Eficácia e Aplicabilidade das Normas Constitucionais

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Eficácia e Aplicabilidade das Normas Constitucionais
Regra geral: todas as normas constitucionais apresentam eficácia.
O que significa eficácia?
É a aptitude para ser aplicada aos casos concretos (potencialidade)
Capacidade de atingir objetivos previamente fixados como metas.
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José Afonso da Silva: “Uma norma só é aplicável na medida em que é eficaz. Por conseguinte, eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais constituem fenômenos conexos, aspectos talvez do mesmo fenômeno, encarados por prismas diferentes: aquela como potencialidade; esta como realizabilidade, praticidade”(Eficácia e Aplicacibilidade das Normas Constitucionais, 6. ed, São Paulo: Malheiros, 2004, p. 60)
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Toda norma apresenta eficácia
Porém:
Algumas: social e jurídica
Outras: apenas social
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Portanto: duas espécies de eficácia
a)- eficácia social: também chamada de efetividade, é a concreta observância da norma no meio social
b)- eficácia jurídica: que designa a qualidade de produzir, em maior ou menor grau, efeitos jurídicos. Pode ser encarada sob dois aspectos: o sintático (diz respeito às relações de coordenação e subordinação das normas constitucionais) e o semântico (sobre sua capacidade de gerar direito subjetivo)
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Os dois sentidos da palavra eficácia (social e jurídico), não obstante diversos, resultam conexos, pois “uma norma pode ter eficácia jurídica sem ser socialmente eficaz, isto é, pode gerar certos efeitos jurídicos, como por exemplo, o de revogar normas anteriores, e não ser efetivamente cumprida no plano social” (ob. cit. p. 66)
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No sentido jurídico: a eficácia diz respeito à aplicabilidade, exigibilidade ou executoriedade da norma, como possibilidade de sua aplicação jurídica, destaque-se: possibilidade, não efetividade.
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Para Michel Temer: 
a)- eficácia social: se verifica na hipótese de a norma vigente, isto é, com potencialidade para regular determinadas relações, ser efetivamente aplicada a casos concretos.
b)- eficácia jurídica: significa que a norma está apta a produzir efeitos na ocorrência de relações concretas; mas já produz efeitos jurídicos na medida em que a sua simples edição resulta na revogação de todas as normas anteriores que com ela conflitam (Elementos de Direito Constitucional, p. 23)
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Maria Helena Diniz: 
a eficácia se refere ao fato de ser possível detectar a que título os destinatários da norma se ajustam a seu comportamento, às prescrições que contêm, em maior ou menor grau. Em outras palavras, o grau de eficácia se refere à mensuração das normas. Estas cumprem, ou não, os comandos jurídicos que contêm. Há casos em que o órgão competente emite normas, que por violentarem a consciência coletiva não são observadas nem aplicadas, só logrando, por isso, ser cumpridas de modo compulsório, a não ser qdo caírem em desuso; consequentemente, têm vigência, mas não possuem eficácia (social)
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Aponta:
A norma tem a possibilidade de ser aplicada, de exercer, ou produzir seus próprios efeitos jurídicos, a partir do instante em que se cumpriram as condições para tanto exigidas (eficácia jurídica), sem haver qualquer relação de dependência da sua observância, ou não, pelos destinatários.
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Primeiros debates referente eficácia e efeitos: Itália.
Estudos de Gaetano Azzariti
Dividiu: 
a)- normas diretivas (ou programáticas)
b)- normas preceptivas
Reconhecia dois efeitos: meramente indicativos e os impositivos
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Para ele: 
A)- normas diretivas: dirigidas ao legislador encarregado da elaboração da norma infraconstitucional, enquanto esta não surgisse, elas se resumiriam a meros enunciados, bases e indicativos filosóficos das diretrizes e objetivos do governo.
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Consequentemente: elas apresentam-se com alto teor de abstração e imperfeição, ou seja, não apresentariam todos os elementos necessários à concretização imediata do seu conteúdo.
E as normas preceptivas?
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Normas preceptivas: aquelas diretamente direcionadas ao cidadão e ao julgador.
Dotadas de maior concretude, é possível encontrar nessas normas todos os elementos necessários à plena produção de seus efeitos
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Tal idéia não perdurou por muito tempo na Itália – recebeu muitas críticas de Flamínio Franchini, Ugo Natoli e Balladore Pallieri.
Foram, por consequência, elevadas à condição de normas preceptivas – reconheceu-se que eram determinadoras de um comando, vez que, com o avançar dos estudos, constatou-se que qualquer norma constitucional não pode jamais ser totalmente desprovida de eficácia.
