Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ABSCESSO CELULITE Processo crônico Processo agudo Dor localizada Dor intensa e generalizada Pequeno volume Grande volume Bem delimitada Limites difusos Pastosa à endurecida (consistência) Flutuante Menor gravidade Maior gravidade Bactérias aeróbias Bactérias anaeróbias drenagem extra-oral: origem da infecção abaixo da inserção muscular. drenagem intra-oral: origem da infecção acima da inserção muscular. Princípios de Tratamento 1. Determinar a gravidade da infecção: Baseada na história completa da doença infecciosa corrente e no exame físico. História completa: queixa principal, há quanto tempo há a presença da lesão, qual foi o primeiro sintoma (dor, tumefação ou drenagem), se a sintomatologia está progredindo ou regredindo, determinar a rapidez da progressão do processo infeccioso. Questionar se o paciente percebe alterações de tamanho, coloração e temperatura que tenham surgido durante o processo infeccioso. Exame clínico: O primeiro passo no exame físico é coletar os sinais vitais, que incluem temperatura, pressão sanguínea, taxa de pulso e taxa respiratória. Os pacientes com envolvimento sistêmico terão temperaturas elevadas. Pacientes com infecção grave podem ter temperaturas superiores a 38,3ºC. O pulso do paciente aumentará com a elevação da temperatura. Taxas de pulso acima de 100 batimentos por minuto não são incomuns em pacientes com infecção. Se a frequência do pulso estiver acima de 100 batimentos por minuto, o paciente deve ter uma infecção grave e deverá ser tratado mais agressivamente. O sinal vital que menos varia com a infecção é a pressão sanguínea. Somente se o paciente tiver dor significativa e ansiedade, ocorrerá um aumento da pressão sistólica. No entanto, choques sépticos graves resultam em hipotensão. Uma das principais considerações em infecções odontogênicas é a potencial obstrução parcial ou completa das vias aéreas superiores como resultado da extensão da infecção para os espaços fasciais profundos do pescoço. Ao mesmo tempo em que as respirações são controladas, o dentista deve verificá- las cuidadosamente para assegurar-se de que as vias aéreas superiores estão desobstruídas e não há dificuldade respiratória. A frequência respiratória normal é de 14 a 16 respirações por minuto. Pacientes com infecções com intensidade brandas a moderadas apresentam frequências respiratórias elevadas, maiores que 18 respirações por minuto. Pacientes que apresentam os sinais normais com apenas ligeira elevação de temperatura, geralmente, são portadores de infecção branda que pode ser tratada facilmente. Já pacientes com anormalidades nos sinais vitais como elevação da temperatura, da frequência do pulso e da frequência respiratória têm mais probabilidades de serem portadores de infecções graves e necessitam de terapia intensiva e avaliação de um cirurgião oral e maxilofacial. Exame físico extra-oral: A parte inicial desse exame deve ser a inspeção da aparência geral do paciente. Aqueles com infecção um pouco mais extensa apresentam aspecto fatigado, estado febril e indisposição. Isso é caracterizado como “fácies tóxicas”. Deve-se pedir a ele para abrir bem a boca, engolir e realizar respirações profundas para que o dentista possa avaliar trismo, disfagia ou dispneia. Estes são sinais preocupantes de uma grave infecção, e o paciente deve ser encaminhado imediatamente para um cirurgião oral e maxilofacial ou para a sala de emergência. Através da palpação avalia-se a consistência da tumefação. Esta pode variar de muito mole a quase normal até uma tumefação mais consistente, tumefação carnuda (pastosa) e até mesmo uma tumefação mais firme ou dura (enrijecida). Uma tumefação endurecida tem a mesma firmeza de um músculo tenso. Outra característica da consistência é a flutuação. Esta é sentida como um balão cheio de líquido. A tumefação flutuante, quase sempre, indica que há acúmulo de pus no centro da área endurecida. Exame físico intraoral: Inspecionar e palpar as áreas de aumento gengival e flutuação, assim como abscessos vestibulares localizados ou trajetos fistulosos. Por último, o exame radiográfico, que consiste em radiografias periapicais indicadas. Ocasionalmente, no entanto, radiografias extraorais, tal como radiografia panorâmica, são necessárias devido à abertura limitada da boca ou a outras circunstâncias atenuantes. Tumefação de consistência amolecida, levemente