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8º, 9º e 10º SEMESTRES Pesquisa temática dirigida

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Segundo o edital da UNIP do Tatuapé “O aluno não poderá fazer no mesmo semestre mais de 02 pesquisas, sob pena de ter a terceira pesquisa descartada.” Logo, quando houver mais de 02 pesquisas, deverás dividi-las pelos semestres.
8º, 9º e 10º SEMESTRES - Pesquisa temática dirigida
Indenização por abandono afetivo.
A Constituição Federal de 1988 inclui entre a cláusulas pétreas, ou seja, como garantia fundamental o direito de qualquer cidadão de ser indenizado e que essa indenização seja proporcional ao agravo. Toda vez que qualquer indivíduo sofrer um prejuízo produzido por um terceiro, desde que não haja nenhuma justificativa legal, nenhuma excludente de ilicitude, ou que exima aquele causador do dano da responsabilidade, o indivíduo causador do dano terá que responder e promover a devida reparável do dano.
O dano moral é definido de forma unânime na doutrina como o dano que lesiona exclusivamente os sentimentos pessoais da vítima. A lesão ao patrimônio moral, consiste na ofensa ao patrimônio moral de pessoa, tais como o nome, a honra, afama, a imagem, a intimidade, a credibilidade, a respeitabilidade, a liberdade de ação, a autoestima, o respeito próprio e a afetividade. Nas palavras de Stolze (2014, p. 111) “O dano moral consiste na lesão de direitos cujo conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente redutível a dinheiro. Em outras palavras, podemos afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima da pessoa (seus direitos da personalidade), violando, por exemplo, sua intimidade, vida privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados constitucionalmente.”
O dano é justamente a lesão ao patrimônio de uma pessoa, que pode ser material ou moral. O código civil de 1916 já fazia previsão a obrigação daquele que causasse o dano de indenizar a vítima, mas não dizia expressamente sobre os danos morais. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi feita a previsão por danos morais e o código civil de 2003, em seu artigo 186, passou a fazer uma previsão expressa ainda que exclusivamente do dano moral. O fundamento de tudo isso, é a lesão ao patrimônio jurídico protegido. Segundo Bittar (2015, p. 77) “Detectados os direitos da personalidade, e enfatizados os aspectos pessoas da relação entre autor e obra estética (direitos denominados morais), sobrevieram, com o extraordinário progresso tecnológico, movimentos internacionais e nacionais de defesa dos direitos essenciais da pessoa humana. Convenções e acordos foram firmados, culminando-se essa evolução, em meados de século XX, com as Declarações Universal e Americana dos Direitos Fundamentais do Homem, diante, principalmente, das consequências funestas das guerras mundiais. Com essa tomada de posição, começaram a ser cristalizados em normas os direitos da personalidade e de autor, introduzindo-se ademais, a regra das reparabilidade dos danos morais em textos expressos de leis. É que se procurou resguardar a individualidade, diante da ampliação constante do circuito de exposição pessoal, em especial com a inserção de inúmeros mecanismos de comunicação de imagens, fotos, sons, escritos, palavras, gestos e outras manifestações humanas em seu relacionamento social.”
Um dos aspectos positivos do Código Civil brasileiro é justamente o reconhecimento formal e expresso da reparação dos danos extrapatrimoniais. A lesão ao patrimônio financeiro ou moral enseja a responsabilidade civil. A responsabilidade civil é definida como a situação de quem sofre as consequências da violação de um norma ou como a obrigação que incumbe a alguém de reparar o prejuízo causado a outrem, pela sua atuação ou em virtude de danos provocados por pessoas ou coisas dele dependentes.
O dano patrimonial é muito mais fácil de apurar que o dano moral, pois é mais objetivo e calculável. Como exemplo, citamos um acidente de trânsito onde um indivíduo ultrapassa o semáforo e atinge outra pessoa, o dano pode ser reparado uma vez que pode ser feito o cálculo. Caso, houver além do dano material o dano a indivíduo propriamente dito, há o dano moral. Ou seja, dano moral é possível quando é atingido a honra, o sentimento, mas lembremos sempre que isso deve ocorrer de forma gravosa. Não é qualquer sentimento de angústia, irritação ou desgosto que vai levar o juiz a reconhecer o dano moral com a finalidade de ser indenizado. Quando se trata de dor, de sentimento, de angústia, saudade é difícil de ser analisado, vez que falamos de coisas subjetivas. 
