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ICMS VERDE

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MARCELO DOS REIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ICMS ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO 
AMBIENTAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARÍLIA - SP 
2011 
 2 
MARCELO DOS REIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ICMS ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO 
AMBIENTAL 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado 
em Direito da Universidade de Marília como 
requisito parcial para a obtenção do título de mestre 
em Direito, sob a orientação do Prof. Dr. Paulo 
Roberto Pereira de Souza. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARÍLIA 
2011 
 
 3 
 
MARCELO DOS REIS 
 
 
 
 
ICMS ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Direito da Universidade de Marília, 
área de concentração Empreendimentos Econômicos, Desenvolvimento e Mudança Social, 
sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Roberto Pereira de Souza. 
 
 
 
 
Aprovado pela banca examinadora em ___/___/_____. 
 
 
 
_______________________________________________ 
Prof. Dr. Paulo Roberto Pereira de Souza 
 
 
_______________________________________________ 
Prof. (a) Dr.(a) Maria de Fátima Ribeiro 
 
 
_______________________________________________ 
Prof. Dr. Nelson Borges 
 
 
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Dedico este trabalho a minha esposa Ellen e aos meus filhos 
João Vinícius e Marcela, por todo apoio e inspiração, além de 
abdicar do tempo de convívio, em prol do desenvolvimento 
desta Dissertação, que terá grande relevância em busca da 
satisfação e do desenvolvimento intelectual. Dedico também a 
meus pais, por todo apoio desprendido na realização deste 
Mestrado. 
 
 
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Agradeço a Deus por toda saúde e disposição para estar sempre 
buscando o conhecimento por meio das pesquisas por este 
Mestrado propostas. 
Agradeço a todos os professores que de alguma forma 
contribuíram para minha formação neste Mestrado, em especial 
a Coordenação do Curso.. 
Ofereço um agradecimento caloroso a meu Orientador que 
além de dirimir dúvidas quanto ao caminho a ser traçado neste 
trabalho, cendo um grande incentivador para se desenvolver a 
pesquisa aqui apresentada. 
 
 
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Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a 
aurora de uma grande realização. 
 (Martin Luther King) 
 
 
 
 
 
 
 7 
ICMS ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL 
 
 
Resumo: O meio ambiente equilibrado e sustentável, para as presentes e futuras gerações, é 
tratado como direito fundamental no texto da Constituição Federal. O Estado, por meio da 
instituição de tributo ambiental com a finalidade de proteção, exerce sua competência com 
mecanismos de comando e controle, com o objetivo de aplicar os recursos arrecadados na 
preservação do meio ambiente. Essas aplicações esbarram em preceitos tributários quanto à 
destinação de tais arrecadações, pois o imposto, sendo um tributo não vinculado, destina-se a 
atender às despesas gerais da administração. O objetivo desta pesquisa é apresentar a 
tributação ambiental, não mais como um imposto que sobrecarrega os contribuintes, mas, sim, 
como incentivo à preservação do meio ambiente. Nesse sentido, aparece o ICMS Ecológico. 
Trata-se de um tributo verde eminentemente extrafiscal, com o objetivo de estimular os 
municípios a preservarem suas biodiversidades, a partir de uma compensação financeira. Esse 
tributo possibilita também a criação de uma legislação municipal, que viabilizará o repasse de 
parte do valor arrecadado pelos municípios para aqueles proprietários de Reserva Particular 
do Patrimônio Natural – RPPN. A metodologia adotada é a de uma pesquisa exploratória, de 
caráter não-experimental, com abordagens qualitativas e utilização de dados secundários, 
mostrando que o ICMS Ecológico contribui de forma incontestável para a preservação das 
reservas naturais. Unidades de Conservação, que até então eram consideradas um problema 
para os municípios e seus proprietários, desde que cadastrados no órgão ambiental estadual e 
reconhecidas dessa forma, serão uma fonte de renda. O imposto, que antes dificultava o 
desenvolvimento, passa a ser utilizado como um grande aliado dos Municípios, em busca de 
um meio ambiente equilibrado e sustentável. 
Palavras-Chave: ICMS Ecológico. Instrumento de Incentivo. Preservação Ambiental. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 8 
ICMS ECOLOGICAL AS A TOOL OF ENVIRONMENTAL PROTECTION 
 
