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A Educacao com Praxis Humana.docx

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A Educação com Práxis Humana
(fonte: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/a-educacao-como-praxis-humana/42559)
Relação entre o homem e o trabalho
Dessa forma, diferentemente dos outros animais, que se adaptam às condições naturais, o homem adapta a natureza a si, transformando e humanizando-a. Esse processo se realiza por meio do trabalho. E o trabalho se inicia no momento em que o agente antecipa mentalmente a finalidade da ação, pois, diferente das outras ações, o trabalho se manifesta como uma ação adequada a finalidades, isto é, constituída de finalidades.
Para garantir sua sobrevivência, o homem extrai da natureza, ativa e intencionalmente, os meios de sua existência. Nesse processo, o homem vai transformando a natureza em um mundo significado, constituído de sentido: o mundo cultural. Por isso, ressalta Saviani (1991, p. 20), “[...] dizer, pois, que a educação é um fenômeno próprio dos seres humanos significa afirmar que ela é, ao mesmo tempo, uma exigência do e para o processo de trabalho, bem como é, ela própria, um processo de trabalho”.
O processo de produção da existência implica que o trabalho material seja capaz de garantir a produção de bens materiais em escalas cada vez mais complexas. Porém, para existir, precisa-se antecipar idealmente os objetivos da ação, isto é, representar em forma de ideias os objetivos reais.
Segundo Saviani (1991, p. 20), essa representação inclui o aspecto de conhecimento das propriedades do mundo real (ciência), de valorização (ética) e de simbolização (arte). Neste processo de representar mentalmente os objetivos reais abre-se, para o homem, o horizonte para o aparecimento do trabalho imaterial, outra categoria fundamental da produção da existência humana. Por trabalho imaterial compreende-se a produção de ideias, valores, hábitos, símbolos, conceitos, etc. Ou seja, trata-se da produção do saber, que pode ser o saber sobre o fenômeno ou um dado específico, ou sobre a universalidade da produção humana, chamada de cultura.
Trabalho e educação
A educação se encontra na categoria de trabalho imaterial, pois está vinculada à produção de ideias, conceitos, habilidades, símbolos e valores que não lhe interessam como elementos em si mesmos e exteriores ao homem. Tais elementos considerados em si mesmos, como realidades exteriores ao homem, se constituem como objetos das ciências do espírito em oposição às chamadas ciências da natureza. 
Na perspectiva da educação, porém, esses elementos interessam quando se tornam necessários à sua assimilação por parte dos homens, na produção de um mundo significado, da cultura. Portanto, “o que não é garantido pela natureza tem que ser produzido historicamente pelos homens; e aí se incluem os próprios homens”. (SAVIANI, 2001, p. 21).
O caminho para chegar onde quiser
Podemos afirmar, nesse sentido, que o homem produz a si mesmo ao produzir o mundo, uma vez que a sua natureza não é ontologicamente dada, mas produzida sobre a base da natureza biofísica. Consequentemente, “o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens.” (SEVERINO, 2001, p. 21). Dessa forma, a educação, inicialmente, diz respeito à identificação dos elementos culturais indispensáveis que precisam ser internalizados pelos indivíduos humanos no seu processo de humanização e, depois, diz respeito a descobertas das maneiras mais adequadas para atingir os objetivos.
Nessa perspectiva, a educação é, ao mesmo tempo, mediada e mediadora, por se apresentar como o esforço de constituição de significado, possibilitando a revelação ontológica da prática humana. No entanto, a educação é sempre mediação fundamental para as outras mediações que constituem a existência histórica. A educação é “um investimento intergeracional com o objetivo de inserir os educandos nas forças construtivas do trabalho, da sociabilidade e da cultura.” (SEVERINO, 2001, p. 67). 
Diferente uma concepção espiritualizada da educação, que permeou grande período histórico, a prática educacional real tem absoluta prioridade em nossa existência histórica, ainda que a educação se instrumentalize teoricamente. A educação se realiza nas mesmas condições das outras atividades que marcam as demais esferas da existência humana, profundamente marcada pelas mesmas características gerais desenvolvidas em sociedades históricas pela espécie humana. Por isso, além de se assumir como um processo fundamentalmente histórico, a educação também se realiza como um projeto antropológico.
