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UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
LICENCIATURA EM HISTÓRIA
HISTÓRIA INDígENA
MARIA HILDA BAqUEIRO PARAISO
Salvador
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©2010 Cedido à Editora da Universidade do Estado da Bahia – EDUNEB para esta edição.
Proibida a reprodução total ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em 
Língua Portuguesa ou qualquer outro idioma.
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
FICHA TÉCNICA 
EDITORA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – EDUNEB
DIRETORA
Maria Nadja Nunes Bittencourt
ASSESSORA EDITORIAL
Carla Cristiani Honorato de Souza
REVISÃO E PREPARAÇÃO DE ARqUIVO
Carla Cristiani Honorato de Souza 
Maíta Nogueira de Andrade
Naiara Rios Sena
DIAgRAMAÇÃO
Sidney Santos Silva
O conteúdo deste Material Didático é de inteira responsabilidade do(s)/da(s) autores (as), por cuja criação assume(m) ampla e total 
responsabilidade quanto a titularidade, originalidade do conteúdo intelectual produzido, uso de citações de obras consultadas, referências, 
imagens e outros elementos que façam parte desta publicação. 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).
Catalogação na Fonte
BIBLIOTECA DA COORDENAÇÃO UAB/UNEB
Editora da Universidade do Estado da Bahia – EDUNEB 
Rua Silveira Martins, nº 2.555 – Cabula 
CEP: 41.195-001 – (71) 3117-3458 
editora@listas.uneb.br 
www.uneb.br
 PARAÍSO, Maria Hilda. 
P222 História indígena: licenciatura em história. / Maria Hilda Paraíso. Salvador: UNEB/ UAB, 2011.
 
 86p. 
 
 
 
 1. Brasil 2. História 3.Índio I. Maria Hilda Paraíso II. Título. III. Universidade Aberta do
 Brasil. IV. UNEB 
 
 
 CDD: 980.41
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APRESIDENTE DA REPÚBLICA
Dilma Roussef
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad
SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
PRESIDENTE DA CAPES
Jorge guimarães 
DIRETOR DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA CAPES
João Teatini
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA
GOVERNADOR
Jacques Wagner
VICE- GOVERNADOR
Otto Roberto Mendonça de Alencar
SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO
Osvaldo Barreto Filho
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
REITOR
Lourisvaldo Valentim da Silva
VICE-REITORA
Adriana dos Santos Marmori Lima
PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
José Bites de Carvalho
COORDENADOR UAB/UNEB
Silvar Ferreira Ribeiro
COORDENADOR UAB/UNEB ADJUNTO
Daniel de Cerqueira góes
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Caro (a) cursista,
Estamos começando uma nova etapa de trabalho e para auxiliá-lo no desenvolvimento da sua aprendizagem es-
truturamos este material didático que atenderá ao Curso de Licenciatura na modalidade de Educação a Distância 
(EaD).
O componente curricular que agora lhe apresentamos foi preparado por profissionais habilitados, especialistas da 
área, pesquisadores, docentes que tiveram a preocupação em alinhar o conhecimento teórico e prático de maneira 
contextualizada, fazendo uso de uma linguagem motivacional, capaz de aprofundar o conhecimento prévio dos 
envolvidos com a disciplina em questão. Cabe salientar, porém, que esse não deve ser o único material a ser uti-
lizado na disciplina, além dele, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), as atividades propostas pelo Professor 
Formador e pelo Tutor, as atividades complementares, os horários destinados aos estudos individuais, tudo isso 
somado compõe os estudos relacionados a EaD.
É importante também que vocês estejam sempre atentos às caixas de diálogos e ícones específicos que aparecem 
durante todo o texto apresentando informações complementares ao conteúdo. A ideia é mediar junto ao leitor, uma 
forma de dialogar questões para o aprofundamento dos assuntos, a fim de que o mesmo se torne interlocutor ativo 
desse material. 
São objetivos dos ícones em destaque:
Você sabia? – convida o leitor a conhecer outros aspectos daquele tema/conteúdo. São curiosidades ou 
informações relevantes que podem ser associadas à discussão proposta.
Saiba mais – apresenta notas, textos para aprofundamento de assuntos diversos e desenvolvimento 
da argumentação, conceitos, fatos, biografias, enfim, elementos que o auxiliam a compreender melhor o 
conteúdo abordado.
Indicação de leituras – neste campo, você encontrará sugestões de livros, sites, vídeos. A partir deles, 
você poderá aprofundar seu estudo, conhecer melhor determinadas perspectivas teóricas ou outros ol-
hares e interpretações sobre determinado tema.
Sugestões de atividades – consiste num conjunto de atividades para você realizar autonomamente em 
seu processo de auto-estudo. Estas atividades podem [ou não] ser aproveitadas pelo professor formador 
como instrumentos de avaliação, mas o objetivo principal é o de provocá-lo, desafiá-lo em seu processo 
de auto-aprendizagem.
Sua postura será essencial para o aproveitamento completo desta disciplina. Contamos com seu empenho e entu-
siasmo para juntos desenvolvermos uma prática pedagógica significativa. 
SETOR DE MATERIAL DIDÁTICO
UNEB/EaD
?? VOCÊ SABIA?
??? ??? SAIBA MAIS
INDICAÇÃO DE LEITURA
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
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Apresentação da Disciplina
A disciplina História Indígena tem como objetivo, conforme sua ementa, fazer compreender, nas múltiplas di-
mensões das experiências dos índios como sujeitos históricos, a constituição de diferentes relações de tempo e 
espaço. 
Os textos que compõem este módulo estão organizados em ordem cronológica, para que o processo histórico 
possa ser mais bem compreendido. Sugerimos, portanto, que sua leitura e as orientações obedeçam à ordem de 
inserção dos textos. 
O objetivo deste curso é o de estabelecer um diálogo com vocês sobre o assunto, responder as perguntas que 
todos temos e abrir novas perspectivas para compreender a realidade indígena.
O módulo está organizado em 8 capítulos. No capítulo I, veremos que é possível se fazer História Indígena, quando 
ela foi aceita pela academia, como podemos trabalhar a temática e as dificuldades a serem enfrentadas.
No capítulo II, o tema é o que é ser índio. No capítulo III, de onde são originários e como o foram; e, no capítulo 
IV, como são diversos entre si. Dessa forma, daremos uma visibilidade mais acurada a esses personagens históri-
cos.
No capítulo V, trataremos do índio colonial, isto é, analisaremos as várias formas de interação estabelecidas entre 
índios, missionários, colonos e autoridades metropolitanas. Veremos os principais pontos de conflito e negocia-
ção, a escravidão indígena e a relevância do seu trabalho, inclusive, na defesa da colônia. Destacaremos algumas 
das principais revoltas que desencadearam, pois, diferentemente do que estamos acostumados a ler, os indígenas 
estabeleceram formas de resistência e impuseram negociações, obrigando o governo colonial a fazer concessões 
e dar garantias aos grupos revoltados. Aprenderemos a dinâmica dessas relações, conhecendo como e por que 
a metrópole deliberou, nos meados do século XVIII, abolir a escravidão indígena e transformar seus aldeamentos 
em vilas.
No capítulo VI, iniciamos nosso estudo pelo início do XIX, quando a guerra justa a alguns grupos indígenas é 
retomada e a escravidão indígena volta 50 anos depois de ter sido proibida. Esta foi a forma encontrada paraconquistar novos espaços produtivos e abrir outros caminhos de circulação. É o período conhecido pela política 
de interiorização da conquista e de acirramento das relações entre índios e não índios e dos preconceitos contra 
aqueles povos. Pensados como substitutos dos escravos de origem africana, os indígenas passaram a ser ad-
ministrados por missionários capuchinhos e, logo depois, abandonados à própria sorte, quando da opção pelos 
imigrantes europeus para trabalharem no Brasil. 
Em seguida, demonstraremos como a independência do Brasil não alterou a visão preconceituosa sobre os índios, 
particularmente por predominarem as teorias racistas como explicação para as diferenças sociais. Analisaremos, 
ainda, como a necessidade de substituição dos escravos de origem africana, após a proibição do tráfico negreiro, 
fez o governo brasileiro deliberar por criar centros de educação e preparação de trabalhadores nas aldeias indíge-
nas e entregar sua administração aos frades capuchinhos italianos. Porém, quando a elite política imperial deliberou 
substituir escravos por imigrantes estrangeiros, os índios foram abandonados à própria sorte e tiveram as terras 
dos seus aldeamentos vendidas em praça pública aos interessados.
No capítulo VII, veremos que a proclamação da República não implicou em alterações até 1910, quando, após 
muitas discussões, criou-se o Serviço de Proteção aos Índios que, após muitos fracassos e corrupção, e alguns 
sucessos, terminou sendo extinto e substituído pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). As contradições da 
política indigenista serão reveladas, assim como os efeitos provocados pela oscilação de orientações e posturas. 
Também veremos, nesse mesmo capítulo, as formas encontradas pelos indígenas para se organizarem e assim 
melhor poderem conquistar seus direitos. 
Finalmente, no capítulo VIII, vamos estudar quais as grandes questões que estão postas, hoje, para as populações 
indígenas, sua organização e lutas, além de analisar os principais questionamentos feitos pela sociedade nacional 
com relação às conquistas desses povos. 
Espero que, ao final do curso, tenhamos aprendido mais sobre os índios e que os possamos ver na sua real dimen-
são humana e histórica; que possamos (re) conhecê-los e compreender suas ações e reivindicações. 
 Desejo, ainda, que sejamos capazes de pensar questões como: qual o lugar dos índios na sociedade nacional? 
Os índios “misturados” são índios e têm os mesmos direitos dos demais? Após tantas demarcações de terras 
indígenas, há muita terra para pouco índio? 
Que também entendamos melhor como se formou a nossa sociedade e como se constituíram os fundamentos 
discriminatórios e hierarquizantes que caracterizam nossa nação. 
Desejo-lhes, então, bons estudos!
