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HABEAS DATA

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HABEAS DATA 
 Segundo José Afonso da Silva, o habeas data é um remédio constitucional que tem 
por objeto proteger a esfera íntima dos indivíduos contra as ilegalidades ou abusos de 
poder oriundos dos servidores ou agentes públicos, especificamente com relação aos dados 
e informações registrados no Poder Público e demais entidades que exerçam função ou 
atividade pública referentes aos administrados. É, pois, um instrumento jurídico e 
processual, ação de cunho civil, de que dispõe a pessoa física ou jurídica, órgãos públicos 
despersonalizados dotados de capacidade processual como Chefias do Executivo; 
Presidências das Mesas do Legislativo entre outros ou também universalidades de bens 
reconhecidas por lei como massa falida, espólio. Com o escopo de assegurar o 
conhecimento de registros concernentes ao postulante e constantes de repartições públicas 
ou particulares acessíveis ao público, para retificação de seus dados pessoais. 
 Encontra-se regulado pela lei n.º 9.507 de 12 de novembro de 1997 no seu artigo 7, 
tendo por objeto o acesso do sujeito ativo (postulante – autor) aos registros de informações 
e dados sobre si e suas atividades, possibilitando desde a simples visualização à retificação 
de tais dados ou informações. 
A Constituição de 1988 concebeu o habeas data como instituto destinado a assegurar 
o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante constantes de registros ou 
bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público e para permitir a 
retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo de modo sigiloso. 
Concebido como instrumento de acesso aos dados constantes dos arquivos do Governo 
Militar, o habeas data acabou por se constituir em instrumento de utilidade relativa no 
sistema geral da Constituição de 1988. 
 Habeas Data significa literalmente ‘tenha o dado’. Em sentido jurídico, é também um 
writ, assim concebido pela Assembleia Constituinte de 1988, para a tutela da honra, da 
tranquilidade, do patrimônio, da vida privada, entre outros valores, contra os atentados 
porventura praticados por organismos públicos ou de caráter público, na anotação e 
registro de informações acerca das pessoas. Esses dados, embora referentes às pessoas, 
frequentemente se tornam inacessíveis a elas, de modo que não se consegue saber o que 
está constando de determinado registro público de dados. Visa, pois, o habeas data 
assegurar o acesso a essa espécie de informação, por via eficaz, especial, mandamental e 
sumária. 
LEGITIMIDADE ATIVA 
 O Habeas Data poderá ser ajuizado por qualquer pessoa física, brasileira ou 
estrangeira, bem como por pessoa jurídica. Saliente-se, porém, que a ação é 
personalíssima, vale dizer, somente poderá ser impetrada pelo titular das informações. 
Quanto à legitimidade ativa, se faz mister a presença dos requisitos das condições da ação, 
que, já dito anteriormente, são: a legitimidade processual, interesse processual e 
possibilidade jurídica do pedido. Assim sendo, faltando qualquer um destes requisitos, a 
petição inicial de habeas data será indeferida. Segundo Pedro Lenza 2012 P. 1057. 
LEGITIMIDADE PASSIVA 
 No polo passivo, podem figurar entidades governamentais, da Administração Pública 
Direta (União, Estados, DF e Municípios) e Indireta (as autarquias, as Fundações 
instituídas e mantidas pelo Poder Público, as Empresas Públicas e as Sociedades de 
Economia Mista), bem como as instituições, entidades e pessoas jurídicas privadas 
detentoras de banco de dados contendo informações que sejam ou possam ser transmitidas 
a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou 
depositária das informações (ex: as entidades de proteção ao crédito, como o SPC, o 
SERASA, entre outras). Segundo Pedro Lenza 2012 P. 1057. 
NATUREZA JURÍDICA 
 É irrelevante a natureza jurídica da entidade, que poderá ser pública ou privada. O 
aspecto que determinará o cabimento da ação será o fato de o banco de dados ser de caráter 
público. 
 Aspecto importante do cabimento do habeas data diz respeito à exigência legal de 
que a ação somente poderá ser impetrada em Juízo diante da prévia negativa da autoridade 
administrativa de fornecimento (ou de retificação ou de anotação da contestação ou 
explicação) das informações solicitadas. Portanto, para que o interessado tenha interesse de 
agir, para o fim de impetrar habeas data, é imprescindível que tenha havido o requerimento 
administrativo e a negativa pela autoridade administrativa de atendê-lo, devendo tal 
negativa ou omissão da autoridade administrativa vir comprovada na petição inicial (art. 8, 
par. Único, da Lei 9.507/97). 
COMPETÊNCIA 
 A competência para o julgamento do Habeas data foi delineada pela Constituição, 
tendo por critério a pessoa que pratica o ato (ratione personae). Exs: art. 102, I, d: 
competência originária do STF para processar e julgar habeas data contra atos do 
Presidente da República; art. 105, I, b – competência originária do STJ para processar e 
julgar habeas data contra atos dos Ministros de Estado, dos Comandantes da Marinha, do 
Exército e da Aeronáutica, ou do próprio Tribunal. 
 O direito e a garantia à informação vêm tendo, desde o século passado, uma evolução 
muito grande a ponto de estar positivado nas constituições ocidentais norma garantidora de 
direitos. A origem constitucional do habeas data é o art. 5º, LXII da Carta Magna vigente, 
pois somente nesta é que ficou explícito o instituto ora estudado. O habeas data é ação 
constitucional que visa à proteção, o direito à informação, bem como a retificação e a 
complementação das informações referentes ao paciente impetrante. 
Os objetivos do writ são: direito de acesso aos registros; direito de retificação destes 
registros, e o direito de complementar tais registros. Os pressupostos do habeas data são 
em número de três: primeiro, que as informações digam respeito ao próprio impetrante, e 
não de terceiros (daí se deduz que fica impossibilitado o litisconsórcio ativo a fim de se 
verificar informação de somente um paciente); segundo, que tais informações realmente 
existam nos bancos de dados, e terceiro, que estas informações estejam inseridas nos 
registros ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público, bem como 
que o prévio conhecimento destas informações estejam claramente identificado como 
incorretas, falsas ou incompletas. 
 Somente a pessoa a que se refere à informação pode ser o paciente do writ, pois se 
trata de um direito personalíssimo. A competência para o processamento e julgamento do 
habeas data está prevista no artigo 20 da Lei 9.507/97, e nos artigos 102, I, ‘d’ e 105, I, ‘b’, 
ambos da Constituição Federal. 
 
 
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 21° Ed. São Paulo: Saraiva, 2017. 
 
SILVA, José. Curso de Direito Constitucional Positivo, 32°. ed. São Paulo: Malheiros 
Editora, 2008.

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