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Ponderações sobre a interpretação jurídica no Estado constitucional Parte 2

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ATIVIDADE: Ponderações sobre a interpretação jurídica no Estado constitucional - Parte 2
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A maneira pela qual se exercita a interpretação jurídica sofre alternância conforme os humores das ideologias que condicionam o agir Estatal e social: de uma interpretação jurídica hermética e quase totalmente textual (Estado Liberal ) evoluiu-se para técnicas mais abertas, não voltadas tão somente ao reforço da crença na legalidade, senão ainda destinadas à conquista do sentimento de justiça (Estado Democrático de Direito). Toda e qualquer interpretação jurídica, hoje, pauta-se na supremacia (formal, material, axiológica) da Constituição; a democracia constitui-se em verdadeiro eixo teórico adotado pela Constituição. É duplo seu significado. De um lado é encarada como programa normativo direcionado a exigência de procedimentos que assegurem a participação popular (direta ou indiretamente) na tomada de decisões públicas. De outro, quer significar o compromisso de efetivação pelo Estado (e também pela sociedade) dos princípios constitucionais e direitos fundamentais.
Os procedimentalistas (Habermas, Luhmann, Ely e Garapon) defendem um modelo de jurisdição calcado numa concepção formal  (ou procedimental) de democracia. Seu propósito não é o oferecimento de critérios conteudísticos objetivos, mas apenas de procedimentos para a resolução de conflitos morais, sempre com os olhos voltados à busca de soluções imparciais. Cumpre ao Tribunal Constitucional atuação restrita à tarefa de compreensão procedimental da Constituição, isto é, apenas proteger um processo de criação democrática do direito, zelar pela garantia de que a cidadania disponha de meios para estabelecer um entendimento sobre a natureza dos seus problemas e a forma de sua solução, não sendo sua atribuição guardar uma suposta ordem suprapositiva de valores substanciais.
Os substancialistas (Bonavides, Streck, Miranda), por seu turno, advogam que o Judiciário é o intérprete da vontade geral ou dos valores substanciais implícitos do direito positivo. Trabalham na perspectiva de que a Constituição, explicitação do contrato social, estabelece as condições do agir político-estatal. É por isso que, nesta ótica, cumpre também à jurisdição a tarefa de concretizar o conteúdo democrático da Constituição. Segundo pensam, não é adequado sustentar que o direito ou a democracia se contentam em estabelecer uma regra de jogo puramente formal, compatível com qualquer conteúdo material. Mais do que equilibrar e harmonizar os demais Poderes, ao Judiciário cabe o papel de interprete. Com a positivação dos direitos sociais-fundamentais, não aceita tal corrente uma postura passiva do Judiciário diante da sociedade, voltada meramente a permitir o acesso aos mecanismos de participação democrática no sistema; bem diferentemente, exige-se dele papel de absoluta relevância: a tarefa de interprete de agente concretizador dos valores constitucionais. 
Não há sentido numa interpretação alheia à aplicação. Só é possível compreender o alcance e a significação da norma (programa legal) quando examinada na busca de soluções para problemas concretos  (reais ou imaginários). O direito não é a norma propriamente dita, mas o resultado de sua interpretação. A norma, individualmente considerada, é só potência. É o processo hermenêutico que produz o verdadeiro direito. Interpretar é também formular.
DELFINO, Lúcio; ROSSI, Fernando. Ponderações sobre a interpretação jurídica no estado constitucional. Disponível em: 
http://www.unigran.br/revista_juridica/ed_anteriores/28/artigos/artigo02.pdf. Acesso em: 09 set. 2014.

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