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2º.Unidade (Princípios.do.Direito.Penal.Brasileiro)

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1 
 
CURSO – DIREITO 
DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO PENAL I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2ª Unidade. 
Princípios do Direito Penal Brasileiro. 
 
 
 
 
Prof. Eribelto Peres Castilho 
 
 
2 
 
 
 
Conteúdo Programático: 
 
 Princípios do Direito Penal: 
 
1. Princípio da Legalidade. 
 
2. Princípio da Intervenção Mínima. 
 
3. Princípio da Intervenção Mínima na América Latina. 
 
4. Princípio da Lesividade. 
 
5. Princípio da Humanidade. 
 
6. Princípio da Culpabilidade. 
 
7. Princípio da Insignificância (ou Bagatela). 
 
 
 
1. Princípio da Legalidade: 
 
 Assinala inicialmente Nilo Batista que: “O princípio da legalidade, 
também conhecido por ‘princípio da reserva legal’ e divulgado pela fórmula 
‘nullum crimen nulla poena sine lege’, surge historicamente com a revolução 
burguesa e exprime, em nosso campo, o mais importante estágio do 
movimento então ocorrido na direção da positividade jurídica e da publicização 
da reação penal. Por um lado resposta pendular aos abusos do absolutismo e, 
por outro, afirmação da nova ordem, o princípio da legalidade a um só tempo 
garantia o indivíduo perante o poder estatal e demarcava este mesmo poder 
como o espaço exclusivo da coerção penal. Sua significação e alcance 
políticos transcendem o condicionamento histórico que o produziu, e o princípio 
 
3 
 
da legalidade constitui a chave mestra de qualquer sistema penal que se 
pretenda racional e justo”.1 
 Prossegue o jurista observando que: “A fórmula latina foi cunhada e 
introduzida na linguagem jurídica pelo professor alemão Paulo João Anselmo 
Feuerbach (1775-1833), especialmente em seu Tratado que veio a lume em 
1801. Ao contrário do que se difunde freqüentemente, das obras de Feuerbach 
não consta a fórmula ampla ‘nullum crimen nulla poena sine lege’; nelas se 
encontra, sim, uma articulação das fórmulas ‘nulla poena sine lege’, ‘nullum 
crimen sine poena legali’ e ‘nulla poena (legalis) sine crimine’. Um dos pilares 
sobre os quais se assentava a construção feuerbachiana estava em sua 
concepção preventivo-geral da pena, entendida como ‘coação psicológica’. Se 
a intimidação era a mais relevante função da pena, e sua inflição deveria 
reforçar esse intimidatório, só poderia ser inflingida a pena com a qual a própria 
lei ameaçara. Outro pilar estava em seu arraigado liberalismo, que através do 
código penal não só pretendia a defesa do estado diante do criminoso mas 
também do criminoso diante do estado. É inegável, por fim, o influxo da 
concepção contratualista e da questão – predominante no debate político da 
época – da divisão de poderes, tão presente no classicismo penal, como se 
pode constatar, por exemplo, em Beccaria [“Apenas as leis podem fixar as 
penas com relação aos delitos praticados; e esta autoridade não pode residir 
senão na pessoa do legislador, que representa toda a sociedade agrupada por 
um contrato social. Nenhum magistrado (que também faz parte da sociedade 
pode, com justiça, inflingir penas contra outro membro da mesma sociedade” 
(Dos delitos e das penas. Trad. A. Carlos Campana, S. Paulo, 1978, p. 109)]”.2 
 Em nossa atual Constituição Federal, o princípio da legalidade figura 
entre os direitos e garantias fundamentais: 
 
 Art. 5º, inc. XXXIX: ‘não há crime sem lei anterior que o defina, nem 
pena se prévia cominação legal’. 
 
1
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, p. 65. 
2
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, pp. 66 e 67. 
 
4 
 
 
 Observa Nilo Batista que todas as Constituições Federais brasileiras 
“proclamaram o princípio; C.F. 1824, art. 149, nº 11; C.F.1891, art. 72, § 15; 
C.F. 1934, art. 113, nº. 26; C.F. 1937, art. 122, nº 13; C. F. 1946, art. 141, § 27; 
C. F. 1967/E. 69, art. 153, § 16 (cuja redação, nas palavras de Pontes de 
Miranda, constituiu ‘documento histórico da insuspeitada mediocridade 
governante de 1964-1967” (Comentários à Constituição de 1967, s. Paulo, 
1971, t. V, p. 242)”.3 
 
 No Código Penal, o princípio da legalidade consta em seu art. 1º com a 
seguinte redação: 
 
 Art. 1º: ‘Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem 
prévia cominação legal’. 
 
 Importante observar que a abrangência do princípio da legalidade 
disposto no artigo 1º do Código Penal inclui “a pena cominada pelo legislador, 
a pena aplicada pelo juiz e a pena executada pela administração, vedando-se 
que critérios de aplicação ou regimes de execução da pena, até mesmo a 
matéria disciplinar está agora comprometida com o princípio da legalidade, 
como se vê do artigo 45 da Lei de Execução Penal [Lei 7.210, de 11. jul. 84 – 
Lei de Execução Penal (LEP), art. 45: “Não haverá falta nem sanção disciplinar 
sem expressa e anterior previsão legal ou regulamentar”.]”.4 
 Pode o princípio da legalidade, visto pelo prisma de garantia individual, 
ser decomposto em quatro funções, que examinaremos a seguir: 
 
 
3
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, p. 68 (nota 12). 
4
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, p. 68. 
 