As ações fazem a história
É por meio da atividade prática que a existência se realiza. É pelo agir como sujeito social que o ser humano se instaura. Nesse sentido, o homem se apresenta como aquilo que ele fez de si mesmo. Nas palavras de Severino (2001, p. 68), seu ser é seu devir histórico, cuja consistência se dá pelo conjunto de seu agir ao longo do tempo e no espaço social. Portanto, aquilo que o homem é e aquilo no qual ele vai se tornando é delimitado pelo seu agir histórico.
Porém, não se nega a absoluta relevância da teoria quando se circunscreve a primazia ontológica da prática, pois não se trata de uma cisão irredutível – uma vez que a teoria se expressa como prática no exercício da subjetividade lógica. Torna-se necessário problematizar as dimensões teórica, técnica e política da prática humana, sem antagonizar prática e teoria.
O firmamento da história
Cultura, sociabilidade e trabalho tornam o humano ser existente. Assim, “na medida em que se especifica a partir da unidade dessas três dimensões, a prática torna-se práxis e só será humana se for intencionalizada através de sua capacidade simbolizadora” (SEVERINO, 2001, pp. 68-69). Por conseguinte, somente pela intervenção simultânea dos processos de objetivação e subjetivação, inerentes às relações do homem com a natureza, a cultura e a sociabilidade que essa materialidade se realiza e se efetiva. O caráter humano dessas relações se manifesta se sua realização subjetiva estiver significada pela realidade objetiva, e vice-versa.
Tal significação se expressa também pela afirmação do papel do conhecimento quanto ao agir humano. A subjetivação do mundo objetivado, como solo das práticas, se realiza pelo conhecimento, única ferramenta da espécie para intencionalizar sua prática. “Conhecimento” é aqui entendido com maior abrangência, designando toda a extensão do exercício da subjetividade em sua prática simbolizadora.
- Severino (2001, p. 69)
Educação como prática de desenvolvimento
A educação é uma práxis cujo sentido é significar intencionalmente “as práticas reais pelas quais os homens buscam implementar sua existência” (SEVERINO, 2001, p. 69). A educação se dirige aos educandos questionando sua subjetividade e, ao mesmo tempo, potencializando seu desenvolvimento. O conhecimento possibilita a apropriação das articulações reais do mundo social, criticamente, pela subjetividade. Daí o papel conscientizador – por isso, interpretativo, reflexivo, compreensivo e desmascarador das ideologias na sociedade – e não descritivo da educação.
Como se observa, por mais significativo que seja a especificidade simbólica, não pode esgotar o processo educacional. As demais modalidades práticas são integradas pela prática educativa, na existência histórica. De um lado, afirma Severino (2001, p. 70), o processo educacional é substantivamente prática técnica (trabalho) e também prática política (sociabilidade). De outro lado, sua função é mediar e intencionalizar essas práticas. No entanto, a prática educacional, além de ser a manifestação concreta das práticas políticas e técnicas, ela também é uma propedêutica para a sociabilidade e a inserção no mundo do trabalho.
Há uma relação intrínseca entre sociedade e educação. As ciências humanas revelaram durante a história que todas as práticas educacionais, sejam formais ou informais, expressam uma concepção de sociedade e a qual modelo se vinculam.A educação só pode objetivar e compreender o seu papel e apreender sua identidade quando toma certa distância da sociedade.
Compreensão e transformação
Assim como em cada momento histórico surgem profissionais e especialistas teóricos que organizam e justificam a institucionalização da prática educacional, devem surgir, igualmente, profissionais que a compreendam e revelem as contradições que existem entre as forças sociais e a educação. A educação reproduz integral e estruturalmente a sociedade, por isso pode se manifestar como fator de transformação social, com a função de mediadora e transformadora da história. Dessa maneira:
[...] esse processo envolve comportamentos, costumes, instituições, atividades culturais e organizações burocrático-administrativas. A educação é um evento social que se desdobra no tempo histórico. É também mediação da sociabilidade, sendo sua finalidade inserir as novas gerações no universo social, fora do qual não sobrevivem.