Com relação aos critérios que utilizados pelo juiz para fixação do dano moral, eles não são legais, ou seja, não decorrem de lei. A lei em sentido amplo não indica quais sejam esses critérios, a Constituição Federal e o Código Civil, tratam apenas do direito a fixação pelo dano moral sofrido da vítima, em virtude da ação do agente. Os critérios normalmente utilizados pela jurisprudência são: o grau da ofensa (a extensão da ofensa), o grau de culpa do agente e por fim o efeito pedagógico da indenização que é ideia de não se atribuir como valor da compensação o montante que não cause ao agente a injusta sensação de que valeu a pena ter cometido aquela ofensa; todos esses critérios combinados leva o magistrado a atribuir o valor da indenização. Conforme Stolze (2014, p. 450) “É preciso, sem sombra de dúvida, que o magistrado, enquanto órgão jurisdicional, não fique com seu raciocínio limitado à busca de um parâmetro objetivo definitivo (que não existe, nem nunca existirá) para todo e qualquer caso, como se as relações humanas pudessem ser solucionadas como simples contas matemáticas. Dessa forma, propugnamos pela ampla liberdade do juiz para fixar o quantum condenatório já na decisão cognitiva que reconheceu o dano moral. Saliente-se, inclusive, que se o valor arbitrado for considerado insatisfatório ou excessivo, as partes poderão expor sua irresignação a uma instância superior, revisora da decisão prolatada, por força do duplo (quiçá triplo ou quádruplo, se contarmos a instância extraordinária) grau de jurisdição”
Apenas por uma questão de estudo, precisamos diferenciar o dano moral direto e o dano moral indireto, posto que se compõem em classificações decorrentes do requisito “causalidade entre o dano e o fato”, imprescindível para a configuração do dano indenizável.
O primeiro se alude a uma lesão específica de um direito extrapatrimonial, como os direitos da personalidade.
Já o dano moral indireto acontece quando há uma lesão específica a um bem ou interesse de natureza patrimonial, mas que, de modo mecânico, causa um dano no domínio extrapatrimonial, como é o caso, por exemplo, do furto de um bem com valor afetivo ou, no âmbito do direito do trabalho, o rebaixamento funcional ilícito do empregado, que, além do prejuízo financeiro, traz efeitos morais lesivos ao trabalhador.
É interessante diferenciar o dano moral indireto do dano moral em ricochete (ou dano reflexo). No primeiro, tem-se uma violação a um direito da personalidade de um sujeito, em função de um dano material por ele mesmo sofrido; no segundo, tem-se um dano moral sofrido por um sujeito, em função de um dano (material ou moral, pouco importa) de que foi vítima um outro indivíduo, ligado a ele.
Cuidar dos filhos é uma obrigação contida no texto constitucional e, para alguns julgadores, o abandono afetivo de um dos genitores provocaria numa ilicitude civil. Segundo Dias (2016, p. 164) “O conceito atual de família é centrado no afeto como elemento agregador, e exige dos pais o dever de criar e educar os filhos sem lhes omitir o carinho necessário para a formação plena de sua personalidade. A enorme evolução das ciências psicossociais escancarou a decisiva influência do contexto familiar para o desenvolvimento sadio de pessoas em formação. Não se pode mais ignorar essa realidade, tanto que se passou a falar em paternidade responsável. Assim, a convivência dos pais com os filhos não é um direito, é um dever. Não há o direito de visitá-lo, há a obrigação de conviver com eles. O distanciamento entre pais e filhos produz sequelas de ordem emocional e podecomprometer o seu sadio desenvolvimento. O sentimento de dor e de abandono pode deixar reflexos permanentes em sua vida.” A jurisprudência vem entendendo ser precisada a indenização por danos morais por tratar-se de ato ilícito (abandono afetivo) capaz de provocar prejuízo moral ou material e toda ilicitude que cause danos (material ou moral) deve ser indenizado.
