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NEOPLASIAS DA GLÂNDULA SALIVAR (18/09/2014) O câncer bucal é um nome genérico que se refere ao carcinoma espinocelular, também chamado de carcinoma de células escamosas e carcinoma epidermoide. Geralmente, o carcinoma espinocelular corresponde a 90% dos cânceres de boca, acomete principalmente homens de meia idade, que associam cigarro e álcool (a bebida potencializa os efeitos do cigarro). A característica principal é uma mancha branca, ulcera inicialmente indolor que não se cicatriza e crescimento rápido. A neoplasia de glândula salivar não é comum, e embora seja um câncer bucal tem o perfil totalmente diferente deste. O paciente mais acometido é a mulher, o cigarro e álcool não são fatores carcinogênicos, e o crescimento é lento. Assim, ele apresenta características opostas ao carcinoma espinocelular. A glândula mais acometida é a parótida e depois as glândulas menores do palato, do lábio e da mucosa jugal. No lábio, ocorre principalmente no lábio superior (está mais associado à neoplasia, enquanto o inferior, à lesões traumáticas – mucocele por exemplo). Uma lesão no palato associa-se a neoplasia de glândula salivar; se a lesão é extrabucal, associa-se a neoplasia na glândula parótida – raramente há neoplasias na glândula sublingual. Os tumores que acometem as principais glândulas geralmente são benignos; quando ocorre em glândulas raras, eles são malignos (na parótida, que é a principal glândula acometida, geralmente é benigna; na sublingual, que é bastante raro, quando tem é maligno). Do mesmo modo, a neoplasia de lábio superior pode ser benigna, enquanto a de lábio inferior é mais possível ser maligno. Tudo o que ocorre na região mais profunda da boca (retromolar, colar amigdaliano, orofaringe) a possibilidade de gravidade é maior, assim, neoplasias da região posterior são mais graves. A neoplasia benigna mais comum é o adenoma pleomorfico, e dentre as malignas, as principais são o carcinoma mucoepidermoide, o carcinoma dermoide cístico e o adenocarcinoma de células acinares. ADENOMA PLEOMORFICO É uma lesão de crescimento lento (o paciente pode ter o adenoma pleomorfico que é benigno há 5 anos), isso implica no acompanhamento pós-tratamento, pois ele pode recidivar muitos anos depois; no carcinoma espinocelular, após 5 anos sem lesão depois do tratamento o paciente é considerado curado. Dessa forma, o crescimento é muito lento e demora pra ser visualizada recidiva. O perfil do paciente é a mulher de meio-idade, geralmente as lesões não são ulceradas (quando a lesão é ulcerada, há maior tendência de malignidade; no entanto, se não for ulcerado, pode ser tanto benigno quanto maligno). O exame clínico não dá indícios para identificar a benignidade ou malignidade da lesão, sendo necessário fazer biopsia. Raramente ocorre em crianças. A lesão pode parecer um nódulo, de superfície lisa, coloração normal de mucosa, assintomática, presente a muito tempo, crescimento lento. No entanto, com o passar do tempo ela aumenta. Os três únicos lugares que não há neoplasia de glândula salivar são: gengiva inserida, região anterior do palato duro e pregas palatinas. No palato, que é a região mais acometida pelo adenoma pleomorfico, a lesão está principalmente nas laterais, pois no meio não existem tantas glândulas. Além disso, independente da natureza (benigna ou maligna) ela não terá mobilidade, pois a mucosa é aderida ao osso. Todavia, se estiver no lábio ou mucosa jugal, pode-se tentar observar através da palpação, a conformação, os limites (liso: benigno; irregular: maligno), mobilidade (no benigno é maior que no maligno). O adenoma pleomorfico não é encapsulado, então pode não existir a mobilidade esperada para a lesão benigna. É importante estabelecer parâmetros para identificar a natureza benigna ou maligna; por exemplo, o palato é uma localização comum da neoplasia, logo, a tendência é que ela seja benigna, com a hipótese de ser adenoma pleomorfico. A lesão pode crescer e interferir na oclusão, com presença de úlceras secundárias (nesse caso, não considera o padrão ulcerado para lesão maligna, pois esta foi causada durante a oclusão). Geralmente tem base séssil e raramente procede a uma tentativa de se tornar pediculado. Na glândula parótida a lesão é mais comum, portanto é benigna. A malignidade tem as seguintes características: irregularidade