5 
 
 1ª Proibir a retroatividade da lei penal (nullum crimen nulla poena sine 
lege praevia): 
 
 Observa Nilo Batista que: “Temos aqui a função ‘histórica’ do princípio 
da legalidade, que surgiu exatamente para reagir contra leis ex post facto. Tudo 
que se refira ao crime (por exemplo, supressão de um elemento integrante de 
uma justificativa, qual a vox ‘iminente’ na legítima defesa) e tudo que se refira à 
pena (por exemplo, retificação gravosa na disciplina da prescrição) não pode 
retroagir em detrimento do acusado. É hoje opinião doutrinária dominante que 
a irretroatividade deva aplicar-se também à medidas de segurança. Note-se 
que a lei penal retroagirá sempre que beneficiar o acusado, seja pela 
revogação da norma incriminadora (abolitio criminis), seja por qualquer outro 
modo (art. 2º CP), excetuando-se as chamadas leis excepcionais (promulgadas 
em face de situações especialmente calamitosas ou conflitivas) e leis 
temporárias (promulgadas com termo de vigência) – (art. 3º CP). O 
aprofundamento dessas questões, bem como a caracterização do que seja, na 
hipótese de concurso, a lei mais favorável, pertencem à teoria da lei penal. 
 Sustentou-se que o chamado Tribunal de Nuremberg violou o princípio 
da legalidade, sob o aspecto da irretroatividade da lei penal. No Brasil, o caso 
mais escandaloso foi a imposição, por decreto, da pena de banimento a presos 
cuja liberdade era reclamada como resgate de diplomatas seqüestrados por 
organizações políticas clandestinas, durante a ditadura militar. Sem reserva 
legal e sem processo, os presos – que nada haviam feito – eram atingidos por 
autêntico bill of attainder impondo-se-lhes uma pena não contemplada 
previamente em lei”.5 
 
 2ª Proibir a criação de crimes e penas pelo costume (nullum crimen 
nulla poena sine lege scripta): 
 
 
5
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, p. 69. 
 
6 
 
 “Só a lei escrita, isto é, promulgada de acordo com as previsões 
constitucionais, pode criar crimes e penas: não o costume. ‘Destacar a 
exclusão do costume como fonte de crimes e penas, frisa Mir Puig, é exigência 
doprincípio da legalidade. Isso significa, por certo, que os costumes não 
participem da experiência jurídico-penal: Assis Toledo assinala tratar-se de 
‘equívocos a suposição de que o direito costumeiro esteja totalmente abolido 
do âmbito penal’. De fato, é indiscutível que os costumes desempenham uma 
função integrativa, que provém principalmente de sua influência no direito 
privado. Tal função integrativa se apresenta na elucidação de elementos de 
alguns tipos penais (por exemplo, ‘mulher honesta’ no tipo do rapto – art. 129 
CP –, ou ‘ato, objeto ou recitação obscenos, nos tipos de ultraje público ao 
pudor – arts. 233 e 234 CP). Apresenta-se ela igualmente no conceito central 
(dever objetivo de cuidado) dos tipos culposos, sempre que a atividade dentro 
da qual ocorreu o fato não esteja positivamente regulamentada de modo 
exaustivo, como também sem justificativas (pense-se no exercício regular do 
direito – art. 23, inc. III, CP – enquanto aplicação de castigos físicos na 
correção educacional de menores)”.6 
 
 3ª Proibir o emprego de analogia para criar crimes, fundamentar ou 
agravar penas (nullum crimen nulla poena sine lege stricta): 
 
 Assinala Nilo Batista que: “Chama-se analogia o procedimento lógico 
pelo qual o espírito passa de uma enunciação singular a outra enunciação 
singular (tendo, pois, caráter de uma indução imperfeita ou parcial), inferindo a 
segunda em virtude de sua semelhança com a primeira; no direito, teríamos 
analogia quando o jurista atribuísse a um caso que não dispõe de expressa 
regulamentação legal a(s) regra(s) prevista(s) para um caso semelhante”7 
 Observa ainda o jurista que “o direito penal nazista utilizava-se 
largamente da analogia. (...) Na União Soviética, desde o código de 1960, que 
 
6
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, pp. 70 e 71. 
7
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, p. 74. 
 
7 
 
se seguiu à ‘bases’ de 1958, a analogia é uma ‘instituição abolida’. (...) No 
Brasil, muitas vezes admitiu-se e praticou-se a analogia vedada. Rememora 
Fragoso um decreto-lei do Estado Novo (nº 4.166, de 11 mar. 42) que 
‘expressamente autorizava o recurso à analogia’. (...) Em seu importante 
trabalho, Rosa Cardoso demonstra como a admissão de pessoas jurídicas na 
posição de sujeito passivo do crime de difamação previsto no Código Penal 
(art. 139, entre os ‘crimes contra a pessoa’, e usando a vox ‘alguém’, 
caracterizadora de pessoa humana) representa emprego de analogia”.8 
 Por fim, observa ainda Batista que: “O artigo 4º da Lei de Introdução ao 
Código Civil recomenda que, na omissão da lei, o juiz decida ‘de acordo com a 
analogia, os costumes e os princípios gerais do direito’. Temos, no direito 
penal, limites a tal recomendação, derivados do princípio da reserva legal, 
limites esses que incidem sobre as normas que definem crimes e cominam ou 
agravam penas. Além desses limites, o desenvolvimento do direito penal, pela 
colmatagem de suas lacunas, só encontra a fronteira político-criminal da 
intervenção mínima, também expressa em seu caráter fragmentário – que será 
mais tarde examinado”.9 
 
 4ª Proibir incriminações vagas e indeterminadas (nullum crimen nulla 
poena sine lege certa): 
 
 Nilo Batista nos chama a atenção para o fato de que a “função de 
garantia individual exercida pelo princípio da legalidade estaria seriamente 
comprometida se as normas que definem os crimes não dispusessem de 
clareza denotativa na significação de seus elementos, inteligível por todos os 
cidadãos. Formular tipos penais ‘genéricos ou vazios’, valendo-se de ‘cláusulas 
gerais’ ou ‘conceitos indeterminados’ ou ‘ambíguos’, equivale teoricamente a 
nada formular, mas é prática e politicamente muito mais nefasto e perigoso. 
Não por acaso, em épocas e países diversos, legislações penais voltadas à 
 
8
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, pp. 75 e 76. 
9
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, p. 77. 
 