A falta de convívio dos pais com os filhos, em face do rompimento do elo de afetividade, pode gerar severas sequelas psicológicas e comprometer o seu desenvolvimento saudável. E nesse Viés a indenização é, na realidade, restabelecimento da situação anterior ao dano. Nesse sentido, o art. 944 do CC/2002 especifica que “a indenização mede-se pela extensão do dano”, tendo, assim, o lesado o direito de receber perdas e danos (dano emergente e lucro cessante).
BIBLIOGRAFIA
Bittar, Carlos Alberto. Reparação civil por danos morais. 4 ed – São Paulo: Saraiva, 2015.
Dias, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. – 4 ed – São Paulo: Revistas do Tribunais, 2016.
Gagliano, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. — 12. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2014.
Tutela antecipada e Tutela provisória – comparativo CPC 1973 e 2015.
Em uma das mais incisivas mudanças do novo sistema processual, o NCPC muda consideravelmente o panorama em relação às situações de urgência. Vale destacar, desde logo, que diversas são as dúvidas e polêmicas, sendo que muitas questões somente serão pacificadas pelo STJ, em alguns anos.
 Antes, tutela antecipada e processo cautelar eram tratados em livros separadas e eram requeridos de maneiras distintas (nos mesmos autos e em autos apartados, respectivamente).
 Agora, ainda que haja distinção entre as duas, ambas as formas de se tutelar a urgência estão no mesmo livro e com mecanismo de se requerer bem semelhante.
 Sob a denominação tutela provisória o NCPC reuniu o regramento referente à tutela de urgência e à tutela de evidência (esta última, inovação).
 Nas disposições gerais relativas ao assunto, consta que a "tutela provisória pode ter por fundamento urgência ou evidência" (NCPC, art. 294).
 Assim, tutela provisória é gênero, dentro do qual existem duas espécies: tutela de urgência e tutela de evidência.
 De seu turno, a espécie tutela de urgência se divide em duas subespécies: tutela de urgência cautelar e tutela de urgência antecipada (art. 294, parágrafo único).
A tutela de urgência (qualquer delas) poderá ser requerida em caráter antecedente ou incidental (NCPC, art. 294, parágrafo único). No caso da concessão em caráter antecedente, teremos algo semelhante com a antiga cautelar preparatória, mas sem se falar em processo em apartado e não haverá necessidade de custas (art. 295).
Segundo Cunha e Freire (2016, p. 294) “A tutela de urgência é sempre fundada em periculum in mora, ou seja, numa situação de risco ou de perigo iminente à efetividade do processo ou ao próprio direito material. Já a tutela de evidência não exige periculum in mora para a sua concessão, sendo fundada num alto grau de probabilidade da existência do direito. A tutela de urgência pode ser antecipada ou cautelar. Difere a tutela antecipada da tutela cautelar, porque a primeira é satisfativa (permissão para a imediata realização de cirurgia, numa demanda proposta em face do plano de saúde) enquanto a segunda é apenas conservativa (arresto de bens para garantir a utilidade de futura execução por quantia certa).” Não existe mais o "processo cautelar" (o livro foi todo extinto). Agora medidas cautelares serão concedidas dentro do próprio processo principal independentemente de serem antecipadas ou cautelares.
O arresto, o sequestro e o arrolamento, não são mais como medidas típicas previstas no código. As medidas continuam sendo possíveis, mas não há no CPC nenhum livro as regulamentando especificamente. 
Em relação à tutela de urgência incidental, o procedimento passa a ser bem simples: em processo que já tramita, basta apresentar uma petição apontando os requisitos e requerendo uma medida de urgência. Sem custas, cópias de autos ou qualquer outra formalidade. Segundo Barroso (2016, p .30) “As tutelas de urgência se fundamentam no artigo 5.º, XXXV, da CF/1988, que impõe ao Judiciário a função de oferecer ao jurisdicionado uma tutela eficaz. Esse princípio veio	estampado no art. 3.º do CPC/2015, reforçando a premissa constitucional. Evidentemente, maior eficiência na prestação da tutela jurisdicional é obtida quando o Judiciário (ou outros órgãos dotados de função jurisdicional) atua para evitar a lesão, o que garante a proteção do bem in natura e não uma compensação pela lesão consumada (indenização). Da mesma forma, estando o magistrado diante de alto grau de probabilidade do direito do autor, não se justifica, sob pena de gerar injustiça e forte lesão à efetividade, prolongar o tempo pelo qual ele está afastado do exercício de seu direito (que é notório, explícito, inequívoco ou evidente). Assim, ao fundamentar as tutelas provisórias, na prática, o operador do direito sempre poderá invocar a fundamentação constitucional como justificativa para as tutelas preventivas.”