sensível e edematosa indicam o estágio de inoculação, ao passo que tumefação endurecida indica estágio de celulite e a flutuação central indica o estágio de abscesso. Infecções em tecido moles no estágio de inoculação podem ser curados pela remoção da causa odontogênica com ou sem o auxílio de antibióticos, e infecções nos estágios de celulite ou abscesso requerem a remoção da causa dentária da infecção, incisão, drenagem e antibióticos. O edema representa a fase inicial, o estágio de inoculação da infecção que é mais facilmente tratado. A celulite é uma infecção aguda e dolorosa, com tumefação mais intensa e limites difusos. Além disso, tem consistência dura à palpação e não contém pus. Um abscesso agudo é uma infecção mais madura com dores mais localizadas, menos tumefação e limites bem delimitados. O abscesso é flutuante à palpação porque é uma cavidade preenchida por pus. Um abscesso crônico, em geral, é de crescimento mais lento e menos grave que uma celulite, especialmente se ele é drenado de forma espontânea para o meio ambiente externo. 2. Avaliar o estado imunológico do paciente: Diversos estados mórbidos e vários tipos de medicações usadas podem comprometer essa capacidade. Pacientes sistemicamente comprometidos são mais propícios a ter infecções e estas, com frequência, tornam-se mais graves rapidamente. Condições médicas que comprometem a saúde do hospedeiro: Doenças metabólicas não controladas, como diabetes não controlado, doença renal em estágio terminal com uremia e grave alcoolismo com desnutrição, resultam na diminuição da função leucocitária, incluindo diminuição da quimiotaxia, fagocitose e morte bacteriana. Fármacos que comprometem a defesa do hospedeiro: Agentes quimioterápicos para câncer podem fazer com que o nível da contagem de leucócitos circulantes diminua, geralmente, inferiores a 1.000 células por mililitro. Quando isso ocorre, os pacientes ficam incapazes de se defender de maneira eficaz contra a invasão bacteriana. Pacientes que recebem terapia imunossupressora, em geral por transplante de órgãos ou doenças autoimunes, estão comprometidos. Os medicamentos comuns nessa categoria são ciclosporina, corticosteróides e azatioprina (Imuran). Essas drogas diminuem a função dos linfócitos T e B e a produção de imunoglobulina. Portanto, pacientes que fazem uso desses medicamentos são mais suscetíveis a ter infecções graves. Os efeitos imunossupressores de alguns agentes quimioterápicos contrao câncer podem perdurar por um ano após a terapia ter sido completada. 3. Decidir se o paciente deve ser tratado por um clínico geral ou um especialista: Existem três critérios para decisão de encaminhar o paciente a um especialista. O primeiro é uma história de infecção de progressão rápida. Isso significa que a infecção começou um ou dois dias antes da consulta e está piorando rapidamente, com aumento progressivo e significativo da tumefação, da dor e dos sinais e sintomas associados. Esse tipo de infecção odontogênica pode causar tumefação nos espaços fasciais profundos do pescoço, o qual pode reduzir e desviar a passagem do ar. O segundo critério é a dificuldade de respiração (dispneia). Pacientes que têm tumefação grave dos tecidos moles das vias aéreas superiores como resultado da infecção podem ter dificuldade de mantê-las livres. Nessas situações, o paciente, com frequência, tem dificuldades para deitar-se, tem a fala amortecida e distorcida, e está obviamente angustiado com a dificuldade de respirar. Esse paciente deve ser encaminhado direto para a sala de emergência, pois pode ser necessário um atendimento cirúrgico imediato para manter as vias aéreas livres. O terceiro critério urgente é a dificuldade de deglutição (disfagia). Pacientes com infecções agudas e progressivas no espaço facial profundo podem ter dificuldade de engolir sua própria saliva. Este é um sinal preocupante porque a incapacidade para controlar suas próprias secreções, frequentemente, indica um estreitamento da orofaringe e possibilidade de obstrução aguda das vias aéreas. Esse paciente também deve ser transportado para uma emergência hospitalar porque uma intervenção cirúrgica ou intubação pode ser necessária para manter as vias aéreas permeáveis. O tratamento definitivo da infecção pode ser continuado uma vez que as vias aéreas estão mantidas. 