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Concurso de Pessoas

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CONCURSO DE PESSOAS 
 
DIREITO PENAL II – 4º SEMESTRE – PROFESSORA PAOLA JULIEN 
OLIVEIRA DOS SANTOS – ESPECIALISTA EM PROCESSO.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MACAPÁ 
2011 
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ 
CURSO DE DIREITO 
MATERIAL DIDÁTICO: DIREITO PENAL II – PROFª PAOLA SANTOS 
 
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EMENTA: Concurso de pessoas. Conceito. Teorias. Distinção entre co-
autoria e participação. Critérios quanto à punição do partícipe. Concurso 
de agentes e crime plurissubjetivo. Requisitos do concurso de agentes. 
Autoria. Co-autoria. Participação. Concurso de pessoas e crimes por 
omissão. Co-autoria de crime culposo. Incomunicabilidade de elementares e 
circunstâncias (art. 30). Casos de impunibilidade 
 
1. Conceito: O concurso de pessoas, também denominado de concurso de 
agentes, concurso de delinqüentes (concursus delinquentium) ou co-
delinqüência, implica na concorrência de duas ou mais pessoas para o 
cometimento de um ilícito penal. 
Há quem denomine, ainda, o concurso de pessoas de co-autoria ou co-
participação. Ocorre, no entanto, que essas expressões não são 
propriamente sinônimos de concurso de pessoas, mas sim espécies deste 
último, que abrange tanto a autoria quanto a participação. 
Logo, um crime pode ser praticado por uma ou várias pessoas em 
concurso. Pode o sujeito, isoladamente, matar, subtrair, falsificar 
documento, omitir socorro a pessoa ferida etc. freqüentemente, todavia, a 
infração penal é realizada por duas ou mais pessoas que concorrem para o 
evento. Nesta hipótese, está-se diante de um caso de concurso de pessoas, 
fenômeno conhecido como concurso de agentes, concurso de delinqüentes, 
co-autoria, co-deliqüência ou participação. 
O concurso de pessoas pode ser definido como a ciente e voluntária 
participação de duas ou mais pessoas na mesma infração penal. Há, 
na hipótese, convergência de vontades para um fim comum, que é a 
realização do tipo penal sendo dispensável a existência de um acordo prévio 
entre as várias pessoas; basta que um dos delinqüentes esteja ciente de 
que participa da conduta de outra para que se esteja diante do concurso. 
Deve-se distinguir o concurso de pessoas, que é um concurso eventual, e 
assim pode ocorrer em qualquer delito passível de ser praticado por uma só 
pessoa (crimes unissubjetivos), do chamado concurso necessário. Existem 
numerosos delitos que, por sua natureza intrínseca, só podem ser 
cometidos por duas ou mais pessoas, como a bigamia, a rixa, o crime de 
quadrilha ou bando, etc. são estes chamados crimes de concurso 
necessário ou crimes plurissubjetivos. 
2. Teorias do concurso de pessoas 
Há, primordialmente, três teorias que cuidam do assunto: 
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a) Teoria unitária (monista ou monística) - o crime ainda quando tenha 
sido praticado em concurso de várias pessoas, permanece único e 
indivisível. Não se distingue entre as várias categorias de pessoas (autor, 
partícipe, instigador cúmplice, etc.). Sendo todos autores (ou co-autores) do 
crime. Essa posição foi adotada pelo código penal de 1940 ao determinar no 
art. 29 que “quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas 
penas a esse cominadas”. 
b) Teoria pluralista - à multiplicidade de agentes corresponde um real 
concurso de ações distintas e, em conseqüência, uma pluralidade de 
delitos, praticando cada uma das pessoas um crime próprio autônomo. 
Como exceção, o Código Penal adota essa teoria ao disciplinar o aborto (art. 