do nódulo ou tumor, úlcera profunda crateriforme, telangiectasia (proliferação de vasos na superfície, mais evidente em lesões malignas). Não confunda o tumor com abscesso dentoalveolar! As diferenças clínicas entre ambos são consistência, imagem radiográfica, dente desvitalizado e tempo de evolução. O tumor de glândula salivar tem crescimento lento e não dói. O adenoma pleomorfico mimetiza o ducto intercalar, que é a primeira porção do ducto da glândula salivar; este ducto tem dois tipos de células, luminal (reveste o lúmen do ducto) e mioepitelial (envolve o ducto – as células mioepiteliais são células estrelares que apresentam contração de citoplasma). Essas células podem se arranjar em estruturas ductiformes, sendo a camada externa as células mioepiteliais, e a camada interna as células luminais. No entanto, a célula mioepitelial é a que mais prolifera, e às vezes elas encontram outra estrutura ductiforme e se junta a ela. Pode ser que não exista mais a estrutura ductiforme, e então as células aglomeradas ficam com o núcleo excêntrico, aspecto semelhante ao plasmócito, adquirindo a morfologia plasmocitoide. Quando se unem às células mioepiteliais de outra estrutura ductiforme e por estarem posicionadas próximas uma das outras, adquirem morfologia poligonal. Pode ser que as células epiteliais estejam espaçadas, se arranjando em formato estrelado. Desse modo, as células mioepiteliais podem ter aspecto morfológico poligonal, plasmocitóide ou estrelado. Sobre a nomenclatura, adenoma é uma neoplasia benigna de células de origem glandular; pleomorfico porque elas apresentam várias formas, sendo a célula mioepitelial a principal do adenoma pleomorfico, pois faz uma matriz extracelular e estroma muito variados. A matriz hialina tem o estroma bem eosinofílico e amorfo, uniforme. Pode ser mixoide, com fibras delicadas, bem espaçadas e com bastante substância fundamental amorfa, lembrando o mixoma odontogênico. Pode ser condroide, quando estroma lembrar cartilagem, com a presença de condrócitos e matriz mais basofílica. Por fim, o estroma pode ser osteoide, com a presença de células que lembram os osteócitos dentro da matriz óssea. O adenoma pleomorfico tem alta complexidade histológica, pois embora tenha somente dois tipos de célula, uma delas (mioepitelial) faz várias morfologias e depositam substâncias que fazem estromas diferentes (hialino, mixoide, condroide e osteoide). No microscópio, em menor aumento se observam estruturas ductiformes, muitas vezes preenchidas por conteúdo eosinofílico. As células mioepiteliais estão se proliferando e ligam-se as estruturas ductiformes uma na outra (aspecto poligonal). A estrutura ductiforme tem células com citoplasma mais eosinofílico circundando a luz. As células poligonais se justapõem umas nas outras perdendo aquele aspecto claro; as chamadas plasmocitoides tem núcleo polarizado. Em maior aumento, por se tratar de neoplasia, o citoplasma é meio excêntrico. As células estrelares tem núcleo e citoplasma com prolongamentos, presentes geralmente no estroma mixoide. No estroma hialino há fibras de material eosinofílico homogêneo, que lembra vidro despolido. O estroma mixoide tem fibras delicadas, separadas, e no meio bastante substância fundamental amorfa. O estroma condroide lembracartilagem, que é uma matriz basofílica (arroxeada) e as células mioepiteliais ficam retidas lembrando a cartilagem; na lâmina há bastante área condroide. O estroma osteoide tem coloração eosinofílica, com a célula retida como em um osso. CARCINOMA MUCOEPIDERMOIDE Em neoplasia da glândula salivar, independente da natureza (benigna ou maligna), raramente ocorre em crianças; porém se eventualmente acontecer, provavelmente será o carcinoma mucoepidermoide, localizado na mucosa jugal. O carcinoma mucoepidermoide se assemelha ao ducto excretor; o ducto excretor tem somente a célula luminal. A célula luminal pode se diferenciar em: mucosa, escamosa e intermediária. Sobre a nomenclatura, muco vem de mucosa e epidermoide, de escamoso. As células se arranjam em estrutura cística ou em estrutura sólida; estruturas císticas são espaços revestidos por epitélio, a semelhança dos cistos. No histopatológico, a arquitetura ou arranjo cístico consiste em um espaço e o tumor epitelial circundando e proliferando neste espaço. As células mucosas apresentam citoplasma claro e de tamanho