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Sentença Descrição: Vistos etc. Trata-se de ação penal pública incondicionada à representação proposta pelo Ministério Público em face do réu Fulano de tal, qualificado às fls. 05 do APF, através da qual se imputou em desfavor do denunciado a prática de delito de roubo com a incidência de duas causas especiais de aumento de pena (emprego de arma e concurso de pessoas), por três vezes, em concurso formal, e, o delito de roubo na forma tentada, em concurso material. A denúncia descreveu a conduta delituosa nos seguintes termos: ´No dia 13 de fevereiro de 2012, por volta das 07:00 horas, o denunciado e outro elemento ainda não identificado, em comunhão de ações e desígnios, ingressaram na loja de material de construção situada na Rua Henrique Braga, nº 518, em Oswaldo Cruz, e mediante grave ameaça exercida com emprego de arma de fogo anunciaram o assalto, renderam o proprietário do estabelecimento, Sr. Antonio Gloria Pinto, e subtraíram para si a quantia de R$ 2.000,00 atinente à feira do comércio, bem como os aparelhos celulares dos funcionários Marcos Pedro Pereira da Silva e Lizandro Sanches Cardoso, conforme descrito nos autos de entrega de fls. 28/29. Noticiam os autos que após realizarem a rapina ousaram o denunciado e seu comparsa se evadir da loja, para tanto pulando o muro localizado nos fundos do estabelecimento, e em seguida lograram, de arma em punho, render o nacional Elmir da Silva Alves e dele subtrair o veículo VW/Bora, cor prata, além de dois aparelhos celulares, após o que foram interceptados por policiais militares lotados no 9º BPM que conseguiram capturar Fulano de tal dentro do auto VW/Bora e ainda em poder do revólver calibre 32 utilizado na empreitada e dos telefones móveis surrupiados, tendo seu companheiro conseguido alcançar fuga.´ Os fatos levaram o Ministério Público a capitular a denúncia nos tipos penais prescritos no art. 157, parágrafo 2º, I e II (três vezes) na forma do art. 70, c/c art. 157, par. 2º, I e II em c/c art. 14, II, na forma do art. 69, todos do Código Penal. Recebimento da denúncia às fls. 02. Auto de apreensão da arma e munições às fls. 25. Auto de apreensão dos telefones celulares às fls. 25/29. Folha de antecedentes criminais do acusado às fls. 58, cujo teor atesta a sua primariedade. Resposta preliminar às fls. 99/103. Ratificação do recebimento da denúncia às fls. 106. Laudo de exame de arma de fogo e munições às fls. 117/119. Laudo de exame de avaliação indireta às fls. 120. Audiência de Instrução e Julgamento, com assentadas às fls. 149/150 e 163, na qual foram ouvidas seis testemunhas arroladas na denúncia e duas testemunhas indicadas pela defesa. O réu foi interrogado. Alegações finais do Ministério Público, às fls. 169/170, na qual pugnou pela condenação do réu pela prática dos delitos do art. 157, parágrafo 2o, incisos I e II (três vezes) e art. 157, §2º, incisos I e II na forma do art. 14, II, tudo na forma do art. 71 do Código Penal. Alegações finais apresentadas pelo réu, às fls. 173/176, através das quais pugnou pelo reconhecimento da tentativa, face à ausência de posse mansa e pacífica dos bens subtraídos, o reconhecimento da atenuante prevista no artigo 65, III, d, do CP, e, por último, a fixação da pena no mínimo legal e a concessão do direito de recorrer em liberdade. É o relatório, passa-se a decidir. Trata-se de ação penal pública contra Fulano de tal, através da qual se apurou os crimes de roubo, por três vezes, com a incidência de duas causas especiais de aumento de pena (emprego de arma e concurso de pessoas) e o delito de roubo na forma tentada também com a incidência de duas causas especiais de aumento de pena (emprego de arma e concurso de pessoas), em concurso material. Como será analisado a seguir: - a instrução criminal demonstrou de forma irrefutável, o comportamento, típico, antijurídico e culpável do réu, o qual se enquadra perfeitamente no crime de roubo com a incidência de duas majorantes, por três