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6º e 7º SEMESTRES Pesquisa temática dirigida

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Segundo o edital da UNIP do Tatuapé “O aluno não poderá fazer no mesmo semestre mais de 02 pesquisas, sob pena de ter a terceira pesquisa descartada.” Logo, quando houver mais de 02 pesquisas, deverás dividi-las pelos semestres.
6º e 7º SEMESTRES - Pesquisa temática dirigida
As prisões cautelares.
A Lei 12.403/2011, que alterou o CPP, trouxe uma série de novidades para o universo da prisão provisória (cautelar ou processual) e da liberdade provisória, criando, ainda, diversas medidas cautelares pessoais diversas da prisão. 
Prisão é a supressão da liberdade de locomoção do indivíduo. A doutrina costuma dividir a prisão em: prisão-pena (que é aquela que decorre de sentença penal condenatória transitada em julgado) e prisão sem pena (que é a que ocorre antes da uma sentença penal definitiva). São espécies de prisão sem pena: prisão civil e prisão provisória (cautelar ou processual). Segundo o autor Marcão (2016, p. 582) “A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio, regra expressa no § 2º do art. 283 do CPP, que está em consonância com o disposto no art. 5º, XI, da CF, segundo o qual “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.”
A Prisão provisória (cautelar ou processual), consiste no encarceramento cautelar do indivíduo (antes de sentença penal definitiva, portanto). Atualmente, são espécies de prisão provisória: a prisão em flagrante, a prisão temporária e a prisão preventiva. Note o leitor que foram revogadas a prisão decorrente de sentença condenatória recorrível (antigo art. 594, CPP) e a prisão decorrente de pronúncia (antigo art. 408, § 1°, CPP). Isto porque as Leis 11.689/2008 e 11.719/2008, coroando contundente entendimento da comunidade jurídica, revogaram essas duas modalidades de prisão provisória. Mais adiante, estudaremos de forma mais detalhada as espécies de prisão provisória. Por ora, é importante ficar claro que, conforme determina o novo art. 300, CPP (alterado pela Lei 12.403/2011), as pessoas presas provisoriamente ficarão separadas das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei de execução penal. O militar, por sua vez, preso em flagrante delito, após a lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da instituição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das autoridades competentes (parágrafo único do art. 300, CPP). Conforme Capez (2016, p. 300) “A partir da nova Lei, a decretação da prisão provisória exige mais do que mera necessidade. Exige a imprescindibilidade da medida para a garantia do processo. A custódia cautelar tornou-se medida excepcional. Mesmo verificada sua urgência e necessidade, só será imposta se não houver nenhuma outra alternativa menos drástica capaz de tutelar a eficácia da persecução penal.”
A Prisão decorrente de ordem judicial, inicialmente, convém transcrever o famoso art. 5°, LXI, CF, que diz: "ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei" (grifo nosso). Com efeito, salvo os casos explicitados por esse dispositivo (prisão em flagrante, transgressão militar e crime propriamente militar) -e algumas outras hipóteses que veremos no tópico logo abaixo - vige no Brasil a regra da necessidade de ordem judicial prévia para a imposição de prisão ao indivíduo. Exemplos: sentença penal condenatória transitada em julgado, decisão pela preventiva etc.
 Pois bem, sendo o caso de prisão decorrente de ordem judicial (preventiva, por exemplo), o magistrado que decretou a prisão deverá expedir o competente mandado prisional. Segundo Capez (2016, p. 301) “Não havendo fundamento para a prisão preventiva, o agente deverá ser solto e responder ao processo em liberdade. Antes, a pessoa presa em flagrante requeria a liberdade provisória e aguardava a concessão do benefício. A decisão era postergada muitas vezes até o final do processo-audiência, para só então ser analisada. Atualmente, logo após as primeiras vinte e quatro horas da prisão, o juiz já terá que fundamentar se é caso de prisão preventiva, justificando sua imprescindibilidade.”
