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A EXTENSÃO RURAL E SUA TRAJETÓRIA HISTÓRICA1 Pricila Estevão2 Eliana Ferreira de Castela3 Diego Neves de Sousa4 Cleiton Silva Ferreira Milagres5 RESUMO O período da Renascença traz para o mundo a ciência, seus métodos de investigação e seu rompimento com o conhecimento ligado a divindade suprema, como consequência, instala-se a busca do conhecimento por um homem autônomo, e assim se estabelece uma nova relação com a natureza. A ciência que se pretendia para a autonomia mudou seu percurso, caminhando rumo à dominação e não à liberdade. A constituição das organizações de pesquisas agrícolas com a finalidade de desenvolver o melhoramento genético de espécies para o aumento da produção não serviu ao fim de “prover e auxiliar a vida”, mas de dominar tanto a natureza quanto os povos e desenvolver a acumulação do capital nos grandes centros mundiais. Neste contexto, como necessidade de levar ao campo o progresso técnico, a extensão rural surge nos Estados Unidos, no início do século XX, sob a ótica da corrente teórica neoclássica, na qual o progresso técnico era visto como o único caminho para promover o desenvolvimento e o processo de modernização. A mesma lógica instalou-se no Brasil, onde a extensão rural, desde a sua origem, tem sido um serviço predominantemente público que já passou por crises, reorientações teóricas e institucionais, além de diversos reposicionamentos políticos. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo 1 Ponencia presentada al VIII Congreso Latinoamericano de Sociología Rural, Porto de Galinhas, 2010. 2 Mestranda do Curso de Extensão Rural da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Embrapa Gado de Leite, email: pricila35@yahoo.com.br 3 Mestranda do Curso de Extensão Rural da UFV, email: elianacastela@yahoo.com.br 4 Mestrando do Curso de Extensão Rural da UFV, Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), email: diegocoop@hotmail.com 5 Mestrando do Curso de Extensão Rural da UFV, Bolsista do CNPq, email: cmilagres03@yahoo.com.br 2 identificar e discutir como é possível superar as distorções ocorridas ao longo da trajetória da extensão rural com proposições a fim de contribuir para um redirecionamento das práticas e na redefinição de um novo perfil do extensionista rural. Entre os argumentos obtidos, destaca-se que a extensão rural vem passando por uma redefinição em sua trajetória histórica e, também, em termos de geração de conhecimento, porém ainda predomina uma prática difusionista, consolidada como uma ação que envolve tecnologia e técnica, além do produtor rural. 1. Introdução A Renascença traz para o mundo a ciência, seus métodos de investigação e seu rompimento com a forma do conhecimento ligado à divindade suprema instala-se a busca do conhecimento com um homem autônomo e estabelece uma nova relação com a natureza: a separação e a dominação. O método de investigação científico trazido por Descartes pelo laissez faire, das condições intelectuais do homem indivíduo e da razão, permitiria a busca do conhecer como “força que liberta”. A organização corporativa para a busca da felicidade e da autonomia pelo fazer científico de Bacon, dar-se-iam as orientações para o desenvolvimento das ciências agrárias – a experimentação e a organização conduziram estas ciências na implementação de novas técnicas e no desenvolvimento da tecnologia. As ideias destes dois pensadores contribuíram significativamente com o projeto iluminista renascentista, onde a ciência era vista como a luz e a força que emancipa o homem e traz a verdade por meio da razão e do conhecimento. “Hoje, quando a utopia baconiana de „imperar na prática sobre a natureza‟ se realizou numa escala telúrica, tornou-se manifesta a essência da coação que ele atribuía à natureza não dominada (...). É a sua dissolução que pode agora proceder ao saber em que Bacon vê a „superioridade dos homens‟ ”(ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p.52). A ciência que se pretendia para a autonomia mudou seu percurso, caminhando rumo à dominação e não à liberdade. A razão iluminista trouxe o desencantamento do mundo pela ciência. Essa ciência traria a verdade ao 3 homem. A dominação da natureza proposta pela instituição da razão, da técnica e do método distanciou o homem da natureza transformando-a em mero objeto de sua manipulação, observação e exploração. A criação das organizações de pesquisa agrícola com o propósito de desenvolver o melhoramento genético de espécies