator, ou o órgão colegiado competente, converterá o
julgamento em diligência para a conclusão da instrução, que se realizará no tribunal ou em primeiro grau de jurisdição.
Finalizada a diligência, o recurso será decidido (art. 938, §§ 3º e 4º).
​
​OBS: Nesse caso, o que a lei quer é que não se anule sentença, nem se rejeite recurso, diante de instrução
incompleta dacausa. Integrada a instrução, o recurso será decidido pelo mérito, evitando, dessa maneira, nova sentença e nova
apelação.
 
MATERIAL DE APOIO
RECURSOS E PROCESSO NOS TRIBUNAIS
 
 
01) CONCEITO DE RECURSOS
 
​Em linguagem jurídica a palavra recurso é usualmente empregada num sentido lato para denominar “todo meio
empregado pela parte litigante a fim de defender o seu direito”, como, por exemplo, a ação, a contestação, a reconvenção, as
tutelas provisórias. Nesse sentido diz-se que a parte deve recorrer às vias ordinárias, ou deve recorrer às tutelas de urgência e da
evidência, ou deve recorrer à ação reivindicatória etc.
 
​Mas, além do sentido lato, recurso em direito processual tem uma acepção técnica e restrita, podendo ser definido como
o meio ou remédio impugnativo apto para provocar, dentro da relação processual ainda em curso, o reexame de decisão
judicial, pela mesma autoridade judiciária, ou por outra hierarquicamente superior, visando a obter-lhe a reforma,
invalidação, esclarecimento ou integração.
 
​OBS: Não se deve, porém, confundir o recurso com outros meios autônomos de impugnação da decisão judicial, como a
AÇÃO RESCISÓRIA e o MANDADO DE SEGURANÇA.
 
​Caracteriza-se o recurso como o meio idôneo a ensejar o reexame da decisão dentro do mesmo processo em que foi
proferida, antes da formação da coisa julgada.
 
02) RECURSOS E OUTROS MEIOS IMPUGNATIVOS UTILIZÁVEIS CONTRA DECISÕES JUDICIAIS
 
​Não é o recurso o único instrumento utilizável para atacar a decisão judicial. Além do recurso existem ações autônomas
de impugnação.
 
​No sistema jurídico brasileiro, o que caracteriza o recurso é a sua inserção na própria relação jurídica processual onde o
direito de ação está sendo exercido, enquanto as ações de impugnação, como a rescisória, o mandado de segurança, os
embargos de terceiro etc., representam a instauração de uma nova relação jurídica processual.
 
​Os remédios impugnativos do segundo tipo às vezes são manejados até mesmo depois da extinção do processo em que
se proferiu a decisão atacada, ou seja, depois de consumada a coisa julgada, como se dá com a ação rescisória.
 
​Outras vezes, podem ser exercidos antes da coisa julgada, como no mandado de segurança contra ato judicial. Em
qualquer dos casos, porém, não é possível identificá-los como simples incidente ou mera extensão do processo precedente.
 
​Sempre produzirão a instauração de processo distinto daquele em que se proferiu a decisão impugnada.
 
​Entre os recursos e as ações de impugnação, costuma-se reconhecer a existência de ALGUNS SUCEDÂNEOS
RECURSAIS, que não se enquadrando na categoria de recursos nem na de ação autônoma, permitem, assim mesmo, alguma
forma de impugnação a decisões judiciais.
 
​Exemplos dessa categoria processual seriam encontrados no pedido de reconsideração, no pedido de suspensão da
segurança (Lei nº 12.016/2009, art. 15), na remessa necessária (NCPC, art. 496) e na correição parcial (regimentos internos dos
tribunais).
 
​Diante do quadro jurídico brasileiro, destarte, o conceito de recurso formalizado por Barbosa Moreira é expressivo e
merece acolhida, ou seja, recurso é “o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação,
o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna”.
 
​A hipótese mais freqüente é a do recurso que busca a reforma da decisão impugnada, tentando obter em novo
pronunciamento, do mesmo órgão judicial, ou de um tribunal superior, uma solução concreta diversa daquela contida no julgado
primitivo. Outras vezes, o intento do recorrente não é, de pronto, o novo julgamento da questão já decidida, mas apenas a sua
invalidação, ou eliminação, para que outro, futuramente, seja proferido em condições de validade.
​
​Por fim, é possível que o propósito do recorrente não seja o de reformar, nem o de cassar, a decisão impugnada, mas
apenas o de aperfeiçoá-la, mediante eliminação de obscuridade, contradição e omissão.
 
03) CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS
 
​Várias são as maneiras de classificar os recursos. Eis os principais critérios classificatórios:
 
I – Quanto ao fim colimado pelo recorrente
 
(a) de reforma, quando se busca uma modificação na solução contida no decisório impugnado, de maneira a alcançar, no
julgamento recursal, um pronunciamento mais favorável ao recorrente;
(b) de invalidação, quando não se busca um novo julgamento, dentro do recurso, para a matéria decidida no ato impugnado,
mas, sim, a sua cassação pura e simples, ensejando, posteriormente, volte a mesma matéria a ser julgada em novo decisório que
não contenha os vícios que provocaram a anulação do primeiro julgamento. Ocorre esse tipo de recurso, geralmente, nas
hipóteses de inobservância de requisitos de validade do julgamento, como a incompetência, o cerceamento de defesa, as
decisões citra, extra e ultra petita, e, enfim, a ausência de qualquer pressuposto processual ou condição da ação;
(c) de esclarecimento ou integração: são os embargos de declaração, onde o objetivo recursal específico não é o rejulgamento
da matéria decidida nem tampouco a invalidação do ato impugnado, mas, sim e tão somente, o seu aperfeiçoamento, o que se
alcança eliminando a falta de clareza ou a contradição nele verificada, ou suprindo-lhe alguma omissão no tratamento das
questões suscitadas no processo.
 
​Eventualmente, ter-se-á de introduzir alguma inovação no decisório embargado. Isto, porém, haverá de ser feito nos
estritos limites da meta de eliminar a dúvida, a contradição ou suprir a omissão, e nunca com a dimensão de um amplo reexame e
rejulgamento daquilo que já restara solucionado no ato judicial anterior.
 
II – Quanto ao juízo que se encarrega do julgamento
 
(a) devolutivos ou reiterativos, quando a questão julgada por um órgão judicial é devolvida ao conhecimento de outro órgão. É o
que se passa com o:
i) recurso ordinário;
ii) o especial;
iii) o extraordinário;
iv) a apelação;
 
(b) não devolutivos ou iterativos, quando a impugnação é julgada pelo mesmo órgão que proferiu a decisão recorrida, tal como
se passa nos embargos de declaração;
 
(c) mistos, quando tanto permitem o reexame pelo órgão superior como pelo próprio prolator do ato decisório impugnado, como é
o caso do agravo.
 
