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universidade do estado do riodejaneiro
centro de educação e humanidades
instituto de psicologia
curso de graduação em psicologia
MODOS DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E O ESPAÇO PÚBLICO
Eliane de FÁTIMA BASTOS do amaral schayder
Rio de janeiro
MARÇO/2018
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
centro de educação e humanidades
instituto de psicologia
curso de graduação em psicologia
Eliane de Fátima Bastos do amaral schayder
Trabalho exigido pela disciplina: Emergência e Constituição da Psicologia Científica para obtenção de nota parcial da avaliação. Disciplina ministrada pela Professora: Ana Maria Jacó Vilela
 
Rio dE JANEIRO
MARÇO/2018
Introdução:
Toda sociedade necessita produzir sua riqueza material e para que essa produção aconteça, faz-se necessário que o homem transforme a natureza em valores de uso. Ao converter a natureza em meios de subsistência ou de produção, o homem atua de forma consciente e intencional, controlando e executando sua ação através de seus membros contra os elementos da natureza. O desenvolvimento desta ação consciente resulta em algo necessariamente novo, atuando de formas variadas conforme suas necessidades, o que implica numa distinção da ação humana de qualquer atividade natural. Sendo o trabalho uma categoria universal e pertencente a todas as formações sociais, ela também ocorrerá na sociedade burguesa, entretanto, em razão da necessidade do capital gerar lucro, o trabalho e a produção de valores de uso, encontra-se submetido à lógica da produção da mercadoria. Assim sendo os imperativos da lucratividade estarão num patamar superior aos da produção voltadas para o atendimento das legítimas necessidades humanas. 
A totalidade da riqueza social no modo da produção capitalista, embora tenha seus fundamentos na produção material realizada no intercâmbio orgânico do homem com a natureza, sua reprodução se dá pela apropriação da mais-valia. O interesse do sistema capitalista volta-se para o retorno que os valores de uso trarão ao serem trocados, mercantilizados, ou seja, será produzido aquilo que for lucrativo. Estando os valores de uso submetidos à lógica dos valores de troca, o próprio trabalhador não produz apenas mercadorias, ele também é uma mercadoria, entretanto, diferentemente das demais mercadorias, essa é a única capaz de gerar a riqueza apropriada pelos detentores dos meios de produção, a burguesia. Através do trabalho assalariado e da exploração da classe trabalhadora, ocorre à apropriação da riqueza, que ao ficar concentrada nas mãos de poucos, produz o empobrecimento dos trabalhadores. Diferentemente das sociedades anteriores ao capitalismo, os valores de troca assumem uma posição indispensável para a reprodução desse sistema, uma vez que cumpre um papel de eixo regulador das relações sociais.
 
Os Modos de Produção
Ao longo da história houve várias evoluções sociais, os meios de produção de mercadorias foram transformando-se e as relações sociais que surge com estas também. Modo de produção é a maneira pela qual a sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza e como os distribui. É chamado também de sistema econômico. Cada sociedade tem, e sempre terá uma forma própria de produção. Este é constituído por fatores dinâmicos, que estão em constante mudança: as forças produtivas, que se modificam com o desenvolvimento dos métodos de trabalho, com o avanço tecnológico e científico; e as relações de produção, também sujeitas a transformações. Mas quando falamos de modos de produção, imediatamente, lembramos da palavra trabalho.
 Mas afinal, o que é o trabalho?
O trabalho é a atividade ou ação humana que necessita do uso de capacidades físicas e mentais, destinada a satisfazer diversas necessidades. A origem da palavra vem do latim tripalium, nome dado a um instrumento formado por três estacas de madeira, usado na Antiguidade pelos romanos para torturar os escravos e homens livres que não podiam pagar impostos. Em sua raiz, o termo “trabalho” é associado à dor e sofrimento. Com o tempo, o sentido da palavra passa a idéia de uma atividade dura e, durante boa parte da história ocidental o trabalho foi considerado uma atividade depreciável, pois associava-o à atividade de escravo ou de pessoas consideradas inferiores na sociedade. Os gregos, no período clássico, por exemplo, pensavam que só o ócio criativo era digno do homem livre e o trabalho manual era desprezado. O filósofo Aristóteles afirmava que ninguém poderia ser livre e ao mesmo tempo ser obrigado a ganhar o próprio pão. O tempo deveria ser dedicado a aperfeiçoar o intelecto e virtudes como a política, a escrita e as artes.