A Autora
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SUMÁRIO
CAPíTULO I: A HISTÓRIA DA HISTÓRIA INDígENA 13
CAPíTULO II: DEFININDO íNDIOS 13
CAPíTULO III: ORIgEM DAS POPULAÇÕES INDígENAS 15
CAPíTULO IV: ENTENDENDO AS DIVERSIDADES NO BRASIL 17
CAPíTULO V: O íNDIO COLONIAL 19
CONTATOS E CONVIVÊNCIAS INTERÉTNICAS 19
A ESCRAVIDÃO INDígENA 21
ALDEAR, MISSIONAR, ADMINISTRAR E CIVILIZAR 23
CAPíTULO VI: O SÉCULO XIX E AS POLíTICAS INDIgENISTAS 29
As políticas indigenistas e o período regencial: a consolidação das novas tendências. 34
O 2º império e a possível incorporação dos índios ao todo nacional. 37
O FRACASSO DO REgULAMENTO DAS MISSÕES 40
A LEI DE TERRAS, A OPÇÃO PELOS IMIgRANTES E O ABANDONO DOS íNDIOS 41
CAPíTULO VII: AS PERPLEXIDADES DA REPÚBLICA 43
O SPI E SUA TRAJETÓRIA 46
A FUNAI E AS NOVAS E VELHAS POSTURAS 53
CAPíTULO VIII: O LUgAR DO íNDIO E qUESTÕES ATUAIS. 55
gLOSSÁRIO 59
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 CAPíTULO I: A HISTÓRIA DA HISTÓ-
RIA INDígENA
 
Até a década de 70 do Século XX, os historiadores 
consideravam impossível e irrelevante realizar História 
Indígena, atribuindo essa reflexão aos antropólogos. 
Essa forma de pensar mantinha-se, apesar do estabe-
lecimento do diálogo entre a História e a Antropologia 
desde o início daquele século, quando foi criada a 
conhecida Escola dos Annales. 
??? ??? SAIBA MAIS
A Escola dos Annales surgiu na França, no início do século XX. 
Seus componentes editaram uma revista, chamada Les Annales, 
que terminou por dar o nome a um grupo de historiadores que a 
escreviam e propunham uma nova forma de fazer História. Eles 
buscaram o diálogo com as Ciências Sociais e introduziram novos 
objetos e métodos de análise. Principalmente, buscaram ter uma 
visão crítica dos documentos usados na pesquisa a partir de sua 
contextualização do autor e do momento em que o documento foi 
escrito. 
Para saber mais, acesse: ESCOLA DOS ANNALES. In Infopédia 
[Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. Disponível em: < 
http://www.infopedia.pt/$escola-dos-annales> Acesso em: 20. 
jan.2011.
Apesar dessa nova postura que mudou as temáticas 
e os métodos dos historiadores, os índios continuaram 
a ser vistos, principalmente, após o fortalecimento 
do Estruturalismo, como povos sem história. Não 
haviam produzido documentos e não pensavam numa 
perspectiva temporal, como era compreendida pelos 
estudiosos ocidentais – continuando, portanto, a 
ser objeto da Etnologia, segundo afirmava o célebre 
historiador brasileiro Francisco Adolfo Varnhagen, em 
1850. Um dos exemplos mais claros dessa postura é 
a publicação, em 1997, da coletânea História da Vida 
Privada no Brasil, obra na qual são tratados os mais 
diversos temas, onde, porém, não há sequer um capítulo 
sobre os índios no país. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Este livro é muito interessante para você saber mais sobre o 
assunto: MELLO E SOUZA, Laura de. História da vida privada 
no Brasil – cotidiano e vida privada na América portuguesa. São 
Paulo. Companhia das Letras, 1997.
??? ??? SAIBA MAIS
A escola Estruturalista influenciou a História, destacando a 
necessidade de serem abandonados os fatos, em si, como 
objeto de análise, para usá-los para criar modelos de análise e 
compreender as estruturas profundas do pensamento humano, as 
regras que ordenariam o comportamento humano.
CAPíTULO II: DEFININDO íNDIOS
No início da colonização, a resposta era facilmente 
dada: índios eram todos aqueles que não eram europeus 
ou seus descendentes. Porém, com o passar do tempo 
e a chegada de povos de outras origens, como aqueles 
que vieram da África, a intensidade da miscigenação e 
a dinâmica cultural vivenciada pelos grupos indígenas 
e demais povos, esta resposta ficou cada vez mais 
difícil. 
??? ??? SAIBA MAIS
No Brasil atual, ante os constantes conflitos por terras 
envolvendo populações indígenas e a sua diversidade física 
e cultural, uma das perguntas que mais ouvimos é: afinal, 
o que é um índio?
Iniciando o nosso exercício, devemos destacar que 
a própria denominação “índio” é problemática e implica 
num conjunto de dados a serem considerados. Sabe-
mos que não existe uma etnia ou um povo chamado 
índio, indígena, nativo, silvícola ou algo similar. Essas 
denominações foram criadas pelos europeus, para 
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Vários critérios foram propostos e praticamente 
todos abandonados, por não se mostrarem adequados 
à realidade. O primeiro foi o racial, que partia das ideias 
equivocadas de que é possível aplicar esse conceito aos 
seres humanos e, consequentemente, o da existência 
de raças puras, o que pressupunha a inexistência da 
miscigenação e da igualdade física de todos esses 
povos que aqui habitavam. Aprimeira falha é a grande 
diversidade física entre os chamados indígenas. A 
segunda é não considerar que a miscigenação foi e é 
uma realidade concreta. 
??? ??? SAIBA MAIS
Nos Estados Unidos, esse critério ainda é usado. Quando uma 
pessoa tem uma bisavó indígena, ela é legalmente índio, mesmo 
que não o queira. O mesmo acontece com os negros. É uma 
forma bastante discriminatória de tratar as pessoas, pois não dá 
liberdade ao indivíduo de sequer optar pela raça de um dos sete 
bisavós, para se identificar. 
REgISTRE A SUA IDEIA
É possível ou não identificar os índios por suas 
características físicas?
Pensou-se, então, em defini-los pelos aspectos cul-
turais peculiares. Também aqui, ignorava-se, não só a 
diversidade cultural desses povos, conhecidos desde o 
fim do Século XV, quando Colombo chegou ao continen-
te americano, como também a realidade da dinâmica e 
transformação cultural resultante da convivência entre 
índios de várias etnias em aldeamentos criados pelos 
colonizadores, com europeus e seus descendentes, 
com escravos de origem africana em quilombos, en-
genhos e vilas e povoados, e povos de origem asiática. 
Além do mais, o fato de os grupos indígenas viverem em 
situações diferenciadas de contato – tempo pacíficas ou 
não, opções de como se relacionar - tornam a adoção 
desse critério bastante problemática.
Nos Estados Unidos deliberaram por adotar o que 
chamam de critério legal, Isto é, para alguém ser 
considerado índio, deverá comprovar documentalmente 
possuir as exigências estabelecidas por lei. Como a lei 
muda com o tempo, esse critério criava uma situação 
confusa, pois, de acordo com a lei vigente no ano 
anterior, alguém era indígena, porém, com a lei do ano 
seguinte, não o era mais. 
definir os vários grupos humanos que encontraram 
nas Américas. 
Essa denominação genérica – outras vão surgir 
posteriormente – ignorava um aspecto fundamental: 
a diversidade entre as centenas ou milhares de etnias 
existentes na América. Assim, passaram a ser colo-
cados nas mesmas categorias povos tão diferentes 
quanto, por exemplo, os Astecas, os Maias e os Incas, 
com suas sociedades complexas e hierarquizadas, e os 
Tupinambá do Brasil, os Cheynne dos Estados Unidos, 
com organização social não hierarquizada. 
Se houve miscigenação, transformações sócio-cul-
turais e ampliação do número de povos que passaram 
a viver nas Américas, como então definir o que é ser 
índio no novo contexto?
Figura 1 – Foto do Cacique Raoni da tribo Kaiapó do Parque Nacional 
do Xingu, Mato grosso. Fonte: Agência Brasil. 
Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:149372.jpeg>
Acesso em 20.jan.2011.
Figura 2 – Foto de Nelson Júnior de índios de várias tribos comemo-
rando em Brasília a vitória na ação de demarcação da Terra Indígena 
Serra do Sol. Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/cms/lista-
rImagem.asp?palavraChave=%EDndios>
Acesso: 20.jan.2011
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Outra tentativa foi feita, levando em conta o nível 
de desenvolvimento econômico. Segundo os for-
muladores desse critério, os indígenas estariam para 
sempre condenados a não atingirem o nível de desen-
volvimento dos não índios, o que tem sido desmentido 
pela realidade atual. Ignoraram o estado de pobreza das 
populações faveladas e camponesas em áreas rurais de 
muitos países americanos. Estas, muitas vezes, vivem 
em igual condição ao das populações indígenas ou até 
piores, por não contarem com políticas governamentais 
de apoio e não possuírem terras. 
REgISTRE A SUA IDEIA
Você pensa que esses critérios de identificação 
são adequados e justos?
O critério que tem sido adotado desde 1949 e acolhi-
do pela ONU é o da auto identificação étnica. Segundo 
ele, são índios todos aqueles indivíduos que, dada a 
sua ancestralidade e socialização, se consideram e são 
assim considerados pelo grupo com o qual convivem 
e pelos não índios. 
Valorizam-se, assim, os sentimentos de pertença 
de uma pessoa e como ela se posiciona no mundo 
em que vive e se reconhece que esse sentimento nada 
tem a ver com aspectos físicos e nem com qualquer 
possibilidade de serem povos sem história, isto é, sem 
dinâmica social. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Como esse assunto é muito interessante, sugiro este texto: 
MESQUITA, Caroline Rosa. A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE 
ÉTNICA E AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS. 2010. Disponível em: 
<http://www.webartigos.com/articles/30808/1/A-Construcao-
da-Identidade-Etnica-e-as-representacoes-Sociais/pagina1.
html#ixzz1EEuQy01c>. Acesso em: 17.fev.2010. 
CAPíTULO III: ORIgEM DAS POPULA-
ÇÕES INDígENAS
Até a década de 1980, a teoria vigente sobre a ori-
gem dos povos indígenas afirmava que a penetração 
de todos eles, na América, havia ocorrido pelo estreito 
de Bering, durante a última glaciação, provavelmente 
há 12 mil anos.
?? VOCÊ SABIA?
Os índios não são nativos da América. Foi preciso muita pesquisa 
genética, arqueológica, histórica e antropológica para se saber, 
com certeza, de onde eles vieram. 