8 
 
repressão e controle de dissidentes políticos escolheram precisamente esse 
caminho para a perseguição judicial de opositores do governo. Soler registrou 
que se recorre com freqüência a esse expediente em caso de delitos criados 
deliberadamente com intenção política. No Brasil, as famigeradas leis de 
segurança nacional compunham autêntico florilégio de tipos penais violadores, 
pela construção de crimes vagos, do princípio da legalidade, e coube 
especialmente a Fragoso, em inúmeros trabalhos, profligar-lhes tal vício. [Em 
diversos artigos, relatórios da OAB e defesas de presos políticos, Heleno 
Fragoso se deteve na denúncia da violação do princípio da legalidade pela 
criação de tipos penais vagos e indeterminados; cf. Lei de Segurança Nacional 
– uma experiência antidemocrática, P. Alegre, 1980]. A vigente lei de 
segurança nacional (lei nº 7.170, de 14.dez.83), considerada por muitas como 
palatável forma evolutiva das anteriores, incrimina, em seu artigo 15, ‘praticar 
sabotagem contra instalações militares, meios de comunicação, meios e vias 
de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragens, 
depósito e outras instalações cogêneres’, estabelecendo seu § 2º a punição 
dos ‘atos preparatórios de sabotagem’. Se ‘praticar sabotagem’ configura, já 
por si, um núcleo bastante indeterminado para o tipo, seus atos preparatórios 
são infinitamente multiformes; por outro lado, quem, em estado de sanidade 
mental, será capaz de definir ‘instalações cogêneres’, a um só tempo, de uma 
estrada, uma fábrica, uma usina e um depósito?”.10 
 
2. Princípio da Intervenção Mínima: 
 
 Segundo Nilo Batista o Princípio da Intervenção Mínima também surgiu 
“por ocasião do grande movimento social de ascensão da burguesia, reagindo 
contra o sistema penal do absolutismo, que mantivera o espírito 
minunciosamente abrangente das legislações medievais. Montesquieu tomava 
um episódio da história do direito romano para assentar que ‘quando um povo 
é virtuoso, bastam poucas penas’; Beccaria advertia que ‘proibir uma enorme 
 
10
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, pp. 78 e 79. 
 
9 
 
quantidade de ações indiferentes não é prevenir os crimes que delas possam 
resultar, mas criar outros novos’; e a Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão prescrevia que a lei não estabelecesse senão penas ‘estrita e 
evidentemente necessária’ (art. VIII). 
 Tobias Barreto percebera que ‘a pena é um meio extremo, como tal é 
também a guerra’. E, de fato, por constituir ela, como diz Roxin, a ‘intervenção 
mais radical na liberdade do indivíduo que o ordenamento jurídico permite ao 
estado’, entende-se que o estado não deva ‘recorrer ao direito penal e sua 
gravíssima sanção se existir a possibilidade de garantir uma proteção suficiente 
com outros instrumentos jurídicos não-penais’, como leciona Quintero Olivares. 
O conhecimento de que a pena é, nas palavras deste último autor, uma 
‘solução imperfeita’ – conhecimento que, de Howard até a mais recente 
pesquisa empírica, a instituição penitenciária só logrou fortalecer – firmou a 
concepção da pena como ultima ratio: o ‘direito penal só deve intervir nos 
casos de ataques muito graves aos bens jurídicos mais importantes, e as 
perturbações maisleves da ordem jurídica são objetos de outros ramos do 
direito’”.11 
 Todavia, ainda que o Princípio da Intervenção Mínima deva ser o espírito 
rector da confecção do Direito Penal, nos chama a atenção Nilo Batista para o 
fato de que tal princípio “não está expressamente inscrito no texto 
constitucional (de onde permitiria o controle judicial das iniciativas legislativas 
penais) nem o código penal, integrando a política criminal; não obstante, 
impõe-se ele ao legislador e ao intérprete da lei, como um daqueles princípios 
imanentes a que se referia Cunha Luna, por sua compatibilidade e conexões 
lógicas com outros princípios jurídico-penais, dotado de positividade, e com 
pressupostos políticos do estado de direito democrático”.12 
 
11
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, p. 85. 
12
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, pp. 84 e 85. 
 
10 
 
 Como se vê, o “princípio da intervenção mínima se converte, assim, num 
princípio político-criminal limitador do poder punitivo do estado”.13 
 
3. Princípio da Intervenção Mínima na América Latina: 
 
 Zaffaroni e Pierangeli asseveram, acertadamente, que “No nosso 
contexto latino-americano, apresenta-se todo um argumento de reforço em 
favor da mínima intervenção do sistema penal. Toda a América está sofrendo 
as conseqüências de uma agressão aos Direitos Humanos (que chamamos de 
injusto jushumanista), que afeta o nosso direito ao desenvolvimento, que se 
encontra consagrado no art. 22 (e disposições concordantes) da Declaração 
Universal dos Direitos Humanos. Este injusto jushumanista tem sido 
reconhecido pela Organização dos Estados Americanos (OEA), através da 
jurisprudência internacional da Comissão dos Direitos Humanos, que declara 
ter sido violado o direito ao desenvolvimento em El Salvador e no Haiti. A 
existência deste injusto jushumanista não é, pois, uma afirmação ética, mas 
uma afirmação jurídica, reconhecida pela jurisprudência internacional”.14 
 Desse modo, prosseguem ainda os autores: “Se a intervenção do 
sistema penal é, efetivamente, violenta, e sua intervenção pouco apresenta de 
racional e resulta ainda mais violenta, o sistema penal nada mais faria que 
acrescentar violência àquela que, perigosamente, já produz o injusto 
jushumanista a que continuamente somos submetidos. Por conseguinte, o 
sistema penal estaria mais acentuando os efeitos gravíssimos que a agressão 
produz mediante o injusto jushumanista, o que resulta num suicídio. A clara 
conclusão disto é que o sistema penal deve corresponder ao princípio da 
intervenção mínima na América Latina, não somente pelas razões que se 
apresentam como válidas nos países centrais, mas também em face de nossa 
 
13
 MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción al Derecho penal. Barcelona: Ed. Bosh, 1975, p. 
71. Apud. BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: 
Ed. Revan, 2001, p. 85 (nota 9). 
14
 ZAFFARONI, Eugenio Raúl & PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal 
Brasileiro – Parte Geral. 7ª ed., São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais (RT), 2008, p. 74. 
 