124 – “Provocar aborto em si mesma ou consentir que outro lho provoque” – 
e art. 126 – “Provocar aborto com o consentimento da gestante”), fazendo 
com que a gestante que permita a prática do aborto em si mesma responda 
como incursa no art. 124 do CP, enquanto o agente provocador do aborto, 
em lugar de ser co-autor dessa infração, responda como incurso no art. 126 
do mesmo código. O mesmo se aplica no contexto da corrupção ativa e 
passiva (art. 333 e 317, CP) e da bigamia (art. 235, caput e §1.°, CP). 
c) Teoria dualista ou dualística - no concurso de pessoas há um crime 
para os autores e outros para os partícipes. Existe no crime uma ação 
principal, que é a ação do autor do crime, o que executa a ação típica, e 
ações secundárias, acessórias, que são as realizadas pelas pessoas que 
instigam ou auxiliam o autor a cometer o delito. 
 
3. Critérios quanto à punição do partícipe 
Para que seja o partícipe punido, impera no Brasil, a teoria da 
acessoriedade limitada, ou seja, é preciso apurar que o autor praticou um 
fato típico e antijurídico, pelo menos. Se faltar tipicidade ou ilicitude, não 
há cabimento em punir o partícipe. 
4. Concurso de agentes e crime plurissubjetivo 
O crime plurissubjetivo é aquele que, para configurar-se, exige a presença 
de duas ou mais pessoas (ex. quadrilha ou bando, rixa, bigamia etc.), 
enquanto que o unissubjetivo é aquele que pode ser praticado por uma só 
pessoa (ex. homicídio, roubo, estupro). O crime plurissubjetivo, justamente 
porque exige mais de uma pessoa para sua configuração, não demanda a 
aplicação da norma de extensão do art. 29 (quem concorre para o crime 
incide nas suas penas), pois a presença de dois ou mais autores é 
garantida pelo tipo penal. Exemplificando: as quatro pessoas que compõem 
uma quadrilha são autores do delito previsto no art. 288 do Código Penal. 
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Por outro lado, quando o crime é unissubjetivo, mas, na prática, é cometido 
por dois ou mais agentes, utiliza-se a regra do art. 29 para tipificar todas as 
condutas, pois certamente cada um agiu de um modo, compondo a figura 
típica total. Exemplificando: em um roubo é possível que um autor aponte o 
revólver, exercendo a grave ameaça, enquanto outro proceda à subtração. 
Ambos praticam o tipo penal do art. 157 em concurso de pessoas, 
necessitando-se empregar a regra do art. 29. 
5. Requisitos do concurso de agentes 
Para que ocorra o concurso de agentes, são indispensáveis os seguintes 
requisitos: 
a) Pluralidade de condutas; 
b) Relação de causalidade material entre condutas desenvolvidas e o 
resultado; 
c) Vínculo de natureza psicológica ligando as condutas entre si (liame 
subjetivo). Não há necessidade de ajuste prévio entre os co-autores. 
d) Reconhecimento da prática da mesma infração para todos; 
4.1. Pluralidade de agentes e de condutas. 
A própria idéia de concurso é de pluralidade, portanto impossível falar em 
concurso de pessoas sem que exista coletividade (dois ou mais) de agentes 
e, conseqüentemente, de condutas. 
Note-se, entretanto, que é necessário, até pelo primado maior da 
culpabilidade (isto é, da responsabilização das pessoas "na medida de sua 
culpabilidade"), que se diferencie o autor do mero partícipe. 
4.2. Relevância causal de cada conduta. 
Não basta a multiplicidade de agentes e condutas para que se tenha 
configurado o concurso de pessoas; necessário se faz que em meio a todas 
essas condutas seja possível vislumbrar nexo de causalidade entre elas e o 
resultado ocorrido. Diz-se, nesse sentido, que a conduta de cada autor ou 
partícipe deve concorrer objetivamente (ou seja, sob o ponto de vista causal) 
para a produção do resultado. Ou, ainda, que cada ação ou omissão 
humana (conduta) deve gozar de importância (relevância), à luz do 
encadeamento causal de eventos, para a verificação daquele crime, 
contribuindo objetivamente para tanto. 