vezes, c/c o delito de roubo também com a incidência de duas causas especiais de aumento de pena todos em continuidade delitiva. Da análise dos delitos imputados contra o réu. - Art. 157, parágrafo 2º, incisos I e II do CP (três vezes) A figura típica do roubo é composta pela subtração conjugada com o emprego de grave ameaça ou violência à pessoa. São, portanto, os elementos que compõem a figura típica do roubo: a) o núcleo subtrair; b) o especial fim de agir; c) a coisa alheia móvel; d) o emprego de violência (própria ou imprópria à pessoa) ou grave ameaça. O que torna o crime de roubo especial em relação ao furto é justamente o emprego da violência à pessoa ou da grave ameaça, com a finalidade de subtrair a coisa alheia móvel para si ou para outrem. O Código Penal prevê dois tipos de violência. A primeira delas, contida na primeira parte do artigo, é a denominada própria, isto é, a violência física, a qual é praticada pelo agente a fim de que tenha sucesso na subtração; A segunda, entendida como imprópria, ocorre quando o agente, não usando de violência física, utiliza qualquer meio que reduza a possibilidade de resistência da vítima, conforme se verifica pela leitura da parte final do caput do dispositivo legal. Nelson Hungria, esclarecendo o significado da violência imprópria diz: ´aos meios violentos é equiparado todo àquele pelo qual o agente, embora sem emprego de emprego de força ou incutimento de medo, consegue privar a vítima o poder de agir´. De forma que, o comportamento ilícito do réu, juntamente com seus comparsas, ao abordarem as vítimas no interior de um estabelecimento comercial, e, anunciar o assalto com o emprego de arma de fogo, importa, por si só, na redução da possibilidade de resistência da vítima de tal modo a caracterizar o crime de roubo. E foi exatamente esta modalidade de violência que caracterizou o comportamento do réu Fulano de tal, inclusive, por ter utilizado as vítimas como ´escudo humano´ no momento da fuga. Vejamos trechos da ouvida das testemunhas em juízo. A testemunha Alvarani de Souza Dutra arrolada na denúncia relatou: ´que se recorda da prisão; que recebeu o comunicado pela sala de operações; que estava havendo essa situação de assalto na loja; que começou a proceder pro local; que chegando ao local deparou-se com dois colegas que estavam na viatura em frente a loja, porém não haviam adentrado porque eles estavam na posse de arma de fogo; que poderia ter um confronto e lá dentro tinha vítima; que no momento que eles fugiram, ele já havia adentrado o Bora do senhor e um outro senhor estava apontando para mim, ´dentro do carro´, ´dentro do carro´; que pediu para explicar e ele falou: ´dentro do carro, dentro do carro´; que foi a hora em que chegou e fez a rendição do Fulano de tal; que pediu para que ele largasse a arma e deitasse no chão para ser feita a prisão; que no mesmo momento ele deixou a arma; que pegou a arma, pegou ele e conduziu para a viatura; que o outro elemento se evadiu por dentro da casa do proprietário do bora e saiu pulando, muros e muros; que tentaram fazer o cerco; que realizaram buscas, mas não tiveram sucesso; que as pessoas lá da loja do material da loja de construção foram observar se foi ele quem estava na loja; que o celular e os pertences estavam na posse dele; que no momento ele foi revistado, foi encontrado; que foi conduzido a delegacia onde foi devolvido a eles; que não foi apreendido dinheiro por sua parte; que ele não falou nada na hora da prisão; que ele não reagiu a prisão; que ele confessou.