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Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. XII – DIREITO EMPRESARIAL 1. Perspectiva Histórica. O Direito Empresarial nasceu com a evolução da sociedade empresarial no Brasil, vez que passamos a ter dois grandes grupos econômicos. De um lado estava a atividade comercial que foi por longo tempo o maior símbolo de desenvolvimento econômico nacional em razão da circulação de riquezas, e de outro lado, já por volta dos anos 80 (oitenta), a atividade de serviços que surgiu e se tornou à atividade econômica que mais cresceu no país nos últimos tempos. Ocorre, porém, que apesar de tratarmos de duas atividades com elementos idênticos: o risco e o lucro, as condições oferecidas pelo legislador como regra de disciplina de suas atividades eram totalmente distintas. Enquanto o Direito Comercial disciplinava a atividade comercial oferecendo benefícios aos comerciantes e estabelecendo obrigações, a atividade de serviços carecia de uma legislação específica que pudesse lhe outorga um conjunto próprio de benefícios e obrigações, gerando para atividades com os mesmos elementos, regramentos distintos. Mas essas diferenças foram sendo questionadas aos poucos no Poder Judiciário, pois, em tempos de crise econômica, tinham os comerciantes a possibilidade de fazer uso do benefício da concordata, no entanto, a atividade de serviços não podia se beneficiar deste dispositivo já que a regra era aplicável somente aos comerciantes. Mas não é só, no tocante ao direito do uso da Ação Renovatória de Aluguel, inicialmente também só o comerciante podia se beneficiar deste dispositivo legal, porém, ao longo do tempo o Poder Judiciário foi sendo invocado e esse entendimento começou a ser ampliado, outorgando-se a atividade de serviço o direito de renovação locatícia. Esses são apenas pequenos exemplos para observarmos e refletirmos como a ausência de um regramento único gerava distorções para atividades tão semelhantes. Porém, se estamos tratando de atividades que propiciam o desenvolvimento econômico, nada mais coerente que o legislador caminhar no sentido de eliminar as diferenças legislativas de forma a não permitir qualquer entrave que gere a obstaculização desse desenvolvimento, o que justificou assim, a criação do Direito de Empresa inserido no bojo do Novo Código Civil. 2. Teoria da Empresa O que impulsiona duas ou mais pessoas a se unirem e constituírem uma empresa é a conjugação de dois fatores: colaboração e risco. a) Colaboração – haja vista que o poder de melhor desenvolver uma atividade empresarial está justamente na reunião de recursos, viabilizando o estabelecimento com estrutura mais sólida e, portanto menos suscetível de fracasso; Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. b) Risco – pois, ainda que a estrutura seja mais sólida pela colaboração entre pessoas, o risco será sempre inerente ao negócio, e união de várias pessoas a sua volta permite a diluição do risco da atividade entre os participantes da mesma sociedade. Assim é, que o modelo empresarial caminha em sua maioria para o caminho da formação de sociedades. Ocorre, como já visto anteriormente, que o modelo histórico de sociedades comerciais e sociedades civis já não coaduna mais com nosso tempo, razão pela qual a análise agora passa a ser exclusivamente a de empresa. É de se notar também, que a razão que levou a criação dessa teoria da empresa foi exclusivamente econômica, já que a atividade do empresário para o mundo econômico é o único meio de circulação de riquezas. Mas se para o mundo econômico o importante é a estimulação da circulação de riquezas, para o mundo jurídico o importante é a empresa. Para isso nosso ordenamento jurídico deve evoluir no sentido de criar um modelo de empresa que permita o desenvolvimento econômico de forma ética e organizada. A organização virá com a adoção de formas societárias que permitam ao empresário a facilitação do atingimento de seus objetivos, e por parte do Estado com a adoção de mecanismos que permitam o total controle da atividade empresarial para intervenção no mercado caso seja necessário. A ética por seu turno deve vir através de um modelo societário que exija do empresário um comportamento condizente com os princípios da livre concorrência e do respeito ao consumidor. E neste ponto entendemos oportuna a introdução do livro de Direito de Empresa dentro do Código Civil, haja vista que a codificação civilista prima pelo princípio da eticidade. 3. DIREITO EMPRESARIAL ATUAL O Direito Empresarial com os novos contornos dados pelo novo Código Civil e pela própria evolução da atividade empresarial ganha contornos muito mais abrangentes e passa a ter características próprias. Seu estudo inicia-se pela tríade da empresarialidade – cerne da Teoria da Empresa. 3.1. Tríade da Empresarialidade A identificação da empresa é feita pela verificação dos elementos encontrados na tríade da empresarialidade, quais sejam: empresário, estabelecimento e atividade econômica organizada. a) empresário: que é a pessoa que exerce a atividade empresarial em nome próprio; b) estabelecimento: formado pelo conjunto de elementos necessários para o exercício da atividade empresarial; Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. c) atividade econômica organizada: essa atividade econômica organizada por seu turno exige a conjugação de 03 (três) outros fatores, a saber: profissionalismo, risco e lucro. c.1) profissionalismo: que se caracteriza pelo exercício habitual da atividade empresarial na produção ou a circulação de bens ou de serviços; c.2) risco: inerente à prática de atividade econômica; c.3) lucro: caracterizado pela finalidade e não necessariamente pelo resultado. 3.2. Abrangência do Direito Empresarial Pela análise feita inicialmente podemos concluir que o Direito Empresarial é muito mais complexo que o antigo Direito Comercial. Logo, podemos concluir que são subespécies do Direito Empresarial: a) Direito Comercial; b) Direito Cambiário; c) Direito Contratual; d) Direito Societário; e) Direito Falimentar; f) Direito de Propriedade Industrial e congêneres; g) Direito Concorrencial; h) Direito do Consumidor. 3.3. Características do Direito Empresarial As características do Direito Empresarial são: a) simplicidade: porque em suas relações habituais no mercado permite o exercício da atividade econômica sem maiores formalidades, pois, se ao contrário fosse, o formalismo poderia obstar o desenvolvimento econômico. b) cosmopolitismo: já que vive de práticas idênticas ou semelhantes adotadas no mundo inteiro, principalmente com a globalização da economia, transcendendo as barreiras do direito pátrio, mas nem sempre exigindo legislação internacional. c) onerosidade: que estará sempre presente, embutida no elemento lucro almejado pelo empresário. d) elasticidade: posto que transcende os limites do território nacional, devendo atentar mais aos costumes do que aos ditames legais. Dessa forma, sempre que uma nova prática empresarial é adotada em larga escala internacionalmente ela passa a ser adaptada ainda que de forma costumeira ao Direito Empresarial,de forma a contemplar o dinamismo desse meio econômico. 4. Conceito de Empresa Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. - O legislador não definiu especificamente empresa, mas a doutrina faz a seguinte definição: “empresa é a reunião dos elementos necessários à prática da atividade empresarial implementada através de determinada atividade econômica organizada”. 5. Conceito de Direito Empresarial = Direito Empresarial é o conjunto de normas jurídicas que regulam as transações econômicas privadas que visem à produção e a circulação de bens e serviços através de atos exercidos profissional e habitualmente, com o objetivo de lucro. 6. Fontes do Direito Empresarial a) Fontes primárias – a Constituição Federal, o Novo Código Civil, o Código Comercial e a legislação extravagante empresarial. Os tratados comerciais internacionais também são fontes primárias de Direito Empresarial, até porque, são recepcionados em nosso ordenamento jurídico através de lei; b) Fontes secundárias – aquelas aplicadas subsidiariamente não se esgotam, podendo se considerar qualquer ordenamento jurídico não empresarial, usos e costumes, analogias, jurisprudência e os princípios gerais de direito. Obs.: Em razão da sua dinâmica, o Direito Empresarial utiliza freqüentemente, os usos e costumes como fonte de direito. A exemplo temos o contrato de factoring que embora ainda não tenha sido recepcionado pelo nosso ordenamento jurídico, possui aceitação normal no nosso meio empresarial por força de uma pratica costumeira internacional. 