variável; as células de aspecto escamoso lembram epitélio de superfície e as células intermediárias são menores. No arranjo sólido não há cavidade e tumor em volta. Os arranjos cístico e sólido podem ser juntos, e o diagnóstico é baseado naquele que predomina. Há vários graus de malignidade, e para identificar o que está se desenvolvendo no paciente há padrões de observações. O baixo grau de malignidade histologicamente tem muitas formações císticas, células mucosas e pouca atipia celular. Quando é de alto grau de malignidade tem bastantes áreas sólidas (como um lençol de células ou agregados celulares menores), muitas células intermediárias e escamosas; elas podem apresentar atipias. Assim, o carcinoma mucoepidermoide com predominância de formações císticas e células mucosas é menos agressivo que àquele onde predomina formações sólidas, com células intermediárias e escamosas. CARCINOMA ADENOIDE CÍSTICO O carcinoma adenoide cístico parte da glândula salivar e se assemelha ao ducto intercalar, como o adenoma pleomorfico. Logo, os dois tipos celulares presentes são célula luminal e mioepitelial. As células se arranjam em três arquiteturas, podendo ser cribriforme (ou “queijo suíço”), tubular ou sólido-trabecular. Este tumor se diferencia dos demais porque o paciente sente dor intensa na fase inicial; as neoplasias de glândula salivar, mesmo as malignas, não costumam doer. A dor é causada devido a invasão perineural; o tumor tem afinidade pela membrana basal do nervo, desse modo, ele entra e prolifera ao longo do feixe nervoso, causando sensibilidade precoce. Clinicamente, a lesão pode ser pequena com dor intensa na fase inicial; é uma lesão “lobo em pele de cordeiro”, pois o quadro histológico não sugere malignidade. O diagnóstico baseado pela dor e tamanho da lesão pode resultar em uma conduta inapropriada, mesmo removendo a lesão ela recidiva, pois ela faz invasão perineural, percorre o feixe neural até chegar ao cérebro, onde pode fazer metástase cerebral. No histopatológico, o aspecto cribriforme apresenta as células tumorais, que se arranjam com os espaços e dão o aspecto de queijo suíço; no maior aumento, observam-se dois tipos celulares, um com citoplasma mais eosinofílico (célula luminal) e as outras são as células mioepiteliais. No aspecto tubular é assim, o tumor se arranja em túbulos, como a estrutura ductiforme. Os arranjos cribriforme e tubular podem ser encontrados juntos, e o diagnóstico feito é com base no que predomina. O aspecto sólido é o mais difícil de identificar a natureza do tumor, pois forma células basaloides que se parece com vários tumores; o diagnóstico é facilitado quando aparece outra característica na lesão, que permite ao patologista a distinguir uma coisa da outra. O aspecto sólido-trabecular. Pode-se identificar o carcinoma adenoide cístico como maligno pela característica de invasão, quando o tumor aparece tentando penetrar pelos tecidos. Concluindo, o carcinoma adenoide cístico tem dois tipos de células que se arranjam em três arquiteturas (cribriforme, tubular e sólido-trabecular). Em sequência, do menos agressivo para o mais agressivo, está o aspecto tubular, cribriforme e sólido. CARCINOMA DE CÉLULAS ACINARES É uma neoplasia epitelial maligna, e as células vão imitar as células acinares, seja qual for a glândula. A glândula serosa tem células acinares com núcleos centrais e redondos, grânulos mais basofílicos, é esférica; na glândula mucosa, o núcleo é periférico e achatado, é tubular. No microscópio, a células acinares serosas tem núcleos redondos e centrais, sempre as estruturas são mais esféricas. As células mucosas, o núcleo é rechaçado pra periferia, as vezes alongado. Sempre que o patologista encontrar um tumor que produz saliva ou precursor de saliva, ele o chama de carcinoma de células acinares. Podem-se encontrar células claras de saliva mucosa em vários estágios de maturação, células menos maduras com citoplasma ainda escasso, e células maduras com citoplasma claro cheio de conteúdo. As células do carcinoma de células acinares podem ser mais diferenciadas ou menos diferenciadas, podem ter pleomorfismo de grau variado; as células bastante diferenciadas têm bastante acúmulo de material. As células podem ser menores, menos volumosas, com citoplasma tomando o aspecto de células acinares mucosas.
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