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BOLETIM EPIDEMIOLOGICO - Casos de Leishmaniose visceral

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CAMPUS AVANÇADO DE GOVERNADOR VALADARES
Saúde coletiva epidemiologia Prof.ª: Eulilian Dias de Freitas e Waneska Alexandra Alves
BOLETIM EPIDEMIOLOGICO
Casos de Leishmaniose visceral em Governador Valadares – Minas Gerais de 2008 a 2015
Dezembro de 2017
Governador Valadares – MG
RESUMO
Leishmaniose visceral é uma doença causada pelo protozoário tripanossomatídeo Leishmania chagasi. É transmitida por vetores da espécie Lutzomia longipalpis e L. cruzi; mosquitos de tamanho diminuto e de cor clara, que vivem em ambientes escuros, úmidos e com acúmulo de lixo orgânico. Suas fêmeas se alimentam de sangue, preferencialmente ao fim da tarde, para o desenvolvimento de seus ovos.
Pessoas e outros animais infectados são considerados reservatórios da doença, uma vez que o mosquito, ao sugar o sangue destes, pode transmiti-lo a outros indivíduos ao picá-los. Em região rural e de mata, os roedores e raposas são os principais; no ambiente urbano, os cães fazem esse papel.
Indivíduos humanos apresentam febre de longa duração, fraqueza, emagrecimento e palidez como sintomas. Fígado e baço podem ter seu tamanho aumentado, já que a doença acomete estes órgãos, podendo atingir também a medula óssea.
O tratamento é feito com fármacos específicos, distribuídos pelo governo em hospitais de referência. Medidas de prevenção e controle ainda não foram capazes de impedir a ocorrência de novos surtos do calazar. Entretanto, usar repelentes quando estiver em região com casos de leishmaniose visceral e armazenar adequadamente o lixo orgânico, além de não utilizar agulhas utilizadas por terceiros, são medidas individuais que diminuem a probabilidade de ser contaminado.
O período de incubação é muito variável: entre dez dias e dois anos. Doença endêmica em 62 países sendo que no Brasil são registrados cerca de 3000 casos por ano, sendo que mais de 5% dos acometidos vão a óbito, cerca de um ou dois anos após o surgimento dos sintomas: grande parte em razão da falta de tratamento.
Neste presente boletim foram analisados os principais aspectos biológicos, ambientais e sociais que influenciaram no processo de expansão e urbanização dos focos da doença. É feita uma breve análise destas medidas e dos desafios a serem enfrentados. 
Esta proposta tem por objetivo geral estudar a epidemiologia descritiva dos casos de leishmaniose visceral residentes no município de Governador Valadares – Minas Gerais no período de 2005 a 2015, uma vez que apesar da existência de inúmeros estudos sobre a leishmaniose visceral humana, muitas lacunas ainda precisam ser preenchidas.
INTRODUÇÃO
Segundo o Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral do ano de 2014, as leishmanioses são consideradas primariamente como uma zoonose podendo acometer o homem, quando este entra em contato com o ciclo de transmissão do parasito, transformando-se em uma antropozoonose. Atualmente, encontra-se entre as seis endemias consideradas prioritárias no mundo. (Manual de Vigilância, 2004)
A leishmaniose visceral (LV), ou calazar, é uma doença crônica grave, potencialmente fatal para o homem, cuja letalidade pode alcançar 10% quando não se institui o tratamento adequado. É causada por espécies do gênero Leishmania, pertencentes ao complexo Leishmania (Leishmania) donovani .No Brasil, o agente etiológico é a L. chagasi, espécie semelhante à L. infantum encontrada em alguns países do Mediterrâneo e da Ásia (GONTIJO E MELO, 2004)
A doença afeta, além do homem, um número considerável de mamíferos, com destaque para os cães, gatos e mesmo ratos. Em zonas urbanas os cães são o principal reservatório da doença. Em zonas rurais os roedores e raposas desempenham tal papel. (GONTIJO E MELO, 2004)
