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pesquisa sobre eficacia da priorização judicial ao idoso

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Idoso não recebe prioridade processual garantida por lei
Apesar de a Lei nº 10.173/01 garantir a prioridade de tramitação de processos para maiores de 65 anos, a solução desses casos ainda demora a ter um desfecho na Justiça brasileira.
Para se ter uma idéia, Francisco Placido Fontenelle de Araújo, 76 anos, entrou na Justiça em 1999 contra a Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de São Paulo. Em 2001, a lei entrou em vigor e ele não foi beneficiado, apesar dos pedidos feitos à Justiça.
O acórdão no Tribunal Superior do Trabalho sobre este caso foi republicado somente este mês. E a história ainda não terminou. Os prazos para recursos foram reabertos.
O advogado do autor da ação, Marcos César Amador Alves, defende o uso de iniciativas concretas dos tribunais para que os processos sejam julgados rapidamente já que têm prioridade. "O autor da ação sofreu acidente vascular cerebral em fevereiro deste ano. Dada a idade avançada que possui, sua expectativa de vida é extremamente curta", lembrou o advogado. De acordo com ele, "os tribunais não se aparelharam ou se organizaram para dar efetividade ao comando legal estatuído pelo art. 1211 A do CPC".
A assessoria de imprensa do TRT paulista informou que o processo na segunda instância cumpre rigorosamente todas as etapas. Afirmou ainda que o TRT-SP tem uma regra de prioridade para processos de idosos e de pessoas com doenças terminais.
O diretor-geral de Coordenação Judiciária do TST, Valério Augusto Carmo, disse que o processo no caso concreto do idoso foi julgado rapidamente. A ação entrou no TST em agosto de 2002 e foi julgado em outubro do mesmo ano. "Ele é um felizardo", disse.
O TST mandou o processo para o TRT paulista em novembro e o recebeu de volta em junho deste ano. Por erro do TST, o acórdão teve que ser republicado.
O aumento da expectativa de vida é fonte de novos desafios
A maior expectativa de vida das pessoas na terceira idade é positiva para as sociedades, mas também é fonte de novos desafios. E é por isso que a proteção de seus direitos, é a garantia de condições de igualdade nas sociedades. Pois envelhecimento não é sinônimo de doença, é um processo natural pelo qual pessoas passam em seu ciclo de vida, envelhecer nada mais é que uma vida prolongada que deve ser vivida de maneira prazerosa e saudável.
Luciene Marcelino Cardoso *
O Brasil está num processo de envelhecimento populacional e, a cada década, o percentual de idosos aumenta significativamente. Como resultado, estamos vivenciando um período de crescente demanda de recursos voltados para atender as necessidades desta “nova população”.
Envelhecimento não é sinônimo de doença, é um processo natural pelo qual pessoas passam em seu ciclo de vida, por isso envelhecer não significa isolar-se, ou deixar de estar no convívio social e familiar, é necessário esclarecer a estes e aos seus familiares que envelhecer nada mais é que uma vida prolongada que deve ser vivida de maneira prazerosa e saudável.
De acordo com o Estatuto do Idoso: “Art. 2°- O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes a pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.”
A tendência do envelhecimento será crescer no decorrer das próximas décadas e com os avanços tecnológicos, ritmo de trabalho e as grandes mudanças no padrão familiar, verificamos que muitos idosos ainda não têm noção dos direitos a eles devido e muitos deles acham que a vida já está no fim, que estão “velhos” demais para qualquer situação.
O envelhecimento da população mundial é um fenômeno atual em que mesmo os países mais ricos e poderosos precisam se adaptar. O que era no passado privilégio de alguns passou a ser uma experiência de um número crescente de pessoas em todo o mundo. Kalache assinala que “Envelhecer no final deste século já não é proeza reservada a uma pequena parcela da população. No entanto, no que se referem ao envelhecimento populacional, os países desenvolvidos diferem substancialmente dos subdesenvolvidos, já que os mecanismos que levam a tal envelhecimento são distintos” (1987, p. 201).
De acordo com Kalache (1987) o envelhecimento da população brasileira é um fato irreversível, e é de suma importância observar os fatores associados a este processo, que precisam ser tratados forma prioritária para evitar o aumento da miséria e condições precárias para esta população que esta envelhecendo. Desta forma, o tema envelhecimento antes pertencente aos domínios da geriatria e da gerontologia, começou a ganhar espaços em outras áreas do conhecimento.
Apesar dos avanços da medicina, tudo que se consegue até o momento é retardar alguns dos efeitos do envelhecimento em nosso organismo. De tal sorte que o declínio físico e muitas vezes intelectual, como consequência do envelhecimento continua sendo um grande desafio para a ciência e uma preocupação constante em diferentes áreas de estudo.
O envelhecimento populacional, aliado à falta de políticas públicas voltadas a essa nova realidade mundial, vem preocupando todos os segmentos da sociedade, objetivando um maior conhecimento sobre o fenômeno do envelhecimento, e principalmente como envelhecer de forma saudável priorizando esses esforços na manutenção da independência e autonomia do idoso.
O envelhecimento é um triunfo do desenvolvimento. O aumento da longevidade é uma das maiores conquistas da humanidade. As pessoas vivem mais em razão de melhorias na nutrição, nas condições sanitárias, nos avanços da medicina, nos cuidados com a saúde, no ensino e no bem-estar econômico. Mas, a população em envelhecimento também apresenta desafios sociais, econômicos e culturais para indivíduos, famílias, sociedades e para a comunidade global.
Considerando a realidade do fenômeno envelhecimento, uma série de estudos e pesquisas vai ganhando espaço na agenda pública, nos debates políticos e nas discussões na sociedade. Importa também que os direitos sejam ampliados como garantias e proporcione uma vida digna, com qualidade efetiva á pessoa idosa.
O anunciado processo de envelhecimento sugere uma crescente demanda por serviços públicos voltados para o atendimento da população idosa que, dependendo da região, vai exercer maior ou menor pressão sobre os serviços públicos. A família brasileira como tradicional fonte de suporte econômico e afetivo dos seus idosos, será chamada a assumi-los ainda mais (GOLDANI, 1994, p. 18).
São muitos os desafios com o envelhecimento da população, e estes precisam de intervenção e soluções médicas, sociais, econômicas e políticas. Envelhecer é um processo natural, inevitável e irreversível, e não é sinônimo de doença. Por isso a necessidade de garantir a integração da pessoa idosa junto à comunidade, proporcionando o bem estar.
O envelhecimento é, sem duvida, um processo biológico cujas alterações determinam mudanças estruturais no corpo e em decorrência modificam também as suas funções. Porém envelhecer é inerente a todos os seres vivos e no caso dos seres humanos esse processo assume dimensões que ultrapassam o simples ciclo biológico, pois pode acarretar também consequências sociais e psicológicas.
Portanto falar sobre velhice é algo muito complexo, tal complexidade resulta da mutua dependência entre os aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais que interagem no ser humano.
A velhice a partir de uma perspectiva pessoal mostra que como toda situação humana, ela tem uma dimensão existencial, que modifica a relação do individuo consigo mesmo, com o outro, com o mundo e com o tempo. A velhice pode ser vista como uma fase com potencial para o crescimento, á semelhança das demais fases do curso da vida, o que faz com que as fronteiras do envelhecimento sejam modificadas em relação á realidade atual. A visão sobre a velhice vem sendo lentamente mudada. Podeser um tempo de novas liberdades, para explorações pessoais excitantes, para o crescimento psíquico e prazer de viver.
Por fim, vale destacar que os idosos são da mesma natureza em relação aos outros cidadãos. A maior expectativa de vida das pessoas na terceira idade é positiva para as sociedades, mas também é fonte de novos desafios. E é por isso que a proteção de seus direitos, é a garantia de condições de igualdade nas sociedades. Segundo Iamamoto: “O momento que vivemos é um momento pleno de desafios. Mais do que nunca é preciso ter coragem, é preciso ter esperanças para enfrentar o presente. É preciso resistir e sonhar. É necessário alimentar os sonhos e concretizá-los dia-a-dia no horizonte de novos tempos mais humanos, mais justos, mais solidários” (2003, p.17).
Referências
BRASIL. Estatuto do Idoso – 2003.
GOLDANI, Ana Maria. As famílias brasileiras: mudanças e perspectivas. In. Caderno de pesquisas, São Paulo, nº 91. p.7-22. Nov. 1994.
KALACHE, A. VERAS, R. P. RAMOS, L.R. O envelhecimento da população mundial. Um desafio novo. Rev. Saúde pública. São Paulo, 1987. Pg. 200-210. Disponível Aqui Acesso em 15/10/2014.