Todas as normas dispostas na Constituição representam comandos jurídicos, dotadas de uma ordem efetiva e exigem cumprimento.
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Daí que a doutrina passou a classificá-las:
a)- diretivas ou programáticas, dirigidas ao legislador sem excluírem a possibilidade de existirem leis editadas em desacordo com elas;
b)- preceptivas, obrigatórias, ou de aplicabilidade imediata, por modificarem ou ab-rogarem leis contrárias, anteriormente editadas;
C)- Precepativas, obrigatórias, mas sem aplicabilidade imediata, tornando sem efeito novas leis que as violarem, embora não alcancem a eficácia das leis anteriores enquanto a sua aplicação estiver suspensa
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Pensamento fortalecido pela obra de Vezio Crisafulli que trouxe a classificação das normas constitucionais em dois grandes grupos:
a)- Normas Constitucionais de eficácia plena e com imediata aplicação
b)- Normas constitucionais de eficácia limitida 
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Estas – de eficácia limitada – com a subdivisão:
b.1)- de legislação que não permitiriam aplicação imediata por razões técnicas;
b.1)- programáticas que seriam preceptivas, no entanto,voltadas aos órgãos estatais, principalmente ao legislativo, atribuindo-lhe direitos subjetivos. Entretanto, estariam dotadas de efeito paralisante impedindo a edição de qualquer norma jurídica contrária a ela. Seriam, pois, normas de eficácia negativa. 
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Doutrina americana – Primeira classificação – Tomas Cooley – dividiu as normas em duas categorias;
a)- primeira não dependendo da edição de leis infraconstitucionais ao contrário da segunda (b).
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Seriam:
A)- Self-Executing ou Self-Enforcing ou Self-Acting;
B)- Not Self-Executing ou Not Self-Enforcing ou Not Self-Acting;
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Uma outra classificação americana:
a)- prescrições mandatárias (mandatory provisions) – por serem normas constitucionais materiais e essenciais, de cumprimento irrecusável;
b)- prescrições diretórias (directory provisions) – se tiverem conteúdo regulamentar, permitindo ao legislador dispor diferentemente
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Com base nisso, diversas classificações por diversos autores.
Pontes de Miranda: “...quando uma regra se basta por si mesma, para sua incidência, diz-se bastante em si (self executing, self enforcing, self acting)”.
Contudo, qdo precisa de regras jurídicas de regulamentação porque sem estas – que as completem ou suplementem – não poderiam incidir e se aplicadas, dizem-se “não bastantes em si”
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Chama ele de normas programáticas“aquelas em que o legislador, constituinte ou não, em vez de editar uma norma de aplicação concreta, apenas traça linhas diretoras, pelas quais se hão de orientar os poderes públicos”
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José Afonso da Silva – clássica divisão
(seguido por Luiz Alberto Davi Araujo, Vidal Serrano Nunes Júnior)
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Normas de Eficácia Plena:
Independem edição de leis infraconstitucionais p/ produzir efeitos.
Efeitos imediatos após promulgação da Carta.
Portanto: imediata, direta e integral
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José Afonso da Silva:
“são as que receberam do constituinte normatividade suficiente a sua incidência imediata. Situam-se predominantemente entre os elementos orgânicos da Constituição. Não necessitam de providência normativa ulterior para sua aplicação. Criam situações subjetivas de vantagem ou de vínculo, desde logo exigíveis” (Eficácia e Aplicabilidade das Normas Constitucionais, 3a ed., SP: Malheiros, 1988, p. 101)
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Ex. art. 37, III, da CF: “o prazo de validade do concurso público será de dois anos, prorrogável uma vez por igual período”
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Normas de Eficácia Contida:
Chamadas: eficácia prospectiva, de conteúdo redutível ou restringível (Michel Temer).
São de aplicabilidade imediata, porém, seus efeitos podem ser limitados através da edição de normas infraconstitucionais posteriores.
Enquanto não editada qualquer norma que restrinja a sua eficácia, ela permanece plena
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Exemplo:
Art. 5, inciso XIII: 
“É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”
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Essa norma, em regra, assegura, a princípio um direito de forma ampla, porém, deixa ao legislador ordinário, a possibilidade de restringir o alcance desse direito.
Na ausência da lei regulamentadora, qualquer pessoa poderia exercer trabalho, ofício ou profissão.