​A classificação dos recursos em devolutivo e não devolutivo prende-se a uma concepção antiga da ação de devolver, que
a identificava com o ato de “transferir a outrem” um direito. Daí falar-se em recurso de efeito devolutivo ou não devolutivo, no
sentido de transferir, ou não, de um órgão judicial para outro, a função de reexaminar a decisão judicial.
 
​Mas devolver sempre teve, também, o sentido de “restituir” ou “entregar de volta”. Uma vez
que os processos são dominados, em sua marcha, pelo princípio da preclusão, as decisões judiciais, uma vez pronunciadas, têm
como efeito extinguir o poder de reexaminar a questão decidida.
 
​A regra vem expressa no art. 505 do NCPC, em que se lê que, em princípio, “nenhum juiz decidirá novamente as
questões já decididas, relativas à mesma lide”, salvo em alguns casos expressos na lei.
 
​E um desses casos é justamente o recurso, cuja interposição adequada e tempestiva afasta a possibilidade de preclusão,
reabrindo ou restituindo o poder de examinar, mais uma vez, a matéria já decidida, reexame esse que poderá ser feito pelo próprio
juiz autor da decisão questionada ou por outro órgão hierarquicamente superior.
 
​No sentido técnico, portanto, é lícito afirmar que todo recurso sempre possui efeito devolutivo, pois qualquer que
seja ele, afasta ou impede a preclusão, ensejando nova oportunidade de julgamento, no todo ou em parte, da questão decidida no
ato judicial impugnado.
 
​Nessa perspectiva, é melhor classificar os recursos, quanto ao órgão a quem compete julgá-los, em:
 
(i) recursos reiterativos; e
(ii) recursositerativos, em lugar de falar em devolutivos e não devolutivos.
 
​Isso porque, do ponto de vista técnico, a devolutividade é característica comum a todo e qualquer recurso admitido em
direito processual.
 
III – Quanto à extensão do reexame de um órgão sobre a matéria decidida por outro
 
(a) total, quando o recurso ataca a decisão como um todo, requerendo sua reforma integral;
(b) parcial, quando o inconformismo do recorrente é restrito a uma ou algumas questões dentre todas solucionadas no decisório
recorrido. Nessa hipótese, não terá poder, o órgão recorrido, para introduzir qualquer alteração na parte não impugnada. Tantum
devolutum quantum appelatum. É que a parte não atacada da sentença transita em julgado, desde logo, se versar sobre o mérito
da causa, ou incorre em preclusão, se se tratar de questões processuais.
 
​Nos recursos reiterativos, o julgamento do tribunal ad quem substitui a decisão recorrida, no que tiver sido objeto de
recurso (NCPC, art. 1.008). Para todos os efeitos, o único julgamento existente será o do recurso. Se, por exemplo, se tiver
de realizar a execução forçada ou se se intentar a ação rescisória, o ato básico será o acórdão que julgou o recurso e não a
sentença recorrida. Isto, porém, pressupõe que tenha ocorrido julgamento de mérito, que tenha confirmado ou reformado a
decisão recorrida. Se o caso for de anulação ou de pura cassação, não se pode cogitar de substituição, porque, ao próprio juízo
de origem competirá proferir nova sentença para substituir a primitiva, que o Tribunal invalidar.
 
IV – Quanto aos motivos da impugnação
 
(a) há recursos de fundamentação livre, que são aqueles cuja admissibilidade não se prende a matérias preordenadas pela lei; e
(b) há recursos de fundamentação vinculada, que são aqueles só admissíveis quando se invoca tema enquadrado na previsão
legal de cabimento do remédio recursal.
 
​Os recursos em geral se prestam ao questionamento de qualquer matéria jurídica, seja de mérito ou de preliminar
processual. Há, porém, os que, como os EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, o recurso extraordinário e o especial, somente são
admissíveis quando a respectiva fundamentação for enquadrável nos permissivos da lei, ou seja: Para recorrer por meio dos
embargos de declaração, a parte somente pode alegar a ocorrência de obscuridade, lacuna, contradição no conteúdo do
ato judicial impugnado ou erro material (NCPC, art. 1.022);
 
​Para manejar o recurso extraordinário, a parte haverá de apontar um dos defeitos de natureza constitucional arrolados
no art. 102, III, da CF; O recurso especial só será admitido quando fundado num dos questionamentos, relacionados à lei federal,
autorizados pelo art. 105, III, da CF.
 
V – Quanto à marcha do processo rumo à execução da decisão impugnada
 
(a) suspensivos: os que impedem o início da execução provisória ou definitiva;
 
(b) não suspensivos: os que, mesmo na pendência do recurso, permitem seja processada a execução provisória, e, às vezes,
até a execução definitiva, da sentença ou decisão interlocutória impugnada.
 
​OBS: No sistema do Código os recursos em geral não impedem o prosseguimento do feito e, por isso, autorizam a
execução provisória (art. 995).
 
​Entretanto, a apelação, em regra, suspende os efeitos da sentença impugnada, não ensejando execução provisória, a
não ser nos casos excepcionais arrolados em lei (art. 1.012, § 1º).
 
​OBS: No caso de apelação contra a sentença que extingue sem resolução do mérito os embargos do devedor ou os julga
improcedentes, o recurso não tem efeito suspensivo (art. 1.012, § 1º, III). O Código anterior considerava provisória a execução
iniciada em caráter definitivo, na pendência do recurso contra a rejeição dos embargos do devedor (CPC/1973, art. 587, com
redação da Lei nº 11.382/2006), afastando-se de antiga e reiterada jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que, na
espécie, mantinha o caráter com que a execução havia se principiado.
 
​O novo Código conserva a mesma orientação, ao prever que a APELAÇÃO não tem efeito suspensivo quando a
sentença extinguir os embargos à execução, com ou sem resolução de mérito, caso em que se permite ao exequente “promover o
pedido de cumprimento provisório depois de publicada a sentença” (art.1.012, § 2º).
 
​OBS: Vale dizer: o novo Código continua adotando a tese de que a execução definitiva de título extrajudicial transmuda-
se em provisória enquanto não encerrados, por decisão o trânsito em julgado, os embargos do devedor.
 
04) FUNDAMENTO E NATUREZA DO DIREITO AO RECURSO
 
​“Psicologicamente – lembra Gabriel Rezende Filho – o recurso corresponde a uma irresistível tendência humana”. Na
verdade, é intuitiva a inconformação de qualquer pessoa diante do primeiro juízo ou parecer que lhe é dado. Naturalmente, busca-
se uma segunda ou terceira opinião, sempre que a primeira não seja favorável ao ponto de vista do consulente, não importa o
terreno do conhecimento em que a indagação ocorra (filosófico, literário, artístico, sociológico, político, pedagógico, médico,
religioso e qualquer outro que inquiete o espírito humano).
 
​Sendo assim, não poderia ser diferente no que diz respeito às divergências de ordem jurídica, plano em que os conflitos
são constantes e de soluções sempre problemáticas.
 
​Isso posto, numa síntese feliz, o mesmo processualista resume a origem dos recursos processuais em duas razões:
 
a) a reação natural do homem, que não se sujeita a um único julgamento;
b) a possibilidade de erro ou má-fé do julgador”.
 
