Buscar

A extensão e sua trajetória histórica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A EXTENSÃO RURAL E SUA TRAJETÓRIA HISTÓRICA1 
Pricila Estevão2 
Eliana Ferreira de Castela3 
Diego Neves de Sousa4 
Cleiton Silva Ferreira Milagres5 
 
RESUMO 
O período da Renascença traz para o mundo a ciência, seus métodos de 
investigação e seu rompimento com o conhecimento ligado a divindade 
suprema, como consequência, instala-se a busca do conhecimento por um 
homem autônomo, e assim se estabelece uma nova relação com a natureza. A 
ciência que se pretendia para a autonomia mudou seu percurso, caminhando 
rumo à dominação e não à liberdade. A constituição das organizações de 
pesquisas agrícolas com a finalidade de desenvolver o melhoramento genético 
de espécies para o aumento da produção não serviu ao fim de “prover e 
auxiliar a vida”, mas de dominar tanto a natureza quanto os povos e 
desenvolver a acumulação do capital nos grandes centros mundiais. Neste 
contexto, como necessidade de levar ao campo o progresso técnico, a 
extensão rural surge nos Estados Unidos, no início do século XX, sob a ótica 
da corrente teórica neoclássica, na qual o progresso técnico era visto como o 
único caminho para promover o desenvolvimento e o processo de 
modernização. A mesma lógica instalou-se no Brasil, onde a extensão rural, 
desde a sua origem, tem sido um serviço predominantemente público que já 
passou por crises, reorientações teóricas e institucionais, além de diversos 
reposicionamentos políticos. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo 
 
1
 Ponencia presentada al VIII Congreso Latinoamericano de Sociología Rural, Porto de 
Galinhas, 2010. 
2 Mestranda do Curso de Extensão Rural da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Embrapa 
Gado de Leite, email: pricila35@yahoo.com.br 
3 Mestranda do Curso de Extensão Rural da UFV, email: elianacastela@yahoo.com.br 
4 Mestrando do Curso de Extensão Rural da UFV, Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa 
do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), email: diegocoop@hotmail.com 
5
Mestrando do Curso de Extensão Rural da UFV, Bolsista do CNPq, email: 
cmilagres03@yahoo.com.br 
 
2 
 
identificar e discutir como é possível superar as distorções ocorridas ao longo 
da trajetória da extensão rural com proposições a fim de contribuir para um 
redirecionamento das práticas e na redefinição de um novo perfil do 
extensionista rural. Entre os argumentos obtidos, destaca-se que a extensão 
rural vem passando por uma redefinição em sua trajetória histórica e, também, 
em termos de geração de conhecimento, porém ainda predomina uma prática 
difusionista, consolidada como uma ação que envolve tecnologia e técnica, 
além do produtor rural. 
1. Introdução 
A Renascença traz para o mundo a ciência, seus métodos de 
investigação e seu rompimento com a forma do conhecimento ligado à 
divindade suprema instala-se a busca do conhecimento com um homem 
autônomo e estabelece uma nova relação com a natureza: a separação e a 
dominação. 
 O método de investigação científico trazido por Descartes pelo laissez 
faire, das condições intelectuais do homem indivíduo e da razão, permitiria a 
busca do conhecer como “força que liberta”. A organização corporativa para a 
busca da felicidade e da autonomia pelo fazer científico de Bacon, dar-se-iam 
as orientações para o desenvolvimento das ciências agrárias – a 
experimentação e a organização conduziram estas ciências na implementação 
de novas técnicas e no desenvolvimento da tecnologia. As ideias destes dois 
pensadores contribuíram significativamente com o projeto iluminista 
renascentista, onde a ciência era vista como a luz e a força que emancipa o 
homem e traz a verdade por meio da razão e do conhecimento. 
“Hoje, quando a utopia baconiana de „imperar na prática sobre 
a natureza‟ se realizou numa escala telúrica, tornou-se 
manifesta a essência da coação que ele atribuía à natureza 
não dominada (...). É a sua dissolução que pode agora 
proceder ao saber em que Bacon vê a „superioridade dos 
homens‟ ”(ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p.52). 
 A ciência que se pretendia para a autonomia mudou seu percurso, 
caminhando rumo à dominação e não à liberdade. A razão iluminista trouxe o 
desencantamento do mundo pela ciência. Essa ciência traria a verdade ao 
3 
 