 Segundo o art. 291, CPP, entende-se realizada a prisão por mandado quando "o executor, fazendo-se conhecer do réu, lhe apresente o mandado e o intime a acompanhá-lo': Há, porém, uma série de formalidades ligadas ao mandado que, na sequência, serão analisadas.
O art. 285, parágrafo único, CPP, por exemplo, estabelece que o mandado deverá: a) ser lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade (juiz); b) designar a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome, alcunha ou sinais característicos; c) mencionar a infração penal que motivar a prisão; d) declarar o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a infração; e e) ser dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução.
 O art. 286, CPP, por sua vez, diz que "o mandado será passado em duplicata, e o executor entregará ao preso, logo depois da prisão, em dos exemplares com declaração do dia, hora e lugar da diligência. Da entrega deverá o preso passar recibo no outro exemplar; se recusar, não souber ou não puder escrever, o fato será mencionado em declaração, assinada por duas testemunhas':
 Ademais, estabelece o art. 288, CPP, que ninguém poderá ser recolhido à prisão sem que o mandado seja exibido ao respectivo diretor do presídio ou carcereiro. Para tanto, o executor deverá entregar ao diretor ou carcereiro uma cópia assinada do mandado ou apresentar a guia expedida pela autoridade competente. De uma forma ou de outra, deverá ser passado recibo (até no próprio exemplar do mandado) com declaração de dia e hora da entrega do preso.
 De acordo com a alteração promovida pela Lei 12.403/2011 no CPP, o juiz, ao expedir o mandado de prisão, deverá providenciar o imediato registro desse documento em banco de dados mantido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para essa finalidade (novo art. 289-A). Conforme Marcão (2016, p. 585) “O art. 287 deve ser analisado em conjunto com o atual art. 289-A, ambos do CPP, que dispõe sobre a existência de banco de dados mantido pelo Conselho Nacional de Justiça para o registro de mandados de prisão expedidos em qualquer localidade do território nacional. Note-se que o § 1º do art. 289-A diz que “qualquer agente policial poderá efetuar a prisão determinada no mandado de prisão registrado no Conselho Nacional de Justiça, ainda que fora da competência territorial do juiz que o expediu”.
Disso se extrai que é possível a prisão em cumprimento a determinação judicial precedente, ainda que o executor não disponha do mandado de prisão em mãos, desde que este se encontre registrado no referido banco de dados, quando, então, deverão ser adotadas as cautelas tratadas no art. 289-A”
Estabelece o parágrafo 1o deste mesmo dispositivo (art. 289-A) que qualquer agente policial poderá efetuar a prisão determinada no mandado de prisão registrado no CNJ, ainda que fora da competência territorial do juiz que o expediu. Mas não é só, pois o § 2° diz que mesmo que o mandado não esteja registrado no referido banco de dados do CNJ, ainda
assim será possível a prisão do indivíduo por parte de qualquer agente policial. Entretanto, neste caso, o agente policial responsável pela prisão do sujeito deverá, primeiro, adotar as precauções necessárias para averiguar a autenticidade do mandado e, segundo, comunicar a prisão ao juiz que a decretou. O magistrado, por sua vez, ao ser comunicado da prisão que decretou, deverá providenciar, em seguida, o registro do mandado no mencionado banco de dados do CNJ.
 Efetuada a prisão, esta será "imediatamente comunicada ao juiz do local de cumprimento da medida (leia-se: do local da captura) o qual providenciará a certidão extraída do registrodo Conselho Nacional de Justiça e informará ao juízo que a decretou"-§ 3° do art. 289-A, CPP.
 Finalmente, ocorrida a prisão, o preso será informado de seus direitos, nos termos do inciso LXIII do art. 5°, CF (direito de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado), e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, será comunicado o fato à Defensoria Pública - § 4° do art. 289-A, CPP.