A concepção e relação do homem com a profissão diz muito sobre a nossa sociedade. Mais do que um meio de sobrevivência e sustento, ela também revela mudanças políticas, culturais e econômicas ao longo da história. O sociólogo Georges Friedmann (1973) reforça que é pelo trabalho que o homem modifica seu próprio meio e pode modificar a si próprio. Trabalhar pode trazer realização pessoal e social ou ainda gerar dignidade ou status perante a sociedade, mas nos tempos de hoje, o trabalho está cada vez mais atrelado à busca de um sentido e de uma expressão pessoal. No livro Prazeres e Desprazeres do Trabalho, o filósofo Alain de Botton (2009) escreve que a expectativa de que o trabalho traga felicidade é uma novidade da sociedade pós-moderna.
Na verdade quem inventou o trabalho fomos nós mesmos, os seres humanos. A partir da relação que o homem estabeleceu com a natureza, foi se inventando formas de se obter da natureza os recursos para a sua sobrevivência. E essa relação homem/natureza foi se dando dentro da história. O trabalho surge na Pré-História, aqui o observamos como algo da coletividade, de todos. Observamos também, o homem inventando instrumentos como a pedra lascada e o machado para sobreviver e, posteriormente, desenvolvendo atividades de caça, pesca, coleta e agricultura. Se a história do homem é a história do trabalho, as ferramentas são partes integrantes e inseparáveis dessa história.
Mas a relação do homem não é só com a natureza, os homens também se relacionam entre si, e nessa questão do trabalho, as ferramentas possibilitaram que a produção aumentasse, e quando isso acontece, ‘’alguns’’ resolvem se apropriar do que era coletivo e começa a partir daí uma exploração do homem pelo homem. Essa exploração é um corte na história. Pra atrás temos a Pré-História, e daí em diante a Antiguidade com a escravidão, a Idade Média com o feudalismo e a Idade Moderna com o capitalismo.
Com o tempo, o desenvolvimento das forças produtivas acarreta mudanças e até rupturas, por meio das revoluções, nos modos de produção. Esses modos de produção não são modelos mecânicos e rígidos, que se adaptam em maior ou menor grau a determinadas sociedades. Na verdade, eles surgem historicamente sem jamais se desligarem da sociedade com todos os elementos que a compõem. Esse processo de desenvolvimento é responsável pelo surgimento de alguns dos principais modos de produção já existente.
 Modo de Produção Primitivo ou Comunal
Característico da Pré-História, o trabalho aqui era uma tarefa de subsistência, o modo de produção era coletivo, não existia a propriedade privada e nem a figura do Estado. Tudo que se conseguia da natureza era dividido entre os indivíduos daquela sociedade. As mercadorias eram produzidas de forma simples para suprir a necessidade de sobrevivência do homem.  Desta forma as mercadorias que eram produzidas já tinham um objetivo e o destino certo para serem trocadas.  O modo de produção primitivo ou comunal foi o único modelo de comunismo implantado pela humanidade.
Modo de Produção Escravista
Civilizações como a persa, egípcia, grega e a romana utilizaram o trabalho de escravos, conquistados principalmente através de guerras,em menor número, a escravização por dívidas, ou mesmo quando homens empobrecidos se vendiam como escravos como forma de sobrevivência. No Egito, por exemplo, os escravos eram em geral prisioneiros de guerra, os quais não eram a principal força de trabalho. Comparados aos outros povos antigos, os egípcios eram mais tolerantes com seus escravos. A Grécia e principalmente Roma, utilizaram o trabalho escravo em larga escala, tanto no campo como nas cidades e até como gladiadores. Gregos e romanos foram talvez os que mais se assemelharam aos ocidentais através do comércio e da desumanização do ser humano. Contudo, estas civilizações não teriam tido êxito em sua ascendência se não fosse o trabalho escravo, ou seja, a grandeza delas esta diretamente ligada ao trabalho de homens, mulheres e crianças desumanizados e dominados. Não podemos aqui confundir este tipo de escravidão com a escravidão negra ocorrida nas Américas. A escravidão negra estava inserida no modo de produção inicial do capitalismo, chamado de mercantilismo. Até nos dias atuais, infelizmente, ainda há problemas relacionados ao trabalho escravo. 