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Advogado
Médico
Engenheiro
Jornalista
Doceiro
Cozinheiro
Professor
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Normas de Eficácia Limitada:
Normas que, para exprimir seu real conteúdo, necessitam da edição de outras pelo legislador infraconstitucional.
Por ocasião da promulgação da Constituição esse tipo de norma não possui o condão de produzir todos seus efeitos.
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Assim: são de aplicabilidade imediata e reduzida.
Apresenta, contudo, o efeito imediato desse tipo de norma: o garantidor
José Afonso da Silva: base doutrina italiana – indica produção de um efeito capaz de vincular o legislador infraconstitucional aos vetores apontados para esse tipo de norma, apontando que, apesar de limitada, a norma possui eficácia jurídica imediata, direta e vinculante pois:
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a)- revoga a legislação anterior com ela incompatível;
b)- Impede a edição de normas contrárias a ela;
c)- estabelece um dever ao legislador ordinário que pode incidir em inconstitucionalidade por omissão, caso não observe o comando constitucional;
d)- constitui sentido teleológico para interpretação e integração.
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A contar da existência desses efeitos – doutrina aponta: ocorrência do procedimento hermenêutico de bloqueio que se resume justamente no fato de servirem como referencial interpretativo para toda legislação infra-constitucional, impedindo, ao mesmo tempo, a edição de normas contrárias.
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Normas de eficácia limitada:
a)- de conteúdo declaratório institutivo;
b)- de conteúdo declaratório programático
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a)- Conteúdo declaratório institutivo: estabelecem em esquema geral de estruturação e atribuições de órgãos ou institutos públicos para que o legislador ordinário o regulamente.
Ex. art. 64 do ADCT: instituiu a criação de um conselho para a comemoração do centenário da República.
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b)- de conteúdo declaratório programático: fixam metas, programas e objetivos do Estado, os exemplos, em regra, correspondem aos direitos indicados na Ordem Social.
Art. 192, par. 3, revogado pela EC 41/03.
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Maria Helena Diniz: 
a)- supereficazes ou de eficácia absoluta: efeito paralisante de toda legislação que com ela sejam incompatíveis.
Cláusulas pétreas
b)- eficácia plena – em nada dependem da legislação infraconstitucional para surtir efeitos;
c)- eficácia restringível: tem a eficácia dimensionada conforme a lei
d)- eficácia relativa ou complementável – dependem totalmente do ordenamento infraconstitucional para surtir efeitos.
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Luiz Roberto Barroso:
a)- normas constitucionais de organização: organizam o exercício do poder político;
b)- normas constitucionais definidoras de direito: tem por objetivo fixar os direitos fundamentais dos indivíduos;
c)- normas constitucionais programáticas: tem por escopo traçar os fins públicos a serem alcançados pelo Estado;
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Carlos Ayres Brito e Celso Bastos:
a)- normas de aplicação
b)- normas de integração
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a)- normas de aplicação: aquelas que não dependem de mais nada para serem aplicadas: aptas à produção de todos os seus efeitos
a1)- normas irregulamentáveis: são as que incidem diretamente sobre os fatos regulados, impedindo qualquer regramento intercalar. São normas cuja matéria é insuscetível de tratamento, senão no nível constitucional;
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a2)- normas regulamentáveis: aquelas que permitem uma simples regulamentação, sem nenhuma restrição do conteúdo constitucional. Cabe à legislação infraconstitucional estabelecer uma regra de cumprimento mais adequada para essas normas. Observe-se que não há qualquer achatamento do comando constitucional, mas apenas regulamentação, que diverge de integração.
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b)- Normas de integração: “Tem por traço distintivo a abertura de espaço entre o seu desiderato e o efeito desencadeador dos seus efeitos. No seu interior, existe uma permanente tensão entre a predisposição para incidir e a efetiva concreção. Padecem de visceral imprecisão, ou deficiência instrumental, e se tornam, por si mesmas, inexequíveis, em toda a sua potencialidade. Daí porque se coloca, entre elas e a sua real aplicação, outra norma integradora de sentido, de modo a surgir uma unidade de conteúdo entre as duas espécies normativas” (Celso Ribeiro Bastos e Carlos Ayres Britto, Interpretação e aplicabilidade das normas constitucionais. SP: Saraiva, 1982, p. 42)
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b1)- normas completáveis: aquelas que exigem uma legislação integrativa para a produção total de seus efeitos;
b2)- normas restringíveis: permitem que o legislador infraconstitucional reduza o comando constitucional. Enquanto tal não ocorrer, as normas produzem todos os seus efeitos.