homem. A dominação da natureza proposta pela instituição da razão, da 
técnica e do método distanciou o homem da natureza transformando-a em 
mero objeto de sua manipulação, observação e exploração. 
A criação das organizações de pesquisa agrícola com o propósito de 
desenvolver o melhoramento genético de espécies para o aumento da 
produção não serviu à finalidade de “prover e auxiliar a vida”, mas sim de 
dominar a natureza, sobrepujar povos e desenvolver a acumulação do capital 
nos grandes centros mundiais. Tinham objetivos econômicos e comerciais, 
mais do que científicos propriamente. 
 A localização dos centros de pesquisa agrícola e os investimentos feitos 
para esse fim são esclarecidos pelo que Wallerstein (1998) chamou de sistema 
mundial moderno, um mundo articulado, numa relação de dominação em 
diferentes áreas do planeta, onde cada país tem um papel diferente, 
dependendo do lugar onde ele se encontra: centro, semi-periferia ou periferia. 
Esta classificação é feita a partir da importância econômica que cada país tem 
em nível mundial. 
A Revolução Industrial estende-se à agricultura. A criação das estações 
experimentais na abordagem de Busch (1981) demonstra que a prioridade é 
produzir para alimentação e exportação, e não para acabar com a fome no 
mundo com vistas à preocupação prevista por Malthus. 
 Ainda de acordo com Busch (1981), a Fundação Rockefeller começa, 
em 1941, a desenvolver no México o melhoramento genético de plantas, que 
associada ao uso de fertilizantes, pesticidas e a adequada irrigação inicia a 
promoção do aumento da produção agrícola. “A ideologia e pesquisa que 
forneceu o eixo para a Revolução Verde também serviu de modelo para a 
instalação dos centros internacionais de pesquisa” (BUSCH, 1981, p.145). Ou 
seja, essas inovações tecnológicas numa associação entre modificação de 
sementes que se adequariam a diferentes regiões do planeta, com suporte de 
um “pacote de insumos”, permitiram o aumento da produção de grãos e o que 
se constituiu, a priori, uma “vitória” frente às condições naturais da produção 
agrícola. Com o passar dos tempos perceber-se-ia que a natureza não estava 
assim tão conformada ao método, “toda tentativa de romper as imposições da 
4 
 
natureza, resulta numa submissão ainda mais profunda às imposições da 
natureza.” (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 27). 
 A criação dos centros internacionais de pesquisas agrícolas contou e 
ainda conta com o apoio de investimentos de organismos financiadores 
internacionais, como o Banco Mundial; assim como os investimentos de capital 
privado, por intermédio da Fundação Ford e a Fundação Rockefeller, como 
supracitado. Tais investimentos explicitam os interesses de deslocar o capital 
industrial para investir na agricultura, o que reflete também como a agricultura é 
“capturada” pela indústria, uma vez que o modelo de produção agrícola tinha 
uma dependência de produtos industriais, por meio dos insumos, o que 
também vem justificar o investimento privado na instalação dos centros 
internacionais. 
No Brasil, a criação do Jardim Botânico, com a vinda da família real, dar-
se-á início ao processo de criação de organizações científicas a serviço do 
desenvolvimento da agricultura no país. Rodrigues (1987) faz um histórico da 
criação dos institutos de pesquisa agropecuária, estações experimentais e 
escolas agrícolas, desde a instalação da corte portuguesaaté o Pós-Guerra. 
Nesse ínterim, o Brasil passa por distintos regimes políticos, o desenvolvimento 
da pesquisa condicionada a fatores que, como a mão-de-obra escrava, 
constituía-se impedimento para o pleno desenvolvimento da economia 
nacional; marcada também pelo baixo investimento de recursos financeiros, a 
falta de prioridade na política agropecuária, entre outros fatores ligados à 
educação, num desenho próprio de um país dependente dos grandes centros 
mundiais, tanto de conhecimento científico, quanto de tecnologia. 
 Em nível mundial, os modelos de pesquisa que foram desenvolvidos, 
bem como a extensão rural nessa formatação da atividade agrícola, 
apresentaram vários equívocos. A pesquisa tinha como foco o melhoramento e 
o aumento da produção; como consequência, o extensionista exercia papel 
fundamental para a difusão das inovações tecnológicas e o produtor rural era 
apenas um mero receptor das informações. Esse processo ainda não está 
superado totalmente, no entanto, novas orientações têm sido sugeridas para 
superar tais equívocos. Gibbon (1994) apresenta uma análise do modelo de 
5 
 
