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Politicas Economicas


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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS 
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA 
PET – PROGRAMA EDUCAÇÃO TUTORIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
APOSTILA PILOTO DO MINICURSO DE POLÍTICA ECONÔMICA: “DO ECONOMÊS 
PARA O PORTUGUÊS” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Autores 
 
Amiris de Paula Serdeira 
Ana Paula Melo da Silva 
Bruna Zigoni 
Davy Frederico Souza 
Deyvid Alberto Hehr 
Edinara Oza Dias 
Eduardo Borchardt 
Letícia de Sousa Milhomem 
Luiz Otávio Stefanelli 
Maria Eduarda Erlacher de Figueiredo 
Rafael Alves de Albuquerque Tavares 
Rafael Venturini Trindade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VITÓRIA - ES 
Junho de 2011 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
O Programa de Educação Tutorial (PET) de Economia da Universidade Federal do 
Espírito Santo (UFES) surgiu em 1992, por iniciativa de seu atual professor tutor que 
vinha de experiência similar em outra instituição. O grupo é formado normalmente por 
doze bolsistas além do tutor e sua função é contribuir para a melhoria do Ensino, da 
Pesquisa e da Extensão da Universidade. 
 
O presente trabalho tem por finalidade fundamentar o Minicurso de Política Econômica: 
“Do Economês para o Português”, elaborado e apresentado pelos integrantes do PET, 
como parte das atividades que o grupo realiza continuadamente. 
 
O texto pretende esclarecer alguns conceitos básicos de Política Econômica a um 
público não familiarizado com a Ciência Econômica, procurando desmistificá-los, 
transpondo-os para uma linguagem fácil e acessível. Além disso, esperamos oferecer 
aos leitores a capacidade de se posicionar criticamente em relação ao modo como os 
temas econômicos são normalmente tratados e difundidos pelos meios de 
comunicação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
BLOCO I (PRIMEIRO DIA) 
 
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4 
 
2. NÍVEL DE ATIVIDADE E EMPREGO ................................................................... 10 
2.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 10 
2.2 INDICADOR DE RENDA: O PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) ..................... 10 
2.3 INDICADOR DE EMPREGO: A TAXA DE DESEMPREGO ................................ 13 
2.4 INCENTIVOS AO INVESTIMENTO..................................................................... 15 
 
3. INFLAÇÃO ............................................................................................................ 17 
3.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 17 
3.2 INDICADORES ................................................................................................... 18 
3.3 PREÇO RELATIVO X PREÇO NOMINAL ........................................................... 18 
3.4 CONFLITO DISTRIBUTIVO ................................................................................ 18 
3.5 TIPOS DE INFLAÇÃO ......................................................................................... 19 
3.6 PRINCIPAIS EFEITOS DA INFLAÇÃO ............................................................... 20 
 
 
BLOCO II (SEGUNDO DIA) 
 
4. POLÍTICA MONETÁRIA ....................................................................................... 22 
4.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 22 
4.2 A MOEDA E O SURGIMENTO DOS BANCOS CENTRAIS ................................ 22 
4.3 O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ............................................................... 23 
4.4 AS FUNÇÕES DO BANCO CENTRAL ............................................................... 23 
4.5 INSTRUMENTOS DE CONTROLE DA LIQUIDEZ.............................................. 24 
4.6 OPERACIONALIDADE DA POLÍTICA MONETÁRIA NO BRASIL ...................... 25 
 
5. SETOR EXTERNO ................................................................................................ 28 
5.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 28 
5.2 BALANÇO DE PAGAMENTOS ........................................................................... 30 
5.3 RESERVAS INTERNACIONAIS ......................................................................... 32 
5.4 REGIMES CAMBIAIS E POLÍTICA EXTERNA ................................................... 32 
 
 
BLOCO III (TERCEIRO DIA) 
 
6. POLÍTICA FISCAL ................................................................................................ 37 
6.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 37 
6.2 AS RECEITAS ..................................................................................................... 38 
6.3 AS DESPESAS ................................................................................................... 40 
6.4 O SALDO ............................................................................................................ 41 
6.5 A DÍVIDA PÚBLICA ............................................................................................. 41 
6.6 IMPACTOS DA POLÍTICA FISCAL ...................................................................... 42 
 
7. ENCERRAMENTO ................................................................................................ 45 
 
 
 
 
7.1 A POLÍTICA ECONÔMICA .................................................................................. 45 
7.2 A POLÍTICA ECONÔMICA ESTABILIZANTE E A ECONOMIA BRASILEIRA NOS 
ANO DE 1994 A 2011 .......................................................................................... 48 
 
9. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 53 
 
 
4 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO: DA ECONOMIA POLÍTICA À POLÍTICA ECONÔMICA 
 
Na Grécia Antiga a palavra economia (oikonomia, derivada de oikos, “casa” e nomos, 
“lei”, “controle” ou “cuidado”) era empregada para descrever a ordem que regia os 
aspectos imediatos da vida doméstica, como a atividade agrícola e a alimentação. 
Desde sua origem, portanto, o termo está relacionado à organização e reprodução do 
âmbito material da sociedade. 
 
Em cada uma das formas sociais de vida constituídas ao longo da história nos mais 
variados espaços – sejam eles uma aldeia romana do séc. II a.C., um feudo na Europa 
Ocidental da Alta Idade Média ou uma nação moderna – há uma determinada 
estrutura econômica, um sistema de relações sociais de produção, distribuição e 
acumulação de bens úteis à vida humana. Ao apenas mencionar essas diferentes 
formas sociais históricas se pode intuir que, com o passar do tempo, ocorrem 
importantes transformações no modo de se produzir, distribuir e acumular riqueza e, 
além disso, que a forma econômica sob a qual a maior parte das sociedades está 
organizada atualmente – o capitalismo – é resultante de inúmeros processos de 
transformação social. 
 
Dentre os processos constituintes do capitalismo podem ser destacadas: as mudanças 
técnicas no plantio, aragem e transporte medievais que promoveram ganhos de 
produtividade agrícola e uma intensificação do comércio derivada; as Cruzadas; a 
fundação de novas cidades ao redor dos feudos (burgos); o aumento populacional; o 
advento das manufaturas. Por cerca de trezentos anos, esses elementos, além de 
inúmeros outros, atuaram em maior ou menor grau para a criação de uma forma 
econômica específica. Se os costumes entre servos e senhores proprietários e as 
tradições eclesiásticas são elementos fundamentais das relações econômicasfeudais, 
o capitalismo, noutro sentido, repousa sobre quatro instituições ou mecanismos básicos 
que estão presentes no funcionamento normal de qualquer empresa (a unidade de 
produção capitalista de bens e serviços), quais sejam: a) a produção de mercadorias 
orientada para a venda no mercado; b) o trabalho livre assalariado e a propriedade 
privada; c) o mercado como regulador das relações econômicas e sociais; d) o Estado 
como regulador do mercado. 
5 
 
 
 
E ainda outro aspecto singular desse modo de produção deve ser destacado. Embora 
estejam registrados conhecimentos econômicos desde os livros bíblicos do Antigo 
Testamento ou na obra de Aristóteles e na produção da Escolástica, é somente com a 
emergência do capitalismo que uma ciência econômica propriamente dita pode ser 
assim designada. A rigor, compreende-se como ciência um conjunto de conhecimentos 
organizados sobre um aspecto da realidade. No caso da economia, esse conhecimento 
foi desvendado e desenvolvido ao longo do próprio processo de desenvolvimento do 
capitalismo, ou seja, partindo-se da realidade concreta com base no conhecimento já 
consolidado nas ciências humanas. 
 
As transformações que a Inglaterra viveu ao longo do século XVIII – o fim do 
absolutismo, a expansão populacional urbana e o crescimento dos mercados interno e 
externo – a tornaram um terreno privilegiado para as primeiras tentativas de explicação 
científica das particularidades do capitalismo. A Primeira Revolução Industrial, 
caracterizada pelos implementos na indústria têxtil, o surgimento de grandes centros 
urbanos como Manchester e a importância crescente das exportações de manufaturas, 
sob o olhar atento e a erudição do filósofo escocês Adam Smith (1723-1790), levariam 
à publicação de Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das 
Nações, em 1776, e com ela o nascimento da Economia Política. Esta seria a primeira 
obra com grande influência que mostrava o sistema econômico como um sistema 
fechado de relações sociais. 1 
 
A ciência econômica moderna se desenvolveu a partir da Economia Política de nomes 
como Smith, David Ricardo (1772-1823), Thomas Malthus (1766-1834) e John Stuart 
Mill (1806-1873). Através de suas contribuições teóricas, ela se firmou como a área do 
conhecimento voltada, primeiramente, para o estudo dos problemas da sociedade 
humana relacionados com a produção, a acumulação, a circulação e a distribuição de 
riquezas entre as diferentes classes sociais e, também, para as proposições de 
natureza prática a eles relacionadas, como aquilo que posteriormente foi designado por 
Política Econômica. 
 