A mesma é uma enfermidade de grande importância para saúde pública, pois é responsável anualmente por 59.000 óbitos (DA SILVA et al., 2010), resultante de aproximadamente 500.000 casos da doença, partindo de um valor estimado de 12 milhões de pessoas infectadas por ano (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE - OMS, 2012). Assim sendo, dentre os 42.067 registros de doentes nos últimos doze anos no Brasil, ocorreram 2.704 óbitos, resultando em uma incidência média de 1,92 casos por 100.000 habitantes durante este período (BRASIL, 2012a, 2012b, 2012c, 2012d)
Segundo MONTALVO et al. (2012), 90% dos casos de LV ocorrem em países onde existe grande parte da população em situação de pobreza (Índia, Bangladesh,Nepal, Sudão e Brasil). Mas, não só o fator financeiro é um obstáculo para o controle desta doença, mas também as mudanças no comportamento humano contribuem com o aumento do número de casos da doença (CALVOPINA et al., 2004)
O registro do primeiro caso da doença no Brasil ocorreu em 1913, quando Migone, no Paraguai, descreveu o caso em material de necrópsia de paciente oriundo de Boa Esperança, Mato Grosso (ALENCAR et al. 1991). Desde então, a transmissão da doença vem sendo descrita em vários municípios, de todas as regiões do Brasil, exceto na Região Sul.
Com a expansão da área de abrangência da doença e o aumento significativo no número de casos, a LV passou a ser considerada pela Organização Mundial da Saúde uma das prioridades dentre as doenças tropicais. (GONTIJO E MELO, 2004)
No caso humano as leishmanias são transportadas pela corrente sanguínea para todo o corpo do hospedeiro, afetando principalmente os órgãos com considerável concentração de leucócitos - com destaque para medula óssea, fígado, baço e linfonodos - onde se instalam, levando quase sempre a anomalias no tamanho destes conhecidas como hepatomegalia (fígado), esplenomegalia (baço) e adenomegalia (linfonodos).
O quadro clássico consiste de febre, hepatoesplenomegalia, com esplenomegalia volumosa, perda de peso, tosse, diarréia, dor e distensão abdominal. Icterícia e envolvimento renal têm sido descritos. Na fase mais tardia da doença, os pacientes podem desenvolver edema e ascite (ALVES et al., 2004).
Antes de iniciar o tratamento dos pacientes alguns cuidados devem ser observados, entre eles: avaliação e estabilização das condições clínicas, tratamento das infecções concomitantes. Em situações onde existam condições de seguimento, o tratamento pode e deve ser feito a nível ambulatorial (Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, 2014) 
O tratamento para os humanos é gratuito, está disponível na rede de serviços do SUS e baseia-se na utilização de três fármacos: o antimoniato de N-metil glucamina, anfotericina B lipossomal.e o desoxicolato de anfotericina B. A recomendação para cães infectados é a eutanásia porém, assim como para o homem, existe tratamento e cura.
No momento do diagnóstico, é indicada a realização do eletrocardiograma (ECG) em todos os casos de leishmaniose visceral, e obrigatório nos pacientes acima de 50 anos de idade, no início, durante e após o tratamento.
Infecções, hemorragias e anemia grave são responsáveis pela maioria das mortes, e o retardo no diagnóstico, a baixa idade e a desnutrição são implicados como importantes fatores que contribuem para o óbito (ALVES et al., 2004).
Vale ressaltar, que o município de Governador Valadares não apresentava nenhum caso registrado da doença ate o ano de 2008. Dessa forma, com o decorrer do tempo – após o grande susto no mesmo ano – a doença apresenta diversos níveis de infecção que serão estudadas durante a realização desse projeto. 
A relevância desse projeto é ampliar os conhecimentos da sociedade acerca da leishmaniose e de modos de tratamento. Dessa maneira, transmitir com segurança as informações sobre a doença. Para essa finalidade foi realizado algumas revisões bibliográficas. E como resultado o grupo aprimorou seus conhecimentos, elaborando o boletim proposto.