para o aumento da produção não serviu à finalidade de “prover e auxiliar a vida”, mas sim de dominar a natureza, sobrepujar povos e desenvolver a acumulação do capital nos grandes centros mundiais. Tinham objetivos econômicos e comerciais, mais do que científicos propriamente. A localização dos centros de pesquisa agrícola e os investimentos feitos para esse fim são esclarecidos pelo que Wallerstein (1998) chamou de sistema mundial moderno, um mundo articulado, numa relação de dominação em diferentes áreas do planeta, onde cada país tem um papel diferente, dependendo do lugar onde ele se encontra: centro, semi-periferia ou periferia. Esta classificação é feita a partir da importância econômica que cada país tem em nível mundial. A Revolução Industrial estende-se à agricultura. A criação das estações experimentais na abordagem de Busch (1981) demonstra que a prioridade é produzir para alimentação e exportação, e não para acabar com a fome no mundo com vistas à preocupação prevista por Malthus. Ainda de acordo com Busch (1981), a Fundação Rockefeller começa, em 1941, a desenvolver no México o melhoramento genético de plantas, que associada ao uso de fertilizantes, pesticidas e a adequada irrigação inicia a promoção do aumento da produção agrícola. “A ideologia e pesquisa que forneceu o eixo para a Revolução Verde também serviu de modelo para a instalação dos centros internacionais de pesquisa” (BUSCH, 1981, p.145). Ou seja, essas inovações tecnológicas numa associação entre modificação de sementes que se adequariam a diferentes regiões do planeta, com suporte de um “pacote de insumos”, permitiram o aumento da produção de grãos e o que se constituiu, a priori, uma “vitória” frente às condições naturais da produção agrícola. Com o passar dos tempos perceber-se-ia que a natureza não estava assim tão conformada ao método, “toda tentativa de romper as imposições da 4 natureza, resulta numa submissão ainda mais profunda às imposições da natureza.” (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 27). A criação dos centros internacionais de pesquisas agrícolas contou e ainda conta com o apoio de investimentos de organismos financiadores internacionais, como o Banco Mundial; assim como os investimentos de capital privado, por intermédio da Fundação Ford e a Fundação Rockefeller, como supracitado. Tais investimentos explicitam os interesses de deslocar o capital industrial para investir na agricultura, o que reflete também como a agricultura é “capturada” pela indústria, uma vez que o modelo de produção agrícola tinha uma dependência de produtos industriais, por meio dos insumos, o que também vem justificar o investimento privado na instalação dos centros internacionais. No Brasil, a criação do Jardim Botânico, com a vinda da família real, dar- se-á início ao processo de criação de organizações científicas a serviço do desenvolvimento da agricultura no país. Rodrigues (1987) faz um histórico da criação dos institutos de pesquisa agropecuária, estações experimentais e escolas agrícolas, desde a instalação da corte portuguesaaté o Pós-Guerra. Nesse ínterim, o Brasil passa por distintos regimes políticos, o desenvolvimento da pesquisa condicionada a fatores que, como a mão-de-obra escrava, constituía-se impedimento para o pleno desenvolvimento da economia nacional; marcada também pelo baixo investimento de recursos financeiros, a falta de prioridade na política agropecuária, entre outros fatores ligados à educação, num desenho próprio de um país dependente dos grandes centros mundiais, tanto de conhecimento científico, quanto de tecnologia. Em nível mundial, os modelos de pesquisa que foram desenvolvidos, bem como a extensão rural nessa formatação da atividade agrícola, apresentaram vários equívocos. A pesquisa tinha como foco o melhoramento e o aumento da produção; como consequência, o extensionista exercia papel fundamental para a difusão das inovações tecnológicas e o produtor rural era apenas um mero receptor das informações. Esse processo ainda não está superado totalmente, no entanto, novas orientações têm sido sugeridas para superar tais equívocos. Gibbon (1994) apresenta uma análise do modelo de 5 pesquisa, Farming Systems Research /Extension, com algumas sugestões para o processo de abordagem, a fim de superar as distorções propondo uma interação dinâmica na relação entre pesquisador, extensionista e produtor, onde este último ator tem papel de igual importância no processo. A necessidade da abordagem interdisciplinar em que cientistas sociais possam interagir com pesquisadores das ciências naturais; e a necessidade de considerar o importante tema da sustentabilidade. Este último assunto tem se colocado como fator fundamental a ser considerado, frente aos problemas ambientais ocasionados, seja pela ação humana ou não, ocupando hoje importante lugar na pauta de discussão para adequação dos modelos de pesquisa e de extensão na atividade rural. 