1
 Ainda, segundo Hunt (2005, p. 37), “Smith se distingue de todos os economistas que o antecederam, 
não só por sua formação acadêmica e pela vastidão de seus conhecimentos, como também foi o 
primeiro a elaborar um modelo abstrato completo e relativamente coerente da natureza, da estrutura e 
do funcionamento do sistema capitalista.” 
6 
 
 
 
No encalço desses autores, muitos outros tentaram explicar o funcionamento da ordem 
capitalista de acordo com ferramentas teóricas, motivações ideológicas e em 
momentos históricos distintos. Um deles, um pensador alemão radicado na Inglaterra, 
cerca de um século após a obra seminal de Smith, endereçaria uma dura crítica teórica 
à ciência por este inaugurada. Em 1867, Karl Marx (1818-1883) publicou O Capital, em 
que buscava elucidar o processo de produção e circulação de mercadorias e a 
concentração de renda e poder derivada, bem como os determinantes da situação da 
classe dos trabalhadores no capitalismo do século XIX. Segundo ele, esses elementos 
não haviam sido adequadamente compreendidos pelas teorias econômicas 
precedentes. 2 
 
Entrementes, estava em curso outra ruptura com a Economia Política. Pouco tempo 
depois da crítica de Marx, quase simultaneamente o austríaco Carl Menger publicaria 
Princípios de Economia Política (1871); o inglês William Stanley Jevons, A Teoria da 
Economia Política (1871); e o francês León Walras, Elementos de Economia Política 
Pura (1874). A Revolução Marginalista, como ficou conhecida, foi a mudança teórica 
resultante dos esforços paralelos dos três autores. Nesse ponto da história do 
pensamento econômico, o objeto de estudo da ciência econômica torna-se a análise da 
administração de “recursos escassos” entre usos alternativos. 
 
Os autores se dedicaram especialmente a explicar o funcionamento do sistema 
econômico a partir do comportamento dos agentes individuais (empresas e 
consumidores), aquilo que hoje chamamos de microeconomia, deduzindo através de 
ferramentas matemáticas – como o cálculo diferencial e integral – a determinação dos 
preços no mercado e a ideia de equilíbrio econômico. Desse modo, a recomendação 
de medidas governamentais e o estudo da interação entre as classes sociais no 
processo econômico deixam de ser elementos essenciais para a compreensão da 
esfera material da sociedade. 
 
Ainda no final do século XIX, o professor Alfred Marshall (1842-1924) aprofundaria as 
concepções teóricas e metodológicas marginalistas (também chamadas neoclássicas) 
e modificaria o próprio nome da ciência da Economia Política com sua obra Princípios 
 
2
 É válido destacar que a escolha do paradigma econômico a ser seguido é notoriamente influenciada 
por questões ideológicas, políticas e conflitos de interesses. 
7 
 
 
 
de Economia (Principles of Economics), de 1890. 3 Marshall pretendia separar a 
economia teórica (ou positiva) efetivamente separada da economia propositiva (ou 
normativa). Ademais, Marshall consolidava a concepção de que o comportamento 
individual fornece a explicação para a economia como um todo; a iniciativa individual e 
a liberdade econômica tenderiam ao bem estar social e, por conseguinte, a política, ou, 
o governo não deveria intervir senão pontualmente na economia. 
 
Em contraste com a tese desenvolvida nos Princípios, os acontecimentos do fim do 
século XIX e o começo do século seguinte ofereceram um sério desafio à concepção 
segundo a qual a realidade estaria caminhando rumo ao progresso econômico e social. 
A Grande Depressão de 1873, o Imperialismo e a concorrência entre as grandes 
corporações conformaram o cenário do qual emerge a Primeira Guerra Mundial. Ao fim 
da Guerra, em 1918, a Revolução Russa completava seu primeiro aniversário e, a 
partir daí, a disseminação do ideal comunista ganhou força entre as nações europeias 
adjacentes. 
 
Do outro lado do Atlântico, uma década depois, a quebra da bolsa de Nova Iorque 
marcaria o início da Crise de 1929 que deixaria durante anos a maior parte das 
economias ocidentais industrializadas com níveis de atividade econômica e 
desemprego alarmantes. Deve-se pontuar que, para os neoclássicos, o fenômeno do 
desemprego era explicado principalmente como o resultado de atos individuais 
voluntários dos trabalhadores que, não encontrando remuneração adequada a suas 
funções, optavam por não se empregar. 
 
Diante de tal contexto histórico e teórico, um aplicado aluno de Marshall contestaria o 
mestre e sua escola. Em 1936, John Maynard Keynes (1883-1946) publicou A Teoria 
Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, obra que questionava seriamente a 
 
3
 Conforme sugere Teixeira (2000), desde o surgimento da Economia Política uma série de autores, ao 
publicar suas obras sobre o objeto de estudo dessa ciência, optaram por intitulá-las de acordo com uma 
tradição que, de certo modo, refletia o escopo e as intenções teóricas daobra. Alguns exemplos são os 
autores clássicos Jean Baptiste Say (1767-1832) e seu Tratado de Economia Política (1803), David 
Ricardo e seus Princípios de Economia Política e Tributação (1817), Thomas Robert Malthus e seus 
Princípios de Economia Política e considerações sobre sua aplicação prática (1820) e também John 
Stuart Mill, com os seus próprios Princípios de Economia Política (1848). Mesmo os autores da 
revolução marginalista, como explicitado acima, mantiveram a terminologia dos clássicos, mas por 
economia (economics) Marshall demarcava claramente a mudança operada a partir deles. 
8 
 
 
 
ortodoxia4 marginalista apontando que a economia não dispunha de mecanismos 
automáticos para regular seus desequilíbrios e se recuperar das crises cíclicas; o 
mercado poderia falhar de modo sistemático. O Estado, portanto, deveria intervir 
massivamente nos períodos de crise estimulando a retomada dos investimentos e do 
crescimento econômico para assegurar o pleno emprego dos fatores de produção 
(terra, capital e trabalho) 5. Em sua obra, Keynes revelava também novas identidades e 
relações entre os agregados econômicos (consumo, investimento, gasto público etc.) 
que seriam as bases para a macroeconomia moderna e a análise de conjuntura 
econômica. 
 
Alguns dos procedimentos utilizados desde a época de Keynes são utilizados até hoje 
para se verificar o comportamento da economia através de agregados. Mas embora 
seu acompanhamento através de indicadores seja um momento necessário na análise 
macroeconômica, ele sempre está baseado em uma interpretação própria sobre a 
dinâmica do mercado e do Estado. Toda política econômica realizada, isto é, cada ato 
econômico do governo está apoiado em uma determinada convicção teórica sobre o 
funcionamento do capitalismo e, utilizando-se de certos procedimentos técnicos ou 
operacionais, tem por objetivo promover metas políticas e sociais. Assim, a política 
econômica correlaciona a interpretação da realidade pela ciência econômica, os 
objetivos do Estado, a operação do mercado e a organização política da sociedade. 
 
Por quase quarenta anos o paradigma keynesiano dominou o debate econômico e 
influenciou sobremaneira as políticas econômicas praticadas no mundo capitalista. O 
alto crescimento dos EUA, da Europa e do Japão no período conhecido como a “Era de 
Ouro” do capitalismo, entre 1945 e 1973, esteve sustentado maciçamente na 
intervenção do Estado. No entanto, em fins da década de 1970 o fenômeno da 
estagflação – uma elevação contínua no nível dos preços acompanhada de baixo 
crescimento econômico – colocava em dúvida a capacidade do governo em promover a 
recuperação da economia através dos gastos públicos sem acentuar a inflação e seus 
efeitos e, com isso, a própria eficácia do receituário keynesiano. 
 
4
 Também chamada de mainstream (“corrente principal”, na tradução do inglês) é a teoria dominante em 
um dado momento. O termo é formado pelos vocábulos gregos ortho (“correto, normal”) e doxa 
(“opinião”). Em contraposição a ela estão as correntes da heterodoxia (hetero = “diferente”), que contam 
com grau significativo de distinção para com suas noções. 
5
 De acordo com Paulo Sandroni, no Dicionário de Economia do Século XXI, fatores de produção são os 
elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais. 
9 
 
 
 
Desde então, a teoria das Expectativas Racionais de Robert Lucas e Leonard 
Rapping sobre a interferência dos indivíduos nos resultados da política fiscal de um 
país6 e a doutrina liberal do Monetarismo de Milton Friedman, dentre outros marcos 
teóricos, fizeram com que o arcabouço neoclássico retomasse a posição da ortodoxia 
no pensamento econômico. Contudo, destaca-se também a existência e a produção 
teórica significativa da heterodoxia em escolas como a Institucionalista, a Pós-
keynesiana e a Neoschumpteriana, além da tradição Marxista. 
 
Ressalta-se, ainda, que assim como o capitalismo continua sofrendo alterações e 
alguns de seus problemas históricos permanecem não solucionados, a reflexão 
econômica tem se desenvolvido continuamente a partir dessas questões e da 
renovação do pensamento de autores como os citados ao longo desse texto. 
 
 
CONSENSO TEÓRICO NA POLÍTICA ECONÔMICA: GARANTIA DE SUCESSO? 
 
A política econômica de uma nação é o resultado da interação entre processos 
políticos, arranjos técnicos e postulados científicos. Pensemos na determinação de 
uma medida econômica por parte do governo brasileiro. De um lado, há um cenário 
econômico interno e externo a se considerar, muitas e variadas demandas dentre as 
camadas sociais, a dinâmica dos partidos políticos da base aliada e da oposição na 
Câmara e no Senado etc. Do outro, há inúmeras interpretações teóricas sobre o 
cenário econômico e social e propostas distintas sobre a operacionalização de uma 
dada política. A rigor, os economistas – em especial os que tratam da dimensão 
macroeconômica – possuem visões distintas acerca dos problemas com que se 
deparam, seja na compreensão da natureza do problema em si ou nas alternativas 
práticas para se resolver a questão. 
 