7. Conceito de Empresário = O artigo 966 do Código Civil define que “Empresário é aquele que exerce profissionalmente a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e serviços” = O empresário, no exercício habitual da atividade empresarial poderá atuar na forma individual ou societária. 7.2. Elementos que caracterizam o empresário: a) atividade regular – será considerado empresário quem exercer regularmente a profissão, ou seja, com a habitualidade necessária a caracterizá-lo como tal; b) exercício de atividade econômica organizada – atividade comercial ou de prestação de serviços em que esteja presente a existência de estabelecimento, lucro e risco. c) ser estimulador da circulação de bens ou de serviços – o conceito jurídico de atividade empresarial trouxe o principal elemento econômico que é a circulação de Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. riquezas, mola mestra do desenvolvimento econômico, principalmente no mundo globalizado, de forma que essa circulação de riquezas compreende tanto o produto observado nas relações comerciais, quanto o serviço observado nas relações civis. d) exercer a atividade em nome próprio: caso a pessoa não exerça a atividade em nome próprio não será empresário, será mero colaborador ou empregado da empresa. = Assim, poderá ser considerado empresário, tanto a pessoa física, como a pessoa jurídica. a) pessoa física: pessoa que exerce a atividade empresarial individualmente, sem constituir-se na forma societária; b) pessoa jurídica: na forma societária, que exerça atividade econômica organizada de circulação de bens ou serviços através de uma pessoa jurídica criada especificamente para esse fim. = São excluídos do conceito de empresário as pessoas que exerçam profissão intelectual de natureza científica, literária ou artística, ainda que utilizem auxiliares ou colaboradores, exceto se estiverem presentes os elementos de empresa. Tal exceção encontra fundamento no parágrafo único do artigo 966 do Código Civil. = Mas, quem pode ser empresário? Quem esteja em pleno gozo da capacidade civil; na livre administração de seus bens; quem não for legalmente impedido. 8. DISTINÇÃO ENTRE EMPRESÁRIO E SÓCIO a) Empresário: é aquele que representa, em nome próprio, o seu negócio profissional; b) Sócio: é mero representante de uma sociedade que possui personalidade própria respondendo pelos negócios praticados. Integra o quadro social de uma sociedade, in casu empresarial, e representa esta entidade ficta nos negócios por ela praticados. O sócio só responde pessoalmente pelos praticados quando configurar situação de confusão patrimonial ou de desvio de finalidade. = Esta distinção não se justifica do ponto de vista econômico, porém, do ponto de vista jurídico ganha contornos próprios. 8.1. Responsabilidade civil: o regime de responsabilização civil do direito brasileiro é patrimonial, ou seja, quando contraímos uma obrigação, é através da expropriação de nossos bens que os credores poderão satisfazer a obrigação resistida. No caso da atividade empresarial a responsabilidade civil ocorre da seguinte forma: a) empresário: por exercer a sua atividade em nome próprio, impossível é a distinção de seu patrimônio com o patrimônio próprio da atividade empresarial, razão pela qual ele responderá ilimitadamente pelas obrigações assumidas até o limite de seu patrimônio. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. b) sócio: em regra não responde pessoalmente pelas obrigações da sociedade, recaindo essas obrigações sobre a própria sociedade que responderá até o limite de seu patrimônio pelas obrigações contraídas. Excepcionalmente, poderão as obrigações da sociedade recair sobre a pessoa dos sócios, no entanto, tal transferência se dará apenas nos casos legalmente previstos. 9. EXERCÍCIO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL 9.1. Requisitos: vimos anteriormente que para o exercício da atividade empresarial é necessário que o empresário ou o sócio de sociedade empresarial possua capacidade civil, encontre-se na livre administração de seus bens, e que não seja impedido de exercer a atividade empresarial (artigo 972 do Código Civil). 9.2. Capacidade civil: segundo o novo diploma civil, possuem plena capacidade civil as pessoas descritas no artigo 5º do Código Civil, conforme já vimos quando estudamos a capacidade jurídica. 9.3. Impedidos de exercer a atividade empresarial: o artigo 972 ao falar da capacidade para o exercício da atividade empresarial estabelece como requisito negativo, a ausência de impedimento para o exercício da atividade. = Assim, são impedidos de exercer a atividade empresarial: a) os absolutamente incapazes; b) os relativamente incapazes; c) os ocupantes de cargos públicos, observando-se a legislação específica; d) os falidos não reabilitados, que não tenham pago, no mínimo 40% das obrigações decorrentes de processo falimentar ou antes de ocorrer a prescrição dessas obrigações; e) os leiloeiros, já que são considerados auxiliares do comércio e do próprio Poder Judiciário; f) os cônsules e embaixadores; g) os despachantes aduaneiros: cuja proibição é apenas parcial, restrita à comercialização de produtos estrangeiros; h) os médicos que não podem exercer atividade empresarial na área de comércio e fabricação de medicamentos, estando também, proibidos de exercer atividade empresarial de comércio de insumos relativos a sua especialidade profissional; i) os condenados pela prática de alguns tipos de crime, como por exemplo crime falimentar e a prevaricação que é o crime praticado pelo funcionário público quedeixa de observar o estrito dever legal; j) devedores do INSS, vez que para o registro como empresário a pessoa terá que apresentar CND – Certidão Negativa de Débitos junto a Previdência Social; k) os estrangeiros não residentes no país, pois é necessário a comprovação de domicílio em território nacional. = Sendo a atividade empresarial exercida por pessoa impedida configura prática de contravenção penal, com possibilidade de interdição da atividade pelos entes públicos e responsabilidade ilimitada pelos atos praticados. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. 10. PREPOSTOS DA EMPRESA = Conceito: pessoas que intervém na prática empresarial auxiliando direta ou indiretamente o empresário sem, contudo, exercer a atividade empresarial em nome próprio. Anteriormente o Direito Comercial tratava tais pessoas como agentes auxiliares do comércio ou da empresa. a) empregados: pessoas com vínculo de emprego ligadas diretamente à atividade empresarial, porém, não obrigatórios, a sua existência depende exclusivamente da dimensão da atividade empresarial, porém, os atos por eles praticados no exercício profissional geram responsabilidade in eligendo ao empresário, ou seja, o empresário responderá por todos os atos praticados por seus funcionários. Os funcionários respondem diretamente ao empresário pelo excesso cometido no exercício da função; b) gerentes (artigo 1.172 do Código Civil): são pessoas nomeadas pelo empresário para dirigir a atividade empresarial, cujo ato de nomeação deve ser arquivado no registro de empresas. Normalmente os gerentes agem através de instrumento de mandato que lhes é outorgado para o exercício, no entanto, responderão pessoalmente pelo excesso cometido neste exercício. Como são nomeados para cargo de direção, sua atuação se dá dentro e fora do estabelecimento, inclusive em juízo; c) contabilistas (artigo 1.177 do Código Civil): uma vez que a escrituração de documentos contábeis é obrigatória aos exercentes de atividade empresarial, necessariamente todo empresário deverá ter como preposto um contabilista que não precisa necessariamente ser empregado da empresa, podendo ser prestador de serviços, no entanto, os atos por ele praticados obrigam o empresário; d) auxiliares independentes: também conhecidos como auxiliares indiretos, permitem a complementação da atividade empresarial dentro de determinada especialidade, são eles: os corretores; os leiloeiros; despachantes aduaneiros; transportadores; tradutores, etc. = Os prepostos, como representantes diretos ou indiretos do empresário, ficam proibidos de exercer atividade empresarial no mesmo gênero de atividade em nome próprio ou de terceiro por determinação expressa do artigo 1170 do Código Civil. = Os atos praticados pelos prepostos obrigarão a pessoa jurídica de acordo com o local de sua realização. 