Figura 3 – Mapa mostrando a localização do Estreito de Bering entre 
o Alaska e a Sibéria.
Fonte: ESTRELLA, Sylvia. Como Funcionam os índios.
Disponível em <http://pessoas.hsw.uol.com.br/indios.htm>
Acesso em 20.jan.2011.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para entender melhor esse assunto, leia Silva, Washington Luiz 
Alves da. GLACIAÇÕES, 2004. Disponível em <www.geomundo.
com.br/meio-ambiente-40127.htm>. Acesso em 20. jan.2011. 
Segundo essa ótica, o mesmo povo de origem 
asiática teria atravessado o referido estreito, usando 
como pontos de apoio as Ilhas Aleutas, adentrando no 
território que hoje pertence aos Estados Unidos e daí 
se espalhando em todas as direções, até ocupar todo 
o território das três Américas.
Figura 4 – Mapa mostrando a localização das Ilhas Aleutas
Fonte: Mare Nostrum
Disponível em <http://wwwseaclopedia.blogspot.com/2010_01_01_
archive.html>
Acesso em 20.jan.2011
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A ?? VOCÊ SABIA?
Os achados arqueológicos, no Brasil, foram muito importantes 
para repensar a origem dos povos indígenas da América e 
revolucionaram os conhecimentos existentes até então. 
Algumas questões foram surgindo, ao longo do 
tempo, com a ampliação dos estudos antropológicos e 
arqueológicos. O primeiro aspecto a chamar a atenção 
era a grande diversidade física e sócio cultural entre os 
muitos povos aqui existentes. O tempo pensado para 
essa migração era muito curto para tantas diferencia-
ções. 
Entretanto, foram os achados arqueológicos que co-
locaram definitivamente em cheque a teoria da entrada 
única. No caso do Brasil, dois achados, ainda que haja 
muitos outros, têm sido destacados. O primeiro são 
os trabalhos da arqueóloga Niede Guidon, no sudoeste 
do Piauí.
Figura 5 – Foto de pintura rupestre na Serra da Capivara, Piauí
Fonte: Pablo de Sousa. Disponível em <http://viajeaqui.abril.com.br/
vt/materias/vt_materia_451483.shtml.> 
Acesso em 20.jan.2011.
Após longas pesquisas e envio de material para 
datação nos Estados Unidos e na França, apesar da 
sistemática oposição das universidades americanas aos 
novos dados, ficou comprovada a presença humana na 
região entre 14 e 48 mil anos. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Como este assunto é muito importante e pouco conhecido, 
leia o texto abaixo que terá muita informação interessante: 
GUIMARÃES, Henri. PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA, 
2008. Disponível em: <spintravel.blogtv.uol.com.br/.../parque-
nacional-serra-da-capivara-piaui>. Acesso em: 24. jan. 2011
?? VOCÊ SABIA?
O fóssil mais antigo do Brasil foi encontrado em Lagoa Santa, 
no estado de Minas Gerais, e era de uma mulher com traços 
negroides. 
Outra descoberta que mereceser destacada é a 
de André Prous, na região de Lagoa Santa, em Minas 
Gerais, em 2001. O crânio encontrado e datado de 11 
mil e quinhentos anos, apresentava peculiaridades tais 
que o arqueólogo o enviou para o antropólogo físico 
Walter Neves. Este, após vários estudos, concluiu que 
a mulher a quem pertencera o crânio não tinha caracte-
rísticas ameríndias, mas negroides. Chamado de Luzia, 
esse fóssil apontou para a existência de populações 
não indígenas que aqui viviam simultaneamente com 
esses povos.
Figura 6 – Foto da reconstituição da face de Luzia, fóssil encontrado 
em Lagoa Santa, Minas gerais.
Fonte: Professor Daniel.
Disponível em <http://tonahistoria.blogspot.com/2010/08/historia-
do-brasil.html>
Acesso em 20.jan.2011.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Veja como ocorreu essa descoberta em: SOARES FILHO, Ney 
DNA DO HOMEM DE LAGOA SANTA JÁ FOI EXTRAÍDO DOS OSSOS 
in HOJE EM DIA. 2001. Disponível em: <http://www.lagoasanta.
com.br/homem/index.htm>. Acesso em: 24. Jan.2010.
Também em outros pontos da América, outras 
descobertas levavam á contestação frontal da teoria 
da entrada única por Bering. 
Os novos dados apontam para o fato de vários povos, 
em momentos distintos e usando rotas distintas, terem 
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adentrado na América. Aqui estabeleceram relações 
entre si e viveram experiências históricas particulares 
que resultaram nos diversos povos que habitaram e 
habitam o nosso continente, inclusive o Brasil. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para conhecer melhor este assunto, leia LUZIA. Em Revista VEJA, 
25 de Agosto de 1999, Disponível em: <http://novosolhos.com.br/
site/arq_material/12528_13532.pdf> Acesso em: 21. jan.2011
Figura 7 – Mapa das rotas de entrada de povos na América como 
está estabelecido na atualidade.
Fonte: Blog do Professor Daniel
Disponível em <http://tonahistoria.blogspot.com/2010/08/historia-
do-brasil.html> 
Acesso em 20.jan.2011.
?? VOCÊ SABIA?
Que há poucos trabalhos arqueológicos no Brasil e que muitas 
informações já se perderam e outras estão por se perder?
Antes de estudarmos a diversidade dos povos indí-
genas, é importante considerar alguns aspectos quase 
nunca sinalizados nos livros didáticos.
Devido à precariedade dos estudos arqueológicos, 
à destruição de grande quantidade de sítios, resultante 
da ação humana e á fragilidade de alguns equipamentos, 
feitos com fibras vegetais, madeiras e cerâmica, muitas 
informações sobre essas populações são irrecuperá-
veis. Assim sendo, há que se ter muito cuidado ao usar 
afirmativas sobre demografia pré colonial (os cálculos 
são arbitrários e nada confiáveis), relações interétnicas, 
nome dos povos e sua localização. Só a partir do fim 
do século XX, houve censos demográficos no país e 
as informações são parcialmente aceitáveis, porque 
só foram contados os índios que estavam em contato 
com os não índios. Os que viviam nas matas não foram 
incluídos nos dados produzidos.
??? ??? SAIBA MAIS
Os dados demográficos que se referem ao período que vai do 
século XVI ao XX se baseiam em cálculos feitos por não índios, 
que desconheciam a quase totalidade dos povos indígenas: 
quantos eram, que espaço ocupavam, quantos viviam em cada 
aldeia. Para fazer o cálculo, baseavam-se em dados aproximados 
das aldeias tupis do litoral, calculavam a distância entre essas 
aldeias, dividiam pelo tamanho do atual território nacional, para 
saber quantas aldeias existiriam, e multiplicavam esse número 
pelo dos supostos moradores das aldeias tupis. 
CAPíTULO IV: ENTENDENDO AS DI-
VERSIDADES NO BRASIL
O primeiro indicador usado pelos pesquisadores 
para identificar a identidade de um grupo é a língua 
que eles falam. Ela é um indicador confiável e inicial 
das características sócioculturais de um povo. Além do 
mais, através dos estudos de etnolinguística, é possível 
identificar as migrações dos falantes da língua estudada 
e as relações que mantiveram com outros povos.
??? ??? SAIBA MAIS
Etnolinguística é o estudo comparativo das línguas indígenas. As 
semelhanças entre as palavras de várias línguas indicam que elas 
têm uma língua antiga comum. Por exemplo, as chamadas línguas 
latinas, como o português, o francês, o italiano e o espanhol, 
indicam que elas derivam do latim. Então, se identificarmos os 
locais onde se falam as línguas latinas, podemos estabelecer a 
história do contato e da expansão dos povos que falavam latim e 
daqueles que falam línguas latinas. 
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INDICAÇÃO DE LEITURA
Você pode aprender mais sobre isso, lendo: Barreto, Evanice 
Ramos Lima ETNOLINGUÍSTICA: PRESSUPOSTOS E TAREFAS in 
Revista Virtual Portes, 2010, disponível em: < www.partes.com.
br/cultura/etnolinguistica.asp> acesso em: 21. Jan.2011.
Embora seja tradicional se afirmar que, no Brasil, só 
havia dois grupos falantes de línguas diferentes – os Tupi 
e os Tapuia -, esta não é a realidade. O grupo Tapuia, 
como um povo, nunca existiu. Assim eram chamados 
todos aqueles que não falavam tupi ou guarani. Sequer é 
possível saber quantos grupos não falavam o tupi, onde 
se localizavam e o que com eles aconteceu.
??? ??? SAIBA MAIS
Tapuia era como os vários grupos falantes da língua tupi 
chamavam aqueles que usavam outras línguas e que, portanto, 
não pertenciam a seu povo e eram vistos como inimigos. A palavra 
pode ser traduzida como aqueles que tinham a língua travada. 
O que se sabe é que, ainda hoje, no Brasil e em paí-
ses vizinhos, existem os seguintes troncos lingüísticos: 
o Tupi e o Macro Jê (ambos existentes na Bahia). Além 
dos troncos, há várias famílias lingüísticas: Aruaque, 
Arauá, Caribe, Ianomâni, Tucano, Catuquina, Pano, Txa-
pacura, Nambiquara, Guaicuru, Ticuna, Canoê, Aicaná, 
Cuazá, Aricapu, Irantxe/Minki e Trumai.
Para entender melhor essa diversidade de línguas 
faladas pelos nossos indígenas, leia : 
INDICAÇÃO DE LEITURA
FUNAI. ÍNDIOS. Disponível em: <http://www.funai.gov.br/indios/
conteudo.htm#LINGUAS>. Acesso em 22. jan.2011. 
Instituto Sócio Ambiental, TRONCOS E FAMÍLIAS. Disponível 
em: <http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/
troncos-e-familias> Acesso em: 21.jan.2011. 
Há povos que, devido ao longo tempo de contato, 
são falantes apenas do português. Outros, como os 
Fulni-ô, de Pernambuco, falam, além do português, uma 
língua que nenhum outro povo conhece. Provavelmente, 
os demais falantes devem estar extintos. Muitos são 
bilíngues, inclusive com o apoio do Governo brasileiro, 
que tem investido na formação de professores capazes 
de ensinar as duas línguas – a dos índios e o português 
– nas escolas das aldeias.