2. Extensão Rural: Continuidades e Distorções O sonho da Nova Atlântida é desfeito, uma vez que a razão, a experimentação e a estrutura organizacional não serviram à felicidade planejada por Bacon. A ciência fora apropriada pela técnica, o modelo de organização que predominou nos centros internacionais de pesquisa, apesar de se espelhar na Casa de Salomão, não atingiu a felicidade, o papel dos cientistas também é diferente, a ciência tornou-se cega. O desenvolvimento da ciência levou a conhecer, separando os objetos do conhecimento uns dos outros e do sujeito que conhece. O conhecimento é o elemento que potencializa a mudança, uma vez que a razão é vista como conhecimento técnico científico. Segundo Habermas, "após Kant, a Teoria do Conhecimento (Gnoseologia) foi desaparecendo, com a ruptura das relações entre a Filosofia e a Ciência" (SÁNCHEZ GAMBOA, 1996, p.8). A partir dessa separação a tendência foi de considerar a epistemologia como teoria da ciência, consolidando-a como a única forma de conhecimento válido, com a exclusão de qualquer outra forma de conhecimento. O Iluminismo emerge como consolidação da filosofia para expressar a ambivalência de liberdade do indivíduo e da sociedade. 6 A reflexão sobre a base do conhecimento científico e filosófico norteou o consenso explicativo entre as racionalidades universal e individual. Os iluministas falam de uma ordem universal porque acreditam que a verdade é universal e a liberdade é para todos. Alguns autores, como Adorno, admitem que no Iluminismo sempre predominou a idéia de progresso, vislumbrando a possibilidade de uma sociedade mais justa, mas que também está implícita uma ideia de repressão. Com a necessidade de levar ao campo o progresso técnico, a extensão rural surge nos Estados Unidos, no início do século XX. O modelo clássico americano de extensão rural trabalhava sob a ótica da corrente teórica neoclássica, na qual o progresso técnico era visto como o único caminho para promover o desenvolvimento e o processo de modernização. A mesma lógica instalou-se no Brasil, onde a extensão rural, desde a sua origem, tem sido um serviço predominantemente público que já passou por crises, reorientações teóricas e institucionais, e reposicionamentos políticos diversos. Seria o progresso técnico, da forma como ocorreu, uma práxis emancipadora? A práxis pode revelar a reflexão e a ação sobre uma realidade, buscando sua transformação, sendo esta orientada para a consecução de maiores níveis de liberdade do indivíduo e da humanidade. A lógica era conhecer para entender a natureza e utilizá-la a serviço da humanidade. Quanto mais conhecimento, mais livres seriam os homens. Com o passar dos tempos a lógica era conhecer para dominar e acumular mercadorias (matéria- prima, terra, capital). O conhecer ganhou uma dimensão exclusivamente econômica. A natureza apartada e intensivamente utilizada se rebelou e o que vemos agora é uma nova ordem mundial – a natureza é colocada na pauta das grandes agendas mundiais. Segundo Giddens (1994), o mundo em que vivemos hoje é coberto de riscos e incertezas. Desde o iluminismo, acreditou-se que quanto mais o homem conhecesse e interviesse sobre a natureza e a sociedade, mais controle sobre esses campos ele teria. Essa tese não se confirmou, pois perdeu-se o controle da própria ação humana. 7 A abordagem do risco reside na identificação de uma mudança qualitativa no conflito inerente à condição moderna em seu período mais recente. Enquanto num primeiro momento, a modernidade estruturou-se em determinadas certezas – como a expansão de vida, o progresso tecnológico e a confiança no conhecimento científico. No momento atual, elas teriam dado lugar aos riscos globais expressos nas ameaças da militarização, nos problemas ambientais e na ameaça aos direitos humanos (BECK, 1995). Buscando atender as necessidades atuais e garantir às gerações futuras o uso dos recursos naturais e de um planeta saudável, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) apresenta um modelo sustentável a ser seguido pelas nações, o qual deve orientar as