Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Curso - Biologia Componente Curricular - Anatomia Humana Professor - Gabriel Ribeiro Atividade de Aprendizagem INTERPRETAÇÃO DE UM ARTIGO CIENTÍFICO SOBRE A DERIVAÇÃO BLALOCK-TAUSSIG Data: _____/_____/______ Nome: _______________________________ Nome: ______________________________ Nome: _______________________________ Nome: ______________________________ Nome: _______________________________ OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM (Re)construir conhecimentos sobre morfofunção do sistema circulatório; (Re)construir visões sobre natureza da ciência; INTRODUÇÃO A presente atividade de aprendizagem está orientada para o alcance dos objetivos de aprendizagem acima assinalados. Traduz-se na interpretação um texto sobre a História da Ciência, acerca do sistema circulatório, a partir de um conjunto de questões orientadoras que estão localizadas após a apresentação desse texto. Especificamente, esta atividade consiste na interpretação de um artigo científico sobre a história de um procedimento cirúrgico para o tratamento da tetralogia de Fallot, uma doença cardíaca congênita caracterizada por quatro alterações na morfologia do coração. O texto refere-se aos cientistas (figuras abaixo) implicados na elaboração do procedimento denominado derivação sistêmica pulmonar ou derivação Blalock-Taussig. A tetralogia de Fallot foi descrita pela primeira vez em 1888 por Etienne-Louis Arthur Fallot e corresponde, atualmente, a 10% de todas as cardiopatias congênitas, sendo a cardiopatia congênita cianótica (que causa cianose — coloração roxo-azulada da pele, lábios e dedos) mais comum (Santos, Pereira, Camacho, Marques, Matos & Gomes, 2009). Vivien Thomas (1910-1985) Alfred Blalock (1899-1964) Helen Taussig (1898-1986) CHEGOU O MOMENTO PARA MUDAR O NOME DA DERIVAÇÃO BLALOCK-TAUSSIG? ARTIGO CIENTÍFICO1 A origem da operação “bebê azul”, agora conhecida como derivação Blalock-Taussig padrão, se destaca como um dos momentos mais dramáticos da história da medicina do século 20. Esta foi tão ousada, em sua concepção, que o Chefe de Anestesiologia do Hospital Universitário Johns Hopkins, Austin Lamont, recusou-se a realizar o anestésico para o primeiro paciente. Alfred Blalock e Helen Taussig, criadores da operação “bebê azul”, conseguiram um raro grau de fama, ambos pelo pioneirismo no campo da cirurgia cardiovascular pediátrica e por suas outras realizações científicas. A estatura de suas carreiras, no entanto, obscurece as grandes contribuições de uma terceira pessoa na criação da derivação Blalock-Taussig, um graduado do ensino médio chamado Vivien Thomas, que realmente realizou a primeira derivação (desvio) da artéria subclávia para a artéria pulmonar. Vivien Thomas tornou-se técnico de laboratório de Blalock, em 1930, 14 anos antes da primeira operação bebê azul, enquanto Blalock estava na Universidade de Vanderbilt. No outono de 1929, Thomas, que aspirava uma carreira médica, tinha se inscrito no Tennessee State College, que era então limitado a estudantes afro-americanos. No entanto, o dinheiro que tinha guardado, enquanto trabalhava como carpinteiro durante seus anos de colégio, foi perdido quando o banco com o qual operava faliu naquele mesmo ano. Assim, ao final de seu primeiro semestre, Thomas foi forçado a deixar a universidade para encontrar um emprego. Sua busca terminou no laboratório de Alfred Blalock, depois de uma dica de um amigo de escola. Em 1924, Blalock não conseguiu obter uma residência em cirurgia em sua universidade de origem, Johns Hopkins. Então, ele passou à Universidade Vanderbilt, por sugestão de seu bom amigo Tinsley Harrison, o autor do livro médico de mesmo nome. Após chegar a