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Os desafios das mulheres no mercado de trabalho

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Os desafios das mulheres no mercado de trabalho
Embora ainda ganhem menos do que os homens, as mulheres têm um superpoder: o de conciliar as diversas áreas da vida
Não é de hoje que ouvimos sobre as dificuldades das mulheres no mercado de trabalho. Exemplo disso é o relatório do Fórum Econômico Mundial que afirma que a igualdade de gêneros só será possível em 2095 e que a disparidade, quando se trata de participação econômica e oportunidades para as mulheres, gira em torno de 60%. O Brasil por sua vez está em 124º lugar, entre 142 países, no ranking de igualdade de salários. Somos o penúltimo das Américas, ficando à frente apenas do Chile. Em terras brasileiras, essa diferença salarial é uma variável que chama a atenção de imediato – já que o público feminino ganha em média 73,7% do salário recebido pelos homens, de acordo com a última pesquisa da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). 
Contudo, essa é apenas uma das facetas do problema. Há ainda outros desafios a serem vencidos, como o preconceito que as mulheres, inconscientemente, têm em relação a si próprias. Mergulhadas como estão no caldo cultural, elas imaginam que não são capazes de atingir outros níveis dentro da organização porque ou não fazem o suficiente ou não são boas o suficiente. Para ter uma ideia, só uma entre quatro mulheres estavam confiantes de que receberiam aumento de salário em 2015, segundo dados da Glassdor, do Reino Unido.
Mas isso é um ledo engano. As mulheres têm um “superpoder”: o de conciliar as diversas áreas da vida. Exemplo disso é Joy Mangano, que teve recentemente sua vida retratada no filme homônimo e que conciliou a jornada de mãe solteira com a de inventora, tornando-se assim uma das empreendedoras de maior sucesso dos Estados Unidos. No Brasil, a representatividade dessa habilidade feminina fica por conta da Heloísa Assis, a Zica, que passou dez anos pesquisando uma fórmula para relaxar os cabelos, dando origem mais tarde a rede Beleza Natural. Hoje ela possui 40 unidades, incluindo institutos, lojas de produtos e quiosques.
Embora haja esses exemplos inspiradores, a grande maioria deles vem das empreendedoras, pois dentro da carreira corporativa as chances da igualdade da mulher no mercado de trabalho perante os homens é ainda uma realidade distante. Assim, o questionamento é: há uma forma de reverter esse cenário? Sim, há uma luz no fim do túnel que passa pela participação efetiva dos presidentes que precisam incluir, de fato, políticas de diversidade nas empresas. É papel do CEO fazer isso, já que as organizações espelham as suas atitudes. É necessário que eles verifiquem constantemente se as políticas de inclusão estão sendo realmente eficazes. 
Mas, como fazer isso? A única forma é analisar cuidadosamente os dados da empresa no que diz respeito aos seus programas de promoção e verificando a quantidade de profissionais do sexo masculino e feminino que entraram na corporação em comparação com aqueles que conseguiram alcançar ouros níveis hierárquicos. Por exemplo, qual é a proporção de homens promovidos para gerentes nos primeiros cinco anos? E qual a proporção de mulheres promovidas? Essa pode ser uma métrica eficiente para ajudar o CEO a identificar quais são os gargalos e os pontos que devem ser desenvolvidos.
Além disso, é preciso que o líder fique atento ao preconceito invisível que ele próprio possui e que pode fazer com que não enxergue a disparidade de gêneros. Essa tarefa de autoconhecimento e de ver a realidade livre de julgamentos não é tarefa fácil, mas pode ficar mais leve se ele contar com o apoio de um coach, por exemplo. É preciso olhos atentos e mente aberta para enxergar o contexto como um todo e de forma imparcial.
*CEO da Pro-Fit e primeira Master Coach Certified pela ICF da América do Sul
Este é um banco de informações sobre o trabalho das mulheres no Brasil, que contém séries históricas a partir de 1970, com estatísticas sobre o crescimento do trabalho feminino, a relação entre a família e o trabalho feminino, escolaridade e trabalho, o lugar ocupado pelas mulheres no mercado de trabalho e a qualidade do trabalho feminino, apresentadas em forma de tabelas, acompanhadas de textos explicativos e de notas metodológicas.
Postal - Escola de
Datilografia Remington
Foto do arquivo Cesar e Cia. Manaos 1902
Fotógrafo: Miguel Otero
Apresentação
A idéia de organizar um banco de dados sobre o trabalho das mulheres no Brasil, disponibilizando-o através da Internet, surgiu da necessidade de responder, na maior parte das vezes rapidamente, a demandas de usuários tão diversificados quanto estudantes, colegas, planejadores e formuladores de políticas públicas, representantes dos meios de comunicação e outros.
As estatísticas aqui analisadas são as oficiais, obtidas em levantamentos de órgãos governamentais, seja o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE - como os Recenseamentos Demográficos, as Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios/PNADs - seja o Ministério do Trabalho - caso da Relação Anual de Informações Sociais/RAIS ou, finalmente, o Ministério de Educação e Cultura/MEC através do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira/INEP, por intermédio dos Censos da Educação Superior e do Censo Escolar.
