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Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 1 ESTUDOS DOS TÓXICOS Caso: Mulher inala veneno e apresenta diarreia e vômito. Na bula do veneno conta que sua intoxicação causa diarreia e vômito. Qual a HD? -> Intoxicação? Não!! A DH indica o tratamento inicial, se a HD estiver errada o tratamento inicial também será errado! O que é ctz? -> Que houve exposição ao veneno. Pode ser intoxicação, mas também pode ser, por coincidência, uma gastroenterite aguda. HD: Exposição a veneno SUMÁRIO Aspectos Gerais de Toxicologia ____________________________ Pg 1 Agrotóxicos e Pesticidas ____________________________________ Pg 5 Intoxicação por Depressores _______________________________ Pg 8 Acidentes com animais peçonhentos ______________________ Pg 12 Cobras ________________________________________________ Pg 12 Escorpião _____________________________________________ Pg 19 Aranhas ______________________________________________ Pg 21 Referência Bibliográfica _____________________________________ Pg 24 - TOXICOLOGIA é a ciência que estuda os efeitos nocivos decorrentes das interações de substâncias químicas com o organismo. A toxicologia abrange uma vasta área do conhecimento, onde atuam profissionais de diversas formações: Química Toxicológica, Toxicologia Farmacológica, Clínica, Forense, Ocupacional, Veterinária, Ambiental, Aplicada a Alimentos, Genética, Analítica, Experimental e outras áreas. - AGENTE TÓXICO ou TOXICANTE: Entidade química capaz de causar dano a um sistema biológico, alterando uma função ou levando-o à morte, sob certas condições de exposição. - VENENO: Agente tóxico que altera ou destrói as funções vitais e, segundo alguns autores, é termo para designar substâncias provenientes de animais, com função de autodefesa ou predação. - TOXICIDADE: Capacidade inerente e potencial do agente tóxico de provocar efeitos nocivos em organismos vivos. O efeito tóxico é geralmente proporcional à concentração do agente tóxico no nível do sítio de ação (tecido alvo). - AÇÃO TÓXICA: Maneira pela qual um agente tóxico exerce sua atividade sobre as estruturas teciduais. - DL 50: (Dose Letal 50%) ou dose letal média de uma substância expressa o grau de toxicidade aguda de substâncias químicas. Correspondem às doses que provavelmente matam 50% dos animais de um lote utilizados para experiência. São valores calculados estatisticamente a partir de dados obtidos experimentalmente. Com base nas DL50 de várias substâncias, são estabelecidas classes toxicológicas de produtos químicos e farmacológicos, no entanto, para se dizer se uma substância é tóxica ou inócua para o ser humano, devemos também optar por critérios que avaliem se uma substância oferece Risco ou Perigo para um determinado sistema biológico, para um determinado indivíduo ou para a saúde pública. - ANTÍDOTO: Agente capaz de antagonizar os efeitos tóxicos de substâncias. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 2 - INTOXICAÇÃO: É um processo patológico causado por substâncias endógenas ou exógenas, caracterizado por desequilíbrio fisiológico, consequente das alterações bioquímicas no organismo. Processo é evidenciado por sinais e sintomas ou mediante dados laboratoriais. - INTOXICAÇÃO AGUDA: Decorre de um único contato (dose única- potência da droga) ou múltiplos contatos (efeitos cumulativos) com o agente tóxico, num período de tempo aproximado de 24 horas. Os efeitos surgem de imediato ou no decorrer de alguns dias, no máximo 2 semanas. Estuda a relação dose/resposta que conduz ao cálculo da DL50. - INTOXICAÇÃO SUB-AGUDA OU SUB-CRÔNICA: Exposições repetidas a substâncias químicas – caracteriza estudos de dose/resposta após administrações repetidas. - INTOXICAÇÃO CRÔNICA: Resulta efeito tóxico após exposição prolongada a doses cumulativas do toxicante ou agente tóxico, num período prolongado, geralmente maior de 3 meses a anos. FASES DA INTOXICAÇÃO: O processo de INTOXICAÇÃO pode ser desdobrado, para fins didáticos, em quatro fases: Fase de Exposição: É a fase em que as superfícies externa ou interna do organismo entram em contato com o toxicante. Importante considerar nesta fase a via de introdução, a frequência e a duração da exposição, as propriedades físico-químicas, assim como a dose ou a concentração do xenobiótico e a susceptibilidade individual. Fase de Toxicocinética: Inclui todos os processos envolvidos na relação entre a disponibilidade química e a concentração do fármaco nos diferente tecidos do organismo. Intervêm nesta fase a absorção, a distribuição, o armazenamento, a biotransformação e a excreção das substâncias químicas. As propriedades físico-químicas dos toxicantes determinam o grau de acesso aos órgãos-alvos, assim como a velocidade de sua eliminação do organismo. Fase de Toxicodinâmica: Compreende a interação entre as moléculas do toxicante e os sítios de ação, específicos ou não, dos órgãos e, consequentemente, o aparecimento de desequilíbrio homeostático. Fase Clínica: É a fase em que há evidências de sinais e sintomas, ou ainda, alterações patológicas detectáveis mediante provas diagnósticas, caracterizando os efeitos nocivos provocados pela interação do toxicante com o organismo. - INTERAÇÕES ENTRE SUBSTÂNCIAS: A exposição simultânea a várias substâncias pode alterar uma série de fatores (absorção, ligação proteica, metabolização e excreção)que influem na toxicidade de cada uma delas em separado. Assim, a resposta final a tóxicos combinados pode ser maior ou menor que a soma dos efeitos de cada um deles, podendo-se ter: Efeito Aditivo (efeito final igual à soma dos efeitos de cada um dos agentes envolvidos); Efeito Sinérgico (efeito maior que a soma dos efeitos de cada agente em separado); Potencialização (o efeito de um agente é aumentado quando em combinação com outro agente); Antagonismo (o efeito de um agente é diminuído, inativado ou eliminado quando se combina com outro agente). Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 3 Diagnóstico laboratorial: Os exames laboratoriais são importantes no atendimento a um paciente intoxicado. Os principais objetivos são: afastar ou confirmar uma intoxicação, avaliar o grau de agressão que o agente tóxico está causando no organismo e auxiliar na avaliação do tratamento. Eles fornecem importantes subsídios para um diagnóstico e acompanhamento mais seguros destes pacientes. Vale ressaltar que nem sempre estes exames são imprescindíveis para o diagnóstico e/ou tomada de decisão. Podemos classificá-los assim: 1.Análises Clínicas: a) Gerais: hemograma, glicemia, eletrólitos, ureia, creatinina, bilirrubinas, CPK, aminotransferases, hemogasometria arterial, sumário de urina, etc. b) Específicas: tempo de protrombina, tempo de coagulação, ferro sérico, etc. 2.Análises Toxicológicas: análise do agente químico propriamente dito e/ou de seus produtos de biotransformação. A existência de um Centro de Referência em Toxicologia com recursos laboratoriais dá um suporte melhor ao atendimento de pacientes intoxicados. As solicitações de exames de triagem (screening) toxicológicos não devem ser feitas de forma indiscriminada, pois tem um alto custo e pouco valor prático. É importante que o médico indique a sua suspeita diagnóstica, dose ingerida, tempo decorrido entre a exposição e o atendimento, sinais e sintomas, uso de antídotos ou outros medicamentos. Nos casos mais complexos, é importante que haja um contato direto com o analista, para que se possa concluir qual a amostra quemelhor represente a biodisponibilidade, a eliminação ou o efeito do toxicante no organismo, a técnica a ser utilizada e quais análises a serem realizadas permitindo a obtenção de resultados com maior agilidade. Nas intoxicações agudas, o sangue (soro e plasma) e a urina são as amostras mais usadas; líquido de lavagem gástrica, vômitos, restos de alimentos e medicamentos encontrados junto ao paciente também são importantes. A urina é empregada como amostra de escolha tanto para o controle da dopagem quanto para o da dependência a drogas. Algumas manifestações em intoxicações Vai depender do composto e dose. ◊ Taquicardia: atropina, anfetamina, corante, antidepressivos tricíclicos; ◊ Bradicardia: digitálicos, betabloqueadores, espirradeira, barbitúricos; ◊ Hipertermia: anfetaminas, atropina e AAS; ◊ Hipotermia: barbitúricos, sedativos e insulina; ◊ Hiperventilação: salicilatos e teofilina; ◊ Depressão respiratória: morfina, barbitúricos, antidepressivos e sedativos, álcool; ◊ Hipertensão: anfetaminas e fenciclidina; ◊ Hipotensão: barbitúricos antidepressivos, sais de ferro e teofilina; ◊ Rubor da pele - atropina, plantas tóxicas; ◊ Midríase - atropina e anfetaminas; ◊ Miose: organofosforados e carbamatos, pilocarpina, .fenotiazínicos; ◊ Hemorragia oral: anticoagulantes, sais de ferro, acidentes ofídicos; ◊ Delírios e alucinações: anfetaminas, atropina, salicilatos, plantas, álcool, cocaína, maconha ◊ Distúrbios Visuais - metanol, ofídismo; Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 4 ◊ Convulsão: organoclorados, anti-histamínicos, estricnina, cianetos, anfetaminas, nicotina Dependendo da dose, tudo pode ser tóxico, até fatal. (Sulfato ferroso e oxigênio podem ser tóxicos). Dosar acetilcolinesterase: Altera em intoxicação, hepatopatias, gestação. Primeira medida a ser tomada -> Avaliar sinais vitais 1° Passo: ABCDE + Sinais Vitais + Exame físico. A – Abordagem das vias aéreas B – Avaliar Respiração, ventilação C – Avaliação Circulação D – Avaliação neurológica E - Exposição completa do paciente e medidas para evitar hipotermia * Há quanto tempo o produto foi ingerido ? 2° Passo: Decidir se a lavagem gástrica deve ser feita O tempo ideal para fazer a lavagem após suspeita de intoxicação é de 1h após ingestão da substância (em alguns casos se faz até 2h após) Método: Injeta-se soro fisiológico (250ml, no máximo, no adulto) Injeta 250 ml → Retira 250ml → Injeta 250ml .... Até somar 8l (8l é o mínimo e 20l o máximo para adultos) Caso volte limpo antes de somar 8l → Não para, continuar até dar 8l Caso volte sujo com 8l → Não para, continua até sair limpo Crianças: < 5 anos → 3l → 10 ml por kg, por vez 5 a 9 anos → 5l → 10 ml por kg, por vez 11 a 12 anos → 8l → 10 ml por kg, por vez Obs. Não deve ser administrado o soro em grande quantidade, pois iria “empurrar” a substância só estômago para o duodeno (órgão que faz maior absorção), aumentando o efeito tóxico as substância no organismo. Contraindicações para lavagem: Substâncias causticas, como água sanitária e soda caustica (o produto queima na entrada e para sair também). Derivados do petróleo, como gasolina e querosene (risco de evaporar e ir para o pulmão, a gasolina é 100x mais tóxica pro pulmão que para o estômago). Só vai lavar se tiver mistura com veneno (veneno vai matar se não lavar), neste caso deve-se entubar o paciente antes de começar a lavagem. Líquidos que são absorvidos muito rapidamente 3° passo: Decidir se administra carvão ativado. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 5 São grânulos que sofrem ação de um gás, ficando multiporoso, o que aumenta sua capacidade de absorção. O carvão realiza absorção das substâncias que restaram no estômago (ele gruda nas substâncias, formando um complexo que será eliminado do organismo nas fezes), Usa-se 1 vez; Em casos graves usa seriamente. Sempre avaliar risco benefício. Crianças: 1g/kg, diluído em 10ml/kg de água. Adulto (ou criança com peso de adulto): 40g a 100g de carvão, diluído em 100ml de água (geralmente usa-se 40g). Pac em UTI: seriado de 4 em 4h, administrando laxante nos intervalos, para evitar empedramento das fezes Contraindicações para carvão ativado Substâncias que o carvão não absorve: álcool etílico, sulfato ferroso, etc.. Cirurgias intestinais prévias (risco de rompimento) Recém nascido (intestino muito fino, pode entupir) Gestante apresentando obstipação intestinal 4° passo: Antídoto (se houver) + Aumentar hidratação 5° passo: Aumentar a eliminação renal, se esta for renal Deve-se aumentar o volume da hidratação e administrar diuréticos, para que a substância seja eliminada rapidamente. Mesmo que a droga seja excretada pelos rins, parte dela será absorvida e reabsorvida nos túbulos renais, o que é prejudicial ao organismo. Para diminuir essa reabsorção, deve-se saber qual o pka da droga (quando o pH =7, não há absorção). Pka alcalino (ex. anfetaminas) → acidificar o meio. Isso diminui a absorção da droga. Para isso usa-se Vitamina C, não é necessário fazer gasometria. Pka ácido → alcalinizar o meio. Para isso usa-se bicarbonato. Só pode fazer após gasometria. Repetir a gasometria logo após administrar o bicarbonato. Se não alcalinizou, fazer mais uma dose. Se alcalinizou, parar processo e administrar diurético. Gasometria: HCO3-, PCO2, PO2, pH, sat O2, sat CO2. Se pH e pCO2, indicarem acidez, a alcalinização pode ser feita. Caso contrário não alcalinizar. Dose: 1meq/kg de HCO3- ou 1ml de HCO3- 8,4%/kg (bicarbonato 8,4% tem 1ml = 1meq → adm 1ml/kg) 6° passo: Para casos mais graves. Se mesmo com processo de alcalinização/ acidificação a substância dor absorvida as opções são: Diálise peritoneal (para drogas dialisáveis). Hemodiálise (para drogas dialisáveis). Hemoperfusão com carvão ativado(para drogas dialisáveis), o sangue passa por um filtro de carvão ativado, esse tratamento não tem no SUS Azul de metileno no soro (em casos leves de metahemoglobinemia tóxica) Exosanguineo transfusão (em casos muito graves de metahemoglobinemia tóxica) - metahemoglobina: Hb que perder sua positividade, não é mais capaz de carrear O2. - metahemoglobina tóxica: Níveis de O2 normais ou aumentados, e os níveis de Hb estão diminuídos ou as Hb estão incapazes de carrear O2. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 6 AGROTÓXICOS / PESTICIDAS Inseticidas, fungicidas, herbicidas, formicidas, raticidas, acaricidas, nematicidas ORGANOFOSFORADO - Folidol, Malathion, Diazinon, Nuvacron, Tamaron, Rhodiatox, DDVP e CARBAMATOS - Carbaril, Temik, Zectram, Furadam, Sevin, Propoxur. Os organofosforados inibem a acetilcolinesterase(Ache). Quando a Ache diminui, a acetilcolina aumenta. A atropina é quem compete com a acetilcolina em excesso e faz parte do tratamento. Quando há grande inibição da Ache e grande aumento de acetilcolina, devido à intoxicação por organofosforados, avalia-se o uso do antídoto (atropina). Esta avaliação é feita pela sintomatologia do paciente. Portanto, só administra atropina quando o excesso de acetilcolina manifesta-se na clínica. A diminuição de Ache e aumento de acetilcolina causam 3 síndromes: Sins. muscarínica, Sind. Nicotínica, Sind. do SNC Síndrome muscarínica: Há aumento das secreções em todo corpo (sialorreia, diarreia, sudorese,vômito, miose e bradicardia) Síndrome nicotínica: abalos e tremores musculares, taquicardia, Síndrome do SNC: Agitação psicomotora, confusão mental, convulsão e coma Sempre ocorre mais de uma síndrome simultaneamente, porém há predomínio de uma. - Efeito muscarínico predominante: bradicardia (↓ FC) - Efeito nicotínico predominante: taquicardia (↑FC). É a mais grave, quando predomina é sinal de gravidade. Se os dois estiverem em equilíbrio: FC normal Quadro Clínico: Intoxic. aguda-PRIMEIRAMENTE-Sudorese abundante, sialorréia, fraqueza, lacrimejamento, tonturas, dor abdominal, visão turva. DEPOIS – Miose, vômitos, dificuldade respiratória, choque, bradicardia ou taquicardia, tremores musculares, convulsões e coma Para diferenciar a intoxicação por organofosforado de carbamato deve-se dosar Ache. No organofosforado sempre estará diminuído (liga-se a enzima e não solta). nos carbamatos o pac pode estar mal, mas a Ache está normal (a ligação é temporária). Pac com sintomatologia dosa-se Ache, se tiver diminuída dá atropina (bem pouco). Deve-se sempre avaliar o risco benefício. Quando necessária, se não adm atropina o pac pode morrer por edema agudo de pulmão. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 7 Atropina é antídoto para organofosforados e carbamatos. A atropina causa diminuição das secreções liberadas no pulmão quando há intoxicação. Porém, ela também causa aumento de frequência cardíaca. Administrar atropina e monitorar o paciente, caso ele pare fazer a ressuscitação. Nunca usar como profilaxia. Dose: Adulto 1 ampola (0,25). Fazer lentamente, EV, avaliando sempre a pupila (de isocórica para dilatada) e os batimentos cardíacos (até a FC que o pac suportar). Infusão de 10 em 10min. Criança usa 0,01 mg/kg de peso. Paciente atropinizado: pupila dilatada e FC muito alta. Além da atropina, existem outros antídotos como: OXIMAS (pralidoxima e obdoxima). Só reverte organofosforados! Elas reativam a colinesterase, porém não podem ser adm em intoxicação por carbamatos, porque os sítios são diferentes (não vai reverter com carbamatos). Na dúvida adm atropina. PIRETRÓIDE - Piretrina, Aletrina, D-fenotrina, Cialotrina, Cifenotrina Fenfopantrin, etc Produto sintético com estrutura semelhante à Piretria, existente nas flores do Crysanthemun cinerariaefolium . Presente na maioria dos produtos de casa, principalmente dispositivos liberadores de veneno, colocados na tomada. São da classe 4 (seguros). Porém facilmente causam alergia (rinite, bronquite, placas cutâneas, etc... ) Em altas doses causam agitação e convulsão (ação no SNC). Quadro clínico: Intoxicação aguda: PRIMEIRAMENTE, formigamento nas pálpebras e lábios, irritação das conjuntivas e mucosas. Espirros. DEPOIS - Prurido intenso, manchas na pele, secreção e obstrução nasal, reações agudas de hipersensibilidade, excitação e convulsões. Conduta: ABCDE , não tem