Nashville, Blalock, foi colocado no comando do laboratório de cirurgia experimental pelo Dr. Barney Brooks, chefe da cirurgia. Embora decepcionado por não ter recebido o laboratório de anatomia patológica, ele atirou-se para a pesquisa referente ao choque traumático2. Pouco depois, ele adoeceu com tuberculose e foi impedido de todas as obrigações, mas, quando a sua saúde voltou, ele completou sua residência em cirurgia. Blalock, então, assumiu uma posição na Universidade Vanderbilt, o que restringiu o seu tempo no laboratório. Ele precisava de ajuda no laboratório, “alguém que pudesse fazer tudo o que ele fazia e, talvez, algumas coisas que ele não pudesse”. Não fica claro se Blalock percebeu imediatamente a inteligência e talentos do homem que contratara e com quem ele iria trabalhar pelo resto de sua carreira. Mas as habilidades de Vivien Thomas rapidamente se tornaram evidentes. Na época, Blalock estava usando um modelo de coelho para estudar choque traumático. Thomas rapidamente aprendeu as técnicas cirúrgicas necessárias para fazer esses estudos, em grande parte, realizados sozinho. Blalock, normalmente, ficava no laboratório à tarde quando os dois discutiam os resultados de Thomas. Blalock definia o tom para essas discussões e escolhia a direção de cada conjunto de estudos, mas, muitas vezes, solicitava as opiniões de Thomas. Thomas, frequentemente, tinha que improvisar suas técnicas de laboratório para completar as experiências. Os estudos de Blalock e Thomas estabeleceram que as alterações hemodinâmicas do choque traumático eram devido à perda de volume intravascular. Este trabalho serviu de base para a terapia reconhecida por salvar inúmeras vidas durante a Segunda Guerra Mundial e daí em diante. Em 1938, Blalock expandiu os estudos que realizava sobre a hipertensão e desenvolveu um protocolo visando à produção de hipertensão pulmonar. Para isso, ele pediu a Thomas para realizar uma derivação (desvio) da artéria subclávia para a artéria pulmonar. Os experimentos não conseguiram produzir a hipertensão pulmonar desejada. Os pesquisadores não perceberam que não tinham seguido os animais por tempo suficiente após a anastomose (comunicação natural ou cirúrgica entre vasos). No entanto, a experiência, sendo capaz de aumentar o fluxo sanguíneo pulmonar com esta anastomose, lançou as bases para o seu trabalho posterior com bebês azuis. Como sua reputação cresceu na década de 1930, com publicações sobre choque traumático e hipertensão, Blalock foi recrutado por outras instituições. Quando ele disse ao Hospital Henry Ford em Detroit, Michigan, que ele só iria se levasse consigo Thomas, Blalock foi informado de que lá não haveria posição para Thomas. Blalock desistiu. Uma instituição que não se intimidou com a fidelidade de Blalock para com Thomas ou pela raça de Thomas foi sua universidade de origem, o Hospital Universitário Johns Hopkins. Apesar das boas-vindas a Blalock e Thomas, nenhum afro-americano no hospital tinha um cargo com responsabilidades semelhantes às de Thomas. Quando Blalock partiu de Nashville em 1941, para se tornar presidente do Departamento de Cirurgia do Hopkins, Thomas acompanhou-o até Baltimore. Em 1938, antes da sua partida para Hopkins, Dr. Robert E. Gross corajosamente realizou o primeiro fechamento de uma persistência do canal arterial3, pouco depois de completar a sua residência principal no Hospital das Crianças, em Boston. Este relatório mostrou, pela primeira vez, que as crianças poderiam tolerar uma grande operação torácica. Parece não haver nenhum registro do que Blalock pensou sobre o sucesso de Gross, mas, pouco depois do feito de Gross, Blalock realizou o fechamento de uma persistência do canal arterial, em Vanderbilt. Helen