Essas línguas se distribuem de forma diferenciada 
pelas várias regiões do país e o número de falantes varia 
bastante. Hoje ainda são faladas 180 línguas diferentes 
no país, constituindo-se num patrimônio imaterial dos 
mais relevantes e que deverá ser considerado como 
Patrimônio Imaterial da Humanidade.
Figura 8 – Mapa das línguas indígenas faladas no Brasil na atuali-
dade. Fonte: AMENDOLA, Marcio
Disponível em <6.04-Línguas Indígenas faladas no Brasil Di-
sponível em <http://contextohistorico.blog.terra.com.br/category/6-
imagens-da-exclusao/604-linguas-indigenas-faladas-no-brasil/>
Acesso em 21.jan.2011.
A essa diversidade linguística corresponde a diver-
sidade social, econômica, política, religiosa e cultural, 
que se acentua, na medida em que esses grupos se 
dispersam e passam a viver experiências particulares 
que alteram o seu universo cultural e social. 
A essa diversidade, que precede o contato com os 
não índios, devemos acrescentar as decorrentes des-
sas novas relações e considerar o tempo da relação, 
seu caráter mais ou menos agressivo,as imposições, 
as novas experiências e, por fim, as opções feitas por 
cada grupo ante a situação vivenciada. Isto é, como 
reelaboram sua economia, organização social, cultura 
e seu universo de crenças. 
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CAPíTULO V: O íNDIO COLONIAL
CONTATOS E CONVIVÊNCIAS INTERÉTNICAS
Os historiadores tradicionais apresentam sempre 
duas visões acerca dos primeiros contatos: ou os 
índios se apresentavam espontaneamente aos euro-
peus, em atitude pacífica e aceitando submissamente 
as condições impostas pelos recém-chegados, ou 
agressivamente, dificultando ou impedindo a conquista 
e a colonização.
O encantamento com a beleza e a liberdade dos 
índios, mas, ao mesmo tempo, estranheza, os medos 
e a incompreensão da hierarquia ante a presença do 
comandante da esquadra: esta primeira visão foi ex-
pressa na carta escrita por Pero Vaz de Caminha ao 
Rei de Portugal, em 1500. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para você conhecer essa visão, é interessante acessar esta 
indicação: CARTA AO REI D. MANUEL. 2008. Disponível em: 
<pt.wikisource.org/.../Carta_a_El_Rei_D._Manuel_(ortografia_
atualizada)> Acesso em: 21.jan.2011. 
A partir daí, vários autores escreveram sobre os ín-
dios do litoral brasileiro, predominantemente falantes da 
língua tupi e guarani. Esses autores elaboraram imagens 
positivas ou negativas sobre esses povos, calcadas 
em suas experiências e visão do mundo. Porém, as 
imagens negativas passaram a predominar, após o 
estabelecimento de conflitos entre índios e colonos 
em disputa por terras e em reação à escravização que 
lhes era imposta. Essa dualidade na forma de vê-los 
está expressa, com muita clareza, no Regimento do 
Governador Tomé de Souza, elaborado em 1548, através 
do qual foram definidas duas categorias de índios: os 
mansos, que deveriam ser livres, aldeados, protegidos 
e assalariados, e os bravos,que eram destinados à 
guerra e à escravidão.
INDICAÇÃO DE LEITURA
O Regimento do Governador Tomé de Souza é uma das leis mais 
importantes para você entender como a Coroa portuguesa pensava 
sua colônia americana. Veja isso neste texto: O REGIMENTO DE 
TOMÉ DE SOUZA. 2009. Disponível em: <www.variasvariaveis.
sites.uol.com.br/tome.html>. Acesso em: 21. Jan. 2011.
Os conflitos entre índios e colonos se iniciaram, 
quando Portugal deixou de, simplesmente, explorar as 
riquezas naturais e decidiu implantar a colonização, 
para tanto doando sesmarias, deslocando população de 
Portugal e incentivando o plantio de cana-de-açúcar. 
A nova realidade gerou insatisfações. Algumas delas 
decorreram da ocupação das terras indígenas para a 
instalação da agricultura e pecuária; outras advieram 
do uso do trabalho escravo, que ainda não se buscava 
na África, e cujas necessidades não podiam ser supri-
das em Portugal. A escravização dos índios provocou 
profundos desarranjos no sistema econômico, social 
e político daquelas sociedades. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para entender melhor como a escravidão afetou a vida dos índios, 
acesse esta análise: BORGES, Jóina Freitas ENTRE O ESPANTO 
E O CONFLITO: AS REAÇÕES DOS NATIVOS À CHEGADA DOS 
PRIMEIROS EUROPEUS À COSTA LESTE-OESTE. 2009. Disponível 
em: <http://www.ifch.unicamp.br/ihb/Trabalhos/ST36Joina.pdf> 
Acesso em: 21. Jan. 2011. 
Destacaremos, inicialmente, a redução do seu 
acesso aos alimentos, fosse por não mais disporem 
de tempo para caçar, pescar, coletar ou plantar, fosse 
pela competição na disputa pelos alimentos com os 
colonizadores. A redução na produção de alimentos 
obtidos também se refletiu nas relações interétnicas. 
O estabelecimento de alianças entre índios e não índios 
– sistema de troca pelo qual os índios ofertavam alimen-
tos e trabalho em troca de produtos manufaturados e 
garantia de que não seriam escravizados – faliu, a partir 
do momento em que a produção indígena se tornava 
menor e mais inconstante, não mais sendo satisfatória 
para os europeus. A opção dos colonizadores foi, então, 
a de escravizar os índios, numa tentativa de regularizar 
o fluxo de mercadorias e trabalho.
Ainda no campo econômico, outros fatores desa-
gregadores foram importantes: a atribuição das tarefas 
agrícolas aos homens, sendo estas exercidas apenas 
por mulheres, assim como a substituição de uma eco-
nomia calcada nos princípios da troca e da solidariedade 
por outra de caráter mercantilista, regida por regras de 
mercado que desconheciam, e voltada para o lucro. 
No campo religioso, cujos valores também interfe-
riam na organização social, um dos grandes elementos 
complicadores foi a pressão exercida pelos colonos 
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para que os prisioneiros de guerra, destinados ao 
sacrifício ritual, fossem desviados e entregues como 
escravos para os interessados. Por ser uma sociedade 
hierarquizada, cujo prestígio e poder se fundamentava 
na captura e morte de prisioneiros, nas constantes 
guerras que os grupos mantinham entre si, a ruptura 
dessa prática não só lhes retirava as referências do 
ordenamento social, como também era vista como um 
desrespeito ao seu deus e ao cativo,que possuía direito 
a uma morte digna, única forma de atingir a Terra Sem 
Males, algo equivalente ao céu dos cristãos.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para entender melhor essa questão, aproveite esta dica de leitura: 
MAESTRI, MÁRIO. OS SENHORES DO LITORAL: CONQUISTA 
PORTUGUESA E AGONIA TUPINAMBÁ NO LITORAL BRASILEIRO 
(SÉCULO XVI) Porto Alegre, EDUFRS, 1994
REgISTRE A SUA IDEIA
De como você vê o drama vivido por esses índios 
e se havia outras formas possíveis de relacionamento 
entre eles e os colonos. 
Figura 9 – Foto de gravura de 
jesuítas catequizando índios
Fonte: Claudia *Literatura, Cultura e Artes*
Disponível em claudialiteraturaculturaeartes.blogspot
Acesso em 21.jan.2011.
Ante essa realidade tão complexa, as respostas 
dadas pelos índios foram bastante diversificadas. Para 
fazerem suas opções, usavam o repertório dos seus 
conhecimentos anteriores ao contato e os adquiridos a 
partir das novas experiências no mundo colonial. Pode-
mos elencar entre as várias formas de posicionamento 
adotadas a resistência, as fugas, os enfrentamentos, a 
construção de alianças com portugueses ou franceses 
e a tentativa de, através da aceitação do aldeamento 
compulsório, construir um espaço no mundo colonial, 
aprendendo a usar os espaços e instrumentos adminis-
trativos que lhes eram favoráveis. Era preciso repensar, 
adaptar, encontrar brechas, formular estratégias de 
inserção e preservação, fazendo surgir uma nova so-
ciedade indígena mais operante ante a nova realidade.
??? ??? SAIBA MAIS
O aldeamento compulsório resultava da imposição ou da decisão 
dos índios de aceitarem viver em áreas restritas, administradas e 
localizadas pelos colonizadores, de acordo com seus interesses: 
garantir mão-de-obra nas proximidades de suas propriedades 
e defesa dessas propriedades, povoações e vilas, em caso de 
ataque de outros europeus ou de índios não aliados.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Como essa questão é complexa, que tal aproveitar para ler 
essas referências: MONTEIRO, J. NEGROS DA TERRA. ÍNDIOS 
E BANDEIRANTES NAS ORIGENS DE SÃO PAULO. S. Paulo. 
Companhia das Letras, 1995; ALMEIDA, Maria Regina Celestino 
de. METAMORFOSES INDÍGENAS: IDENTIDADE E CULTURA NAS 
ALDEAIS COLONIAIS DO RIO DE JANEIRO, Rio de Janeiro, Arquivo 
Nacional, 2003. E POMPA, Cristina. RELIGIÃO COMO TRADUÇÃO: 
MISSIONÁRIOS, TUPI E TAPUIA NO BRASIL COLONIAL. Bauru, SP: 
EDUSC/ANPOCS. 2003. 
Em termos de ordenamento sociopolítico, há que 
destacar os efeitos negativos provocados pela mudança 
do eixo de poder, o que acentuava a dependência e a 
incapacidade de uma reação de maiores proporções e 
mais efetivados indígenas ante as imposições que lhes 
eram feitas. Nesse sentido, a morte e a destituição das 
lideranças indígenas ou sua cooptação acentuavam-
lhes o sentimento de abandono, ausência de proteção 
e de perspectivas ante a violência imposta. No entanto, 
algumas dessas sociedades encontraram formas de 
se ajustarem a essa nova realidade e, até mesmo, de 
criarem regras hereditárias de sucessão para os cargos 
de chefia. Criaram, à moda européia, uma casta de 
governantes indígenas ativa no seu diálogo, capaz de 
apresentar suas exigências e reivindicar seus direitos 
através do uso de mecanismos políticos próprios do 
mundo colonial. 