antídoto. Sempre examinar a pele do paciente, fazer ausculta pulmonar à procura de broncoespasmo, observar agitação. Se ingerido: lavagem gástrica e carvão ativado. Contato com pele: lavar local com água e sabão. Se causar alergias: corticoides e anti-histamínico ORGANOCLORADOS – DDT , DDD, Dicofol, Aldrin, BHC, Heptacloro, etc Apesar de proibidos são muito usados no Brasil. Contaminam o solo permanentemente. Alimentos cultivados em solo contaminado também serão contaminados. Acumulam-se no organismo da pessoa que tem contato (principalmente em tecido adiposo) Quadro clínico: Intoxic. Aguda - PRIMEIRAMENTE, Irritabilidade, cefaléia, cansaço e mal-estar. DEPOIS tontura, náuseas e vômitos, colapso e convulsões. Não tem tratamento específico. Fazer lavagem gástrica e carvão ativado. Sua característica é a convulsão. Ex. Mulher trabalhava em contato com organoclorados, vai fazer uma lipo e morre por convulsão, pois no procedimento houve liberação da substância que tinha se acumulado ao longo dos anos. CUMARÍNICOS – raticida (flocos rosa e azuis) Para matar precisa sem em altas doses ou dose diária por longo tempo Inibe o tempo de atividade protrombínico (TAP), portanto o antídoto é a Vit K. Quando há intoxicação por cumarínico ou carbamato para rato, dosar TAP na entrada do paciente no PS e após 7 dias. A alteração pode ser imediata ou tardia. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 8 Conduta: Lavagem gástrica e carvão, Se TAP alterado administra Vit K. PARAQUAT Dipiridílicos Herbicida, veneno para ervas daninhas. 5 a 10ml são suficientes para matar. Morte ocorre de 4 a 7 dias após a ingestão. 99% dos casos vão a óbito. Não tem antídoto. Morte por insuficiência respiratória, renal e hepática. Início aparece lesão leve na mucosa oral (ao redor e dentro da boca), epixtase, conjuntivite, seguida de queimação no estômago e mal estar. Depois de 3 dias começa quadro de tosse. A tosse causa a penetração do tóxico no pulmão, causando quadro de dispneia. O2 é substrato para a produção de fibrose pulmonar maciça; Forma-se peroxidase a partir do oxigênio. Após o quadro de tosse, o paciente morre em 4 ou 7 dias. Tratamento: ABCDE , lavagem gástrica e carvão ativado. Porém, na grande maioria das vezes é ineficaz. Recomendado uso de Terra Fuller inicialmente. Internar em UTI INTOXICAÇÃO POR AGENTES DEPRESSORES Álcool etílico Pode levar até grau 4 Não fazer lavagem gástrica nem carvão ativado, pois a absorção é muito rápida. Sempre fazer ABCDE, pegar acesso venoso e hidrataçao. Avaliar glicemia do paciente, se necessario amd glicose (ingestao de alcool causa hipoglicemia, pois a ingestao de bebida sacia a fome). Administra também vit B1. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 9 A síndrome de Wernicke-Korsakoff é uma doença neurodegeneratva, caracterizada por lesões cerebrais profundas, que engloba duas síndromes clínicas: a Encefalopatia de Wernicke e a psicose de Korsakoff. Os sintomas clínicos são anormalidades oculares, falta de coordenação de movimentos e confusão mental, podendo evoluir para quadros de amnésia profunda e permanente que caracterizam a psicose de Korsakoff. A síndrome é caracterizada pela manifestação desse conjunto desses sintomas clínicos pelo indivíduo. Indivíduos com a síndrome de Wernicke-Korsakoff apresentam vários défidts cognitivos, principalmente em processos de aprendizagem e memória. Esses indivíduos têm dificuldades de aprendizagem e apresentam um quadro de amnésia que chamamos de amnésia anterógrada. Isso significa que esses indivíduos não conseguem se lembrar de fatos e eventos ocorridos após o aparecimento dos sintomas da doença. Entretanto, esses pacientes conseguem se lembrar dos fatos e eventos ocorridos antes do desenvolvimento da síndrome. Essa síndrome ocorre em 2 a 3% dos alcoólatras crônicos e é causada pela ingestão crônica de bebidas alcoólicas associada a uma deficiência de vitamina B1. Essa deficiência ocorre, pricipalmente, devido à ingestão diminuída dessa vitamina pelo indivíduo e/ou pela diminuição na absorção da mesma pela trato gastrintestinal provocada pelo álcool. A presença do álcool juntamente com a falta da vitamina compromete o metabolismo cerebral, causando disfunções que variam desde alterações funcionais até lesões cerebrais irreversíveis. ANTIHISTAMÍNICO (Atropina-Like) / ANTIDEPRESSIVO “criança chega ao PS como se tivesse usado cocaína” Sinais e sintomas: midríase, boca seca, rubor facial, taquicardia, retenção urinária, aumentodo apetite, mudança de comportamento rapidamente (do choro ao riso e vice versa). Não há tratamento, o líquido é absorvido rapidamente e carvao ativado raramente funciona. Melhora dos sintomas em 7 dias. Conduta: ABCDE + lavagem gástrica (quando possível e viável) + carvao ativado (quando possível e viável). ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS (Atropina-like) Drogas com efeito tardio no miocárdio (risco de vida), sempre observar o paciente. Não há tratamento 1° - paciente fica em coma por 6 a 10h 2° - paciente apresenta euforia (síndrome atropina-like, risco de vida!) Realizar ECG na entrada, se normal observar o paciente por no mínimo 48h. Se alterado, monitorar tempo todo com monitor cardíaco. Conduta: ABCDE + lavagem gástrica (quando possível e viável) + carvao ativado (quando possível e viável). Suporte respiratório e cardiovascular BARBITÚRICOS Há de curta, média e longa duração ( são usados no tratamento anticonvulsivante). Eles potencializam o efeito de outras drogas. Causam hipomotilidade intestinal, Tem menor absorção intestinal. Melhor resposta da lavagem gástrica e do carvão ativado, mesmo após agumas horas. Quadro clínico (longa duração): Depressão do SNC, comas em graus variados (1 a 4), hipotermia, depressão respiratória central. Hipotensão e choque. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 10 Conduta grau 1 e 2 : ABCDE, lavagem gástrica e carvao ativado. Conduta grau 3: ABCDE, lavagem gástrica, carvao ativado, diurese forçada, adm antídoto (alcalinização, após gasometria) Conduta grau 3 : mesmas do grau 3 + diálise e hemoperfusão BENZODIAZEPÍNICOS Geralmente causam grau 1 e 2. Intoxicação por benzodiazepinico, somente, não chega a grau 4. Chegam ao grau 4 quando associados a barbitúricos. Nesse caso, o paciente deve ser intubado. (benzodiazepinico + barbiturico ou benzodiazepinico + álcool → Grau 4 ) Quadro clínico: sedação em graus variados, ataxia, e relaxamento muscular. Coma e depressão respiratória. Pode causar reações paradoxais de hiperexcitabilidade. Conduta: ABCDE + lavagem (depende do tempo da ingestão) + carvão ativado + antídoto (Antídoto: flumazenil ou Lanexati; solicitar gasometria) + fazer diálise se grau 4 Drogas depressoras causam hipomotilidade gástrica. Portanto, a lavagem gástrica pode ser feita após agumas horas. CARBAMAZEPINA e ÁCIDO VALPRÓICO Não são importantes depressores, mas porem potencializar outras drogas. Não possui antídoto. Quadro clínico: Ataxia, nistagmo, oftalmoplegia, midríase e taquicardia sinusal e outras arritmias. Quadros graves com convulsões, coma, e PCR. Conduta: ABCDE + Lavagem gástrica (em até 2h) + carvao ativado . Usar diazepan, caso tenha convulsoes. FENOTIAZÍDICOS / BUTIROFENONAS Causam sinais extrapiramidais (sinal da roda dentada → abre os braços em “soquinhos” ). O paciente chega rigido (pode confundir com torcicolo). Conduta: ABCDE + lavagem gástrica + carvao ativado + antídoto: Difenidramina ou Biperideno (escolha) IDANTOINATOS – Idantoina / Idantol Usados no tratamento da convulsao. Não há antidoto Quadro: Causa sonolência e ou nistagmo (vertical ou horizontal), sendo o nistagmo sinal mais preocupante. Conduta: ABCDE + lavagem gástrica + carvao ativado (quando possível) Pessoas em coma: drogas depressoras do SNC Pessoas andando: drogas que não causam sintomas, mais agressivas e matam mais rápido. METANOL (ÁLCOOL METÍLICO) Queixa principal: dor nas pernas e embriaguez. Sempre perguntar a procedencia da bebida alcóolica, pois muitas podem conter metanol. Metanol: in natura (não ocorre nada) ou metabolizado (causa cegueira e morte). Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 11 Portanto, devemos impedir o metanol de ser metabolizado. Na metabolização, o metanol forma formaldeído e ácido fórmico. Neste caso, o antídoto é oferecer bebida alcoolica de origem conhecida, alcool etílico, o que vai inibir a metabolização do metanol, pois utiliza a mesma via de metabolização. OPIÓIDES Tríade clássica: miose puntiforme, coma e despressão respiratória. Quadro clínico: pupilas reagentes (miose), sonolência, dificuldade respiratória, dispneia, coma. Conduta: ABCDE + lavagem gástrica + carvao ativado + antídoto (Naloxone) AGENTE TÓXICO ANTÍDOTO / ANTAGONISTA Ação do antídoto Opióides Naloxone antagonista farmacológico. desloca os opióides dos seus sítios receptores se ligando a eles imediatamente Benzodiazepinicos Flumazenil ou Lameati Age cessando a ação do tóxico. É um antagonista do flumazenil Metemoglobina Azul de metileno + Vit C Age cessando a ação do tóxico. Transforma a metahemoglobina em hemoglobina. Barbitúricos Alcalinização, após gasometria Beta bloqueadores Glucagon, infusao de adrenalina Monóxido de carbono O2 a 100%, 1-3min Antidepressivo e outras com efeito quinidina-Like (cocaína...) Alcalinização, após gasometria Tiroxina Propanolol Metanol Etanol Warfarina,cumarínicos Vitamina K (após TAP) antagonista farmacológico. organofosforados Oximas e atropina Age cessando a ação do tóxico. Reativa Ache carbamatos atropina antagonista farmacológico. Bloqueia os efeitos muscarínicos da acetilcolina. heparina Protamina etanol Tiamina (vitamina B1) Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 12 Metoclopramida / bromoprida Biperideno / Difenidramina ACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOS SERPENTES Na maioria dos casos a cobra não é levada até a unidade de saude. Saber qual é a cobra é fundamental para se tomar a contuta correta. Em todos os casos, a primeira coisa a se fazer é lavar o local com água e sabão (profilaxia contra tétano) Tipos de mordida: 2 furos : mordida certeira; jararaca, cascavel ou sururucu 1 furo: mordida desviada; jararaca, cascavel ou sururucu 2 furos pequenos e alguns riscos ao redor: cobra coral Varios arranhoes: cobra não venenosa Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 13 Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 14 A cobra coral é a única venenosa sem fosseta loreal. Existem dois tipos de corais, a verdadeira e a falsa. Quando paicente relatar picada de cobra coral, sempre considerar que é coral verdadeira Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 15 Jararaca – Gênero Bothrops Compreende cerca de 30 espécies, conhecidas popularmente por: jararaca, ouricana, jararacuçu, urutu-cruzeira, jararaca-do-rabo-branco, malhade-sapo, patrona, surucucurana, combóia, caiçara, e outras denominações. Estas serpentes preferem ambientes úmidos como matas e áreas cultivadas e locais onde haja facilidade para proliferação de roedores (paióis, celeiros, depósitos de lenha). Têm hábitos predominantemente noturnos ou crepusculares. Podem apresentar comportamento agressivo quando se sentem ameaçadas, desferindo botes sem produzir ruídos. Corresponde ao acidente ofídico de maior importância epidemiológica no país, pois é responsável por cerca de 90% dos envenenamentos. A picada pode ter 1 ou 2 furos, com um botão hemorrágico.Ocorre dor e edema intensos no local (4+/4+). O edema pode se espalhar. Há ateração no tempo de coagulação. Veneno tem ação local e as complicações estão associadas a processos hemorrágicos. Não fazer garrote ou torniquete, não tentar sugar o veneno com ca boca, não cortar o local. Veneno também pode causar insuficiencia