4. Tratamento cirúrgico da infecção: executar uma drenagem cirúrgica e remover a causa da infecção. O objetivo primário do tratamento cirúrgico da infecção é remover a sua causa; a mais comum é uma polpa necrosada ou uma bolsa periodontal profunda. Um objetivo secundário é proporcionar a drenagem do pus acumulado e dos restos necróticos. Além do processo endodôntico ou da extração do dente, o processo de ID (incisão cirúrgica e drenagem) pode ser requerido para uma infecção que se tenha disseminado além da região periapical. Incisão do abscesso e celulite permitem a remoção do pus acumulado e das bactérias dos tecidos subjacentes. O esvaziamento da cavidade do abscesso diminui, drasticamente, a quantidade de bactérias e de restos necróticos. O esvaziamento também reduz a pressão hidrostática na região por diminuir a tensão dos tecidos, o que melhora o suprimento sanguíneo do local e acelera a chegada das defesas do hospedeiro à área infectada. ID da celulite serve para abortar a disseminação da infecção para dentro dos espaços anatômicos profundos. O processo ID inclui a inserção de um dreno para impedir o fechamento prematuro da incisão na mucosa, o que permitiria nova formação da cavidade do abscesso. A técnica para ID de um abscesso vestibular ou celulite é direta (Fig. 15-9). O local preferencial para incisão intraoral é diretamente acima do sítio da máxima tumefação e inflamação. No entanto, é importante evitar a incisão através do frênulo ou da trajetória do nervo mentoniano na região do pré-molar inferior. Para ID extraoral, uma vez que a área de incisão foi selecionada, deve-se usar um método para controlar a dor. Deve-se, ainda, preferir a anestesia regional de bloqueio do nervo, que pode ser alcançada por injeção em uma área afastada do local de incisão. Alternativamente, a infiltração de uma solução anestésica local dentro e ao redor da área a ser drenada pode ser feita. Uma vez que a agulha anestésica local tenha sido usada para uma área infectada, ela não deve ser reutilizada em uma área não-infectada. Se for decidido pela realização de uma cultura, esta é realizada como parte inicial da cirurgia. Após o local da cirurgia ter sido anestesiado, a superfície da mucosa é desinfectada com uma solução, tal como iodo-povidine (Betadine) e seca com gaze estéril. Uma agulha de grande calibre, geralmente calibre 18, é usada para coletar a amostra. Uma pequena seringa, em geral de 3 mL, é adequada. A agulha é, então, inserida dentro do abscesso ou celulite, e 1 ou 2 mL de pus ou fluido tecidual são aspirados. O cirurgião deve solicitar uma coloração de Gram, uma cultura aeróbica e anaeróbica e um teste de sensibilidade a antibióticos. Uma vez obtida amostra para cultura, faz-se uma incisão com a lâmina do bisturi apenas através da mucosa e submucosa dentro da cavidade do abscesso. A incisão deve ser curta, não mais que 1 cm de comprimento, logo após uma pinça hemostática curva é inserida através da incisão para dentro da cavidade do abscesso e aberta em várias direções para quebrar todas as loculações ou cavidades de pus que não tenham sido abertas durante a incisão inicial. Qualquer pus ou líquido tecidual drenado nesse momento deve ser aspirado e não se deve permitir que drene para a boca do paciente. Quando todas as áreas da cavidade do abscesso tenham sido abertas e todo pus tenha sido removido, um pequeno dreno é inserido para manter a abertura. O dreno mais comum usado para abscesso intraoral é o de Penrose estéril de 1/4 de polegada. Um frequente substituto utilizado é uma pequena tira esterilizada de dique de borracha ou material de luva cirúrgica. Um pedaço de dreno com comprimento adequado para alcançar a profundidade do abscesso é preparado e colocado na cavidade utilizando-se a pinça hemostática. O dreno é, então, suturado no local com fio de sutura não-absorvível. A sutura deve ser feita em tecido viável para evitar a perda do dreno em consequência do rompimento de tecidos sem vitalidade pelo fi o de sutura. O dreno deve permanecer no local até que cesse a drenagem do abscesso, em geral dois a cinco dias. A retirada é feita por simples corte na sutura e deslizamento do dreno para fora da ferida. 5. Suporte médico: Devido à dor e/ou à dificuldade de deglutição, os pacientes não se alimentam, não ingerem líquidos e não fazem repouso adequado. Durante o período imediato do pós-tratamento, pacientes devem ser incentivados a beber água e sucos para urinarem regularmente e encorajados a ingerir suplementos alimentares ricos em calorias. Devem ser prescritos analgésicos adequados para o alívio da dor, de forma que os pacientes consigam repousar. Os pacientes devem receber instruções cuidadosas sobre o pós-operatório e ser capazes de realizar seus próprios cuidados. 