 Nessa última hipótese, a ausência de comunicação do flagrante em 24h ensejará a nulidade do flagrante, exceto: se na comarca e adjacências não houver Defensoria
Pública. A não comunicação à Defensoria Pública se justificada pela ausência da instituição na localidade ou mesmo nas proximidades, denotando-se, assim, a impossibilidade de cumprimento do art. 306, § 1o, CPP'; se houver a comunicação em prazo razoável, segundo entendimento do STJ, não há que se falar em vício.
BIBLIOGRAFIA
Capez, Fernando. Curso de processo penal. – 19. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012.
Marcão, Renato. Código de processo penal comentado. – São Paulo : Saraiva, 2016.
As obrigações do Sindicato.
O direito coletivo do trabalho destina-se a analisar as interações entre trabalhadores organizados em sindicatos e seus respectivos empregadores, que podem ou não estar organizados em sindicatos. Segundo Gandra (2016, p. 228) “Sindicato – entidade que agrupa determinadas pessoas, segundo um interesse comum, de natureza profissional ou econômica, e das quais é o legítimo e natural representante. Inicialmente considerados como coligações delituosas e proibidas (Lei Le Chapelier, 1791 – França), os sindicatos adquiriram foro de cidadania na Inglaterra (Trade Unions, 1871) e na França (Lei Waldeck-Rousseau, 1884), tendo havido neste último país, nos seus primórdios, sindicatos corporativos (congregando patrões e empregados) e até só femininos (1899).” Texto fundamental é o art. 8.º da CF/1988 – cujos principais aspectos são os seguintes:
O inc. I consagra a liberdade dos empregados e empregadores de criar sindicatos (também os funcionários públicos), independentemente de autorização. No Brasil, até 1988, essa liberdade não existia, pois a criação do sindicato dependia de autorização dada pelo Ministério do Trabalho – art. 520 da CLT. Com a CF/1988, o regime foi alterado, para exigir-se tão somente o registro do sindicato no MTE (o que, segundo o STF, não fere a liberdade sindical, pois tem mera finalidade cadastral e de publicidade – além da obtenção da personalidade jurídica – Súmula 677 do STF). Ademais, o inciso consagra a proibição de interferência ou intervenção: o Estado não pode se imiscuir nas questões sindicais;
O inc. II consagra limitações à organização sindical: o legislador, em primeiro lugar, impõe a organização em categoria; em seguida, limita territorialmente o sindicato, estabelecendo que este não poderá ser inferior à área de um Município; finalmente, estabelece que só poderá haver um sindicato de cada categoria em um determinado local – é a chamada unicidade sindical (em contraposição à pluralidade sindical, vigente em outros países);
Segundo o inc. III, ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas. Aqui, insere-se a capacidade dos sindicatos para celebrarem convenções e acordos coletivos de trabalho, representarem os empregados em audiência (art. 843, CLT), atuarem como substitutos processuais e fornecerem assistência judiciária gratuita (Lei 5.584/1970);
O inc. IV consagra a contribuição confederativa, que somente pode ser cobrada dos empregados filiados ao sindicato (Súmula 666 do STF);
Segundo o inc. V, ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato (liberdade de filiação e não Filiação). Também não é possível estabelecer-se qualquer tipo de preferência para o empregado sindicalizado. Nesse sentido, a OJ 20 da SDC proíbe o estabelecimento de preferência para admissão para trabalhadores sindicalizados;
Nos termos do inc. VI, é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho. Porém, atualmente, sabe-se que tal obrigatoriedade aplica-se apenas aos sindicatos profissionais (de empregados), já que as empresas podem celebrar acordos coletivos de trabalho independentemente de representação sindical;
Segundo Gandra (2016, p. 229) “A criação de sindicato novo depende de convocação da categoria para assembleia geral na base territorial que abranger, devendo ser ele registrado, após sua fundação, no Registro Civil das Pessoas Jurídicas e no Arquivo de Entidades Sindicais Brasileiras (AESB) do Ministério do Trabalho. O STF, ao julgar o Mandado de Injunção nº 144/SP (Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 28.5.1993), assentou que o Ministério do Trabalho, ao efetuar o registro dos novos sindicatos, deve zelar pelo respeito ao princípio constitucional da unicidade sindical.”