- SEVERINO, 2001
O pilar da sociedade
A sociedade constrói a educação de acordo com o que a sociedade vive. A educação atua sobre e mediante as relações intersubjetivas expressas como conceitos, valores e representações. Ela é uma prática política e social que se instrumentaliza de elementos simbólicos, produzidos pela subjetividade manejada pela cultura. Ao lidar com conteúdos simbólicos subjetivos dos alunos, a educação só pode ser realizada como conscientização. No entanto, a dimensão da representação é o locus da ideologia. Atuando nesse âmbito, a educação pode reproduzir os conteúdos ideológicos da sociedade, conservando-a, ao conservar as relações sociais que sustentam, ideologicamente, a própria sociedade.
Alguns autores, entre eles Althusser, em sua obra clássica Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado, analisam de forma contundente a função reprodutivista da educação institucionalizada. Segundo o Severino (2001, pp. 73-74), para garantir a reprodução dos meios de produção, o capitalismo precisa assegurar a reprodução da força de trabalho. Esse processo precisa ser retroalimentado pela qualificação da força de trabalho submetido sempre aos interesses da classe dominante, por meio da ação do sistema escolar e por outras instituições que se situem fora do sistema.
A forma de educação é o meio para sustentar o sistema
Desse modo, os valores e os conhecimentos, ideologicamente embutidos na escola, são transmitidos pela sociedade capitalista. Assim, a educação atuando como aparelho ideológico do Estado, marcado pelas relações capitalistas de produção, conserva a hegemonia burguesa, reproduzindo as relações de dominação inerentes à sociedade capitalista.
O processo educacional pode, por um lado, reforçar a relação de dominação na sociedade ao reproduzir mecanismos ideológicos sem nenhuma reelaboração, mas, pode, contraditoriamente, superar os conteúdos ideológicos e impor resistências à dominação social por meio da crítica, contribuindo para relações político-sociais menos opressoras. Ao assumir tal postura, a educação torna-se uma práxis transformadora.
Por ser mediada por conteúdos simbólicos, a educação não atua como grande meio para a transformação da sociedade. No entanto, é impossível pensar em transformação social sem pensar, ao mesmo tempo, em mudança nas representações, valores, conceitos, habilidades, ideias, símbolos, etc., isto é, no universo simbólico humano. Nesse sentido, a educação ocupa lugar indispensável no processo de transformação social. Pois,
[...] as mudanças econômicas e políticas pressupõem mudanças profundas e simultâneas na esfera ideológica. É que as práticas reais (produtiva, política e simbolizadora) também são mediadoras da existência histórica dos homens e interfaces de um único processo geral.
- SEVERINO (2001, p. 76).
A maior aliada de uma transformação social
Se a educação pode se colocar a serviço da reprodução de um modelo de sociedade, por meio da reprodução, sistematização e divulgação de uma ideologia, pode, igualmente, se colocar a serviço de uma contra ideologia, reproduzindo, sistematizando e divulgando, para assumir um projeto transformador de sociedade. Pode produzir uma nova consciência entre os indivíduos e cidadãos, abrindo, desse modo, a possibilidade de se elaborar uma crítica à ideologia vigente, desmascarando-a em seus compromissos e interesses dominantes.
Ao produzir e potencializar discursos contraideológicos, a educação pode revelar aos oprimidos, o modo como se estrutura a sociedade, abrindo-lhes a possibilidade de se apropriarem do saber sistematizado e, assim, denunciar as relações de poder. Trabalhado de forma adequada pela educação, “o conhecimento leva à conscientização do significado contraditório das relações sociais.” (SEVERINO, pp. 76-77). Nesse processo, a educação pode atuar na formação e produzir entre os grupos dominados e explorados, uma nova consciência de classe instrumentalizando-os para uma práxis política mais apropriada.
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