 
Abstract: The balanced and sustainable environment for present and future generations is 
treated as a fundamental right in the text of the Constitution. The State, through the 
imposition of environmental taxes, wields its authority with mechanisms of command and 
control and has the aim of applying the funds raised in the preservation of the environment. 
These applications are hindered by tax provisions regarding the disposition of such 
collections, once considering the tax as a tribute not a bound, they are intended to meet the 
overhead costs of administration. The objective of this research is to present environmental 
taxation, not as a tax burden to taxpayers, but rather as an incentive to the environment 
preservation. In this sense, the Ecological ICMS (Tax over Circulation of Goods and 
Services) is an imminently extra-fiscal green character, with the aim of encouraging the 
municipalities to preserve their biodiversity from a financial compensation. This tribute also 
enables the creation of a municipal law that will allow the transfer of part of the amount 
collected by the municipalities for those owners of Private Natural Heritage Reserves (RPPN). 
The methodology is a non-experimental exploratory search with qualitative approaches using 
secondary data, showing that the Ecological ICMS contributes to the preservation of natural 
reserves. Conservation Units, previously considered a problem for the municipalities and their 
owners, provided that registered in the state environmental agency and recognized as such 
will become a source of income. The tax, which so far hindered development, shall be used as 
an important ally to the municipalities in the search of a balanced and sustainable 
environment. 
KeyWords: Ecological ICMS, Financial Compensation, Environmental Preservation. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 9 
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS 
 
 
Gráfico 1 - Distribuição do ICMS conforme previsto na Constituição Federal..............82 
 
Gráfico 2 - Apresenta hipoteticamente os critérios de repasse do ICMS........................83 
 
Gráfico 3 – Estatística das Unidades de Conservação no Paraná ...................................92 
 
Gráfico 4 – Estatística das Unidades de Conservação no Rio Grande do Sul................ 94 
 
Gráfico 5 – Estatística das Unidades de Conservação em São Paulo............................. 96 
 
Gráfico 6 - Estatística das Unidades de Conservação em Minas Gerais ........................98 
 
Gráfico 7 – Estatística das Unidades de Conservação no Mato Grosso do Sul...................99 
 
Gráfico 8 - Estatística das Unidades de Conservação em Rondônia.............................101Gráfico 9 - Estatística das Unidades de Conservação no Amapá .................................102 
 
Gráfico 10 - Estatística das Unidades de Conservação no Mato Grosso.......................103 
 
Gráfico 11 - Estatística das Unidades de Conservação em Pernambuco......................105 
 
Tabela 12 - Tabela que ilustra os critérios de repasse do ICMS Ecológico..................107 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 10 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
 
 
ICMS - Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de 
Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação 
 
RPPN - Reserva de Patrimônio Particular Natural 
MERCOSUL – Mercado Comum do Sul 
REMA - Reuniões Especializadas em Meio Ambiente 
ISO - International for Standardization Organization 
LRF - Lei de Responsabilidade fiscal 
CIDE – Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico 
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano 
ITR – Imposto Territorial Rural 
EIA - Estudo de Impacto Ambiental 
CONAMA - Conselho Nacional Do Meio Ambiente 
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico 
IPI – Imposto sobre produtos industrializados 
IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores 
TCFA - Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental 
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis 
APAs - Áreas de Proteção Ambiental 
PNB - Política Nacional de Biodiversidade 
APP - Área de Preservação Permanente 
IC – Índice de Conservação 
UC`s – Unidades de Conservação 
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza 
TNC - The Nature Conservancy 
CI - Conservação Internacional 
IAP - Instituto Ambiental do Paraná 
FREPESP - Federação das Reservas Ecológicas Particulares do Estado de São Paulo 
CNRPPN - Confederação Nacional de RPPN 
 