Esta proposta tem por objetivo geral estudar a epidemiologia descritiva dos casos de leishmaniose visceral residentes no município de Governador Valadares – Minas
Gerais no período de 2008 a 2015.
Segundo as recomendações éticas do Ministério da Saúde, na Resolução 196, de 10 de outubro de 1986, inciso III, alínea G, é necessário contar com o Consentimento Livre e Esclarecido do sujeito da pesquisa e/ou representante legal. E, alínea J: "prover procedimentos que assegurem a confiabilidade e a utilização de informações sem prejuízo das pessoas" (BRASIL, 1996). 
O presente boletim epidemiológico obedecerá aos critérios dessa Resolução e serão pedidas autorizações ao paciente ou responsável através de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) pela Plataforma Brasil para utilização dos dados dos participantes nesta pesquisa bem como a divulgação dos resultados. 
EPIDEMIOLOGIA
A leishmaniose apresenta ampla distribuição no Brasil, Venezuela, Guiana Francesa, América Central, nas áreas florestais dos Andes, Suriname, Panamá, Oriente Médio, região neotropical e planície litorânea do golfo do México, Guatemala, Belize, Bacia Amazônica e outros, onde também é denominada leishmaniose visceral americana (LVA) ou calazar neo-tropical. (Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, 2014)
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) a cada ano, quase 2 milhões de novos casos de leishmaniose são registrados no mundo e entre 20 mil e 40 mil pessoas morrem, por ano, no mundo.
 Nas Américas, o Brasil representa o país de maior endemicidade para a LV, sendo responsável por cerca de 97% de todos os casos nesse continente. (CARNEIRO-SAMPAIO et al., 2002)
Sendo assim, a doença é endêmica em 76 países e, no continente americano, está descrita em pelo menos doze.
Aproximadamente 90% dos casos ocorrem em 5 países: Índia, Bangladesh, Nepal, Sudão e Brasil. 
A doença atinge principalmente as populações pobres desses países. Embora existam métodos de diagnóstico e tratamento específicos, grande parte da população não tem acesso a estes procedimentos, elevando os índices de mortalidade. 
Nos países endêmicos, a leishmaniose visceral continua negligenciada pelo setor privado da economia e tem cabido ao setor público, apesar dos recursos escassos e infraestrutura inadequada, investir no desenvolvimento de novas drogas e métodos de diagnósticos mais eficientes.
No Brasil, a leishmaniose visceral clássica acomete pessoas de todas as idades, mas na maior parte das áreas endêmicas 80% dos casos registrados ocorrem em crianças com menos de 10 anos. Mas existem estudos que focos urbanos de Leishmaniose Visceral estão passando por modificações na distribuição dos casos por grupo etário com a incidência de elevadas taxas nos grupos de jovens e adultos. Foram notificados, no período de 1990 a 2007, 561.673 casos de leishmanioses, sendo 508.193 (90,5%) provocados pelas espécies Leishmania (Viannia) braziliensis, L. (V.) guyanensis, L. (V.) lainsoni, L. (V.) naiffi, L. (V.) shawi e L. (L.) amazonensis e 53.480 (9,5%) pela L (L.) chagasi. (ALVES, 2009)
A doença, que era restrita às áreas de floresta e zonas rurais, tem avançado nas cidades, em função dos desmatamentos e da migração das famílias para os centros urbanos. No Brasil,foram mais de 2,7 mil mortes entre 2000 e 2011. Os maiores índices mortalidade foram registrados no Pará, no Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, em São Paulo, na Bahia e em Minas Gerais.
A doença, antes restrita às áreas rurais do nordeste brasileiro, avançou para outras regiões endemes alcançando inclusive a periferia de grandes centros urbanos. Em 19 dos 27 estados brasileiros já foram registrados casos autóctones de LV. Nos últimos cinco anos, ocorreram em média 3.500 casos humanos novos, sendo a maioria na região Nordeste do país. A partir dos anos 90, os estados Pará, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo passaram a influir de maneira significativa nas estatísticas da LV no Brasil.
