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TRABALHO 2 PRATICA I

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA XXX VARA 
CÍVEL DA COMARCA DE ITABUNA – BA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JOANA, brasileira, solteira, técnico em contabilidade, portadora da 
cédula de identidade nºXXX, expedida pelo XXX, inscrita no CPF/MF sob nº 
XXX, usuária do endereço eletrônico XXX, residente na rua XXX – Itabuna- 
BA, CEP XXX, vem, respeitosamente perante V. Exa., por seu advogado 
XXX, OAB XXX que subscreve, com escritório na Rua XXX, XXX, XXX - para 
fins do artigo 77, V do Código de Processo Civil, vem a este juízo, propor: 
 
AÇÃO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO PELO RITO COMUM 
 
Em face de JOAQUIM, nacionalidade, estado civil, profissão, portador 
da carteira de identidade nº XXX, expedida pelo XXX, inscrita no CPF/MF sob 
nº XXX, usuário do endereço eletrônico XXX, residente na rua XXX, XXX, 
XXX – CEP XXX, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos. 
I. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA 
A requerente não possui condições financeiras para arcar com as 
custas processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo do seu sustento e 
de sua família. Nesse sentido, junta-se declaração de hipossuficiência (Doc. 
X). Por tais razões, pleiteiam-se os benefícios da Justiça Gratuita, 
assegurados pela Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e pela Lei 
13.105/2015 (CPC), artigo 98 e seguintes. 
 
II- A AUTORA MANIFESTA SUA VONTADE PELA REALIZAÇÃO DA 
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO. 
 
III – DOS FATOS 
 
Ocorre que no dia 20/12/2016, a autora recebeu a notícia que seu filho 
Marcos, de 18 anos de idade, tinha sido preso de forma ilegal e encaminhado 
equivocadamente ao presídio XXX. No mesmo dia a autora procurou um 
advogado criminalista para atuar no caso, sendo que o advogado cobrou R$ 
20.000,00 de honorários. 
A autora, ao chegar em casa, comentou com o réu, seu vizinho, que 
não tinha o valor cobrado pelo advogado e que estava desesperada. O réu, 
vendo a necessidade da autora de obter dinheiro para contratar um 
advogado, aproveitou a oportunidade para obter uma vantagem patrimonial, 
propôs à autora comprar seu carro pelo valor de R$ 20.000,00, sendo que o 
carro o preço de mercado no calor de R$ 50.000,00. Diante da situação que 
se encontrava, a autora resolveu celebrar o negócio jurídico. No dia seguinte 
ao negócio jurídico realizado e antes de ir ao escritório do advogado 
criminalista, a mesma descobriu que a avó paterna de seu filho tinha 
contratado outro advogado criminalista para atuar no caso e que tinha 
conseguido a liberdade de seu filho através de um Habeas Corpus. 
Diante destes novos fatos, a autora falou com o réu para desfazerem o 
negócio, entretanto, o mesmo informou que não pretendia desfazer o negócio 
jurídico celebrado. 
IV – DO DIREITO 
 
Dos fatos, restou provado que o réu, beneficiando-se da premente 
necessidade da autora em socorrer o filho que estava preso, induziu-a a 
vender seu automóvel por preço muito inferior ao valor de mercado. Agiu 
ardilosamente e ilicitamente, viciando o negócio jurídico celebrado, causando 
lesão ao patrimônio da autora. 
 
 
Neste sentido, a ilustre professora, Maria Helena Diniz leciona: 
“o instituto da lesão tem o escopo de “proteger o contratante, que se encontra 
em posição de inferioridade, ante o prejuízo por ele sofrido na conclusão do 
contrato, devido à desproporção existente entre as prestações das duas 
partes”, exemplificando com a situação da pessoa que, na iminência de ser 
despejada do imóvel onde reside, necessitando achar outro lugar para abrigar 
sua família, aceita pagar valor exorbitante a título de aluguel, em outro 
imóvel.” (Curso de Direito Civil Brasileiro, op. Cit., p. 398). 
 
Dispõe o CC, art. 145 que: “São os negócios jurídicos anuláveis por 
dolo, quando este for a sua causa”. Tem-se aqui o dolo principal, o qual, para 
a doutrinadora Maria Helena Diniz, “o dolo principal é aquele que dá causa ao 
negócio jurídico, sem o qual ele não se teria concluído (CC, art. 145), 
acarretando, então, a anulabilidade daquele negócio” (2004, p. 418). 
Podemos concluir, portanto, que o dolo é essencial, sem o qual o negócio não 
se concretizaria, sendo a anulação do negócio plenamente válida. 
 