11 
 
característica de países periféricos, que sofrem os efeitos do injusto 
jushumanista de violação do direito ao desenvolvimento”.15 
 
4. Princípio da Lesividade: 
 
 Assinala Rogério Greco que os “princípios da intervenção mínima e da 
lesividade são como que duas faces de uma mesma moeda. Se, de um lado, a 
intervenção mínima somente permite a interferência do Direito Penal quando 
estivermos distante de ataques a bens jurídicos importantes, o princípio da 
lesividade nos estabelecerá, limitando ainda mais o poder do legislador, quais 
são as condutas que poderão ser incriminadas pela lei penal. Na verdade, nos 
orientará no sentido de saber quais são as condutas que não poderão sofrer os 
rigores da lei penal. (...) O princípio da lesividade, cuja origem se atribui ao 
período iluminista, que por intermédio do movimento se secularização procurou 
desfazer a confusão que havia entre o direito e a moral, possui, no escólio de 
Nilo Batista, quatro funções, a saber”16: 
 
1º - Proibir a incriminação de uma atitude interna: “A primeira das vertentes 
do princípio da lesividade pode ser expressa pelo brocado latino cogitations 
poenam nemo patitur, ou seja, ninguém pode ser punido por aquilo que pensa 
ou mesmo por seus sentimentos pessoais. Não há como, por exemplo, punir a 
ira do agente ou mesmo a sua piedade. Se tais sentimentos não forem 
exteriorizados e não produzirem lesão a bens de terceiros, jamais o homem 
poderá ser punido por aquilo que traz no íntimo do seu ser. Seria a maior de 
todas as punições”.17 
 
 
15
 ZAFFARONI, Eugenio Raúl & PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal 
Brasileiro – Parte Geral. 7ª ed., São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais (RT), 2008, p. 75. 
16
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal _ Parte Geral (arts. 1º a 120 do CP). V. I. 10ª ed. 
Niterói (RJ): Ed. Impetus, 2008, p. 53. 
17
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal _ Parte Geral (arts. 1º a 120 do CP). V. I. 10ª ed. 
Niterói (RJ): Ed. Impetus, 2008, pp. 53 e 54. 
 
12 
 
2º - Proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do 
próprio autor: “O Direito Penal também não poderá punir aquelas condutas 
que não sejam lesivas a bens de terceiros, pois que não excedem ao âmbito do 
próprio autor, a exemplo do que ocorre com a autolesão ou mesmo com a 
tentativa de suicídio. No Brasil, discutia-se a validade do art. 16 da Lei nº 
6.368/76, que proibia o uso de substância entorpecente. Nilo Batista 
posicionava-se no sentido de que o art. 16 da mencionada legislação ‘incrimina 
o uso de drogas, em franca oposição ao princípio da lesividade e à mais atuais 
recomendações político-criminais’. Mesmo após a edição da Lei nº 11.343, de 
23 de agosto de 2006, a discussão ainda persiste. Isso porque o atual art. 28 
da referida lei ainda incrimina a conduta de consumir drogas. O que houve, na 
verdade, foi uma despenalização, melhor dizendo, uma medida tão-somente 
descarcerizadora, haja vista que o novo tipo penal não prevê qualquer pena 
que importe em privação de liberdade do usuário, sendo, inclusive, proibida sua 
prisão em flagrante, conforme se dessume da redação constante do § 2º do art. 
48 da Lei Antidrogas”.18 
3º - Proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais: 
“A terceira função do princípio da lesividade é a de impedir que o agente seja 
punido por quilo que ele é, e não pelo que fez. Busca-se, assim, impedir que 
seja erigido um autêntico direito penal do autor. Zaffaroni, categoricamente, 
afirma: ‘Seja qual for a perspectiva a partir de que se queira fundamentar o 
direito penal de autor (culpabilidade de autor ou periculosidade), o certo é que 
um direito que reconheça, mas que também respeite, a autonomia moral da 
pessoa jamais pode penalizar o ‘ser’ de uma pessoa, mas somente o seu agir, 
já que o direito é uma ordem reguladora da conduta humana”.19 
 
4º - Proibir a incriminação de condutas desviadas que não afetem 
qualquer bem jurídico: “Finalmente, com a adoção do princípio da lesividade 
busca-se, também, afastar da incidência de aplicação da lei penal aquelas 
condutas que, embora desviadas, não afetam qualquer bem jurídico de 
 
18
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal _ Parte Geral (arts. 1ºa 120 do CP). V. I. 10ª ed. 
Niterói (RJ): Ed. Impetus, 2008, p. 54. 
 
19
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal _ Parte Geral (arts. 1º a 120 do CP). V. I. 10ª ed. 
Niterói (RJ): Ed. Impetus, 2008, p. 54. 
 
13 
 
terceiros. Por condutas desviadas podemos entender aquelas que a sociedade 
trata com certo desprezo, ou mesmo repulsa, mas que, embora reprovadas sob 
o aspecto moral, não repercutem diretamente sobre qualquer bem de terceiros. 
Não se pode punir alguém pelo simples fato de não gostar de tomar banho 
regularmente, por tatuar o próprio corpo ou por se entregar, desde maior e 
capaz, a práticas sexuais anormais. Enfim, muitas condutas que agridem o 
senso comum da sociedade, desde que não lesivas a terceiros, não poderão 
ser proibidas ou impostas pelo Direito Penal”.20 
 
5. Princípio da Humanidade: 
 
 Observa Nilo Batista que: “Quem vê, em Mommsen [MOMMSEN, 
Theodor. Les droit penal romain. (Trad. J. Duquesne). Paris: Ed. A. Fontemoig, 
1907] as execuções da pena de morte no direito romano, tão impregnada de 
ritos e conteúdos simbólicos e religiosos, tão cruelmente indiferentes ao 
sofrimento e ao desespero humano, e vê a descrição da execução de Damiens, 
em 1757, com a qual Foucault [FOUCAULT, Michel. Surveiller et punir. França: 
Ed. Gallimard, 1975] abre seu importante livro sobre o nascimento da prisão, 
talvez se espante com a semelhança de ‘estilo penal’ ao longo de tantos 
séculos. E se procurar certificar-se, no direito penal germânico ou em outras 
legislações medievais, terá a confirmação dessa similitude espantosa. Entre 
nós, um breve exame no livro V das Ordenações Filipinas, que regeram no 
Brasil até 1830, quando promulgado o código imperial, revelará a 
indiscriminada cominação da pena de morte, a objetificação do condenado e a 
discriminação jurídica da pena cabível segundo a classe social do autor da 
vítima. Para os trabalhadores escravos, esses princípios permaneceram com 
plena eficácia mesmo após 1830, através das penas de morte e açoites, 
largamente empregadas, ou nos cruéis castigos do ‘direito penal privado’ 
vigente nos engenhos, na cafeicultura ou nas charqueadas”.21 
 
20
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal _ Parte Geral (arts. 1º a 120 do CP). V. I. 10ª ed. 
Niterói (RJ): Ed. Impetus, 2008, pp. 54 e 55. 
21
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, p. 98. 
 