 
 
 
 11 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................12 
 
1 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E O MEIO AMBIENTE ..........................15 
1.1 DESENVOLVIMENTO SOCIAL E CRESCIMENTO ECONÔMICO .....................15 
1.2 ORDEM ECONÔMICA E PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE .............................26 
1.3 POLÍTICAS AMBIENTAIS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL...............28 
 
2 TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO DO ECOSSISTEMA ................32 
2.1 FISCALIDADE E EXTRAFISCALIDADE................................................................32 
2.2 INCENTIVOS E BENEFÍCIOS FISCAIS X TUTELAS PROCESSUAIS DO MEIO 
AMBIENTE .............................................................................................................................35 
2.3 REPERCURSSÕES DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL NA 
CONCESSÃO DOS INCENTIVOS E DEMAIS BENEFICIOS TRIBUTÁRIOS .................41 
2.4 SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO:.......................................................45 
2.4.1 Da Necessidade de Tributar.......................................................................................45 
2.4.2 Espécies Tributárias: Considerações .........................................................................48 
2.4.3 Princípios Constitucionais Tributários de Proteção Ambiental.................................52 
2.5 TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NA PRESERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE.........67 
 
3 ICMS ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE INCENTIVO A PROTEÇÃO 
AMBIENTAL .........................................................................................................................75 
3.1 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO ICMS ECOLÓGICO ...................................76 
3.2 ICMS ECOLÓGICO NOS ESTADOS DA FEDERAÇÃO ........................................82 
3.3 DA REPARTIÇÃO DOS RECURSOS DO ICMS ECOLÓGICO AOS MUNICÍPIOS.
 ....................................................................................................................................102 
3.4 O REPASSE DA ARRECADAÇÃO DO ICMS ECOLÓGICO AOS 
PROPRIETÁRIOS DE RPPN: ANÁLISE À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL........104 
3.5 AVALIAÇÃO E ANÁLISE DA EFETIVA CONTRIBUIÇÃO DO ICMS 
ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL..................108 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................115 
 
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................118 
 
ANEXOS ...............................................................................................................................128 
 