 Modo de Produção Feudal
Formado por senhores e servos, o feudalismo foi um modelo econômico que ocorreu na Europa durante a Idade Média. Aqui os servos não eram escravos, pois não podiam ser vendidos e nem eram propriedade dos seus senhores, mas não eram livres, pois não podiam abandonar o feudo. Trabalhavam nas terras de seus senhores em troca de casa e comida, revezando entre trabalhar uns dias para o senhor e outros para eles mesmos. No feudalismo, o poder político é descentralizado (cada feudo era como se fosse um pequeno país, com suas próprias leis, sistema de pesos e medidas, impostos e até moeda em alguns casos). A economia dos feudos era praticamente autônoma ou autárquica, ou seja, produziam tudo o que era necessário para sobreviver (alimentos, roupas, móveis, etc.); isso se explica devido ao clima de insegurança total nas estradas, já que a época era caracterizada pela invasão dos povos bárbaros e pelo clima geral de violência, pois o poder do senhor feudal residia na sua capacidade de possuir mais terras e isso só era possível através de seu poder militar e bélico.
A sociedade feudal era composta por três estamentos (nobreza, clero e servos); no senso comum da época, a nobreza existia para guerrear e defender o feudo, o clero tinha função ideológica: eram vistos como os donos das verdades divinas, as quais recebiam e entregavam à sociedade; além disso, o clero justificava a sociedade estamental  como se fosse a vontade divina, além de ser o único estamento que sabia ler e escrever; com sua forte influência ideológica, mantinham os servos alienados, evitando assim a revolta. Para os servos, restava a função de trabalhar duro e sustentar os demais estamentos. Estavam presos à terra, sofriam intensa exploração, eram obrigados a prestarem serviços à nobreza e a pagar-lhes diversos tributos em troca da permissão de uso da terra e de proteção militar.
A crise do sistema Feudal
O feudalismo permaneceu na Europa até o século XIV, mas alguns acontecimentos históricos, culturais, políticos e sociais fizeram com que esse modelo econômico entrasse em declínio. Fatores como a ascensão da burguesia nas cidades medievais, que passaram a ter uma intensa movimentação comercial nesse período; a descoberta de novas riquezas e produtos com as Grandes Navegações, a crise no campo, as revoltas camponesas, a Peste Negra, entre outros, forçaram tanto os senhores feudais quanto os burgueses que estavam em ascensão a traçarem estratégias de desenvolvimento de suas estruturas econômicas. Não se pode dizer, portanto, que as forças do capitalismo estavam em latência apenas nos comerciantes das cidades. Estavam elas também no campo, nos feudos, haja vista que o desenvolvimento comercial acabou favorecendo, em alguns casos, os senhores feudais. 
A estrutura econômica da sociedade capitalista nasceu da estrutura econômica da sociedade feudal. A decomposição desta liberou elementos para a formação daquela. (MARX, 1985, p.830) No processo de expropriação, os camponeses ficam privados de seu meio de produção (a terra), ocorre assim, à dissociação entre o trabalhador e a propriedade. Os camponeses são obrigados a assalariarem-se, para garantir sua sobrevivência. Com a desagregação das relações sociais de produção feudais, o trabalho torna-se livre e o trabalhador, agora, está liberto para vender sua força de trabalho. De acordo com Marx: “O processo que produz o assalariado e o capitalista tem suas raízes na sujeição do trabalhador. O progresso consistiu numa metamorfose dessa sujeição, na transformação da exploração feudal em exploração capitalista.” Com a dissolução das vassalagens feudais, é lançado ao mercado de trabalho uma massa de proletários, de indivíduos sem direitos. (MARX, 1985). A Chamada acumulação primitiva é apenas o processo histórico que dissocia o trabalhador dos meios de produção. É considerada primitiva porque constitui a pré-história do capital e do modo de produção capitalista
Foi do campo que nasceram as bases materiais para a indústria, sobretudo no caso inglês, e, ao mesmo tempo, a experiência do comércio nas cidades criou a sofisticada relação de troca monetária, que foi a base do crédito e do sistema financeiro que se desenvolveu posteriormente. A Revolução Inglesa do século XVII foi decisiva para a formação das condições de aparecimento da industrialização. Com a indústria, o sistema capitalista passou a ser imperativo e complexo, gerando a divisão acentuada do trabalho nas cidades e o aumento do grande fluxo da massa de operários.