Taussig, uma pediatra, havia completado sua residência em pediatria na Universidade Johns Hopkins. Ela encaminhou-se para o Hopkins depois de ter sido rejeitada pela universidade onde fez a sua graduação,Harvard4. Como estudante de graduação, ela havia realizado os primeiros estudos sobre o músculo cardíaco que demonstraram a sua automaticidade intrínseca. Taussig sofria de dislexia e, depois de ganhar seu diploma de médica, desenvolveu perda auditiva significativa, provavelmente devido a um ataque de tosse, de coqueluche. Apesar desses problemas, ela estava entre os primeiros médicos a dedicar a sua carreira à pediatria cardiológica. Quando Taussig ouviu falar do sucesso da ligadura do canal arterial, ela viajou de Baltimore a Boston para ver Gross em pessoa. Ela explicou que queria que ele desenvolvesse um shunt (desvio) para obter mais sangue para os pulmões de seus pacientes cianóticos. Ela acreditava que o aumento do fluxo sanguíneo pulmonar iria melhorar a sua oxigenação e fornecer aos pacientes esperanças. Ele respondeu que não poderia ajudá-la. Então, ela voltou para Baltimore, mas sem renunciar à sua esperança. Pouco depois de chegar a Baltimore, Blalock e Thomas começaram uma abordagem experimental para o alívio da coarctação (estreitamento) da aorta. O presidente da pediatria Edwards A. Park tinha mencionado o defeito em uma conversa informal com Blalock, que hipotetizava que um desvio da artéria subclávia esquerda para a aorta torácica descendente poderia contornar com sucesso a parte estreita da aorta5. Para criar um desvio, Thomas dividiu a artéria subclávia esquerda e desenvolveu uma anastomose entre a extremidade da artéria subclávia esquerda dividida e a porção lateral da aorta torácica descendente. Thomas criou esse desvio em uma era antes da cirurgia vascular ou do desenvolvimento de qualquer uma das ferramentas desse campo. Ele teve de modelar suas próprias agulhas vasculares e ferramentas. Em 1943, Park convidou Blalock para discutir essas experiências com os membros de seu departamento. Após a conversa, Taussig aproximou-se de Blalock e perguntou se ele poderia fazer algo para ajudar seus pacientes cianóticos. Blalock parecia entusiasmado, mas disse que eles teriam que discutir o assunto com Thomas. Taussig descreveu as lesões da tetralogia de Fallot6, para ambos, em um encontro posterior. Ela estava há anos frustrada pela sua incapacidade de fazer qualquer coisa por esses pacientes, exceto vê-los morrer. Taussig disse a Blalock e Thomas que tinha certeza de que deveria haver uma maneira de reorganizar a canalização para obter mais sangue para os pulmões. Ambos imediatamente entenderam que seus estudos anteriores sobre hipertensão arterial pulmonar poderiam, finalmente, ser bem sucedidos, mas de uma maneira que nunca tinham imaginado. Seus esforços para criar um modelo animal adequado à tetralogia coincidiram com a frustração repetida. Ambos pensaram que seria necessário produzir uma redução permanente da artéria pulmonar para imitar a estenose pulmonar (estreitamento da artéria pulmonar). Embora isto pareça bastante simples, não existiam estudos anteriores que pudessem servir de referência para ajuda-los, então, eles começaram uma série de experimentos de tentativa e erro. Thomas achou que a sutura e a fita umbilical, fixadas em torno da artéria pulmonar, simplesmente rasgavam sem o efeito hemodinâmico restritivo. Quando um tubo cirúrgico foi utilizado, um grau adequado de cianose não foi alcançado até o débito cardíaco7 ser afetado de forma irreversível. Esses dados sugeriram a Blalock que a mistura de lesões da tetralogia, em vez da estenose pulmonar, deveria ser reproduzida em laboratório. Assim, ele orientou Thomas para criar uma