11. ATO EMPRESARIAL Conceito: É todo o ato jurídico praticado habitualmente com o objetivo de lucro, para mediação, circulação e intermediação de bens e serviços. 12. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. Conceito: é o conjunto de meios necessários ao exercício da atividade empresarial, também conhecido como fundo de negócio, fundo de comércio. 12.1. Distinção de estabelecimento para empresa: empresa é o objeto da atividade empresarial, é um ente ficto, enquanto o estabelecimento é o conjunto de meios para o exercício da empresa 12.2. Finalidade do estabelecimento: propiciar meios para a atividade empresarial e auxiliar na definição do valor econômico de uma empresa. = O estabelecimento é composto de bens corpóreos e incorpóreos: a) corpóreos ou materiais: são os elementos físicos necessários a atividade empresarial, tais como: balcões, vitrines, máquinas, equipamentos, móveis, instalações, veículos, etc.; b) incorpóreos ou imateriais: são os elementos necessários à atividade empresarial que nascem em decorrência dela, e que não estão compreendidos entre os bens físicos. b.1. ponto comercial: trata-se do local onde a atividade empresarial é exercida de forma aparente, ou seja, o local onde o consumidor identifica a atividade empresarial; b.2. título do estabelecimento: nome fantasia utilizado pelo empresário para identificar-se junto ao consumidor; b.3. nome comercial: ou razão social, é o nome que o empresário utilizou para registrar-se junto aos órgãos de registro da empresa; b.4. marcas: é o sinal distintivo gráfico que identifique um produto, um serviço, uma família de produtos ou serviços, ou a própria empresa; b.5. patente: trata-se de uma invenção industrializável que venha solucionar problemas pré-existentes e que ainda não tenha sido objeto de reconhecimento pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial; b.6. processos de fabricação: são as fórmulas de fabricação; b.7. clientela: carteira de clientes de determinado empresário; b.8. aviamento: capacidade lucrativa do estabelecimento empresarial aferida a partir de sua carteira de clientes; b.9. contratos futuros: os contratos vigentes com efeitos presentes e futuros compõe o estabelecimento empresarial; Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. b.10. créditos: os créditos com vencimento futuro, ou com vencimento passado, mas que ainda não tenham sido saudados, fazem parte do estabelecimento; 12.3. Alienação do estabelecimento: A alienação do estabelecimento comercial, também denominada de trespasse, está sujeita à observância de cautelas específicas, criadas para assegurar os interesses dos credores, haja vista que o estabelecimento compõe o patrimônio do empresário. Para tanto, a alienação do estabelecimento deve observar as seguintes regras: a) contrato escrito: a alienação do estabelecimento exige a forma escrita e para que seja oponível contra terceiros deve estar devidamente arquivado na Junta Comercial. Ainda assim, só será oponível contra terceiros depois de publicado no Diário Oficial; b) notificação aos credores: para alienar o estabelecimento o empresário deverá notificar todos os credores para no prazo de 30 (trinta) dias se manifestarem sobre a alienação; c) anuência dos credores: o empresário deverá ter a anuência expressa dos credores, ou tácita, configurada depois de decorridos os 30 (trinta) dias da notificação; c.1. dispensa da anuência: poderá o empresário deixar de observar a exigência da anuência dos credores, desde que em seu patrimônio restem bens suficientes para garantir o cumprimento de suas obrigações; = A inobservância das regras para alienação do estabelecimento sujeita o empresário à falência, por presunção do estado falimentar, tornando nula alienação produzida. = Ao alienar o estabelecimento, o adquirente por sucessão empresarial assumirá todos os passivos do alienante, porém, no período de 01 (um) ano, o alienante será solidário ao adquirente perante os credores, de nada valendo eventual cláusula de responsabilidade exclusiva do adquirente. = Pode ser que no instrumento de alienação conste a responsabilidade do vendedor pelos débitos anteriores a venda do estabelecimento, porém, tal cláusula não será oponível contra terceiros,restando ao adquirente o direito de regresso contra o alienante. = Os empregados credores poderão demandar tanto o alienante quanto o adquirente por força do disposto no artigo 448 da CLT; = Assim como os credores trabalhistas, os credores tributários também gozam de privilégio para executar a divida por força do disposto no artigo 133 do Código Tributário Nacional que gera responsabilidade subsidiária integral ao alienante. = No caso do empresário casado, independentemente do regime de casamento, poderá alienar os bens que compõe o estabelecimento empresarial sem a necessidade de outorga uxória, inclusive bens imóveis consoante determina o artigo 978 do Código Civil. = De forma a não permitir a concorrência desleal entre alienante e adquirente, o legislador civil estabeleceu que durante um período de 5 (cinco) anos o alienante não poderá Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. estabelecer-se em ramo idêntico ao do adquirente, salvo autorização expressa em contrário. DIREITO SOCIETÁRIO I – Tipos Societários previstos no Código Civil Brasileiro - As sociedades, no atual sistema instituído pelo Código Civil de 2002, podem ser divididas, primeiramente, em dois grupos principais: a) sociedades personificadas – aquelas que possuem contrato ou estatuto social escrito e arquivado junto ao órgão de registro competente e que, por conseqüência obtêm personalidade jurídica própria, distinta da dos sócios, conforme art. 985 do Código Civil; b) sociedades não personificadas – que não possuem seus atos constitutivos arquivados junto aos órgãos de registro e, por conseguinte, não possuem personalidade jurídica. - Dentro do grupo das sociedades personificadas há, ainda, uma nova subdivisão, através da qual temos: a) sociedades empresárias – aquelas que desenvolve economicamente uma atividade organizada, seja ela qual for, com o fim de produção e circulação de mercadorias ou prestação de serviços; b) sociedades simples – aquelas que, embora tenham por objeto o exercício de atividade econômica de produção ou circulação de bens ou serviços, não se organizam em empresa, conforme art. 971, combinado com 966 do Código Civil. - A distinção entre a sociedade empresária e sociedade simples, está fundamentada no modo pelo qual a atividade econômica é exercida. Em outras palavras e concluindo: se a sociedade se organiza profissionalmente como uma unidade econômica de produção ou circulação de bens ou serviços, é empresária; se não, é sociedade simples. - Entretanto, a regra supra mencionada é passível de exceção, na medida em que as sociedades por ações são consideradas sociedades empresárias, conforme determina o art. 982, parágrafo único, do Código Civil e art. 2º da Lei n.º 6.404/76, independentemente do seu objeto. Por outro lado, as sociedades cooperativas são consideradas sociedades simples por força do art. 982, parágrafo único, do Código Civil. - Mais especificamente, as sociedades empresárias abrangem a maioria das sociedades existentes que têm por objetivo o exercício da empresa. As sociedades simples acabam por se restringir às atividades que não envolvam a exploração do objeto social de forma profissional, organizando os fatores de produção. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. - Na prática, acabam sendo caracterizadas como simples as sociedades que exploram a atividade de profissão intelectual de natureza científica, literária ou artística, conforme se verifica do art. 966, parágrafo único do Código Civil. - Sendo assim, podemos entender que o que diferencia as sociedades empresárias das sociedades simples é o modo como exploram seu objeto social, isto é, o modo como desenvolvem suas atividades. - Caso a exploração não se dê dessa forma, ou seja, não haja profissionalismo na organização dos fatores de produção, estaremos diante de uma sociedade simples. II – Sociedades Empresárias - No atual sistema legislativo, as sociedades empresárias personificadas podem ser constituídas sob diversos tipos, a saber: a) sociedade em nome coletivo; b) sociedade em comandita simples; c) sociedade em comandita por ações; d) sociedade limitada; e) sociedade anônima. - Importante frisar que, além destas já citadas, há ainda, a sociedade em conta de participação e a sociedade em comum, que, pela falta de registro de constituição, são denominadas sociedades não personificadas, conforme art. 986 a 996 do Código Civil. - À sociedade em conta de participação, que é de grande utilização na vida empresarial, são destinadas regras bem diferentes daquelas que regulam as sociedades personificadas, motivo pelo qual esse tipo societário também será objeto de estudo. - Passaremos à explicação e cada tipo de sociedade empresária das citadas acima para, posteriormente, falarmos sobre as características aplicáveis, genericamente, a todas as sociedades empresárias personificadas. a) Sociedade em nome Coletivo - Este tipo societário caracteriza-se pelo fato de todos os sócios possuírem responsabilidade ilimitada pelas dívidas sociais. É disciplinada pelo Código Civil, nos arts. 1.039 a 1.044 e, subsidiariamente, pelas regras da sociedade simples. - A sociedade em nome coletivo deve ser composta, necessariamente, por sócios pessoas físicas, sendo que a administração da sociedade deverá ser atribuída a sócio, sendo vedada a administração por terceiros. - Quanto ao nome empresarial, o tipo societário em comento, nos termos do art. 1.157 do Código Civil, deve adotar a modalidade firma ou razão social, podendo figurar o nome de todos os sócios (já que todos têm responsabilidade ilimitada e solidária), ou ainda, o Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. nome de apenas um (ou alguns), neste caso sendo o nome seguido da expressão “e companhia” ou sua abreviatura. b) Sociedade em Comandita Simples - Regulada pelos arts. 1.045 a 1.051 do Código Civil e, subsidiariamente, pelas regras da sociedade em nome coletivo (que, por sua vez, tem por legislação subsidiária as regras da sociedade simples), trata-se a sociedade em comandita simples de tipo societário composto por duas categorias de sócios: a) os sócios comanditados – que respondem solidária e ilimitadamente pelas dívidas da sociedade, e; b) os sócios comanditários – que têm sua responsabilidade limitada à integralização da sua quota. - Esta espécie societária pode ser composta por pessoas físicas e pessoas jurídicas. Entretanto, somente pessoas físicas poderão figurar como sócios comanditados, ao passo que poderão ser sócios comanditários, pessoas físicas ou jurídicas. - A distinção entre cada tipo de sócio deve ser expressamente demonstrada no contrato social. - A sociedade adota o nome empresarial na modalidade firma ou razão social, sendo que apenas o sócio comanditado pode emprestar seu nome civil para a sua formação. Caso conste da firma o nome de sócio comanditário, este será considerado como sócio de responsabilidade ilimitada. - A atribuição da administração da sociedade deverá recair, necessariamente, sobre sócio comanditado, sendo vedada ao sócio comanditário,a prática de atos de gestão, não obstante possa ser constituído procurador da sociedade para realização de determinado negócio. A desobediência dessa regra acarretará, para o sócio comanditário, a sua responsabilização de forma ilimitada pelas dívidas sociais. - Apesar da vedação expressa quanto à administração social, pode o sócio comanditário, tomar parte das deliberações sociais e fiscalizar os atos da administração, bem como participar dos lucros sociais. - A modificação do contrato social que disser respeito à diminuição da quota do comanditário, em conseqüência de ter sido reduzido o capital social, somente produz efeitos perante terceiros depois de averbada, sempre sem prejuízo dos credores preexistentes. - Além disso, o sócio comanditário não é obrigado à reposição de lucros recebidos de boa-fé de acordo com o balanço, mas, diminuído o capital por perdas supervenientes, não pode ele, receber quaisquer lucros, antes de reintegrado o capital social. - Em caso de morte de sócio comanditário, a sociedade, salvo disposição em contrário, continuará com os seus sucessores, que designarão quem os represente e, na falta de sócio Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. comanditado, os comanditários nomearão administrador provisório para a prática, por no máximo 180 dias, e sem assumir a condição de sócio, dos atos de administração. c) Sociedade em Comandita por Ações. - De forma semelhante à sociedade em comandita simples, a sociedade em comandita por ações é também uma sociedade que possui duas categorias de sócios: a) os acionistas diretores – que respondem de forma ilimitada pelas dívidas da sociedade e; b) os acionistas comuns – que respondem de forma limitada ao montante de ações que subscreveram. - A sociedade em comandita por ações está prevista nos arts. 280 a 284 da Lei das S.A., bem como nos arts. 1.090 a 1.092 do Código Civil. - Em relação ao nome empresarial, a sociedade pode adotar tanto a modalidade de firma (razão social – da qual somente poderá constar o nome dos diretores) quanto a denominação, aditada da expressão “comandita por ações”, conforme art. 1.090, combinado com art. 1.161 do Código Civil. - Serão aplicáveis a esse tipo societário as regras das sociedades anônimas, observadas as disposições do Código Civil. d) A Sociedade Limitada - A denominação “sociedade limitada” é a nova terminologia utilizada pelo C.C., em substituição à terminologia sociedade por quotas de responsabilidade limitada, que foi introduzida em nosso ordenamento jurídico no ano de 1919 por meio do Decreto n.º 3.708/19. - É o tipo societário que mais se desenvolveu na sociedade moderna, tendo em vista a limitação da responsabilidade dos sócios, pelas obrigações sociais, motivo pelo qual foi escolhido por mais de 98% das sociedades registradas nas Juntas Comerciais do nosso país. 1. Limitação da Responsabilidade dos Sócios. - A sociedade limitada é o único tipo societário, de natureza contratual, no qual os sócios têm responsabilidade limitada pelas dívidas sociais. - O parâmetro para tal limitação é o capital social. Ou seja, enquanto o capital social não estiver totalmente integralizado, todos os sócios poderão ser responsabilizados por sua integralização (tendo em vista que a responsabilidade entre eles, pela integralização é Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. solidária). Contudo, uma vez totalmente integralizado o capital social, nenhuma responsabilidade subsistirá para os sócios. - Assim, frise-se que a responsabilidade dos sócios não é ilimitada, mas corresponde apenas ao montante a integralizar do capital social. Uma vez verificado que o capital está totalmente integralizado, inexistirá a responsabilidade dos sócios pelas dívidas em nome da sociedade. - Essa responsabilidade dos sócios é solidária, inclusive entre si. Logo, um sócio que tenha integralizado totalmente suas quotas poderá vir a responder, solidariamente, com a sociedade ou com os outros sócios se algum deles não as integralizou, conforme regra do art. 1.052 do diploma civil: “Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”. - Entretanto, uma vez que a responsabilidade final dos sócios (e entre eles) é pela quota subscrita, o sócio que pagou a integralização de outro sócio terá contra este, por evidente, o direito de regresso. - Conclui-se, portanto, que, integralizado o capital social, se mesmo assim houver insuficiência patrimonial para o pagamento dos débitos, os sócios não mais responderão, nem mesmo subsidiariamente, pelas obrigações sociais, em função da limitação da responsabilidade prevista nesse tipo societário. - Importante ressaltar, que essa limitação de responsabilidade aplica-se para a condução regular e normal da sociedade. Quando o sócio exerce o cargo de administrador da sociedade, essa limitação pode deixar de existir, como será observado mais à frente, pois o sócio passará a ter uma responsabilidade mais alargada, que podemos chamar de responsabilidade de administrador. - Além disso, a responsabilidade dos sócios pode tornar-se ilimitada, nos termos do art. 1.080 do Código Civil (aprovação expressa de deliberação infringente do contrato social ou da lei), além da possibilidade da desconsideração da personalidade jurídica, ensejando a responsabilidade pessoal e ilimitada dos sócios, em caso de abuso da personalidade jurídica da sociedade (art. 50 do Código Civil). 