​No plano sociológico, essas razões são as que basicamente explicam a presença dos recursos nos sistemas processuais
de todo o mundo civilizado, muitos deles erigindo-os à categoria de um dos direitos e garantias fundamentais, ou seja, um dos
direitos do homem.
 
​Discute-se a propósito da natureza jurídica do recurso, chegando alguns a qualificá-lo de uma ação distinta e autônoma
em relação àquela em que se vinha exercitando o processo. A corrente dominante, no entanto, prefere conceituar o poder de
recorrer “como simples aspecto, elemento ou modalidade do próprio direito de ação exercido no processo”. Em outros termos,
corresponde a um incidente, ou desdobramento do processo, em que o direito de ação é praticado.
 
​Apresenta-se, também, o recurso como ônus processual, porquanto a parte não está obrigada a recorrer do julgamento
que a prejudica. Mas, “se o vencido não o interpuser, consolidam-se e se tornam definitivos os efeitos da sucumbência”.
 
05) ATOS SUJEITOS A RECURSO
 
 
​No processo são praticados os chamados atos processuais, ora pelas partes, ora por serventuários da Justiça, ora por
peritos, ora por terceiros e ora pelo juiz. Apenas dos atos do juiz é que cabem os recursos. E, ainda, não de todos, mas de alguns
atos do juiz.
 
​De acordo com o art. 203, os pronunciamentos do juiz consistirão em “sentenças”, “decisões interlocutórias” e
“despachos”. Todos eles figuram na categoria dos atos de autoridade, mas nem todos ensejam a interposição de recurso.
 
​As sentenças e decisões são sempre recorríveis, qualquer que seja o valor da causa (arts. 1.009 e 1.015). Dos
despachos, i.e., dos atos judiciais que apenas impulsionam a marcha processual, sem prejudicar ou favorecer qualquer das
partes, não cabe recurso algum (art. 1.001).
 
​Aboliram-se, no âmbito da codificação anterior à de 73, as chamadas “causas de alçada”, em que o recurso (embargos
infringentes) só se destinava à revisão do julgado pelo próprio juiz que o proferiu. Ficou consagrada no Código de 1973 a
possibilidade do duplo grau de jurisdição voluntário em qualquer causa, o que foi mantido pelo novo CPC. Preserva-se, porém, o
regime de
causas de alçada fora do Código de Processo Civil, em procedimentos especiais como o da execução fiscal (Lei nº 6.830/1980) e
o das ações trabalhistas (Lei nº 5.584/1970, alterada pela Lei nº7.402/1985).
 
06) RECURSOS ADMISSÍVEIS
 
​I – No primeiro grau de jurisdição (juízo de primeira instância), o NCPC admite os seguintes recursos:
 
(a) apelação (arts. 994, I e 1.009);
(b) agravo de instrumento (arts. 994, II, e 1.015);
(c) embargos de declaração (arts. 994, IV, e 1.022).
 
​Verifica-se que não houve alteração em relação ao Código de 1973.
 
​II – Quanto aos acórdãos dos tribunais, admite o novo Código os seguintes recursos
 
(a) embargos de declaração (arts. 994, IV, e 1.022);
(b) recurso ordinário, para o Superior Tribunal de Justiça e para o Supremo Tribunal Federal (arts. 994, V, e 1.027);
(c) recurso especial (arts. 994, VI, e 1.029);
(d) recurso extraordinário (arts. 994, VII, e 1.029);
(e) embargos de divergência no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça
(arts. 994, IX, e 1.043).
 
​A alteração em relação ao Código de 1973 consistiu em supressão dos embargos infringentes (CPC/1973, arts. 496, III, e
530). Embora o recurso tenha sido eliminado, o aprimoramento das decisões colegiadas tomadas por escassa maioria de votos
passou a ser alcançável por meio de simples prosseguimento do julgamento da apelação, com a inclusão de outros julgadores
convocados, a fim de conseguir maioria mais ampla no resultado final do acórdão (NCPC, art. 942).
 
III – Para as decisões de segundo grau, diferentes de acórdão, o atual Código prevê os seguintes recursos:
 
(a) agravo interno (arts. 994, III, e 1.021);
(b) agravo em recurso especial ou extraordinário (arts. 994, VIII, e 1.042).
 
​Verifica-se que a nova codificação admitiu o agravo interno contra qualquer decisão proferida pelo relator, enquanto o
Código de 1973 o admitia apenas nos seguintes casos:
(i) despacho do relator que indefere de plano os embargos infringentes (art. 532);
(ii) indeferimento de recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com
jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do STF ou de Tribunal Superior (art. 557);
(iii) não conhecimento do agravo contra inadmissão de recurso especial ou extraordinário, por ser manifestamente inadmissível ou
que não tenha atacado especificamente os fundamentos da decisão agravada (art. 544, § 4º, I); e
(iv) conhecimento do agravo de inadmissão de recurso especial ou extraordinário para negar-lhe provimento, para negar-lhe
seguimento ou para dar provimento ao recurso. Esse casuísmo foi totalmente superado pelo novo Código.
 
07) PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS RECURSOS CIVIS
 
​Prestigiosa doutrina costuma, em matéria de princípios do direito processual civil, dividi-los em dois grupos:
i) a dos princípios informativos; e a
ii) dos princípios fundamentais.
 
​Os informativos dispensam demonstração por se apresentarem “quase que como axiomas” a prescindirem de maiores
indagações, já que se baseiam em critérios estritamente lógicos e técnicos, sem ostentar, praticamente, nenhum conteúdo
ideológico.
 
​Compreendem os princípios:
(i) lógico;
(ii) jurídico;
(iii) político; e
(iv) econômico.
 
​Os princípios fundamentais “são aqueles sobre os quais o sistema jurídico pode fazer opção, considerando aspectos
políticos e ideológicos. Por essa razão, admitem que em contrário se oponham outros, de conteúdo diverso, dependendo do
alvedrio do sistema que os está adotando”.
 
​Para Alexy, regras e princípios são igualmente normas para o direito. A diferença está em que as regras são “normas que
só podem ser cumpridas ou não” por conterem “determinações no âmbito do fático e juridicamente possível”. Sendo válidas, o que
nelas se determina há de ser realizado de maneira absoluta.
 
​Os princípios, por sua vez, são “normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível, dentro das
possibilidades jurídicas e reais existentes”. Daí falar-se que são mandados de otimização. Diferentemente das regras, os
princípios podem ser cumpridos em graus diferentes, dependendo do contexto (fático e jurídico) em que se aplicam.
 
​Na mesma linha de pensamento, Dworkin proclama que o direito não se reduz a regras estritas, mas se compõe também
de princípios hauridos deste modo de ser próprio da comunidade política, e que se encontram de maneira especial na
Constituição. De tal maneira, prevalece “a promessa de que o direito será escolhido, desenvolvido e interpretado de um modo
global, fundado em princípios, estabelecendo uma idéia de integridade do sistema dentro de uma ‘comunidade de princípios’”.
 