comunicação entre a artéria e a veia pulmonar direita. Esta anastomose produziu hemorragia pulmonar fatal, então eles decidiram remover o pulmão direito e fundir completamente a artéria e a veia pulmonar direita. Este modelo alcançou o nível desejado de cianose com policitemia (aumento no número de hemácias) compensatória, mas exclui qualquer possibilidade de reparação cirúrgica, pois a artéria pulmonar esquerda teria de ser transitoriamente ocluída para fazer uma derivação da artéria subclávia para a artéria pulmonar, deixando o animal sem o fluxo sanguíneo pulmonar. Blalock e Thomas decidiram retirar vários lobos (divisões dos pulmões), em vez de remover todo o pulmão direito. O nível de cianose não era tão grave (como no procedimento anterior), mas Thomas foi capaz de tentar a derivação da artéria subclávia para a artéria pulmonar. Thomas necessitava, então, sintetizar suas experiências anteriores. Ele aplicou o conceito de anastomose para desvio da artéria subclávia em função de coarctação da aorta, na anastomose da artéria subclávia para a artéria pulmonar. O procedimento anterior tinha sido uma anastomose entre a extremidade de um vaso e a extremidade do outro. Na criação do tratamento para a tetralogia, ele (Thomas) utilizou uma anastomose entre a extremidade da artéria subclávia e a porção lateral da artéria pulmonar. O primeiro cão tolerou bem o procedimento, incluindo o pinçamento da artéria pulmonar esquerda (que seria ligada à artéria subclávia esquerda). Sua cor melhorou assim que Thomas removeu o grampo da artéria pulmonar. Anna (o cão), como ficou conhecida, se recuperou rapidamente e mostrou uma diminuição gradual em seu hematócrito (percentagem de células vermelhas no sangue). Vivendo os próximos 15 anos vivendo no laboratório, Anna tornou-se uma celebridade, a primeira paciente bebê azul. A Associação de Cuidados Animais de Baltimore foi contratada para pintar o retrato dela e apresentá-lo no Hospital Johns Hopkins. Muitos outros cães seguiram os passos de Anna e sobreviveram ao experimento. No outono de 1944, depois de analisar os resultados de Thomas, Blalock decidiu avançar para a sala de cirurgia com a derivação (desvio) da artéria subclávia para a artéria pulmonar. O primeiro paciente foi Eileen Saxon, uma menina de 15 meses, pesando menos que 4,5 Kg. Suas crises hipercianóticas graves foram, muitas vezes, caracterizadas por desmaios, quando não estava em uma tenda de oxigênio. Blalock tinha planejado auxiliar Thomas em uma cirurgia no laboratório e, em seguida, realizar vários procedimentos em cães, antes de operar qualquer paciente. O estado de Eileen tornou-se mais crítico e ambos, Blalock e Taussig, julgaram que a operação deveria ocorrer. Como resultado, a cirurgia foi marcada após Blalock auxiliar Thomas em apenas um procedimento laboratorial. Thomas ajudou o supervisor da sala de cirurgia a encontrar os instrumentos necessários. A sala de operações tinha toda a instrumentação para cirurgia pediátrica, mas não o que era necessário para a cirurgia vascular em uma criança. As agulhas cirúrgicas tinham de ser encurtadas porque elas eram muito longas para manipulação durante a realização da anastomose entre a extremidade (da artéria subclávia) e a porção lateral (da artéria pulmonar). Além disso, Blalock teve de utilizar o mesmo material de sutura que foi utilizado por Thomas nas experiências laboratoriais, seda trançada 5.0. Austin Lamont, o presidente do Departamento de Anestesiologia em Hopkins, havia se recusado a anestesiar Eileen para um pequeno procedimento, uma ou duas semanas antes, pois ele não acreditava que ela iria tolerá-lo. Então, quando chegou a hora de Blalock levar Eileen à sala de cirurgia, Merel Harmel, uma