A Revolução Industrial
Os conceitos “classe operária” e “burguesia industrial” surgiram após a Revolução Industrial na Inglaterra da segunda metade do século XVIII. Novas tecnologias como o tear mecânico, a máquina a vapor e a fiandeira hidráulica aumentaram a produção de manufaturas, assim como o Iluminismo influenciou a adoção da organização taylorista.
A Revolução Industrial criou novas condições de vida e transformações, como a mudança nas relações entre os trabalhadores (força de trabalho assalariada) e os proprietários dos meios de produção (burguesia industrial). Com o fim da escravidão oficial, surge a contratação por tarefas em países colonizados. Na Europa, durante o século XIV, as atividades fabris foram responsáveis por um intenso processo de urbanização, consumo e produção em massa. Mas apesar de remunerados, os trabalhadores recebiam baixos salários e atuavam em jornadas exaustivas de trabalho (até 18 horas por dia) sendo comuns as mortes por exaustão e acidentes. As relações eram extremamente desiguais. Os donos acumulavam verdadeiras riquezas e os operários viviam em condições precárias. Surge então o início do movimento operário, que reivindicava direitos trabalhistas inéditos e melhores condições de trabalho.
Um dos principais teóricos do trabalho foi o filósofo Karl Marx, que analisou os desdobramentos do sistema capitalista. Ele acreditava que o trabalho é uma condição essencial para que o homem seja cada vez mais livre e dono de si. Porém, o capitalismo é cheio	 de contradições, a riqueza de uns é a miséria de muitos, e mercantiliza todas as relações, a mercadoria domina e determina tudo. Marx usou o termo “alienação” para se referir ao processo de estranhamento do trabalhador em relação ao sentido da atividade produtiva, quando o trabalho deixa de ser a satisfação de uma necessidade para se tornar apenas um meio para satisfazer as necessidades externas a ele. Com a alienação do trabalho, o trabalhador aliena-se também do gênero humano, daquilo que o faz ser gente. Na obra O Capital, Marx escreve: “quanto mais o operário se esgota no trabalho, tanto mais poderoso se torna o mundo estranho, objetivo, que ele cria perante si, mais ele se torna pobre e menos o mundo interior lhe pertence. Assim, capital, trabalho e alienação promovem a coisificação do mundo e suas regras devem ser seguidas passivamente pelosseus componentes. Para Marx, a tomada de consciência de classe e a revolução são o caminho para a transformação social.
Para o sociólogo Émile Durkheim a divisão social do trabalho seria fundamental para a coesão social. Ele entende que cada uma das partes é responsável pelo bom funcionamento da sociedade e precisa trabalhar para tanto. Os indivíduos aceitam o lugar social que lhes é dado desde que impere uma ordem social e solidária, que leve justiça a todos os seus membros.  
Toda essa complexa rede industrial e comercial, a nível mundial, que vemos hoje atrelada ao também complexo sistema financeiro, (bancos, bolsas de valores etc.) é fruto desse processo de ascensão do sistema capitalista, que começou no século XIV.