* Luciene Marcelino Cardoso – Assistente Social, pela Universidade Nove de Julho. Curso de Extensão Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC. Email: luciene-mc@hotmail.com
O Direito Fundamental ao processo tempestivo: a tramitação preferencial do idoso e suas irregularidades
25 Julho 2007
 
Marco Félix Jobim
1. Introdução. 2. Duração razoável do processo como Direito Fundamental. 3. Sobre o Estatuto do Idoso e a tramitação preferencial. 4. Alcance da tramitação preferencial. 5. Irregularidades da tramitação preferencial. 6. Conclusões. 7. Bibliografia.
1. Introdução.
A Emenda Constitucional 45/2004 trouxe, em seu bojo, o inciso LXXVIII do artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, elevando a direito fundamental à duração razoável do processo, quer seja no âmbito judicial ou administrativo, informando que “A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.
Parafraseando o referido inciso, todos detêm o direito fundamental ao, quando estiver em litígio, quer na esfera judicial ou administrativa, ter assegurada uma duração processual ao menos razoável, assim como os meios necessários para a garantia da celeridade processual.
Anteriormente à Emenda Constitucional 45/2004, a Lei 10.741/03, já amparada pelo Código de Processo Civil, inovou com a tramitação preferencial ao idoso, a fim de que este tenha abreviado o tempo de processo tendo em vista a sua avançada idade.
É uma infelicidade para o operador do direito saber da existência de uma lei especial para que pessoas idosas tenham um processo acelerado, ágil, tendo em vista a morosidade da Justiça.
E esta infelicidade não se dá por causa do auxílio ao idoso, o diferenciando do adulto com menos de 60 anos, mas sim, pois, pelo fato de haver sido criada uma lei que tenta restaurar uma tramitação efetiva para um tipo diferenciado de parte, quando esta efetividade deveria ser uma constante em nossa justiça para todos os cidadãos.
As razões expostas, quais sejam, da falta de funcionários, de afogamento das vias judiciárias, de procuradores inabilitados, de juizes, promotores e defensores públicos despreparados, de lides desnecessárias, são todas já conhecidas para a justificação da morosidade da justiça, e mais, não estão completamente erradas, conforma apontam Eduardo Von Mühlen e Gustavo Masina:
“São diversas as causas apontadas como responsáveis pela crise do Poder Judiciário brasileiro, que tem na morosidade processual uma de suas feridas mais expostas e doloridas. A comunidade jurídica tem sido pródiga em apontar diversos fatores que teriam levado à atual situação, tais como: a precariedade estrutural do Poder Judiciário proporcionalmente ao número de demandas; o nível técnico ainda abaixo dos padrões de excelência de parte dos servidores públicos envolvidos na prestação jurisdicional e dos próprios advogados; o exagerado número de demandas que apontam insistentemente nos tribunais, fazendo do Brasil um país altamente litigante; talvez o excessivo número de advogados que são formados a cada ano, gerando uma canibalização da classe, o que leva à vulgarização e à proliferação dos litígios; a estrutura processual brasileira, que seria excessivamente complacente com a morosidade, dada a exagerada gama de recursos disponíveis às partes e intervenientes; o complexo e constantemente alterado e emendado arcabouço legislativo pátrio, constante gerador de conflitos”. In “A Reforma do Poder Judiciário”, Fábio Cardoso Machado e Rafael Bicca Machado, coordenadores, Editora Quartier Latin, São Paulo, 2006, pág. 145.
Contudo, entristece ver uma lei sancionada que tenta passar por cima de todas as explicações possíveis para o atraso judicial, privilegiando uma classe e pior, paliativamente e equivocadamente, como se verá mais adiante.
2. A duração razoável do processo como Direito Fundamental
A redação do o inciso LXXVIII do artigo 5º da Constituição Federal, que foi alvo da Emenda Constitucional 45/2005, trouxe a esfera processual e administrativa a duração razoável do processo, elevando o princípio ao rol dos direitos fundamentais do cidadão.
Esses, na lição de Wilson Steinmetz, são:
“Em suma, (i) os direitos fundamentais são limites ao poder do Estado, (ii) o Estado limitado e controlado é o Estado de Direito, (iii) os direitos fundamentais são tutelados ex lege e não ex Constitutione, (iv) os direitos fundamentais vinculam a Administração Pública por meio do princípio da legalidade e o Poder Judiciário por meio do dever de interpretação e aplicação da lei, e (v) o Estado de Direito é um “Estado Legislativo de Direito”, porque o Poder Legislativo não está vinculado juridicamente à Constituição e, por conseqüência, aos direitos fundamentais”. In “A vinculação dos Particulares a Direitos Fundamentais”, Editora Malheiros, São Paulo, 2004, pág. 78.
Discorrendo com sua propriedade habitual sobre o tema, Ingo Wolfgang Sarlet alerta para a importância dos direitos Fundamentais:
“Com base nas idéias aqui apenas pontualmente lançadas e sumariamente desenvolvidas, há como sustentar que, além da íntima vinculação entre as noções de Estado de Direito, Constituição e direitos fundamentais, estes, sob o aspecto de concretizações do princípio da dignidade da pessoa humana, bem como dos valores da igualdade, liberdade e justiça, constituem condição de existência e medida da legitimidade de um autêntico Estado Democrático e Social de Direito, tal qual como consagrado também em nosso direito constitucional positivo vigente”. In “A Eficácia dos Direitos Fundamentais”, 5 edição, Livraria do Advogado, Porto Alegre, 2005, pág 72
Contudo, historicamente, para chegarmos à presente redação constitucional brasileira, podemos relembrar que desde 15 de junho de 1215, o Rei João, também conhecido como “o Sem Terra”, na Inglaterra, foi signatário da Magna Carta das Liberdades (Great Chartes of Liberties), que no artigo 39 trazia: “To no one will we sell, to no one will we refuse or delay, rigth or justice”. (Para ninguém nós venderemos, recusaremos ou atrasaremos o direito ou a justiça).
Na Constituição dos Estados Unidos da América, do ano de 1776, esta já fazia alusão de se exigir um processo rápido.
A convenção Européia dos Direitos do Homem no artigo 6º, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos no seu artigo 9º e 14º, a Carta Africana de Direitos Humanos no artigo 7º e o artigo 24º da Constituição Espanhola são alguns exemplos lembrados por André Luiz Nicolitt, em sua obra “A duração razoável do processo”, editora Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2006.
No Brasil o princípio da duração razoável do processo apenas foi inserido, por força do §2º do artigo 5º da Constituição Federal, que elenca que “os direitos e garantias expressos nesta Constituiçãonão excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”, uma vez que fomos adeptos ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos que trazia o referido princípio em seu texto.
Lembra Cláudia Marlise da Silva Alberton também que:
“O princípio da razoável duração do processo, inserto na Carta Constitucional no art. 5, LXXVII, por ocasião da Emenda Constitucional n. 45-2004 não é instituto novo. A convenção Americana de Direitos Humanos, também conhecida pelo Pacto de San José da Costa Rica, que tem o Brasil como signatário, estabelece em seu art. 8, que o direito a ser ouvido com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável por um juiz, é pertinente a todos os indivíduos”. Ibid, pág. 74.
Contudo, se já existe o desrespeito muitas vezes ao ordenamento jurídico pátrio, quiçá aquelas advindas por tratados internacionais, sendo que apenas começamos a contar, implicitamente, como direito fundamental efetivo, o princípio da duração razoável do processo após o advento da Emenda Constitucional 45/2004.
Nicolitt confirma a tese:
“Desta forma, o princípio já se encontrava expressamente no ordenamento jurídico brasileiro como garantia fundamental por força do parágrafo segundo do art. 5º da CRF/88, que acolhe os direitos fundamentais consagrados em tratados internacionais que o Brasil fizer parte. Em outros termos, a previsão derivada da combinação do art. 5º, §2º, com os artigos 9 e 14 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, sem olvidar o Pacto São José, que ingressou no Brasil em 1992. Todavia, com a sua adoção expressa pela Constituição, não resta dúvida sobre o relevo e realce que ganhou, significando um verdadeiro convite ou exigência constitucional à comunidade jurídica, a fim de dar efetividade ao princípio”. Ibid, pág. 19.
Os questionamentos sobre a constitucionalidade do referido dispositivo, tendo em vista a vedação do art. 60, parágrafo 4, inciso IV da Constituição Federal é respondido por Elaine Harzhein Macedo:
“Por primeiro, o entendimento das duas casas legislativas foi no sentido de que incluir no rol dos direitos e garantias fundamentais não implicava descumprimento à disposição do art. 60, parágrafo 4, incido IV, da Constituição Federal, porque não se trata de inovar cláusula pétrea, mas sim de dilatar a matéria protegida. Lembrava o primeiro relatos no Senado que não basta a prescrição constitucional para alcançar seu desiderado imediato, sendo necessário criar-se os instrumentos hábeis a tanto, porque o seu destinatário maior é o cidadão”. In “Jurisdição e Processo – crítica histórica e perspectiva para o terceiro milênio”, Editora Livraria do Advogado, Porto Alegre, 2005.