´ A testemunha Leonardo dos SantosSilva arrolada na denúncia relatou: ´que se recorda dos fatos; que eram 3 setores envolvidos; que eram seis e eles fizeram o cerco na outra rua; que foi acionado com outro colega, Sargento Cavalcante, para um roubo em estabelecimento; que foram os primeiros a chegar; que deparou-se com o Fulano de tal no interior da loja; que quando ele me avistou correu para o interior da loja onde estavam os outros reféns; que fizeram o cerco; que acionaram através de nossa sala e pediram apoio; que vieram os outros dois setores; que fizeram o cerco na rua Andrade de Araújo; que quando chegaram, ele já tinha corrido e pularam o muro atrás da loja, os dois indivíduos; que não chegou a entrar na loja; que ficaram na porta da loja e acionou o apoio porque tinha refém; que o apoio veio pela outra rua; que eles pularam a rua, onde o Fulano de tal tentou render o Senhor com o carro; que quando chegaram conseguiram prender o Fulano de tal e o outro se evadiu; que recuperou o celular; que o único bem que não recuperou foi o dinheiro do Sr. Antônio; que o outro elemento se evadiu; que quando a outra viatura chegou outro senhor ficou apontando e falando ´ta dentro do carro, dentro do carro´; que rendemos; que ele saiu do carro; que rendeu ele com o companheiro Alvarani; que ele estava armado; que ele não reagiu; que deu de frente com ele desde o momento em que chegou, ele dentro da loja e eu do lado de fora; que quando botou a cara na loja, ele tava dentro da loja; que quando ele me viu se evadiu para dentro da loja.´ A testemunha/vítima Antonio da Gloria Pinto arrolada pela denúncia relatou: ´que é o proprietário da loja de material de construção; que foi rendido de imediato; que estava chegando na loja e não deu nem tempo de abrir a loja; que foi ameaçado; que vasculharam o que puderam; que surgiu a polícia no local e eles saíram; que eram duas pessoas; que viu cada um com uma arma; que levaram 2 mil reais e alguma coisa que não tem a quantia necessária; que haviam todos os funcionários da loja; que subtraíram os celulares dos funcionários da loja; que eles anunciaram que quem tivesse celular para colocar em cima da mesa; que colocou o seu também; que não viu a prisão; que não saiu da loja; que depois soube que eles foram presos; que eles entraram pelo portão da garagem; que eles saíram pelos fundos da loja e saíram pelo telhado; que depois veio saber do roubo do carro; que não sabe dizer que a pessoa que roubou o carro era o mesmo do roubo da loja; que ficaram retidos na loja, pois a intenção deles era achar alguma coisa a mais; que até a chegada da polícia levou no mínimo 20 minutos.´ A testemunha/vítima Marcos Pedro Pereira da Silva arrolada pela denúncia relatou: ´que trabalha na loja de material de construção; que por volta de dez para as sete da manhã coloca os caminhões para fora; que é motorista; que colocou o primeiro caminhão azul na Pinheiro de Figueiredo e foi tirar o segundo amarelo; que enquanto tirava o segundo amarelo e estava dando marcha ré viu que encostou um celta prata; que desceram os dois elementos e foram caminhando a loja; que como havia uma placa ´preciso de ajudantes´ pensou que era alguém atrás de emprego; que entraram na loja; que desligou o caminhão e esse carro saiu; que tinha o vidro escuro; que quando entrou, ele o enquadrou no portão já; que estava com revolver abaixado e boné na cabeça; que ele falou: ´vem, vem, vem´; abaixa a cabeça e entra no escritório´; que chegou no escritório e os funcionários já estavam rendidos no balcão; que o Seu Antônio estava sentado; que me colocou sentado, de cabeça baixa; que assim ficou o tempo todo; que eles falaram: ´quem está com o celular, retire e coloca aqui em cima da mesa´; que tirou o celular e colocou em cima da mesa; que um deles estava limpando o caixa e falou: ´A polícia tá aí, a polícia tá aí´; que pegou de refém o Bruno e o outro rapaz; que o pessoal ia chegando na loja, ia bater o cartão e eles agarravam; que nisso vinham mais dois ajudantes; que agarrou eles e saiu com eles; que eles levaram alguns aparelhos; que levaram o meu e o do Lisandro; que foi na delegacia retirar o aparelho; que eles saíram por trás; que enquadram os dois rapazes e levaram de escudo; que foram por trás, arrombaram o telhado e saíram por cima do telhado; que eles foram parar lá atrás, na Andrade de Araújo; que não sabe como, nem quem foi preso, pois agente ficou na loja o tempo todo de cabeça baixa; que soube porque um dos elementos