O que tem caracterizado a nossa linha de pesquisas sobre o trabalho feminino é a busca, em fontes como as mencionadas acima, de informações que permitam identificar e interpretar as múltiplas formas de atividade realizadas pelas mulheres. O referencial teórico de gênero, ao qual devem ser acrescentados o envolvimento e o compromisso com a luta feminista, tem orientado as perguntas a serem feitas, as informações a serem procuradas, a maneira de analisar e de apresentar os dados, e tem determinado a constante comparação de informações sobre homens e mulheres, a fim de constatar diferenças e/ou semelhanças "de gênero". Os resultados dos estudos que realizamos, desde os anos setenta, têm trazido algumas revelações:
Livro - Women & Work: Photographs and Personal Writings
Maureen R. Michelson & Michael R. Dressler
NewSage Press
• uma grande parte do trabalho realizado pelas mulheres, em todas as sociedades, é invisível, desvalorizado e, até pouco tempo, sequer considerado como atividade econômica. No Brasil, o IBGE até recentemente classificava esses afazeres como inatividade econômica. Em 1992, foi feita uma questão específica- " realizou ou não afazeres domésticos na semana anterior?", que tem permitido conhecer e avaliar melhor a realização dessas tarefas, não mais entendendo-as apenas como uma categoria de inatividade;
• as responsabilidades histórica e culturalmente atribuídas às mulheres na esfera reprodutiva influenciam a posição ocupada por elas no mercado de trabalho;
• a posição na família, assim como a estrutura e o ciclo de vida familiar, impõem limites ou possibilidades para a participação das mulheres no mercado de trabalho. É por isso que sempre procuramos, nesses levantamentos, informações que permitam associar o trabalho à situação familiar, como a idade da trabalhadora, a posição na família, a presença de filhos e outros;
• as comparações entre os sexos mostram que os efeitos da relação trabalho e família manifestam-se apenas entre as mulheres e não entre os homens; oferta de trabalho e qualificação determinam o trabalho masculino, enquanto o feminino sofre também o efeito de condicionantes familiares;
• as mulheres ocupam, no mercado de trabalho, posição secundária em relação aos homens. Elas são a maioria nas posições mais vulneráveis, como no informal por exemplo; além disso desempenham um leque de ocupações diferentes das masculinas, têm mais dificuldade para ascender profissionalmente e ganham, sistematicamente, menos do que os colegas, mesmo quando têm mais estudo ou trabalham igual número de horas;
Livro - Women & Work: Photographs and Personal Writings
Maureen R. Michelson & Michael R. Dressler
NewSage Press
• ao longo do tempo, apesar das barreiras, as mulheres vêm conquistandomais espaço no mercado de trabalho: aumentaram significativamente sua participação, superaram alguns dos limites impostos pela condição familiar e vêm ingressando, graças à escolaridade, em melhores ocupações. Este avanço, contudo, não tem impedido que grande parte das trabalhadoras se encontre no emprego doméstico, no trabalho domiciliar e em atividades não remuneradas.
• a crise do emprego e a expansão das atividades informais dos anos noventa do século XX afetaram trabalhadores de ambos os sexos, particularmente os homens, devido à queda na atividade industrial e da construção civil. A partir dos primeiros anos do novo milênio, contudo, a retomada da atividade econômica tem promovido a expansão de postos de trabalho para ambos os sexos, particularmente nos serviços, favorecendo as mulheres.
Essas e outras constatações têm sido mostradas nos textos - artigos, capítulos de livros, livros, monografias - elaborados ao longo desses anos, ou em apresentações em congressos, seminários e outros eventos dos quais temos participado. No entanto, nem sempre os interessados têm tido acesso aos resultados dessas pesquisas. Alguns não foram publicados, outros são relatórios de consultoria e as apresentações, em geral acompanhadas de gráficos e tabelas, acabam ficando restritas aos participantes de cada evento. Este é o motivo pelo qual resolvemos, inicialmente, reunir todo este material neste Banco de dados.
Tarsila do Amaral
"Costureiras"
A partir de sua criação, este Banco foi atualizado três vezes, a saber, em 2000, em 2002 e em 2007, completando 10 anos de análises e estatísticas sobre o trabalho na ótica das relações de gênero.
È importante ressalvar que, em 1998, quando o Banco de Dados sobre o Trabalho das Mulheres foi lançado em plataforma digital no site da Fundação Carlos Chagas, tratou-se de uma das iniciativas pioneiras no sentido de democratizar informações sobre o mundo do trabalho na perspectiva das relações de gênero, apresentando estatísticas desde a década de 1970. Iniciativa que se mostrou válida e exitosa, diante da quantidade de acessos que Banco tem obtido desde então, fato que nos motivou realizar esta última atualização, que ora vai ao ar. Nesta última versão, resolvemos limitar as informações atualizadas para 2007, apresentando apenas os totais nacionais, bem como reorganizar as Séries Históricas, de modo a tornar mais ágil a pesquisa dos usuários.
Vale mencionar também que, ao longo dessa década de existência do Banco, desenvolveram-se outras importantes iniciativas voltadas para tornar visível o lugar das mulheres no mercado de trabalho, bem como a persistência das desigualdades de gênero nesse âmbito, como p.ex. os bancos de dados sobre Mulher e Trabalho disponíveis no site da Fundação SEADE de São Paulo, ou o Observatório Brasil da Igualdade de gênero, iniciativa recente da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres- SEPM, da Presidência da República.
São Paulo, janeiro de 2010
Cristina Bruschini e Maria Rosa Lombardi
Ao analisar o comportamento da força de trabalho feminina no Brasil nos últimos 30 anos, o que chama a atenção é o vigor e a persistência do seu crescimento. Com um acréscimo de 32 milhões de trabalhadoras entre 1976 e 2007, as mulheres desempenharam um papel muito mais relevante do que os homens no crescimento da população economicamente ativa.
Revista - Trabajo:
Revista de La Oit
Nº 6, Dezembro de 1993
Fotógrafo: Jaccques Maillard
(com efeito aplicado sobre a foto)
Enquanto as taxas de atividade masculina mantiveram-se em patamares semelhantes, _ entre 73 e 76% em praticamente todo o período, as das mulheres se ampliaram significativamente. Se em 1976, 29% das mulheres trabalhavam, adentramos o novo milênio com mais de 40% trabalhando ou procurando emprego ( ou seja, a PEA- população economicamente ativa, que inclui para o IBGE, os/as ocupados/as e os/as que estão á procura de trabalho) e mais da metade delas ( 53%) em franca atividade no ano 2007.
Lembre-se, aqui, que a partir de 1992 a FIBGE passou a adotar nas PNADs um conceito de trabalho ampliado (veja Fontes de dados e conceitos: algumas considerações metodológicas ) , o que acabou por se refletir, particularmente, nas taxas de atividade feminina.