 12 
INTRODUÇÃO 
 
 
O meio ambiente equilibrado e sustentável para as presentes e futuras gerações, diante 
do crescimento econômico e da globalização, será o grande desafio desta pesquisa científica. 
A manutenção do ecossistema é tratada como direito fundamental no texto 
Constitucional, cabendo ao Estado e a toda sociedade, por meio de mecanismos de controle e 
de comando, além da criação de políticas ambientais, os cuidados necessários para a 
preservação ambiental. 
A dificuldade de se estimar o quantum de prejuízo causado, a partir de catástrofes 
ambientais, faz as medidas punitivas muitas vezes ineficazes, deixando de atingir seu objetivo 
maior, que é a preservação do meio ambiente na sua integralidade. 
Com o crescimento econômico, o Estado necessita de mecanismos eficientes para agir 
em proteção da biodiversidade, com a finalidade de obter um desenvolvimento econômico 
preocupado com as externalidades negativas que as questões econômicas podem causar a toda 
sociedade, ao longo dos anos. 
O fenômeno da globalização irradia, por todo o planeta, a poluição resultante do 
crescimento econômico, ultrapassando os limites de fronteiras e provocando reações negativas 
em nações menos industrializadas, sendo estas atingidas pelo mau uso dos recursos naturais 
por países desenvolvidos. Nesse sentido, a tributação ambiental, pautada pela extrafiscal, 
aparece como um instrumento econômico de caráter preventivo, capaz de contribuir 
ativamente com a preservação ambiental. 
Agindo não mais com finalidade meramente arrecadatória, os tributos extrafiscais, por 
intermédio de benefícios e incentivos à preservação do meio ambiente, representam, por meio 
de imposição tributária, a busca dos fins sociais. 
Com a possibilidade legal da criação de incentivos e benefícios fiscais, aparece o 
ICMS Ecológico, como um tributo verde com caráter eminentemente extrafiscal, com o 
objetivo de estimular os municípios a preservarem sua biodiversidade, a partir de uma 
compensação financeira. 
A tributação ecológica do ICMS é uma espécie de Sanção Premial, de baixo custo 
operacional, agindo na forma de reeducação institucional. 
Na primeira seção, será feita uma análise dos reflexos que o crescimento econômico 
causa ao meio ambiente, diferenciando desenvolvimento econômico e crescimento e 
apresentando a importância das políticas públicas de estímulos fiscais para a manutenção da 
 13 
biodiversidade. Ainda nessa seção, referencia-se a necessidade da intervenção estatal, 
inibindo ou desestimulando condutas consideradas lesivas ao meio ambiente, a partir de 
preceitos previstos na ordem econômica, objetivando o desenvolvimento sustentável. 
Superadas as questões econômicas, faz-se necessário apresentar, em uma segunda 
seção, conceitos de fiscalidade e extrafiscalidade, demonstrando a eficácia da aplicabilidade 
de tributos extrafiscais, por meio de incentivos e benefícios à proteção do ecossistema. Cabe 
destacar a necessidade de obediência que esses estímulos tributários deverão ter em relação à 
Lei de Responsabilidade Fiscal, sob pena de prática de crime de renúncia de receita. 
As questões tributárias, no que tange a conceitos e princípios, farão parte do elo do 
tributário ao ambiental, para umamelhor compreensão da tributação, cabendo também, nessa 
mesma seção, a menção aos principais princípios que norteiam o direito ambiental e o 
tributário, além de considerações sobre as espécies tributárias. 
Os principais mecanismos de tutelas ambientais serão tratados por meio de uma 
análise de possíveis resultados junto à proteção ambiental, em contraponto aos incentivos e 
benefícios econômicos e a sua aplicabilidade na repartição das receitas do ICMS aos 
Municípios. 
Na última seção, o ICMS Ecológico será demonstrado sob todos os aspectos, desde a 
previsão Constitucional para instituí-lo e a possibilidade de vinculação dos recursos, para 
possíveis reparos junto ao ecossistema, até às legislações estaduais que possibilitam o repasse 
de parte da arrecadação do ICMS às municipalidades. Essa seção trata dos resultados 
alcançados por diversos Estados da Federação, após a implantação do ICMS Ecológico, além 
da forma em que se dá o percentual do repasse aos municípios, ressaltando os pontos fortes da 
legislação de cada Estado e a necessidade de alguns deles aprimorarem o texto já existente. 
Inclui-se, nesse contexto, a possibilidade de se repassar parte dos valores arrecadados com 
este tributo ecológico aos proprietários de Unidades de Conservação do tipo RPPN (Reserva 
de Patrimônio Particular Natural). 
Apresenta-se, também, a avaliação de doutrinadores e representantes de diversos 
órgãos ambientais dos Estados da real contribuição que o ICMS Ecológico propicia à proteção 
ambiental, nos diferentes tipos de Unidades de Conservação. Como contraponto, faz-se uma 
análise da eficácia do ICMS Ecológico diante dos problemas ambientais atualmente vividos 
nas cidades, quanto ao lixo residencial e industrial e seu correto manejo. 
Os Estados da Federação instituíram legislações próprias, de acordo com a 
necessidade de incentivo, conforme a biodiversidade local. 
 14 
No final desta pesquisa, consta um anexo com algumas das legislações estaduais 
vigentes que obtiveram resultados positivos quanto ao aumento de áreas preservadas em seu 
território, após a criação da Legislação do ICMS Ecológico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 15 
1 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E O MEIO AMBIENTE 
 