​Outra particularidade dos princípios fundamentais está na sua elasticidade e conseqüente possibilidade de sofrer
mutações conceituais e eficaciais com o passar do tempo e dos lugares de sua aplicação, podendo até mesmo lograr
consequências práticas e teóricas “diferentes daquelas imaginadas e queridas por seus idealizadores e, máxime, pela lei que os
adotou”.
 
​Cumpre, ainda, fazer uma distinção entre princípio constitucional e princípio geral. O primeiro, quando traduzido em
norma pela Constituição, não pode ser afrontado por lei ordinária, limita, portanto, a liberdade do legislador.
 
​Já o princípio geral comum, cuja presença no ordenamento jurídico é deduzida sistematicamente pela doutrina e
jurisprudência, esse não veda ao legislador afastá-lo, em determinadas circunstâncias, por questão de ordem política, ou de
conveniência prática. A ofensa, portanto, a um princípio constitucional acarreta a nulidade da lei que a tenha praticado; já o
afastamento do princípio geral, por decisão política do legislador, em caso excepcional, não macula a obra legislativa.
 
​Por exemplo, a legalidade das formas processuais é um princípio geral que permite, diante de qualquer norma
procedimental, a instituição de regras que justifiquem sua inobservância, fazendo prevalecer a funcionalidade do processo, em
lugar da obrigatoriedade do respeito ao rito definido em lei.
 
​Da mesma forma que os princípios informativos, os fundamentais do direito processual civil
incidem, necessariamente, sobre os recursos e sua aplicação.
08) ENUMERAÇÃO DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS OBSERVADOS PELA SISTEMATIZAÇÃO LEGAL DOS RECURSOS
CIVIS
 
​Segundo doutrina predominante, aplicam-se, com especificidade, aos recursos do processo civil brasileiro, os seguintes
princípios fundamentais:
 
i) Princípio do duplo grau de jurisdição;
ii) Princípio da taxatividade;
iii) Princípio da singularidade;
iv) Princípio da fungibilidade;
v) Princípio da dialeticidade;
vi) Princípio da voluntariedade;
vii) Princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias;
viii) Princípio da complementariedade;
ix) Princípio da vedação da reformatio in pejus;
x) Princípio da consumação.
 
8.1) Princípio do duplo grau de jurisdição
 
​Com a sujeição da matéria decidida, sucessivamente, a dois julgamentos procura-se prevenir o abuso de poder do juiz
que tivesse a possibilidade de decidir sem sujeitar seu pronunciamento à revisão de qualquer outro órgão do Poder Judiciário. O
princípio do duplo grau, assim, é um antídoto contra a tirania judicial.
 
​Não é que se tenha sempre como melhor e mais justo o julgamento de segundo grau. É que, em face da falibilidade do
ser humano, não é razoável supor que o juiz seja imune de falhas no seu mister de julgar. Daí ser natural que se questione o ato
judicial quanto à sua fundamentação, que, aliás, é uma condição sine qua non de sua validade (CF, art. 93, IX; NCPC, art. 11).
 
​De outro lado, é também da natureza humana o inconformismo diante de qualquer decisão
desfavorável, de sorte que o vencido é sempre inclinado a pretender um novo julgamento sobre a
matéria já decidida. Ademais, se o moderno processo justo assegura aos litigantes participar ativa e efetivamente da formação do
provimento judicial, submetendo ao crivo do contraditório não só as partes, mas também o juiz, é óbvio que terá de haver um
mecanismo processual que permitaa crítica ou censura ao decisório que primeiro avaliou e decidiu o conflito.
 
​O julgamento da causa, portanto, não pode deixar de considerar as alegações relevantes das partes e, sob pena de
nulidade, não lhe será lícito omitir na resposta adequada às arguições de fato e de direito levantadas regularmente por meio das
referidas alegações. A consequência desse contraditório democrático é que o diálogo processual não pode encerrar-se no
provimento do primeiro grau de jurisdição. Se assim fosse, as partes não teriam como assegurar sua efetiva participação na
formação do ato decisório.
 
​O julgamento em instância única deixaria incólume a sentença afrontosa ao contraditório. Indispensável, portanto, se
torna o acesso da parte prejudicada ao tribunal para demonstrar a ilegalidade do julgado abusivo pronunciado no primeiro grau de
jurisdição.
 
​A não ser assim, a opinião isolada e autoritária do juiz poderia prevalecer imune diante do diálogo construtor do
provimento. A vontade da autoridade judicial acabaria por ter a força de ignorar o debate das partes, assumindo, sem remédio, a
qualidade de fonte única da regra concreta imposta à solução do litígio.
 
​Fala-se, nesta linha de argumentação, que “o princípio do duplo grau é, por assim dizer, garantia fundamental de boa
justiça”.
 
​A ordem constitucional em vigor, de fato, não contém uma declaração expressa da obrigatoriedade do duplo grau. No
entanto, da organização que a Carta Magna prevê para o Poder Judiciário consta a instituição obrigatória de juízos de primeiro
grau e de tribunais de grau superior, cogitando de recursos ordinários e extraordinários entre uns e outros. É o suficiente para ter
como implantado entre nós o princípio fundamental da dualidade de instâncias.
 
​No entanto, a própria Constituição prevê processos de competência originária de tribunais, sem superpor-lhes uma
instância revisora. E, mais ainda, prevê juizados especiais em que o recurso, acaso interposto, não sobe a um tribunal superior,
mas é examinado por grupo de juízes de primeiro grau, integrados ao próprio juizado.
 
​Isto quer dizer que o princípio do duplo grau está naturalmente implantado entre nós, mas não em termos absolutos,
cabendo ao legislador ordinário dar-lhe os contornos práticos que se mostrarem convenientes.
 
​Com efeito, o NCPC, ao tratar do tema, mais especificamente do chamado “duplo grau de
jurisdição necessário”, dispôs, no art. 496, não haver a remessa necessária de decisões proferidas contra a União, os Estados, o
Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público, quando:
(i) a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de valor pequeno (§ 3º); ou
(ii) a sentença estiver fundada em súmula de tribunal superior; acórdão proferido pelo STF ou STJ, em julgamento de recursos
repetitivos; entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou assunção de competência; e
entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidado em
manifestação, parecer ou súmula administrativa. Mesmo, portanto, quando o Código impõe a observância do duplo grau, fora do
âmbito recursal, muitas exceções são abertas à exigência legal.
 
​Assim, as leis, como a de Execução Fiscal, que tornem não sujeitos à apelação (mas apenas a embargos para o próprio
prolator) sentenças de até um determinado valor, não devem ser havidas inexoravelmente como inconstitucionais. O problema é
de política legislativa, que pode ora ampliar ora reduzir o alcance prático do princípio geral do duplo grau de jurisdição.
 
​Nesse sentido, o STF já decidiu ser constitucional o art. 34 da Lei nº 6.830, de 22.09.1990, quando exclui o cabimento da
apelação em execuções fiscais de pequeno valor.
 