pesquisa, Farming Systems Research /Extension, com algumas sugestões 
para o processo de abordagem, a fim de superar as distorções propondo uma 
interação dinâmica na relação entre pesquisador, extensionista e produtor, 
onde este último ator tem papel de igual importância no processo. 
A necessidade da abordagem interdisciplinar em que cientistas sociais 
possam interagir com pesquisadores das ciências naturais; e a necessidade de 
considerar o importante tema da sustentabilidade. Este último assunto tem se 
colocado como fator fundamental a ser considerado, frente aos problemas 
ambientais ocasionados, seja pela ação humana ou não, ocupando hoje 
importante lugar na pauta de discussão para adequação dos modelos de 
pesquisa e de extensão na atividade rural. 
 
2. Extensão Rural: Continuidades e Distorções 
 O sonho da Nova Atlântida é desfeito, uma vez que a razão, a 
experimentação e a estrutura organizacional não serviram à felicidade 
planejada por Bacon. A ciência fora apropriada pela técnica, o modelo de 
organização que predominou nos centros internacionais de pesquisa, apesar 
de se espelhar na Casa de Salomão, não atingiu a felicidade, o papel dos 
cientistas também é diferente, a ciência tornou-se cega. 
O desenvolvimento da ciência levou a conhecer, separando os objetos 
do conhecimento uns dos outros e do sujeito que conhece. O conhecimento é o 
elemento que potencializa a mudança, uma vez que a razão é vista como 
conhecimento técnico científico. 
Segundo Habermas, "após Kant, a Teoria do Conhecimento 
(Gnoseologia) foi desaparecendo, com a ruptura das relações entre a Filosofia 
e a Ciência" (SÁNCHEZ GAMBOA, 1996, p.8). A partir dessa separação a 
tendência foi de considerar a epistemologia como teoria da ciência, 
consolidando-a como a única forma de conhecimento válido, com a exclusão 
de qualquer outra forma de conhecimento. O Iluminismo emerge como 
consolidação da filosofia para expressar a ambivalência de liberdade do 
indivíduo e da sociedade. 
6 
 
A reflexão sobre a base do conhecimento científico e filosófico norteou o 
consenso explicativo entre as racionalidades universal e individual. Os 
iluministas falam de uma ordem universal porque acreditam que a verdade é 
universal e a liberdade é para todos. Alguns autores, como Adorno, admitem 
que no Iluminismo sempre predominou a idéia de progresso, vislumbrando a 
possibilidade de uma sociedade mais justa, mas que também está implícita 
uma ideia de repressão. 
Com a necessidade de levar ao campo o progresso técnico, a extensão 
rural surge nos Estados Unidos, no início do século XX. O modelo clássico 
americano de extensão rural trabalhava sob a ótica da corrente teórica 
neoclássica, na qual o progresso técnico era visto como o único caminho para 
promover o desenvolvimento e o processo de modernização. A mesma lógica 
instalou-se no Brasil, onde a extensão rural, desde a sua origem, tem sido um 
serviço predominantemente público que já passou por crises, reorientações 
teóricas e institucionais, e reposicionamentos políticos diversos. Seria o 
progresso técnico, da forma como ocorreu, uma práxis emancipadora? 
A práxis pode revelar a reflexão e a ação sobre uma realidade, 
buscando sua transformação, sendo esta orientada para a consecução de 
maiores níveis de liberdade do indivíduo e da humanidade. A lógica era 
conhecer para entender a natureza e utilizá-la a serviço da humanidade. 
Quanto mais conhecimento, mais livres seriam os homens. Com o passar dos 
tempos a lógica era conhecer para dominar e acumular mercadorias (matéria-
prima, terra, capital). O conhecer ganhou uma dimensão exclusivamente 
econômica. A natureza apartada e intensivamente utilizada se rebelou e o que 
vemos agora é uma nova ordem mundial – a natureza é colocada na pauta das 
grandes agendas mundiais. 
Segundo Giddens (1994), o mundo em que vivemos hoje é coberto de 
riscos e incertezas. Desde o iluminismo, acreditou-se que quanto mais o 
homem conhecesse e interviesse sobre a natureza e a sociedade, mais 
controle sobre esses campos ele teria. Essa tese não se confirmou, pois 
perdeu-se o controle da própria ação humana. 
7 
 