O Modo de Produção Capitalista
Segundo Marx, o homem relaciona-se com outros seres humanos, dando origem às relações de produção e o conjunto dessas relações leva ao modo de produção. Esse sistema de produção divide a sociedade em duas classes distintas: a dos proprietários e a dos não proprietários das ferramentas de trabalho ou dos meios de produção. Para sobreviver, esta última o homem é obrigado a vender para a primeira sua única propriedade, a força de trabalho. Esse processo gera uma desigualdade muito grande entre as classes, pois a classe dos proprietários, a fim de acumular capital, explora a classe dos expropriados como se fosse parte de sua propriedade, o que caracteriza o capitalismo. 
 Ao estudar e analisar o pensamento sociológico de grandes pensadores, como os franceses Augusto Comte e Èmile Durkheim e os alemães Max Weber e Karl Marx podemos perceber que cada um deles abordou e explicou de maneira diferente, de maneira peculiar, como se organiza e se desenvolve a sociedade. Enfim, cada um deles nos apresenta métodos e teorias distintas a respeito do estudo científico da sociedade. Marx, por sua vez, interpretava e procurava explicar as relações sociais de sua época através do fator econômico. De acordo com as idéias expressadas por Karl Marx nas suas principais obras: O Manifesto do partido comunista (1848), A luta de classes em França (1850) e O Capital (1867) fica claro que seus trabalhos giraram em torno de estudar, compreender e explicar o Capitalismo como sendo um fruto da sociedade moderna. Portanto, não se pode falar do pensamento sociológico de Marx sem falar do Capitalismo, pois um dos fatores que caracteriza esse sistema é, a produção e para Marx, o estudo do modo de produção é fundamental para se saber como se organiza e funciona uma determinada sociedade.
A trajetória de Marx é marcada pelo desenvolvimento de conceitos importantes, sendo os mais expressivos: classes sociais, alienação, mais valia e modo de produção. Esses conceitos, para Marx, seriam os fatores fundamentais para melhor explicar o processo de socialização.
 Classes Sociais
 Marx em seu pensamento sociológico nos transmite uma mensagem de que as relações sociais entre os homens se dão por meio das relações de oposição, antagonismo e exploração, sendo esta o principal mecanismo de sustentação do capitalismo. Opondo-se às idéias liberalistas, que consideravam os homens, por natureza, iguais política e juridicamente, Marx negava a existência de tal igualdade, e dizia que numa sociedade onde predomina o capitalismo as relações de produção inevitavelmente provocam as desigualdades sociais, sendo que essas desigualdades são à base da formação das classes sociais.
 Marx foi o primeiro autor a empregar o termo “classes sociais” e, segundo ele: A história de todas as sociedades que existiram até hoje tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora aberta, ora disfarçada: uma guerra que sempre terminou ou por uma transformação revolucionária de toda a sociedade, ou pela destruição das duas classes em luta. (MARX, Karl. O Capital). A divisão da sociedade em classes sociais pode ser explicada, segundo Marx, através da “forma como os indivíduos se inserem no conjunto de relações, tanto no plano econômico como no sociopolítico”.
Alienação
 Marx desenvolveu o conceito de alienação mostrando que o processo de industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separam os trabalhadores dos meios de produção, ou seja, os trabalhadores, os homens das ferramentas dos modos de produção pré-capitalista, juntamente com as ferramentas, a matéria prima, a terra e as máquinas tornaram propriedade privada do sistema capitalista. Além da alienação econômica, o homem sofre também a alienação política, pois o princípio da Representatividade, que é a base do liberalismo, criou a idéia de Estado como um órgão político imparcial, responsável por representar toda sociedade e dirigi-la por meio do poder delegado pelos indivíduos dessa sociedade. Marx mostrou, entretanto, que o Estado acaba representando apenas a classe dominante, ou seja, o Estado seria apenas um instrumento de garantia e de sustentação da supremacia da classe detentora dos meios de produção e só age conforme o interesse desta. As classes dominantes economicamente encontravam meios para conquistar o aparato oficial do Estado e, através dele, legitimar seus interesses sob a forma de leis e planos econômicos e políticos.