Desse modo, condutas irrelevantes ou insignificantes para a existência do 
crime são desprezadas, não constituindo sequer participação criminosa; 
deve-seconcluir, nesses casos, pela não concorrência do sujeito para a 
prática delitiva. Isso, porque, a participação exige mínimo de eficácia causal 
à realização da conduta típica criminosa. 
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4.3. Liame subjetivo ou normativo entre as pessoas. 
Necessário, também, que exista vínculo psicológico ou normativo entre os 
diversos "atores criminosos", de maneira a fornecer uma idéia de todo, isto 
é, de unidade na empreitada delitiva. Exige-se, por conseguinte, que o 
sujeito manifeste, com a sua conduta, consciência e vontade de atuar em 
obra delitiva comum. 
Nos crimes dolosos, os participantes devem atuar com vontade 
homogênea, no sentido de todos visarem à realização do mesmo tipo penal. 
A esse fenômeno dá-se o nome de princípio da convergência. Neste ponto, é 
preciso explicar que a exigência de liame ou vínculo subjetivo não significa 
a necessidade de ajuste prévio (pactum sceleris) entre os delinqüentes. Não 
se exige conluio, bastando que um agente adira à vontade do outro. 
Forçosa é a conclusão de Rogério Greco, ao afirmar que "se não se 
conseguir vislumbrar o liame subjetivo entre os agentes (crimes dolosos), 
cada qual responderá, isoladamente, por sua conduta". Exemplifica o 
autor: "No caso clássico em que A e B atiram contra C, sendo que um deles 
acerta mortalmente o alvo e o outro erra, não se sabendo qual deles 
conseguiu alcançar o resultado morte, dependendo da conclusão que se 
chegue com relação ao vínculo psicológico entre os agentes, as imputações 
serão completamente diferentes". Vejamos as duas conclusões possíveis 
trazidas pelo eminente professor Greco: 
- "Se dissermos que A e B agiram unidos pelo liame subjetivo, não 
importará saber, a fim de condená-los pelo crime de homicídio, qual deles, 
efetivamente, conseguiu acertar a vítima, causando-lhe a morte. Aqui, o 
liame subjetivo fará com que ambos respondam pelo homicídio 
consumado"; 
- "Agora, se chegarmos à conclusão de que os agentes não atuaram unidos 
pelo vínculo subjetivo, cada qual deverá responder pela sua conduta. No 
caso em exame, não sabemos quem foi o autor do resultado morte. A 
dúvida, portanto, deverá beneficiar os agentes, uma vez que um deles não 
conseguiu alcançar o resultado morte, praticando, assim, uma tentativa de 
homicídio. Dessa forma, ambos deverão responder pelo crime de homicídio 
tentado". 
Frise-se que ausente o liame subjetivo entre os agentes de crime doloso não 
há falar em concurso de pessoas; pode haver, na espécie, a depender das 
circunstâncias do caso concreto, autoria colateral ou incerta ou 
desconhecida, mas nunca co-delinqüência. 
Quanto aos delitos culposos, em que pese antiga divergência sobre a 
possibilidade de concurso de pessoas, modernamente tem se admitido, com 
certa tranqüilidade, que alguém possa conscientemente contribuir para a 
conduta culposa de terceiro, residindo o elemento vontade na realização da 
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conduta, e não na produção do resultado. Observe que, aqui, 
diferentemente do concurso de pessoas no crime doloso, o binômio 
consciência e vontade não repousa sobre o objetivo de alcançar fim 
criminoso comum (isto é, de praticar certo crime), mas sim de realizar a 
conduta culposa, manifestada na imprudência, imperícia ou negligência. 
Por isso, importante diferenciar o liame subjetivo, que existe no concurso 
de pessoas em crimes dolosos, do vínculo normativo, apresentado em face 
dos crimes culposos. 
4.4. Identidade de infração penal. 
Damásio afirma tratar-se a "identidade de infração para todos os 
participantes" não propriamente de um requisito, mas sim de verdadeira 
"conseqüência jurídica diante das outras condições". 