6. Escolha e prescrição de antibióticos: Existem três fatores para a escolha de não-administração de antibióticosfrente à infecções. Se a infecção causa tumefação, tem progressão rápida ou é uma celulite difusa, as evidências apoiam o uso de antibiótico, além do tratamento cirúrgico. O segundo fator é se o tratamento cirúrgico adequado pode ser alcançado, pois este, muitas vezes, pode resolver rapidamente o quadro infeccioso.. No entanto, quando a cirurgia apropriada não pode ser imediatamente executada, antibióticos devem ser úteis para retardar a progressão da infecção. A terceira consideração é o estado da defesa do paciente. Um paciente jovem e saudável é capaz de mobilizar suas defesas e pode não necessitar de antibioticoterapia para a resolução da infecção moderada. Quando estes três fatores estão em equilíbrio, as indicações para prescrição de antibióticos podem ser diversas. A mais comum é a presença de uma infecção aguda inicial, com tumefação difusa e dor moderada a severa. Essa infecção, geralmente, encontra-se no estágio de celulite; e, com antibioticoterapia adequada, ID e tratamento dos dentes afetados, uma resolução rápida é esperada. A segunda indicação é praticamente para qualquer tipo de infecção em paciente medicamente comprometido. Tais pacientes que têm infecções de qualquer gravidade devem ser considerados candidatos para administração de antibióticos. A terceira indicação para antibioticoterapia é a presença de infecção que progrediu até o envolvimento dos espaços fasciais profundos. Nessas situações, a infecção é agressiva o suficiente para se disseminar além dos processos alveolares dos ossos maxilares, indicando que a defesa do hospedeiro é inadequada para conter a infecção. A quarta indicação é a pericoronarite grave com temperaturas maiores que 37,7ºC, trismo e tumefação unilateral da face que ocorre, mais comumente, na região dos terceiros molares impactados. A última é que pacientes que tem osteomielite requerem antibioticoterapia, além da cirurgia, para alcançar a resolução da infecção. Os antibióticos administrados oralmente que são efetivos contra infecções odontogênicas incluem penicilina, amoxicilina, clindamicina, azitromicina, metronidazol e moxifloxacina. Esses antibióticos são efetivos contra estreptococos e aeróbicos facultativos (com exceção do metronidazol) e anaeróbicos orais. O metronidazol é efetivo somente contra bactérias obrigatoriamente anaeróbicas. 7. Administração adequada de antibiótico: A permanência de níveis plasmáticos suficientemente altos para matar as bactérias sensíveis aos antibióticos, mas não tão altos, para causarem toxicidade, devem ser instituídos. O pico do nível plasmático do medicamento, em geral, deve ser ao menos quatro ou cinco vezes a concentração inibitória mínima para as bactérias envolvidas na infecção. 8. Avaliar frequentemente o paciente: O paciente tratado com cirurgia e recebendo antibioticoterapia deve ser acompanhado cuidadosamente para controle da resposta ao tratamento e das complicações. Na maioria das situações, deve-se solicitar ao paciente que retorne ao dentista dois dias após a terapia inicial. Comumente, o paciente está muito melhor. Se a terapia for bem-sucedida, a tumefação e as dores diminuem drasticamente. O dentista deve checar o local de ID para determinar se o dreno deve ser removido naquele momento. Outros parâmetros, como temperatura, trismo, tumefação e melhoras subjetivas que o paciente vem sentindo, devem ser também avaliados. Se não há resposta adequada ao tratamento, o paciente deve ser examinado cuidadosamente para buscar os indícios da razão da falha. A causa mais comum de fracasso do tratamento é uma cirurgia inadequada. O dente poderá ser reavaliado para extração, ou devido a uma extensão da infecção dentro da área onde não foi detectada no primeiro tratamento, pode ser necessário incisar e drenar outra vez. Pode ser mandatório o encaminhamento desses pacientes para o hospital com o propósito de garantir as vias aéreas, para a cirurgia mais adiante, e para antibioticoterapia intravenosa. Uma segunda razão para o fracasso é a redução dos mecanismos de defesa do hospedeiro.
Compartilhar