A importância crescente das mulheres na força de trabalho pode, também, ser observada de outro ângulo, através da sua participação na PEA. Se em 1976, o contingente feminino na PEA era de 29%, em 2007 ela atinge mais de 40%.
Movimento semelhante não se verificou, entretanto, em relação à participação das mulheres no conjunto dos empregados, que na última década se manteve próxima a 1/3, pois como tem sido reiteradamente comentado, os lugares privilegiados de inserção de parcela significativa do contingente das trabalhadoras no mercado de trabalho, ainda são as atividades informais, não remuneradas e o trabalho doméstico. A tabela que segue dá idéia da magnitude e das diferenças numéricas entre os segmentos populacionais considerados como POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA- PEA, OCUPADOS E EMPREGADOS.
Mulheres, trabalho e família
Baixar planilha
A partir da década de 70 até os dias de hoje, a participação das mulheres no mercado de trabalho tem apresentado uma espantosa progressão. Se em 1970 apenas 18% das mulheres brasileiras trabalhavam, chega-se a 2007 com mais da metade delas ( 52,4%) em atividade.
Livro - Women & Work: Photographs and Personal Writings
Maureen R. Michelson & Michael R. Dressler
NewSage Press
No entanto, o trabalho das mulheres não depende tão somente da demanda do mercado e das suas qualificações para atendê-la, mas decorre também de uma articulação complexa de características pessoais e familiares. A presença de filhos, associada ao ciclo de vida das trabalhadoras, à sua posição no grupo familiar - como cônjuge, chefe de família etc -, à necessidade de prover ou complementar o sustento do lar , são fatores que estão sempre presentes nas decisões das mulheres de ingressar ou permanecer no mercado de trabalho. Essa última decisão, certamente, é mais premente para as chefes de família, segmento que só tem aumentado: só nos últimos cinco anos analisados, a sua proporção na população residente passou de 25,5% para 33% ( TABELA 1).
Tradicionalmente, os efeitos da maternidade na vida profissional das mulheres eram evidenciados, até a década de 70, pela diminuição das taxas femininas de atividade a partir da idade de 25 anos, quando, presumivelmente, os filhos eram ainda pequenos.
A partir de meados dos anos 80, entretanto, uma reversão dessa tendência vem se consolidando, indicando que a atividade produtiva fora de casa tornou-se tão importante para as mulheres quanto a maternidade e o cuidado com os filhos. Em primeiro lugar, os efeitos da maternidade no trabalho feminino permanecem, mas foram bastante atenuados, uma vez que as taxas de atividade das mulheres com idade entre 25 e 29 anos passaram a se assemelhar - e até superar - àquelas das mulheres entre 20 e 24 anos. Na idade reprodutiva, 30 a 49 anos, o percentual de mulheres em atividade atinge o patamar de 73%, em 2007.
Ainda que a presença de crianças pequenas seja um limitador real da atividade feminina, outras variáveis podem vir a estimulá-la: a presença de serviços públicos e particulares de atenção à maternidade ( mais comuns em zonas urbanas), a necessidade econômica das famílias para fazer frente, seja ao desemprego de vários de seus membros, seja à renda domiciliar diminuída ou mesmo, ainda que em menor medida, a presença de um maior poder aquisitivo de um segmento de famílias o qual, mesmo na ausência daqueles serviços, propiciam às trabalhadoras o necessário suporte para a sua ausência do lar. É isso que os dados para 1998 parecem sinalizar e que fica ainda mais claro em 2007: neste último ano, a taxa de atividade das mulheres com filhos com idade até 2 anos (55,3%) apresenta-se apenas um pouco menor que aquela total ( 57%), embora ainda distante da taxa das mulheres com filhos maiores de 7 anos (72,5%), as quais, mais liberadas do cuidadocom crianças pequenas, podem se dedicar mais integralmente ao trabalho ( TABELA 3).
Em segundo lugar, as mulheres têm permanecido no mercado de trabalho cada vez por mais tempo: se em 1970 apenas 19% e 15% das mulheres com idade entre 40 e 49 anos e 50 e 59 anos, respectivamente, estavam ativas, em 2007 as taxas de atividade nas mesmas faixas etárias eram, respectivamente, 70% e 53%.
Outro indicador , revelador desse movimento , é a crescente participação das cônjuges no mercado de trabalho: em um período de pouco menos de 30 anos ( 1980/2007) as suas taxas de atividade passaram de 20 para 58%, portanto, quase triplicando no período.
É possível afirmar, portanto, que, no âmbito da oferta de trabalhadoras, têm havido significativas mudanças. Restam, no entanto, algumas continuidades que dificultam a dedicação das mulheres ao trabalho ou fazem dela uma trabalhadora de segunda categoria. Em primeiro lugar, as mulheres seguem sendo as principais responsáveis pelas atividades domésticas e pelo cuidado com os filhos e demais familiares, o que representa uma sobrecarga para aquelas que também realizam atividades econômicas. Exemplificando concretamente essa sobrecarga, confronte-se a grande diferença existente entre a dedicação masculina e a feminina aos afazeres domésticos: os homens gastam nessas atividades, em média, 10,3 horas por semana e as mulheres, 26 horas.
Estando ou não no mercado, todas as mulheres são donas-de-casa e realizam tarefas que, mesmo sendo indispensáveis para a sobrevivência e o bem-estar de todos os indivíduos, são desvalorizadas e desconsideradas nas estatísticas, que as classifica como "inativas, cuidam de afazeres domésticos". No entanto, ao considerar o tempo total gasto em atividades produtivas e reprodutivas por homens e mulheres, é possível constatar que elas consomem , mais do que eles, horas de dedicação ao trabalho em geral- 65,4 horas elas, 57,7 eles, por semana, em 2007 (TABELA 6). A estreita relação entre atividades produtivas e reprodutivas também pode ser observada por meio do tempo semanal gasto em afazeres domésticos, por um e outro sexo, segundo sua condição de ocupação. Como os dados revelam, devido á disponibilidade de tempo, os desocupados e as desocupadas dedicam um número maior de horas aos afazeres domésticos do que os/as ocupados/as, nas duas datas examinadas, mantidas as grandes diferenças entre os sexos ( TABELA 8).