Segundo o inc. VII, o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais;
O inc. VIII consagra a já estudada estabilidade do dirigente sindical.
Há que se destacar que existem sindicatos de empregados e sindicatos de empregadores. Define-se como sindicato de empregados o agrupamento estável de membros de uma profissão destinada a assegurar a defesa e representação da respectiva profissão, visando melhorar as condições de trabalho. Já o sindicato patronal congrega empregadores com a finalidade de defender interesses econômicos. De acordo com Resende (2015, p. 1038) “ Sindicato, atuando na base da pirâmide, diretamente em contato com os trabalhadores. É a entidade que detém a prioridade da negociação coletiva, e pode se auto-organizar, independentemente de qualquer ingerência estatal, observada apenas a regra da unicidade e a limitação territorial mínima (o sindicato não pode ter base territorial menor que um município). Não há se confundir sindicato com associação profissional. A criação da associação profissional era, no modelo vigente até a Constituição de 1988, uma fase preliminar à criação do sindicato, conforme dispunha o art. 512 da CLT. Neste contexto, cabia ao Ministério do Trabalho reconhecer a associação profissional “mais representativa” da categoria (art. 519), com o que esta adquiria o status de sindicato. Com a promulgação da CRFB/88, este modelo tornou-se ultrapassado, tendo em vista a liberdade sindical instituída, o que impede tal ingerência estatal na criação e organização do sindicato.”
Não se pode deixar de consignar que o enquadramento sindical ocorre levando-se em conta a atividade econômica preponderante da empresa.
O sindicato é composto dos seguintes órgãos: assembleia geral, diretoria e conselho fiscal. A diretoria será composta de, no mínimo, 3 (três) membros e, no máximo, 7 (sete), destacando que o art. 522 da CLT, o qual limita o número de dirigentes sindicais, foi recepcionado pela Constituição da República, consoante o disposto na Súmula 369, II, do TST, a qual também esclarece que a estabilidade prevista no art. 543, § 3º, da CLT se estende a 7 (sete) dirigentes e igual número de suplentes.
No atual sistema sindical brasileiro, temos que o sindicato representa a menor unidade organizada. Por entidades sindicais de grau superior temos a federação e a confederação.
Em razão do patamar de que dispõe o sindicato, temos que este, enquanto agremiação representativa, exerce diversas desempenhos, frisando-se:
A função representativa é prerrogativa do sindicato representar a categoria profissional perante as autoridades administrativas e judiciárias, bem como proteger os interesses da categoria ou os interesses individuais dos associados concernentes à atividade ou profissão exercida. O art. 8º, III, da CF considera que referida garantia, é constitucionalmente assegurada pelo disposto no art. 513, a, da CLT.
Assim sendo, percebemos que o sindicato possui legitimidade ordinária para representar a categoria.
O sindicato também tem a função negocial, ao qual compete ao órgão firmar acordo e convenção coletivade trabalho, sendo que nos termos da Carta Magna de 1988 (art. 8º, VI), o sindicato deve obrigatoriamente participar das negociações coletivas. Segundo Resende (2015, p. 1047) “Como visto, são legitimados para celebrar CCT os sindicatos representativos de empregadores e empregados de determinada categoria, ao passo que são legitimados para celebrar ACT o (s) próprio(s) empregador(es), independentemente da participação de seu sindicato representativo, e o sindicato dos trabalhadores.”
A função assistencial também compete à entidade sindical prestar assistência aos seus associados, concretizar mencionada função pelo fornecimento de assistência judiciária ou, ainda, de assistência médica, odontológica e oferecimento de colônias de férias ao seu quadro associativo.
Há divergência, no entanto, quanto ao sindicato exercer a função política e econômica em razão da Constituição Federal de 1988.
BIBLIOGRAFIA
Martins Filho, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. – 23. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2016
Resende, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado – 5. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015.
Aspectos e características da OMC.
