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Encontro com Rafflesia
Uma aventura na floresta da Malásia 
por Adriana Costa
As angiospermas, plantas com flores, representam a maior parte das plantas que conhecemos e são formalmente conhecidas como filo Anthophyta, que engloba entre 300.000 a 450.000 espécies de organismos fotossintetizantes. As características vegetativas e florais são muito diversificadas podendo variar, em tamanho, desde plantas com mais de 100 metros de altura (algumas arbóreas do gênero Eucalyptus) até plantas com 1 milímetro de comprimento, como as lentilhas-d’água que são plantas aquáticas. 
Algumas angiospermas são escandentes, “escalam” o tronco de algumas árvores, nas florestas tropicais, para alcançar a copa em busca de luz, enquanto outras são epífitas, já crescendo sobre os galhos mais altos dessas árvores. Muitas são adaptadas a crescer em regiões extremamente áridas, como os cactos. Assim por mais de 100 milhões de anos as plantas com flores têm dominado o ambiente terrestre. Em termos de nutrição, quase todas as angiospermas são fotossintetizantes, mas existem algumas formas tanto parasíticas quanto saprofíticas (Raven, 2007). Existem aproximadamente 2800 espécies de eudicotiledôneas parasitas, muitas são incapazes de realizar fotossíntese, obtendo sua nutrição diretamente de uma outra planta, sendo por isso denominadas holoparasitas [do grego holos = inteiro, completo, todo] (Amaral & Ceccantini, 2007). 
Um exemplo de planta parasita ocorre no sudeste asiático e pertence ao gênero Rafflesia, que inclui 16 espécies catalogadas (APG, 2009). Descritas como "as plantas que possuem as maiores flores conhecidas", elas atraem a atenção de pesquisadores. Entretanto, pela dificuldade em encontrá-las, o acúmulo de conhecimento sobre sua biologia tem sido lento. Elas parasitam caules e raízes de outras plantas, preferencialmente da família Vitaceae, e por isso não possuem raízes. As flores de algumas delas são termogênicas, ou seja, o calor produzido por elas facilita a volatilização de substâncias químicas que atraem insetos polinizadores, como as moscas que são atraídas pelo forte odor de carne em putrefação (Beaman et al., 1988). Descrito inicialmente por Robert Brown em 1821, o gênero tem se tornado um símbolo de esforço em conservação, com algumas espécies ameaçadas de extinção e ao menos duas consideradas extintas, devido à progressiva destruição do habitat natural e pela utilização dos botões florais na medicina popular por habitantes locais (Meijer, 1985; Mat-Salleh et al., 2006). 
Em um belo depoimento, o professor Gregório Ceccantini, do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da USP, nos conta sobre sua viagem à Malásia em busca da famosa planta parasita com a maior flor do mundo, conhecida apenas nos livros de botânica.
“Caros colegas,
 
pouco mais de 20 anos atrás, em junho de 1989, fui apresentado em um curso de morfologia vegetal, às plantas parasitas. Numa aula da Ana Giullietti descobri o que era Rafflesia e fiquei de certa forma fascinado e anos mais tarde vim a me interessar em estudar o que então eram as raflesiáceas brasileiras, os gêneros Pilostyles e Apodanthes (atualmente Apodanthaceae, em outra ordem separada).
Em diversas oportunidades estive em jardins botânicos europeus, que cultivam a Rafflesia, mas sem sorte alguma. Neste mês, estive na Malásia, com esperança de ver Rafflesia, mas fui desanimado por pesquisadores estrangeiros ou mesmo botânicos locais que nunca a viram, embora seja nativa de seu país. Argumentaram que Rafflesia é muito rara na floresta, ocorre em locais muito inacessíveis, que eu tinha pouco tempo para procurar (só dois dias) e que a flor só fica aberta um ou dois dias apenas. Quem me conhece sabe que não sou fácil de demover e que não desisto fácil, apesar de argumentos em contrário.
Assim, contactei um chinês que prometeu que me levaria num lugar que tem Rafflesia. Peguei um ônibus de noite (outra experiência que merece história) fui para o estado de Perak, no norte da Malásia confiando nesse cara. O cara parecia normal, saimos de Land Rover subindo uma serra e me levou a um nativo da etnia Orang Asli, que saberia nos levar para a floresta ver a planta, mas sem certeza de que haveria flores. Caminhamos umas duas horas subindo uma encosta, com uns 38˚C, 100% de umidade (a câmera entrou em curto e está com botões em curto até hoje), suando em bicas e sendo escalado por legiões de sanguessugas na calça (ao menos lá não tem carrapatos) e chegamos em Rafflesia cantleyi, cujas fotos compartilho com vocês.
Não é gigante como R. arnoldii, que mede mais de um metro, mas tem seu charme. É a única Rafflesia que não parasita a raiz da liana nem aparece no chão. Ela é absurda, tem o brilho de plástico e a textura de borracha. Por vezes ainda duvido que fosse de verdade. Parece feita por um cenógrafo maluco ou um excêntrico carnavelesco foragido do país de Alice. Pensando bem, esperar 20 anos não foi tanto tempo assim para ver e tocar uma coisa tão extraordinária.
Da próxima vez que forem dar suas aulas, vocês não precisarõ usar uma foto do Google Images ou de livros, sempre com o mesmo gringo cheirando a flor. Agora podem dizer: "é verdade...tenho um amigo que viu".
Às vezes meus alunos reclamam que estão esperando muito para que algo que querem aconteça. Às vezes a gente precisa mesmo ter paciência.”
/ / /

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