Mulheres brasileiras, educação e trabalho
Baixar planilha 1
Baixar planilha 2
O nível de escolaridade formal da população brasileira tem se elevado continuamente através dos anos. No final do século XX e início do XXI, 40 a 50% dos homens e das mulheres tinham menos de 4 anos de estudo, enquanto cerca de 20 a 30% deles e delas apresentavam escolaridade de nível médio ou superior ( mais de 9 anos de estudo). No final da primeira década do milênio ( 2007), entretanto, verifica-se aumento significativo do nível de instrução da população, principalmente das mulheres , 39% da quais passam a ter mais de 9 anos de estudo, em comparação a 35% dos homens ( TABELA 1) . A tendência de aquisição de maior nível de escolaridade das mulheres, que vinha se esboçando desde as últimas décadas do século XX e se consolida na primeira década do século XXI tem especial importância para a inserção das mulheres no mercado de trabalho.
Revista: BIDEXTRA
"A próxima geração"
Suplemento de O BID, 1995
Fotógrafo: Willie Heinz-Bid
A prevalência das mulheres entre os mais escolarizados ocorre a partir do ensino médio e se estende ao superior. Em 2007, entre os que têm de 9 a 11 anos de estudo, mais da metade são mulheres e entre aqueles que têm mais de 12 anos de estudo, 57% são so sexo feminino ( TABELA 2) . Numa outra perspectiva, segundo dados do Censo Escolar, em 2006, 54% das matrículas e 58% das conclusões no ensino médio eram femininas ( TABELAS 3 e 4). Segundo informações do Censo do Ensino Superior, em 2007, mais da metade dos ingressantes e 60% dos concluintes do ensino superior são do sexo feminino ( TABELAS 5,6).
No âmbito da educação profissional, entretanto, a presença das mulheres é menos expressiva, uma vez que apenas metade das matrículas, em 2005, é do sexo feminino ( TABELA 7).
Uma tendência marcante a ressaltar é que, tanto na educação profissional, como no ensino superior, quando se observam as opções femininas segundo as áreas de conhecimento, nota-se a existência de algumas mais permeáveis à presença das mulheres e outras nem tanto, sinalizando a futura reprodução em "nichos" ou "guetos" ocupacionais femininos no mercado de trabalho. No ensino profissional, as preferências femininas se concentram em cursos de imagem pessoal, desenvolvimento social e lazer, saúde e turismo e hospitalidade . No superior, a maior concentração de formadas, até a última data examinada, ocorre nas áreas da educação, saúde e bem-estar social, humanidades e artes.
Como tem sido reiterado na literatura, a associação entre a escolaridade e a participação das mulheres no mercado de trabalho é intensa. Assim como os homens, a atividade das mulheres aumenta entre os que têm mais de 8 anos de estudo ( que corresponde à escolaridade obrigatória do primeiro grau), mas são aquelas que têm nível superior de ensino (15 anos ou mais) as mais ativas, com uma taxa de 82% em 2007, bastante superior à taxa de atividade feminina geral ( cerca de 50%) ( TABELA 8). Na fatia formalizada do mercado de trabalho, em que, em princípio se encontram os melhores empregos, a exigência por maiores níveis de escolaridade parece incidir mais sobre as mulheres do que sobre os homens: em 2007, p.ex., 63% dos postos de trabalho ocupados por mulheres requeriam nível de instrução médio e superior, mas a proporção de empregos masculinos que exigiam esses mesmos níveis era bastante inferior ( 44% ) (TABELA 9).
O fato de as trabalhadoras disporem de credenciais de escolaridade superiores aos seus colegas de trabalho, entretanto, não tem se revertido em ganhos semelhantes, pois os dados deixam claro que homens e mulheres com igual escolaridade obtêm rendimentos diferentes. O fato é que, as relações de gênero vão determinar valores diferentes para profissionais no mercado de trabalho, conforme esse trabalhador seja homem ou mulher. E se a maiores patamares de escolaridade estão associados, de uma forma geral, maiores salários, isso é mais verdade para os homens do que para as mulheres. ( Veja dados na série Ganhos de homens, Ganhos de mulheres).
No longo período de tempo compreendido entre 1970 e 2007, os padrões de localização dos trabalhadores e das trabalhadoras no mercado de trabalho apresentaram algumas alterações. No último ano da série, a indústria- aqui incluídas a de transformação e de construção civil-, e o agropecuário, seguidos do comércio, nessa ordem, concentraram a ocupação masculina. Em relação a 1970, registrou-se uma inversão, o agropecuário perdendo terreno em favor da indústria: 51% dos ocupados trabalhavam no agropecuário e 20% na indústria, em 1970, versus 21,5% e 27,2%, respectivamente, em 2007 ( TABELA 1). A mesma tabela mostra que, no caso das trabalhadoras, os serviços- aqui inclusos alojamento e alimentação, educação, saúde e serviços pessoais, serviços domésticos e outros serviços coletivos, sociais e pessoais¹ - mantêm-se como áreas privilegiadas de inserção das mulheres no mercado de trabalho, mesmo que, no decorrer do longo período aqui considerado, venha se dando uma diminuição da ocupação feminina, que, concomitantemente, se diversificou. Assim, em 1970, 54,9% das ocupadas o eram nos serviços e no setor social, em 1998, 47,5%, em 2002, 44,1% e, em 2007, 43,6%.
Ressalve-se que, a partir de 1992 o IBGE- Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ampliou o conceito de trabalho adotado em seus levantamentos, o que contribuiu para a maior visibilidade do trabalho feminino. Além disso, a partir do Censo de 2000, com a CNAE- Classificação Nacional de Atividades Econômicas, que adota novas desagregações dos setores e seções de atividade , pôde-se esclarecero peso de algumas atividades na ocupação feminina e diferenciá-la, por comparação, do padrão masculino. É assim que, por exemplo, na prestação de serviços, em 2007, 16,4% das ocupadas e cerca de 1% dos ocupados executavam serviços domésticos. Ou ainda, 16,9% das mulheres estavam exercendo atividades na área de educação, saúde e serviços sociais contra apenas 3,6% dos homens. E essas proporções são assemelhadas às de 2002 (TABELA 2).