Assim, perfectibilizado o princípio da duração razoável do processo como direito fundamental, estamos, desde dezembro de 2004, com o advento da Emenda Constitucional 45, vivendo uma mudança constitucional processual para que o cidadão tenha mais agilidade no julgamento de seus feitos, quer judicialmente, quer administrativamente.
3. Sobre o Estatuto do Idoso e a tramitação preferencial.
A Lei 10.741/03, publicada no Diário Oficial da União em 01.10.2003, traz o conceito de idoso em seu primeiro artigo, quando leciona que “É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos”.
Ou seja, idosa é aquela pessoa cuja idade se iguala a 60 anos ou mais, sendo que a esta classe de indivíduos é assegurado todos os direitos elencados no segundo artigo do Estatuto, combinado, é claro, com outros em nossa legislação. Diz o artigo 2º:
Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
No direito processual, assegurando a tramitação preferencial dos processos e procedimentos aos idosos, a previsão vem no artigo 71 do referido Estatuto:
Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância.
Por certo, sabemos que a referida regra processual é, pelo menos, na teoria, aplicada, conforme podemos exemplificar com o julgamento do agravo de instrumento 70012847273, julgado no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, que restou com a seguinte ementa:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. SERVIDOR PÚBLICO. ação ordinária. lei 10.395/95. litisconsórcio ativo FACULTATIVO. LITIGANTE IDOSO. tramitação preferencial. Possibilidade. exegese do art. 1.211-a do cpc, combinado com o art. 71 da lei nº 10.741/03 (ESTATUTO DO IDOSO). DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA AÇÃO. INTELECÇÃO DA NORMA DO ART. 283 DO cpc. 1. O número de litigantes, quer no pólo ativo, quer no pólo passivo da relação jurídico-processual, não impede a tramitação preferencial do feito, desde que algum ou alguns deles conte com idade igual ou superior a sessenta (60) anos, à vista do que preceituam o art. 71 da Lei nº 10.741/03 (Estatuto do Idoso), a ser lido conjugadamente com o art. 1.211-A do Código de Processo Civil, cuja redação foi introduzida pela Lei 10.173/2001. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA A MERECER REFORMA. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO.
Do referido julgamento podemos retirar algumas conclusões lógicas da interpretação do artigo, sendo a primeira a de que não importa o número de litigantes, se houver um com mais de 60 anos o processo terá deferida a tramitação preferencial; a segunda a de que a regra do artigo 1.211-A do Código de Processo Civil deve ser lida em conjunto com o artigo 71 do Estatuto do Idoso.
Apenas para relembrar, o artigo 1.211-A do Código de Processo Civil, que já havia instituído a tramitação preferencial ao idoso, colocava este no rol de pessoas que tinham 65 anos ou mais:
“Art. 1.211-A. Os procedimentos judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a sessenta e cinco anos terão prioridade na tramitação de todos os atos e diligências em qualquer instância.”
Assim, sendo a lei que introduziu o artigo 1.211-A, CPC, era anterior ao Estatuto do Idoso, resta evidente à interpretação de que este revogou parcialmente aquela, o que é confirmado pelo aresto acima colacionado.
Do artigo 1.211-A, CPC, o Pretório Excelso do Supremo Tribunal Federal já havia editado a resolução 213, de 19/3/2001, cujo artigo 1º esclarece:
“Art. 1º No âmbito do Supremo Tribunal Federal dar-se-á prioridade à tramitação, ao processamento, ao julgamento e aos demais procedimentos dos feitos judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a sessenta e cinco anos.”
4. Alcance da tramitação preferencial.
A questão curiosa que resta através da leitura de que o idoso tem direito a tramitação preferencial nos processos judiciais e administrativos são quais os benefícios processuais a que tem direito, uma vez que o tratamento dado nos artigos referentes ao benefício são por demais genéricos.
Na realidade, deixando, por ora, a discussão que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”, direito fundamental consagrado no inciso LXXVIII da Constituição da República Federativa do Brasil, após o advento da Emenda Constitucional 45, é preciso saber o real alcance da norma produzida em favor dos idosos.
Hoje, o que vemos e sentimos nos foros federais e estaduais, é a prática do carimbo colocado na capa do processo, geralmente com a denominação “idoso – tramitação preferencial”, mas esse procedimento é eficaz?
A experiência, infelizmente, aponta negativamente. Para tanto, basta procurarqualquer feito onde exista tal benefício concedido para, analisando a tramitação processual, se verificar que nem mesmos os prazos cartorários são efetivamente cumpridos.
Se existe uma lei para aceleração processual de uma determinada gleba de pessoas que, mais tarde se defenderá ser inconstitucional, mas que até o momento está em plena vigência, deve-se, ao menos, serem cumpridos os prazos do Código de Processo Civil, como aqueles previstos nos artigos 189 e 190, que abaixo se transcreve para melhor entendimento do que se quer expor.
Art. 189. O juiz proferirá:
I – os despachos de expediente, no prazo de 2 (dois) dias;
II – as decisões, no prazo de 10 (dez) dias.
Art. 190. Incumbirá ao serventuário remeter os autos conclusos no prazo de 24 (vinte e quatro) horas e executar os atos processuais no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, contados:
I – da data em que houver concluído o ato processual anterior, selhe foi imposto pela lei;
II – da data em que tiver ciência da ordem, quando determinada pelo juiz.
Parágrafo único: Ao receber os autos, certificará o serventuário o dia e a hora em que ficou ciente da ordem, referida no n. II.
Ora, quando se começará a acreditar numa duração razoável do processo, se aqueles que têm mais privilégio através de uma tramitação especialíssima estão longe de ter cumprida a legislação que lhes é favorável.
O simples carimbo na capa do processo em nada auxilia a boa, célere e efetiva tramitação processual se não houver uma conscientização geral de que o idoso, legalmente, tem o direito a ter seu processo julgado mais rápido do que os outros ou, pelos menos, que sejam os prazos relacionados a sua pessoa cumpridos à risca.
 
Irregularidades da tramitação preferencial ao idoso.
 
Não podemos, sempre que se mostrar conveniente, relativizar conceitos, tendo em vista que, a cada um, certamente, existe uma história que não pode ser apagada ou desconsiderada.
Apenas a título de exemplificação, hodiernamente, temos a relativização da palavra verdade para fins processuais, onde, em certas ocasiões, apenas é possibilitada a busca da “verdade possível” ou da “verdade real”. Mas questiona-se, a verdade não é só uma? A mentira também pode ser relativizada? Existe meia-mentira?
Mas, para fins deste estudo, vamos relativizar o conceito de isonomia, elencado entre os direitos fundamentais do caput do artigo 5º da Constituição Federal, onde diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”.
O princípio da isonomia, já relativizado, cai no que a doutrina chama de igualdade formal e igualdade material.
“A igualdade material (para alguns autores chamada de igualdade substantiva ou substancial) é aquela que assegura o tratamento uniforme de todos os homens, resultando em igualdade real e efetiva de todos, perante todos os bens da vida”. In Princípio Constitucional da Igualdade, Fernanda Duarte Lopes Lucas da Silva, 2ª Edição, Editora Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2003, pág. 36.
“Já a igualdade formal, por sua vez, impõe leitura diversa, determinando tratamento uniforme perante a lei e vedando tratamento desigual aos iguais”. Ibid, pág. 37.
Assim, pegamos o conceito de isonomia em seu sentido puro, sem a diferenciação entre igualdade formal e material, que na lição de José Afonso as Silva, em seu Curso de Direito Constitucional Positivo, 15ª edição, Editora Malheiros, é “...igualdade constitui signo fundamental da democracia. Não admite os privilégios e distinções que um regime simplesmente liberal consagra.” Pág. 214.
Celso Antônio Bandeira de Mello entende que:
“A Lei não deve ser fonte de privilégios ou perseguições, mas instrumento regulador da vida social que necessita tratar eqüitativamente todos os cidadãos. Este é o conteúdo político-ideológico absorvido pelo princípio da isonomia e juridicizado pelos textos constitucionais em geral, ou de todo modo assimilado pelos sistemas normativos vigentes”. In “Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade”, 3 edição, Editora Malheiros, São Paulo, 2004, pág.10.
O mesmo autor entende que em certas ocasiões pode o princípio ser relativizado:
“Com efeito, por via do princípio da igualdade, o que a ordem jurídica pretende firmar é a impossibilidade de desequiparações fortuitas ou injustificadas. Para atingir este bem, este valor absorvido pelo Direito, o sistema normativo concebeu fórmula hábil que interdita, o quanto possível, tais resultados, posto que, exigindo igualdade, assegura que os preceitos genéricos, os abstratos e atos concretos colham a todos sem especificações arbitrárias, assim proveitosas que detrimentosas para os indivíduos”. Ibid, pág. 18.