Diferente do que se pode pensar à primeira vista, a controvérsia que normalmente está 
presente entre eles é muito saudável, pois o consenso sobre um objeto tão importante 
quanto à política econômica pode acarretar em erros graves. Um exemplo das 
consequências de um consenso equivocado sobre isso é a própria recessão da década 
 
6
 Em suma, a hipótese de Lucas e Rapping sugere que as decisões econômicas privadas se antecipam 
aos resultados futuros de uma decisão pública (política econômica) baseados nas experiências 
passadas, o que desqualifica qualquer pretensão de um governo em corrigir os ciclos econômicos. 
10 
 
 
 
de 1930. A concepção então hegemônica, neoclássica, foi uma das causas que 
contribuíram para agravar a depressão e um dos principais motivos da demora na 
recuperação das economias após a crise deflagrada com a quebra da bolsa de Nova 
Iorque, em 1929. Os efeitos da crise financeira propagaram-se no sistema econômico 
e, pela ausência de políticas econômicas ativas e expansionistas (no âmbito fiscal e 
monetário), acabaram gerando uma quebra generalizada nos setores industrial, 
bancário e comercial dos EUA. Em seguida, esses efeitos se espalharam pelo mundo 
capitalista e promoveram a conhecida Grande Depressão. 
 
 
2. NÍVEL E ATIVIDADE E EMPREGO 
 
2.1 INTRODUÇÃO 
 
O Nível de Atividade é acompanhado por uma série de indicadores que expressam o 
ritmo de crescimento de uma economia, seu caminhar, sua “saúde”. Os indicadores 
são um conjunto de dados estatísticos, passíveis de mudança e oscilações, que 
fornecem a base para se analisar a situação macroeconômica de um país ou região, 
seu “diagnóstico” e, a partir de sua análise, subsidiar a implementação de políticas 
econômicas, sejam elas no âmbito fiscal, monetário e/ou externo. 
 
De forma geral, o objetivo da análise de conjuntura econômica é estudar o 
comportamento cíclico de uma economia, ou seja, compreender a dinâmica que rege 
seus momentos de “alta” e “baixa”. A fim de mensurar e avaliar esse diagnóstico se faz 
necessário analisar mais de perto o Produto Interno Bruto (PIB) e a Taxa de 
Desemprego. 
 
2.2 INDICADOR DE RENDA: O PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) 
 
O Produto Interno Bruto é a soma (valor agregado) de todos os bens e serviços 
produzidos dentro do território de um país em um determinado período de tempo, 
geralmente um ano. É calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE) e é um importanteindicador para analisar a atividade econômica do país. O PIB 
pode ser avaliado a partir de três formas ou óticas de cálculo. Independente da ótica 
11 
 
 
 
calculada o resultado será sempre o mesmo, ou seja, existe uma identidade contábil, 
qual seja: PRODUTO ≡ DISPÊNDIO ≡ RENDA. 
 
 
 
A partir da ótica do dispêndio, o PIB é representado pela seguinte equação: 
PIB = CONSUMO DAS FAMÍLIAS + GASTOS DO GOVERNO + INVESTIMENTO + 
EXPORTAÇÃO LIQUÍDA 
 
Vejamos a seguir o que cada uma das variáveis representa: 
 
a) Consumo das Famílias: parte da renda total das famílias que é gasta no 
consumo de bens e serviços. Este consumo é importante, pois sustenta a 
produção, aquecendo a economia e gerando mais empregos. No entanto, é 
importante que as famílias não consumam a totalidade de suas rendas, 
guardando uma parte para poupança (que é uma das formas de financiar os 
investimentos). 
 
b) Investimento: é a aplicação de capital em meios que levam ao crescimento da 
capacidade produtiva. Pode ser realizado de duas formas: 
 
 Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), ou seja, ampliação dos bens 
de capital instalados de uma empresa, como a aquisição de maquinários 
visando o aumento da produção ou a manutenção dos mesmos. O 
investimento aqui contabilizado pode ser tanto privado quanto público. 
ÓTICAS PARA CÁLCULO DO PIB: 
 
 ÓTICA DO DISPÊNDIO: total de gastos de todos os agentes econômicos de uma 
economia, seja em investimentos ou em consumo de bens e serviços (nacionais ou 
importados). 
 
 ÓTICA DO PRODUTO: obtida a partir da soma dos valores adicionados de todas as 
unidades produtoras de uma economia. Ou seja, não são considerados os produtos 
intermediários, somente os finais. 
 
 ÓTICA DA RENDA: obtida a partir da soma das remunerações de todos os fatores de 
produção de uma economia; no geral, capital e trabalho. 
12 
 
 
 
 
 Variação de Estoque: a formação de estoques em um dado período 
amplia a capacidade de fornecimento da produção no período seguinte e, 
portanto, se configura em investimento. 
 
c) Gasto público: são gastos visando a manutenção da máquina pública, como a 
destinação de recursos a escolas públicas, secretarias de estado, empresas 
estatais etc. Os gastos com os salários de funcionários públicos não são 
contabilizados aqui, mas no consumo das famílias. 
 
d) Exportação líquida: é a diferença entre a renda proveniente das exportações e 
os gastos com importações do país (exportações – importações). As 
exportações brutas contabilizam o valor gerado pela venda de parte da 
produção interna total de bens e serviços a outro país. Deduzindo desse valor os 
bens e serviços que foram adquiridos de outras nações (ou seja, importados) 
obtém-se a exportação líquida. 
 
Pela ótica da produção, a economia é dividida em três grandes setores: 
 
a) Agropecuária (Setor Primário): responde pela produção de bens alimentícios e 
matérias-primas decorrentes do cultivo de plantas e da criação de animais. 
 
b) Indústria (Setor Secundário): abrange todo tipo de indústria do país, como a 
indústria automobilística, de produção de aço industrial, minério, celulose etc. 
 
c) Serviços (Setor Terciário): compreende setores que não são da agropecuária 
ou da indústria, tais como o da telefonia, transportes, prestação de serviços 
administrativos, dentre outros. Representa atualmente a maior parcela do PIB 
nacional. 
 
 
 
 
13 
 
 
 
2.3 INDICADOR DE EMPREGO: A TAXA DE DESEMPREGO 
 
A taxa de desemprego é um importante indicador econômico e social para análise do 
andamento de uma economia, indicando o comportamento do mercado de trabalho7. 
Mercado é todo espaço onde se vendem e se compram mercadorias. Dessa forma, o 
mercado de trabalho é o local onde se confrontam trabalhadores dispostos a se 
empregar, ofertando trabalho, e as firmas que desejam comprar esse fator. Nesse 
sentido constitui um mercado específico, portador de uma dinâmica própria. 
 
Nos dias atuais, o desemprego se mostra um dos maiores problemas socioeconômicos 
do mundo, mesmo em países desenvolvidos. Para mensurá-lo adequadamente, não se 
deve considerá-lo diretamente em razão da população total, senão com algumas 
deduções conforme abaixo: 
 
 
 
 
 
 
 
No Brasil, são dois os principais órgãos que fazem a análise do mercado de trabalho, o 
IBGE, sendo o índice oficial do Governo Federal, e o Departamento Intersindical de 
Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). Ao serem analisados os dados 
das duas instituições verifica-se que estes não são iguais. Isso acontece devido às 
diferentes metodologias adotadas pelas duas instituições. A principal diferença entre 
elas é o próprio entendimento do que seria desemprego. 
 
7 Indicadores como o grau de informalidade, o rendimento médio por posição ocupada, dentre outros, 
também são importantes para indicar o comportamento do mercado de trabalho. 
 POPULAÇÃO TOTAL: é o 
conjunto de todos os habitantes de 
determinada sociedade. 
 
 POPULAÇÃO EM IDADE ATIVA 
(PIA): aqueles que têm condições 
legais, mentais e físicas de ofertar 
sua força de trabalho. Excluem-se, 
então, crianças, idosos e 
aposentados por invalidez, que 
constituem a população inativa. 
 
 POPULAÇÃO ECONOMICAMEN- 
TE ATIVA (PEA): todos aqueles 
que estão aptos e disponíveis a 
exercer algum tipo de trabalho. 
 
14 
 
 
 
O IBGE trabalha apenas com o desemprego aberto, considerando empregada aquela 
pessoa que exerceu trabalho com ou sem remuneração, formal ou informal, por pelo 
menos uma hora na semana de referência. O DIEESE, por sua vez, trabalha com dois 
tipos de desemprego: aberto e oculto. O segundo indica aquelas pessoas que não 
conseguiram exercer uma atividade regular e acabaram por realizar trabalhos precários 
– remunerados ocasionalmente ou trabalhos não remunerados – tendo procurado 
emprego regular ao longo dos últimos 12 meses. Ele engloba também aquelas pessoas 
que não exerceram nem procuraram trabalho nos últimos 30 dias por desestímulo do 
mercado ou outros motivos, embora tenham procurado efetivamente nos últimos 12 
meses. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.3.1 Relação entre Emprego e Produtividade 
 
A figura a seguir mostra de maneira didática a relação entre o PIB, o emprego e a 
produtividade. O crescimento do PIB pode acontecer via aumento da produtividade do 
trabalho (ou seja, aumento de produção por trabalhador, com maior utilização de 
tecnologia, por exemplo) e/ou por aumento de postos de trabalho (ou seja, apenas do 
emprego). Assim, um crescimento do PIB não significa automaticamente um maior 
nível de emprego. Esse só ocorrerá quando o crescimento da produção tiver sido 
relativamente maior do que a produtividade. 
 