14 
 
 Prossegue o jurista supracitado assinalando que o Princípio da 
Humanidade “que postula da pena uma racionalidade e uma proporcionalidade 
que anteriormente não se viam, está vinculado ao mesmo processo histórico de 
que se originaram os princípios da legalidade, da intervenção mínima e até 
mesmo – sob o prisma da ‘danosidade social’ – o princípio da lesividade. 
Montesquieu se referia à ‘justa proporção das penas com os crimes’, e 
Beccaria dizia que atribuir a pena de morte para quem mata um faisão ou 
falsifica um documento conduz a uma destruição de sentimentos morais. (...) 
Quando, em 1793, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 
1789, foi retomada e proclamada pela Convenção Nacional, o artigo XV 
mencionava que ‘as penas devem ser proporcionais ao delito e úteis à 
sociedade’. A Emenda VIII à Constituição Americana, ratificada, como todas as 
dez primeiras, em 1971, proibia a inflição de penas cruéis e incomuns. É este 
hoje um princípio largamente aceito, que consta da Declaração Universal dos 
Direitos do Homem e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. 
 A pena nem ‘visa fazer sofrer o condenado’, como observa Fragoso, 
nem pode desconhecer o réu enquanto pessoa humana, como assinala 
Zaffaroni, e esse é o fundamento do princípio da humanidade. Não por acaso, 
os documentos internacionais consideram desumanas as penas como aquela 
executada em Damiens. O princípio pertence à política criminal, porém é 
proclamado por vários ordenamentos jurídicos positivos. Entre nós, está o 
princípio da humanidade reconhecido explicitamente pela Constituição, nos 
incisos III (proibição de tortura e de tratamento cruel e degradante), XLVI 
(individualização – ou seja, ‘proporcionalização – da pena) e XLVII (proibição 
de penas de morte, cruéis ou perpétuas) do artigo 5º CF. Como lembra Munõz 
Conde, a idéia de ‘proporcionalidade integra a idéia de justiça, imanente ao 
direito’; a hipertrofia do direito penal caracteriza o ‘estado totalitário que procura 
afiançar-se através de brutais ameaças penais’. Disso tivemos no Brasil 
expressivos exemplos durante a ditadura militar”.22 
 
22
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, pp. 98, 99 e 100. 
 
 
15 
 
 Por fim, importante asseverar que o Princípio da Humanidade “intervém 
na cominação, na aplicação e na execução da pena, e neste último terreno tem 
hoje, face a posição dominante da pena privativa da liberdade, um campo de 
intervenção especialmente importante. 
 A racionalidade da pena implica tenha ela um sentido compatível com o 
humano e suas cambiantes aspirações. A pena não pode, pois, exaurir-se num 
rito de expiação e opróbrio, não pode ser uma coerção puramente negativa. 
Isso não significa, de modo algum, questionar o caráter retributivo, timbre real e 
inegável da pena. Contudo, a pena que se detém na simples retributividade, e 
portanto converte seu modo em seu fim, em nada se distingue da vingança. A 
pena de morte, estritamente retributiva e negativa (além de ineficaz, do ponto 
de vista da prevenção geral), violenta essa racionalidade. São também 
inaceitáveis, porque desconsideram a auto-regulação como atributo da pessoa 
humana, penas que pretendam interferir fisicamente numa ‘metamorfose’ do 
réu: castração ou esterilização, lobotomia, etc. Um sistema igualitário na 
distribuição da pena (o que significa que, sob os mesmos pressupostos, duas 
pessoas deveriam receber penas semelhantes, correndo as diferenças tão-só à 
conta da individualização), negado pelo direito há duzentos anos, e negado – 
apesar do direito – pelo sistema penal ainda hoje, é outro imperativo da 
racionalidade. Seria perfeitamente possível derivar a proporcionalidade da 
racionalidade, mas convém destacá-la por sua importância no surgimento 
histórico do princípio da humanidade e por sua importância prática. Zaffaroni 
lembra que as penas desproprcionais produzem mais alarma social (afetando o 
que ele considera o aspecto subjetivo da segurança jurídica) do que o próprio 
crime e formula a hipótese do que se passaria nesse terreno se uma lei 
impusesse a pena de mutilação aos punguistas. Da proporcionalidade pode 
extrair-se, igualmente, a proibição de penas perpétuas. Como registrou com 
exatidão Cattaneo, a prisão perpétua, com ‘seu caráter de definitividade, ou 
seja, de eliminação da esperança, contraria o senso da humanidade’. Nossa 
Constituição, como já visto, proíbe a imposição de penas de caráter perpétuo 
(art. 5º, inc. XLVII, al. B CF.)”.23 
 
23
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, pp. 100 e 101. 
 