estavam com o aparelho e foi buscar na delegacia; que não viu a prisão dele; que os dois estavam armados; que não viu o rosto dele; que tinha um que ficou no escritório e o outro estava limpando o caixa; que não sabe quem é Fulano de tal; que um funcionário nosso, Paulo, chegou por último na loja; que ele sentiu o lance e estava agredindo o Seu Antônio, dando uns tapas nele e perguntando onde estava o dinheiro; que viu quando ele passou; que ele discou para a polícia no 190; que eles estavam lá brincando de roleta russa; que ele deu uns tapas no Seu Antônio; que esse estava lá dentro teve uma hora que ele abriu o tambor da arma e deixou cair a munição; que ele colocou, girou o tambor e falou: ´vambora, vou matar um por um se não falar onde tá o dinheiro´; que ele apontou a arma pra cabeça de todo mundo; que não puxou o gatilho, apenas apontou.´ A testemunha/vítima Lizandro Sanches Cardoso arrolada pela denúncia relatou: ´que trabalha na loja de material de construção; que estava dentro da loja, destrancando; que escutou um cara falando da sala; que tem um mostruário; que entrou no meio da pia e ficou escondido; que não teve contato com ele; que só viu ele passando, entrando e saindo; que eram duas pessoas pelo que estava escutando; que estavam armados; que não sabe como eles saíram da loja; que escutou um policial falando: ´Não, tá tranquilo´ e saiu da loja; que depois na viatura foi ver; que viu rapidamente a pessoa presa; que não pode identificar ele como sendo a pessoa que efetuou o roubo dentro da loja; que levou meu celular e um dinheiro que estava na carteira; que não teve visão dos réus, apenas ouviu.´ A testemunha/vítima Elmir da Silva Alves arrolada na denúncia relatou: ´que foi vítima do roubo; que saiu de casa para o trabalho; que ao sair de casa foi abordado por duas pessoas, dois rapazes; que um se apossou logo no volante do carro e o outro ficou por trás; que pelo fato de ter mantido uma tranquilidade imensa; que trabalhou por 20 anos na Funabem com menor infrator; que então consegue ter um pouquinho de experiência; que pegou a chave do meu carro; que não é bora; que é Polo; que é aquela chave de canivete; que dobrou a chave e deu para o cara que estava atrás; que ficou dialogando; que ele perguntou onde estava a chave; que respondeu que já havia dado a chave; que ele tirou meu celular; que ficaram naquele diálogo e nesse momento a polícia chegou; que o que estava atrás de mim pulou o muro e sumiu; que o rapaz que estava no carro saiu se arrastando, deitou no chão e falou: ´chegou a polícia, e agora?´; que respondeu: ´calma, rapaz, fica frio.´; que ficou nisso só; que não notou arma, mas acredita que sim; que sabe que o outro rapaz com certeza estava; que não viu outros aparelhos; que sua casa fica na distancia de uns 300, 400 metros da loja de material de construção; que a casa de material de construção fica aqui, dá a volta na outra rua e a minha é a terceira ou quarta casa; que não sabia se o Fulano de tal estava em fuga pelo roubo na loja de material de construção; que segundo comentáriosda esquina ele teria saído de dentro de uma vila; que essa vila fica duas, três casas da sua, foi uma ocasião que aconteceu de estar saindo e eles também; que não sabe dizer com certeza se o Fulano de tal estava armado, mas o outro sim; que viu a arma; que os funcionários nem policiais comentaram do roubo na loja de material de construção; que o pessoal da loja de material de construção não chegou lá; que o policial chegou e apontou para ele; que começou a dialogar com ele falando: ´calma, calma´; que deu a volta pelo lado do carro e correu para o lado dos PMs.