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INDICAÇÃO DE LEITURA
Conheça como os índios se tornaram hábeis negociadores, 
usando este texto: APOLINÁRIO, Juciene Ricarte AÇÕES POLÍTICAS 
MULTIFACETADAS DOS TARARIÚ NOS SERTÕES DAS CAPITANIAS 
NO NORTE ENTRE OS SÉCULOS XVI E XVII. 2009. Disponível em: 
<http://www.ifch.unicamp.br/ihb/Trabalhos/ST36Juciene.pdf> 
Acesso em: 21. Jan. 2011. 
Independentemente de as relações de poder se 
expressar, através de mecanismos de violência explí-
cita ou da criação de alianças, suas bases estavam 
fincadas no projeto estatal de programar a conquista, 
a colonização e a integração. Ainda que forçada a um 
modelo estabelecido para conquistar e administrar, de 
acordo com seus interesses e os dos segmentos sociais 
tornados parceiros e executores daqueles projetos. E 
isso implicava a negação do direito à autonomia das 
populações nativas, gerando várias instâncias de an-
tagonismo, oposição e resistência, o que só fortalecia 
a adoção de medidas e os argumentos voltados para 
garantir a dominação e o controle sobre os revoltosos. 
Logo, temos que pensar que as relações coloniais eram 
constantemente atualizadas, a partir das interações 
estabelecidas entre os dois segmentos sociais, o que 
atribui peculiaridades aos vários momentos e conjun-
turas historicamente constituídos.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Quer saber como as relações entre índios e colonos estavam em 
constante mudança, leia Lopes Fátima Martins, OFICIAIS DAS 
ORDENANÇAS DE ÍNDIOS: NOVOS INTERLOCUTORES NAS VILAS 
DA CAPITANIA DO RIO GRANDE. 2009. Disponível em: <http://
www.ifch.unicamp.br/ihb/Trabalhos/ST36Fatima.pdf> Acesso em 
21. Jan.2011
A ESCRAVIDÃO INDígENA
Desde 1548 os índios haviam sido divididos em duas 
grandes categorias - os aliados e os inimigos – e cada 
uma delas tinha tratamento diferenciado: aldeamento 
ou guerra justa e escravidão.
Um dos mitos mais comuns na nossa história é a 
de que a escravidão indígena deixou de existir a partir 
de 1560, quando começaram a chegar os escravos de 
origem africana e que essa substituição deveu-se à 
inadequação dos índios ao trabalho e à escravidão.
Na verdade, a primeira notícia de indígenas es-
cravizados data de 1514, quando a Nau Bretoa levou, 
juntamente com toras de pau-brasil e papagaios, um 
lote de pessoas nativas para serem vendidas na Euro-
pa. A partir de então, essa prática se tornou comum e 
foi regulamentada, após 1532, quando da criação das 
capitanias hereditárias. Constava nas diversas cartas 
de doação o direito de os donatários enviarem, com 
isenção de pagamento de impostos, até 21 índios por 
ano, para comercializar na Europa. Os que excedessem 
essa cota seriam taxados pela Coroa. 
Com o Regimento de 1548 foi deliberado que to-
dos os grupos que se revoltassem ou dificultassem a 
expansão da colonização deveriam ser aprisionados e 
escravizados. Aqueles que optassem por conviver com 
os colonos e se aldear seriam entregues à adminis-
tração real, à particular ou à dos missionários, como 
veremos a seguir. 
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Analise por que a Coroa portuguesa adotou essa 
política e a quem interessava que ela tratasse de 
forma diferente os índios. 
Essa política era uma tentativa da Coroa portuguesa 
de atender a duas necessidades essenciais, para ga-
rantir a colonização: garantir moradores e defensores 
para a colônia, com o estabelecimento de alianças com 
os aldeados e, simultaneamente, garantir trabalhadores 
aos colonos.
 É preciso recordar que Portugal era um país com 
baixa densidade demográfica; Possuía colônias na 
África e na Ásia, onde a presença de portugueses era 
fundamental para viabilizar a exploração econômica, 
e era preciso manter lusos na metrópole, não só para 
garantir o funcionamento da máquina administrativa, 
como também produzindo alimentos e realizando outras 
tarefas essenciais á metrópole e ao império português 
como um todo. 
Até 1560, foi a mão de obra indígena que tocou os 
campos agrícolas, os engenhos, a criação de gado, a 
produção de subsistência, o corte e transporte de ma-
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deiras e pedras, as construções e as demais atividades 
econômicas na América portuguesa, além da defesa da 
colônia dos ataques de corsários europeus e de outros 
índios que não aceitavam se aldear. 
Naquela década, ocorreram duas grandes epide-
mias - uma de varíola e outra de catapora -, as quais, 
segundo o padre José de Anchieta, mataram 2/3 de 
toda a população indígena que vivia no litoral. A razão 
de tantas mortes deveu-se à contaminação dos índios 
aldeados, porque os ameríndios não possuíam anticor-
pos para doenças infecto- contagiosas e nem sabiam 
como se tratar. Os aldeamentos se esvaziaram devido 
às mortes e às fugas, colocando em colapso o sistema 
produtivo colonial.
Para agravar a situação, foi decretada uma Bula 
Papal, em 1570, proibindo a escravidão indígena, o 
que obrigou Portugal a enrijecer as normas relativas 
à decretação de guerra e escravização dos nativos da 
América. 
Mais uma vez, foi a política imperial que determinou 
a solução: a vinda de escravos africanos. Essa forma 
de resolver o problema mostrava-se benéfica a vários 
segmentos. A Coroa, que cobrava impostos aos co-
merciantes de escravos, aos financiadores estrangeiros 
da produção de açúcar, que passavam a oferecer mais 
um item a ser financiado aos senhores de engenho, 
aos comerciantes possuidores de frotas de transporte 
que podiam navegar pelo Atlântico com três pontos 
para abastecimento de mercadorias – Europa, África 
e América. E, finalmente, os senhores de engenho 
sentiram-se mais seguros quanto ao abastecimento 
de escravos, já que não havia qualquer restrição legal, 
religiosa e moral para o uso dos africanos. 
A propaganda também estimulou esse comércio: os 
interessados no tráfico afirmavam que os africanos já 
não mais morriam de doenças infecto-contagiosas, se-
riam mais fortes, resistentes e acostumados ao trabalho 
e teriam menores chances de fugir, por desconhecerem 
a terra e temerem os “índios antropófagos.”
REgISTRE SUA IDEIA
Para que possa sistematizar melhor seu conheci-
mento, registre sua ideia sobre o assunto, analisando 
a importância da escravidão indígena e as razões pelas 
quais a História afirma que ela não continuou, porque os 
índios não se adaptaram às novas formas de trabalho 
e porque eram preguiçosos.
No entanto, ressalte-se que a escravidão indígena 
não se extinguiu no século XVI. O primeiro grande em-
pecilho era o preço do escravo africano, que chegava 
a ser dez vezes maior do que o praticado na aquisição 
dos índios. O segundo resultava de os empréstimos 
não serem acessíveis a todos os colonos. Agriculto-
res, mesmo plantando cana-de-açúcar, mas que não 
possuíam engenhos, os que se dedicavam à lavoura de 
subsistência e os demais segmentos produtivos não 
eram financiados pelos importadores europeus nem 
pelos grandes comerciantes de escravos. Para eles, 
o acesso possível a trabalhadores continuava a ser 
o escravo indígena e, por isso, continuaram a usá-lo, 
inclusiveos senhores de engenho, até sua proibição 
em 1756. Foi no espaço dos engenhos que se estabe-
leceram casamentos mestiços entre índios e negros 
e as primeiras alianças que resultaram em quilombos 
partilhados pelos dois grupos escravizados.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Este é um tema novo e ainda pouco conhecido, porém você pode 
encontrar boas observações neste texto sugerido: PERRONE-
MOISÉS, Beatriz. ÍNDIOS LIVRES E ÍNDIOS ESCRAVOS: OS 
PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO INDIGENISTA NO PERÍODO 
COLONIAL. In: CUNHA, Maria Manuela C. da. (org.) História dos 
índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Fapesp/ SMC, 
1992. p.115-132 e em SCHWARTZ, S. B. SEGREDOS INTERNOS: 
ENGENHOS E ESCRAVOS NA SOCIEDADE COLONIAL, 1550-1835. 
São Paulo: Companhia das Letras; CNPq, 1988.
Figura 10 – Foto de gravura de índios trabalhando em fazendas
Fonte: Jean Baptiste Debret
Disponível em <http://mestresdahistoria.blogspot.
com/2010_05_01_archive.html>
Acesso em 21.jan.2011.
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Outro espaço em que continuou a escravidão in-
dígena de forma intensa foi a periferia econômica da 
colônia, particularmente nas zonas de fronteira, onde os 
colonos não dispunham de capital para adquirir escra-
vos africanos, por ainda não terem acumulado capital 
suficiente para tal investimento. O aumento do valor 
de mercado e a ampliação da captura dos indígenas 
ocorreram durante a ocupação de São Paulo de Luan-
da, na África, pela Companhia das Índias Ocidentais, 
quando houve drástica redução da vinda de escravos 
africanos para o Brasil.
??? ??? SAIBA MAIS
Durante a invasão holandesa a Pernambuco, os membros da 
Companhia das Índias Ocidentais decidiram conquistar o principal 
porto de onde eram enviados escravos da África para o Brasil. 
Buscavam, assim, inviabilizar a produção açucareira em toda a 
América portuguesa, impedindo a compra de escravos. Por isso, 
os índios voltaram a ser aprisionados em larga escala e seu preço, 
enquanto durou a ocupação de Luanda, aumentou bastante.
Porém, logo em seguida, houve outra desvalorização do escravo 
indígena, devido à grande quantidade de aprisionados e descidos 
para o Recôncavo durante as sucessivas rebeliões, entre o fim 
do século XVII e os meados do XVIII. Esses eventos ficaram 
conhecidos como Guerra dos Bárbaros e envolveram os grupos 
indígenas que viviam nos sertões entre a Bahia e o Ceará e 
entraram em conflito com os criadores de gado, como as famílias 
dos Ávila e Guedes de Brito. 