16 
 
 
6. Princípio da Culpabilidade: 
 
 Preleciona historicamente Nilo Batista que numa “antiga legislação da 
Babilônia, editada pelo rei Hammurabi (1728-1686 a.C.), encontramos que, se 
um pedreiro construísse uma casa sem fortificá-la e a mesma, desabando, 
matasse o morador, o pedreiro seria morto; mas se também morresse o filho do 
morador, também o filho do pedreiro seria morto.Imaginemos um julgamento 
‘modernizado’ desse pedreiro: de nada lhe adiantaria ter observado as regras 
usuais nas construções de uma casa, ou pretender associar o desabamento a 
um fenômeno sísmico natural (uma acomodação do terreno, por exemplo) 
fortuito e imprevisível. A casa desabou e matou o morador: segue-se sua 
responsabilidade penal. Não deixemos de imaginar, igualmente, o julgamento 
do filho do pedreiro. A casa construída por seu pai desabou e matou o morador 
e seu filho: segue-se sua responsabilidade penal. A responsabilidade penal, 
pois, estava associada tão-só a um fato objetivo e não se concentrava sequer 
em quem houvesse determinado tal fato objetivo. Era, pois, uma 
responsabilidade objetiva e difusa”.24 
 Desse modo, prossegue o jurista; “Quando lemos hoje, na Convenção 
Americana sobre Direitos Humanos (artigo 5, 1, 3) ou em nossa Constituição 
(artigo 5º, inciso XLV), proibições de que a pena ultrapasse a pessoa do 
delinqüente, ou mesmo quando encontramos no Código Penal regras que não 
só, relacionando-se àquelas proibições, circunscrevem a imputação objetiva de 
resultados (como a art. 13 CP), mas também exigem a intervenção seja de 
uma vontade consciente, seja de uma relevante negligência (como os artigos 
18 e 19 CP), devemos compreender que um longo processo, certamente 
inconcluso, transformou radicalmente as bases da responsabilidade penal. O 
ponto mais importante desse processo é a produção histórica do princípio da 
culpabilidade. 
 
24
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, p. 102. 
 
17 
 
 O princípio da culpabilidade deve ser entendido, em primeiro lugar, como 
repúdio a qualquer espécie de responsabilidade pelo resultado, ou 
responsabilidade objetiva. Mas deve igualmente ser entendido como exigência 
de que a pena não seja inflingida senão quando a conduta do sujeito, mesmo 
associada causalmente a um resultado, lhe seja reprovável. Voltando ao 
exemplo do pedreiro, isso representaria que o desabamento só funcionaria 
como um limite exterior preliminar e que seria indispensável verificar se o 
pedreiro reprovavelmente quis a morte do morador e seu filho, predispondo 
nesse sentido sua construção, ou quis o desabamento – também predispondo 
nesse sentido a sua construção – ainda que não quisesse diretamente a morte 
provável do morador e seu filho, ou construiu a casa com imperícia 
inescusável. Para além de simples laços subjetivos entre o autor e o resultado 
objetivo de sua conduta, assinala-se a reprovabilidade da conduta como núcleo 
da idéia de culpabilidade, que passa a funcionar como fundamento e limite da 
pena. As relações entre culpabilidade e pena constituem matéria polêmica, que 
integra a teoria do crime, onde a estrutura e as funções dogmáticas da 
culpabilidade, seja na economia do crime, seja na fundamentação da pena, são 
minunciosamente examinadas”.25 
 Importante observar, portanto, que o Princípio da Culpabilidade impõe 
duas importantes condições: 
 
1º - A Subjetividade da Responsabilidade Penal: “Não cabe, em direito 
penal, uma responsabilidade objetiva, derivada tão-só de uma associação 
causal entre a conduta e um resultado de lesão ou perigo para um bem 
jurídico. É indispensável a culpabilidade. No nível do processo penal, a 
exigência de provas quanto a esse aspecto conduz ao aforisma ‘a culpabilidade 
não se presume’, que, no terreno dos crimes culposos (negligentes), nos quais 
os riscos de uma consideração puramente causal entre a conduta e o resultado 
 
25
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, pp. 102 e 103. 
 
18 
 
são maiores, figura como constante estribilho em decisões judiciais: ‘a culpa 
não se presume’. A responsabilidade penal é sempre subjetiva”.26 
 
2º - A Personalidade da Responsabilidade Penal : Da Personalidade da 
Responsabilidade Penal derivam duas conseqüências, são elas: 
 
a) A Intranscendência da Pena: “impede que a pena ultrapasse a pessoa do 
autor do crime (ou, mais analiticamente, dos autores e partícipes do crime). 
A responsabilidade penal é sempre pessoal. Não há no direito penal, 
responsabilidade coletiva, subsidiária, solidária ou sucessiva. Nada pode, 
hoje, evocar a infâmia do réu que se transmita a seus sucessores. A 
intranscendência da pena coloca a questão da família do condenado pobre 
(art. 5º, inc. XLV CF), e fundamenta a existência, no sistema de seguridade 
social, de um ‘auxílio-reclusão’”.27 
b) A Individualização da Pena: “Por individualização se entende aqui 
especialmente a individualização judicial, ou seja, a exigência de que a pena 
aplicada considere aquela pessoa concreta à qual se destina. Neste campo, 
o tema mais atual é a chamada co-culpabilidade. Trata-se de considerar, no 
juízo de reprovabilidade que é a essência da culpabilidade, a concreta 
experiência social dos réus, as oportunidades que se lhes depararam e a 
assistência que lhes foi ministrada, correlacionando sua própria 
responsabilidade a u,ma responsabilidade geral do estado que vai impor-
lhes a pena; em certa medida, a co-culpabilidade faz sentar no banco dos 
réus, ao lado dos mesmos réus, a sociedade que os produziu, como queria 
Ernst Bloch. Como diz Zaffaroni, ‘reprovar com a mesma intensidade as 
pessoas que ocupam situações de privilégio e a outras que se acham em 
situação de extrema penúria é uma clara violação ao princípio da igualdade 
corretamente entendido’. ‘O direito realmente igual’ – anota Cirino – ‘é o que 
considera desigualmente indivíduos concretamente desiguais’. O art. 5º, 
 
26
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, p. 104. 
27
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, p. 104. 
 