Confrontando os conceitos acima com o texto da Lei 10.741/03, não pairam dúvidas que, perante esta, algumas pessoas têm tratamento diferenciado, conforme se passa a demonstrar.
No presente são os idosos, mas poderíamos estar falando da preferência à criança e ao adolescente, que conforme previsão do art. 4º, parágrafo único, alínea b) do Estatuto da Criança e do Adolescente também teriam a garantia ao benefício.
Mas mesmo que a este princípio seja proporcionada tal quebra de paradigma, dividindo-o, relativizando-o, ou como ensina Celso Mello, que o “discrímen legal seja convivente com a isonomia”, pág. 41, mesmo assim, ele seria inconstitucional, pois trata, desigualmente, dentro de uma mesma classe, os idosos, e explica-se a razão.
As diferentes regiões do País, com seus diferentes climas, culturas, adversidades sociais, políticas, saneamento, enfim, as diferenças encontradas em cada região (norte, sul, sudeste, nordeste e centro-oeste), trazem cada uma, uma expectativa de vida diferenciada.
O mapa abaixo, oriundo do estudo do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, do ano de 2004, mostra, claramente, esta discrepância.
Vemos então que a população do sul do País tem uma média de vida muito além daqueles Estados mais ao norte e ao nordeste, chegando, em alguns casos, a ser de quase 10 anos de vida.
Se formos analisar o mapa de algumas cidades específicas do Rio Grande do Sul, resta mais evidente o que queremos demonstrar, senão vejamos:
 
Exemplificando, se pegarmos o Município de Carlos Barbosa, onde a expectativa de vida de um habitante da região é de 77,7 anos, e compararmos com qualquer Estado da região amarela do mapa, onde a expectativa é de 65,5 a 67 anos de idade, a diferença aumenta para mais de 10 anos.
Isso implica consequentemente num abismo inconstitucional, tendo em vista o tratamento desigual de cidadãos de uma mesma classe, já relativizando o princípio da isonomia em igualdade formal e material, uma vez que o idoso no Município de Carlos Barbosa/RS não é o mesmo idoso no Município de Anapurus/MA, ou seja, em Carlos Barbosa chegar aos 60 anos é uma realidade, a qual pouco existe em Anapurus.
Esta tese é confortada pelas conclusões finais da enxuta obra de Mello, ao apontar que existe ofensa ao preceito constitucional da isonomia quando:
“A interpretação da norma extrai dela distinções, discrimens, desequiparações para que não foram professadamente assumidos por ela de modo claro, ainda que por via implícita”. Ibid, pág. 48.
Aliado a este fato que, por si só, já revela certas irregularidades com a projeção do princípio da isonomia, há de destacar a entrada em vigor do inciso LXXVIII, do artigo 5º da Constituição Federal, onde não faz distinção alguma de agilidade processual a classes de pessoas, uma vez que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.
Querendo ou não, se optarmos pela constitucionalidade do artigo 71 da Lei 10.741/03 frente ao inciso LXXVIII da Constituição Federal, estamos optando não para uma “tramitação preferencial” aos idosos, tendo em vista que a todos este benefício é hoje estendido, mas a uma “tramitaçãopreferencial especial pela idade”, modificando, em parte, a nomenclatura até hoje adotada.
Restante apenas o tema referente à inconstitucionalidade pelo princípio da isonomia, entre a classe de idosos, resta, como está, uma zona abissal entre os habitantes de uma região com alta expectativa de vida e uma região com baixa expectativa de vida.
A nosso consenso, a única saída justa é a modificação do artigo 71 da Lei 10.741/03, uma vez que como hoje consta que “É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância”, restam totalmente privilegiadas as regiões mais ricas do País em detrimento das mais pobres.
E para a solução do problema apontado, basta a modificação parcial do artigo 71, sendo colocado a disposição do cidadão o próprio estudo da expectativa de vida do brasileiro por região realizado pelo IBGE, sendo que a redação do artigo poderia restar assim:
“É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade inferior até o limite de 10 anos da expectativa de vida da comarca onde reside”.
Assim, restaria plenamente justificado o princípio da isonomia dentro de uma classe social.
Por óbvio que a diligência de comprovação da residência fixa do idoso e da expectativa de vida da região deverão ser trazidas ao processo judicial ou administrativo por fontes idôneas, especialmente o relacionado com a expectativa que, preferencialmente, deverá ser retirado das informações prestadas pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas.
6. Conclusões.
Diante das orientações acima estudadas, consubstanciadas na análise da legislação pertinente, informações buscadas em órgãos governamentais, doutrina e jurisprudência, podemos retirar algumas conclusões.
Para o deferimento da tramitação preferencial ao idoso, não importa o número de litigantes no processo, havendo uma só com mais de 60 anos, há a previsão para a tramitação preferencial.
A lei 10.741/03, também conhecida como Estatuto do Idoso, em seu artigo 71, revogou, em parte, o artigo 1.211-A do Código de Processo Civil, baixando o conceito de idoso para 60 anos, a qual também repercuta na resolução 231 do Supremo Tribunal Federal, em seu artigo 1º.
A praxe do simples carimbo de “tramitação preferencial” colocada na capa do processo, além de não ser o meio mais efetivo se cumprir a legislação, em nada vem auxiliando a prestação ao idoso, apenas o colocando em uma nova pilha de feitos judiciais e administrativos.
A relativização do conceito de isonomia em igualdade formal e material a uma classe de pessoas, quais sejam os idosos, traz conseqüências desiguais, em razão da baixa expectativa de vida de alguns Estados e da alta expectativa de vida em outros.
Para a resolução do problema da incongruência de expectativa de vida entre os Estados, cria-se a opção de diminuição de uma certa idade da própria expectativa de vida da região de habitação do idoso, com base nos estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
O inciso LXXVIII, do artigo 5º, da Constituição da República Federativa do Brasil, com redação dada pela Emenda Constitucional 45, não abarca o artigo 71 da Lei 10.741/03, tornando a referida legislação inconstitucional, tendo em vista ser a rápida tramitação de todos os cidadãos e não só de uma parcela especial.
Caso não seja declarada a inconstitucionalidade do artigo 71, está-se criando uma “tramitação preferencial especial”, devendo ser mudada a nomenclatura até hoje conhecida.
 
7. Bibliografia:
 
MACEDO, Elaine Harzhein. Jurisdição e Processo – crítica histórica e perspectivas para o terceiro milênio. Editora Livraria do Advogado, Porto Alegre, 2005.
MACHADO, Fábio Cardoso; MACHADO, Rafael Bicca. A Reforma do Poder Judiciário. Editora Quartier Latin, São Paulo, 2006.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do princípio da Igualdade. 3 edição. Editora Malheiros, São Paulo, 2004.
NICOLITT, André Luiz. A duração razoável do processo. 1ª edição. Editora Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2006.
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 5 edição, Editora Livraria do Advogado, Porto Alegre, 2005.
SILVA, Fernanda Duarte Lopes Lucas da. Princípio Constitucional da Igualdade. 2ª edição. Editora Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2003.
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo, 15ª edição, Editora Malheiros, São Paulo, 1998.
STEINMETZ, Wilson. A Vinculação dos Particulares a Direitos Fundamentais. Editora Malheiros, São Paulo, 2004.
 
Marco Jobim
Marco Félix Jobim, Mestrando em Direitos Fundamentais pela Universidade Luterana do Brasil, Especialista em Direito Civil pela Uniritter e em Direito Empresarial pela Puc-RS.
JOBIM, Marco Félix. O Direito Fundamental ao processo tempestivo: a tramitação preferencial do idoso e suas irregularidades. Revista Páginas de Direito, Porto Alegre, ano 7, nº 633, 25 de julho de 2007. Disponível em: http://www.tex.pro.br/home/artigos/75-artigos-jul-2007/5653-o-direito-fundamental-ao-processo-tempestivo-a-tramitacao-preferencial-do-idoso-e-suas-irregularidades
Prioridade especial – Repercussão nos processos judiciais
cavallaro novembro 14, 2017
Quando se busca o reconhecimento de um direito pelas vias judiciais, o maior problema enfrentado pelas partes é a morosidade do Poder Judiciário, que faz com que o processo se alongue por anos, sem que haja a devida prestação jurisdicional. Algumas vezes, chega-se ao falecimento do autor, antes de ver satisfeito o seu crédito ou que possa usufruir as consequências relativas ao cumprimento da decisão judicial favorável.
Diante deste cenário, foi editada a Lei nº 10.173, de 09.01.2001, a qual alterou o antigo Código de Processo Civil, passando a conceder a prioridade na tramitação dos processos em que seja parte pessoa com idade igual ou superior a 65 anos.