​Na verdade, porém, o que a lei processual pode fazer é criar mecanismo recursal que não leve a sentença ao obrigatório
reexame do tribunal de segunda instância. Essa reavaliação, em situações especiais, pode ser atribuída a entidade coletiva
formada por juízes de primeiro grau, como acontece nos juizados especiais, ou até mesmo ao próprio juiz prolator da sentença,
como se passa nos executivos fiscais de pequeno valor. O que não se tolera, num processo justo, é a negativa de oportunidade à
parte vencida de obter um rejulgamento da causa cuja decisão lhe foi adversa.
 
​Nessa concepção de direito à dupla apreciação da causa, quando primitivamente decidida por juízo singular, nenhum
processo pode ser privado do duplo grau de jurisdição.
 
​Quanto às causas que a própria Constituição atribui a juízo único dos tribunais, o afastamento do julgamento por
exclusiva vontade individual é obtido por meio da estrutura coletiva da entidade judicante. A decisão, na espécie, é fruto da
concorrência de votos de diversos juízes, de modo que cada um revê o daquele ou daqueles que o precederam. De outra
maneira, portanto, resta assegurada às partes o juízo múltiplo de suas pretensões, o que, afinal, cumpre função similar à do duplo
grau de jurisdição entre o juiz de primeiro grau e o tribunal.
​Assim, não é de acolher-se a tese de que a Constituição não agasalha o princípio do duplo grau de jurisdição, deixando
ao alvedrio da legislação processual aplicá-lo ou não em determinados processos. Na verdade, não há uma garantia nominal na
ordem constitucional a seu respeito. Há, porém, o princípio na Constituição que o utiliza na estruturação dos órgãos da Justiça em
diversos graus de hierarquia, e na consagração expressa da garantia do contraditório, como demonstra a corrente doutrinária a
que nos filiamos, ao lado de vozes abalizadas como as de Calmon de Passos e Nelson Nery Júnior, entre muitos outros.
 
​Os que recusam a obrigatoriedade da observância do duplo grau de jurisdição como imposição de ordem constitucional,
acusam-no de dificultar o acesso à justiça, uma vez que o recurso seria “uma boa desculpa para o réu que não tem razão retardar
o processo”,65 contribuindo, assim, para comprometer a efetividade da tutela jurisdicional, sem que haja uma certeza de que os
julgados dos tribunais sejam melhores e mais justos do que os pronunciados pelos juízes de primeiro grau.
 
​Antes de tudo, os recursos não estão à disposição apenas do réu, mas de ambas as partes, e não raro é o autor que dele
se serve para corrigir o erro cometido pelo decisório primitivo, que, sem a faculdade do reexame recursal, deixaria o autor, vítima
de denegação da tutela a que faz jus, totalmente privado do acesso à justiça.
 
​O fato de ser possível a protelação do desfecho do processo por meio de recursos abusivos não é, por si só, um
argumento para desprestigiar por inteiro o duplo grau de jurisdição. Para os abusos de direito, há sempre instrumentos coercitivos
na ordem jurídica. No caso específico dos recursos, existem expedientes capazes de impedir o recurso de má-fé, ou, pelo menos,
de anular suas consequências maléficas, de maneira satisfatória. Basta lembrar as multas pela litigância de má-fé, a ampliação da
verba advocatícia pela sucumbência recursal, a tutela de urgência satisfativa, a supressão do efeito suspensivo, a ampliação do
cabimento da execução provisória e tantos outros expedientes que inibem o uso procrastinatório dos recursos e mitigam a sua
influência indesejável sobre a duração razoável do processo e a efetividade da tutela jurisdicional.
 
​Entre a garantia do contraditório e da efetividade do processo, não há incompatibilidade. Cabe à técnica processual
reconhecer que ambas são indispensáveis para se ter um autêntico e justo acesso à justiça, e, assim sendo, preconizar a
observância harmônica de ambas, segundo os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade. O que não se pode fazer é
centrar toda a dinâmica da prestação jurisdicional na busca da celeridade, sacrificando a essência do processo justo, que hoje se
situa fundamentalmenteno contraditório pleno e na cooperação e influência de todos os sujeitos do processo na formação do
provimento judicial.
 
​O duplo grau – como modernamente se concebe – decorre imediatamente da garantia do contraditório, que, além de
seus aspectos tradicionais, compreende, sem dúvida, o direito de fiscalizar, controlar e criticar a decisão judicial. E esse objetivo
do contraditório nunca será atingido sem o acesso ao duplo grau de jurisdição, e, por isso mesmo, sem o concurso instrumental
dos recursos.
 
8.2) Princípio da taxatividade
 
​O cabimento e a forma do recurso não dependem de arbítrio da parte. “É indispensável que a lei processual haja
instituído o recurso que se interpõe como meio normal de impugnação das decisões gravosas. Pelo sistema atual do Código, os
recursos existentes são os que estão consignados no art. 994 do NCPC,68 não sendo possível, pois, cogitar de alguma
impugnação, a título de recurso, que não se amolde a qualquer deles. Por outro lado, não basta que exista o recurso, para que ele
seja admissível. Faz-se mister, igualmente, que ele seja o recurso adequado para a impugnação pretendida”.
 
​Embora se tenha o art. 994 como taxativo, o certo é que outras leis também cuidam de recursos, no âmbito de sua
incidência especial, criando modalidades recursais diferentes daquelas codificadas. É, por exemplo, o caso do recurso inominado
da Lei dos Juizados Especiais Civis (art. 41).
 
​O princípio da taxatividade, é bom registrar, não repele o princípio da fungibilidade entre os recursos enunciado pela lei
em numerus clausus, em circunstâncias especiais, como mais adiante será demonstrado.
 
8.3) PRINCÍPIO DA SINGULARIDADE
 
​Pelo princípio da singularidade, também chamado de princípio da unirrecorribilidade ou da unicidade, para cada ato
judicial recorrível há um só recurso admitido pelo ordenamento jurídico.
​O Código não diz, expressamente, ter adotado esse princípio. Mas disciplinou a recorribilidade de tal maneira prática que
o adotou implicitamente. Com efeito, pelo art. 203 do NCPC, os atos decisórios do juiz foram agrupados em duas espécies: a
sentença, quando o julgador põe fim à fase cognitiva do procedimento comum ou extingue a execução, decidindo ou não o mérito
da causa (§ 1º); e a decisão interlocutória, quando, no curso do processo, e, portanto, sem extingui-lo, resolve questão incidente
(§ 2º). Para cada um destes atos previu um recurso próprio ou específico: a apelação, para a sentença (art. 1.009),71 e o agravo,
para a decisão interlocutória (art. 1.015).
 
​Num sistema como o nosso, não se indaga, para classificar o ato judicial, sobre a natureza da questão decidida. O que
importa para ter-se como configurada uma sentença ou uma decisão interlocutória é o “conteúdo finalístico” do ato74 (sobre o
tema, ver itens nos 349 e 351 do vol. I).
 