Mas quais são as profissões desenvolvidas pelos brasileiros e pelas brasileiras?
Analisando a matriz ocupacional de todos os trabalhos desempenhados pelos brasileiros e brasileiras, entre os anos 1998 e 2007, dois movimentos igualmente importantes podem ser identificados ( TABELA 3 )²
O primeiro diz respeito a um padrão de inserção profissional segundo o sexo que tendeu a se repetir em 2002 e 2007, denotando uma clara segmentação quanto às áreas de atuação profissional de homens e de mulheres. Cerca de 1/3 destas, por exemplo, desenvolviam profissões dos serviços, um pouco mais de 10% em atividades de vendas no comércio, igual proporção em serviços administrativos. A proporção de trabalhos femininos relativos à agropecuária, porém, decresceu no período, acompanhando a queda da ocupação geral no setor: de 16,5% em 2002, para 13,8% em 2007. Quer dizer, os dados informam que para o grosso do contingente feminino, as chances de trabalhar são maiores em determinados setores econômicos - principalmente o setor de Prestação de Serviços - , e em grupos de ocupações típicos desse setor, nos quais sua presença já é tradicional, como professoras, pessoal de enfermagem, secretárias, recepcionistas. Representam, portanto, continuidades no padrão de ocupação das mulheres.
Os homens, por seu lado, têm maiores chances em trabalhos de produção de bens e serviços industriais, de reparação e manutenção ( cerca de 33%), em profissões da agropecuária ( pouco mais de 20% e também decrescente no período), de vendas ( 11%), em profissões técnicas de nível médio ( próximo dos 7%).
O segundo movimento é a ampliação do leque profissional das mulheres nos últimos 40 anos, de forma inquestionável e contínua, que se deve, entre outras razões, ao aumento da sua escolaridade e à diversificação das suas escolhas educacionais ( Veja série Mulheres brasileiras, educação e trabalho). Os órgãos de imprensa nos lembram desse movimento com freqüência, ao localizarem algumas "pioneiras" , p.ex., pilota comercial, reitora de universidade, presidenta de banco ou de grande empresa, militar, deputada,senadora ou vereadora, mas também mecânica de automóvel, atleta, tratorista, condutora de ônibus ou caminhão etc. As informações das tabelas trazem indícios que ratificam esse cenário. É crescente a participação feminina, particularmente nas profissões de nível superior das ciências e das artes ( 7,9% em 1998, 8,3% em 2002 e 9,5% em 2007) e, embora menos expressiva, em cargos dirigentes como membros superiores do poder público, gerentes e diretores de empresas ( de 3,5% em 1998 para 4,2% em 2007). Esses números adquirem maior poder explicativo quando comparados à ocupação masculina, estável em torno dos 4,5% a 5% nos dois grupos de ocupação mencionados, durante todo o período analisado.
Livro - Women & Work: Photographs and Personal Writings
Maureen R. Michelson & Michael R. Dressler
NewSage Press
Para observar mais de perto esses dois padrões de gênero nas profissões, classificamos as famílias ocupacionais (agregados de ocupações) em faixas de maior ou menor presença feminina, pelo montante de empregos formais destinados às mulheres, em 2007 e , dentre cada faixa selecionamos profissões femininas mais e menos tradicionais, como exemplos ( TABELA 4) .
Assim, entre as famílias ocupacionais em que mais de 70% dos empregos são femininos, estão, p.ex., profissões de diversos níveis de qualificação, em que a presença da mulher já é tradicional, como as Fonoaudiólogas ( 96%), as Nutricionistas (94%), as Professoras de nível superior do ensino fundamental de 1ª a 4ª séries ( 82,5%), as Técnicas em Biblioteconomia ( 77%), as Cozinheiras ( 72,5%), as Biólogas e afins ( 71%).
Revista - Trabajo:
Revista de La Oit
Nº 6, Dezembro de 1993
Fotógrafo: Jaccques Maillard
(com efeito aplicado sobre a foto)
Naquelas famílias em que, entre 50 e 69% dos empregos são femininos, encontramos profissões tradicionalmente femininas, p.ex., Técnicas em Administração ( 55%), trabalhadoras da preparação da confecção de calçados ( 51%), ao lado de outras que vêm se feminizando celeremente, como Farmacêuticos ( 68%), Técnicos em Turismo ( 62%), Cirurgiões-Dentistas ( 59%). Finalmente, na outra ponta, entre as famílias ocupacionais em que menos de 30% dos empregos são femininos- podendo ser consideradas redutos masculinos- podemos encontrar:- a presença feminina mais disseminada, entre outros, junto aos Artistas de circo ( 29%), os Peritos criminais ( 27%), os Catadores de materiais recicláveis ( 22%), os Engenheiros civis e afins ( 18%) e, - menos visível entre os trabalhadores de apoio à agricultura ( 13,5%), os Técnicos em pecuária ( 11,5%), os Engenheiros mecânicos ( 6%), os Motoristas de ônibus urbanos, metropolitanos e rodoviários ( 1%).
Distribuição dos ocupados por sexo e setor de atividade (Brasil 1970-1998)
Distribuição dos ocupados na semana de referência por seção de atividade no trabalho principal segundo o sexo (Brasil 1998, 2000, 2002, 2007)
Distribuição dos ocupados por sexo e grandes grupos de ocupação no trabalho principal (Brasil, 1998-2007)
Parcela feminina do emprego no mercado formal segundo famílias de ocupação ( Brasil 2007)
¹ Até 1998, essas atividades encontravam-se agregadas em "prestação de serviços' e "social". Com a adoção da CNAE- Classificação Nacional de Atividades Econômicas, em 2000, o IBGE pôde desagregá-las nas categorias enunciadas. A comparação com anos anteriores ficou impossibilitada em função das mudanças na agregação da categorias, reduzindo a presente série a 10 anos. O ano de 1998 foi estimado a partir das proporções do Censo 2000.
² Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações - Domiciliar ( CBO-domiciliar),utilizada pelo IBGE, desde 2000. Esta série histórica remonta a apenas 10 anos devido à adoção dessa nova classificação de ocupações, o que descontinuou a possibilidade de comparação com anos anteriores. O ano de 1998 foi estimado a partir das proporções encontradas no Censo de 2000.
A literatura tem sido farta em assinalar a maior vulnerabilidade do trabalho feminino em relação ao masculino. Informações sobre a posição na ocupação indicam que, em 2007, tanto entre os homens como entre as mulheres, o mais comum é ser empregado (respectivamente 62 e 51%). No entanto, um percentual mais expressivo das mulheres (31%) quando comparado aos homens ( 8%) ocupa posições mais vulneráveis no mercado , seja como trabalhadoras domésticas, seja como não remuneradas ou ainda como trabalhadoras para o consumo próprio ou do grupo familiar.
Revista - Mujeres: Mulleres Dones Emakumeak
Ano 2, Número 5, Março de 1985 Fotógrafo: Jaccques Maillard
Algumas características da ocupação feminina nesses nichos mais desfavorecidos ilustram a precariedade dessa expressiva parcela da mão-de-obra. Por exemplo, entre as trabalhadoras domésticas, 74% não possuem carteira de trabalho e 96% ganham até 2 salários mínimos (SM).
Não podemos deixar de mencionar, por outro lado, que o processo de feminização de profissões de nível superior é uma realidade para uma importante e crescente fatia das trabalhadoras. Entre os advogados, por exemplo, a parcela feminina era 37% em 1995 e 48% em 2007; entre os magistrados, um pouco menos de ¼ eram mulheres em 1995 e 36%, em 2007 ( TABELA 3) .
Outra evidência da fragilidade do trabalho feminino, em comparação ao masculino, pode ser identificada a partir do local no qual os trabalhadores desempenham suas atividades. Embora, em 2007, cerca de 60% dos ocupados de ambos os sexos trabalhassem em lojas, escritórios e oficinas, um percentual considerável de mulheres trabalhavano próprio domicílio (9,6%) ou no domicílio do patrão (20%), cifras bem mais elevadas do que as verificadas para os homens. No primeiro caso, a grande maioria é composta por autônomas (78% em 2007) que trabalham por conta-própria no domicílio, seja porque não conseguem outro trabalho, seja porque em casa podem trabalhar e ao mesmo tempo cuidar da família e dos filhos ( TABELA 6). O segundo caso, dos que trabalham no domicílio do patrão, é composto por esmagadora maioria de trabalhadoras domésticas (mais de 93% das mulheres que trabalham nesse local).
Uma das razões freqüentemente mencionadas para justificar a posição menos favorável ocupada pelas mulheres no mercado de trabalho é a sua menor combatividade e poder de reivindicação. A presença da mulher em movimentos de representação não tem se dado sem conflitos. De um lado, os espaços de representação profissional nem sempre estão abertos ou facilitam sua participação e, de outro, muitas vezes falta à trabalhadora coragem e, também, tempo hábil para se engajar em outras atividades , além das que normalmente desenvolve no trabalho e junto à família.
Disso resulta a tímida penetração das mulheres no movimento sindical, seja como associadas, seja como representantes sindicais, o que, sem dúvida, torna mais difícil a batalha por direitos e reivindicações especificamente femininos, as quais tendem a ser incorporadas de forma marginal na consciência e nas práticas sindicais.
Por um lado, sua participação em sindicatos ainda é restrita numérica e setorialmente, embora nos últimos 7 anos venha aumentando ligeiramente: em 1995, elas representavam apenas 1/3 dos associados a sindicatos profissionais, em 1998, 35,7%, em 2002, 37,4% e, em 2007, 39,9. Nesse último ano, a maior concentração de sindicalizadas era vinculada ao setor Social (29%),_ onde têm grande peso estabelecimentos de ensino e da área da saúde, e ao setor Agrícola (24,5%).
Por outro, a sua presença nos quadros sindicais ainda é diminuta, embora também venha aumentando ligeiramente nos últimos anos. Em apenas 10% dos sindicatos de empregados urbanos havia uma mulher na presidência em 1992, mas em 2001, a proporção era 15,8%. No cargo de tesoureira, os índices avançaram de 16% para 22% no mesmo período.
São também considerados indicadores da qualidade do trabalho feminino as possibilidades de inserção das mulheres nos diversos setores econômicos , as ocupações que desempenham e a desigualdade salarial em relação aos homens. No último quarto de século, constata-se, no Brasil e no mundo, que as mulheres continuam submetidas à segregação setorial e ocupacional , conforme já demonstramos na série histórica O Lugar das mulheres no mercado de trabalho: setores de atividade e estrutura ocupacional.
A desigualdade salarial entre os sexos, por sua vez, é um fenômeno que se verifica mesmo quando as mulheres apresentam os mesmos requisitos de escolaridade, número de horas trabalhadas e posição na ocupação do que os homens (veja maiores informações em Ganhos de homens, ganhos de mulheres).
O Lugar das Mulheres no Mercado de Trabalho: Regulação do Emprego e Proteção Social
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A jornada semanal de trabalho, a posse de carteira de trabalho assinada ou de contrato formal e a contribuição para a previdência oficial são tradicionais indicadores de regulação e proteção do trabalho e historicamente, têm mostrado que o trabalho feminino tem sido menos protegido e regulado do que o masculino.
Livro - Mulheres no Trabalho Bancário
Liliana Segnini
EdUSP
No que diz respeito à jornada semanal de trabalho, até 1990, a mais freqüentemente adotada para trabalhadores de ambos os sexos era a de 40 a 48 horas semanais, conhecida como "período integral". Desse ano em diante, contudo, crescem as proporções de trabalhadores de ambos os sexos,_mas particularmente de mulheres, que passam a trabalhar até 39 horas por semana, ou em "meio-período". Assim, chega-se em 2002 com proporções semelhantes de trabalhadoras com jornadas de trabalho semanal em " período integral" (42%) e em "meio-período" (45%), índices que apresentam ligeira reversão em 2007: aqui prevalece novamente o contrato em período integral para 46% das trabalhadoras, enquanto as proporções das que trabalham em meio-período decaem para 43% . O mesmo movimento poderá ser observado para os trabalhadores ( TABELA 1) .