Os municípios com maior número de casos foram: Araguaína (TO) com 251 casos (8,7%); Fortaleza (CE), Campo Grande (MS) e Teresina (PI) com 180 (6,2%), 97 (3,3%) e 75 (2,6%) casos, respectivamente (ALVES, 2009).
Os tratamentos altenativos oferecidos no brasil são as pentamidinas (sulafito e mesilato) , a anfotecirina B ( lipossomal e dispersão coloidal ) e os interferon gama e GM-CSF.
Entre os quatro estados na região sudeste, Minas Gerais é o que apresenta maior número de casos confirmados de Leishmaniose Visceral sendo um dos maiores do Brasil ficando atrás apenas de algumas regiões do nordeste, segundo dados obtidos através do Portal de Saúde do SUS. Dos 853 municípios no estado, mais de 400 já tiveram incidência da doença.
 
Em Minas Gerais estudos apontam que a Leishmaniose Visceral está presente desde 1940 aproximadamente, quando foram identificados os primeiros casos em humanos na região Norte do Estado. Naquela época, a doença era de certa forma mais comum na zona rural, um panorama completamente diferente do que se observa atualmente, onde cerca de 84% dos casos confirmados são de pacientes que residem em zonas urbanas.
Entre os anos 2005 até 2015 cerca de 434 pessoas foram a óbito por conta da Leishmaniose Visceral apenas no estado de Minas Gerais, sendo assim o estado com maior numero de óbitos pela doença, ficando a frente do numero de mortes por dengue inclusive.
Até 2012, as regiões com maior número de casos humanos em Minas eram a Grande Belo Horizonte e as regiões de Montes Claros e Leste do estado.
METODOLOGIA DE ESTUDO 
Área de estudo
O estudo desse boletim epidemiológico é realizado na cidade de Governador Valadares, localizado no estado de Minas Gerais – Brasil. Essa mesma cidade apresenta uma população de aproximadamente 280 901 habitantes e é pertence à Mesorregião do Vale do Rio Doce – 455 metros acima do nível do mar - e localiza-se a leste da capital do estado (Belo Horizonte).
A região ocupa uma área de 2 342,319 km², sendo que 24,4 km² estão em perímetro urbano. O seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,72. Além disso, o clima da cidade valadarense é caracterizado como tropical subquente semiúmido, tendo temperatura média anual de 23,9 °C.
 População de Estudo
Casos de leishmaniose notificados na cidade de Governador Valadares no período de 2008 a 2015.
Critérios de inclusão
Serão incluídos nesse boletim epidemiológico todos os casos notificados e confirmados de leishmaniose independente de sexo, idade e cor/raça.
Ainda assim, e importante salientar, que serão incluídos nesse estudo todos os casos residentes na cidade.
Critérios de exclusão
Serão excluídos dessa pesquisa todos os casos suspeitos não confirmados de Leishmaniose.
Ainda assim, sofreram esse feito casos não residentes na cidade de Governador Valadares.
Fonte de Dados
SINAN-NET Sistema de informação de agravos de notificação disponibilizados pelo DATASUS – Departamento de informática do Sistema Único de Saúde (SUS).
Variáveis de Estudo
Para o estudo em questão, com finalidade na doença negligenciada – Leishmaniose será estudada as seguintes variáveis:
Sexo 
Idade
Raça/Cor
Município de notificação da doença
Ano da notificação (2008 a 2015)
Faixa etária 
Classificação final 
Forma Clinica 
Classificação etiológica 
Métodos para Analise de Dados
Para a analise dos dados obtidos nesse presente estudo técnicas de estatística descritiva será utilizadas, como medidas de frequência, proporção e de tendência central.
Dessa forma, para facilitar a visualização acadêmica e comunitária serão construídos gráficos e tabelas como foco no resultado final desse boletim epidemiológico.
SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA ATUAL
	
O Boletim Epidemiológico avaliou as estatísticas da leishmaniose visceral na cidade de Governador Valadares em Minas Gerais em um período de sete anos (2008 a 2015) a partir de possíveis variáveis que influenciam
nesse evento. 