De fato, impossível falar em concurso de pessoas se a concorrência 
criminosa, envolvendo dois ou mais agentes, cada um com sua conduta, 
interligados, no entanto, por vínculo subjetivo, não se destinar à prática de 
certa e determinada infração penal. 
Enfim, a unidade de infração penal apresenta-se, conforme o 
posicionamento adotado: a) como requisito indispensável ao concurso de 
pessoas; b) como produto lógico-necessário em face do concurso de 
agentes. 
Destaque-se que a infração penal deve ser ao menos tentada, já que o CP 
expressamente previu, no art. 31, que "o ajuste, a determinação ou 
instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são 
puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado". 
Importante mencionar que, à luz do princípio geral da unidade 
incriminatória (teoria monista), expressamente consagrado no caput do art. 
29 do CP, tem-se que, uma vez reconhecido o concurso de pessoas, todos 
(autores e partícipes) responderão pelo mesmo tipo penal, salvo raríssimas 
exceções pluralísticas. 
6. Autoria 
Quando na lei se inscreve uma descrição do crime, a ameaça da pena 
dirige-se àquela que realiza o tipo penal, ou seja, ao sujeito que realiza a 
ação tipificada. Pratica homicídio quem “mata” a vítima, pratica furto quem 
“subtrai” a coisa, etc. o art. 29 não distingue em princípio, entre o autor da 
conduta típica e o que colabora para a ocorrência do ilícito sem realizar a 
ação referente ao verbo-núcleo do tipo penal, considerando como autores 
todos quanto concorrerem para ação delituosa. Essa distinção está, porém, 
na natureza das coisas, ou seja, na espécie diferente de causas do 
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resultado por parte de duas ou mais pessoas, devendo ser assinalada a 
distinção entre autor, co-autor e partícipe. 
Quanto à conceituação de quem é o autor do crime, foram criadas três 
teoria. A primeira delas fornece um conceito restrito de autor, em um 
conceito formal objetivo: autor é aquele que pratica a conduta típica 
inscrita na lei, ou seja, aquele que realiza ação executiva, ação principal. É 
o que mata, subtrai, falsifica etc. 
Uma segunda corrente formula um conceito extensivo do autor, em um 
critério material-objetivo: autor é não só o que realiza a conduta típica, 
como também aquele que concorre com uma causa para o resultado. Não 
se fez assim distinção entre autor e partícipe, já que todos os autores 
concorreram para o resultado ao contribuírem com uma causa para o 
evento. 
Numa terceira posição, formulada principalmente pela doutrina alemã, 
conceitua-se como autor aquele que tem o domínio final do fato, trata-se de 
um critério subjetivo, ou seja, final-objetivo: autor será aquele que, na 
concreta realização do fato típico, consciente o domina mediante o poder de 
determinar o seu modo e, inclusive, quando possível, de interrompê-lo. 
Autor é, portanto, segundo essa posição, quem tem o poder de decisão 
sobre a realização do fato. 
Adotamos a teoria restritiva: formal-objetiva, que delimita, com nitidez, a 
ação do autor (autoria) e a do partícipe (participação), complementada pela 
idéia da autoria mediata. Autor é quem realiza diretamente a ação típica, 
no todo ou em parte, colaborando na execução (autoria direta), ou quem a 
realiza através de outrem que não é imputável ou não age com 
culpabilidade (autoria mediata). 
São co-autores os que conjuntamente realizam a conduta típica. Os 
demais, ou seja, aqueles que, não sendo autores mediatos, colaboram na 
prática do delito sem realizarem a conduta típica, sem participarem da 
execução, são partícipes. A jurisprudência pátria também dá preferência à 
teoria do domínio do fato. 
Autoria mediata 
Como já se assinalou autor não é apenas o que realiza diretamente a ação 
ou omissão típica, mas quemconsegue a execução através de pessoa que 
atua sem culpabilidade. Chama-se isso autoria mediata (ex. a enfermeira, 
por ordem do médico, ministra um veneno ao paciente supondo que se 
trata de um medicamento). 