Entendam-se essas alterações dentro do quadro mais amplo das transformações pelas quais vem passando o mercado de trabalho no país: a partir dos anos 1990, grande redução do emprego formal, principalmente o industrial, flexibilização das formas de contratação de mão-de-obra e das normas de exercício do trabalho, entre as quais podem-se citar os horários e os locais de trabalho. E nesse processo, o trabalho feminino tendeu a ser mais flexibilizado que o masculino. A partir de 2002, a recuperação da economia e a expansão dos postos de trabalho já pôde ser captada pelas pesquisas, beneficiando ambos os sexos.
No que diz respeito à ocupação formalizada, os dados indicam que, o espaço feminino é ligeiramente menor que o masculino, embora tenha crescido para ambos os sexos entre 2002 e 2007. O segmento das empregadas com carteira assinada, militares e estatutárias,p.ex., representou, em 2002, 33,7% da ocupação feminina total, enquanto que o mesmo segmento significou 37,2% no total da ocupação masculina. Para 2007, as proporções são , respectivamente, 37,4% e 42%. Se, entretanto, adicionarmos os empregados domésticos que têm carteira assinada às cifras de 2007, o índice de formalização da ocupação feminina e masculina passam a ser iguais: 42% ( TABELA 2) .
No tocante à contribuição para o sistema público de previdência (INSS), nota-se sua diminuição para ambos os sexos a partir dos anos 90, em função da contração dos empregos formais: num período de 8 anos ( de 1990 a 1998), essa diminuição foi da ordem de 5% para trabalhadores e trabalhadoras. Entre 1998 e 2002, as proporções de ocupados de ambos os sexos que contribuíram para a Previdência Social voltam a ter tênue aumento, tendência que persiste em 2007, sinalizando o período de recuperação da economia nacional a partir dos primeiros anos do milênio. Apesar desse último movimento positivo, porém, registre-se que apenas metade dos trabalhadores, _ 51,4% deles e 49,3% delas, contribuíam para o sistema público de previdência em 2007.
Finalmente, no que diz respeito aos aposentados e pensionistas, verifica-se que entre os homens predominam os aposentados em todo o período e, entre as mulheres, além das que auferem uma aposentadoria em função do próprio trabalho passado, há proporções expressivas de pensionistas, retrato da localização diversa de homens e mulheres no mercado de trabalho no passado recente.
Quer dizer, eles são preferencialmente aposentados porque têm tradicionalmente tido acesso a empregos formais em maior proporção do que as mulheres. Quanto a elas, o montante de aposentadas prevaleceu sobre o de pensionistas até 2002, invertendo-se essa equação no último ano da série . Certamente contribuem para essa tendência, em primeiro lugar, a maior esperança de vida feminina, que também vem se refletindo na parcela crescente delas que acumulam pensão e aposentadoria.
Em segundo lugar, deve-se levar em conta a forte expansão do número de benefícios emitidos pela Previdência Social em função da implementação do Plano Nacional de Assistência Social instituído pela Constituição de 1988 . Segundo informações da Previdência Social (http://www.brasil.gov.br/ac_social3.html), em 2002 atingiu-se a marca histórica de 21,1 milhões de benefícios pagos mensalmente, sendo que o aumento da quantidade de benefícios foi devido em parte ao aumento expressivo do número de benefícios pagos aos trabalhadores rurais que vivem em regime de economia familiar. E as mulheres compõem a maioria dos trabalhadores rurais na agricultura familiar. Compute-se também nessa expansão a ampliação da concessão de benefícios aos maiores de 67 anos desprovidos de renda e, maisrecentemente, aos portadores de deficiências. Em números absolutos, então, existiam 3,5 milhões de mulheres pensionistas em 1998, cifra que pulou para 6,7 milhões em 2007.
A participação das mulheres no conjunto dos empregos formais sempre foi restrita, permanecendo , entre 1985 e 1992, muito próxima de 1/3, apresentando-se crescente a partir de então, atingindo 41% em 2007. É importante realçar que o processo de enxugamento de postos de trabalho formalizados que se verificou com especial intensidade no anos 90, parece ter afetado em maior medida os homens do que as mulheres. No período 88/92, dados do Ministério do Trabalho indicavam uma variação negativa de 8,6% nos empregos masculinos e de apenas 0,3% nos femininos. Nos períodos subseqüentes, ocorreu uma retomada da formalização dos empregos para ambos os sexos e , particularmente para o feminino. Nos últimos 15 anos, entre 1992 e 2007 , as empresas informaram a abertura de 15 315 320 postos de trabalho, 7 949 867 masculinos e 7 365 453, femininos( TABELA 1).
Livro - Women & Work: Photographs and Personal Writings
Maureen R. Michelson & Michael R. Dressler
NewSage Press
A estrutura desses empregos, contudo , praticamente não se altera durante todo o período. Em outras palavras, a natureza do vínculo empregatício, a distribuição dos empregos pelos setores de atividade econômica e segundo o porte dos estabelecimentos demonstra uma regularidade que tem atravessado o período em análise :
a grande maioria dos empregos - tanto masculinos, como femininos - continuam sendo regidos pela CLT (79% deles e 67% delas em 2007);
Por outro lado, os empregos femininos no serviço público, em regime estatutário, duplicaram no período analisado, evidenciando a persistência da importância desse setor na absorção da força de trabalho feminina, particularmente nas áreas da educação e da saúde: se em 1985 16% dos empregos femininos eram contratados sob aquele regime, em 2007, eles atingem 30%. Neste mesmo ano, apenas 15% dos empregos masculinos eram na administração pública. Ressalvada essa diferença de gênero, deve-se notar que nesse longo período de tempo, também foi crescente importância do setor público na absorção dos homens ( apenas 8% em 1985).