?? VOCÊ SABIA?
Que havia uma legislação especial definindo as razões pelas quais 
os índios podiam ser escravizados? 
Os índios podiam ser cativados, segundo as determinações legais 
que regiam a decretação da Guerra Justa e da escravização, nas 
seguintes situações:
 1 – em casos de “ataques” dos índios, quando a vida e os bens 
dos colonos estariam em perigo;
2 – quando impedissem a expansão da fé cristã ;
3 – através da compra de índios aprisionados por outros e que 
originalmente seriam destinados ao sacrifício ritual.
O que se sabe, através das cartas escritas pelos jesuítas, é que 
nem sempre os índios criavam situações que justificassem a 
decretação da guerra e a escravidão. Os colonos as criavam e, 
então, pediam autorização para promover o que chamavam de 
“resgates de prisioneiros” e guerra defensiva. 
Figura 11 – Foto do quadro Família guarani capturada por caçadores 
escravistas de índios..
Fonte: Jean Baptiste Debret
Disponível em <http://liliabreu.blogspot.com/>
Acesso em 21.jan.2011.
ALDEAR, MISSIONAR, ADMINISTRAR E 
CIVILIZAR
A Coroa portuguesa também organizou a vida dos 
chamados aliados. Para tanto, instituiu os aldeamentos, 
isto é, espaços administrados por lusos e destinados 
a adequar os índios às novas exigências da realidade 
colonial. 
Foram criados três tipos de aldeamentos quanto às 
formas de administração: aqueles em que atuavam os 
missionários, inicialmente apenas os jesuítas e depois 
outras ordens religiosas, os de responsabilidade dos 
particulares e os dirigidos por agentes administradores 
reais. 
??? ??? SAIBA MAIS
Os primeiros jesuítas chegaram à América portuguesa com Tomé 
de Souza, em 1549. Logo iniciaram seus trabalhos de catequização 
dos índios na Bahia e depois se espalharam por outras capitanias. 
Inicialmente faziam missões volantes, isto é, iam às aldeias dos 
índios para pregar. Depois do governo de Mem de Sá, foram 
fundados aldeamentos para que eles morassem com os indígenas 
e melhor pudessem fazer seu trabalho de conversão e de lhes 
impor novos hábitos.
Cada um dos três tipos de aldeamento apresentava peculiaridades, 
porém havia um eixo orientador comum a todos: preparar os índios 
para realizarem as novas atividades produtivas; desestruturar sua 
organização social; deslocá-los para os pontos mais adequados 
aos colonos – próximos a povoações e áreas produtivas – e usá-
los como trabalhadores remunerados.
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Também possuíam suas próprias regras de funcionamento e 
objetivos. Os aldeamentos del Rei visavam fornecer trabalhadores 
para as obras de interesse da metrópole: abertura de caminhos, 
construção de fortificações, de prédios administrativos, fornecer 
alimentos e garantir a defesa dos interesses da Coroa em 
momentos de ameaça interna ou externa. A preocupação central 
era a de treiná-los para exercerem essas atividades, o que fizeram 
com bastante competência, por exemplo, na expulsão dos 
holandeses da cidade do Salvador, em 1625.
Os particulares podiam ser formados de três maneiras: pela 
conquista, por descimentos ou por estarem vivendo num pedaço 
de terra que era dada como sesmaria a um colono que fizesse 
jus a essa mercê real, geralmente em virtude de ter conquistado 
e ocupado esse espaço. Nesse tipo de aldeamento, os índios 
trabalhavam nas terras dos sesmeiros, em atividades que lhes 
eram indicadas. Porém, sua principal função era a de defender 
a propriedade do seu administrador e garantir futura expansão 
da área ocupada, o que significava a inclusão de novas aldeias 
a serem administradas pelo sesmeiro. Os serviços desses índios 
flecheiros administrados foram essenciais para a formação das 
grandes propriedades do Recôncavo e dos sertões da Bahia, 
assim como em outros pontos da colônia. Essas tropas eram 
convocadas para participar de outros eventos militares a convite 
do governo-geral, de forma a fortalecer as tropas dos aldeamentos 
del Rei. 
??? ??? SAIBA MAIS
Descimento é o suposto ato voluntário de índios abandonarem o 
local de sua aldeia, de acompanharem o europeu e de instalarem 
um aldeamento nas terras daquele que promoveu o descimento. 
Figura 12 – Foto de quadro de índio flecheiro.
Fonte: Jean Baptiste Debret
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0104-87752009000100005>
Acesso em 24.jan.2011.
?? VOCÊ SABIA?
Os maiores aldeamentos eram os administrados pelos 
missionários, o que desagradava os colonos, que queriam ter livre 
acesso à mão de obra dos indígenas. 
Já os administrados por missionários, além de cum-
prirem as mesmas tarefas atribuídas aos ocupantes dos 
outros tipos de aldeamentos, apresentavam um projeto 
mais amplo e considerado essencial pela Coroa: formar 
cristãos e súditos fiéis. Os missionários que ali atuavam 
deveriam erradicar os “maus costumes” dos indígenas: 
a poligamia, a nudez, o compartilhamento das casas 
sem divisórias, a prática da guerra e a antropofagia ritu-
al. Outro objetivo era o de transformar os aldeados em 
futuros pequenos produtores de subsistência capazes 
de garantir o abastecimento à sociedade luso-brasileira 
em expansão. 
Os missionários, para serem aceitos, inicialmente 
atuavam nas aldeias onde os indígenas viviamno 
momento do contato. Adotavam o discurso dos caraís 
e buscavam desacreditar esses sacerdotes indígenas 
e a religião dos moradores, promover casamentos e 
batizados e convertê-los ao cristianismo. 
??? ??? SAIBA MAIS
Caraís eram os sacerdotes- profetas que realizavam visitas 
regulares às aldeias, fazendo pregações e definindo quando 
seriam feitas as migrações em busca da Terra sem Males, que 
corresponde, aproximadamente, ao nosso conceito de paraíso 
celestial. 
Como não podiam exercer um controle mais efetivo 
sobre o comportamento dessas populações, passa-
ram a viver nos aldeamentos e a enviar as crianças 
(curumins) para seus colégios, na expectativa de que 
viessem, no futuro, a atuar como missionários. 
REgISTRE SUA IDEIA
A disputa de poder entre caraís e jesuítas teve 
grande dimensão nas relações coloniais. Avalie como 
o trabalho dos jesuítas desvalorizava os caraís e o 
que isso representou para os indígenas.
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Os trabalhos dos missionários sofreram vários 
percalços: a dificuldade de se fazerem compreender, a 
resistência dos indígenas em abandonarem suas prá-
ticas sociais e valores e, após as epidemias de 1560 e 
1563, terem sido responsabilizados pelas mortes. 
Também enfrentavam os constantes questio-
namentos dos colonos. Acusavam-nos de reterem 
grande quantidade de trabalhadores sob suas ordens 
trabalhando para enriquecer a Companhia de Jesus, de 
não pagarem impostos, além de receberem recursos 
da Coroa. 
Os conflitos se ampliaram e culminaram na expulsão 
dos jesuítas, na administração do Marques de Pombal, 
em 1756. 
Cabe destacar que a vivência nesses aldeamentos 
criou a situação da convivência entre índios de várias 
etnias, entre eles e europeus e negros, dando origem 
às bases da miscigenação e da hibridez cultural. 
Os aldeamentos jesuíticos eram, na verdade, grandes 
laboratórios sociais, voltados para a realização de dois 
projetos que se superpunham: o da Coroa – criar súdi-
tos envolvidos com o sucesso do projeto de conquista 
e colonização da América portuguesa – e o da Igreja 
Católica – expandir sua fé pelo mundo e transformar 
os índios em bons súditos e cristãos. 
Para ambas as instituições, os índios deveriam se 
tornar produtores de artigos agrícolas, inseridos no 
mercado local e capazes de se auto sustentar e de su-
prir as necessidades dos colonos, como trabalhadores 
dóceis e súditos fiéis ao Rei e ao Papa. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
O trabalho desenvolvido pelos jesuítas foi fundamental para o 
avanço da conquista e da colonização. Você poderá entender 
melhor essa importância lendo POMPA, Cristina. O LUGAR DA 
UTOPIA: OS JESUÍTAS E A CATEQUESE INDÍGENA In Novos 
Estudos, CEBRAP, N.° 64, novembro 2002, pp. 83-95, NOVEMBRO. 
Disponível em: <http://www.cebrap.org.br/v1/upload/biblioteca_
virtual/POMPA_O%20lugar%20da%20utopia.pdf.> Acesso em: 
24. Jan.2011.
 SANTOS, Fabricio Lyrio. ALDEAMENTOS MISSIONÁRIOS E 
CATEQUESE INDÍGENA: NOVAS ABORDAGENS. 2008. Disponível 
em: <http://www.ppgh.ufba.br/IMG/pdf/ALDEAMENTOS_
MISSIONARIOS_E_CATEQUESE_INDIGENA_-_NOVAS_
ABORDAGENS_Fabricio_Lyrio_.pdf>. Acesso em: 24. Jan.2010.
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Pesquise se houve algum aldeamento administra-
do por missionários nas proximidades de onde você 
mora. 
AS REFORMAS POMBALINAS E O PROJETO DE CI-
VILIZAÇÃO
O século XVIII, em Portugal, foi de grandes mudan-
ças e conflitos. As ideias iluministas começaram a 
circular, as crises econômicas aconteceram, particu-
larmente no que se referia á balança comercial com a 
Inglaterra. Também era tempo de modernizar a estrutura 
administrativa do Império, separar a Igreja e o Estado e 
definir as fronteiras americanas com a Espanha. Este 
conjunto de questões marcou o reinado de D. José 
I e foi o grande palco de atuação do seu Ministro, o 
Marquês de Pombal. 
??? ??? SAIBA MAIS
Devido ao desconhecimento das terras que estavam no interior 
das possessões espanhola e portuguesa na América, os limites 
entre os domínios dos dois países não eram claros. Essa situação 
terminava por criar conflito entre colonos e entre apresadores 
de escravos indígenas, colonos portugueses e missionários 
espanhóis. Além disso, dificultava a formulação de políticas de 
expansão econômica das duas Coroas.