A abordagem do risco reside na identificação de uma mudança 
qualitativa no conflito inerente à condição moderna em seu período mais 
recente. Enquanto num primeiro momento, a modernidade estruturou-se em 
determinadas certezas – como a expansão de vida, o progresso tecnológico e 
a confiança no conhecimento científico. No momento atual, elas teriam dado 
lugar aos riscos globais expressos nas ameaças da militarização, nos 
problemas ambientais e na ameaça aos direitos humanos (BECK, 1995). 
 Buscando atender as necessidades atuais e garantir às gerações 
futuras o uso dos recursos naturais e de um planeta saudável, a Comissão 
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) apresenta um 
modelo sustentável a ser seguido pelas nações, o qual deve orientar as 
práticas onde a agricultura, por exemplo, passa a representar um segmento 
estratégico enquanto fornecedora de alimento, geração de trabalho e renda, 
entre outros. 
“É sabido que o desenvolvimento sustentável almejado pelo país 
supõe o estabelecimento de estilos de agricultura, extrativismo e 
pesca igualmente sustentáveis, que não podem ser alcançados 
unicamente por meio da transferência de tecnologias” (BRASIL, 
2004, p.6).Essa tem sido, portanto, a orientação das políticas públicas pautadas no 
desenvolvimento sustentável voltado para o meio rural, onde a extensão rural 
tem papel primordial no alcance destas políticas. 
A extensão rural vem passando por uma redefinição em sua trajetória 
histórica e em termos de geração de conhecimento; porém ainda predomina 
uma prática difusionista consolidada como uma ação que envolve tecnologia e 
técnica, além do produtor rural. Reconhecendo que o conhecimento enquanto 
condição histórica é ao mesmo tempo natural e social, torna-se mais fácil 
perceber que as tecnologias que vem sendo geradas e divulgadas pela ciência 
agrícola, praticamente, em todo mundo, estejam servindo muito mais à 
alienação do que à emancipação dos sujeitos envolvidos, sejam eles 
pesquisadores, técnicos ou agricultores. “A extensão rural caracterizou-se pela 
identificação e delimitação de tarefas dentro de uma perspectiva extremamente 
reducionista” (MUNIZ, 1999, p.56). Da mesma forma, o serviço de Assistência 
Técnica e Extensão Rural (ATER) vem passando por profundas 
8 
 
transformações em suas práticas e metodologias no enfrentamento dos 
desafios contemporâneos. 
A orientação atual que se constitui por meio da Política Nacional de 
Assistência Técnica e Extensão Rural – PNATER, enquanto um projeto que 
busca ser emancipador, pretende-se apoiar em conceitos como 
desenvolvimento sustentável, agroecologia, equidade social, participação, 
educação popular, empoderamento, gênero, geração de renda e etnia. A 
Política traz uma proposta inovadora no seu conjunto quando sugere uma ação 
extensionista sobre novas bases ecológicas e participativas. Para Muniz, a 
extensão rural 
“deve ser decorrente de novas concepções que se apresentam 
sobre a ciência e a tecnologia, sobre as instituições e a gestão 
dos recursos comuns, a pesquisa tecnológica, a reflexividade 
coletiva e a propensão em tratar as questões na sociedade 
agrária como riscos coletivos e não como questão de ordem” 
(MUNIZ, 2003, p.6). 
Desse modo, uma nova concepção pautada na sustentabilidade exige 
dos extensionistas uma nova postura, um novo tipo de atuação. Na definição 
desse novo perfil profissional é preciso buscar a produção do conhecimento 
junto às comunidades, deve-se incluir uma discussão profunda e crítica sobre 
os pressupostos epistemológicos e filosóficos e as implicações ideológicas e 
políticas do trabalho científico. 
“O novo profissional é resultado da evolução da pesquisa 
tecnológica e do seu realinhamento teórico, que pode, tanto 
quanto propiciou à extensão rural a sua reorientação, permitir a 
organização da pesquisa agrícola tradicional em bases mais 
sólidas. Se esta cerceou a extensão rural por se fundamentar 
em pressupostos falaciosos, ao alterar esses pressupostos 
pelas novas premissas do desenvolvimento, o novo profissional 
é definido pelos novos componentes da área problema em que 
ela se insere. O importante é que a extensão rural não se 
restrinja aos pressupostos tradicionais da tecnologia, que (...) 
irá permitir o progresso da extensão rural como área problema 
de pesquisas compartilhadas. O fundamental é a definição da 
extensão rural pela formação do profissional e da instituição 
que conhece e não pela tecnologia que transfere” (MUNIZ, 
2003, p.6). 
 