´ A testemunha Ivone Ferreira Silva arrolada pela defesa relatou: ´que conhece o réu; que é vizinha dele; que sempre foi um rapaz direito; que sempre que passa perto ele cumprimenta; que sabia que a mãe dele falou que ele estava trabalhando; que ele tem ataque epilético; que é técnica de enfermagem; que a mãe dele sempre a chamava para ir lá; que ele sempre foi um rapaz de boa conduta na vizinhança; que pelo que sabe nunca teve problema; que nunca ficou sabendo se ele havia sido processado anteriormente; que até estranhou; que não sabe nada sobre esses crimes cometidos; que a sobrinha dele foi a sua casa e falou que o Fulano de tal estava doente; que a mãe dele estava doente; que sempre o achou um menino direito; que conversava; que ficou abismada.´ A testemunha Amanda Dutra Ferreira arrolada pela defesa relatou: ´que teve ciência dos fatos narrados na denúncia; que sabe o que foi passado pela televisão; que pelo que ouve e viu na televisão ele teria praticado sim o crime; que não sabe se ele foi detido com uma arma no interior de um veículo; que conhecia o réu anteriormente; que ele era um bom rapaz; que foi vizinha; que ele nunca deu problema na vizinhança; que não sabe se ele teria sido preso ou processado anteriormente; que ele trabalhava de ajudante de caminhão; que ele estudava, não tinha envolvimento com drogas; que era um bom menino.´ O réu em sede de autodefesa sustentou: ´que tem 25 anos; que nunca foi preso nem processado anteriormente; que os fatos narrados na denúncia são verdadeiros; que não chegou a roubar o carro; que saiu da loja e foi assaltar a loja; que estava com o Luciano; que os dois estavam armados; que na noite anterior haviam usado drogas lá no amarelinho, perto de onde mora; que era cocaína; que passaram a noite toda cheirando; que conhecia o Luciano; que ficou dois anos sem usar droga; que fez o tratamento por dois anos; que teve recaída; que foi usar e já conhecia o Luciano; que ele é morador do amarelinho; que mora em Vista Alegre; que quando vai buscar droga só vai no amarelinho; que conhecia algumas pessoas lá e o Luciano; que quando acabou a droga queriam usar mais e resolveram praticar o assalto; que saíram em busca de alguma coisa; que viram ele chegando para abrir a loja e resolveram abordar ele; que perguntaram cadê o dinheiro; que pegou os dois mil reais e os telefones dos funcionários; que pegou o dinheiro no caixa e ele pegou o celular e deu para o réu; que o policial chegou na loja; que acha que já tinha policial lá por perto; que chegou na loja gritando ´deita no chão´; que ele falou ´sujou´; que correram para trás da loja; que subiram pelo telhado; que subiram em cima do caminhão; que quebrou o telhado; que foram andando por cima do telhado e saíram numa rua; que quando saíram numa rua o rapaz do Bora estava estacionando o carro; que foi na hora em que agente acionou e falou que agente ia pegar esse carro para agente sair e ir embora dali daquele local; que foi na hora que os policiais renderam agente; que pediu a chave do automóvel ao rapaz; que ele falou que a chave estava dentro do carro; que entrou dentro do carro e colocou a mão na ignição não viu a chave; que falou ´Luciano, pega a chave com ele´; que quando ele saiu os policiais chegaram; que quando os policiais chegaram ele correu; que os policiais chegaram dando tiro nele; que se rendeu e ele conseguiu fugir; que ele mora lá no IAPC, do lado do conjunto do amarelinho.´ Como se verifica pelos depoimentos prestados em juízo pelas testemunhas, o réu, juntamente com seu comparsa, em uma só ação, e, mediante o uso de arma de fogo, roubou a loja de material de construção, levando das vítimas R$ 2.000,00 (dois mil reais) e três telefones. Em outra ação delitiva, mas, em ato contínuo, e, com a finalidade de fuga do local, o que denota o liame subjetivo entre as ações, o acusado e o outro meliante, que se evadiu, tentaram roubar o veículo, ocasião em que fora preso em flagrante delito pelos policiais militares. Ressalta-se que, o próprio réu, em seu interrogatório, confessou a prática do delito, reconhecendo ter atuando em comunhão de ações e desígnios com outro meliante, assim como, o emprego da arma na consecução dos delitos. As duas causas especiais de aumento de pena para os respectivos crimes de roubo também devem se atribuídas ao réu. Dá-se o reconhecimento da majorante pelo emprego da arma, em virtude