Mais-Valia
Outro conceito bastante expressivo desenvolvido por Marx foi à mais-valia, que seria o valor que o capitalista vende a mercadoria menos o valor gasto para produzi-la. Para melhor explicar, suponhamos que um operário tenha uma jornada diária de nove horas e confeccione um determinado item em três horas. Nestas três horas, ele cria uma quantidade de valor correspondente ao seu salário, que é nada mais do que aquilo que ele necessita para a sua subsistência, ou seja, o mínimo que ele necessita para sobreviver. Como o capitalismo lhe paga o valor de um dia de força de trabalho, o restante do tempo, seis horas, o operário produz mais mercadorias, que geram um valor três vezes mais do que o que lhe foi pago na forma de salário. Esse valor corresponde às duas partes restantes é a mais-valia. Mais-valia. Por isso, Marx dizia que o valor de uma mercadoria era dado pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção. Sendo assim, os capitalistas podiam obter mais-valia com o simples prolongamento da jornada de trabalho. Maior jornada de trabalho, maior lucro.
O Modo de Produção e o Espaço Público
 	Ao longo de sua existência o homem promoveu transformações no espaço geográfico, seja por habitá-lo, explorá-lo, ou até mesmo usá-lo para satisfazer suas necessidades mais urgentes, apresentadas aqui anteriormente, como fazer fogo, morar, etc. Para Santos (1996), uma sociedade só se torna concreta por meio de seu espaço. A totalidade desse espaço é formada por instâncias ou estruturas (econômicas, jurídico- política e ideológica) e o espaço seria a quarta instância, colocando-se como uma estrutura subordinada e subordinante, um fator social e não apenas reflexo social. Com isso o espaço afirma Santos (1996), é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. 
Nesse sentido, cabe ressaltar o papel que o espaço público teve na Grécia Antiga, talvez o exemplo mais forte que já teve na história com relação à participação de indivíduos de uma sociedade dentro de uma esfera política, embora possamos destacar que a sociedade grega tinha uma contradição inerente, pois ao mesmo tempo em que todos os cidadãos tinham o mesmo direito na democracia, nem todos que viviam nessa sociedade eram considerados cidadãos, excluindo-se dessa condição, as mulheres, os estrangeiros e escravos. 
Na Pólis, só os demos (cidadãos), tinham permissão para opinar sobre as questões da Pólis. A ekklesia (assembléia) era onde se produziam as deliberações e decisões sobre o destino da Pólis. Toda decisão era tomada naekklesia. Podemos dizer que a ekklesia é um exemplo mais claro de democracia direta, e ela forma, portanto uma esfera pública. É claro que existem problemas na formação desta democracia, na medida em que de certa forma tal modelo era sustentado por uma estrutura escravocrata e patriarcal. 
Escravos e mulheres estavam restritos as atividades do oikos (esfera privada), Segundo Arendt (1991), eram submetidos ao labor (atividade física), e nesse sentido eram escravos da necessidade. Tal situação era o que permitiam aos homens participar da esfera pública, afinal eles estavam libertos da necessidade, na medida em que escravos e mulheres lhes provinham aquilo que era da necessidade humana. A definição dessas duas esferas se dá, portanto, nesse período, sendo a esfera privada, aquela necessária á atividades biológicas (labor) e a esfera pública sendo essa necessária a convivência social. A ágora, local de ocorrência da ekklesia, portanto, também de sociabilidade, é o espaço público fundador da esfera pública.
Nesse sentido, cabe ressaltar a contradição existente dentro da sociedade atual. Afinal, o espaço público no atual momento histórico abarca todas as classes e grupos sociais que constituem nossa sociedade. Entretanto, a isonomia de direitos sobre a qual o espaço público é supostamente construído, é algo meramente ideal, isto porque a desigualdade existente no cerne de nossa sociedade produz um espaço público onde uns tem mais direitos que os outros.
Cabe ressaltar que o espaço público não pode ser confundido com qualquer tipo de espaço coletivo que propicie sociabilidade entre as pessoas de uma sociedade, porque existem espaços de encontro que a nosso ver não podem ser chamado de público. (ex: Shopping Center).
O espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoado por sistemas de ações igualmente imbuídos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos ao lugar e aos seus habitantes.