 
TIPOS DE DESEMPREGO 
 
Podemos ainda encontrar outras classificações de desemprego, que nos permitem compreender 
melhor a dinâmica desse mercado. 
 
 DESEMPREGO SAZONAL: desemprego que ocorre em períodos específicos no ano 
(período de entressafras, por exemplo). 
 
 DESEMPREGO FRICCIONAL: ocorre no tempo em que um empregado leva para sair de 
um emprego e achar outro, como demissões em massa de uma empresa em razão de 
crises momentâneas. É decorrente da própria dinâmica do mercado de trabalho. 
 
 DESEMPREGO ESTRUTURAL OU TECNOLÓGICO: decorrente de mudanças de padrões 
tecnológicos que acabam por eliminar postos de trabalho. Por exemplo, caixas eletrônicos, 
automatização das fábricas, dentre outros. 
 
 DESEMPREGO CÍCLICO: decorrente periodicamentede momentos de recessões e crise. 
15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.4 INCENTIVOS AO INVESTIMENTO 
 
O investimento é a alavanca da dinâmica econômica de um país. Dentre outros efeitos, 
ele pode aumentar a capacidade produtiva da economia, gerar demanda por novos 
empregos, contribuir para a inserção de novas tecnologias na produção e para a 
geração de renda. Contudo, caso não seja feito com responsabilidade, ou seja, sem se 
considerar os impactos socioambientais, ele pode ser extremamente prejudicial à 
sociedade. 
 
Alguns fatores econômicos promovem efeitos diretos – sejam eles positivos ou 
negativos – sobre o investimento, dentre os quais: 
 
a) Taxa de juros: a decisão de investimento de uma empresa passa pela 
comparação entre o “preço do dinheiro” para viabilizá-lo (a taxa de juros) e a sua 
rentabilidade esperada (o lucro). Assim, quanto maior a taxa de juros, maior 
deverá ser a rentabilidade esperada para que o investimento seja vantajoso, o 
que estabelece uma relação inversa entre essas variáveis. 
 
b) Crédito para investimento: por sua vez, quanto maior o volume de dinheiro 
disponível para empréstimos, ou seja, quanto maior o volume de crédito, menor 
será a taxa de juros. Como as empresas também investem com base em 
DESEMPREGO E INFORMALIDADE NO BRASIL CONTEMPORÂNEO 
 
Historicamente observamos que o desemprego, em termos absolutos, se manteve alto, até 
2004, principalmente se considerado o índice do DIEESE (média de 18% nesse mesmo 
ano). Ainda assim, podemos constatar a tendência de decréscimo na última década. 
 
A diminuição relativa do desemprego, por sua vez, foi acompanhada pelo aumento da 
informalidade e da flexibilização das relações de trabalho. Por exemplo, de 1991 a 2002 o 
setor informal absorveu mais de 2 milhões de trabalhadores que o mercado regular não foi 
capaz de fazer, tendo dobrado em comparação com a segunda metade da década de 1980. 
 
16 
 
 
 
expectativas de demanda, o crédito ainda pode ser utilizado pelas famílias para 
aumentar seu consumo. 
 
c) Capacidade ociosa: não podemos esquecer que as empresas não operam 
utilizando sempre 100% de sua capacidade de produção. Sempre há um nível 
de utilização de capacidade ociosa (que também forma um indicador – o 
NUCI), para fins de ampliação da produção no curto prazo. Somente quando a 
empresa prevê que essa capacidade não utilizada, ociosa, será insuficiente para 
atender a demanda no longo prazo é que ela realiza investimentos para, no 
futuro, possuir capacidade para atender aos seus objetivos. 
 
 
OS EFEITOS DA CRISE ECONÔMICA E A RETOMADA DO 
CRESCIMENTO BRASILEIRO 
 
A crise econômica mundial que atingiu notoriedade internacional em meados de 2008 
interrompeu um período de pouco mais de 10 anos de crescimento da economia 
brasileira, evidenciando alguns problemas do modelo de crescimento adotado pelo país 
nos últimos anos. 
 
De maneira geral, a crise impactou consideravelmente a economia brasileira. Contudo, 
a queda de 3,6% do PIB no último trimestre de 2008, causado principalmente pela 
desaceleração industrial, foi contrabalanceada pelo andamento do primeiro semestre 
do mesmo ano, tendo o PIB registrado no total acumulado no ano um aumento de 
5,1%. 
 
Já em 2009, os efeitos da crise foram sentidos de forma severa. Ainda que o 
crescimento negativo de 0,2% do PIB tenha sido maior que a maioria dos países 
desenvolvidos no mundo, para o Brasil esse resultado foi o primeiro negativo desde 
1992. Em relação aos setores de atividade econômica, a indústria e a agropecuária 
registraram queda de, respectivamente, 5,5% e 5,2% sendo compensadas 
parcialmente pelo crescimento de 2,6% do setor de serviços. Além disso, ainda que o 
consumo tenha apresentado um crescimento de 4,1%, os investimentos registraram 
queda de 9,9%. 
17 
 
 
 
A expansão em 2010 do PIB de 7,5% representa a maior taxa de crescimento desde 
1986, mesmo que o baixo desempenho do PIB no ano anterior seja uma base 
comparativa desfavorável. Os principais fatores considerados como alavanca desse 
crescimento foram o consumo das famílias e o investimento. E embora o país possua 
uma pauta exportadora significativa, o saldo das exportações líquidas continua 
inexpressivo. Na ótica do produto, o setor de serviços possui o maior peso, com 66% 
do total, contra 28% da indústria e 6% da agricultura, sendo que esses últimos têm 
perdido espaço a cada período. 
 
De forma geral, há expectativas de que com o aumento da renda, a política de 
expansão do crédito com o consequente aumento do consumo, a retomada de 
investimentos, juntamente com outros fatores macroeconômicos favoráveis, levem o 
Brasil a registrar uma das cinco maiores taxas de crescimento do mundo em 2011. Os 
mais otimistas consideram que o país, nesse momento, tem condições de manter um 
crescimento sustentado, diferentemente de outros períodos de bonança econômica, 
quando a variação do PIB ficou conhecida pelo padrão do “voo da galinha”, ou seja, 
crescimento não sustentado. 
 
Outro fator relevante para registrar esse período da economia brasileira foi uma 
recuperação da crise com relativa sustentação do emprego, diferente de outras épocas. 
Por mais que a situação dos empregos e o nível de informalidade ainda configurem 
uma situação preocupante, foram dados incentivos às empresas para continuarem 
produzindo. Isso se fundamenta como uma tentativa de manter a geração de renda e, 
dessa forma, o consumo, fundamental para a manutenção do ciclo dinâmico da 
economia brasileira, uma vez baseado nesse tipo de modelo de crescimento. 
 
 
3. INFLAÇÃO 
 
3.1 INTRODUÇÃO 
 
A inflação pode ser definida como o aumento contínuo e generalizado do nível geral 
dos preços, que leva a uma progressiva perda do poder de compra da moeda. Em um 
18 
 
 
 
cenário inflacionário, há necessidade de uma quantidade cada vez maior de moeda 
para se comprar uma mesma quantidade anterior de mercadorias. 
 
3.2 INDICADORES 
 
Para identificar ou medir a inflação faz-se uso de indicadores ou índices de preço que 
agregam e representam os preços de uma determinada cesta de produtos. Esses 
índices são baseados em uma Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), que geralmente 
é feita num intervalo de dez anos e que indica a alocação de despesas familiares de 
acordo com seus rendimentos. Os diversos indicadores da inflação podem ser 
classificados em dois escopos principais: 
 
a) Preços ao consumidor: o preço do produto final, ou seja, aquele encontrado no 
mercado. Um exemplo é o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), 
estimado pelo IBGE. 
 
b) Preços gerais: abrangem além dos preços no varejo, preços no atacado e 
também preços de insumos. Um exemplo é o Índice Geral de Preços (IGP), 
calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). 
 
3.3 PREÇO RELATIVO X PREÇO NOMINAL 
 
Para entendermos os impactos da inflação em uma economia é preciso ter clareza 
sobre a diferença entre preços relativos e preços nominais. Os preços relativos 
indicam qual é ponderação feita entre diferentes produtos encontrados no mercado. 
Por isso, ele diz respeito ao poder de compra de um produto frente a outro. Dizemos 
então que o preço relativo é uma variável real. Porém essas trocas são intermediadas 
por um quantum de moeda, expressando seu valor em unidades monetárias. Uma 
variável nominal, portanto, pois é medida em unidades monetárias. 
 
3.4 CONFLITO DISTRIBUTIVO 
 
A partir dessa compreensão, é possível depreender que os preços nominais indicam os 
preços relativos da economia. Aumentos nominais de um determinado bem, por 
19conseguinte, levam ao aumento do poder de compra do seu produtor frente a outros 
agentes. Da mesma forma, o ganho no poder de compra de um produtor via preços 
também significa uma diminuição na renda de outros produtores. Quando diversos 
agentes aumentam seus preços nominais indefinidamente em busca de ganhos reais, 
tem-se então um aumento generalizado e contínuo dos preços, ou seja, inflação. Esse 
fenômeno também é conhecido por conflito distributivo, que é uma disputa entre 
agentes na busca de uma fatia maior da renda ou produto total. 
 
Há diversos fatores que podem desenvolver ou mesmo acentuar o conflito distributivo, 
e será isso o que caracterizará cada tipo de inflação. 
 