 
1.1 DESENVOLVIMENTO SOCIAL E CRESCIMENTO ECONÔMICO 
 
O crescimento econômico, ao longo dos anos, era visto como independente e que, a 
qualquer custo, estava embasado no conceito de satisfação pessoal, levando em conta somente 
o caráter financeiro, desprezando o aspecto qualitativo. 
O desenvolvimento econômico possui um conceito bem mais amplo do que o simples 
crescimento econômico, tendo como premissa o aspecto qualitativo e desprezando o 
desenvolvimento pautado pelo crescimento quantitativo. 
Para melhor assinalar, Josué de Castro1 retrata: “[...] o conceito de desenvolvimento 
não é meramente quantitativo, mas compreende os aspectos qualitativos dos grupos humanos 
a que concerne”. 
O crescimento econômico não valoriza a solução de problemas sociais e nem contribui 
na correção das desigualdades regionais e na melhoria da distribuição de renda. 
Diante do crescimento, as questões ambientais também ficaram em segundo plano, e, 
nesse sentido, Adriana Migliorini Kieckhofer2 relata: 
 
Durante décadas o segmento econômico foi privilegiado em detrimento do 
social e do ambiental, pois se acreditava que somente com um setor 
produtivo forte e atuante poderiam ser resolvidos os problemas sociais, uma 
vez que a remuneração, advinda do emprego de mão-de-obra, proporcionaria 
a satisfação das necessidades da população. 
Isto, de certa forma, não estava errado. Entretanto foram esquecidos neste 
sistema os valores de repartição e distribuição dos rendimentos advindos da 
produção. Isso fez com que as diferentes classes se tornassem ainda mais 
distantes dando origem a graves problemas sociais como a miséria e suas 
enormes conseqüências. 
Foram esquecidos também os valores ambientais, pois se acreditava que na 
natureza tudo era infinito, ou seja, que ela estava à disposição do homem 
para servi-lo infinitamente. (destacou-se) 
 
Ao contrário do crescimento econômico, o desenvolvimento é mais abrangente e se 
preocupa com as consequências que as questões econômicas podem trazer a toda sociedade, 
ao longo do tempo. 
 
1
 CASTRO, Josué de. Desenvolvimento e subdesenvolvimento apud KIECKHOFER, Adriana Migliorini. 
Empreendimentos Econômicos e Desenvolvimento Sustentável. Marília: Arte e Ciência, 2008, p.22. 
2
 KIECKHOFER, Adriana Migliorini. Empreendimentos Econômicos e Desenvolvimento Sustentável. Marília: 
Arte e Ciência, 2008, p.31, 32. 
 16 
O desenvolvimento sustentável deve ser o objetivo a ser alcançado, moldando 
questões meramente econômicas para que não cause danos a toda a sociedade. Desta forma, 
Maria de Fátima Ribeiro e Jussara Suzi Assis Borges Nasser Ferreira3 esclarecem: 
 
O desenvolvimento sustentável exige três situações: crescimento econômico, 
qualidade de vida e justiça social. 
[...] 
O crescimento econômico tem que continuar a acontecer. Porém, deve-se 
procurar alternativas e formas de crescimento econômico que não sejam 
degradadoras do meio ambiente, que não sejam impactantes, e, se o forem, 
devem ser procuradas fórmulas a fim de neutralizar os efeitos nocivos para 
que o crescimento econômico continue, proporcionando as duas outras 
situações acima mencionadas: Qualidade de vida e Justiça social. 
 
O crescimento econômico se faz necessário. Contudo, a responsabilidade social desse 
crescimento deve ser observada com o intuito de reprimir as influências negativas que possa 
causar. 
O crescimento econômico traz consigo riscos iminentes de danos ambientais, 
comportando uma maior necessidade de proteção ambiental. Diante da necessidade legal de 
proteção ambiental, ocorreu um aumento dos gastos em investimento de novas tecnologias 
para que o ecossistema não seja prejudicado, mesmo que de forma parcial. 
Com o aumento do crescimento econômico, cresce também a necessidade de se 
estabelecer limites e cuidados necessários para com os recursos naturais. Adriana Migliorini 
Kieckhofer4, nesse sentido, apresenta: 
 
A primeira Conferência Mundial do Meio Ambiente, realizada em 
Estocolmo, colocou a questão ambiental nas agendas internacionais. Pela 
primeira vez, representantes de governo se uniram para discutir a 
necessidade de medidas efetiva de controle dos fatores que causam a 
degradação ambiental, rompendo a idéia de ausência de limites para a 
exploração dos recursos naturais, e se preocupando com questões como o 
crescimento populacional, o processo de urbanização e a tecnologia 
envolvida na industrialização. 
 