Com relação à ação humana, temos que entender que ela tende a transformar o meio natural em meio geográfico, isto é, em meio moldado pela intervenção do homem no decorrer da história. (SANTOS, 1994, p. 122) Quando um novo momento chega para substituir outro, ele encontra no espaço geográfico formas preexistentes às quais ele deve se adaptar para poder se estabelecer. Assim, o espaço é a condição para a realização do novo modo de produção e os objetos geográficos existentes, instalados para realizar os objetivos da produção em um dado momento, influenciam o modo que se instala e podem permanecer com novas funções e retratando o passado que possibilitou o período atual.
As consequentes transformações decorrentes do processo de industrialização deram na modernidade outro caráter às cidades; diversamente, as cidades pré-industriais eram locais de criação de obras e não de produtos. Essa nova característica, de acordo com Henri Lefebvre (2001), distingue-se na medida em que a cidade deixa de ter um valor de uso e passa a ter um valor de troca, orientando-se irreversivelmente às trocas, ao dinheiro, ao comércio e aos produtos. Com a industrialização firma-se um marco na composição dos espaços e dos tipos de relações que ali se constituem. Lefebvre identifica essa mudança na predominância que as relações de troca passam a ter sobre as relações de uso, configurando agora a nova realidade urbana. Em Cidades rebeldes (David Harvey, 2014) essa perspectiva é retomada pelo autor na medida em que, para ele, o direito à cidade envolve uma luta por direitos comuns. 
Não por acaso, o tema que perpassa toda a obra é aquele que trata a urbanização como meio propulsor ideal ao desenvolvimento da produção de excedente de capital. Sob esta influência e referenciado em fatos históricos, David Harvey expõe as diversas crises urbanas que ainda assolaram as grandes e as pequenas cidades, bem como, e principalmente, o ressurgimento da discussão a respeito do direito à cidade através das mobilizações dos movimentos urbanos difusos por todo o mundo.
 	Harvey destaca os diversos casos de crises e escândalos que envolvem os booms imobiliários atrelados ao modo de urbanização que ocorre em escala global, ás crises geradas pela grande especulação financeira e as altas taxas de juros decorrentes do capital fictício. Além disso, o autor retoma discussões sobre alguns pontos referentes à obra de Karl Marx, tentando mostrar como sua teoria pode ainda contribuir para a compreensão do papel que a urbanização tem desempenhado para a absorção de mercadorias excedentes. Nesse sentido, a análise do processo de urbanização em escala global significa, de acordo com Harvey, uma assombrosa integração dos mercados financeiros, que usam sua flexibilidade para financiar projetos em diversas partes do mundo. A urbanização como algo resultante da produção de excedentes transformou também a qualidade de vida em uma mercadoria. Projetos urbanísticos que prometem um estilo de vida voltado para o consumo, em locais como shopping centers, restaurantes, bares, cafés, centros comerciais, condomínios fechados etc. significam cada vez mais a divisão da cidade em partes distintas: a dos que podem pagar e ter acesso a todos os tipos de serviços e a dos que são cada vez mais subjugados a esse tipo de urbanização, sem direito aos serviços de saneamento e passíveis de casos de desapropriação, o que é destacado e definido por Harvey como “destruição criativa”.
REFERÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARENDT,H. A condição humana. 4.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,1991.
BOTTON, Alain de. Os Prazeres e desprazeres do trabalho. Rio de Janeiro: Rocco,2009.
FRIEDMANN, G.; NAVILLE, P. Prefácio. In: FRIEDMANN, G.; NAVILLE, P. (Org.). Tratado de sociologia do trabalho. São Paulo: Cultrix, 1973. v.2, p. 13-15.
HARVEY, David. Cidades rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
LEFEBVRE, H. A revolução urbana. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008. 3ª reimpressão.
MARX,K.(1970). O trabalho alienado. In K. Marx, Manuscritos econômico-filosóficos (PP. 157-172). Lisboa: s.e.
.MARX, K. A Chamada Acumulação Primitiva. In: O Capital. Lv. I, Vol. 2, São Paulo: Difel, 1985.
MARX, K. H.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. 10. ed. São Paulo: Global, 2006
SANTOS, M. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996, [2002].