19 
 
inciso 1 do código penal da República Democrática da Alemanha, de 1968, 
abre as portas a essa orientação: ‘uma ação é cometida de forma reprovável 
quando seu autor, não obstante as possibilidades de uma conduta 
socialmente adaptada que lhe tenham sido oferecidas, realiza, por atos 
irresponsáveis, os elementos legalmente constitutivos de um delito ou de um 
crime’”.28 
 
7. Princípio da Insignificância (ou da Bagatela): 
 
 
 Tendo como corolário os princípios acima discutidos (Legalidade, 
Intervenção Mínima, Lesividade, Humanidade e Culpabilidade) surge mais 
recentemente o denominado princípio da Insignificância (ou Bagatela). 
 Segundo Gomes a “infração bagatelar ou delito de bagatela ou crime 
insignifcante expressa o fato de ninharia, de pouca relevância (ou seja: 
insignificante). Em outras palavras, é uma conduta ou um ataque ao bem 
jurídico tão irrelevante que não requer a (ou não necessita da) intervenção 
penal. Resulta desproporcional a intervenção penal nesse caso. O fato 
insignificante, destarte, deve ficar reservado para outras áreas do Direito (civil, 
admnistrativo, trabalhista etc.)”.29 
 Com efeito, Mirabete nos chama a atenção para o fato de que: “Sendo o 
crime uma ofensa a um interesse dirigido a um bem jurídico relevante, 
preocupa-se a doutrina em estabelecer um princípio para excluir do direito 
penal certas lesões insignificantes. Claus Roxin propôs o chamado princípio da 
insignificância, que permite na maioria dos tipos excluir, em princípio, os danos 
de pouca importância. Não há crime de dano ou furto quando a coisa alheia 
não tem qualquer significação parao proprietário da coisa; não existe 
contrabando na posse de pequena quantidade de produto estrangeiro, de valor 
reduzido, que não cause uma lesão de certa expressão para o fisco; não há 
 
28
 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Revan, 2001, pp. 104 e 105. 
29
 GOMES, Luiz Flávio & MOLINA, Antonio García-Pablos de. Direito Penal: Parte Geral. V. 2. 
GOMES, Luiz Flávio (coordenador). São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2007, p. 303. 
 
20 
 
peculato quando o servidor público se apropria de ninharias do Estado (folhas 
de papel, caneta esferográfica etc.); não há crime contra a honra quando não 
se afeta significativamente a dignidade, a reputação, a honra de outrem; não há 
lesão corporal em pequenos danos à integridade física; não há maus-tratos 
quando não se ocasiona prejuízo considerável ao bem-estar corporal; não há 
dano no estrago ao patrimônio público de pequena monta; não há estelionato 
quando o agente se utiliza de fraude para não pagar passagem de ônibus; não 
há furto quando a res subtraída é economicamente insignificante, não há 
corrupção passiva quando o funcionário aceita um ‘mimo’ de pequena 
expressão econômica etc. É preciso, porém, que estejam comprovados o 
desvalor do dano, o da ação e o da culpabilidade”.30 
 Assinala ainda o jurista que: “A excludente da tipicidade (do injusto) pelo 
princípio da insignificância (ou da bagatela), que a doutrina e a jurisprudência 
vêm admitindo, não está inserta na lei brasileira, mas é aceita por analogia, ou 
interpretação interativa, desde que não contra legem. Não há como confundir, 
por exemplo, pequeno valor da coisa subtraída [hipótese do furto privilegiado 
do art. 155 § 2º do Código Penal] com valor insignificante ou ínfimo; no primeiro 
caso [furto privilegiado – art. 155 § 2º do Código Penal] há somente um 
abrandamento da pena, no segundo [valor ínfimo ou insignificante] exclusão da 
tipicidade. Somente uma quantidade de maconha totalmente inexpressiva, 
incapaz inclusive de permitir ‘o prazer de fumar’, poderá ter o condão de tornar 
atípica a ação de seu portador. No Estado do Rio Grande do Sul, já se 
absolveu réu acusado pelo crime de posse de entorpecente, por ser mínima (1 
grama) a quantidade do tóxico, mas o Tribunal de Justiça acabou não 
aceitando tal orientação, mantendo aquela dos tribunais superiores. (...) Com 
as cautelas necessárias, reconhecendo caber induvidosamente na hipótese 
examinada o princípio da insignificância, não deve o delegado instaurar o 
inquérito policial, o promotor de justiça oferecer denúncia, o juiz recebê-la ou, 
após a instrução, condenar o acusado. Há no caso exclusão da tipicidade do 
fato e, portanto, não há crime a ser apurado”.31 
 
 
30
 MIRABETE, Júlio Fabbrini & FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal – Parte Geral. V. 
I. 25ª ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2009, pp. 103 e 104. 
31
 MIRABETE, Júlio Fabbrini & FABBRINI, Renato N. Op. cit., pp. 104 e 105. 
 
21 
 
9.1. Espécies de infração bagatelar: 
 
 Há reconhecidamente duas espécies de infração bagatelar: 
 
9.1.1. Infração bagatelar própria. 
9.1.2. Infração bagatelar imprópria. 
 
 Quanto ao termo infração bagatelar, observa Gomes que: “Se se trata de 
um fato penalmente irrelevante, a rigor, não poderíamos falar em ‘infração’ 
(porque não sendo típico o fato, infração não existe). De qualquer modo, para 
facilitar a compreensão do assunto, continuaremos a utilizar a locução acima 
referida”.32 
 
9.1.1. Espécies de infração bagatelar própria: 
 
 Infração bagatelar própria: “é a que já nasce sem nenhuma relevância penal, 
seja porque não há (um relevante) desvalor da ação (não há periculosidade na 
conduta, isto é, idoneidade ofensiva relevante), seja porque não há (um 
relevante) desvalor do resultado (não se trata de ataque grave ou significativo 
ao bem jurídico, que mereça a incidência do Direito Penal)”.33 
 Quanto a infração bagatelar própria, assinala Gomes: “Quem atira um 
pedaço de papel amassado contra um ônibus coletivo realiza uma conduta 
objetivamente não perigosa ou de periculosidade mínima, ìnfima (leia-se: de 
baixa idoneidade ofensiva). Logo, falta-lhe o desvalor da ação. Em outras 
palavras, não se trata da ação desvalorada que está prevista no tipo penal – 
CP, art. 264. Não há que se falar em desaprovação dessa conduta. Quem 
subtrai uma cebola pratica uma conduta desvalorada (furto; há desvalor da 
 