A OMC é uma organização internacional, com sede em Genebra, na Suíça, que tem por objetivo zelar pelas normas que regem o comércio entre os países, em nível mundial ou quase mundial. Por isso, diz-se que é uma organização internacional especializada de vocação universal.
 De maneira mais ampla, a OMC é uma organização para liberalização do comércio, um fórum para que os governos negociem acordos comerciais e um lugar para que os governos resolvam suas diferenças comerciais. Ademais, é encarregada de aplicar um sistema de normas comerciais - o chamado sistema de resolução de controvérsias da OMC. Em funcionamento desde 1995 substituindo o GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), a OMC é uma instituição com personalidade jurídica que surgiu com o objetivo de proporcionar e regulamentar o livre comércio entre as nações participantes. Segundo Mazzuoli (2015, p. 698) “Organização Mundial do Comércio (OMC). Como já se disse, a OMC não é uma "agência especializada" da ONU, não sendo qualquer das suas atividades coordenadas pelas Nações Unidas, como se depreende de sua política e do seu próprio acordo constitutivo. Mas ela será aqui estudada (até mesmo por questão didática) levando-se em consideração o fato de também ser uma organização internacional de cooperação econômica, que mantém inclusive mecanismos de cooperação com as Nações Unidas.”
A OMC pauta-se no livre-comércio e na igualdade entre os países e atua com base nos seguintes princípios: a) princípio da não discriminação - é a coletivização do princípio da nação mais favorecida; A cláusula da nação mais favorecida foi muito utilizada pela Inglaterra no século XVIII, que aproveitava sua teia de relacionamento global - fato incomum na época para conseguir o melhor acordo comercial possível com todos os países. Em termos práticos, a Inglaterra firmava um tratado com um país "B" para diminuir as tarifas sobre certo produto e garantia que seu produto receberia o melhor tratamento possível com a inserção da cláusula da nação mais favorecida, pois, nesse caso, a Inglaterra tinha sempre de ser a nação mais favorecida. Assim, se o país "B" diminuísse ainda mais as tarifas sobre aquele produto em proveito do país "C", as tarifas em relação ao produto da Inglaterra abaixariam automaticamente. Essa cláusula já não é mais aceita na atualidade - assim se garante tratamento igual para todos os países. Importante dizer que esse princípio comporta duas exceções: uma são os acordos regionais caracterizados como união aduaneira ou zona de livre comércio (art. XXIV do Gatt) e a outra engloba a concessão de benefícios dos países desenvolvidos em proveito dos países em desenvolvimento, como também as concessões mútuas de benefícios entre países em desenvolvimento (Sistema Geral de Preferências); b) princípio da previsibilidade- para facilitar o acesso ao comércio internacional. Nesse princípio aparece a consolidação tarifária, que nada mais é que a determinação de um teto limitador da incidência tarifária em certos produtos oriundos do exterior. Assim, antes de exportar determinado produto para o país: já é possível saber o máximo possível de incidência tarifária. Todavia, cabe dizer que os Estados-Membros não são obrigados a consolidar todos os produtos, mas devem indicar na lista de concessões tarifárias quais deles foram consolidados e com que teto. Em outras palavras, "tarifa consolidada é o valor máximo (teto) de alíquota do imposto de importação que cada membro da OMC se compromete a aplicar para certos produtos do seu universo tarifário"; c) princípio da concorrência leal -visa a garantir um comércio internacional justo; d) princípio da proibição da proteção nacional - a OMC, em geral, não permite a utilização de restrições quantitativas como forma de proteger a produção nacional. Melhor dizendo, não pode haver qualquer tratamento diferenciado que visa beneficiar os produtos nacionais em detrimento dos importados; e e) princípio do tratamento especial e diferenciado para os países em desenvolvimento – por esse princípio, por exemplo, os países em desenvolvimento têm vantagens tarifárias. Segundo Mazzuoli (2015, p. 698) “A OMC nasce com a natureza jurídica de organização internacional intergovernamental (composta por Estados e também por territórios aduaneiros), com personalidade jurídica de Direito Internacional, ao contrário do GATT, que é simplesmente um tratado multilateral, sem qualquer personalidade jurídica de direito das gentes. O objetivo primordial da OMC consiste na supressão gradual das tarifas alfandegárias que tornam difíceis e discriminam as relações comerciais internacionais, servindo de foro para negociações de novas regras ou temas relativos ao comércio. Trata-se, atualmente, do único organismo internacional que se ocupa das normas que regem o comércio entre os Estados, objetivando ajudar os produtores de bens e serviços, exportadores e importadores a desenvolverem e levar adiante suas atividades.”