Figura 1: Casos confirmados em Governador Valadares por Sexo segundo Faixa Etária
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net
A partir dos dados obtidos, é notável uma oscilação dos casos notificados de LV em Governador Valadares no decorrer dos anos, variando de 1 a 46 casos. Dessa forma, em relação à faixa etária, a LV apresenta uma distribuição bimodal, onde é possível separar a população em dois grupos: crianças (0 – 9 anos) e adultos (a partir de 20 anos).
O principal grupo afetado entre as crianças é de 1 – 9 anos e eentre os adultos, de 40 – 59 anos, por outro lado, observa-se uma distribuição homogênea nas demais faixas etárias,
A maioria dos casos confirmados da doença, é composta de indivíduos do sexo masculino, com maior predomínio em adultos entre 40 a 59 anos de idade, conforme Figura 1. Em relação ao sexo feminino, conforme a Figura 1 nota-se maior acometimento em crianças abaixo dos nove anos de idade (25 casos), e reforça a ideia de que a transmissão da LV é mais facilmente difundida nos ambientes peridomiciliar e intradomiciliar. Outros fatores como, carência nutricional e sistema imunológico imaturo também contribuem para incidência elevada da doença nessa faixa etária (comum nas áreas endêmicas), além de maior exposição ao vetor no peridomicílio. 
Por outro lado, o envolvimento do adulto tem repercussão significativa na epidemiologia da LV, pelas formas frustras (oligossintomáticas) ou assintomáticas, além das formas com expressão clínica. (Guia de Vigilância Epidemiológica – 6ª edição (2005)
Figura 2: Casos confirmados em Governador Valadares por Sexo segundo Ano Notificação
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net
De acordo com a tabela, em todos os anos de registro, o sexo masculino apresentou um maior numero de casos. A incidência no sexo masculino é cerca de 69,67% em todos os casos registrados durante o período de 2008 a 2015. O sexo feminino comporta cerca de 30,32% dos casos.
Não só no município de Governador Valadares, mas como em todo País, observa-se que, tradicionalmente, há uma maior prevalência da doença em indivíduos do sexo masculino.
De acordo com a Figura 2, a maior incidência de casos do sexo masculino em todos os anos pode ser explicada devido a costumes da população em que mulheres fazem mais trabalhos domésticos ou em locais fechados longe dos vetores que propagam a doença e se preocupam mais com sua segurança usando repelentes, e homens fazem mais trabalhos braçais em áreas abertas, assim estando mais expostos e suscetíveis aos vetores da LV.
Dessa maneira, o sexo masculino é proporcionalmente o mais afetado, como descrito em outros estudos disponíveis na literatura, e sugerem que homens estariam mais expostos ao vetor, possivelmente por exercerem suas atividades laborais mais próximas das fontes de infecção. (ALVES, T, L; et al., 2017)
Figura 4 e 5: Casos confirmados da LV em Governador Valadares dos anos de 2008 a 2015 de acordo com a cor/raça.
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net
De acordo com as Figuras 3 e 4, em todos os anos de registro a variável “Ignorado” é a de maior incidência quando comparada as demais cores/raças. Em segundo lugar, e não apresentando uma ampla diferença a população Parda, também apresenta um grande numero de casos. 
A incidência da L.V maior nas populações de pele parda e as IGN podem estar associada ao saneamento básico que é oferecido a essas classes que pode ser precário devido à localização que elas ocupam na cidade de Governador Valadares estando mais exposta aos vetores, pois a localização geográfica e o clima na região do vale do Rio Doce favorecem a propagação da doença.
Consequentemente, os focos endêmicos da doença, em sua maioria, estão localizados nas periferias e no âmbito rural, onde encontram-se condições de saneamento básico inadequado, depósitos de lixo, dentre outros locais. (ALVES, T, L; et al., 2017)
.
Figura 6: Proporção da LV em Governador Valadares segundo a cor/raça de 2008 a 2015.
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net
A análise da tabela acima demonstra a proporção dos casos de LV em relação ao número total de casos por ano, que quando comparada aos números absolutos, permite verificar algumas alterações. 