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Autoria colateral 
Ocorre tal modalidade de colaboração, que não chega a se constituir em 
concurso de pessoas, quando dois agentes, desconhecendo a conduta um 
do outro, agem convergindo para o mesmo resultado, que, no entanto, 
ocorre por conta de um só dos comportamentos ou por conta dos dois 
comportamentos, embora sem que haja a adesão de um ao outro. 
Autoria incerta 
Aceita a teoria monista, o código resolve qualquer problema com relação à 
autoria incerta, determinando que todos respondem pelo resultado, ainda 
que não se possa saber quem praticou a ação prevista no núcleo do tipo. 
 A exceção encontra-se no art. 29, § 2º, que determina seja o agente 
punido pelo crime menos grave, de que queria participar, mas a ressalva 
vale apenas para as hipóteses de participação. 
7. Co-autoria 
O concurso de pessoas pode realizar-se através da co-autoria e da 
participação. Co-autor é quem executa, juntamente com outras pessoas, a 
ação ou omissão, que configura o delito. Assim, se duas pessoas disparam 
suas armas, alvejando a vítima e causando-se a morte, responderão como 
co-autores. 
Há, na co-autoria, a decisão comum para a realização do resultado da 
conduta. 
Inexistente a consciência de cooperação na conduta comum, não haverá 
concurso de pessoas, restando à autoria colateral (ou co-autoria colateral 
ou imprópria). Caso duas pessoas, ao mesmo tempo, sem conhecerem a 
intenção uma da outra, dispararem sobre a vítima, responderão cada uma 
por um crime se os disparos de ambas forem causas da morte. Se a vítima 
morreu apenas em decorrência da conduta de uma, a outra responderá por 
tentativa de homicídio. Havendo dúvida insanável quanto à causa da morte, 
ou seja, sobre a autoria, a solução deverá obedecer ao princípio in dubio pro 
reu, punindo-se ambos por tentativa de homicídio. 
8. Participação 
Fala-se em participação, em sentido estrito, como a atividade acessória 
daquele que colabora para a conduta do autor com a prática de uma ação 
que, em si mesma, não é penalmente relevante. Essa conduta somente 
passa a ser relevante quando o autor, ou co-autores, iniciam ao menos a 
execução do crime. O partícipe não comete a conduta descrita pelo preceito 
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primário da norma, mas pratica uma atividade que contribui para a 
realização do delito. Trata-se de uma das hipóteses de enquadramento de 
subordinação ampliada ou por extensão, prevista na lei, que torna 
relevante qualquer modo de concurso, que transforma em típica uma 
conduta de per si atípica. Há na participação uma contribuição causal, 
embora não totalmente indispensável, ao delito e também a vontade de 
cooperar na conduta do autor ou co-autores. 
São várias as formas de participação. 
Instiga aquele que age sobre a vontade do autor, fazendo nascer neste a 
idéia da prática do crime ou encorajando a já existente, de modo 
determinante na resolução do autor, e se exerce através do mandato, 
persuasão, conselho, comando, etc. 
Cúmplice é aquele que contribui para o crime prestando auxílio ao autor ou 
partícipe, exteriorizando-se a conduta por um comportamento ativo (o 
empréstimo da arma, a revelação do segredo de um cofre etc.). Não se 
exclui, porém, a cumplicidade por omissão nas hipóteses em que o sujeito 
tem o dever jurídico de evitar o resultado. Cita-se como exemplo a omissão 
do empregado que não tranca o cofre para que seja facilitado a ação do 
autor do furto com o qual colabora o partícipe. 
9. Concurso de pessoas e crimes por omissão 
Crime Omissivo é aquele em que o agente comete o crime ao deixar de 
fazer alguma coisa. 
Os crimes omissivos se subdividem em: 
• a) Omissivos próprios ou puros – São os que descrevem a simples 
omissão de quem tinha dever de agir. São objetivamente descritos na 
conduta de não fazer. 
Exemplo: CP, Art. 135 - Omissão de socorro. O Agente não faz o que a 
norma manda. 
• b) Omissivos impróprios – A omissão consiste a transgressão do dever 
jurídico de impedir o resultado. Exige do sujeito concreta atuação para 
impedir o resultado que ele poderia e deveria evitar. 