O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para efetivar a tutela provisória, que observará, no que couber, as normas referentes ao cumprimento provisório da sentença (NCPC, art. 297, caput, e parágrafo único).
Na decisão que conceder, negar, modificar ou revogar a tutela provisória o juiz motivará seu convencimento de modo claro e preciso (NCPC art. 298).
Com relação a tutela de urgência no CPC/2015, passamos a ter a tutela de urgência antecedente e tutela de urgência incidental. Tanto a tutela de urgência (antecipada e cautelar) podem ser requeridas de forma antecedente ou incidental. Segundo Barroso (2016, p. 31) “Outro requisito importante de se atentar é a respeito da modalidade da tutela provisória, podendo ser ela antecedente ou incidental. A distinção entre antecedente e incidental está no momento do requerimento da tutela provisória. Será antecedente quando requerida antes da petição inicial e, incidental, a requerida durante o curso do processo já existente, inclusive na própria petição inicial.”
No CPC/73 a tutela antecipada é deferida no mínimo tendo um processo em trâmite. A cautelar antecedente já é uma realidade entre nós. Mas a tutela antecipada antecedente não existia. O processo cautelar incidental foi suprimido, ou seja, o processo cautelar durante o tramite do processo principal, não existe mais no NCPC. Isto se resolve através de petições protocoladas no bojo do processo principal.
No NCPC, o legislador decidiu pela identificação dos requisitos positivos, dispostos no artigo 300, caput. Entre eles estão: a probabilidade do direito (através de elementos que o evidenciem) e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.
Também não existe mais a figura do requisito da prova inequívoca da verossimilhança da alegação. O que se necessita são de elementos que evidenciem a probabilidade do direito. Como o legislador não fez nenhuma restrição, estes elementos podem ser probatórios (qualquer prova que tenha um aspecto formal confiável) ou até elementos meramente argumentativos (ou seja, da verossimilhança da alegação – os elementos argumentativos do autor já podem ser suficientes para convencer o magistrado).
A tutela antecipada é a tutela de urgência satisfativa (natureza jurídica). A tutela antecipada continua sendo a tutela de urgência voltada para a satisfação imediata do direito. A tutela antecipada pode ser requerida de forma incidental ou antecedente.
No NCPC o procedimento da tutela antecipada antecedente, requer menos formalidades do que anteriormente. São necessários a petição inicial (com menos formalidades do que a petição inicial tradicional), que deve conter (art. 303, caput, NCPC): requerimento da tutela antecipada; indicar o pedido de tutela final (consiste, na verdade, no pedido de tutela definitiva pretendida– a tutela provisória necessariamente deve guardar uma instrumentalidade com a tutela definitiva); exposição da lide (a lide não é um termo processual, mas um fenômeno sociológico, é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida; a lide de instaura no plano dos fatos e não no plano do processo), por isso deve-se narrar o conflito de interesses que se quer ver resolvido pela tutela definitiva; direito que se busca realizar (é algo que parece já estar contemplado nos requisitos anteriores); perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.
O caput do artigo 311 do NCPC exprime o que se trata de uma tutela de evidência, sendo esta uma tutela provisória sem o requisito da urgência, isto é, não se deve buscar o perigo de ineficácia do resultado final do processo ou eventual perecimento do direito da parte. Segundo Freire e Cunha (2016, p. 311) “A tutela de evidência pode ser conceituada como uma tutela sumária não definitiva de cunho satisfativo, fundada num alto grau de probabilidade da existência do direito, que prescinde da urgência para a sua concessão. Portanto a tutela de evidência é· semelhante a uma tutela antecipada sem o requisito do periculum in mora. Se, por exemplo, o autor apresenta prova pré-constituída e, formular pedido com fundamento em tese finda no Julgamento de um recurso especial repetitivo, o juiz pode adiantar os efeitos práticos da sentença de mérito em razão do alto grau de probabilidade da existência do direito afirmado, mesmo que na hipótese não exista urgência.” Assim, a ideia da tutela da evidência é fundamentar apenas a probabilidade do direito existir.