O Marquês via a questão indígena interagindo com três problemas 
que precisavam ser solucionados: o excesso de poder da Igreja, 
a necessidade de incorporar novos súditos produtivos e que 
pagassem impostos, e como definir, de forma favorável a Portugal, 
os limites de sua colônia na América. 
 Para atender a todos esses aspectos e seguindo a 
sugestão de seu irmão, Francisco Xavier de Mendonça 
Furtado, governador do Estado do Grão Pará, em 1751, 
promulgou, entre 1755 e 1758, um conjunto de leis que 
alteraram de forma radical a forma de os índios serem 
administrados e seus destinos.
As cartas de Mendonça Furtado atacavam violenta-
mente os jesuítas, acusando-os de tirania no trato com 
os índios, de exercerem monopólio no comércio das 
especiarias, de possuírem imensas riquezas, de não 
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terem transformado os índios em súditos fiéis da Coroa 
e de, por ser a Ordem de origem espanhola, beneficiar 
os interesses daquele país. Essas e outras denúncias 
fizeram com que o ministro passasse a considerar os 
inacianos como os grandes responsáveis pelos proble-
mas e dificuldades vividos por Portugal.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Que tal aprofundar um pouco mais essa questão, lendo : 
PIRES, Maria Idalina, RESISTÊNCIA INDÍGENA NOS SERTÕES 
NORDESTINOS NO PÓS-CONQUISTA TERRITORIAL, 2009. 
Disponível em: <http://www.ifch.unicamp.br/ihb/Textos/MICPires.
pdf> Acesso em: 24. Jan.2011. 
Figura 13 – Foto do quadro Negociantes contando índios.
Fonte: SPIX, J. B. von, MARTIUS, C. F. P.
Disponível em <http://aescravidaonobrasil.blogspot.com/2010/04/
colonizacao-portuguesa-e-acassada.html>
Acesso em 24.jan.2011.
A primeira medida adotada foi a de, através do Alvará 
de 07/06/1755, proibir a escravidão indígena no Grão 
Pará e de abolir o poder temporal dos religiosos nos 
aldeamentos, por considerar que sua forma de admi-
nistrar era contrária à boa ordem e à administração 
da justiça. A administração temporal passava a ser de 
responsabilidade dos Juízes Ordinários, Vereadores, 
Oficiais de Justiça e índios naturais das aldeias e seus 
distritos. As aldeias independentes das vilas seriam 
administradas pelos Principais e seus subalternos. 
A Lei de 06/06/1755 estendia as decisões às demais 
Capitanias.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para saber como era difícil para os índios ocuparem os cargos 
de vereadores em seus antigos aldeamentos, leia o seguinte 
texto: ROCHA Rafael Ale, OS ÍNDIOS NAS CÂMARAS DAS VILAS 
DO ESTADO DO GRÃO PARÁ E MARANHÃO: UMA POLÍTICA DO 
ESTADO PORTUGUÊS. 2009. Disponível em: <http://www.ifch.
unicamp.br/ihb/Trabalhos/ST36Rafael.pdf>. Acesso em: 24.jan. 
2011. 
Ante a reação negativa dos jesuítas a essas deci-
sões, outras acusações lhes foram imputadas, o que 
culminou na decisão de expulsá-los, não só dos alde-
amentos indígenas, mas de todo o Império luso, e de 
confiscar seus bens em 1759. As medidas também atin-
giram outras ordens que missionavam entre os índios, 
embora seu afastamento tenha sido feito lentamente, 
ante a dificuldade de encontrar substitutos, párocos, 
para atuarem junto a essas populações.
Para finalizar as medidas administrativas relativas 
aos índios, em 1757 foi promulgado o Diretório que se 
deve observar nas Povoações dos Índios do Pará e do 
Maranhão, cuja matriz de pensamento era a de promo-
ver a integração dos índios à comunidade lusitana como 
súditos. Suas bases eram a de promovera civilização 
desses povos e de romper o isolamento em que viviam 
nos aldeamentos jesuíticos. 
Essa decisão, dentre outras razões, vinculava-se à 
questão da definição das fronteiras com a Espanha. O 
critério para defini-las foi o da efetiva ocupação, o que 
seria identificado a partir dos pontos limítrofes ocupa-
dos por falantes do espanhol e do português.
?? VOCÊ SABIA?
Em nome do progresso, da liberdade, da razão e da civilização, 
a organização social, política e cultural dos povos indígenas foi 
totalmente desrespeitada.
O que se constatou foi que os índios aldeados não 
falavam o português, mas suas línguas nativas ou a 
chamada “língua geral”, que era uma língua criada pe-
los jesuítas através da latinização do tupi. Era preciso 
impor-lhes a língua portuguesa e torná-los súditos 
defensores da Coroa lusitana e, para isso, era essencial 
ensinar-lhes hábitos “civilizados”.
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INDICAÇÃO DE LEITURA
Esse projeto de transformação dos índios poderá ser melhor 
compreendido se você ler: GARCIA, Elisa Fruhauf. A “CONQUISTA” 
DOS SETE POVOS DAS MISSÕES: DE “ATO HERÓICO” DOS LUSO-
BRASILEIROS A CAMPANHA NEGOCIADA COM OS ÍNDIOS. 2005. 
Disponível em: < http://www.ifch.unicamp.br/ihb/Textos/EFGarcia.
pdf> Acesso em: 24. Jan.2011.
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Assista ao filme A Missão, filme inglês de 1986, que mostra os 
efeitos dos acordos estabelecidos entre Portugal e Espanha sobre 
os índios que viviam na área denominada Sete Missões Guarani, 
na área conhecida como São Pedro e que hoje integra o território 
do Rio Grande do Sul. Acesse: <www.blogbrasil.com.br/filme-a-
missao-assista-agora-mesmo/- Acesso em 08/05/2011.
REgISTRE SUA IDEIA
Considerando-se a violência sofrida pelos índios, 
quando passaram a ser administrados pelos portu-
gueses, sob o impacto das mudanças impostas pelo 
Diretório Pombalino aos povos daquela região, você 
considera que foram necessárias ou havia outras so-
luções que poderiam ser adotadas? 
Para atrair os indígenas à esfera da influência por-
tuguesa, os administradores metropolitanos conside-
ravam essencial eliminar todas as diferenças, inclusive 
legais, entre os vários segmentos que compunham a 
população colonial. Para atingir essa meta, além 
das medidas acima referidas, o conjunto de leis deter-
minava ainda que fossem garantidos aos índios a plena 
liberdade de comércio e uso dos bens indígenas pelos 
verdadeiros donos; elevação dos aldeamentos a vilas, 
estímulo aos casamentos interétnicos como forma de 
acelerar a integração e de aumentar as áreas cultivadas, 
o que também se refletiria no aumento do recolhimento 
dos impostos pelo governo. 
No mesmo sentido, foi determinada a extinção da 
propriedade coletiva da terra, substituindo-a pelo lotea-
mento particular e a entrega da administração temporal 
a diretores que só seriam remunerados com o trabalho 
indígena e a cobrança de uma taxa sobre o salário que 
recebessem dos colonos e sobre o que comerciali-
zassem. A presença desse administrador não índio 
era explicada pelo argumento de que este não estava 
capacitado a administrar seus bens e as vilas.
INDICAÇÃO DE LEITURA
A lei que garantia aos índios o direito de se autogovernarem não 
foi cumprida devido à visão negativa dos brancos sobre os índios. 
Veja por que razão, no texto : Teresinha Marcis, O EXERCÍCIO 
DO PODER EM UMA VILA INDÍGENA: OLIVENÇA-BA, 1824-1889. 
2005. Disponível em: <http://www.ifch.unicamp.br/ihb/Textos/
TMarcis.pdf>. Acesso em: 24. jan.2011.
Figura 14 – Foto do quadro do Marquês de Pombal.
Fonte: TAVARES. Ruy Pombal e a Censura Iluminada.
Disponível em <http://oeiras-a-ler.blogspot.com/2009/11/pombal-e-
censura-iluminista-com-rui.html>
Acesso em 24.jan.2011.
 Os diretores deveriam também educar e civilizar 
os aldeados e lhes impor a língua e os costumes por-
tugueses. Para tanto, era considerado fundamental o 
incremento do número de moradores nas aldeias de 
índios forros, moradores que poderiam arrendar as 
terras dos indígenas. 
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Índios forros eram os índios não escravos, isto é, aqueles que 
não eram escravos e viviam aldeados sob a administração de 
missionários. Após o Diretório Pombalino, todos os índios se 
tornaram livres, o que não significou que aqueles que viviam sob 
a administração de particulares tenham sido libertados de fato.
Dessa forma, o Diretório, em nome da necessidade 
de promover a civilização e de tornar os indígenas rapi-
damente produtores de culturas diversificadas, inseri-
dos nas redes de comércio interno e externo, pagadores 
de impostos e vassalos confiáveis, garantiu não só o 
livre acesso dos colonos à força de trabalho indígena, 
como também a suas terras. Portanto, o projeto de 
civilização vinculava-se diretamente à habilitação do 
trabalhador indígena, concebido a partir do modo de 
produção dominante da sociedade colonial. 
Os poderes atribuídos a um diretor, que não era re-
munerado, geraram problemas sérios para os indígenas. 
Por terem o direito de acertar os contratos de trabalho e 
reter 2/3 dos salários, tornaram-se administradores vo-
razes reduzindo o tempo que os índios podiam dedicar 
as suas roças. Como podiam retirar as terras daqueles 
que não cumpriam as metas de produção, terminavam 
por ampliar as áreas arrendadas aos colonos, diminuin-
do cada vez as possibilidades de os índios produzirem 
e obterem sua autonomia, como previra a lei. Além do 
mais, os contratos de trabalho permitiam ao diretor 
reforçar sua rede de alianças locais, ao privilegiar seus 
aliados nos contratos de trabalho, em detrimento dos 
interesses dos aldeados. 
Da mesma forma, era proibido aos índios se ausen-
tarem do aldeamento, pois isto implicaria em prejuízos. 
Argumentando que uma das formas de mantê-los satis-
feitos era fazer com que eles vivessem em povoações 
e vilas e povoados iguais aos dos demais súditos, os 
administradores descaracterizaram os aldeamentos 
com construção de prédios públicos - câmara e cadeia 
-, o que, aos poucos, desfez os laços de pertença a um 
espaço indígena e atraiu colonos para as novas vilas 
criadas a partir dos aldeamentos indígenas. 