Exemplo: a mãe que tinha dever jurídico de alimentar seu filho deixa de fazê-lo, provocando 
a morte da criança. Respondendo nesse caso por delito de homicídio. 
É possível a participação em crime omissivo impróprio, ocorrendo o 
concurso de agentes por instigação ou determinação. Assim, se o agente 
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instiga outrem a não efetuar o pagamento de sua prestação alimentícia, 
responderá pela participação no crime de abandono material. 
Não se pode falar, porém, em co-autoria em crime omissivo próprio. Caso 
duas pessoas deixem de prestar socorro a uma pessoa ferida, podendo cada 
uma delas fazê-lo sem risco pessoal, ambas cometerão o crime de omissão 
de socorro, isoladamente, não se concretizando hipótese de concurso de 
agentes. 
Também é possível a participação por omissão em crime comissivo. Se um 
empregado que deve fechar a porta do estabelecimento comercial não o faz, 
para que terceiro possa mais tarde praticar uma subtração, há participação 
criminosa no furto em decorrência do não-cumprimento do dever jurídico 
de impedir a subtração. Não se pode falar em participação por omissão, 
todavia, quando não concorra o dever jurídico de impedir o crime. A 
simples conivência não é punível. Também não participa do crime aquele 
que, não tendo o dever jurídico de agir, não comunica o fato à polícia para 
que possa esta impedi-lo. É sempre indispensável que exista o elemento 
subjetivo (dolo ou culpa) e que a omissão seja também “causa” do 
resultado, vale dizer, que, podendo agir, o omitente não o tenha deito. 
10. Co-autoria de crime culposo 
De há muito está assentada a possibilidade de concurso em crime culposo. 
Existente um vínculo psicológico entre duas pessoas na prática da conduta, 
ainda que não em relação ao resultado, concorrem elas para o resultado 
lesivo se obrarem com culpa em sentido estrito. 
O concurso de agente no crime culposo difere daquele do ilícito doloso, pois 
se funde apenas na colaboração da causa e não do resultado (que é 
involuntário). Disso deriva a conclusão de que é autor todo aquele que 
causa culposamente o resultado, não se podendo falar em participação em 
crime culposo. 
11. Incomunicabilidade de elementares e circunstâncias (art. 30) 
Existem circunstâncias que não se transmitem aos co-autores ou 
partícipes, pois devem ser consideradas individualmente no contexto do 
concurso de agentes. 
Preceitua o art. 30 do CP que “não se comunicam as circunstâncias e as 
condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”. 
Incomunicabilidade de certas circunstâncias – importante distinguir 
circunstância de elementar. Circunstância é tudo aquilo que está ao redor 
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do fato, mas tem natureza acessória (privilegiadoras no homicídio) e 
elementar é tudo aquilo que se retirado do tipo este deixa de ser aquele 
tipo específico (violência no roubo). Há comunicabilidade apenas quando 
objetivas (ligadas ao tempo, lugar, meio ou modo de execuçãodo crime), 
sendo as elementares sempre comunicáveis, mesmo que subjetivas (ligadas 
às qualidades da pessoa, ao motivo do crime ou estado anímico do agente), 
desde que ingressem na esfera de conhecimento do concorrente. 
∗ Circunstâncias de caráter pessoal: é a situação ou particularidade que 
envolve o agente, sem constituir elemento inerente à sua pessoa. Ex.: 
confissão espontânea proferida por um co-autor não faz parte da sua 
pessoa, nem tampouco se transmite, como atenuante que é, aos demais 
concorrentes do delito. 
∗ Condição de caráter pessoal: é o modo de ser ou a qualidade inerente à 
pessoa humana. Ex.: menoridade e reincidência. O co-autor menor de 21 
anos não transmite essa condição, que funciona como atenuante, aos 
demais. Do mesmo modo que o partícipe, reincidente, não transfere essa 
condição, que é agravante, aos outros. 