da sua efetiva utilização, já que o acusado e seu comparsa estariam armados, o que se atesta com o depoimento das testemunhas em juízo e pela própria confissão do réu. E a potencialidade lesiva da arma apreendida pôde ser atestada com o laudo pericial, anexado aos autos às fls. 117/119, por ser capaz de produzir disparos. Em assim sendo, deve-se reconhecer a majorante pelo emprego de arma de fogo em desfavor do réu. Já quanto à causa especial de aumento de pena pelo concurso de pessoas, tem-se que é necessário o acordo de vontades dirigido à finalidade comum de subtrair coisa alheia móvel, e, para tanto, faz-se mister verificar o vínculo psicológico que unia os agentes na prática do mesmo crime. A ausência de liame subjetivo entre os agentes afastaria o concurso de pessoas. Existe polêmica jurisprudencial e doutrinária com relação ao fato de se exigir, para fins de reconhecimento da causa de aumento, a presença das pessoas durante a execução material do delito. Weber Martins Batista concluiu sobre o tema: ´A lei pune todos aqueles que, moral ou materialmente, concorrem para o crime, mas só considera agravado o furto praticado, cometido, executado por dois ou mais agentes. Assim, à interpretação teleológica(...), se junta a interpretação literal da norma em exame e a sua comparação com a o art. 29 do Código Penal, tudo levando à conclusão de que é necessária a presença dos concorrentes no local do crime, na hora de sua execução, pois o furto só será cometido mediante o concurso de duas ou mais pessoas se estas participarem na fase executiva do delito´. Com a prova oral produzida na fase de instrução do processo se confirmou que o réu atuou na companhia de outro meliante, e, que, teriam agido de forma conjunta e coordenada na prática do delito. Os agentes envolvidos nas empreitadas criminosas participaram da fase execução dos crimes, portanto, deve, por tal razão, incidir a causa especial de aumento de pena pelo concurso de pessoas. Não merece guarida a alegação defensiva de reconhecimento da figura da tentativa quanto aos crimes de roubo ocorridos no interior da loja de material de construção, eis que o dinheiro subtraído, aproximadamente, R$ 2.000,00 (dois mil reais) não foi recuperado. Até porque, os objetos subtraídos foram retirados da esfera de disponibilidade das vítimas. Não se faz necessária a posse mansa e pacífica da coisa subtraída, após, o emprego da violência, para a consumação do crime de roubo. O Superior tribunal de Justiça se posicionou no sentido de que o crime de roubo se consuma no instante em queo meliante se torna possuidor da coisa alheia móvel, não sendo necessário que a coisa saia da esfera de vigilância do antigo possuidor. Já quanto ao crime de roubo do veículo deve- se reconhecer a figura da tentativa. O acusado foi preso em flagrante delito no curso da execução do segundo roubo, ainda, no local da subtração, e, portanto, tem-se que a hipótese comporta a modalidade tentada, mas, não com relação aos três primeiros roubos (três patrimônios distintos) praticados em uma só ação, o qual já estaria consumado, e, sim, com relação ao roubo do veículo, já que o bem não chegou a sair da esfera de vigilância do ofendido. E para a dosimetria penal, quanto ao crime roubo tentado, impõe-se a redução da pena na fração de 1/3, posto que, o crime chegou perto da consumação. O acusado foi preso em flagrante delito já no exercício da disponibilidade da coisa, uma vez que se encontrava no interior e na direção do carro. E somente não empreendeu fuga no veículo roubado em razão da atuação policial. Ressalta-se que, quanto à primeira conduta delitiva, ocorrida no interior da loja de material de construção, o acusado, mediante uma só ação, praticou três crimes de roubo, pois foram atacados três patrimônios de vítimas distintas, o dono da loja e dois funcionários, razão pela qual se reconhece o concurso formal entre estes delitos. De toda sorte, há que se reconhecer, em continuação delitiva, entre os delitos de roubo, ocorridos no