32
 GOMES, Luiz Flávio & MOLINA, Antonio García-Pablos de. Op. cit., p. 303. 
33
 Ibid., p. 303. 
 
22 
 
ação), porém, o resultado jurídico é absolutamente ínfimo (falta portanto o 
desvalor do resultado, falta um ataque intolerável ao bem jurídico)”.34 
 Claro está, portanto, que “para todas as situações de infração bagatelar 
própria, o princípio a ser aplicado é o da insignificância ou de bagatela (que 
tem o efeito de excluir a tipicidade penal, mais precisamente a tipicidade 
material). Assim, se estamos diante de uma infração bagatelar própria não há 
que se perquirir o animus do agente, seus antecedentes, sua vida pregressa 
etc. O fato é atípico e não incide o Direito penal”.35 
 Importante asseverar ainda que para a configuração da infração 
bagatelar própria é imprescindível a consideração das circunstâncias de cada 
caso concreto, isto é, “para o reconhecimento da insignificância e, em 
consequência, da infração bagatelar própria, é muito importante a análise de 
cada caso concreto, da vítima concreta, das circunstâncias do fato, local etc.”. 
Assim: “O furto de uma garrafa d’água, em princípio, é absolutamente 
insignificante. Mas para quem está no deserto do Saara não o é. Como se vê, 
ser insignificante ou não o fato, depende de cada situação concreta. Uma 
bicicleta para um grande empresário é absolutamente insignificante. A mesma 
bicicletapara quem ganha R$ 50,00 por mês pode não ser. Cada caso é um 
caso. Não existem critérios apriorísticos que definem o que é insignificante: 
tudo depende do caso concreto, da vítima concreta, das circunstâncias, do 
local, do momento etc. Cuida-se, como se vê, de conceito normativo, que exige 
complemento valorativo do juiz”.36 
 No que concerne a atuação dos juízes neste caso, assinala Gomes que: 
“O princípio da insignificância tem tudo a ver com a moderna posição do juiz, 
que já não está bitolado pelos parâmetros abstratos da lei, senão pelos 
interesses em jogo em cada situação concreta. Nesse novo Direito penal, que é 
um direito do caso concreto, a proeminência do juiz é indiscutível. Mas 
também, a chance de se fazer justiça no caso concreto é muito maior que 
antes (quando o juiz estava atrelado ao velho silogismo formalista da premissa 
maior, premissa menor, conclusão). O fiat justitia et pereat mundus (faça-se 
 
34
 GOMES, Luiz Flávio & MOLINA, Antonio García-Pablos de. Op. cit., pp. 303 e 304. 
35
 Ibid., p. 304. 
36
 Ibid., p. 304. 
 
23 
 
justiça, embora pereça o mundo) já não tem sentido nos dias atuais. O juiz não 
pode se contentar só com a aplicação formal da lei, ainda que o mundo pereça. 
A ele cabe fazer justiça em cada caso concreto, isto é, fazendo uso da 
razoabilidade, cabe sempre evitar que o mundo (do caso concreto) entre em 
ruínas. O que vale hoje e o fiat justitia, nem pereat mundus (faça-se a justiça, 
para que o mundo não pereça – Hegel)”.37 
 
9.1.2. Espécies de infração bagatelar Imprópria: 
 
 Infração bagatelar imprópria:“é a que nasce relevante para o Direito penal 
(porque há desvalor na conduta bem como desvalor do resultado), mas depois 
se verifica que a incidência de qualquer pena no caso concreto apresenta-se 
totalmente desnecessária (princípio da desnecessidade da pena conjulgado 
com o princípio da irrelevância penal do fato)”.38 
 Nos chama a atenção Gomes para o fato de que: “A doutrina e a 
jurisprudência brasileiras já conhecem e aplicam o princípio da insignificância, 
que está coligado com a infração bagatelar própria. Mas até agora pouquíssima 
aplicação houve do princípio da irrelevância penal do fato, que se coliga com a 
infração bagaterlar imprópria. Impõe-se dominar todos esses conceitos que 
acabam de ser expostos para que a aplicação do Direito penal não seja 
equicocada”.39 
 Demonstrando a distinção entre a aplicação do princípio da 
insignificância e do princípio da irrelevância penal do fato, Gomes nos chama a 
atenção para o fato de que: “o princípio da insignificância está para a infração 
bagatelar própria assim como o da irrelevância penal do fato (e da 
desnecessidade da pena) está para a infração bagatelar imprópria. Cada 
princípio tem seu específico âmbito de incidência. O da irrelevância penal do 
fato está estreitamente coligado com o princípio da desnecessidade da pena. 
Esse fenômeno é o que explica, por exemplo o perdão judicial. Logo, não há 
 
37
 GOMES, Luiz Flávio & MOLINA, Antonio García-Pablos de. Op. cit., p. 304. 
38
 Ibid., p. 305. 
39
 Ibid., p. 305. 
 
24 
 
dúvida que o princípio da irrelevância penal do fato, quando aplicado, tem 
muita semelhança ao perdão judicial”.40 
 Em suma, no caso de infração bagatelar imprópria tem-se a aplicação do 
princípio da irrelevância penal do fato. Assim, “quando o juiz reconhece o 
princípio da irrelevância penal do fato não está concedendo um perdão judicial 
extra-legal. Não é o caso. Referido princípio não é extra-legal, ao contrário, tem 
amparo legal expresso (no art. 59 do CP). O juiz reconhece a dispensa da pena 
(ou seja: sua desnecessidade) no caso concreto e isso é feito com base no art. 
59 do CP (que diz que o juiz só aplica a pena quando for necessária para a 
reprovação e prevenção do delito)”. 
 Desse modo, prossegue Gomes: “Se em relação ao princípio da 
insignificância ainda há doutrinador (ou julgador) que hesita em admiti-lo por 
falta de base legal explícita (o que é incorreto, porque o ordenamento jurídico é 
integrado de regras e princípios), quanto ao princípio da irrelevância penal do 
fato essa carência de amparo legal não acontece. A sua base legal está no art. 
59 do CP”.41 
 
 Quadro Princípio da Insignificância (ou da Bagatela): 
 
 
 
40
 GOMES, Luiz Flávio & MOLINA, Antonio García-Pablos de. Op. cit., pp. 305 e 306. 
41
 Ibid., pp. 305 e 306. 
Infração 
Bagatelar 
Infração 
Bagatelar Própria 
Princípio da 
Insignificância ou 
Bagatela 
Infração 
Bagatelar 
Imprópria 
Princípio da 
Irrelevância 
Penal

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