 
a. . Exceção quanto à elementar do crime 
Elementar é um componente integrante do tipo penal incriminador. Ex.: 
“matar” e “alguém” são elementares do delito de homicídio. Estabelece o 
art. 30 que as referidas elementares se comunicam aos co-autores e 
partícipes. 
Há determinadas circunstâncias ou condições de caráter pessoal que são 
integrantes do tipo penal incriminador, de modo que, pela expressa 
disposição legal, nessa hipótese, transmitem-se aos demais co-autores e 
partícipes. Ex. infanticídio (art. 123, CP). 
Infanticídio: intenso é o debate acerca da co-autoria e da participação no 
contexto desse crime que não deixa de ser uma forma privilegiada do 
homicídio. 
Artigo 123: "Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio 
filho, durante ou logo após o parto". 
Por este motivo, o sujeito ativo é a mãe; embora seja admitida a hipótese de 
concurso de agentes, a maternidade uma condição elementar do crime. 
O sujeito passivo somente pode ser o próprio filho, recaindo no homicídio se 
a vitima for outra criança que não a própria. 
Este crime admite tentativa. 
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A legislação vigente adotou como atenuante no crime de infanticídio o 
conceito fisiopsíquico do "estado puerperal", como configurado na exposição 
de motivos do Código Penal: "o infanticídio é considerado um delictum 
exceptum quando praticado pela parturiente sob influência do estado 
puerperal" 
� Circunstância (situação): Puerpério - pertubação fisico-mental 
exclusivo da mãe. 
� Condição pessoal (qualidade): mãe 
10.2. Conhecimento da circunstância elementar por parte do co-autor 
ou partícipe. 
É indispensável que o concorrente tenha noção da condição ou da 
circunstância de caráter pessoal do comparsa do delito, pois, do contrário, 
não se poderá beneficiar do dispositivo do art. 30/CP. 
Assim, caso uma pessoa não saiba que está prestando auxilio a um 
funcionário público para apropriar-se de bem móvel pertencente ao Estado 
(art. 132,§1º), responderá por furto. 
12. Casos de impunibilidade 
Disciplina o art. 31 do Código Penal que “o ajuste, a determinação ou a 
instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são 
puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado”. 
Impuníveis são o ajuste, a determinação, a instigação e o auxílio, logo, 
condutas atípicas (meramente preparatórias), caso não se dê início à 
execução do delito. O disposto no art. 31, diante do art. 14, II, CP, é 
supérfluo. 
Lembremos, por fim, que ajuste é o acordo ou pacto celebrado entre 
pessoas; determinação é a decisão tomada para alguma finalidade; 
instigação é a sugestão ou o estímulo à realização de algo e o auxílio é a 
ajuda ou a assistência dada a alguém. 
13. Multidão delinqüente 
Forma de concurso de pessoas, possível pela facilidade de manipulação de 
massas, especialmente em momentos de grande excitação, não tendo o 
condão de afastar os vínculos subjetivos entre os integrantes da multidão. 
Nestes casos é desnecessária a descrição minuciosa de cada um dos 
intervenientes, sob risco de inaplicabilidade da lei penal. 
Afastada a hipótese de associação criminosa (quadrilha ou bando), é 
possível o cometimento de crime pela multidão delinqüente, como nas 
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hipóteses de linchamento, depredação, saque, etc. responderão todos os 
agentes por homicídio, dano, roubo, nesses exemplos, mas terão as penas 
atenuadas aqueles que cometerem o crime sob a influência de multidão em 
tumulto, se não o provocaram. A pena, por sua vez, será agravada para os 
líderes, os que promoveram ou organizaram a cooperação no crime ou 
dirigiram a atividade dos demais agentes (art. 65, III, “e” do CP). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências: 
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de Direito Penal – 7. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2011. 
BATISTA, Nilo, Concurso de agentes. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007. 
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 8ª Edição. Revista dos Tribunais. 2008. 
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal parte geral. Volume 1. 14ª Edição. Editora Saraiva. 2010. 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal parte geral. Volume 1. 12ª Edição. Editora Impetus. 2010.

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