3.5 TIPOS DE INFLAÇÃO 
 
Pela própria dinâmica da inflação e sua dificuldade de mensuração, não é possível 
descrever qual a exata origem de um processo inflacionário. Abaixo são apresentados 
diferentes tipos de inflação descritos no âmbito teórico, já que na realidade a inflação 
pode envolver todas ou algumas dessas características. 
 
a) Inflação de Demanda: quando há uma demanda acima da disponibilidade de 
bens e serviços, abre-se a possibilidade de fixação de preços maiores sem 
perda de mercado por parte das empresas. Tal fenômeno geralmente está 
associado à injeção excessiva de dinheiro na economia, e por isso caberá à 
política monetária o controle dos preços. 
 
b) Inflação de Custos: a inflação de custos acontece quando se tem aumento em 
determinados setores da economia, como de matérias-primas. Sua causa está 
atrelada às condições de oferta de bens e serviços de algum produto, que ao ser 
reajustado pode desencadear aumentos em toda a cadeia produtiva. 
 
c) Inflação de Lucros: geralmente associado à concentração de empresas 
(oligopólios e monopólios), que permite a dominação do mercado por um grupo 
seleto, dando a este certa autonomia para aumentar os preços de modo que lhe 
proporcione o maior lucro possível sem perda de participação no mercado 
(marketing share). 
20 
 
 
 
d) Inflação Inercial: a inflação inercial, cuja motivação gira em torno das 
expectativas dos agentes – que ao se depararem com uma inflação passada 
repassam automaticamente o aumento aos preços correntes – e à presença de 
contratos reajustados por diversos índices atrelados à inflação (aluguéis, 
salários, produtos comercializáveis e indústria e tarifas públicas). 
 
3.6 PRINCIPAIS EFEITOS DA INFLAÇÃO 
 
A inflação gera vários problemas em uma economia, dentre eles: 
 
a) Distorção nos preços relativos: em uma economia em processo inflacionário 
os preços não necessariamente são reajustados uniformemente, afetando 
determinados setores cujos contratos prevêem reajustes de longo prazo. 
 
b) Arrocho salarial: os trabalhadores têm seu poder de compra diminuído, pois 
têm menor poder de determinação dos seus rendimentos, corroendo assim os 
seus salários. 
 
c) Incerteza: a formação de expectativas também é afetada pela inflação, pois gera 
imprevisibilidade na economia, afetando duas das principais variáveis da 
demanda agregada: o consumo e o investimento. 
 
d) Concentração de renda: dada a incapacidade de trabalhadores e setores não 
oligopolizados em reajustar seus preços e salários, a inflação leva a uma 
transferência de renda entre trabalhadores e empregadores; e entre pequenas e 
grandes empresas. 
 
e) Comércio exterior: a inflação encarece os preços domésticos, tornando 
produtos importados mais baratos e encarecendo os produtos exportáveis, 
levando a um desequilíbrio nas contas externas. 
 
 
 
 
 
21 
 
 
 
 
INFLAÇÃO NO BRASIL: DO PAROXISMO AO PLANO REAL 
 
Entre as décadas de 1930 e 1970 o Brasil experimentou uma inflação constante e 
crescente, reflexo de um processo de modernização que visava a industrialização. As 
medidas econômicas de desenvolvimento, com grandes incentivos à demanda 
agregada, favoreciam o aumento dos preços na economia. Na década de 1980, a 
chamada “década perdida”, o aumento dos preços chegou a gerar uma hiperinflação. O 
governo brasileiro tentou combatê-la com vários planos econômicos, com reformas 
monetárias que levaram à adoção de moedas distintas, como o Cruzado, o Cruzado 
Novo, o Cruzeiro e o Cruzeiro Real num intervalo de apenas sete anos. Esse processo 
só foi interrompido em 1994, com a criação do Plano Real e a mudança da moeda para 
o Real (R$), atual moeda do país. Atualmente a inflação é controlada pelo Banco 
Central através da política monetária que segue o regime de metas de inflação. 
 
Segundo o Banco Central, “o regime de metas para a inflação é um regime monetário 
no qual o Banco Central se compromete a atuar de forma a garantir que a inflação 
efetiva esteja em linha com uma meta preestabelecida, anunciada publicamente. O 
regime de metas para a inflação caracteriza-se geralmente por quatro elementos 
básicos: i) conhecimento público de metas numéricas de médio prazo para a inflação; 
ii) comprometimento institucional com a estabilidade de preços como objetivo primordial 
da política monetária; iii) estratégia de atuação pautada pela transparência para 
comunicar claramente o público sobre os planos, objetivos e razões que justificam as 
decisões de política monetária; e iv) mecanismos para tornar as autoridades 
monetárias responsáveis pelo cumprimento das metas para a inflação” 
(www.bcb.gov.br). O sistema é constituído por uma meta, definida num intervalo entre 
um piso e um teto, dentre os quais a inflação necessariamente deverá se situar ao final 
do período. No Brasil, a meta para a inflação foi definida em termos da variação do 
IPCA. 
 
Desde a sua implementação, em 1999, o sistema de metas tem tido êxito em 
estabilizar a inflação. Nos últimos doze anos, em apenas três o regime foi descumprido. 
Dentre as suas razões, uma importante causa esteve relacionada ao cenário externo 
22 
 
 
 
desfavorável, que levou a distúrbios na taxa de câmbio e agravou as incertezas dos 
investidores quanto à evolução da economia brasileira. 
 
 
4. POLÍTICA MONETÁRIA 
 
4.1 INTRODUÇÃO 
 
A política monetária é a forma pela qual o governo, através de uma autoridade 
monetária – no caso do Brasil, o Banco Central (BACEN) – atua buscando controlar o 
nível de liquidez de uma economia. O termo liquidez se refere à capacidade que um 
ativo tem de mediar trocas e encerrar dívidas. Por isso, como o próprio termo 
“monetário” explica, a função da política monetária é a de, em última instância, 
controlar o valor da moeda (nacional), dado que é o ativo de maior liquidez de um 
sistema econômico. 
 
Dado o papel fundamental que a moeda exerce na economia, a política monetária tem 
influência, por exemplo, sobre as decisões de investimento das empresas e de 
consumo das famílias. Assim, o BACEN pode interferir tanto no nível de atividade 
quanto no nível de preços (inflação) do país. Dada a complexidade da relação entre os 
dois agregados e sua importância para o funcionamento da economia, as escolhas da 
política monetária são fundamentais para pautar o desenvolvimento econômico de um 
país. 
 
4.2 A MOEDA E O SURGIMENTO DOS BANCOS CENTRAIS 
 
Ao longo da história das trocas entre indivíduos, diversos produtos foram sendo 
utilizados para facilitá-las em substituição ao escambo, como sal, gado e cereais. No 
momento em que se passou a utilizar metais como moeda também surgiram as 
chamadas “casas de custódia”, que foram uma espécie de embrião dos bancos. Caso 
um indivíduo precisasse se deslocar com uma grande quantidade de moeda ele 
poderia deixá-las numa dessas casas, onde receberia um certificado de depósito que 
poderia trocar por ouro ouprata assim que chegasse a seu destino. Esses certificados 
começaram a circular normalmente e ficaram conhecidos como papel-moeda. Dizemos 
23 
 
 
 
que eles possuíam lastro em ouro ou prata, pois o valor nele expresso correspondia a 
uma quantidade de metal contida nas casas de custódia. Essa emissão com lastro 
representava uma criação primária de moeda. Com o tempo, contudo, os donos das 
casas de custódia perceberam que, apesar do fluxo de moedas, sempre permanecia 
uma boa quantia guardada com eles, quantia essa que eles passaram a emprestar sem 
o correspondente lastro – o que foi chamado de criação secundária de moeda. 
 
Diante de diversas fraudes e falências de instituições bancárias e da importância que a 
criação de moeda tem para o bom funcionamento da economia, surgiu a necessidade 
de um órgão que não só unificasse a emissão de moeda como a controlasse para 
evitar instabilidades no sistema financeiro. Com efeito, no século XVII surge o primeiro 
Banco Central, na Inglaterra. No Brasil, o BACEN foi criado apenas em 1964, e dividiu 
funções com o Banco do Brasil até 1988. 
 
4.3 O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL 
 
De forma sintética podemos dizer que o Sistema Financeiro Nacional (SFN) é o 
conjunto das instituições responsáveis pela emissão e gerenciamento da liquidez. 
Dentre elas, existem três fundamentais para o entendimento da política monetária: o 
Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Central do Brasil (BACEN, BCB ou 
simplesmente BC) e os bancos comerciais. 
 
O CMN é o órgão máximo de decisão e o responsável direto pelas normas gerais de 
funcionamento do Sistema Financeiro Nacional. Ele tem a função de “formular a política 
da moeda e do crédito, objetivando a estabilidade da moeda nacional e o 
desenvolvimento econômico e social do País” (Decreto nº 1307 de 09 de novembro de 
1994, que estipula as finalidades do CMN). Seu conselho é composto pelo Ministro da 
Fazenda, pelo Ministro do Planejamento e pelo Presidente do Banco Central. 
 