interior do estabelecimento comercial, e, o roubo do veículo. O nosso código penal adotou a teoria da ficção jurídica com a presunção da existência de um só crime. Houve a pluralidade de condutas; a pluralidade de crimes da mesma espécie; a observância das condições objetivas exigidas de tempo, lugar e maneira de execução; e a unidade de desígnio. E O STJ ao fazer distinção entre a reiteração criminosa e o nexo de continuidade dos crimes exigiu, além da homogeneidade das circunstâncias objetivas; 1º - a violação de um mesmo bem jurídico; 2º - a utilização pelo agente de uma dada situação pessoal prévia aos delitos, cuja atividade se desdobre em várias ações. Os delitos de roubo, em um curto espaço de tempo, foram praticados pelo réu e seus comparas, em locais próximos, exatamente pela situação pessoal que se encontravam os agentes. Somente tentou-se roubar o veículo para que fosse utilizado na fuga da empreitada criminosa. A destinação final do veículo, inclusive, é desconhecida. Por tudo dito, deve-se reconhecer a continuação delitiva entre o crime de roubo majorado duas vezes (3X), em concurso formal, e, o crime de roubo com a incidência das duas causas especiais de aumento de pena na sua forma tentada. Nada impede que entre dois ou mais delitos componentes da continuação haja concurso formal, porém, neste caso, incidirá um só aumento de pena, o do delito continuado, prejudicando o do art. 70 do CP (relativo ao concurso formal). In Damásio de Jesus, comentários ao Código Penal-Parte Geral; São Paulo, Saraiva, 1985, 29 vol. P. 684. Isso porque o objetivo do legislador foi o de ´prevenir o apenamento intenso do indivíduo merecedor de censura menos grave que se tivesse cometido iguais delitos por meio de ações distintas´, e pelo fato de que a regra do concurso ideal só há de ser aplicada quando efetivamente trouxer proveito ao réu, devendo ser afastada quando lhe acarrete prejuízo (STF, RE 101.925/SP, 2ª Turma, Rel. Francisco Rezek, DJ de 14/03/1986). Outrossim, o STJ já se posicionou no sentido de que, nas situações em que configuradas as duas hipóteses de aumento da pena concernentes ao concurso formal e a continuidade delitiva, admite-se apenas uma exacerbação, qual seja, aquela relativa ao crime continuado, sob pena de bis in idem. (STJ, HC 70.110/RS, 5ª Turma, Rel. Ministro Gilson Dipp, DJe de 04/06/2007). O aumento a ser aplicado em decorrência do reconhecimento da continuidade delitiva deve ser estabelecido de acordo com o número de infrações. E como há quatro delitos de roubo majorados pelo concurso de pessoas e emprego de arma, sendo que um deles praticado na sua forma tentada, aplicar-se-á a pena mais grave, aumentada, neste caso, da fração de ¼. Assim sendo, forte é o mosaico probatório constituído pela acusação, nada havendo que ilida a pretensão punitiva aduzida na denúncia. Desta feita, inexistem causas de excludente da ilicitude ou da culpabilidade, agindo o acusado de forma livre e conscientemente, tornando-se os fatos imputados a este, típicos, antijurídicos e culpáveis. Face ao exposto, JULGA-SE PARCIALMENTE PROCEDENTE a pretensão punitiva estatal para condenar o réu Fulano de tal nas penas do art. 157, parágrafo segundo, incisos I e II (três vezes) n/f do art. 70 c/c a art. 157, parágrafo segundo, incisos I e II n/f do art. 14, inciso II, e, por último, na forma do art. 71, todos do Código Penal. Passa-se a dosimetria da pena em relação à subtração do patrimônio do estabelecimento comercial. - Art. 157, parágrafo segundo, incisos I e II, (três vezes) n/f do art. 70 do Código penal. Atento ao processo trifásico de aplicação da pena adotado por nosso Estatuto Penal, inicialmente, analisa-se as circunstâncias judiciais previstas em seu art. 59. ATENÇÃO AQUI! Aferidos os critérios do art. 59 do Código Penal, em especial, as circunstâncias e consequências do crime, já que o réu, juntamente com seus comparsas, utilizou o proprietário e os funcionários do estabelecimento comercial como escudo humano no momento da fuga, além