Entre as raças ign/branca e branca, a proporção aumentou em relação aos números absolutos, enquanto entre as raças preta e parda, a diminuição da proporção acompanhou o dos números absolutos (seguindo a tendência).
Figura 3: Taxa de incidência de LV por cem mil habitantes por ano em Governador Valadares no período de 2008 a 2015.
De acordo com o número de habitantes do município em relação aos anos, pode-se constatar a taxa de incidência da LV e, por meio desta, tirar conclusões que caracterizem o perfil epidemiológico da situação da cidade.
A partir dos dados obtidos, é notável uma oscilação das taxas de incidência no decorrer dos anos, variando de 11,01% a 2,52%. O ano de 2009, e apresentada como a maior taxa relatada em todo período de 2008 a 2015.
Neste período a cidade poderia estar com maior quantidade de lixo em local indevido como, por exemplo, nas ruas ou em lotes vagos e maior número de reservatórios da doença (cachorros) nas ruas propiciando assim o crescimento da população do mosquito e consequentemente o aumento de casos notificados da doença.
Vale ressaltar, que não conhecemos os hábitos e o ciclo evolutivo do mosquito causador da leishmaniose. “Ou seja, não temos estratégia para controlar a forma larvária do flebótomo (ou mosquito-palha)” (Conselho Nacional de Medicina, 2009)
De acordo com a SES, a localização geográfica e o clima na região do Vale do Rio Doce favorecem a propagação da doença, que é transmitida pelo mosquito Lutzomia longipalpis. 
Figura 7: Casos confirmados por Ano Notificação segundo Município de residência
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net
A partir dos dados obtidos, é notável uma oscilação dos casos de LV na cidade de Governador Valadares entre os anos de 2008 a 2015.
Na qual é possível observar que foi no ano de 2009 e 2010 que aconteceu o maior numero de casos de LV e que foi a parir do ano de 2012 que houve um decaimento desses casos. Vale salientar, que foi no ano de 2014 o menor índice de casos notificados da doença na cidade. Porem, foi a partir do mesmo ano que houve novamente, um crescimento no numero de casos.
Apesar dos esforços no controle de vetores e reservatórios, a doença encontra-se em rápida expansão, por isso representa uma ameaça para a população e preocupa as autoridades sanitárias. (ALVES, T, L; et al., 2017)
A elevação no número de casos notificados deve-se, possivelmente, dentre outros fatores, ao aumento e disponibilidade das notificações ao SINAN.
Ou seja, o aumento no número de casos confirmados, pode apresentar algumas possíveis explicações, tais como a melhoria dos critérios de notificação e confirmação e/ou mudanças ambientais que favoreceram a proliferação de vetores. No Brasil, as medidas de controle empregadas não têm apresentado efetividade suficiente para redução sustentável da prevalência, no entanto importantes avanços foram alcançados na redução da letalidade. (ALVES, T, L; et al., 2017)
A incidência da LV apresentou-se com um aumento no ano de 2009, quando comparado aos demais, exibindo uma elevação substancial, diminuindo no ano de 2011. A queda nos anos seguintes pode ser explicada pelo fato de no ano de 2010 terem começado as campanhas contra a LV e os seus resultados aparecerem nos anos seguintes.
Quanto aos fatores sociais, ambientais e climáticos, estão diretamente envolvidos na evolução da doença. Com relação ao fator climático para incidência da LV, nos períodos chuvosos há maior densidade vetorial, resultando na multiplicação do mosquito, uma vez que o mesmo necessita
da água para reprodução. (ALVES, T, L; et al., 2017)
Figura 8: Casos confirmados por Evolução segundo Ano Notificação
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net
A partir dos dados obtidos, é possível observar a evolução casos de LV na cidade de Governador Valadares entre os anos de 2008 a 2015. Segundo a Figura 8 é possível observar o alto índice de cura em todos os anos. Por outro lado, nota-se que apenas no ano de 2008 e 2009 houve abandono da doença. Além do mais, é observado, também, o decaimento do índice de óbito entre os anos estudados.