2. Contrato Social da Sociedade Limitada - O contrato social pode ser elaborado por instrumento público ou particular, inclusive quando houver integralização de capital com conferência de bens imóveis. Se feito por instrumento público, nada impede que suas futuras alterações sejam realizadas por instrumentos particulares. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. - O contrato social é documento de inegável importância, uma vez que carrega em si as opções feitas pelos sócios-contratantes, abreviando uma série de futuras discussões que, eventualmente, poderão gerar dissabores entre os sócios. - Além dos requisitos de todo e qualquer ato jurídico, previstos no art. 104 do Código Civil, quais sejam: agente capaz; objeto lícito, possível, determinado ou determinável; forma prescrita ou não defesa em lei, de acordo com o que determina o art. 1.054 do diploma civil, o contrato social da sociedade limitada deverá conter, obrigatoriamente, além de eventuais estipulações feitas pelas partes, os requisitos exigidos para a constituição de uma sociedade simples (art. 997) e, se for o caso, a firma social. Portanto, são requisitos para a validade do contrato social da sociedade limitada: a) nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas físicas, ou firma ou denominação, nacionalidade e sede, se pessoas jurídicas; b) nome empresarial (firma ou denominação), objeto, sede e prazo da sociedade; c) capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveisde avaliação pecuniária; d) quota de cada sócio e o modo de integralização; e) pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; f) participação de cada sócio nos lucros e nas perdas. - Note-se, entretanto, que a responsabilidade subsidiária dos sócios, prevista no inciso VIII do art. 997, é inaplicável às limitadas, diante da regra da limitação. Repetindo: integralizado o capital social e, mesmo assim, havendo insuficiência patrimonial para o pagamento dos débitos, os sócios não mais responderão, nem mesmo subsidiariamente, pelas obrigações sociais. 3. Nome empresarial da sociedade limitada - O art. 1.158 do Código Civil, que regula a questão do nome para as sociedades limitadas, prevê que esse tipo societário pode adotar firma (razão social) ou denominação, devendo constar, ao final, a palavra limitada ou sua abreviatura (Ltda.), sob pena de, na hipótese de omissão, restar caracterizada a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade. - Além disso, prevê o referido artigo, por meio dos seus §§ 1º e 2º, que, em caso de utilização de firma, será esta composta do nome de um ou mais sócios, desde que pessoas Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. físicas, de modo indicativo da relação social. Convém ressaltar que o nome do sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar da sociedade não poderá ser conservado na firma social. - Por outro lado, adotando a denominação, esta pode ser composta por uma expressão fantasia, sem qualquer vinculação com os nomes dos sócios, ou mesmo prevendo-os, mas sempre designando o objeto da sociedade. 4. Legislação aplicável às Sociedades Limitadas - As regras reguladoras das sociedades limitadas estão previstas no Código Civil, arts. 1.052 a 1.087, encontrando-se revogado o Decreto n.º 3.708/19, mesmo não tendo sido arrolado expressamente pelo C. C. como revogado. Trata-se, pois, de revogação tácita, uma vez que o C. C. tratou da matéria de forma completa. - Dessa forma, serão então aplicáveis às sociedades limitadas os artigos acima citados, constantes em capítulo específico do diploma civil, ou seja, o Capítulo IV, do Subtítulo II (que regula as sociedades personificadas), do Título II (destinado a regular as sociedades), do Livro II, denominado “Do Direito de Empresa”. - Além disso, por força do disposto no “caput” do art. 1.053 do Código Civil, a sociedade limitada terá como legislação supletiva aquela aplicável às sociedades simples, ou seja, nos termos da lei “a sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da sociedade simples”. Assim, existindo omissão do Capítulo próprio que trata das sociedades limitadas, deverá ser observada a disposição prevista para as sociedades simples – repita-se – regulada pelos arts. 997 a 1.038 do diploma civil. - Entretanto, o parágrafo único do mesmo art. 1.053 permite que, havendo previsão expressa no contrato social, as regras da sociedade limitada tenham como legislação supletiva as normas da sociedade anônima. - Dessa forma, é possível concluir que a regra, em termos de legislação supletiva, é a aplicação das normas da sociedade simples. Contudo, caso os sócios assim tenham expressamente convencionado no contrato social, poderá a sociedade limitada ser regida, supletivamente, pelas normas da sociedade anônima. 5. Quotas e Capital Social das Sociedades Limitadas - O capital social das limitadas é dividido em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio. - O capital social de uma sociedade representa o somatório dos valores e/ou dos bens que os sócios se obrigam a transferir para a sociedade para, com ele, formar o patrimônio societário e gerir suas atividades. - Toda sociedade deve iniciar-se com um capital social, que poderá, no decorrer do tempo, ser aumentado ou reduzido, em conformidade com os novos ingressos ou retiradas. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. - O capital social representa, na verdade, o referencial que os sócios supõem necessário para atingir os objetivos ajustados no pacto social. Não se trata do patrimônio social, já que este é representado pelo conjunto de bens e direitos da sociedade, sendo ele, o patrimônio social, quem garante os credores da sociedade. - Quando conferido pelo sócio em bens, estes não precisam, necessariamente, ser avaliados. Entretanto, como disposto no § 1º do art. 1.055, todos os sócios respondem pela exata estimação de bens conferidos ao capital social, até o prazo de 5 anos da data do registro da sociedade. - O sócio que discordar da avaliação poderá optar pelo direito do recesso, o qual estudaremos mais adiante. - Não há sócios de indústria na sociedade limitada, haja vista que o art. 1.055, § 2º, do Código Civil, veda a contribuição do sócio em prestação de serviços. - Pelas regras atuais os sócios estão livres, inclusive, para estabelecer a forma e as condições para a integralização das quotas, não havendo previsão, sequer, de pagamento mínimo inicial. - A indivisibilidade das quotas refere-se à sociedade; porém, em caso de transferência, vigora a divisibilidade. Assim, é permitida a sua cessão total ou parcial a sócio ou estranho, caso não esteja a hipótese vedada pelo ajuste social e não haja oposição dos sócios que representem a quarta parte do capital social (art. 1.057 do C. C.). - Nessas hipóteses, a assinatura dos sócios anuentes no instrumento de cessão é necessária, produzindo efeitos perante a sociedade e perante terceiros a partir da sua averbação na Junta Comercial, conforme preceitua o parágrafo único do art. 1.057 do Código Civil. - Como se pode observar, as regras do diploma civil prevêem ampla liberdade quanto à “transferência de quotas” ser regulada pelo contrato social; em sua omissão é que incide a regra do art. 1.057 do C. C. - A cláusula de transferência de quotas, especialmente em razão de morte de sócio, é de extrema relevância para a continuidade dos negócios sociais. A falta de sua previsão poderá acarretar o ingresso de herdeiros que não tenham real interesse na sociedade, ocasionando prejuízo ao negócio. Portanto, o ideal é o ajuste da situação no contrato. Isto porque, como se sabe, os herdeiros somente sucedem o sócio falecido nos direitos patrimoniais das quotas e não nos direitos pessoais. Estes somente são suscetíveis de transmissão hereditária se assim estiver estabelecido no contrato social. - No caso de não ter sido a quota integralizada, o sócio remisso poderá ser excluído da sociedade, sendo-lhe devolvido o que houver pago, deduzidos os juros de mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas. Os sócios, contudo, poderão optar por executar os danos emergentes da mora junto ao remisso ou reduzir sua quota ao montante realizado, conforme dispõe o art. 1.004 e seu parágrafo único, ao qual o art. 1.058 faz remissão. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. - O art. 1.031 prevê a apuração dos haveres por valores contábeis e não por balanço de verificação. - Ao credorparticular de sócio abre-se a possibilidade de a execução recair sobre os lucros sociais obtidos, conforme o art. 1.026 do diploma civil. - A teor do que dispõe o art. 1.059, aos sócios há obrigação de reposição dos lucros e quantias retiradas, a qualquer título, ainda que autorizados pelo contrato, quando tais lucros ou quantias se distribuírem com prejuízo do capital. I – A NOVA LEI DE FALÊNCIAS (Lei n.º 11.101 , de 09/02/2005). = Após três anos em elaboração no Ministério da Justiça e mais onze anos tramitando no Congresso Nacional, finalmente foi sancionada a Lei que “institui e regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária” em substituição à Lei falimentar de 1945 (Decreto-Lei n.º 7.661), que jamais atendeu aos interesses e necessidades das empresas brasileiras em dificuldades financeiras. = A nova legislação falimentar encontra-se dividida da seguinte forma: a) Dispositivos Preliminares e Comuns à Recuperação Judicial e à Falência; b) Da Verificação e da Habilitação de Créditos; c) Administrador Judicial e do Comitê de Credores; d) Da assembléia Geral dos Credores; e) Instituto da Recuperação Judicial que envolve desde o pedido e o processamento jurídico até o plano de recuperação judicial e especial de Recuperação para microempresas e empresas de pequeno porte; f) Convolação da Recuperação Judicial em Falência; g) Da Falência que envolve a Classificação dos Créditos e o Pedido de Restituição; h) Instituto Procedimento para Decretação de Falência; i) A Inabilitação Empresarial; j) Os Direitos e Deveres do Falido; k) A Falência requerida pelo próprio Devedor; l) A Arrecadação e Custódia dos Bens; m) Efeitos da Decretação da Falência sobre as Obrigações do Devedor; n) A Ineficácia e a Revogação de Atos Praticados antes da Falência; o) A Realização do Ativo; p) O Pagamento aos Credores; q) O Encerramento da Falência e a Extinção das Obrigações do Falido; r) Instituto da Recuperação Extrajudicial até as Disposições Penais; s) Os Crimes Falimentares e o Procedimento Penal. = A nova Lei de Falências, que entrou em vigor no dia 09.06.2005, abre a possibilidade de reestruturação às empresas economicamente viáveis que passem por dificuldades momentâneas, mantendo os empregados e os pagamentos aos credores. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. = Um dos grandes méritos apontados na nova legislação falimentar é a prioridade dada à manutenção da empresa e dos seus recursos produtivos, vez que, ao extinguir a concordata e criar as figuras da recuperação judicial e extrajudicial, a nova lei aumenta a abrangência e flexibilidade nos processos de recuperação de empresas, mediante o desenho de alternativas para o enfrentamento das dificuldades econômicas e financeiras da empresa devedora. = Apenas a título de esclarecimento, faz-se necessário mencionar que, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Gestão e Turnaround – IBGT – , se a nova Lei de Falências tivesse sido aprovada há mais tempo, 90% das empresas que fecharam as portas no ano de 2002, em São Paulo, teriam chances reais de sobrevivência. = A Lei de Falências foi amplamente reformulada, transformando-se na nova Legislação de Recuperação Judicial, a Falência e a Recuperação Extrajudicial do Empresário e da Sociedade Empresária. = A nova legislação prevê várias estratégias de recuperação, como, por exemplo, mudar administradores e acionistas, propiciar o tempo que for mais adequado à recuperação, pois, pela lei anterior, o prazo era de, apenas, dois anos. = Com a nova lei, dependendo do ramo da empresa, o prazo poderá ser de seis meses, três ou cinco anos. = Ademais, o plano será elaborado pelo devedor e submetido aos credores, que poderão aceitá-lo ou mudá-lo se julgarem conveniente, o que torna o acordo entre devedor e seus credores, mais eficaz, já que define o melhor prazo para que ele se recupere e pague suas dívidas. = De acordo com o artigo 54 da atual lei, o plano de recuperação não poderá estabelecer prazo superior a 12 meses para o pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho e os decorrentes de acidente de trabalho. = Outro aspecto positivo foi o aumento do valor da dívida para 40 salários mínimos para o credor pedir a falência. Desta forma, impedem-se pedidos de R$ 500,00 ou R$ 900,00, que têm um evidente intuito de cobrança. = A nova Lei de Falências é considerada fundamental para a política macroeconômica. Os bancos subiram do terceiro para o segundo lugar na fila dos credores e passaram a ter uma garantia melhor de recebimento. Com isso, as instituições financeiras poderão conceder novos empréstimos às empresas e permitir sua eventual recuperação. = Os representantes do sistema financeiro foram os grandes defensores da nova lei, com o argumento de que assim, seria possível reduzir os juros de empréstimos ao setor produtivo. = Uma das inovações mais polêmicas da lei e que gerou resistências no Congresso Nacional por parte dos partidos de esquerda, foi o texto do artigo 83 no novo diploma legal, que limita a 150 (cento e cinqüenta) salários mínimos por credor de dívidas trabalhistas e os decorrentes de acidentes do trabalho, os primeiros a serem pagos em caso de falência. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. = No texto aprovado pelo Congresso foram feitos três vetos. O artigo 4º, um dos vetados exigia a presença do representante do Ministério Público nos processos de recuperação judicial e de falência. = Segundo o Governo, caberá ao Ministério Público avaliar, em cada caso, se participa ou não. De acordo com a exposição de motivos do governo, os dois outros vetos, a incisos dos artigos 35 e 37, foram feitos para deixar a lei mais clara. = Preliminarmente, para se ter uma visão de algumas das mudanças trazidas pela nova Lei Falimentar, verifiquemos a comparação abaixo: a) Quanto à Concordata: = A antiga Lei previa o instituto, que era de iniciativa das empresas e as negociações só existiam para dívidas com notas promissórias, cheques, etc. Os outros credores tinham que recorrer à Justiça. = A nova lei extinguiu a concordata. A empresa em crise econômico-financeira poderá requerer recuperação extrajudicial ou judicial, fazendo acordo com os credores. b) Quanto à Falência: = Pela antiga Lei, qualquer credor poderia pedir a falência, mas os juízes relutavam em decretá-la para evitar desemprego e destruição dos ativos. = A nova Lei dispõe de mais agilidade para evitar a dilapidação do patrimônio do devedor e o pedido só poderá ser feito quando o valor das dívidas forem superiores a 40 salários mínimos. c) Quanto aos Créditos Preferenciais: = A antiga Lei previa que créditos derivados da legislação do trabalho, impostos e dívidas garantidas por bens móveis e imóveis eram quitados antes. = A nova Lei prevê o pagamento de créditos trabalhistas, limitados a 150 salários mínimos por credor. Créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado e créditos tributários. = Diante dos exemplos acima, fica claro que a nova Lei de Falências representou modificações importantes no ordenamento jurídico, vindo a favorecer a empresa e a economia do país, mas, ao mesmo tempo, traz em seu bojo, várias questões quedevem ser pensadas do ponto de vista da eficácia e da finalidade de toda e qualquer norma jurídica, qual seja, o bem comum. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. = Um dos assuntos mais comentados no Direito de Empresa é, sem dúvida, o teor da nova Lei de Falências, que surge para substituir um sistema que vigorou por quase 60 (sessenta) anos. = O objetivo maior do legislador, conforme já mencionamos, foi viabilizar a recuperação de empresas em dificuldade financeira, com a manutenção de empregos, redução dos juros bancários e maiores garantias aos credores. = Vejamos hoje, com mais vagar, as inovações trazidas pela nova lei. 2. RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL – Arts. 161 a 167 da Lei 11.101/2005. = Com a aprovação da nova lei fica extinta a figura da concordata e, em substituição, surgem as possibilidades de recuperação extrajudicial e judicial da empresa. = No processo de recuperação extrajudicial, apenas os credores mais relevantes são chamados a renegociar seus créditos, de forma a permitir que a empresa se reestruture sem comprometimento das características, prazos e valores dos créditos pertencentes aos demais credores. = O empresário em situação de insolvência deverá apresentar a seus credores, excluídos os trabalhadores, os acidentários e o Fisco, uma proposta de recuperação, que, se aceita pela maioria dos credores em Assembléia Geral, será levada ao Judiciário apenas para homologação. = Recebido, pelo juiz, o pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial, este ordenará a publicação de edital, no órgão oficial e em jornal de grande circulação nacional, abrindo o prazo de 30 dias, contados da publicação do edital, para impugnarem o plano, juntando a prova de seu crédito, conforme § 2º, do artigo 164 da Lei. = Nesta ocasião, o juiz apreciará os eventuais pedidos de impugnação formulados por credores insatisfeitos com o acordo e caso não sejam acatados, o acordo será homologado, cabendo sua gestão às partes envolvidas. = O Poder Judiciário somente voltará a se manifestar na hipótese de descumprimento do acordo homologado. Neste caso, as relações entre devedor e credores retornará aos termos anteriores, podendo ser requerida a instalação de um processo de recuperação judicial ou mesmo a Falência. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. = Esta possibilidade representa um grande avanço e benefício para os empresários, visto que, conforme o artigo 2º, inciso III do Decreto-Lei n.º 7.661/1945, aquele que propusesse dilatar o prazo de pagamento de suas obrigações e pedisse remissão de seu débito poderia ter sua Falência declarada. 3. RECUPERAÇÃO JUDICIAL = A recuperação judicial é tida, por alguns doutrinadores, como a principal alteração proposta pela nova lei em substituição à antiga concordata, espécie de moratória solicitada pela empresa à Justiça até que seja regularizado o pagamento das dívidas. = Isto porque, através deste processo seria possível evitar a quebra de empresas consideradas viáveis, por meio de acordo entre estas e uma comissão formada pelos credores. = O art. 48 da Lei de Falências, menciona quais os requisitos a serem preenchidos pelo devedor, para ter o direito de requerer a recuperação judicial, mencionando que o devedor deve estar no exercício regular de suas atividades, há mais de 2 anos e que, dentre outros requisitos não tenha obtido concessão de recuperação, há menos de 5 anos. = Diferentemente da recuperação extrajudicial mencionada no item anterior, a recuperação judicial não tem início com uma tentativa direta de acordo entre devedor e credores. Nesse instituto, o devedor apresenta ao Judiciário, um pedido de recuperação, contendo um diagnóstico da situação financeira da empresa e sua proposta para a renegociação das dívidas, o chamado plano de recuperação, contendo, inclusive, as trabalhistas e tributárias. = O plano de recuperação judicial, deverá ser apresentado em juízo, num prazo de 60 dias, contados da publicação da decisão do Juiz que deferir o processamento da recuperação judicial, conforme determina o art. 53 da Lei de Falências. = No que se refere aos credores, deverão apresentar, ao administrador judicial, a sua habilitação ou a sua divergência ao crédito relacionado pelo devedor, no prazo de 15 dias, contados da publicação do Edital, feita pelo juízo, conforme determinação expressa do § 1º do art. 7º da Lei de Falências. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. = Importante mencionar que, em se tratando de recuperação judicial, deve ser respeitada a ordem de preferência dos créditos que ocorre da seguinte forma: a) primeiro os credores trabalhistas e acidentários; b) depois os credores com garantia real e, então; c) os credores tributários. = A proposta será então submetida a uma Assembléia Geral de Credores, que poderá aprová-la ou rejeitá-la. = Durante 180 (cento e oitenta) dias ficam suspensas todas as execuções de créditos e, nesta fase, apenas o Fisco tem o direito de executá-los. = Havendo acordo, o juiz homologará o plano de recuperação elaborado pela empresa; caso contrário, terá início o processo de Falência. = Durante esse período, a empresa não poderá aumentar gastos, despesas ou contratar empregados, exceto se houver concordância do juiz, ouvidos os credores. = Para as micro e pequenas empresas, a nova lei estabelece que, no procedimento de recuperação judicial, os débitos existentes serão pagos em 36 (trinta e seis) meses, sendo a primeira parcela paga em 180 (cento e oitenta) dias após a apresentação do pedido de recuperação. = No processo de recuperação extrajudicial não existe nenhuma ordem legal de preferência para o recebimento dos créditos. O pagamento deverá ser feito conforme pactuado entre o devedor e seus credores. 4. CREDORES - NOVA ORDEM DE PRIORIDADE = O pagamento dos credores responderá a uma nova ordem de prioridade, diversa da estabelecida pelo Decreto-Lei n.º 7.661/1945, que concedia prioridade ao pagamento dos créditos de natureza trabalhista e fiscal. = O novo texto estabelece que os créditos com garantia real (dívidas bancárias) passam a ter prioridade no processo de Falência, abaixo apenas dos créditos trabalhistas, estes limitados ao valor equivalente a 150 (cento e cinqüenta) salários mínimos. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. = Com isto, os bancos, principais credores de garantia real, irão contar com a segurança de poder recuperar o valor do empréstimo antes que as dívidas com o Fisco sejam pagas. O governo acredita que este aumento de garantia irá refletir positivamente no risco dos empréstimos bancários e deverá causar a diminuição do spread bancário, considerado um dos mais altos do mundo. = Além disso, para o pagamento das dívidas, o devedor poderá ter seus bens vendidos sem a necessidade de composição do quadro geral dos credores. 5. NULIDADE DOS ATOS PREJUDICIAIS AOS CREDORES = A nova lei aumenta o prazo que era de 60 (sessenta) para 90 (noventa) diasdo período suspeito, tornando inoponíveis perante a massa liquidanda, certos atos praticados pelo devedor que venham a prejudicar os credores, como a constituição de garantia real ou alienação de bem do ativo imobilizado. = O objetivo desta dilação de prazo é reforçar a proteção aos credores, garantindo que o patrimônio global do devedor sirva como garantia de suas dívidas. 6. VENDA ANTECIPADA DOS BENS = Outra inovação do legislador é a possibilidade de venda antecipada de bens, cujo objetivo é evitar que os bens se deteriorem ou se desvalorizem ao longo do tempo, além de minimizar possíveis fraudes e desvios que ocorrem na fase de arrecadação da falência. A venda antecipada de bens deverá respeitar a seguinte ordem de preferência: a) alienação do estabelecimento em bloco; b) alienação de suas filiais ou unidades produtivas isoladamente; c) alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do devedor, caso tenha cessado a exploração do seu negócio, ou de todos eles; d) a alienação parcelada ou individual dos bens. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. 7. FALÊNCIA = Embora o legislador tenha eliminado os institutos da concordata preventiva, concordata suspensiva e da continuidade dos negócios do falido, a possibilidade de decretação continua a existir, mesmo com a inserção das possibilidades de recuperação extrajudicial e judicial da empresa. A falência poderá ser requerida: a) pelo próprio devedor – é a denominada auto-falência, neste caso, tem legitimidade para requerê-la em juízo, o cotista ou o acionista do devedor, na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade. b) pelo credor – desde que tenha um crédito equivalente a 40 salários mínimos, conforme determinado em lei. c) em decorrência de decisão que, por qualquer motivo, julgue improcedente o pedido de recuperação judicial; d) pela não-aprovação do plano de recuperação judicial; e) pela conversão de um processo de recuperação judicial em Falência, quando uma obrigação essencial do empresário for descumprida. Destaca-se, de acordo com o que já vimos, que para requerer o pedido de Falência será exigido, no mínimo, crédito equivalente a 40 (quarenta) salários mínimos. 