BIBLIOGRAFIA
Barroso, Darlan; Lettére, Juliana Francisca. Prática processual no novo processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
Freire, Rodrigo da Cunha Lima; Cunha, Maurício; Ferreira; Bonelli, Renato Medrado. Novo Código de Processo Civil - CPC para concursos: Doutrina, Jurisprudência e questões de concursos I coordenador Ricardo Didier - 6. ed. rev., ampl. e atual. - Salvador: Juspodivm, 2016.
Aplicação do Código Defesa de Consumidor às Contratações Eletrônicas.
A Constituição de 1988 deixou claro que deveria ser elaborado um Código de Defesa do Consumidor, que acabou por vir ao mundo jurídico por meio da Lei 8.078/1990.
É importante destacar que a Constituição determinou a elaboração de um Código de Defesa do Consumidor, e não de um mero código de relações de consumo. Isso significa que o código deveria trazer (e trouxe) normas que tomam partido em favor do consumidor, tratando-o de maneira especial, com vantagens e prerrogativas maiores do que as do fornecedor, tudo com vistas a deixar mais equilibrada a relação jurídica entre os dois.
A Constituição de 1988 estava tão preocupada com o grande desequilíbrio que havia entre o fornecedor e o consumidor, que acabou por trazer várias normas acerca da proteção do consumidor, conforme se pode verificar na seguinte relação: art. 48, ADCT: "o Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor"; art. 5°, XXXII, CF: 'o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor". Repare que a defesa do consumidor é cláusula pétrea, pois está no art. 5° da CF; art. 1°, inciso III, CF: é fundamento da República a ''dignidade da pessoa humana". Essa dignidade das pessoas deve estar protegida em todos os aspectos de sua personalidade, tais como a pessoa como trabalhadora, como parte de uma família, como presidiária, como consumidora etc; art. 150, §5°, CF: "a lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços". A Lei 12.741/2012 regulamenta o assunto; art. 170, CF: um dos princípios da ordem econômica é a ''defesa do consumidor". Aliás, a finalidade da ordem econômica é "assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social".
Para que se aplique o CDC é necessário que se configure uma relação de consumo ou alguma hipótese em que o CDC equipare algumas pessoas a consumidor.
Para a configuração de uma relação de consumo são necessários três elementos: a) o objetivo (a existência de um produto ou de um serviço); b) o subjetivo (a existência de um fornecedor e de um consumidor); e c) o finalístico (a aquisição ou utilização de produto ou serviço como destinatário final).
O consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final (art. 2° do CDC). Observe que a pessoa jurídica também pode ser consumidora. Ou seja, é possível que uma empresa adquira algum produto e venha a pedir a proteção do CDC.
Já o fornecedor é definido como toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços (art. 3°, caput, do CDC). Repare que uma pessoa física também pode ser fornecedora. São exemplos o médico, o arquiteto, o fisioterapeuta, que atuam de modo autônomo
A relação de consumo só se configura, quanto ao elemento objetivo, se estiver presente um produto ou um serviço. O produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial (art. 3°, § l º, do CDC). Já o serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista (art. 3°, § 2°, do CDC). O primeiro é que, para que se tenha um serviço regido pelo CDC, deve-se tratar de uma atividade fornecida no mercado de consumo. Atividades fornecidas no mercado de consumo são aquelas que envolvem oferta ao mercado, produção em série, oferecimento ao público, ofertas em veículos de comunicação etc.