renal. Ações do veneno: Ação Proteolítica (Lesões locais, como edema, bolhas e necrose.), Ação coagulante [Pode causar incoagulabilidade sangüínea (quadro semelhante ao da coagulação intravascular disseminada), também pode alterar a função plaquetária e levar a plaquetopenia.], Ação hemorrágica (As manifestações hemorrágicas são decorrentes da ação das hemorraginas que provocam lesões na membrana basal dos capilares, associadas à plaquetopenia e alterações da coagulação.) Complicações Locais: Síndrome Compartimental (rara, surge em casos graves, difícil manejo. Edema intenso comprimi vasos e nervos. Manifestações mais importantes são a dor intensa, parestesia, diminuição da temperatura do segmento distal, cianose e déficit motor.) Abscesso (ocorrência varia de 10 a 20%. Ação proteolítica favorece o aparecimento de infecções locais. Patogênicos provem da boca do animal, da pele ou do uso de contaminantes sobre o ferimento.), Necrose(Ação proteolítica, associada à isquemia local decorrente de lesão vascular e de outros fatores como infecção, trombose arterial, síndrome de compartimento ou uso indevido de torniquetes. O risco é maior nas picadas em extremidades podendo evoluir para gangrena) Complicações Sistêmicas: Choque(raro, em casos graves. Patogênese multifatorial, pode decorrer da liberação de substâncias vasoativas, do seqüestro de líquido na área do edema e de perdas por hemorragias.) Insuficiência Renal Aguda (patogênese multifatorial, pode decorrer da Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 16 ação direta do veneno sobre os rins, isquemia renal secundária à deposição de microtrombos nos capilares, desidratação ou hipotensão arterial e choque ) Exames: Tempo de Coagulação e Tempo de Sangramento (sempre estará alterado, usa para diagnóstico e acompanhamento); Hemograma (leucocitose e plaquetopenia) ; Urina1 (proteinúria, hematúria e leucocitúria).; Métodos de imunodiagnóstico (antígenos do veneno botrópico podem ser detectados no sangue ou outros líquidos corporais por meio da técnica de ELISA). ; Outros exames podem ser solicitados, visando à detecção da insuficiência renal aguda Tratamento específico: Administrar, o mais precocemente possível, do soro antibotrópico (SAB) por via intravenosa. Posologia de acordo com extensão do edema : 4 ampolas (edema local), 8 ampolas (edema local e ao redor da picada), 12 ampolas (edema extenso ). Não há diferença de dose entre crianças e adultos. O ideal é que o soro seja administrado nas primeiras 3h após a picada. Soro EV direto quando o acidente ocorreu a algumas horas; caso tenha sido de minutos até 1h, fazer mistura com soro fisiológico e adm divagar. Se o TC permanecer alterado 24 horas após a soroterapia, está indicada dose adicional de duas ampolas de antiveneno. É extremamente importante deixar material de intubação próximo, devido o risco de choque anafilático após administrar o soro. Caso o paciente apareça na unidade com garrote ou torniquete, este deve ser liberado muito devagar, para que o veneno não vá de uma vez para a corrente sanguínea e o paciente choque. Tratamento geral: Fazer profilaxia para tétano (soro e/ou vacina); Manter elevado e estendido o segmento picado; Emprego de analgésicos para alívio da dor; Manter o paciente hidratado, com diurese entre 30 a 40 ml/hora no adulto, e 1 a 2 ml/kg/hora na criança; uso de antibióticos deverá ser indicado quando houver evidência de infecção. Surucucu – Gênero Lachesis Existem poucos casos relatados, por se tratar de serpentes encontradas em áreas florestais, não habita locais abertos. Quadro clínico: Provoca quadro semelhante ao da jararaca, porém com mais gravidade e destruição local. Edema, bradicardia, hipotensão, diarreia, vômito e hemorragia. Tratamento: Soro antilaquético (SAL), ou antibotrópico-laquético (SABL) deve ser utilizado 10 a 20 ampolas, em dose única, por via intravenosa. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 17 Cascavel – Gênero Crotalus Apresenta o maior coeficiente de letalidade devido à frequência com que evolui para insuficiência renal aguda (IRA). Costuma habitar lugares secos, não habita floresta. Pode atacar diretamente no rosto. Quadro clínico muito diferente entre jararaca e cascavel. A principal complicação é a IRA nas primeiras 48h. Ações do veneno: Ação neurotóxica ( devido à crotoxina, uma neurotoxina que inibe a liberação de acetilcolina) ; Ação miotóxica (lesões de fibras musculares esqueléticas (rabdomiólise) com liberação de enzimas e mioglobina para o soro e que são posteriormente excretadas pela urina.); Ação coagulante (consumo de fibrinogênio que pode levar à incoagulabilidade sanguínea.. As manifestações hemorrágicas, quando presentes, são discretas.) Manifestações locais: pouco importantes. Não há dor, ou esta pode ser de pequena intensidade. Há parestesia local ou regional, que pode persistir por tempo variável, podendo ser acompanhada de edema discreto ou ausente e eritema no ponto da picada. Manifestações sistêmicas: a)Gerais: mal-estar, prostração, sudorese, náuseas, vômitos, sonolência ou inquietação e secura da boca podem aparecer precocemente e estar relacionadas a estímulos de origem diversas. b) Neurológicas: decorrem da ação neurotóxica do veneno, surgem nas primeiras horas após a picada, e caracterizam o fácies miastênica (fácies neurotóxica de Rosenfeld) evidenciadas por ptose palpebral uni ou bilateral, flacidez da musculatura da face, alteração do diâmetro pupilar, incapacidade de movimentação do globo ocular (oftalmoplegia), paciente franze a testa para abrir os olhos. c) Musculares: Dores musculares generalizadas (mialgias), devido à rabdomiolise. Há aumento de CPK, LDH, TGO TGP, devido à rabdomiolise, além de urina escura ou anúria; a mioglobinúria é a manifestação clínica mais evidente da necrose da musculatura esquelética Exames complementares: Sangue: Aumento de CK (precoce com pico em 24h), LDH ( lento e gradual, usado no diag tardio), AST, ALT e aldolase. Na fase oligúrica da IRA, é observada elevação dos níveis de uréia, creatinina, ácido úrico, fósforo, potássio e diminuição da calcemia. O Tempo de Coagulação frequentemente está prolongado. Urina: o sedimento urinário geralmente é normal quando não há IRA. Pode haver proteinúria discreta, com ausência de hematúria. Há presença de mioglobina. Tratamento Específico: Soro anticrotálico (SAC) EV, o ideal é que seja feito em até 3h. A dose (5, 10 ou 20 ampolas) depende da gravidade do caso. Não há diferença de dose entre criança e adulto. Poderá ser utilizado o soro antibotrópico-crotálico (SABC). Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 18 É extremamente importante deixar material de intubação próximo, devido o risco de choque anafilático após administrar o soro. Tratamento Geral: Hidratação para prevenir IRA (manter fluxo urinário de 1 ml a 2 ml/kg/hora na criança e 30 a 40 ml/hora no adulto). A diurese osmótica pode ser induzida com o emprego de solução de manitol a 20% . Caso persista a oligúria, indica-se o uso de diuréticos de alça tipo furosemida por via intravenosa. Fazer alcalinação monitorizada por controle gasométrico 5 (urina ácidapotencia a precipitação intratubular de mioglobina). Coral – Gênero Micrurus ou Elapidae As corais verdadeiras habitam todo o Brasil e em qualquer tipo de terreno. Não atacam, apenas se defendem quando são atacadas ou sentem-se ameaçadas. Sempre considerar que a picada foi por coral verdadeira quando o paciente relatar picada por cobra coral. Quadro clínico semelhante ao da cascavel, evoluindo mais rapidamente para a insuficiência respiratória, causa de óbito neste tipo de envenenamento. Manifestações locais: discreta dor local, geralmente acompanhada de parestesia com tendência a progressão proximal. Manifestações sistêmicas: Inicialmente, o paciente pode apresentar vômitos. Posteriormente, pode surgir um quadro de fraqueza muscular progressiva, ocorrendo ptose palpebral, oftalmoplegia e a presença de fácies miastênica . Podem surgir dificuldades para manutenção da posição ereta, mialgia localizada ou generalizada e dificuldade para deglutir em virtude da paralisia do véu palatino. A paralisia flácida da musculatura respiratória compromete a ventilação, podendo haver evolução para insuficiência respiratória aguda e apneia. Tratamento Específico: Soro antielapídico (SAE) deve ser administrado na dose de 10 ampolas, pela via EV. Tratamento geral: Nos casos com manifestações clínicas de insuficiência respiratória, é fundamental manter o paciente ventilado, seja por máscara e AMBU, intubação traqueal e AMBU ou até mesmo por ventilação mecânica. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 19 ESCORPIAO Os escorpiões ou lacraus apresentam o corpo formado pelo tronco (prosoma e mesosoma) e pela cauda (metasoma). O prosoma dorsalmente é coberto por uma carapaça e nela se articulam os quatro pares de pernas, um par de quelíceras e um par de pedipalpos. O mesosoma apresenta sete segmentos dorsais e cinco ventrais. A cauda é formada por cinco segmentos e no final da mesma situa-se o telso, composto de vesícula e ferrão (aguilhão). A vesícula contém duas glândulas de veneno. Estas glândulas produzem o veneno que é inoculado pelo ferrão. Alimentando-se de insetos, possuem hábitos noturnos, escondendo-se durante o dia sob pedras, troncos, dormentes de linha de trem, em entulhos, telhas ou tijolos. Muitas espécies vivem em áreas urbanas, onde encontram abrigo dentro e próximo das casas, bem como alimentação farta. Os escorpiões podem sobreviver vários meses sem alimento e mesmo sem água, o que torna seu combate muito difícil. Eles mudam de cor de acordo com o ambiente que estão, por isso a classificação não pode ser feita pela cor. Tityus serrulatus - “escorpião amarelo”: tronco marrom-escuro; pedipalpos e patas amarelados, a cauda, que também é amarelada, apresenta uma serrilha dorsal nos dois últimos segmentos e uma mancha escura no lado ventral da vesícula. Comprimento de 6 cm a 7 cm. É o mais perigoso, pode levar crianças e idosos a óbito. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 20 Tityus bahiensis- “escorpião preto”: tronco marrom-escuro, patas com manchas escuras; pedipalpos com manchas escuras nos fêmures e nas tíbias. Sem presença de serrilha. Comprimento de 6 cm a 7 cm Quadro Clínico: A picada de ambos os tipos causam intensa dor, podendo estar acompanhada de parestesia. O encontro de sinais e sintomas mencionados impõe a suspeita diagnóstica de escorpionismo, mesmo na ausência de história de picada e independente do encontro do escorpião: hipo ou hipertermia e sudorese profusa.; náuseas, vômitos, sialorréia; priaprismo arritmias cardíacas, hipertensão ou hipotensão arterial, insuficiência cardíaca congestiva e choque.; taquipnéia, dispneia e edema pulmonar agudo.; agitação, sonolência, confusão mental, hipertonia e tremores. Quadro Leve: apresentam apenas dor imediata no local da picada e, às vezes, parestesias. – Fazer analgesia a cada 30min e observação. Quadro Moderado: Dor intensa no local da picada e manifestações sistêmicas como leve sudorese, sialorreia, náuseas, sonolência, ansiedade, taquicardia, taquipnéia e hipertensão leve. – Além de analgesia, dar 2 ampolas de soro SAEEs EV Quadro Grave: além dos sinais e sintomas já mencionados, apresentam uma ou mais manifestações como sudorese profusa, vômitos incoercíveis, salivação excessiva, hipotermia, picos hipertensivos, arritmia, alternância de agitação com prostração, bradicardia, insuficiência cardíaca, edema pulmonar, choque, convulsões e coma. – Adm 4 a 5 ampolas de soro SAEEs EV em 10min Os óbitos estão relacionados a complicações como edema pulmonar agudo e choque. Tratamento Sintomático: Para ambos os tipos. Lidocaína sem vasoconstritor (1 ml a 2 ml para crianças; 3 ml a 4 ml para adultos) no local da picada, a cada 30min. Tratamento Específico Tituyus Serrrulatus: Administração de soro antiescorpiônico (SAEEs) ou antiaracnídico (SAAr) aos pacientes com formas moderadas e graves. Dose adequada, de acordo com a gravidade. A dor local e os vômitos melhoram rapidamente após a administração da soroterapia específica. Quando assintomático: Crianças com menos de 3 anos ou idosos com mais de 65 anos administra soro. Crianças de 3 a 12 anos (grupo de risco) deve internar e observar a evolução. Jovens e adultos devem ficar em observação por 12h. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 21 ARANHAS Dificilmente é feito a identificação da aranha (quando levam ao atendimento está amassada). Perguntar sobre a dor: se doeu logo após a picada ou depois, e quantas horas após a picada. Normalmente a picada de aranha não deixa furo de início. As aranhas alimentando-se de insetos. como grilos e baratas. Muitas têm hábitos domiciliares e peridomiciliares. Apresentam o corpo dividido em cefalotórax e abdome. No cefalotórax articulam-se os quatro pares de pernas, um par de pedipalpos e um par de quelíceras. Nas quelíceras estão os ferrões utilizados para inoculação do veneno ARANHA ARMADEIRA – PFONEUTRIA Apresentam um comportamento de defesa, no ataque apoiam-se nas pernas traseiras, erguem as dianteiras e os palpos, abrem as quelíceras, tomando bem visíveis os ferrões, e podem pular atingindo até 30cm procuram picar. Podem atingir de 3 cm a 4 cm de corpo e até 15 cm de envergadura de pernas. Não constroem teia geométrica, sendo animais errantes que caçam principalmente à noite. Os acidentes ocorrem frequentemente dentro das residências e nas suas proximidades, ao se manusearem material de construção, entulhos, lenha ou calçando sapatos. Picadas normalmente em mãos e pés. Quadro leve: 91% dos casos. Dor local ou irradiada. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 22 Quadro moderado: 7,5% dos casos. Dor intensa, sudorese e vômito. – Usar 2 a 4 ampolas de soro antiaracnídeo EV. Quadro grave: 0,5 dos casos, praticamente restritos as crianças. Além das alterações citadas, há a presença de uma ou mais das seguintes manifestações: sudorese profusa, sialorréia, vômitos frequentes, diarreia, priapismo, hipertonia muscular, hipotensão arterial, choque e edema pulmonar agudo. – Usar 5 a 10 ampolas de soro antiaracnídeo EV. Tratamento: Xilocaina, sem vasoconstritor, a cada 30min, no local ao redor da picada. Dose de 1 a 3ml, no máximo 3 vezes. Caso a dor não cesse, usar Dolantina. É raro apresentar efeitos sistêmicos, mas se presente usar soro antiaracnídeo ARANHA MARROM – LOXOCELES No brasilé a mais perigosa. Constroem teias irregulares em fendas de barrancos, sob cascas de árvores, telhas e tijolos empilhados, atrás de quadros e móveis, cantos de parede, sempre ao abrigo da luz direta. Possuem coloração marrom avermelhado; cefalotórax achatado, podem atingir 1 cm de corpo e até 3 cm de envergadura de pernas. Não são aranhas agressivas, picando apenas quando comprimidas contra o corpo. No interior de domicílios, ao se refugiar em vestimentas, acabam provocando acidentes. Mais comum no sul do brasil. Acidentes atingem mais adultos, ocorrendo no intradomicílio e observa-se uma distribuição centrípeta das picadas, acometendo coxa, tronco ou braço. Quadro: A dor ocorre aproximadamente após 10h da picada. Provoca lesão cutânea local com necrose central, pelo processo inflamatório. Também pode causar lesão renal. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 23 Tratamento: Soro antiloxocélico ou soro antiaracnídeo EV (1 a 4 ampolas). Deixar material de intubação próximo, devido o risco de choque anafilático após administrar o soro. Forma cutânea: 87% a 98% dos casos. Instalação lenta e progressiva, com dor, edema endurado e eritema no local da picada. Sintomas locais se acentuam nas primeiras 24 a 72 horas após o acidente e variam de intensidade. A lesão pode evoluir para escara, em cerca de 7 a 12 dias, que, ao se destacar em 3 a 4 semanas, deixa uma úlcera de difícil cicatrização. Acompanhando alterações do estado geral como astenia, febre alta nas primeiras 24 horas, cefaleia, exantema morbiliforme, prurido generalizado, petequeias, mialgia, náusea, vômito, visão turva, diarreia, sonolência, obnubilação, irritabilidade, coma. Forma cutâneo-visceral (hemolítica) Além do comprometimento cutâneo, observam-se manifestações clínicas em virtude de hemólise intravascular como anemia, icterícia e hemoglobinúria que se instalam geralmente nas primeiras 24 horas. Frequência variável de 1% a 13% dos casos, dependendo da região e da espécie da aranha envolvida. Os casos graves podem evoluir para insuficiência renal aguda, de etiologia multifatorial, principal causa de óbito no loxoscelismo. ARANHA DE JARDIM – LYCOSA – TARANTULA Os acidentes, apesar de frequentes, não constituem problema de saúde pública. São aranhas errantes, não constroem teia e frequentemente são encontradas em gramados e jardins. Possuem coloração marrom e marcas escuras no dorso, podem variar de tamanho, sendo que as maiores atingem até 3 cm de corpo por 5 cm de envergadura de pernas. A dor é pouco intensa e logo cessa. Caderno de TOXICOLOGIA Ariane Chiara S.Oliveira - XXXVI UNOESTE 24 ARANHA CARANGUEJEIRA Apresentam variadas cores e de tamanhos, desde alguns milímetros até 20 cm de envergadura de pernas. Algumas são muito pilosas. Aranha dócil, não venenosa, porém podem causar irritação e alergia, devido seus pelos urticantes que algumas espécies liberam como forma de defesa. REFERÊNCIAS SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA – SESAB, Apostila de Toxicologia Básica, Centro de Informações Antiveneno da Bahia – CIAVE, Salvador – Bahia Agosto de 2009
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