A parcela de mulheres que conseguiu um emprego com contrato formal de trabalho em 2007, encontrou as principais chances de colocação, pela ordem, na Administração Pública ( 59% dos postos de trabalho do setor), nos Serviços,particularmente em Serviços médicos, odontológicos e veterinários (75%) e no Ensino (61%), no Comércio Varejista (42%), na Indústria (principalmente nos ramos Têxteis e do vestuário ( 61%), Calçados (50%), Elétrica, Eletrônica e de Comunicações ( 34%) e Alimentos e Bebidas( 30%). Por outro lado, é mais provável o engajamento masculino no mercado formal, na Agricultura ( 85% dos postos de trabalho formais),_ muito provavelmente em função do florescimento do agro-negócio e da disseminação da formalização dos vínculos de trabalho no campo _, nas Indústrias da Construção Civil (93%), Extrativa mineral ( 90%), Minerais não metálicos, Metalúrgica e Material de Transporte (88% cada), Serviços industriais de utilidade pública e Mecânica ( 84% cada ) e, além disso, no Comércio Atacadista, em que 72% dos empregos formais são masculinos ( TABELA 3);
a mão-de-obra feminina apresenta índices de emprego mais elevados que a masculina em grandes estabelecimentos :em 2007, 41% delas e 32% deles trabalhavam em empresas com mais de 500 empregados.
Ganhos de Homens, Ganhos de Mulheres
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O nível de ganhos dos brasileiros é reconhecidamente baixo e as mulheres brasileiras - como as mulheres de todo o mundo - ganham ainda menos do que os homens.
Revista - Trabajo:
Revista de La Oit
Nº 6, Dezembro de 1993
Fotógrafo: Jaccques Maillard
(com efeito aplicado sobre a foto)
A evolução da distribuição de renda de todos os brasileiros revela uma tendência de diminuição paulatina do contingente de trabalhadores com menores ganhos, entre 1976 e 1998. Assim, se em 1976 56% dos homens e 68% das mulheres ganhavam até 2 salários-mínimos (SM), chega-se a 1998 com 39% deles e 47% delas nesse mesmo patamar . O ano de 2002, contudo, apresentou uma inflexão nessa tendência: a proporção dos que ganhavam até 2 SM volta a subir, chegando a 51% entre os homens e 58% entre as mulheres, refletindo a queda dos rendimentos advindos do trabalho na população brasileira ocupada. Essa tendência se acentua em 2007, quando 56% dos trabalhadores e 63% das trabalhadoras ganhavam até 2 SM (TABELA 1).
A desigualdade dos rendimentos femininos frente aos masculinos é um traço persistente , seja qual for o ângulo sob o qual se analise a questão. Senão vejamos:
As mulheres ganham menos que os homens independentemente do setor de atividade econômica em que trabalhem. No ramo da educação, saúde e serviços pessoais,_ espaço de trabalho tradicionalmente feminizado, em 2007, por exemplo, encontraremos ¼ dos trabalhadores e 11% das trabalhadoras ganhando mais de 5 Salários mínimos. Comparativamente a 2002, constata-se que diminuiu o número de trabalhadores de ambos os sexos com ganhos naquela faixa de remuneração ( ganhavam mais de 5 SM 30% deles e 15% delas), corroborando a persistência da queda nos rendimentos do trabalho nos últimos cinco anos da série (TABELAS 2 ;3);
No que tange à posição na ocupação, elas sempre ganham menos do que eles seja como empregadas, autônomas, empregadoras ou trabalhadoras domésticas. Veja-se o que ocorre no campo do trabalho doméstico, onde predominam as trabalhadoras: em 2002, 94% delas mas 84% dos trabalhadores domésticos do sexo masculino ganhavam até 2 SM; em 2007 a tendência se acentua, pois 96% delas e 89% deles classificavam-se na mesma faixa de rendimentos;
Livro - Women & Work: Photographs and Personal Writings
Maureen R. Michelson & Michael R. Dressler
NewSage Press
Da mesma forma, são menores os patamares de rendimento feminino, independentemente da jornada semanal de trabalho. Em 2002, entre aqueles que trabalhavam em período integral ( de 40 a 44 horas semanais) por exemplo, ganhavam até 2 SM 57% das ocupadas e 51% dos ocupados; na outra ponta, ganhando mais de 5 SM, estavam 16% dos homens e 13% das mulheres. Em 2007, ganhavam até 2 SM 65% das trabalhadoras e 56% dos trabalhadores em período integral, sugerindo mais uma vez que o rendimento do trabalho tem sido cada vez menor para ambos- e especialmente para elas- , mesmo num cenário de recuperação da economia e de expansão do emprego formal e informal, como o verificado nos últimos anos (TABELA 5);
Quanto mais elevada a escolaridade , maiores as chances de obter melhores rendimentos. Se isso é verdadeiro para trabalhadores de ambos os sexos, porém, parece se aplicar mais a eles do que a elas. Observando os rendimentos dos que atingiram os mais altos níveis de escolarização,_ 15 anos e mais, i.e.,que cursaram uma faculdade, tem-se que 30% dos homens e apenas 10% das mulheres tinham rendimentos superiores a 10 SM em 2007 ( em 2002, as proporções eram, respectivamente, 42% e 18%);
Finalmente, tomando a média dos rendimentos mensais (em Salários mínimos) de algumas das carreiras profissionais mais feminizadas no mercado de trabalho, vê-se, em 2007, a repetição do mesmo padrão desfavorável às mulheres, com raras exceções( TABELA 7):
Os recepcionistas ganhavam, em média, 1,85 SM e as recepcionistas, 1,59 SM por mês;
Entre os secretários executivos e bilíngües , os homens ganhavam 5,79 e as mulheres 3,71 SM;
As agentes comunitárias de saúde e afins ganhavam 1,54 SM por mês, em média e os agentes, 2,06 SM;
As assistentes sociais e os economistas domésticos recebiam 5,71 SM enquanto os homens nas mesmas funções recebiam 5,14 SM.

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