4.4 AS FUNÇÕES DO BANCO CENTRAL 
 
O BACEN é o executor da política monetária brasileira. Para isso, ele dispõe de 
funções e instrumentos. Suas principais funções são: 
 
24 
 
 
 
a) Controlar a emissão de moeda: a Casa da Moeda é o órgão responsável pela 
produção física do dinheiro, entretanto cabe ao BACEN decidir sobre sua maior 
ou menor produção. 
 
b) Ser depositário das reservas internacionais: não é permitida, em território 
nacional, a circulação de moedas de outros países. Nesse sentido, é papel do 
Banco Central possuir um estoque (reserva) e fazer a conversão de outras 
moedas em Real. 
 
c) Ser o banco dos bancos: caso um banco comercial necessite de empréstimos 
para cobrir suas obrigações, ele o pode fazer junto ao Banco Central. 
 
d) Ser o banco do governo: assim como o Banco Central faz empréstimos para 
bancos comerciais, ele pode fazê-los também para o próprio governo, se houver 
necessidade, bem como gerenciar o estoque de dívida do governo. 
 
4.5 INTRUMENTOS DE CONTROLE DA LIQUIDEZ 
 
Sendo uma das principais funções do Banco Central controlar a liquidez na economia, 
ele pode atender esse objetivo fazendo o controle de cinco instrumentos: 
 
a) Taxa básica de juros: é a taxa utilizada como referência pela política monetária, 
pois as taxas de juros cobradas pelo mercado são balizadas por ela. Podendo 
ser compreendida como o “preço do dinheiro”, se há uma alta nos preços das 
mercadorias o aumento da taxa básica pode inibir decisões de consumo e 
investimento, o que faz com que a demanda agregada se reduza, pressionando 
menos os preços. Ao mesmo tempo, torna mais atrativa a aplicação no mercado 
financeiro. No Brasil, a taxa básica de juros é conhecida como taxa SELIC8. 
 
b) Depósito compulsório: trata-se da parte dos depósitos que são feitos nos 
bancos comerciais que, obrigatoriamente, deve ser retida no Banco Central. 
Sua elevação faz com que esses bancos possuam menos dinheiro para 
 
8
 Taxa apurada no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC), que é o depositário e processa a 
emissão e custódia dos títulos públicos. A taxa básica, nesse sentido, é calculada através da média 
ponderada das operações de mercado aberto feitas pelas instituições que participam do sistema. 
25 
 
 
 
empréstimos, ou seja, diminui a criação secundária de moeda. 
 
c) Redesconto: o redesconto é uma taxa punitiva cobrada pelo Banco Central 
quando este faz empréstimos aos bancos comerciais que tenham problemas de 
liquidez. Uma taxa maior indica que os bancos devem ser mais prudentes na 
concessão de empréstimos, pois a punição será maior se tiverem que recorrer 
ao Banco Central. 
 
d) Mercado aberto: as operações de mercado aberto (open market) estão 
relacionadas à compra ou venda de títulos da dívida pública, que são emitidos 
pelo Tesouro Nacional. Numa situação de excesso de liquidez na economia, por 
exemplo, podem-se colocar esses títulos à venda, tirando parte do dinheiro em 
circulação. 
 
e) Controle seletivo de crédito: embora exista a taxa básica de juros fixada pelo 
Banco Central, há formas alternativas de ele atuar sobre as taxas de juros 
cobradas do público (pelos bancos comerciais). Ele pode promover linhas de 
crédito seletivas de forma a beneficiar grupos de agentes com facilidades de 
crédito. 
 
4.6 OPERACIONALIDADE DA POLÍTICA MONETÁRIA NO BRASIL 
 
Vimos como se estrutura o Sistema Financeiro Nacional e o papel desempenhado por 
suas principais instituições. Mas como funciona a operacionalidade da política 
monetária no Brasil? Pode-se dizer que desde junho de 1999 o Comitê de Política 
Monetária (COPOM), que é um órgão interno do BACEN que operacionaliza os 
parâmetros gerais definidos pelo CMN sobre as decisões de política monetária, atua 
através das regras do Sistema de Metas de Inflação. Este se baseia na definição de 
um índice-meta para inflação, estipulado pelo CMN a partir do IPCA, com um intervalo 
de flutuação que dá flexibilidade para o cumprimento da meta. Desde 2005, o centro da 
meta está fixado em 4,5%, com margem de dois pontos percentuais definidos entre o 
piso e o teto de 2,5% e 6,5%, respectivamente. 
 
26 
 
 
 
O principal instrumento utilizado para atingir as metas é a taxa básica de juros, que o 
COPOM estipula de acordo com as expectativas de inflação. Entretanto, quando se 
decide aumentar ou diminuir essa taxa, o Comitê não interfere somente na política 
monetária, mas sim dinamiza ou promove recuo na atividade econômica do país. 
 
Suponhamos, por exemplo, que o COPOM decida elevar a taxa de juros, justamente 
com o objetivo de combater a inflação. Trata-se de uma medida eficaz que, todavia, 
não afeta somente o nível de preços, mas também o nível de atividade. Uma maior 
taxa de juros significa que custa mais caro para os investidores fazerem empréstimos a 
fim de aumentar sua capacidade produtiva, o que proporcionará uma queda na 
demanda e, portanto, na renda do país. 
 
Além disso, ao aumentar a taxa de juros também se interfere na dinâmica da política 
fiscal e do setor externo. Na política fiscal, pois a taxa SELIC é referência para a 
remuneração de diversos títulos públicos e interfere diretamente no financiamento da 
dívida pública. E no setor externo uma vez que o diferencial entre taxas de juros de 
dois países tende a atrair capitais para o mais lucrativo9, o que interfere na taxa de 
câmbio e na dinâmica de importações e exportações. 
 
 
POLÍTICA MONETÁRIA: 
O SISTEMA BANCÁRIO BRASILEIRO NA ALTA E NA BAIXA INFLAÇÃO 
 
O spread bancário, conceitualmente, é a diferençaentre as taxas cobradas e pagas 
pelos bancos comerciais aos seus clientes. Com o spread, o banco paga seus custos 
administrativos, impostos e recebe seus lucros. Atualmente, o spread bancário dos 
bancos brasileiros está entre os maiores do mundo. Mas, afinal, quais são os fatores 
que contribuem para spreads tão elevados? Dentre as causas é possível destacar dois 
fatores principais, um de ordem macroeconômica e outro de ordem microeconômica. 
 
 
9
 É chamada de “arbitragem cambial” a compra e venda de moeda com o objetivo de obter ganhos 
através da diferença entre as taxas de juros (ou de preços, no caso de arbitragem com mercadorias) de 
dois países. O Brasil, por exemplo, é fortemente influenciado por esse fator, pois possuímos uma das 
maiores taxas de juros do mundo. Isso faz com que haja um grande fluxo de capitais para nosso país, 
capitais esses que permanecem aqui por pouco tempo, já que o intuito não é produtivo. 
27 
 
 
 
O primeiro está relacionado ao histórico da inflação brasileira. Como já explicado, a 
inflação desestabiliza a economia. Com o aumento demasiado dos preços, perde-se o 
parâmetro das proporções de troca entre mercadorias. No Brasil, desde a criação do 
Banco Central em 1964, a inflação já fazia parte do cotidiano da população. E a 
consolidação do sistema monetário brasileiro (pós-criação do BACEN) se deu sob os 
efeitos do processo inflacionário. Mas quais são os efeitos de um processo inflacionário 
crônico e elevado sobre o crédito e os bancos comerciais? 
 
Primeiramente, é preciso destacar o papel que os bancos comerciais têm para a 
dinâmica econômica. Eles fornecem crédito para o consumo das famílias e 
investimento das empresas. Contudo, numa economia de alta inflação o crédito é 
inibido, ao mesmo tempo em que atividades especulativas financeiras são estimuladas. 
No caso brasileiro, o alto nível de endividamento do Estado estimulou a execução de 
um mecanismo que ficou conhecido como float inflacionário: os bancos comerciais 
aplicavam os recursos em trânsito de suas agências (depósitos de clientes que 
permanecem alguns dias no banco) em títulos e lucravam com o rendimento e a perda 
de valor real de suas obrigações (devido à inflação). 
 
Com o Plano Real e a estabilização da moeda brasileira, as receitas advindas do float 
inflacionário acabaram, na medida em que a inflação não mais corroia o valor da 
moeda ao ponto de em alguns dias ser possível receber ganhos inflacionários (a 
inflação despencou de 46,6% para 6,1% ao mês). Contudo, a despeito das novas 
condições em que a economia brasileira estava inserida, as instituições bancárias 
permaneceram com “sede” de rendimentos inflacionários. 
 
O segundo fator que contribui para os altos spreads bancários, de ordem 
microeconômica, está relacionado ao alto grau de concentração da atividade bancária 
brasileira. Suas origens se encontram também no período militar, quando houve 
estímulo à concentração bancária na crença de que os ganhos de escala se 
traduziriam em taxas de juros menores. Além disso, o Plano Real teve um papel 
fundamental, pois pequenos e mesmo grandes bancos, como o Bamerindus e o 
Nacional, que se mantinham à base de float inflacionário, foram à falência ou 
comprados por bancos maiores. 
 
28 
 
 
 
Para evitar um colapso do sistema financeiro, houve a criação do Programa de 
Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional 
(PROER) e do Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na 
Atividade Bancária (PROES), que contribuíram significantemente para que o sistema 
bancário brasileiro se tornasse altamente concentrado e aumentaram a participação 
dos bancos privados no sistema bancário. 
 
Observando, com base nos dados do BACEN, a composição do spread bancário hoje, 
percebemos que seus principais componentes são: custo administrativo (15,77%), 
inadimplência (32,16%), impostos (21,82%) e margem líquida ou lucro líquido 
(27,97%). Assim, é perceptível que o fator macroeconômico do spread é um resquício 
de uma época de instabilidade da economia brasileira que os bancos resolveram não 
esquecer. Quanto ao fator microeconômico, ao invés dos ganhos de escala prometidos 
pelo PROER, houve um processo de oligopolização do sistema bancário, gerando altas 
taxas de lucro para os poucos e grandes bancos. Dados de junho de 2009 mostram 
que os 5 maiores bancos detinham a participação em 77,4% do mercado bancário. 
 