​É irrelevante que o juiz tenha apenas se limitado a questões preliminares. Se a decisão encerrou o processo, ou, pelo
menos, pôs fim à fase cognitiva ou extinguiu a execução, o caso será de sentença. Se, ao contrário, o exame foi de matéria
substancial como a ocorrência ou não de prescrição e decadência, que se dirimiu sem pôr termo ao processo, o caso será de
decisão interlocutória.
 
​Como para a sentença o único recurso previsto é a apelação, e para a decisão interlocutória, o agravo, não há fugir do
princípio da unirrecorribilidade no processo civil brasileiro, pelo menos quanto aos julgamentos de primeiro grau de jurisdição.
 
​Uma exceção aparente a esse princípio, todavia, encontra-se no art. 1.029 do CPC,75 que prevê a simultânea
propositura do recurso especial e do extraordinário, para o Superior Tribunal de Justiça (questão federal) e para o Supremo
Tribunal Federal (questão constitucional), tudo com referência a um só acórdão. Todavia, as questões atacadas em cada um dos
recursos, serão distintas, não ocorrendo, portanto, dupla impugnação sobre a mesma matéria.
 
​Fora daí não há que se cogitar de seccionamento da sentença em capítulos para analisá-la, quanto à recorribilidade,
segundo o conteúdo de cada um deles. Pouco importa, à luz do art. 203, se o juiz, a um só tempo, resolveu questões preliminares
e julgou o mérito; ou se, decidindo questões somente de natureza processual, encerrou o processo; ou se, decidindo questão de
mérito, o fez em caráter incidental, sem extinguir o processo. Sempre será pelo conteúdo finalístico que o ato decisório se
classificará como sentença ou decisão interlocutória. E, portanto, configurada a sentença, o recurso cabível somente será a
apelação (art. 1.009); e configurada a decisão interlocutória, o recurso cabível apenas será o agravo (art. 1.015).
 
​Outra aparente exceção à unirrecorribilidade dá-se contra a decisão dúbia, contraditória ou lacunosa, porque além do
recurso comum caberá também o de embargos de declaração (art. 1.022, caput), cuja interposição interromperá o prazo do
primeiro (art. 1.026). Na realidade, porém, os dois recursos não são simultâneos, e, sim, sucessivos, tendo cada um deles
objetivos diversos.
 
​Em todas essas situações excepcionais a quebra do princípio da unirrecorribilidade provém da lei e não da vontade da
parte, de sorte que, fora da permissão legal expressa, não é dado ao vencido interpor senão um recurso contra cada decisão, ou
seja, o “recurso adequado”, aquele indicado pela lei “para o reexame da decisão que se impugna”. Além disso, ainda quando a lei
permite a pluralidade de recursos contra uma só decisão, não o faz para autorizar a veiculação reiterada da mesma pretensão
impugnativa em remédios paralelos. Cada recurso terá objetivo próprio e um não poderá, evidentemente, repetir a matéria do
outro.
 
8.4) Princípio da fungibilidade
 
​O Código de 1973 não previa expressamente a fungibilidade dos recursos. Entretanto, essa circunstância não impedia a
utilização do princípio, que era deduzido do sistema e aplicado por meio do princípio da instrumentalidade das formas ao sistema
recursal.
 
​Certo é que, com a racionalização da classificação dos atos decisórios pelo art. 162 do CPC/1973, seguida de uma
previsão de recursos que conecta com tal classificação (CPC/1973, arts. 513 e 522), muito se reduziu a possibilidade de dúvidas
sérias em torno do cabimento de um ou outro recurso, ao longo da marcha processual. A experiência do foro, todavia, demonstrou
que, às vezes por deficiência terminológica do próprio Código, e outras vezes por divergências doutrinárias ou jurisprudenciais,
ainda ocorriam situações de dúvida na definição do recurso cabível, o que justificava a invocação do princípio da fungibilidade.
 
​A jurisprudência, à época, admitia a fungibilidade quando ocorressem os seguintes requisitos: (i) dúvida objetiva acerca
de qual o recurso manejável; (ii) inexistência de erro grosseiro na interposição de um recurso pelo outro; (iii) observância do prazo
próprio do recurso adequado, sempre que este fosse menor do que o do recurso erroneamente interposto. Quanto a este último
requisito, Nelson Nery Júnior, defendia a tese de que se o erro fosse escusável, o princípio da fungibilidade validaria a
impugnação segundo os requisitos do recurso interposto, sem atentar para os do recurso omitido. Sua tese, a nosso ver, merecia,
e ainda merece, acolhida, pois se há dúvida objetiva para justificar a fungibilidade, não pode a parte ser penalizada pelo emprego
de um recurso pelo outro; e se escolheu um deles, é o prazo do escolhido que haverá de ser computado, já que válida foi a sua
interposição. Embora fosse volumosa a jurisprudência no sentido de exigir-se, na fungibilidade, a observância do prazo do recurso
próprio (não manejado), o STJ, em várias ocasiões, já prestigiou a tese de que, sendo escusável o erro da parte, deve prevalecer
a eficácia do recurso impróprio ainda que “haja sido interposto após findo o prazo para o recurso próprio”.
 
​Disso decorre que, na realidade, umúnico requisito se devia exigir para incidência do princípio da fungibilidade em
matéria de recurso: o da dúvida objetiva e fundada, como, aliás, se pode notar em acórdãos recentes do STJ.82 Esse regime,
construído na experiência do Código anterior, mantém-se válido e aplicável dentro do sistema do novo CPC, ainda que este
continue, como o velho, a não conter regra geral expressa sobre a fungibilidade recursal.
 
​Porém, há de se ter em conta a expressa previsão na nova legislação sobre a fungibilidade, no tocante à interposição de
recurso especial e extraordinário (NCPC, arts. 1.032 e 1.033).83 Isso porque permitiu que o relator, no STJ, entendendo que o
recurso especial versa sobre questão constitucional, conceda prazo de quinze dias para que o recorrente demonstre a existência
de repercussão geral (requisito para o recurso extraordinário) e se manifeste sobre a questão constitucional. Da mesma forma,
determinou que o relator, no STF, considerando como reflexa a ofensa à Constituição Federal afirmada no recurso extraordinário,
o remeta ao STJ para julgamento como recurso especial. O novo Código previu, ainda, a fungibilidade entre os embargos de
declaração e o agravo interno, uma vez que dispõe, no art. 1.024, § 3º, que o “órgão julgador conhecerá dos embargos de
declaração como agravo interno se entender ser este o recurso cabível”.
 
​Nesse caso, deverá intimar previamente o recorrente para, no prazo de cinco dias, complementar as razões recursais,
para que se ajustem às exigências feitas para a interposição do agravo interno, E, posteriormente, cumprirá o contraditório, por
meio da intimação do agravado para manifestar-se.
 
​Com isto, restou claro para o NCPC, no campo dos recursos excepcionais, ser irrelevante o equívoco da parte em usar o
especial em lugar do extraordinário e vice e versa, pois sempre será possível a conversão do inadequado no adequado. Se tal é
autorizado perante esses recursos, nada impedirá que a fungibilidade seja também observada em relação aos recursos ordinários.
 