Por sua vez, dispõe o art. 147, do mesmo diploma legal: 
“Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio 
intencional de uma das partes a respeito de fato ou 
qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui 
omissão dolosa, provando-se que sem ela o 
negócio não se teria celebrado”. 
 
Também o art. 171, II, do CC, verbis: 
“Art. 171. Além dos casos expressamente 
declarados na lei, é anulável o negócio 
jurídico: (...) 
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, 
estado de perigo, lesão ou fraude contra 
credores”. 
 
Ora, não há dúvida de que o réu agiu dolosamente. Aproveitou-se do 
desespero de uma mãe ao ver o filho preso, e ofertou-lhe exatamente o 
montante que a autora necessitava para contratar um Advogado Criminalista, 
quando sabedor que o veículo da autora, no mercado, alcançava o valor de 
cerca de R$ 50.000,00. Havendo o dolo, não há como manter o negócio 
jurídico celebrado entre as partes litigantes. 
Como é de sobejo conhecimento, o Código Civil não define dolo, mas 
para compreendê-lo, traz-se definição de Clóvis Beviláqua: “Dolo é artifício ou 
expediente astucioso, empregado para induzir alguém à prática de um ato 
jurídico, que o prejudica, aproveitando ao autor do dolo ou a terceiro”. Pode-
se dizer que dolo é qualquer meio utilizado intencionalmente para induzir ou 
manter alguém em erro na prática de um ato jurídico, amoldando-se ao 
caso sub judice. 
 
Maria Helena Diniz, citando Clóvis Beviláqua, leciona: “Parece-nos 
contudo que a razão está com Clóvis, pois além de que, na prática, ocorre 
uma correspondência entre a vantagem auferida pelo autor do dolo e um 
prejuízo patrimonial sofrido pela outra parte, há, virtualmente, um prejuízo 
moral pelo simples fato de alguém ser induzido a efetivar negócio jurídico por 
manobras maliciosas que afetaram sua vontade”. (2004, p. 417). 
 
Ora, é certo que não era da vontade da autora vender seu veículo 
naquele momento, e por aquele preço. O réu, repita-se, maliciosa e 
dolosamente, estimulou a autora a vender-lhe o veículo exatamente pelo valor 
que necessitava. 
 
A jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do RJ também é 
pacífica ao determinar: 
DES (a). DENISE LEVY TREDLER - 
JULGAMENTO: 01/12/2010 - DÉCIMA NONA 
CÂMARA CÍVEL 
AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO 
JURÍDICO, CUJO PEDIDO É CUMULADO COM 
OS DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E 
MORAIS. ACIDENTE NO INTERIOR DE 
COLETIVO DE PROPRIEDADE DA RÉ, QUE 
VITIMOU A AUTORA, PASSAGEIRA DO ÔNIBUS. 
ACORDO EXTRAJUDICIAL CELEBRADO PELAS 
PARTES PARA A COMPOSIÇÃO DOS DANOS. 
TRANSAÇÃO PREJUDICIAL À VÍTIMA, HAJA 
VISTA O VALOR IRRISÓRIO PAGO A TÍTULO DE 
INDENIZAÇÃO. EXISTÊNCIA DE LESÃO (...) 
Assim, está claro que o contrato foi celebrado com vício de 
consentimento, caracterizado pela “lesão”, ou seja, o valor era 
desproporcional em relação ao real preço do bem móvel. Analisando sob essa 
ótica, o réu estaria colhendo para si vantagem ilícita, ao passo que o 
patrimônio da autoria sofreria prejuízos em prol da salvaguarda do seu filho. 
Dessa forma, é possível a anulabilidade do contrato pela inteligência 
dos dispositivos trazidos à colação, dada a ineficácia causada pelo vício do 
ato arquitetado pelo réu, que culminou em diminuição do patrimônio da 
autora. Com a anulação do negócio jurídico em questão, a autora devolverá 
ao réu o valor pago por este. 
V – DO PEDIDO 
 
Ex positis, pede e requer a autora a V. Exa.: 
 
a) a designação da audiência de conciliação ou mediação e intimação 
do réu para o seu comparecimento; 
b) citação do réu para integrar a relação processual; 
c) seja deferida a Gratuidade de Justiça;d) a procedência do pedido da autora para anular o negócio jurídico 
entabulado pelas partes; 
e) a condenação do réu nos ônus sucumbência. 
VI – DAS PROVAS 
 
Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, na 
amplitude dos artigos 369 e seguintes do CPC, em especial documental 
superveniente, testemunhal, pericial e depoimento pessoal do réu. 
 
Dá–se à causa o valor de R$ 20.000,00 (vinte e mil reais), nos termos 
do art. 292, I, do CPC. 
Termos em que 
Pede deferimento. 
Itabuna, 2 de março de 2017. 
 
ADVOGADO 
OAB

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