de terem agredido, de forma desmedida, o proprietário da loja, pessoa idosa, eleva-se a pena-base na fração de 1/8, fixando a pena-base em 04 (quatro) anos e 06 (seis) meses de reclusão e 11 (onze) dias multa no mínimo legal. Inexistem circunstâncias agravantes a considerar, no entanto, reconhece-se a circunstância atenuante da confissão, pelo que, se diminui a pena nesta fase em 1/8, passando a pena preliminar para 04 (quatro) anos e 10 (dez) dias-multa no equivalente ao mínimo legal. E diante do reconhecimento da incidência das duas causas específicas de aumento da pena (emprego de arma e concurso de pessoas), na última fase de fixação da pena, aumenta-se a pena na fração de 3/8, para fixá-la definitivamente em 05 (cinco) anos e 06 (seis) meses de reclusão e 13 (treze) dias- multa no mínimo legal. Deixa-se de realizar a dosimetria da pena para os dois outros crimes idênticos (dois aparelhos de telefonia celular), pois praticado com uma só ação, o que implicaria na correspondência das penas. E, assim sendo, em razão do concurso formal, e, por ter sido atingido três patrimônios distintos numa única ação, aumenta-se a pena na fração de 1/5 para fixá-la em 06 (seis) anos e 07 (sete) meses de reclusão e 15 (quinze) dias-multa a razão do mínimo legal. Passa-se a dosimetria da pena do roubo do veículo. - Art. 157, parágrafo 2º, inciso I e II do CP n/f do art. 14, inciso II do CP. Atento ao processo trifásico de aplicação da pena adotado por nosso Estatuto Penal, inicialmente, analisa-se as circunstâncias judiciais previstas em seu art. 59. Aferidos os critérios do art. 59 do Código Penal, em especial, as circunstâncias e consequências do crime, não há como se elevar a pena-base neste crime de roubo, fixando-a em 04 (quatro) anos de reclusão e 10 (dez) dias- multa no mínimo legal. Inexistem circunstâncias agravantes a considerar, no entanto, reconhece-se a circunstância atenuante da confissão, mas, deixa-se de reduzir a pena nesta fase por força do enunciado de Súmula n. 231 do STJ, fixando-a, então, em 04 (quatro)anos de reclusão e 10 (dez) dias- multa no mínimo legal. E diante do reconhecimento da incidência das duas causas específicas de aumento da pena (emprego de arma e concurso de pessoas), aumenta-se a pena na fração de 3/8, para fixá-la definitivamente em 05 (cinco) anos e 06 (seis) meses de reclusão e 13 (treze) dias-multa no mínimo legal. E por força do reconhecimento da figura tentada, e, em razão do iter criminis percorrido, reduz-se a pena na fração de 1/3 para fixá-la definitivamente em 03 (três) anos e 08 (oito) meses e 08 (oito) dias-multa no mínimo legal. Mas diante do reconhecimento da continuidade delitiva, como modalidade de concurso de crimes, aplicar-se-á a pena mais gravosa, afastando-se o concurso formal e descartando- se a pena dos demais crimes consumados e do crime tentado, aumentada da fração de 1/4 para atingir a pena definitiva em 06 (seis) anos, 10 (dez) meses e 15 (quinze) dias de reclusão e 16 (dezesseis) dias-multa no equivalente ao mínimo legal. No que tange ao regime de cumprimento da pena, com fulcro no parágrafo 3o do art. 33 do CP, e observando-se as condições judiciais dos crimes de roubo consumados, analisadas na primeira fase da fixação da pena, o número de crimes praticados pelo réu e o montante da pena aplicada, se fixa o regime inicialmente fechado. Estas mesmas razões justificam a manutenção da prisão cautelar do réu, vez que demonstram que o mesmo em liberdade constitui ameaça a ordem pública, dada a sua periculosidade, em razão do seu comportamento agressivo na execução do crime e impossibilitará a aplicação da lei penal, posto que, admitir-se-á a sua fuga do distrito da culpa. Condena-se o Réu nas custas do processo. Após o trânsito em julgado expeça-se Carta de execução da sentença, e, em seguida, comunique-se, dê-se baixa e arquivem-se. Anote-se e certifique-se. Publicada em mãos da escrivã. Registre-se. Intimem-se. Imprimir Fechar
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