​Por último, deve-se lembrar que a adoção de um recurso pelo outro, quando preservados os requisitos de conteúdo
daquele que seria o correto, e não constatada a má fé nem o erro grosseiro, resolve-se em erro de forma; e, para o sistema de
nosso Código, não se anula, e sim, adapta-se à forma devida, o ato processual praticado sem sua estrita observância (NCPC,
arts. 277 e 283, parágrafo único).
 
8.5) Princípio da dialeticidade
 
​Por dialética entende-se, numa síntese estreita, o sistema de pensar fundado no diálogo, no debate, de modo que a
conclusão seja extraída do confronto entre argumentações empíricas, quase sempre contraditórias.
 
​Pelo princípio da dialeticidade exige-se, portanto, que todo recurso seja formulado por meio de petição na qual a parte,
não apenas manifeste sua inconformidade com ato judicial impugnado, mas, também e necessariamente, indique os motivos de
fato e de direito pelos quais requer o novo julgamento da questão nele cogitada, sujeitando-os ao debate com a parte contrária.
 
​Na verdade, isto não é um princípio que se observa apenas no recurso. Todo o processo é dialético por força do
contraditório que se instala, obrigatoriamente, com a propositura da ação e com a resposta do demandado, perdurando em toda a
instrução probatória e em todos os incidentes suscitados durante o desenvolver da relação processual, inclusive, pois, na fase
recursal.
 
​Para que se cumpra o contraditório e ampla defesa assegurados constitucionalmente (CF, art. 5º, LV), as razões do
recurso são elemento indispensável a que a parte recorrida possa respondê-lo e a que o tribunal ad quem possa apreciar-lhe o
mérito. O julgamento do recurso nada mais é do que um cotejo lógico-argumentativo entre a motivação da decisão impugnada e a
do recurso. Daí por que, não contendo este a fundamentação necessária, o tribunal não pode conhecê-lo.
 
​O novo Código se refere à necessidade da motivação do recurso em vários dispositivos (arts. 1.010, II e III;86 1.016, II e
III;87 1.023;88 1.028;89 e 1.029, I e III90) e doutrina e jurisprudência estão acordes em que se revela inepta a interposição de
recurso que não indique a respectiva fundamentação. Por isso, abundantes são os precedentes jurisprudenciais no sentido de que
não se pode conhecer do recurso despido de fundamentação.
 
​O mais relevante na dialeticidade é o papel da argumentação desenvolvida pelas partes e pelo juiz, já que, pelo princípio
da cooperação (NCPC, art. 6º), a decisão judicial não pode deixar de levar em conta as alegações e fundamentos produzidos
pelos litigantes. Se não os acolher, tem de contra-argumentar, explicitando as razões pelas quais formou seu convencimento de
maneira diversa da pretendida por um ou por ambos os litigantes.
 
​O novo CPC confere a qualidade de norma fundamental do direito processual a que determina a necessidade de serem
as decisões adequadamente fundamentadas, e a de que nenhuma das razões de decidir seja adotada sem prévia submissão ao
debate com as partes (NCPC, arts. 9º e 10). Não admite, outrossim, qualquer fundamentação, mas para cumprir-se o contraditório
efetivo, no qual se inclui também o juiz ou tribunal, caberá ao julgador responder, de maneira expressa e adequada, a todas as
arguições e fundamentos relevantes formulados pelas partes (art. 489, § 1º, I a VI).
 
8.6) Princípio da voluntariedade
 
O direito de recorrer participa do caráter dispositivo do próprio direito de ação. O Poder Judiciário não toma, na matéria, a
iniciativa. Sem a provocação da parte, não há prestação jurisdicional (NCPC, art. 2º).94 Quer isto dizer que, sem a formulação do
recurso pela parte, não é possível que o tribunal o aprecie. O juiz não tem o poder de, ex officio, recorrer pela parte, ainda que se
trate de incapaz.95 Aliás, transcorrido o prazo estatuído para a interposição do recurso, ocorre a preclusão ou a coisa julgada,
conforme o caso. Mas, de qualquer forma, a decisão em ambas as hipóteses escapa a novas discussões e reapreciações
judiciais.96 Vale dizer: sem o recurso, não se devolve ao juiz ou ao tribunal a possibilidade de rejulgar as questões já decididas,
dentro da sistemática própria dos recursos civis. Correta, portanto, a tese de que só às partes e aos terceiros prejudicados (e
eventualmente o Ministério Público) é concedido pela lei o direito de recorrer.
 
​Ainda em decorrência do mesmo princípio, não é dado ao tribunal prosseguir no processamento do recurso se a parte
dele desiste (art. 998).
 
​Andou corretamente, portanto, o Código quando excluiu do campo dos recursos a remessa dos autos à instância superior
para “reexame necessário” (art. 496),97 já que a subida do processo, na espécie, não é provocada por impugnação alguma à
sentença, mas apenas para submeter-se a um juízo integrativo de ratificação ou de alteração pelo tribunal.
 
8.7) Princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias
 
​Pelos princípios de economia processual, de celeridade e da oralidade, que dominam todo o processo moderno, não se
tolera a interrupção da marcha processual para apreciação de recursos contra decisões de questões incidentais (i.e., decisões
interlocutórias). É o que faz o Código brasileiro, que admite agravo contra algumas decisões interlocutórias (art. 1.015)98 e só
excepcionalmente, diante de situação de risco grave e de difícil reparação, permite ao relator atribuir-lhe eficácia suspensiva (art.
1.019, I).99 Ou seja, as decisões são recorríveis, mas os recursos não têm efeito suspensivo e os autos não saem do juízo da
causa, não havendo prejuízo para o desenvolvimento normal do processo.
 
​O Código de 1973 previa o agravo retido para essas situações, cujo procedimento previa a análise pelo tribunal, apenas
se o juiz de primeiro grau não reconsiderasse sua decisão. O sistema do NCPC é um pouco diverso. Estabeleceu um rol das
decisões interlocutóriassujeitas à impugnação por meio de agravo de instrumento que, em regra, não tem efeito suspensivo
(NCPC, art. 1.015). Não há mais agravo retido para as decisões não contempladas no rol da lei. A matéria, se for o caso, será
impugnada pela parte prejudicada por meio das razões ou contrarrazões da posterior apelação interposta contra a sentença
superveniente (art. 1.009, § 1º).
​
​Dessa forma, o novo Código valoriza o princípio da irrecorribilidade das interlocutórias, mais do que o Código de 1973.
 
8.8) Princípio da complementariedade: inaplicabilidade aos recursos civis
 
​No processo penal admite-se a interposição de recurso relegando a apresentação dos motivos para fase ulterior (art. 578
c/c arts. 588 e 600). A isto se chama princípio da complementariedade, o qual, todavia, não vigora em nosso regime de processo
civil.
 