práticas onde a agricultura, por exemplo, passa a representar um segmento estratégico enquanto fornecedora de alimento, geração de trabalho e renda, entre outros. “É sabido que o desenvolvimento sustentável almejado pelo país supõe o estabelecimento de estilos de agricultura, extrativismo e pesca igualmente sustentáveis, que não podem ser alcançados unicamente por meio da transferência de tecnologias” (BRASIL, 2004, p.6).Essa tem sido, portanto, a orientação das políticas públicas pautadas no desenvolvimento sustentável voltado para o meio rural, onde a extensão rural tem papel primordial no alcance destas políticas. A extensão rural vem passando por uma redefinição em sua trajetória histórica e em termos de geração de conhecimento; porém ainda predomina uma prática difusionista consolidada como uma ação que envolve tecnologia e técnica, além do produtor rural. Reconhecendo que o conhecimento enquanto condição histórica é ao mesmo tempo natural e social, torna-se mais fácil perceber que as tecnologias que vem sendo geradas e divulgadas pela ciência agrícola, praticamente, em todo mundo, estejam servindo muito mais à alienação do que à emancipação dos sujeitos envolvidos, sejam eles pesquisadores, técnicos ou agricultores. “A extensão rural caracterizou-se pela identificação e delimitação de tarefas dentro de uma perspectiva extremamente reducionista” (MUNIZ, 1999, p.56). Da mesma forma, o serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) vem passando por profundas 8 transformações em suas práticas e metodologias no enfrentamento dos desafios contemporâneos. A orientação atual que se constitui por meio da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural – PNATER, enquanto um projeto que busca ser emancipador, pretende-se apoiar em conceitos como desenvolvimento sustentável, agroecologia, equidade social, participação, educação popular, empoderamento, gênero, geração de renda e etnia. A Política traz uma proposta inovadora no seu conjunto quando sugere uma ação extensionista sobre novas bases ecológicas e participativas. Para Muniz, a extensão rural “deve ser decorrente de novas concepções que se apresentam sobre a ciência e a tecnologia, sobre as instituições e a gestão dos recursos comuns, a pesquisa tecnológica, a reflexividade coletiva e a propensão em tratar as questões na sociedade agrária como riscos coletivos e não como questão de ordem” (MUNIZ, 2003, p.6). Desse modo, uma nova concepção pautada na sustentabilidade exige dos extensionistas uma nova postura, um novo tipo de atuação. Na definição desse novo perfil profissional é preciso buscar a produção do conhecimento junto às comunidades, deve-se incluir uma discussão profunda e crítica sobre os pressupostos epistemológicos e filosóficos e as implicações ideológicas e políticas do trabalho científico. “O novo profissional é resultado da evolução da pesquisa tecnológica e do seu realinhamento teórico, que pode, tanto quanto propiciou à extensão rural a sua reorientação, permitir a organização da pesquisa agrícola tradicional em bases mais sólidas. Se esta cerceou a extensão rural por se fundamentar em pressupostos falaciosos, ao alterar esses pressupostos pelas novas premissas do desenvolvimento, o novo profissional é definido pelos novos componentes da área problema em que ela se insere. O importante é que a extensão rural não se restrinja aos pressupostos tradicionais da tecnologia, que (...) irá permitir o progresso da extensão rural como área problema de pesquisas compartilhadas. O fundamental é a definição da extensão rural pela formação do profissional e da instituição que conhece e não pela tecnologia que transfere” (MUNIZ, 2003, p.6). 9 A discussão perpassa pelos desafios da extensão rural como área de geração de conhecimento. Para Coelho (2005), diante dos problemas ambientais e sociais decorrentes da modernização, discute-se uma nova proposta de extensão rural de caráter mais educativo e transformador que preconize a construção partilhada de conhecimento. Para tanto, novas competências técnicas, cognitivas e políticas são exigidas aos profissionais agrários visando à construção de soluções para o enfrentamento desses problemas éticos e socioambientais. Chambers (1994) afirma também que a busca do desenvolvimento e da agricultura sustentável exige dos extensionistas uma nova postura, um novo tipo de atuação, um novo “profissionalismo”. Desta forma, este novo extensionista é incentivado e desafiado a ser agente de ensino, pesquisa e extensão e