enfermeira anestesista, teve que realizar a anestesia com éter para o Dr. Blalock. Em 29 de novembro de 1944, Thomas chegou ao laboratório e configurou o aparelho Van Slyke, pois ele sabia que seria necessária a realização de uma gasometria em Eileen após a operação. No decurso da preparação do Van Slyke, Thomas recebeu um telefonema do secretário de Blalock afirmando que “O Professor”, como Blalock ficou conhecido, queria Thomas na sala de cirurgia. Thomas relata em sua autobiografia que ele não tinhaido para a sala de cirurgia antes, pois ele não queria fazer com que Blalock ficasse nervoso ou ficar nervoso por causa do Professor. Pouco depois, Thomas tomou um lugar no teatro acima da sala de cirurgia, então, Blalock se virou e fez um gesto para que ele descesse para a mesa de operação, onde ele tinha um elevado colocado diretamente atrás de seu ombro. A partir desse ponto de vista, o graduado do ensino médio, filho de um carpinteiro, guiou um dos maiores cirurgiões do século 20 através de um procedimento cirúrgico revolucionário, dando início à era da cirurgia cardíaca pediátrica. Muitas vezes, durante a operação, Blalock baseou-se na experiência e opinião de Thomas, desde o comprimento da incisão na artéria pulmonar ao espaçamento das suturas. Ele continuaria a contar com a experiência de Thomas em muitos procedimentos que viriam. Quando as cortinas foram removidas, a cor de Eileen havia melhorado bastante. Ela parecia estar indo bem até que ela desenvolveu pneumotórax (acumulação de ar cavidade pleural) de tensão bilateral, que foi tratado com sucesso. Ela precisou de aproximadamente duas semanas de terapia intensiva e, finamente, teve alta hospitalar. Com esse sucesso, Blalock e Taussig estavam ansiosos para continuar a utilizar o procedimento. Os próximos dois pacientes tiveram procedimentos relativamente simples, novamente com Thomas de pé, logo atrás Blalock, ajudando o Professor, através das cirurgias. Os casos desses três primeiros pacientes foram resumidos no relatório “O tratamento cirúrgico das malformações do coração em que há estenose pulmonar ou atresia pulmonar”, que foi publicado no Journal of the American Medical Association, em maio de 1945. O manuscrito não continha o nome de Thomas. Esta publicação, e os numerosos artigos de jornal, trouxeram uma torrente imprevista de publicidade e atenção para Blalock, Taussig e para o Hospital Universitário Johns Hopkins. Seus serviços clínicos ficaram quase lotados por famílias que viajam de todo o país e de muitos países estrangeiros, esperando por ajuda para seus filhos. Thomas descreveu como Taussig aplaudia “extremamente feliz quando os pacientes inundavam sua clínica”. Os médicos também vinham a Hopkins para aprender com Blalock e Taussig. Thomas provinha muitos dos visitantes com insights sobre os requisitos para realizar o procedimento experimental. Existia pouca cirurgia torácica experimental sendo realizada naquela época e Thomas, com a ajuda dos mecânicos da Hopkins, também forneceu ventiladores mecânicos para muitos visitantes, proporcionando-lhes a oportunidade de realizar o procedimento no laboratório, antes de iniciar a cirurgia clínica. Embora alguns membros da comunidade médica se ressentissem da atenção que a operação bebê azul trouxera a esses dois pioneiros, o procedimento solidificou o lugar de ambos, Blalock e Taussig, na história. Thomas passou a contribuir com muitas outras investigações. Ele clama a responsabilidade pela primeira abordagem cirúrgica de transposição das grandes artérias, realizando a primeira septectomia atrial. Dr C. Rollins Hanlon modificou a abordagem de Thomas e publicou o artigo “Transposição Completa da Aorta e da Artéria pulmonar: Observações Experimentais