Posteriormente, foi editada a Lei nº 10.741, de 01.10.2003, mais conhecida como o Estatuto do Idoso, que, dentre outros benefícios atribuídos aos idosos, especificamente no acesso à justiça estendeu a prioridade às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos.
No entanto, a expectativa de vida dos brasileiros aumentou muito nas últimas décadas. Tal aumento deve-se ao fato de que muitas pessoas passaram a se preocupar com qualidade de vida e boa alimentação. O acesso à saúde também é fator que elevou tal expectativa. Assim, em 2001 a expectativa de vida era de 70,46 anos, passando para 75,5 anos de idade em 2017, conforme Tabela de Expectativa de Sobrevida do IBGE.
Portanto, a prioridade concedida aos maiores de 60 anos já não surtia muito efeito na celeridade processual, pois a quantidade de autores que superaram esta idade passou a ser imensa.
Com o aumento da expectativa de vida e a morosidade processual surgiu uma questão de difícil solução, até então, que é como tratar de maneira igual o idoso que acabou de completar 60 anos e aquele que já passou de 80 anos?
Mais especificamente nos processos judiciais, a prioridade anteriormente concedida já não garantia que os atos processuais fossem praticados com primazia sobre os demais processos, vez que o volume de ações em andamento é cada vez maior e, com a demora na solução das questões, diversos autores passaram a ter prioridade ao longo do processo.
Diante deste novo contexto, foi sancionada a Lei nº 13.466, de 12.07.2017, que confere aos maiores de 80 anos uma prioridade especial no andamento dos processos. Portanto, a este nicho será conferida agilidade maior na prestação jurisdicional pelo Estado.
Embasado no princípio constitucional da igualdade, previsto no artigo 5º, inciso I da Constituição Federal, a intenção do legislador é boa, na medida em que assegura tratamento desigual aos desiguais, só nos cabendo acompanhar os efeitos práticos que essa prioridade especial surtirána obtenção e cumprimento das decisões judiciais em que figurem como parte pessoa com idade igual ou superior a 80 anos.
Por Priscila Elia
Morosidade da justiça
Infelizmente a demora em solucionar as demandas judiciais é um problema nacional, mas não podemos deixar de vislumbrar que em um município com pouco mais de 28 mil habitantes, não se encontre solução com mais facilidade. Por quê? Qual seria o entrave para de um processo que tramita na Comarca de Jardim, onde a requerente na data do fato teria 79 anos de idade e hoje com 84, ou seja, cinco anos passados, o caso não se resolve.
Com base no artigo 71 da Lei 10.741 de 2003, conhecida com Estatuto do Idoso, que dispõe sobre a prioridade na tramitação de processos, onde um prazo razoável deveria ser respeitado, podemos analisar que a lei não é cumprida por quem terminantemente julga e obriga o cumprimento das normas legais.Que prioridades seriam essas?Quais seriam os motivos do não cumprimento do estatuto do idoso?A crença mor é que o idoso tem prioridade para que possa gozar o resultado da demanda, caso a mesma lhe seja favorável.
O advogado do Rio Grande do Sul Dr. Juarez Antonio da Silva em sua sábia colocação aduz, "Neste caminhar se perde a crença no Poder Judiciário, no advogado e nas demais instituições democráticas, restando o cidadão em evidente prejuízo".
De maneira geral, o local onde mais ressoa o inconformismo do cidadão é a mesa do advogado, que muitas vezes se sente emperrado frente às inúmeras dificuldades de fazer valer o direito do cidadão. Não é desconhecida a demora demasiada, é certo que por muitas vezes esta demora beneficia uma ou outra parte, sendo esta demanda individual. É certo que os prejuízos causados a sociedade são categoricamente maiores que qualquer beneficio pessoal propriamente dito.
Atento a morosidade judicial, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) disponibilizou à sociedade um importante meio de comunicação, a Ouvidoria. Só no primeiro trimestre de 2015, o órgão recebeu mais de 4 mil demandas, dos quais 1.960 eram relacionados à demora no julgamento de ações judiciais e 98,8% desse total foram reclamações.
Em outros tempos levar a público uma questão de morosidade judicial causava desconforto e constrangimento. É comum hoje em dia questões judiciais ganhar as redes sociais e as ruas. Fatos esses ocorrem, principalmente, pela ansiedade que acomete o cidadão litigante em nosso Poder Judiciário. Destarte, há que se fazer aparecer as principais causas e o mais importante, na medida do possível apresentarem as soluções, para a morosidadedos processos, buscando a efetiva função social.
Max Rocha
Jornalista e Estudante de Direito
O Ministério Público na defesa do Idoso
Atualmente a Politica do Idoso oferece inúmeros benefícios aos idosos, infelizmente a grande maioria destes benefícios ainda não é possível à grande parcela da população idosa, por inúmeros motivos, dentre eles há: falta de informação e pouca divulgação, etc.
Porém, o Promotor de Justiça da Promotoria de Justiça Especializada dos Direitos dos Cidadãos Portadores de Deficiência e Idosos de São Paulo, Paulo Roberto Barbosa Ramos (2004, p. 1):
Trata-se de Legislação moderna, na mesma linha da Lei de Ação Civil Pública, do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Código do Consumidor. A aprovação do Estatuto do Idoso demonstra preocupação da sociedade brasileira com o seu novo perfil populacional. O Brasil não é mais um país de jovens, mas um país em acelerado processo de envelhecimento. Esse perfil populacional exige do Estado e da sociedade ações efetivas voltadas à garantia dos direitos fundamentais das pessoas envelhecidas.
Por outro lado, é importante que se diga que o Estatuto do Idoso não irá eliminar instantaneamente de uma vez por todas e para sempre todas as discriminações e violências praticadas contra os idosos. O Estatuto apresenta-se apenas como mais uma ferramenta - muito importante, diga-se de passagem - de um processo voltado à construção de um espaço em que a dignidade da pessoa humana ocupe espaço de eminência. Por isso, não adianta pensar que a proteção aos idosos através de uma lei especial irá resolver os problemas desse segmento populacional (RAMOS, 2004).
Desse modo, de acordo com a Promotora de Justiça, Beré (2012, p. 1), “o papel do Ministério Público inscrito de forma tão clara no Estatuto do Idoso representa um avanço importante na luta pela afirmação da dignidade da pessoa humana”.
A Promotora de Justiça, Beré (2012, p. 1), então confere as atribuições dos Promotores de Justiça do Idoso previstas na Lei Federal nº 10.741/2003, conhecida como Estatuto do Idoso, nos termos abaixo.
“Art. 74. Compete ao Ministério Público:
I instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso;
II promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou parcial, de designação de curador especial, em circunstâncias que justifiquem a medida e oficiar em todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos em condições de risco;
III atuar como substituto processual do idoso em situação de risco, conforme o disposto no art. 43 desta Lei;
IV – promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóteses previstas no art. 43 desta Lei, quando necessário ou o interesse público justificar;
Dando continuidade ao que compete ao Ministério Público, cabe ainda ao órgão:
V – instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo:
a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado da pessoa notificada, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar;
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais, estaduais e federais, da administração direta e indireta, bem como promover inspeções e diligências investigatórias;
c) requisitar informações e documentos particulares de instituições privadas;
VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, para a apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção ao idoso;
VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados ao idoso, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura verificadas;
IX – requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de saúde, educacionais e de assistência social, públicos, para o desempenho de suas atribuições;
X – referendar transações envolvendo interesses e direitos dos idosos previstos nesta Lei.”
Frente a essas ações, segundo a Promotora Beré (2012, p. 3), “em primeiro lugar, o Ministério Público atuará na defesa dos interesses difusos e coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso”.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para finalizar reportamo-nos a Messuti (2003), ao informar que, em determinada circunstâncias, bem como dependendo do ato contra o idoso, a pena quando aplicada ao sujeito, deve ser "temporalizada" no tempo de vida do sujeito. Isto é, seu transcurso deve fluir no tempo natural no qual transcorre a vida biológica do sujeito: seguindo seu gradual envelhecimento, e podendo, inclusive, ser interrompida por sua morte.
Por fim, no tocante as ações da Promotoria de Justiça em defesa do Idoso, não cabem ao Promotor de Justiça fazer às vezes de advogado da pessoa idosa capaz, que esteja em busca de seus direitos individuais.  Para tal, o idoso deverá contratar advogado ou socorrer-se da Defensoria Pública. Ao Promotor de Justiça caberá apenas a tutela de interesses do idoso em situação de risco.
REFERÊNCIAS
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______.Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde sexual reprodutiva. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
______. Política Nacional do Idoso. Lei nº 8.842 de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Brasília/DF, 1994.
BERÉ, Cláudia Maria. Atuação do Ministério Público em defesa da Pessoa Idosa. Dezembro de 2012. Disponível em: <http://www.ampid.org.br/v1/?p=406> Acessado em maio de 2014.