Tal fato pode ser explicado pelo aumento dos estudos relacionados à doença, como eventos realizados pela própria Universidade. Além de diversas pesquisas realizadas na cidade. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leishmaniose visceral é uma enfermidade que acomete pessoas e animais em diversas partes do planeta, incluindo populações que se encontram em áreas de difícil acesso e em extrema pobreza (Falta de saneamento básico).
O vetor desta doença são insetos flebotomíneos, existindo em cada região do globo terrestre algumas poucas espécies com competência para a transmissão do agente. Assim como existe uma diversidade de vetores adaptados a uma região no planeta, os reservatórios se comportam de mesma forma. Além do cão doméstico, consagrado como principal reservatório, outras espécies já foram descritas como reservatórios da leishmaniose visceral.
Sem sombra de dúvidas o cenário da leishmaniose visceral canina e humana no Brasil é complexo. Por se tratar de uma doença de alta endemia em áreas onde existem condições favoráveis, e se considerar a dificuldade relacionada ao seu controle, é de suma importância que sejam concentrados esforços para: controle da população canina, identificação de animais infectados, controle de vetores e eliminação de fatores de risco. 
Com esse presente trabalho foi possível concluir que a cidade de Governador Valadares apresentou a partir de 2008 altos índices de casos confirmados de LV. O sexo masculino apresenta uma susceptibilidade à doença bem maior do que o sexo feminino. Além do mais, crianças entre 1 a 4 anos e adultos a partir de 40 anos apresentam as mais altas confirmações da doença.
Diante do exposto, é valido lembrar que a LV é negligenciada em muitos municípios, especialmente naqueles onde a condição socioeconômica é desfavorável, e o risco de estabelecimento da doença em novas áreas indica a necessidade de atenção por parte de médicos veterinários na identificação de novos casos em cães, e de uma constante vigilância por parte de agentes de saúde pública principalmente em situações escassas de saneamento básico. Além disso, é imprescindível a implementação de medidas de educação em saúde nas áreas endêmicas para que as pessoas sejam mais informadas a respeito da leishmaniose visceral, uma vez que a mesma não apresenta uma ampla divulgação. Ainda assim, é de suma importância adotar medidas preventivas contra a doença.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Leishmaniose volta a crescer em Minas Gerais e já matou mais que dengue. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2017/09/19/interna_gerais,901617/leishmaniose-volta-a-crescer-em-minas-gerais-e-mata-mais-que-a-dengue.shtml> Acesso em: 09 Nov. 2017
BASTOS. T, S, A.; ASPECTOS GERAIS DA LEISHMANIOSE VISCERAL, Graduação em Veterinária, Universidade Federal de Goias, 35p, Goiânia, 2012.
ALVES. W, A.; Leishmaniose visceral americana: situação atual no Brasil, BEPA, Bol. epidemiol. paul. v.6 n.71 São Paulo nov. 2009.
Carneiro-Sampaio. M, S. et al; Leishmaniose visceral: aspectos clínicos e laboratoriais, Jornal de Pediatria, Vol. 78, Nº2, 2002.
Pereira. W, O. et al.; LEISHMANIOSE VISCERAL HUMANA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO. Graduação em medicina da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Mossoró – RN, Brasil.
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Gontijo, C. M. F.; Melo M. N.; Leishmaniose Visceral no Brasil: quadro atual, desafios e perspectivas. Universidade Federal de Minas Gerais, Vol. 7, Nº 3, Belo Horizonte, 2004.
Alves. J. G, B. Correia, J, B., Queiroz. M. J. Q., Leishmaniose visceral: características clínico-epidemiológicas em crianças de área endêmica, Jornal de Pediatria, Vol. 80, Nº2, 2004.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. 7. Ed. Brasília-DF: 2009.
NOTÍCIAS DA ARCA. Todas as forças contra a Leishmaniose Visceral. Disponível em: <http://www.arcabrasil.org.br/blog/2014/05/todas-as-forcas-contra-a-leishmaniose-visceral/>. Acesso em: 20 DEZ. 2017.

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