9 
 
A discussão perpassa pelos desafios da extensão rural como área de 
geração de conhecimento. Para Coelho (2005), diante dos problemas 
ambientais e sociais decorrentes da modernização, discute-se uma nova 
proposta de extensão rural de caráter mais educativo e transformador que 
preconize a construção partilhada de conhecimento. Para tanto, novas 
competências técnicas, cognitivas e políticas são exigidas aos profissionais 
agrários visando à construção de soluções para o enfrentamento desses 
problemas éticos e socioambientais. Chambers (1994) afirma também que a 
busca do desenvolvimento e da agricultura sustentável exige dos 
extensionistas uma nova postura, um novo tipo de atuação, um novo 
“profissionalismo”. 
 Desta forma, este novo extensionista é incentivado e desafiado a ser 
agente de ensino, pesquisa e extensão e não mais divulgador/disseminador de 
tecnologias modernas. 
 Neste contexto, mesmo propondo ser inovadora e atender aos conceitos 
de sustentabilidade e às necessidades dos seus beneficiários, algumas críticas 
têm sido apontadas a atual Política Nacional de Assistência Técnica e 
Extensão Rural do país. 
“O que se tem observado é que as normas, regras e formas 
institucionais e de poder não estão sendo alteradas, pelo 
menos na maioria dos casos. Por conseguinte, mesmo quando 
se observa uma mudança no „discurso oficial‟, essa mudança 
não se materializa na prática da gestão, nem na ação de ATER 
junto aos agricultores” (CAPORAL e RAMOS, 2006, p. 21). 
 A PNATER para ser implementada em sua plenitude e atender a tudo 
que a lei prevê, necessitará de um corpo técnico profissional tanto quantitativo 
quanto qualitativo. Também deverá prever instrumentos de avaliação que 
possam acompanhar processos e apontar redirecionamentos quando 
necessário. 
O modelo apresentado pela Organização das Nações Unidas para 
Agricultura e Alimentação – FAO, contribui na interação entre múltiplos atores 
envolvidos nesse processo, com múltiplos propósitos, o “triângulo do 
conhecimento” (Figura 1). O importante do modelo é que não prioriza a 
tecnologia e sim o conhecimento e a informação, negligenciados nos modelos 
10 
 
tradicionais de pesquisa agrícola. Os agricultores e outros povos rurais são 
parceiros no âmbito do sistema de conhecimento, e não simplesmente meros 
receptores passivos. 
Figura 1 - Agricultural Knowledge and Information System for Rural 
development 
 
Fonte: FAO and Worlbank, Rome, 2000. 
3. Superando as Distorções 
Pode-se remeter à mitologia grega para pensar o papel atual da 
extensão rural. A deusa Íris, poucas vezes evocada na Grécia antiga, 
igualmente na literatura e na arte, é a personificação do arco-íris, este em 
diversas culturas, simboliza a mediação entre este mundo e outro. Ela atua 
como mediadora, representa a aliança entre Deus e o homem e intervém 
também nos assuntos entre os homens. Hermes, mestre de todas as ciências, 
personifica a revelação da sabedoria aos homens e do caminho da eternidade. 
Inventor das letras e dos números, da escrita e do cálculo, da geometria e da 
astronomia, guardião da magia escrita, é o escriba dos deuses. Intelecto 
deificado, sábio por excelência, é deus do mistério e da arte de decifrá-lo. É a 
palavra que penetra até o fundo das consciências. Essa analogia nos leva a 
relacionar a trajetória da extensão rural que até hoje atua como Íris, sendo 
11 
 