KARAM, Adriane Leitão. Responsabilidade Civil: O abandono afetivo e material dos filhos em relação aos pais idosos. Universidade Federal do Ceará – Escola Superior do Ministério Público, Fortaleza, 2011. Disponível em: <http://www.mp.ce.gov.br> Acessado em maio de 2014.
RAMOS, Paulo Roberto Barbosa. O Estatuto do Idoso - (primeiras notas para um debate). 2004. Disponível em: <http://direitodoidoso.braslink.com/01/artigo021.html> Acessado em maio de 2014.
SIMÕES, Carlos. Curso de Direito do Serviço Social. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2008.
MESSUTI, Ana. O tempo como pena. Tradução: Tadeu Antonio Dix Silva, Maria Clara Veronesi de Toledo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
Adoção do Rito Sumário pelo Estatuto do Idoso
Sabe-se que a concepção de aplicação de rito sumário é a de um trâmite tempestivo, célere, enfim, que se coadune de fato a urgência da tutela referente ao interesse jurídico que se busque.
Dispõe a lei 10.741/03, em seu artigo 69, a aplicação do procedimento sumário nos processo relacionados aos interesses dos idosos.
Vale dizer que as demandas que se coadunam ao rito comum, podem desaguar tanto no rito ordinário como também no sumário.
Na prática, elencou o legislador processual determinadas matérias no artigo 275 do Código de Processo Civil, às quais conferiu um tratamento processual mais simplificado e, por conseqüência, mais célere. Vale recordar que a inteligência do referido artigo 275 do CPC é feita da seguinte forma: o inciso primeiro admite o rito sumário em razão do valor da causa, enquanto que o inciso segundo autoriza-o em determinadas matérias, independentemente do valor. (WAGNER JUNIOR, 2006, p.185).
Assim, no inciso primeiro resta disposto que todas as causas que envolvam litígios cujos valores não ultrapassem sessenta salários mínimos merecerão o julgamento sumário, dispondo o inciso segundo que, independentemente do valor da causa, também serão processados de forma sumaria os feitos que tratem de matérias ligadas ao arrendamento rural, parceria agrícola, cobrança ao condômino de quantias devidas ao condomínio, ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico, ressarcimento por dano causados em acidente de veículo e cobrança de honorários dos profissionais liberais. (WAGNER JUNIOR, 2006, P.186).
No mais, é notório que o Código de Processo Civil tratou de matérias específicas cujo lidar do Judiciário deve ser simplificado, devido à urgência com a qual é tratada a matéria referente.
Todavia, com a devida vênia, o referido diploma processual peca pela omissão, pelo fato de não elencar em seu rol matérias de interesse específico de grupos vulneráveis, que se encontram em desigualdade se comparados com a sociedade quem vivem, como é o caso dos Idosos.
Sendo assim, de um modo geral, há uma necessidade de aperfeiçoamento da legislação processual nesse sentido.
3.2.2 Competência Absoluta para a Distribuição de Ações envolvendo o Idoso
Segundo a legislação processual brasileira, é óbvia que a concepção de competência absoluta remete a compreensão de que se encontra em jogo interesses de ordem pública, dos quais não é lícito se dispor.
Conforme o artigo 80 da lei 10.741/03:
As ações previstas neste capítulo serão propostas no foro do domicílio do Idoso, cujo Juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências da Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais Superiores. Ao definir a competência territorial do domicílio do idoso como hipótese de competência absoluta, inova o legislador quanto à matéria, gerando relevantes dúvidas quanto as conseqüências jurídicas que advirão caso a mesma não seja observada. (WAGNER JUNIOR, 2006, p.188).
De acordo com a concepção de Wagner Junior (2006), Nos parece que a indagação acima merece uma resposta negativa. Se o intuito do Estatuto do Idoso foi declaradamente conferir benefícios aos maiores de sessenta anos, não é crível que se admita que no caso de o idoso optar por outro foro diverso do seu domicílio, isso venha a ensejar a incompetência absoluta do juízo.
Evidentemente que em casos em que existam dívidas a serem sanadas, ou grupos aos quais devem ser dispensada uma proteção jurídica especial, como os Idosos, o fato de estes declinarem da competência do Juízo competente definido previamente pela lei, não pode servir de fundamento de eventual declaração de nulidade.
Haja vista que em primeiro lugar deve ser protegido os interesses aos quais se visa conceder tutela jurídica.
Assim, principalmente quando o direito em questão está ligado à acessibilidade (acesso à Justiça), em favor de Grupos vulneráveis (nesse caso, os Idosos), deve ser desprestigiada qualquer interpretação da lei, levando-se em consideração a sua mera literalidade.
3.2.3 Legitimidade para o ajuizamento da demanda em favor de interesse do Idoso
O fato de o estatuto do Idoso prevê legitimados a intentarem ações com o fim de protegerem os interesses dos Idosos, já demonstra de per si, o interesse do legislador em dispensar uma atenção especial a esse grupo de pessoas.
Para Wagner Junior (2006), discutir acesso à justiça é também, por óbvio, discutir a questão da legitimidade para a provocação do poder judiciário. Evidentemente, uma pessoa com mais de sessenta anos encontrará dificuldade para, sozinho, ajuizar uma ação na defesa de seus interesses.
Na esteira dessa argumentação, forçoso convir que, o fato de o artigo 81 do Estatuto do Idoso elencar uma verdadeira legitimidade concorrente a vários Órgãos da Administração Pública para que estes ajudem os Idosos quanto o acesso à Justiça, demonstra a vulnerabilidade do grupo em questão e, por conseguinte, a existência de inúmeras dificuldades quanto a esse acesso.
Conforme o dispositivo legal em comento: para as ações civil fundadas em interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis ou homogêneos, consideram-se legitimados, concorrentemente: I – o Ministério Público; II – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; III – a Ordem dos Advogados do Brasil; IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 ano e que incluam entre os fins institucionais a defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa, dispensada a autorização da assembléia, se houver prévia autorização estatutária.
Conforme dispõe o artigo 75 do Estatuto do Idoso, não atuando como parte, o parquet, terá participação obrigatória como custus legis[1], sob pena de nulidade.
Ressalte-se, ainda, que, no Estatuto do Idoso, sob a ótica processual, a que nos interessa nessa parte de nosso trabalho, competirá ao membro do Ministério Público atuar como substituto processual do idoso em situação de risco, em especial quando os direitos reconhecidos a ele por lei estiverem sendo ameaçados ou violados por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento ou, ainda, em razão da condição pessoal do idoso. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muito embora em termos quantitativos a Constituição Federal tenha sido omissa ao não tratar de modo específico a respeito do acesso do idoso à Justiça, restou patente que tal omissão é apenas aparente, vez que a lei maior tem como um de seus fundamentos o superprincípio da Dignidade da Pessoa Humana, vetor de todos os demais princípios.
Desse modo, considerando a plena aplicabilidade do princípio supracitado no ordenamento jurídico brasileiro, torna-se desnecessária qualquer outra inovação legislativa de cunho infraconstitucional, para que o Grupo Vulnerável em questão venha a se valerdas prestações jurisdicionais de que carecer. Tendo em vista a plena vigência do referido princípio no Estado Democrático de Direito, que por sua vez, orienta o Estado brasileiro.
restou comprovado que o Idoso Brasileiro é pertencente a um grupo vulnerável, nessa concepção, e sem a intenção de diferir grupos vulneráveis e minorias, há dívidas de diversas naturezas para com esses grupos, principalmente, em se tratando de desigualdade em relação a outras camadas da sociedade.
Tais dívidas, principalmente as relacionadas a fatores sociais e econômicos, evidentemente irão refletir em todas as áreas da vida dos Idosos, mais precisamente nesse contexto, no Acesso à Justiça brasileira.
Portanto, sem a pretensão de se apontar “a solução”, urge à necessidade de implementação de políticas públicas, com ênfase nas relacionadas à área judicial, com a finalidade precípua de se nivelar o acesso do idoso à Justiça comparado as demais camadas sociais.
Evidentemente, que essa pretensão não se satisfará sem a necessária consciência relacionada à importância de um Judiciário pró-ativo, implementador de políticas sociais, dentro da competência que lhe é confiada.
É notório que medidas meramente paliativas tais como: “preferência no trâmite processual”, são apenas a ponta do submerso iceberg, o que demonstra a necessidade de se cultivar valores mais profundos para que as mudanças ocorram.
A criação de Varas Especializadas é um bom começo, haja vista a exigência de Juízes e servidores especializados, que tratem apenas dos interesses dos idosos. Tal medida iria facilitar e muito tanto o ajuizamento quanto à prestação jurisdicional procurada.
Mais ainda, é a necessidade de se inserir na formação do Magistrado brasileiro, questões relacionadas à implementação de políticas públicas, haja vista que o Brasil é de cultura heterogênea, portanto, multicultural. Daí a importância da formação social do Magistrado brasileiro, para que se possa pensar em ativismo judicial.