A estrutura institucional da OMC está assim definida: a) Conferência Ministerial - é o órgão supremo da OMC, do qual participam todos os Estados-Membros por meio de seus ministros das Relações Exteriores ou equivalentes; tem competência para decidir sobre qualquer matéria objeto dos acordos. Reúne-se a cada dois anos ou quando for necessário. Cada membro tem direito a um representante e um voto; b) Conselho Geral- é o órgão executivo da OMC, composto dos embaixadores ou dos enviados dos Estados-Membros. Cada membro tem direito a um representante e um voto; c) Órgão de Solução de Controvérsias - tem a função de dirimir as disputas comerciais entre os Estados-Membros e é composto dos integrantes do Conselho Geral, que se reúnem mensalmente; d) Órgão de Revisão de Política Comercial - tem a função de examinar as decisões governamentais, no âmbito do comércio dos Estados-Membros, com o intuito de identificar violações aos acordos celebrados; e) Conselho sobre Comércio de Bens, Conselho sobre Comércio de Serviços e Conselho sobre os Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio - cuidam da implementação dos acordos específicos nessas áreas e subordinam-se ao Conselho Geral. Segundo Portela (2015, p. 421) “Órgão da OMC é a Conferencia Ministerial, formada por representantes de todos os Estados-membros, normalmente ministros do comercio ou Relações Exteriores. Reúne-se pelo menos uma vez a cada dois anos e é competente para tomar as decisões mais importantes da entidade, relativas aos acordos internacionais de comércio.”
O sistema de solução de controvérsias da OMC, tem a função de dirimir as disputas comerciais entre os Estados-Membros e é basicamente dividido em cinco fases: consultas, painéis, apelação, implementação e retaliação. Cabe dizer que o sistema é fruto das normas, procedimentos e práticas elaboradosdesde o surgimento do Gatt. Segundo Portela (2015, p. 421) “O descumprimento das regras dos acordos comerciais enseja a possibilidade de que os Estados-membros prejudicados acionem o mecanismo desolução de controvérsias da OMC.”
Antes de analisar cada etapa, é importante destacar a mudança da regra do consenso positivo, vigente no Gatt, para a regra do consenso negativo ou invertido, norteadora do sistema de solução de controvérsias da OMC. Pela regra antiga era necessário um consenso de todos os membros do Gatt, inclusive o reclamado, para que um painel fosse instalado, um parecer técnico aprovado e retaliações comerciais fossem levadas a cabo pelo reclamante. Não é necessário mencionar a dificuldade desse sistema em funcionar, pois quase sempre o reclamado votava contra as medidas que o prejudicaria - assim, a regra antiga do consenso positivo impossibilitava, por razões políticas, o manuseio do importante sistema de solução de controvérsias da OMC. Por outro lado, todas essas etapas se tornaram praticamente automáticas com a regra do consenso negativo ou invertido, pois o painel só não é instalado se todos os Estados-Membros da OMC, incluído o reclamante, forem contra. O mesmo se aplica para aprovação do parecer técnico e para permissão de adoção de retaliações comerciais. Essa automatização das etapas permite a prevalência das decisões jurídicas sobre as decisões políticas no seio da OMC.
BIBLIOGRAFIA
Mazzuoli, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional. - 9. ed. rev., atual. e ampl. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
Portela, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. – 7 ed. Salvador: Juspodivm, 2015.

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