 
5. SETOR EXTERNO 
 
5.1 INTRODUÇÃO 
 
Os países não são estruturas isoladas, e mesmo aqueles considerados mais fechados 
acabam por manter uma série de relações com outros países, envolvendo trocas de 
mercadorias, fatores de produção e ativos financeiros. A intensificação dos fluxos de 
informações, pessoas, a importação e exportação de bens e serviços, as remessas de 
recursos a migrantes, os investimentos diretos ou em carteira são características da 
globalização econômica. Esse processo amplia as relações econômicas com o restante 
do mundo tornando a análise do comércio internacional uma atitude fundamental tanto 
da estratégia econômica como da política econômica nacional. 
 
Embora as moedas nacionais sejam o meio de pagamento interno de cada país, essas 
relações são registradas contábil e estatisticamente em dólares americanos (US$), pois 
essa é, atualmente, a moeda que apresenta maior facilidade de circulação e 
29 
 
 
 
conversibilidade nas transações internacionais, ou seja, é a atual divisa. A taxa de 
câmbio representa justamente o preço, em moeda nacional, de uma unidade de 
moeda estrangeira (por exemplo, o dólar). 
 
Até que o dólar chegasse a ser a divisa, o padrão monetário internacional passou por 
uma série de modificações. Podemos considerar 1717 como nosso marco inicial, 
quando a Inglaterra, maior potência econômica de então, decide que todas as suas 
transações comerciais seriam realizadas utilizando o ouro como meio de pagamento. 
Com o advento da Revolução Industrial e um maior fortalecimento da Inglaterra, o 
padrão ouro se disseminou e, ao final do século XIX, as grandes potências 
econômicas da época já o adotavam. 
 
Por algum tempo, o objetivo de estabilizar a moeda e o câmbio foi alcançado pelos 
países. Porém, quando ocorreu 1ª Guerra Mundial, a característica fundamental do 
padrão ouro, qual seja, a conversibilidade, não mais se sustentou. Nesse padrão, os 
países se comprometiam uns com os outros em converter suas moedas nacionais por 
uma quantidade de ouro correspondente. Todavia, em virtude do conflito entre eles e a 
defesa de seus interesses nacionais, o compromisso foi rompido e a estabilização 
deixou de ser atingida. A partir disso, não houve um sistema monetário internacional 
definido, permanecendo assim até os momentos finais da 2ª Guerra Mundial. 
 
As bases do atual padrão monetário têm sua origem na Conferência de Bretton Woods, 
em 1944. Ela tinha por objetivo planejar a estabilização da economia internacional e 
das moedas e resultou na criação de instituições com esse fim, dentre as quais o 
Fundo Monetário Internacional (FMI), com papel de promover a cooperação monetária 
entre os países capitalistas; e o Banco Internacional de Reconstrução e 
Desenvolvimento (BIRD), hoje órgão do Banco Mundial, cuja função era financiar 
projetos de recuperação econômica nacionais. 
 
As funções de tais entidades, aliadas ao fato de os Estados Unidos terem saído da 2ª 
Guerra Mundial com mais de 70% das reservas internacionais de ouro, permitiram ao 
mesmo instaurar um novo sistema monetário, o padrão dólar-ouro. O novo padrão 
garantia a conversão do dólar em ouroa todos os países. A liberalização financeira 
para permitir a reconstrução das demais economias capitalistas e sucessivos déficits 
30 
 
 
 
comerciais – em especial a partir da década de 1970 –, contudo, fez com que as 
reservas dos EUA se esvaecessem numa velocidade espantosa. Diante desse cenário, 
os EUA mantiveram as reservas de ouro consigo e extinguiram a conversibilidade, 
obrigando todos os que possuíam dólares a permanecerem com os mesmos. Assim foi 
constituído o sistema monetário internacional vigente até os dias atuais, o padrão 
dólar, em que não há lastro real para a divisa. 
 
5.2 BALANÇO DE PAGAMENTOS 
 
O Balanço de Pagamentos (BP) é o registro contábil/estatístico de todas as transações 
entre residentes (pessoas físicas ou jurídicas que têm no país seu principal interesse 
econômico) e não residentes de um país num período de tempo específico. Sua 
estrutura contabiliza os fluxos de entrada e saída de mercadorias, ativos financeiros e 
ativos monetários do país e permite avaliar a atuação econômica deste em relação à 
economia mundial. É válido ressaltar que os registros do Balanço de Pagamentos são 
contabilizados em dólar estadunidense, que é o padrão internacional, e que os dados 
são divulgados mensalmente pelo Banco Central. 
 
O BP é dividido em três partes, quais sejam: Transações Correntes; Conta Capital e 
Financeira; e Erros e Omissões: 
 
Estrutura do Balanço de Pagamentos 
1. Transações Correntes 
1.1 Balança Comercial 
1.2 Serviços e Rendas 
1.3 Transferências Unilaterais 
2. Conta Capital e Financeira 
2.1 Investimento Direto 
2.2 Investimento em Carteira 
2.3 Derivativos 
2.4 Outros Investimentos 
3. Erros e Omissões 
4. Resultado do Balanço de Pagamentos = 1+2+3 
 
 
 
 
 
31 
 
 
 
5.2.1 Transações Correntes 
 
As transações correntes registram todas as operações referentes a bens e serviços, 
bem como operações sem contrapartida entre países. Assim, essa conta apresenta três 
rubricas: 
 
a) Balança Comercial: registra a movimentação de mercadorias, ou seja, de bens 
tangíveis. Seu saldo é dado pela diferença entre as exportações e as 
importações de mercadorias efetuadas pelo país. 
 
b) Serviços e Rendas: registra a movimentação de bens intangíveis, como o 
pagamento ou recebimento em função da utilização de fatores de produção 
(salários, lucros e juros) e receitas e despesas com transporte e viagens 
internacionais. 
 
c) Transferências Unilaterais: registra pagamentos ou recebimentos de recursos 
que não possuem contrapartida de compra ou venda de qualquer bem ou 
serviço. Um exemplo é o envio de moeda estrangeira de imigrantes para seus 
familiares em outro país. Outro exemplo são donativos em razão de ajudas 
humanitárias a países muito pobres ou que tenham sofrido desastres naturais. 
 
5.2.2 Conta Capital e Financeira 
 
A Conta Capital e Financeira registra movimentações de ativos financeiros 
(investimentos, empréstimos e financiamentos) entre os países. Na Conta Capital 
registram-se as transferências de capital relacionadas com patrimônio de migrantes e 
aquisição/alienação de bens financeiros não produzidos, tais como cessão de patentes 
e marcas. Já a Conta Financeira – que registra a maior parte do volume de transações 
– se subdivide em quatro rubricas. São elas: 
 
a) Investimento Direto: contabiliza as aquisições e vendas de capital, que neste 
caso denotam empresas nacionais, privadas ou estatais, e as participações 
societárias; além da ampliação e/ou criação de capacidade produtiva por 
iniciativa de grupos estrangeiros. 
32 
 
 
 
 
b) Investimento em Carteira: contabiliza fluxos de ativos e passivos constituídos 
pela emissão de títulos negociados em mercados secundários de papéis tais 
como títulos de renda fixa (dívida pública) ou variável (ações). 
 
c) Derivativos: contabiliza os fluxos relativos à liquidação de haveres e obrigações 
relacionadas a operações financeiras (swaps) e a fluxos relativos ao prêmio de 
opções. 
 
d) Outros Investimentos: contabiliza empréstimos, financiamentos e 
disponibilidades em moedas e depósitos. 
 
5.2.3 Erros e Omissões 
 
Presta-se a compensar contabilmente toda superestimação ou subestimação dos 
componentes registrados. Tais erros acontecem devido às inúmeras transações diárias 
realizadas, por exemplo, devido às diferentes fontes de informação, à confiabilidade 
das informações sobre serviços ou às oscilações diárias no câmbio. 
 
5.3 RESERVAS INTERNACIONAIS 
 
O resultado do BP é dado pela soma destas três contas. Quando negativo (deficitário), 
demanda recursos para cobrir essa lacuna. E são as reservas internacionais que 
cumprem esse papel, pois representam saldos positivos acumulados em períodos 
anteriores. Caso contrário, o país que não possuir reservas suficientes deve recorrer a 
um endividamento externo. Por isso, o saldo do BP é um instrumento fundamental para 
a regularização das Contas Nacionais, pois não só define a capacidade de 
cumprimento de obrigações futuras como contribui para a quitação de dívidas 
contraídas no setor externo. 
 
5.4 REGIMES CAMBIAIS E POLÍTICA EXTERNA 
 
Um dos principais fatores que pode influenciar o desempenho do Balanço de 
Pagamentos é o regime de câmbio adotado por um país. Cada regime possui suas 
especificidades que impactam de formas distintas nas contas com o exterior. Os 
33 
 
 
 
principais regimes são: 
 
a) Câmbio fixo: a taxa de câmbio é determinada pelo Banco Central por meio da 
compra e venda de divisas no mercado a um preço fixo. 
 
b) Câmbio múltiplo: mais de uma taxa de câmbio. Sistema em que se aplicam 
taxas distintas de acordo com a destinação do uso da moeda estrangeira. 
 
c) Câmbio flutuante: a taxa de câmbio oscila livremente para garantir o equilíbrio 
entre a oferta e a demanda por moeda estrangeira. 
 
d) Bandas cambiais (regime misto): a taxa de câmbio pode variar dentro de 
determinados limites máximos e mínimos estabelecidos pela política econômica. 
 