Outrossim, a aproximação do Judiciário ao Idoso brasileiro, em situação de vulnerabilidade, também é uma boa iniciativa, haja vista a quebra de certos paradigmas tradicionais, principalmente os relacionados a um judiciário inerte, alheio as situações de constante injustiça.
Dessa forma, programas como “justiça itinerante”, certamente produziram bons frutos nessa materialização de políticas judiciárias.
Isto é um bom começo quando o assunto se refere a Ativismo Judicial.
A implementação de ações afirmativas com a finalidade de promoção do princípio da igualdade é uma alternativa correlata a necessidade do idoso no contexto judicial.
Explicando-se que a finalidade das Ações Afirmativas é a promoção da igualdade de fato ou material, em favor de quem sofre historicamente determinadas discriminações quanto ao exercício de seus direitos.
Tal implementação não é de responsabilidade apenas do executivo, mas também do próprio Poder Judiciário, tendo em vista que comumente o fim das questões sociais deságua na Justiça, de quem se espera uma solução razoável.
Parafraseando Andrighi (2004), para os magistrados é confiada a nobre incumbência de, mesmo dispondo de um sistema processual obsoleto, frio e legalista, não permitir que a demora na obtenção dos direitos dos idosos, ultrapasse o plano terreno. Devendo-se rogar ao alto a inspiração advinda da justiça divina, que deve permear o coração de cada juiz brasileiro.
REFERÊNCIAS
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 ANDRIGHI, Fátima Nancy. O acesso do idoso ao Judiciário. Disponível em: <http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/598/Acesso_Idoso_Judici%c3%a1rio.pdf?Sequence=4 >. Acesso em: 11 de out. 2011.
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 (WAGNER JUNIOR, 2006, p.181).
Vale dizer que melhor do qualquer legitimado para atuar como legítimo a ajuizar demandas em favor dos idosos, se encontra o Ministério Público, haja vista a sua característica precípua de fiscalizar a lei, tendo o dever de detectar eventuais carências sofridas por este grupo social.
Pela lei, quem já passou dos 60 anos tem prioridade. Na realidade, porém, idosos sofrem com a superlotação e a morosidade do judiciário. E não são raros os casos em que a solução chega tarde demais. Hoje, dos 130 mil processos nas Turmas Recursais do Juizado Especial Federal (JEF) da Seção Judiciária de Minas Gerais, 95% são ações movidas por pessoas que já chegaram à velhice ou estão doentes. A maior parte delas reclama contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
De acordo com o diretor do Núcleo de Apoio às Turmas Recursais do JEF de Minas, Marcos Bastos d’Eça, o enorme volume de processos é distribuído para 12 relatores, de quatro turmas recursais, uma média de mais de 10 mil por relatoria.
“Cada relatoria conta com apenas dois servidores, mas algumas têm apenas um servidor. Apesardo esforço dos magistrados, não há estrutura para possibilitar o aumento no número de julgados necessários à redução do acervo”, afirmou d’Eça.
São competência dos Juizados Especiais Federais causas em que figuram como parte órgãos da União e que tratam de valores de até 60 salários mínimos.
“As instituições, e aí incluo o INSS, se valem da possibilidade de recursos, muitas vezes intermináveis. Em regra, até que se realize uma execução, levam-se de quatro a cinco anos. Mas há casos que demoram 10 anos ou mais”, afirma o advogado e conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Minas Gerais (OAB-MG), Bruno Reis Figueiredo.
Segundo ele, milhares de aposentados lutam na Justiça apenas para receber o valor correto do benefício, após a União, de forma errônea, retirar parte da quantia do pagamento.
“Acontece que o idoso conta com o dinheiro para pagar seu remédio. Não dá para esperar anos. É uma necessidade diária. A saúde não espera”, ressalta o advogado.
Para Figueiredo, o Estatuto do Idoso estabelece prioridade aos mais velhos, mas as ações são em número tão grande que os processos não são julgados com a justa rapidez e celeridade que mereciam. “Faltam investimentos por parte do governo. A não abertura de novos concursos, por exemplo, é um descaso com o judiciário”, critica o especialista.
Aos 82 anos, o aposentado Geraldo Fernandes de Paula tentou várias revisões de aposentadoria. A negativa, entretanto, só veio mais de quatro anos depois.
“Além da demora, julgaram meu pedido improcedente. É uma derrota dupla”, reclama ele, que, com o orçamento apertado, enfrenta dificuldades para bancar os gastos com a saúde.
No caso de Sebastião Pires, 68 anos, a briga na Justiça é contra os juros abusivos de um empréstimo consignado concedido por um banco. “Tentei negociar de tudo quanto é jeito. A prestação já está em R$ 1 mil. Estou desesperado”, diz.
Negativa na esfera administrativa empurra segurado para a Justiça
Uma das principais causas da lentidão da Justiça é a explosão no número de ações. Para o advogado do Sindicato dos Aposentados, Pensionistas e Idosos de Minas Gerais (Sinap-MG), Alexandre César Aburachid, o volume poderia ser reduzido drasticamente se houvesse mais celeridade e ganhos de causa aos beneficiários nas esferas administrativas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
“Como autarquia federal previdenciária, o INSS sabe que o segurado tem conhecimento de seu direito e ainda assim nega o benefício administrativamente, não restando outra alternativa ao segurado senão procurar a Justiça”, afirma.
Segundo o presidente do Sinap-MG, Adilson Rodrigues, a queixa mais comum entre os aposentados e pensionistas é a demora nos processos que envolvem concessão, revisão e restabelecimento do benefício. “Os juízes estão sobrecarregados. Há muitos casos de falecimento com a ação em andamento. A pessoa morre sem conseguir receber o que lhe é de direito”, diz.
A pensionista Maria de Lourdes Jardim do Carmo perdeu o marido quando seu caçula tinha apenas oito anos. O mais velho era adolescente. Há tempos, trava uma disputa para receber o teto da aposentadoria. “Recebo menos de 80% do dinheiro a que tenho direito. As dificuldades são grandes”, reclama ela, que entrou com recurso administrativo no INSS em maio de 2005, sem sucesso.
Ainda de acordo com Adilson Rodrigues, outro problema são as concessões anteriores aos 65 anos. “O INSS não está efetuando o agendamento, impossibilitando o requerimento administrativo. Esses casos acabam na Justiça, aumentando ainda mais a demanda”, diz.
http://hojeemdia.com.br/primeiro-plano/recursos-p%C3%B5em-idosos-em-fila-sem-fim-no-judici%C3%A1rio-em-minas-1.274630
Muito se tem criticado a justiça brasileira pela sua morosidade, levando anos para julgar um litígio. O que se observa é um descumprimento constitucional, percebido e criticado por muitos juristas, advogados e cidadãos. Esta verdade é tão perceptiva que no âmbito constitucional a emenda constitucional número 45, de 08 de dezembro de 2004 (Reforma do Judiciário), acrescentou ao elenco dos direitos fundamentais do art. 5º da carta magna que todos os cidadãos têm direito a uma justiça célere, assegurando também uma razoável duração para o processo. Se é certo que a atuação do Conselho Nacional de Justiça pode colaborar, até certo ponto, para reduzir o atraso nos julgamentos e nas sentenças, pelo controle dos deveres funcionais dos juízes (CF/88, art. 103-B §40 ), certo também é que não houve muita mudança na celeridade da justiça e que muitos idosos falecem pouco depois de receber seus benefícios ou até mesmo antes que isso acorra. Se a celeridade processual é um direito de todo cidadão, no caso dos idosos, por diversas razões, que serão analisadas no trabalho, este direito deve valer de uma forma muito mais efetiva. A demora na solução dos processos impetrados por pessoas de mais de sessenta anos pode causar problemas físicos e emocionais como ansiedade, angústia, depressão, desânimo, dentre outros. E como já citado, a solução pode chegar tarde demais. A motivação para a realização da pesquisa se origina de diversos fatos baseados na realidade jurídica e sociológica de insatisfação dos cidadãos na prestação jurisdicional do Estado pelo Poder judiciário. É importante ressaltar que o pesquisador trabalha em um escritório especializado em Direito previdenciário há dez anos e que vivencia as situações analisadas neste trabalho no seu cotidiano. Importante também dizer que a morosidade da justiça afeta, de certa forma, a todos os cidadãos, não só na atuação daqueles que utilizam diretamente as varas ou 2 tribunais, mas também na competência deste Poder em declarar, sob ótica difusa e superveniente, o comportamento dativo de interpretações subjetivas de leis e normas que envolvem e comprometem toda a sociedade, de modo especial, neste trabalho, os idosos. Como se não bastassem os inúmeros problemas da justiça, em suas correções protelatórias, a dificuldade de acesso ou mesmo a mudança de perfil da sociedade, a prestação jurisdicional deveria advir de leis que correspondam ao tempo atual e que respondam na velocidade apropriada de hoje aos processos impetrados pela sociedade. Enfim, diante da demora ou morosidade e do preço que a sociedade paga pela ineficiência da Justiça é que alguns segmentos da sociedade civil buscam por meios inidôneos, soluções extrajudiciais utilizando-se a aplicação da auto-tutela e a descrença de justiça, enquanto outros segmentos pleiteiam ampla reforma do Poder Judiciário quanto a esse assunto chave.