sobre Derivações Venosas como Procedimentos Corretivos” com Blalock, mas sem Thomas como coautor. Denton Cooley, estagiário no primeiro caso do bebê azul, disse que ele sempre considerou a septectomia atrial um procedimento de Thomas. Thomas também contribuiu para o desenvolvimento da desfibrilação elétrica com William Kouwenhouven. Alfred Blalock publicou cerca de 300 artigos médicos durante sua carreira. Vivien Thomas trabalhou com Blalock de 1930 até 1964, quando Blalock se aposentou. Seu nome aparece em menos de dez artigos de Blalock. Mais tarde, em sua vida, Blalock lamentou a alguns de seus primeiros residentes por não ter ajudado Thomas a entrar para a escola médica. Blalock destacou a importância de Thomas no seu trabalho em 1960. Falando ao Instituto Nacional de Saúde sobre os importantes indivíduos no desenvolvimento da cirurgia cardíaca, ele nomeou apenas dois não médicos, Leon Schlossberg, o ilustrador da Universidade Johns Hopkins, e Thomas. Como Hanlon disse, “ambos Blalock e Thomas beneficiaram-se nessa relação”. Na preparação de sua autobiografia, Thomas levou em consideração uma vasta correspondência com o primeiro chefe residente de Blalock no Hopkins, Dr. Mark Ravitch. Thomas não demonstrou qualquer indício de pesar pela atenção recebida de Blalock, nem pela frustração de seus sonhos juvenis. Ironicamente, foi precisamente a frustração dos sonhos de Thomas que lhe permitiram a oportunidade de demonstrar seu brilhantismo e criar a história médica. Da mesma forma, foi o entendimento de Blalock em relação aos talentos de Thomas e sua falta de vontade em ajudá-lo a alcançar seus sonhos pessoais, que o ajudaram a estabelecer seu próprio sucesso. Finalmente, Vivien Thomas contribuiu intensamente tanto com a base científica, quanto com a técnica cirúrgica na derivação Blalock- Taussig. Foi a sua capacidade de colaborar que resultou em uma produção tão longa. Como o Dr. Alan Woods, outros residentes de Blalock disseram: “Era extremamente difícil dizer se o Dr. Blalock teve a ideia original para uma determinada técnica ou se foi uma ideia de Vivien Thomas, pois eles trabalhavam muito bem juntos”. Era comum, na década de 1940, que os autores publicassem artigos com apenas um ou dois nomes. Essa prática começou a se alterar apenas em 1950. Pelos padrões de hoje, a contribuição de Thomas iria atender a qualquer dos critérios mais rigorosos para a autoria. Thomas era um contribuinte intelectual ativo, mantinha meticulosas anotações de laboratório, e, muitas vezes, operava sozinho. Crianças com lesões congênitas cardíacas, cirurgiões cardíacos e cardiologistas se beneficiaram de suas contribuições. É um descuido histórico que o seu nome não seja amplamente conhecido. Assim, torna-se dever de pesquisadores e médicos, de hoje, garantir o lugar de Thomas no panteão dos contribuintes para o desenvolvimento da cirurgia cardíaca pediátrica. O próprio Blalock não iria prosseguir com a operação do bebê azul sem a presença de Thomas. Seria impraticável alterar o nome da derivação Blalock-Taussig, no entanto, neste momento, todos os esforços devem ser feitos para incluir o nome de Thomas sempre que o procedimento é descrito. Como pesquisadores e professores, devemos tomar nossas pistas dos membros da equipe que tratou Eileen Saxon — naquele dia frio de Novembro há quase 60 anos atrás — que não poderiam prosseguir sem Vivien Thomas. Referência bibliográfica BROGAN, Thomas & GEORGE, Alfieris (2003). Has the time come to rename the Blalock-Taussig shunt?. Pediatric Critical Care Medicine, 4, 450–453. NOTAS NOSSAS: 1. Tradução de Gabriel Ribeiro. 2. O choque traumático é causado, normalmente, por uma hemorragia decorrente de um traumatismo corporal. Essa condição leva a uma inadequação generalizada do fluxo sanguíneo por todo o corpo e, consequentemente, a lesões teciduais. 