Atualmente, a maioria dos países adota o regime flutuante mesmo que historicamente 
esse sistema tenha resultado em grandes instabilidades nas diversas taxas de câmbio 
nacionais. No Brasil, o regime adotado também é esse, mas há intervenção do 
governo, via Banco Central, quando é conveniente para a condução da política 
econômica – o chamado regime flutuante “sujo”. 
 
A intervenção se dá objetivando diferentes impactos que a política cambial pode vir a 
ter sobre as transações internacionais, dentre elas sobre: 
 
a) Transações Correntes: uma desvalorização cambial10 tende a estimular as 
exportações e desestimular as importações. 
 
b) Conta Capital e Financeira: investimentos dependem (além de outros fatores, 
como a comparação das taxa de juros internas e externas) da expectativa que o 
investidor tem da taxa de câmbio, pois uma desvalorização leva a perdas do 
capital investido por não residentes. 
 
 
10
 Uma elevação da taxa de câmbio representa uma desvalorização da moeda nacional, ou seja, a 
moeda nacional vale menos do que antes. O oposto, uma valorização. 
34 
 
 
 
c) Inflação: uma desvalorização cambial pode causar pressões inflacionárias, já 
que os bens importados têm seus preços elevados. 
 
Além de uma intervenção no câmbio, o governo também pode atuar com outras duas 
ferramentas, quais sejam: 
 
a) Política de Comércio Exterior: estabelecendo tarifas de importação 
diferenciadas sobre produtos, cotas de importação para estabelecimento de 
limites de comercialização e subsídios paraprodutos exportados visando torná-
los mais competitivos (prática combatida pela Organização Mundial do 
Comércio, por significar uma prática de dumping11). 
 
b) Variações na taxa básica de juros: a elevação da taxa de juros interna pode 
ser usada para atrair capitais de curto prazo (especulativos) para elevar o saldo 
da Conta de Capital e Financeira e valorizar o câmbio, além de reduzir o nível de 
atividade e, consequentemente, o saldo das transações correntes. 
 
Cada um dos instrumentos possui aspectos positivos e negativos. Desse modo, o 
grande desafio das autoridades econômicas é programar uma ou mais medidas que, 
em seu conjunto, tragam o menor dano à sociedade e assim fazer com que o ajuste do 
Balanço de Pagamentos garanta o dinamismo adequado à economia do país. 
 
 
O PARADOXO DO SETOR EXTERNO: TRANSAÇÕES CORRENTES X CONTA 
CAPITAL E FINANCEIRA 
 
No início do Plano Real, um dos pilares do combate à inflação era o controle rígido da 
taxa de câmbio por um regime de bandas cambiais, o que ficou conhecido como 
“âncora cambial”. Para isso, duas medidas adotadas merecem destaque para os fins 
de nossa análise: 1) a abertura comercial e financeira, que tinha como características a 
redução das tarifas para a importação e a facilitação para importação de serviços; e 2) 
o contingenciamento do câmbio, que se caracterizou pela manutenção da taxa de 
 
11
 Novamente de acordo com Sandroni (2008), Prática comercial que consiste em vender produtos a 
preços inferiores aos custos, com a finalidade de eliminar concorrentes e/ou ganhar maiores fatias de 
mercado. 
35 
 
 
 
câmbio valorizada, buscando favorecer as importações e o desenvolvimento da 
indústria brasileira (via importação de bens de capital), o que estimularia a concorrência 
interna. 
 
Outro pilar importante foi a política de juros elevados. Além de controlar um aumento 
excessivo do consumo, a alta taxa de juros atraia capitais de curto prazo, o que era 
necessário para manter as reservas do país e assim suprir as necessidades de 
financiamento do governo e manter o câmbio sobrevalorizado. Desta forma, 
possibilitaria que o plano pudesse prosseguir. 
 
Porém, crises externas como a do México (1995), a Asiática (1997) e da Rússia (1998) 
enfraqueceram as contas externas dos países emergentes, inclusive a do Brasil. 
Fomos diretamente afetados pela insegurança trazida por essas crises: grandes somas 
de dinheiro deixaram o país devido à falta de confiança, por parte dos investidores, de 
que o país teria condição de arcar com suas dívidas. Ao menor indício de crise em 
qualquer um dos países emergentes, uma massa de investidores corria para buscar 
refúgio em moedas fortes, como o dólar americano. Outros aproveitavam esses 
movimentos para especular fortemente contra as moedas desses países emergentes, 
na intenção de obter grandes lucros em curto espaço de tempo, o que normalmente 
resultava no esvaziamento das reservas em moeda estrangeira dessas nações. 
 
O Brasil manteve o câmbio valorizado artificialmente através de elevadas taxa de juros. 
Contudo, essa medida era eficiente apenas no curto prazo. No longo prazo, ela 
evidenciaria a fragilidade do setor externo brasileiro. O volumoso aumento da dívida 
gerava a necessidade crescente de novos investimentos estrangeiros para suprir as 
remessas de lucros enviadas ao exterior para remunerar aquele capital investido 
anteriormente. 
 
Este aumento da dívida e a consequente fragilidade externa do país culminaram numa 
crise cambial em 1998, que levou a um empréstimo recorde com o FMI e a 
conseqüente adoção de um regime de câmbio flutuante (1999) por exigência do 
mesmo. 
 
Após a mudança do regime, que resultou numa maxidesvalorização do Real frente ao 
36 
 
 
 
dólar, o cenário das contas melhorou tanto na Conta Capital e Financeira, maior 
atingida pela crise cambial, como na conta de Transações Correntes, que vinha de 
históricos déficits. Contudo, mesmo com essa melhora o saldo do BP no início da 
última década ainda se mostrava deficitário. 
 
Todavia, a partir de 2003 o Brasil passou por um forte ajuste externo. As Transações 
Correntes (impulsionadas pela Balança Comercial) tiveram papel importante nesta 
reviravolta, uma vez que: 1) os preços das commodities estiveram em alta no 
mercado internacional; e 2) crescimento mundial ampliou as importações de outros 
países por esses produtos. Tais fatores ocasionaram num grande aumento nas 
quantidades e nos preços dos produtos exportados, gerando assim um duplo ganho 
nessa rubrica. Como o Brasil possuía cerca de 70% da sua pauta exportadora baseada 
em produtos de baixo valor agregado, foi um dos países mais beneficiados pelo cenário 
favorável, assim como outros países emergentes. 
 
Com a recente crise, no último triênio da década (2008 – 2010) o saldo positivo do BP 
voltou a depender do desempenho da rubrica Investimento em Carteira; sendo a 
rubrica de maior peso, ela atinge a marca de US$ 115,9 bilhões do total de 
aproximadamente US$ 197,4 bilhões registrados na Conta Capital e Financeira durante 
este período. Embora a Balança Comercial ainda tenha evoluído positivamente, 
inclusive batendo recordes de exportação, as Transações Correntes passam a 
contribuir de forma negativa para o resultado do BP. Isso acontece pois os Serviços e 
Rendas tiveram forte expansão, pesando mais no saldo da conta e tornando-a 
deficitária. 
 
Ainda que tenha experimentado distintos perfis nas suas contas externas, com 
predominância ora da conta corrente, ora da conta financeira, o Brasil ainda não logrou 
êxito quanto à superação dos problemas estruturais do seu Balanço de Pagamentos. 
Este problema, na atualidade, consiste no fato de que a conta que alimenta, no curto 
prazo, o resultado positivo do BP – Investimento em Carteira – é a mesma que impacta 
negativa e diretamente, no longo prazo, a conta de Serviços e Rendas e que tende a 
piorar a situação de nossas contas externas. Assim, sem aparente poder de mudança 
deste quadro, o resultado das contas brasileiras tende a seguir a conjuntura 
internacional ficando à mercê da conduta de outras economias. 
37 
 
 
 
6. POLÍTICA FISCAL 
 
6.1 INTRODUÇÃO 
 
O termo “política fiscal” refere-se ao comportamento e à administração das receitas e 
despesas do Setor Público, ou seja, a maneira como cada Estado, durante o mandato 
de um governo, gere seus recursos e obrigações. Assim como todas as demais 
políticas econômicas, a política fiscal não precisa ser obrigatoriamente a mesma para 
todos os Estado, como se existisse um manual descrevendo a “maneira certa” de se 
executá-la. As decisões estatais são resultado de um processo político, em que 
interesses conflitantes são colocados frente a frente e influenciam na forma como se 
constitui a estrutura fiscal de um país. 
 
O manejo das contas públicas é relevante para a política econômica devido a algumas 
características básicas do Setor Público, quais sejam: 
 
a) Tamanho: o Estado pode ser considerado o maior agente econômico, cujas 
decisões de gasto e investimento têm um impacto considerável sobre o nível de 
atividade. 
 
b) Finalidade: ele age sem fins lucrativos, podendo atuar em setores não 
relevantes para a iniciativa privada. 
 
c) Natureza: é um agente que não “quebra”, ou seja, por princípio não pode ir à 
falência dado que suas contas são geridas pelo conjunto da sociedade. 
 
Devido às suas características, há um intenso debate sobre as funções que o governo 
deve desempenhar na economia, que no geral pode-se classificar em três. 
 
a) Alocativa: cabe ao governo