não mais divulgador/disseminador de tecnologias modernas. Neste contexto, mesmo propondo ser inovadora e atender aos conceitos de sustentabilidade e às necessidades dos seus beneficiários, algumas críticas têm sido apontadas a atual Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural do país. “O que se tem observado é que as normas, regras e formas institucionais e de poder não estão sendo alteradas, pelo menos na maioria dos casos. Por conseguinte, mesmo quando se observa uma mudança no „discurso oficial‟, essa mudança não se materializa na prática da gestão, nem na ação de ATER junto aos agricultores” (CAPORAL e RAMOS, 2006, p. 21). A PNATER para ser implementada em sua plenitude e atender a tudo que a lei prevê, necessitará de um corpo técnico profissional tanto quantitativo quanto qualitativo. Também deverá prever instrumentos de avaliação que possam acompanhar processos e apontar redirecionamentos quando necessário. O modelo apresentado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO, contribui na interação entre múltiplos atores envolvidos nesse processo, com múltiplos propósitos, o “triângulo do conhecimento” (Figura 1). O importante do modelo é que não prioriza a tecnologia e sim o conhecimento e a informação, negligenciados nos modelos 10 tradicionais de pesquisa agrícola. Os agricultores e outros povos rurais são parceiros no âmbito do sistema de conhecimento, e não simplesmente meros receptores passivos. Figura 1 - Agricultural Knowledge and Information System for Rural development Fonte: FAO and Worlbank, Rome, 2000. 3. Superando as Distorções Pode-se remeter à mitologia grega para pensar o papel atual da extensão rural. A deusa Íris, poucas vezes evocada na Grécia antiga, igualmente na literatura e na arte, é a personificação do arco-íris, este em diversas culturas, simboliza a mediação entre este mundo e outro. Ela atua como mediadora, representa a aliança entre Deus e o homem e intervém também nos assuntos entre os homens. Hermes, mestre de todas as ciências, personifica a revelação da sabedoria aos homens e do caminho da eternidade. Inventor das letras e dos números, da escrita e do cálculo, da geometria e da astronomia, guardião da magia escrita, é o escriba dos deuses. Intelecto deificado, sábio por excelência, é deus do mistério e da arte de decifrá-lo. É a palavra que penetra até o fundo das consciências. Essa analogia nos leva a relacionar a trajetória da extensão rural que até hoje atua como Íris, sendo 11 necessário atribuir à extensão rural os poderes associados de Íris e Hermes para a autonomia que se pretende na construção de um saber compartilhado entre pesquisa – extensão – produtor. A superação das distorções ao longo da trajetória da extensão rural passa a ser desenhada de diversas maneiras, com proposições que têm contribuído para um redirecionamento das práticas e na redefinição do perfil do profissional. Segundo Rouanet (1989): “o resgate crítico da Ilustração e a auto-realização do Iluminismo são assim tarefas solidárias. O Iluminismo redime a Ilustração e se torna consciente de si quando a examina, reconhecendo nela seus aspectos negativos (...) ao mesmo tempo, as características estruturais e valores permanentes, que resistiram ao tempo e podem ainda ser válidos para o presente. Com o fim de sua crítica (...) o Iluminismo terá conseguido ao mesmo tempo salvar a herança positiva da Ilustração e auto constituir-se como Iluminismo moderno”(ROUANET, 1989, p.30). Nesse sentido, devemos livrar-nos da razão fragmentada e superar a razão instrumental de que fala Adorno. A tarefa que se coloca a cada um dos que pretendem dar continuidade ao projeto se constituiu na “proposta mais generosa de emancipação jamais oferecida ao gênero humano” (ROUANET, 1989, p.27). Precisamos de uma racionalidade complexa que enfrente as contradições e a incerteza. Isso significa uma revolução epistemológica, uma revolução no conhecimento. 4. Referências Bibliográficas ADORNO, T.W; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: Fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed, 1985. BACON, F. Nova Atlântida. Coleção Os Pensadores. BECK, U; BECK-GERNSHEIM, E. The normal Chãos of Love. Cambridge: Polity, 1995. BUSCH, L. Agricultural Sciences and the Modern World System. In: L. Busch (ed) Science and Agricultural Development. New Jersey: Osmun, 1981. 12 BRASIL. Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural - PNATER, 2004. CAPORAL, F. 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