3. O canal arterial ou ducto arterial é uma pequena artéria que conecta a artéria pulmonar à artéria aorta, no período fetal. Esse canal permite que quase todo o sangue flua da artéria pulmonar para a aorta, evitando os pulmões, pois o sangue do feto é oxigenado na placenta da mãe. Após o nascimento, em algumas horas ou dias, ocorre o fechamento desse canal. O canal arterial de algumas crianças não fecha, condição denominada persistência do canal arterial. 4. A Faculdade de Medicina de Harvard não concedeu acesso às mulheres até 1945. A Universidade Johns Hopkins foi a primeira Faculdade de Medicina a inscrever mulheres no corpo estudantil de medicina.5. Na imagem abaixo (à esquerda), é possível observar uma representação da coarctação da artéria aorta (5) e o desvio com enxerto sintético (8), utilizado atualmente, da artéria subclávia esquerda (4) para a artéria aorta torácica (6). Este procedimento é realizado para restaurar o fluxo sanguíneo na artéria aorta. Os outros números correspondem a: (1) arco da aorta, (2) tronco braquiocefálico, (3) artéria carótida comum esquerda e (7) valva aórtica. 6. A tetralogia de Fallot (imagem acima e à direita) é caracterizada por quatro alterações morfológicas: (a) origem da artéria aorta no septo interventricular ou no ventrículo direito; (2) obstrução da artéria pulmonar; (3) comunicação interventricular – CIV; e (4) hipertrofia do ventrículo direito. 7. Quantidade de sangue bombeada pelo ventrículo esquerdo para a aorta a cada minuto. Referência bibliográfica das notas 2), 3), 6) e 7) HALL, John (2012). Fundamentos de Guyton e Hall fisiologia. Rio de Janeiro: Elsevier. Referência bibliográfica da nota 4) VRICELLA, Luca; JACOBS, Marshall & CAMERON, Duke (2013). The birth of a new era: the introduction of the systemic- to-pulmonary artery shunt for the treatment of cyanotic congenital heart disease?. Cardiology in the Young, 23, 852–857. Referência bibliográfica da nota 5) KRASUSKI, Richard (2008). Congenital Heart Disease in the Adult. Cleveland Cardiac Clinic: Center for Continuing Education. Recuperado em 15 de Fevereiro de 2015, de http://www.clevelandclinicmeded.com/medicalpubs/diseasemanagement/cardiology/congenital-heart-disease- in-the-adult/Default.htm OBSERVAÇÃO - foram subtraídos os números das citações ao longo do texto e as referências bibliográficas ao final. Ainda, foram acrescidos comentários, entre parênteses, para facilitar a compreensão do texto. Questões Orientadoras 1. Caracterizem as personalidades históricas (formação acadêmica, tarefas profissionais e dificuldades pessoais encontradas ao longo da vida) envolvidas na elaboração do procedimento cirúrgico, denominado derivação Blalock-Taussig. Em termos gerais, que diferenças existem entre estes cientistas e as personalidades históricas trabalhadas nos outros dois textos? 2. Podemos afirmar que a construção do conhecimento científico (Derivação Blalock-Taussig), por essas três personalidades, foi influenciada por fatores sociais, econômicos e por outros conhecimentos já existentes? Explique considerando estes três aspectos. 3. Por que os bebês que nascem com a tetralogia de Fallot desenvolvem cianose? Explique com base em elementos da anatomia cardíaca. 4. Quais são as modificações anatômicas efetuadas no procedimento cirúrgico denominado derivação Blalock- Taussig? 4.1. Por que este procedimento cirúrgico auxilia no tratamento de pacientes com a tetralogia de Fallot? 4.2. Como surgiu a ideia para a realização da derivação Blalock-Taussig? 5. Expliquem a relevância da descoberta de Thomas, Blalock e Taussig para a época.
Compartilhar