​Na sistemática do CPC, o recurso necessariamente terá de ser produzido em petição na qual figurem seus fundamentos
de fato e de direito. “O protesto por oportuna apresentação de razões não é admissível nos recursos cíveis, segundo a sistemática
processual vigente”.
 
​No entanto, o STJ já teve oportunidade de abrandar o rigor do princípio, tolerando que o recorrente suprisse a falta de
fundamentação, desde que, ainda, dentro do prazo de interposição do recurso.
 
8.9) Princípio da vedação da reformatio in pejus
 
​Ensina Barbosa Moreira que ocorre a reformatio in pejus quando “o órgão ad quem, no julgamento de um recurso, profere
decisão mais desfavorável ao recorrente sob o ponto de vista prático, do que aquela contra a qual se interpôs o recurso”.
 
​Nosso sistema processual repele tal prática, visto que, quando uma só parte recorre, entende-se que tudo que a beneficia
no decisório e, consequentemente, prejudica a parte não recorrente, tenha transitado em julgado. O tribunal ad quem, portanto,
somente poderá alterar a decisão impugnada dentro do que lhe pede o recurso. O recurso funciona, assim, como causa e limite de
qualquer inovação que o tribunal entenda de fazer no decisório. Não se admite em outras palavras, que o julgamento recursal
venha a piorar a situação do recorrente.
 
​Note-se, porém, que há questões de ordem pública, como as condições da ação, os pressupostos processuais, a
intangibilidade da coisa julgada, a decadência etc., que devem ser conhecidas de ofício, em qualquer fase do processo e em
qualquer grau de jurisdição. Para essas questões, cujo exame independe de provocação da parte, é claro que não constitui
embaraço para o tratamento da matéria a falta de provocação da parte, nem tampouco incide na vedação de reformatio in pejus a
deliberação que redunde em prejuízo para o recorrente.
 
​Entretanto, mesmo quando é o caso de conhecer e decidir questão de ordem pública, o que o juiz ou o tribunal têm o
dever de ofício de resolver, com ou sem provocação da parte, não lhe será lícito fazê-lo, sem antes cumprir o contraditório,
assegurado aos litigantes pela Constituição como direito fundamental (CF, art. 5º, LV). Por isso, deparando-se com o problema
dessa natureza, cabe ao julgador abrir oportunidade para prévia manifestação das partes, para só depois pronunciar-se.
 
​Assim, no art. 9º104 do NCPC vem disposto que “não se proferirá decisão contra uma das partes sem que esta seja
previamente ouvida”. O art. 10,105 por sua vez, aduz que “o juiz não pode decidir, em qualquer grau de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a
qual deva decidir de ofício”. Dessa maneira, o contraditório efetivo (assegurado pelo art. 7º) é visto, além de sua dimensão
tradicional, como garantia de não surpresa, seja no tocante às questões novas, seja em relação aos fundamentos novos aplicados
à solução das questões velhas.
 
​No direito brasileiro, mesmo inexistindo norma expressa a respeito da proibição da reformatio in pejus, o princípio é
considerado como inerente ao sistema, por meio da conjugação do princípio dispositivo, da necessidade de sucumbência para
poder recorrer e do efeito devolutivo do recurso.
 
​Com efeito, o objeto do recurso não é senão o que pede o recorrente, pelo que ao tribunal não é dado senão acolher ou
rejeitar sua postulação, e nunca ir além de sua pretensão para piorar-lhe a situação jurídica diante do que já fora assentado na
decisão recorrida. Valer-se do recurso para agravar a situação do recorrente importa, em outros termos, decidir extra ou ultra
petita, atuar jurisdicionalmente de ofício, e violar a coisa julgada ou a preclusão, no tocante àquilo que se tornou definitivo para a
parte que não recorreu.
 
8.10) A possível piora da situação do recorrente na hipótese do § 3º do art. 1.013 do NCPC
 
​O § 3º do art. 1.013 do NCPC, a exemplo do que já ocorria no Código de 1973 (art. 515, § 3º), ​permite que o
tribunal, ao julgar o recurso de apelação, decida desde logo o mérito da causa, sem ​aguardar o pronunciamento do juízo
de 1º grau, quando: (i) reformar sentença que não tenha resolvido o mérito; (ii) decretar a nulidade da sentença por não ser ela
congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; (iii) constatar a omissão no exame de um dos pedidos; e (iv) decretar a
nulidade por falta de fundamentação.
 
​Técnica esta que se estendeu para o caso de o tribunal reformar a sentença que houver reconhecido a decadência ou a
prescrição, quando for possível o exame das demais questões debatidas, sem retorno do processo ao juízo de primeiro grau (art.
1.013, § 4º) Veja se que o novo Código ampliou a possibilidade de julgamento de mérito da causa pelo tribunal, bastando que esta
esteja “em condições de imediato julgamento”. É o que se costuma chamar de “causa madura”, entendida como tal aquela cujo
objeto já foi suficientemente debatido na instância de origem, mesmo que nela não se tenha decidido o mérito.
 
​A regra, quando inserida na lei anterior, referia-se apenas à cassação da sentença terminativa e gerou uma séria
polêmica sobre se estaria ou não, a instância de segundo grau autorizada a tanto, mesmo sem pedido da parte recorrente ou
recorrida.
 
​A nosso ver, uma coisa é a competência atribuída ao Tribunal, outra é o objeto do recurso sobre o qual tem de julgar.
Toda atividade jurisdicional está sempre subordinada a pressupostos e condições traçadas pela lei. Assim, ampliar o julgamento
do recurso para questões não suscitadas e, por isso mesmo, não debatidas entre as partes na via recursal, resultaria em violação
não apenas dos limites legais da jurisdição, mas sobretudo da garantia do contraditório.
 
​E o princípio do contraditório é consagrado pela ordem constitucional como direito fundamental, impondo-se à
observância não só das partes como também do juiz. Mesmo nos casos em que o juiz pode apreciar, de ofício, certas questões,
não lhe é dado fazê-lo sem antes submetê-las ao debate das partes (NCPC, art. 10).
 
​Dessa forma, o julgamento do mérito, a nosso ver, somente seria admitido quando pleiteado pelo recorrente, fosse em
razão do princípio dispositivo, fosse da garantia do contraditório.
 
​Nosso posicionamento reforça-se diante do prestígio que o NCPC dedica aos princípios constitucionais do processo,
enunciados com ênfase no rol de suas normas fundamentais, onde merecem destaque o princípio dispositivo (art. 2º) e a garantia
do contraditório efetivo (arts. 9º e 10), os quais vedam o julgamento sobre questões não propostas pela parte e as decisões sobre
questões não previamente submetidas à audiência de ambas as partes, bem como as decisões com base em fundamento a
respeito do qual não se lhes tenha dado oportunidade de se manifestar, ainda quando se trate de matéria sobre a qual se deva
decidir de ofício.
 
​Entretanto, o STJ, responsável pela uniformização da lei federal, resolveu a controvérsia, à época do CPC de 1973,
entendendo que:

Outros materiais