necessário atribuir à extensão rural os poderes associados de Íris e Hermes 
para a autonomia que se pretende na construção de um saber compartilhado 
entre pesquisa – extensão – produtor. 
A superação das distorções ao longo da trajetória da extensão rural 
passa a ser desenhada de diversas maneiras, com proposições que têm 
contribuído para um redirecionamento das práticas e na redefinição do perfil do 
profissional. Segundo Rouanet (1989): 
“o resgate crítico da Ilustração e a auto-realização do 
Iluminismo são assim tarefas solidárias. O Iluminismo redime a 
Ilustração e se torna consciente de si quando a examina, 
reconhecendo nela seus aspectos negativos (...) ao mesmo 
tempo, as características estruturais e valores permanentes, 
que resistiram ao tempo e podem ainda ser válidos para o 
presente. Com o fim de sua crítica (...) o Iluminismo terá 
conseguido ao mesmo tempo salvar a herança positiva da 
Ilustração e auto constituir-se como Iluminismo moderno”(ROUANET, 1989, p.30). 
 Nesse sentido, devemos livrar-nos da razão fragmentada e superar a 
razão instrumental de que fala Adorno. A tarefa que se coloca a cada um dos 
que pretendem dar continuidade ao projeto se constituiu na “proposta mais 
generosa de emancipação jamais oferecida ao gênero humano” (ROUANET, 
1989, p.27). Precisamos de uma racionalidade complexa que enfrente as 
contradições e a incerteza. Isso significa uma revolução epistemológica, uma 
revolução no conhecimento. 
 
4. Referências Bibliográficas 
ADORNO, T.W; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: 
Fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed, 1985. 
BACON, F. Nova Atlântida. Coleção Os Pensadores. 
BECK, U; BECK-GERNSHEIM, E. The normal Chãos of Love. Cambridge: 
Polity, 1995. 
BUSCH, L. Agricultural Sciences and the Modern World System. In: L. 
Busch (ed) Science and Agricultural Development. New Jersey: Osmun, 1981. 
12 
 
BRASIL. Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural - 
PNATER, 2004. 
CAPORAL, F. Recolocando as coisas nos seus devidos lugares: um 
manifesto em defesa da extensão rural publica e gratuita para a 
agricultura familiar. Porto Alegre: EMATER-RS: ASCAR, 2002. 
 
CHAMBERS, R. Challenging the professions: frontiers for rural 
development. London: Intermediate Technology Publications, 1994. 
COELHO, F. M. C. A arte das orientações técnicas no campo: concepções e 
métodos. Viçosa, MG: Editora UFV, 2005. 
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF UNITED STATES - FAO. 
Agricultural Knowledge and Information System for Rural development. 
Rome, 2000. Disponível em: <www.comminit.com/en/node/200877> acessado 
em junho de 2009. 
 
GIBBON, D. Farming System Research/Extension: bACkground concepts, 
experience and network. In: Dent, J.B. and McGrago, M.J. Rural and Farming 
System analysis european perspectives. Wlingford: Cab International, 1994. 
GIDDENS, A. A transformação da intimidade. Sáo Paulo: Ed. Unesp, 1994. 
HABERMAS, J. Conhecimento e interesse. Rio de Janeiro: ZAHAR Editores, 
1982, 367p. 
______________. Teoria de la Acción Comunicativa. Madri: Taurus editores, 
2 v. 1987. 
 
LIMA, I. A. A Extensão Rural e a Produção do Conhecimento: A 
Fundamentação Científica dos Planos Municipais de Desenvolvimento 
Rural do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar 
(Pronaf) no Estado de São Paulo. São Paulo: Universidade Estadual de 
Campinas, 2001. 147p. Tese (Mestrado em Engenharia Agrícola) – UNICAMP, 
2001. 
 
MUNIZ, J. N. Extensão Rural: A área problema VS o problema de conhecer. In: 
Anais...SOBER, 2003. 
 
____________. Extensão Rural em tempos de mudança. Infoque 
Agropecuário, 1999, p.56-61. 
 
13 
 
RODRIGUES, C.M. Gênese e evolução da pesquisa agropecuária no 
Brasil. Da instalaçãoda Corte Portuguesa ao início da República. Cadernos 
de Difusão de Tecnologia 4 (1):21-38, 1987. 
ROUANET, S. P. As razões do Iluminismo. São Paulo: Companhia das 
Letras. 1989. 
 
SÁNCHEZ GAMBOA, S.A. Epistemologia da pesquisa em educação. 
Campinas, SP: PRAXIS, 1996. 
WALLERSTEIN, I. El modierno sistema mundial III: la segunda era de gran 
expansión de la economía-mundo capitalista, 1730-1850. México: Siglo 
Ventiuno,1998. v. 3.

Continue navegando