??? ??? SAIBA MAIS
Foram elevadas a vilas as seguintes aldeias, hoje no estado da 
Bahia: Natuba (hoje Nova Soure); Nossa Senhora da Escada de 
Olivença (hoje Olivença); Maraú (que recebeu o nome de Barcelos 
e hoje voltou a se chamar Maraú); Serinhaém (que passou a se 
chamar Santarém e hoje, Ituberá); São João dos Tapes (hoje 
Trancoso); Patatiba (hoje Vila Verde); Cana Brava (denominada 
de Ribeira do Pombal e hoje Banzaê); Espírito Santo de Abrantes 
(Abrantes, distrito do município de Camaçari); Viçosa (hoje Nova 
Viçosa); Aldeia das Lages (Prado); Belmonte (Belmonte); Nossa 
Senhora de Nazaré de Pedra Branca (Pedra Branca, distrito de 
Santa Terezinha); São Bernardo de Alcobaça (Alcobaça); São José 
de Porto Alegre (Mucuri); Nossa Senhora da Conceição dos Índios 
Gren (Almada); Saco dos Morcegos (Mirandela/ Banzaê).
Insatisfeitos e empobrecidos ante a impossibilidade 
de produzirem o necessário para manter suas famí-
lias, muitos índios optaram pela fuga e deserção, o 
que era encarado como uma ameaça aos projetos de 
incremento demográfico, econômico e militar, além de 
contrariar o maior interesse dos diretores e moradores: 
o de disporem de um celeiro de mão-de-obra ao qual 
tinham fácil acesso. Razão pela qual eram severamente 
punidos, quando recapturados. 
Os conflitos com os colonos pelo não cumprimento 
dos termos de contratos de trabalho e arrendamento/
invasão dos territórios indígenas agravaram as relações 
interétnicas, o que culminou na emissão de uma Carta 
Régia, em 1798, pela RainhaD. Maria I, que voltou a 
permitir que particulares realizassem descimentos e 
criassem aldeamentos particulares, satisfazendo os 
interesses dos colonos e abrindo novas frentes de 
conflito que serão melhor compreendidas no próximo 
capítulo, quando tratarmos do século XIX.
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Figura 15 – Foto de quadro de D. Maria I – Rainha de Portugal
Fonte: Agência Brasil.
Disponível em <http://topazio1950.blogs.sapo.pt/238893.html>
Acesso em 24.jan.2011.
CAPíTULO VI: O SÉCULO XIX E AS PO-
LíTICAS INDIgENISTAS
O início do século XIX não apresentou grandes 
transformações na administração dos índios, o que não 
significa que as vidas desses atores sociais ficaram es-
tagnadas. Os que continuaram sob a administração dos 
diretores de aldeamentos, segundo as normas definidas 
pelo Diretório dos Índios promulgado no reinado de D. 
José I, viviam as agruras da exploração excessiva de 
seu trabalho. Sua reação a essa situação variava entre 
a fuga para o mato, a busca de contratos de trabalho 
sem a intermediação do diretor ou, quando contratados 
através daquelas autoridades, atuarem de forma que 
não fossem valorizados pelos contratantes. O resultado 
era o crescente esvaziamento dos aldeamentos e o 
arrendamento das terras a particulares.
Os dirigidos pelas determinações da Carta Régia 
de 1798 sofriam, igualmente, com a ação descuidada 
dos seus administradores, que os tratavam como se 
escravos fossem, sem lhes garantir os direitos legal-
mente determinados. Sua insatisfação se expressava 
em revoltas e fugas, gerando prejuízos àqueles que os 
aldearam.
As regiões de fronteira interna - particularmente no 
Oeste, na região de São Paulo e Paraná, na Amazônia 
e nas áreas de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo -, 
que, até então, haviam-se constituído em refúgio de 
grupos indígenas, após o decréscimo da produção 
de ouro e diamantes em Minas Gerais, tornavam-se 
áreas cobiçadas e vistas como solução para a crise 
econômica que afligia o Império português. 
Apesar das muitas correspondências enviadas ao 
Príncipe Regente D. João, este não tomou qualquer 
decisão sobre o assunto até 1808, quando aportou no 
Rio de Janeiro, já então capital da colônia. A presença 
da corte exigiu que fossem adotadas várias medidas, 
buscando garantir o abastecimento dos súditos ali ins-
talados. O aumento da população da cidade e os novos 
hábitos de consumo dos portugueses recém- chegados 
exigiam medidas urgentes.
Era preciso interiorizar a conquista e a exploração 
de novas terras e abrir caminhos que permitissem o 
escoamento dos produtos locais para a capital. Um dos 
obstáculos a serem superados era a dominação dos ín-
dios que viviam nas áreas a serem tomadas. Assim, nos 
anos de 1808 e 1811, foram decretadas guerras justas 
aos índios que ali viviam e que receberam denomina-
ções genéricas: Botocudos, na Bahia, Minas Gerais, 
Espírito Santo e em São Paulo e Paraná; Canoeiros, em 
Goiás e Mato Grosso e Muras, na Amazônia.
Figura 16 – Foto de quadro Rua Direita. Rio de Janeiro século XIX. 
Fonte: MEDDI, Jjeocazeocaz lee
Disponível em <http://virtualiaomanifesto.blogspot.com/2010/02/
rio-de-janeiro-do-seculo-xix.htmlin websarti.blogspot.com >
Acesso em 25.jan.2011.
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Figura 17 – Foto de pintura de índios Botocudos
Fonte: WIED. NEUWIED, M. Viagem ao Brasil. São Paulo: Edusp; 
Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1989.
Disponível em <http://www.iande.art.br/boletim014.htm>
Acesso em 25.jan.2011.
Figura 18 – Foto d e gravura de índio Mura da Amazônia.
Fonte: RODRIgUES,Vanessa
Disponível em <http://sinaisdagente.com/blog/?tag=povos-indige-
nas>.
Acesso em 25.jan.2011.
Figura 19 – Foto de gravura índio Mura inalando o paricá.
Fonte: POZELLA, Eduardo
Disponível em <http://planetasustentavel.abril.com.br/album/
invencao-brasil-232858.shtml.>
Acesso em 25.jan.2011.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Veja como a volta da política de combate aos índios, no Século 
XIX, era considerada essencial para a conquista das fronteiras de 
ocupação, lendo:
LOPES, Marta Maria. OS GRUPOS INDÍGENAS NA FRONTEIRA 
OESTE DE MATO GROSSO E SUAS RELAÇÕES COM OS MILITARES 
NO SÉCULO XIX, 2005. Disponível em: <http://www.ifch.unicamp.
br/ihb/Textos/MMLopes.pdf> Acesso em: 25. Jan.2011. 
Os moradores que se dispusessem a participar 
da guerra recebiam inúmeras vantagens econômi-
cas: sesmarias nas terras conquistadas, o direito 
de escravizar os índios por 10 ou 20 anos, perdão 
de dívidas fiscais e até de crimes que por ventura, 
tivessem cometido. Para viabilizar essa empreitada 
e apoiar a ação dos colonos, foram criados quartéis 
e destacamentos militares e colônias de degredados, 
todos localizados em pontos estratégicos: ao longo 
de rios que poderiam vir a ser usados como vias de 
comunicação, em áreas de terras sabidamente férteis 
e ricas em madeiras e onde houvesse grande concen-
tração de indígenas.
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Essa política administrativa de cunho militar provo-
cou graves desarranjos na vida dos povos nativos que 
viviam nessas áreas. Caçados, uns buscaram se inte-
riorizar nas matas, na tentativa de se proteger. Alguns 
outros grupos optaram por aceitar os aldeamentos 
impostos e por se aliarem aos colonos na guerra contra 
os demais, na tentativa de evitar que fossem também 
escravizados.
?? VOCÊ SABIA?
Boa parte das tropas de combate aos chamados índios inimigos 
era formada por indígenas aldeados, que eram obrigados a 
participar da guerra. 
Dos grupos que se recusavam a aldear-se e compor 
as tropas, alguns decidiram pelo enfrentamento, consi-
derando que a vida como trabalhadores nas fazendas ou 
nos quartéis e destacamentos não era atrativa devido 
aos maus tratos e ao excesso de trabalho. Outra tática 
era a da fuga dos aldeamentos após três anos, período 
em que se extinguiam as benesses – terem roças plan-
tadas por terceiros, receberem brindes e atendimento e 
não serem usados como trabalhadores -, e circularem 
pelas áreas onde havia colonos recém instalados, 
apresentando-se como índios saídos das matas, pas-
sando a usufruir mais três anos de benefícios. 
Figura 20 – Foto de índio Avá Canoeiro do Centro-Oeste.
Fonte: TORAL, André
Disponível em <http://pib.socioambiental.org/pt/povo/ava-
canoeiro/195>
Acesso em 25.jan.2011.
?? VOCÊ SABIA?
Os combates nas guerras aos índios eram extremamente violentos. 
As aldeias eram cercadas durante a noite e as casas eram 
queimadas perto do amanhecer. Nesse meio tempo, os atacantes 
cortavam as cordas dos arcos e quebravam as flechas. Quando 
os moradores fugiam das chamas, eram presos ou mortos a tiros. 
Muitas vezes só aprisionavam crianças e mulheres, sendo os 
demais mortos. 
Os prisioneiros eram tratados de forma diferenciada. 
Os homens sobreviventes eram vendidos ou entregues 
aos interessados em trabalhadores, pois essas eram re-
giões que, por estarem em fase inicial de desbravamen-
to, seus conquistadores não dispunham de capital para 
adquirir escravos de origem africana. Posteriormente, 
a prática, ante as atitudes de rebeldia dos homens 
aprisionados ainda crianças, a ordem era de matá-los 
no momento de combate. Apenas eram aprisionadas as 
mulheres que, além de serem trabalhadoras, também se 
tornavam amasias dos militares e dos colonos, queixa 
constante dos índios, mesmo daqueles que viviam 
aldeados e sob a suposta proteção da lei. 
Também as crianças eram aprisionadas, doadas e 
vendidas. O comércio de crianças indígenas foi