8. EXCEÇÕES = Não estarão sujeitos à nova lei de recuperação de empresas e Falências: a) empresa pública; b) a sociedade de economia mista; c) instituição pública ou privada; d) cooperativa de crédito; Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. e) consórcio; f) entidade de previdência complementar; g) sociedade operadora de plano de assistência à saúde; h) sociedade seguradora; i) sociedade de capitalização; j) outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. 9. PRINCÍPIOS DA NOVA LEI DE FALÊNCIAS. = A Real viabilidade econômica da empresa em dificuldade pode legitimar a aplicação de um plano visando à sua recuperação. = Há contradição entre a finalidade da lei e alguns artigos que privilegiam credores. Finalmente, depois de várias tentativas, o Brasil está diante de uma concreta perspectiva de tratamento positivo das crises econômico-financeiras das empresas. = A Lei de Recuperação e Falências, agora em vigor, procura, sempre que possível, evitar o desaparecimento de unidades produtivas. = A razão de seu surgimento está no artigo 47: "A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica". = Não obstante esse princípio da conservação da empresa, não se pode adotar um mecanismo indiscriminado para manter qualquer atividade econômica. A experiência mostra que a extinta concordata preventiva era, muitas vezes, ajuizada justamente para preparar a empresa para o processo falimentar. Logo, a afirmação, até hoje tida como verdadeira, de que "ninguém ganha com a falência" é relativa. = Isso porque, no presente regime normativo, a rápida liquidação da empresa pode ser benéfica à comunidade. O art. 75 da nova lei confirma esse entendimento: "A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa". Portanto, deve-se ter em mente que a recuperação só será oportuna se os custos sociais e econômicos com a conservação da empresa forem menores do que sua rápida liquidação. = Desse modo, somente a real viabilidade econômica da empresa em dificuldade pode legitimar a aplicação de um plano visando à sua recuperação. Na busca dessa percepção do que é melhor para a salvação da unidade produtiva em jogo, os credores e a Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. magistratura terão papel fundamental. Aos primeiros cabe atuar ativamente no processo. Por sua vez, os juízes devem adotar, no encaminhamento do processo, os princípios da função social dos contratos e da boa-fé objetiva, estabelecidos nos artigos 421 e 422 do Código Civil de 2002. = Assim é que, em face do relevante interesse público que a preservação da atividade econômica organizada ostenta, acreditamos que a atuação do juiz no processo deverá ser fundada no referido art. 47 da nova lei, no seu amplo alcance. Essa conduta construtiva impõe-se em face dos artigos. 6º, §4º, 49 e 161 da nova lei, que permitem ao credor com garantias executar seus créditos, desde que ultrapassados os seis meses do processamento de recuperação judicial. = Dessa forma, todos os bens e contratos da empresa em crise que forem objeto de arrendamento mercantil (leasing), alienação fiduciária, reserva de domínio ou adiantamento de contrato de câmbio não serão obrigatoriamente incluídos na recuperação e poderão ser executados livremente após os cento e oitenta dias. A lei permite que tais credores com garantias escolham entre a submissão ou não ao procedimento de recuperação. Se não o fizerem, certamente a recuperação será inviável, na medida em que os equipamentos, maquinários e veículos com os quais a empresa trabalha poderão ser dela rapidamente retirados. = Daí a prevalência do referido art. 47 da nova lei, que visa a preservar "a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores", o que demanda a atuação forte do Poder Judiciário, capaz de até mesmo suspender a execução de garantias vinculadas aos empréstimos e contratos financeiros, desde que essa suspensão seja imprescindível para a recuperação da empresa em crise. Existe, com efeito, uma contradição entre a finalidade da nova lei e alguns de seus artigos que privilegiam determinados credores. = Esperamos que tal conflito seja resolvido pela jurisprudência. Ademais, deve sempre ser levado em conta o regime de comunhão de interesses dos credores adotado pela nova lei, fazendo com que a vontade da maioria prevaleça sobre a minoria, sempre visando ao bem maior do interesse coletivo da preservação da empresa em face do direito individualde crédito envolvido na recuperação ou na falência. REPERCUSSÕES CRIMINAIS = Tendo sido abolido, pela nova lei de falências (Lei 11.101/05), o inquérito judicial, que incumbia ao juiz da falência a investigação do crime falimentar, não há dúvida que, nessa fase preliminar, ganhou proeminência o Ministério Público. = Logo que intimado da sentença de falência ou que concede a recuperação judicial, cabe- lhe a promoção da ação penal respectiva (caso haja algum delito a ser punido) ou a requisição da abertura de inquérito policial (Lei 11.101/05, art. 187). Note-se que o inquérito policial não é necessário. Havendo “fumus delicti” (prova de crime e indícios de autoria), desde logo, já pode ser intentada a ação penal. Prof. Ms. Vinicius Gustavo Sandes Solha – Disciplina: Direito Empresarial – 2º Semestre – 2011 – Turmas: Administração de Empresa e Engenharia de Produção – Campi: São Miguel Paulista. = A sentença da falência, antes, era condição de procedibilidade (CPP, art. 507): sem ela não poderia a ação penal ser exercida. Tinha repercussão, como se vê, no âmbito processual (mais precisamente, no momento da ação penal). Por força do art. 180 da nova lei de falências a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial mudou sua natureza jurídica: agora é condição objetiva de punibilidade. Sem ela o fato não é punível. = Condição objetiva de punibilidade é uma condição criada pelo legislador, por razões de política criminal, que está coligada não com o merecimento da pena, sim, com sua necessidade. Ela não interfere no injusto penal (fato materialmente típico mais antijuridicidade) nem na culpabilidade do agente. Integra, isso sim, o fato punível (a punibilidade abstrata). Toda condição objetiva de punibilidade está fora do fato e, portanto, fora do dolo do agente. É algo a mais, um plus que o legislador passa a exigir para que o fato seja ameaçado com pena (seja punível, em tese). = Conseqüências práticas: antes da sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial, não há nem sequer fato punível. Pode já estar configurado um injusto penal (fato materialmente típico mais antijuridicidade). Pode o agente ser culpável (se podia agir de modo diverso e não agiu). Mas não existe fato ameaçado com pena. Logo, nenhuma medida restritiva de direitos pode ser adotada contra ninguém. Não há que se falar em prisão preventiva, indiciamento em inquérito policial etc. = Quem for condenado por crime falimentar, de outro lado, além de sofrer as penas cominadas para o delito (prisão mais multa), pode ainda ser sancionado com a pena específica de inabilitação para o exercício de atividade empresarial, por período de até cinco anos. Mas não se trata de pena (de efeito) automática (o). Cabe ao juiz motivar, em cada caso concreto, a necessidade dessa pena específica. = Conta-se o tempo dessa pena específica a partir da extinção da punibilidade. Leia-se: o réu primeiro cumpre a pena e, só depois disso, começa a inabilitação para o exercício de atividade empresarial (que pode perdurar por até cinco anos). Caso, entretanto, consiga a reabilitação criminal antes do seu término, cessa a pena específica. A reabilitação é possível depois do período de dois anos, após a extinção da punibilidade. Sendo assim, se o agente for reabilitado prontamente, logo em seguida a esse lapso de prazo, pode ser que consiga abreviar a pena específica de inabilitação aplicada pelo juiz. = Pelo que acaba de ser exposto, nota-se que não foram poucas as alterações introduzidas no âmbito criminal pela nova lei de falências. Mas é o tempo que vai nos permitir assimilar todas as suas novidades.
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