Processo judicial como direito fundamental O direito de movimentar a máquina estatal é de toda sociedade. Isto é garantia constitucional. Consta no artigo 5° inciso XXXV da Constituição Federal que "a lei não excluirá da apreciação do Judiciário lesão ou ameaça ao direito". Isto posto, qualquer cidadão que se sentir lesado em seu direito pode procurar o Estado para reivindicá-lo. Não é apenas o texto constitucional que protege este direito. Dentre os princípios norteadores do direito, o princípio da inafastabilidade está diretamente ligado ao artigo supracitado. Este princípio defende o direito assegurado a todos ao acesso ao judiciário. Tendo como parâmetro a eficácia do artigo e do princípio acima citados, uma categoria tem despertado atenção especial, a dos idosos. Não pelo número de processos em que pessoas com idade mais avançada estão envolvidas, mas sim pela morosidade na tramitação e no julgamento dos processos em que eles estão envolvidos e na chegada, muitas vezes, tardia das decisões. Para tratar de forma mais detalhada desta morosidade, que afeta, neste caso, a categoria dos idosos, serão estudados alguns dos dispositivos legais que asseguram a celeridade da tramitação em processos que idosos estejam envolvidos.
Sobre o Estatuto do Idoso e a tramitação preferencial O Estatuto do Idoso – Lei 10741 de 1° de outubro de 2003, é destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta anos). Este documento instituipenas severas para quem desrespeitar ou abandonar cidadãos da terceira idade. Este estatuto dispõe de um título dedicado ao Acesso à Justiça (arts. 69/71), no qual se destacam os dispositivos que prevêem a possibilidade de criação de varas especializadas e exclusivas do idoso (art. 70), e assegura a prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância (art.71). A prioridade na tramitação dos processos no âmbito do Poder Judiciário é uma conquista merecida e justa aos idosos. Infelizmente, como já afirmado, nossa Justiça é muito morosa. A pessoa que chegou à velhice não deve e não pode ficar esperando uma eternidade para ver o seu caso resolvido. Alencar (2006, p.340) enfatiza o significado desse direito: A prioridade de tramitação para a pessoa idosa não significa que esta seja mais digna que as demais pessoas, nem que o princípio da dignidade da pessoa humana só se aplique aos idosos. Não. Em verdade, para se entender que a relação entre prioridade de tramitação para as pessoas idosas e o primado do homem atende ao postulado da isonomia, deve-se ter presente a noção do princípio da diferença, consistente em uma distribuição que melhore a situação de todas as pessoas – trazendo benefício ao idoso que o iguale à pessoa que esteja em melhores condições de expectativa de vida- visando a efetivar a justiça social, especialmente quando confere esperança à pessoa idosa de que seu conflito será solucionado em prazo mais curto, aumentando, assim, a efetividade do princípio da dignidade humana de forma compatível com o princípio da igualdade. Resta claro, por esses argumentos, que o direito de prioridade processual conferido ao idoso não fere o princípio da isonomia, mas, ao contrário, busca efetivá-lo, promovendo ainda a dignidade da pessoa humana.
Dentre os artigos do Estatuto, o artigo 71 merece destaque, uma vez que dispõe sobre a prioridade na tramitação de processos que envolvam pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta anos): Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância. (BRASIL, Estatuto do Idoso, Lei 10.741 de 01 de outubro de 2003). É tendo como parâmetro este artigo que muitas ações são embasadas e muitos pedidos de prioridade aos processos são elaborados e protocolados. A tramitação preferencial envolvendo idosos tem provocado várias alterações de leis. Um exemplo é a alteração de artigos da Lei 5.869 de 11 de janeiro de 1973. Duas mudanças ocorreram nesta lei. Em 09 de janeiro de 2001 através da Lei 10.173 e em 29 de julho de 2009, com a Lei 12.008, em que novamente artigos tiveram a sua redação alterada para fortalecer e sistematizar esta tramitação preferencial.
Os artigos alterados disciplinam a prioridade na tramitação dos processos dos idosos: Art. 1.211-A. Os procedimentos judiciais em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, ou portadora de doença grave, terão prioridade de tramitação em todas as instâncias. Art. 1.211-B. A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que determinará ao cartório do juízo as providências a serem cumpridas. § 1o Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que evidencie o regime de tramitação prioritária. Art. 1.211-C. Concedida a prioridade, essa não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se em favor do cônjuge supérstite, companheiro ou companheira, em união estável. (BRASIL, Código de Processo Civil, Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973) Percebe-se, portanto, que a lei expressa, de forma clara e precisa, os direitos ao atendimento rápido e prioritário aos processos em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a sessenta anos. O problema é a percepção do não atendimento a estas leis. Desta forma os processos de pessoas idosas continuam tendo um tratamento moroso e descuidado, o que acaba gerando consequências graves, na maioria dos casos.
CAUSAS DA MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO 2.1 Causas internas Os procedimentos pelos quais tramitam os processos na justiça brasileira são previamente estabelecidos em Lei. Ocorre que a finalidade principal da justiça é alcançar a solução dos conflitos. Sendo assim, ainda que as formas sejam previamente estabelecidas em Lei, é essencial analisar se certo ato deverá ser ou não invalidado pela não observância da solenidade prevista na Lei. 9 Alexandre Freitas Câmara (2009, p.237) explica esta situação:
O princípio da instrumentalidade das formas, também previsto no artigo 154 do Código de Processo Civil, determina que os atos processuais solenes, tendo sido praticados sem observância das formalidades impostas por lei, ainda assim serão válidos, desde que atinjam sua finalidade essencial. Valoriza-se assim, o conteúdo do ato, em detrimento de sua forma, o que se faz mesmo nos atos solenes.
Trazendo este princípio para o presente estudo, observa-se que a tramitação preferencial de processos envolvendo idosos não deve ser estampada apenas na capa dos processos em obediência à solenidade prevista em Lei, mas sim ser efetivada na prática. É fácil observar o descaso interno nestes casos. De que adianta a estampa de tramitação preferencial nos rostos dos processos se tal tramitação não é acatada, na maioria das vezes, na prática dos atos? A tramitação dos processos deve ser diferenciada. A recente proposta do judiciário deve se ater não apenas à solenidade, mas também a realidade.
O juiz e o descaso frente às unidades jurisdicionais
Atribuindo responsabilidades, pode-se dizer, em concordância com Beneti (2009), que o juiz não deve ser responsável apenas pelo ato de julgar, mas também pelas atividades que se desenvolvem nas unidades durante a tramitação dos processos. De nada adiantaria os processos serem julgados pelos magistrados, trazendo soluções brilhantes, se estas chegarem tarde demais aos interessados, salienta o autor. Bem claro o exemplo trazido por Sidnei Agostinho Beneti (2003, p.12): O juiz deve ser encarado como um gerente de empresa, de um estabelecimento. Tem sua linha de produção e produto final, que é a prestação jurisdicional. Tem de terminar o processo, entregar a sentença e a execução. Como profissional de produção é imprescindível que mantenha um ponto de vista gerencial, aspecto da atividade judicial que tem sido abandonado. É falsa a separação estanque entre as funções de julgar e dirigir o processo – que implica orientação ao cartório. O maior absurdo derivado desse nocivo ponto de vista dicotômico é a alegação que às vezes alguns juízes manifestam, atribuindo culpa pelo atraso dos serviços judiciários ao cartório que também esta sob a sua orientação e fiscalização. A omissão dos juízes na administração das unidades deve ser superada se a intenção do judiciário é a tramitação célere dos processos. Analisando os procedimentos pelos quais passam os processos, observa-se que a maior parte do tempo, os mesmos estão tramitando pela secretaria, apenas para cumprir normas estabelecidas em Lei. A visão de que a unidade jurisdicional organizada muito contribui para a celeridade na tramitação processual já está presente entre muitos. Está faltando colocar em prática. Alcançada a excelência do serviço em cada setor das unidades, o problema da morosidade no âmbito institucional será mais fácil de ser solucionado. A realidade administrativa precisa ser alvo da preocupação dos juízes já que a tramitação dos processos também é de sua responsabilidade. Porém pesquisas sobre o Poder Judiciário realizadas pelo Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo, e que compõem a Coleção IDESP de Pesquisas por amostragem

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