Uma vez que o consumidor celebre um contrato (como por exemplo as contratações eletrônicas) com o fornecedor, o primeiro passa a receber uma proteção especial, que é a proteção contratual, prevista nos arts. 46 e seguintes do CDC. Segundo Bolzan (2014, p. 577) “Do rol exemplificativo das compras realizadas fora do estabelecimento comercial e as compras via internet podemos fazer uma análise do Decreto n. 7.962, de 2013, que dispõe sobre a contratação no comércio eletrônico. Apesar de o Código de Defesa do Consumidor fazer referência às compras realizadas por telefone ou em domicílio, é evidente o caráter exemplificativo do disposto no citado art. 49, mesmo porque o próprio dispositivo legal valeu­-se do termo “especialmente”. Assim, em toda forma de contratação fora do estabelecimento comercial será concedido o prazo de 7 dias para o consumidor exercer seu direito de arrependimento, tais como as contratações efetivadas: por telefone (por meio das televendas); em domicílio (com vendedores batendo à porta dos consumidores); por correspondência (por meio de mala direta ou qualquer outra maneira por intermédio postal); pela internet ou qualquer outro meio eletrônico.”
A primeira regra de proteção é a que estabelece dois pressupostos de vinculação do consumidor a um contrato. Esses pressupostos são os seguintes: a) a oportunidade de conhecimento prévio de seu conteúdo; b) a existência de redação e apresentação de fácil compreensão.
Confira a regra do art. 46 do CDC: "os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.'
Outra importante regra de proteção contratual é a da interpretação mais favorável ao consumidor (art. 47 do CDC), cujo teor é a seguinte: 'as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor".
Outra regra importante de proteção contratual é a que estabelece a vinculação de escritos. Confira (art. 48 do CDC): 'as declarações de vontade constantes de escritosparticulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de consumo vinculam o fornecem ensejando inclusive execução específica, nos termos do art. 84 e parágrafos". Conforme Bolzan (2014, p. 571) “Determina o art. 48 do CDC que as “declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré­-contratos relativos às relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execução específica, nos termos do art. 84 e parágrafos”. Desta forma, na Lei n. 8.078/90, não somente a oferta ou a publicidade são vinculantes; também o serão: os escritos particulares; os recibos; e os pré­-contratos”. 
Essa regra é interessante, devendo o consumidor, quando for comprar um imóvel, por exemplo, guardar os rascunhos das propostas, bem como outros documentos e escritos, pois tais elementos vinculam o fornecedor e permitem que o consumidor ingresse com ação buscando execução específica das obrigações decorrentes desses escritos.
Outra regra bastante importante é a que assegura o direito de arrependimento nas compras feitas fora de estabelecimento comercial, também chamada de denúncia vazia do contrato de consumo. Confira a regra (art. 49): 'o consumidor pode desistir do contrato, no prazo de sete dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos ou serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio. De acordo com Bolzan (2014, p. 580) “O prazo legal existente para o arrependimento nas contratações realizadas fora do estabelecimento comercial é o de 7 dias, contados da assinatura do contrato ou do recebimento do produto ou serviço. A questão que merece ser levantada consiste em saber se as partes envolvidas na relação de consumo podem convencionar prazo diverso do expresso no Código de Defesa do Consumidor. A resposta à luz do Diploma Consumerista é positiva, desde que o prazo de arrependimento convencional seja superior a 7 dias. Isto porque, se for inferior a este prazo, irá violar o preceito de que a Lei n. 8.078/90 traz em seu conteúdo normas de ordem pública e de interesse social e a consequência respectiva de que o consumidor não poderá derrogar direitos do CDC. De fato, aceitando prazo de reflexão inferior a 7 dias, estaria o consumidor abrindo mão do direito insculpido no art. 49, caput, do Código do Consumidor”. Repare que esse direito só existe em compras feitas fora do estabelecimento comercial (compras realizadas por telefone, em domicílio, pela internet). Repare, também, que o consumidor tem 7 dias corridos, e não 7 dias úteis, para exercer seu direito de arrependimento, sendo que esse prazo começa a ser contado do momento em que o consumidor estiver com o produto em sua disponibilidade, o que coincide, normalmente, com a entrega do produto ou serviço. Por fim, repare que o consumidor tem direito de receber tudo o que pagou de volta, inclusive com correção monetária.
BIBLIOGRAFIA
Bolzan, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. – 2. ed. – São Paulo: Saraiva, 2014

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