Nos últimos anos, ocorreu um avanço significativo nos investimentos para a proteção 
do meio ambiente, interferindo diretamente no custo da produção, que q rigor na 
 
3
 RIBEIRO, Maria de Fátima; FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser. O Papel do Estado no 
Desenvolvimento Econômico Sustentável: Reflexões sobre a Tributação Ambiental como Instrumento de 
Políticas Públicas. IDTL, 16 setembro de 2.005. Disponível em: <http://idtr.com.br/artigos/133/pdf>. Acesso 
em: 28 jan. 2011. 
4
 KIECKHOFER, Adriana Migliorini. Empreendimentos Econômicos e Desenvolvimento Sustentável. 
Marília: Arte e Ciência, 2008, p.26. 
 17 
regularização do uso dos recursos naturais requer investimentos de maiores valores. Contudo, 
as políticas públicas se restringem às sanções penais e administrativas, deixando a desejar no 
que concerne a incentivos e benefícios ou até mesmo a medidas compensatórias que 
estimulem a preservação ambiental, sem causar prejuízos ao crescimentoeconômico. 
Entretanto, a doutrina tem apontado de forma expressiva para a necessidade de se 
incentivar os estímulos tributários e uma melhor aplicação dos recursos advindos dessas 
arrecadações. Acerca desse tema, Maria de Fátima Ribeiro, Daniela Braga Paiano e Sérgio 
Cardoso5 ratificam: 
 
No Brasil pode ser observado que as políticas públicas no sentido de 
incentivo à proteção ambiental precisam ser intensificadas, mesmo 
considerando o meio ambiente positivamente inserido na ordem social. 
Qualquer política ambiental deve estar integrada com o planejamento 
urbanístico, com a saúde pública, com o desenvolvimento entre outros 
aspectos. 
Assim, é necessário que o governo, em todos os seus segmentos, disponha de 
política econômica, financeira e tributária que faça com que haja 
efetivamente este desenvolvimento sustentado, destacando no artigo 225 da 
Constituição Federal. Embora a Constituição brasileira determine que o 
Estado e a sociedade sejam responsável pela preservação ambiental, poucos 
são os mecanismos para que essa preservação se efetive. 
 
Para o cumprimento das disposições legais e administrativas, aparecem no mercado 
empresas capazes de auxiliar o crescimento econômico, objetivando um mínimo de equilíbrio 
ambiental. Essas indústrias, especializadas em limpeza ambiental, têm como objetivo a 
produção de aparelhos capazes de sanar os estragos decorrentes da má gestão do lixo 
industrial. 
A propósito das atividades desenvolvidas por tais empresas, vale ressaltar a visão de 
Cristiane Derani6 : 
 
Tais indústrias incorporam o produto interno e fazem-no crescer, embora não 
haja aumento de qualquer produção para consumo social. O que ocorre é 
uma “meta-industrialização”. É toda mobilização de recursos e energia para 
produção de corretores de uma produção existente. 
 
 
5
 RIBEIRO, Maria de Fátima; PAIANO, Daniela Braga; CARDOSO, Sérgio. Tributação Ambiental no 
Desenvolvimento Econômico: Considerações sobre a Função Social do Tributo. IDTL, 16 setembro de 2005. 
Disponível em: <http://idtr.com.br/artigos/133/pdf>. Acesso em: 28 jan. 2011. 
6
 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 105. 
 18 
O produto interno produzido e oferecido por essas indústrias, não aumenta a produção 
de lixos ou resíduos, mas cria uma sustentabilidade ambiental juntamente com o 
desenvolvimento econômico, como uma correção da produção já existente. 
Nem todos podem consumir os bens que são produzidos pelas indústrias, existindo 
diferenças entre as possibilidades de crescimento, o que leva a entender que existem dois tipos 
de bem-estar: o bem-estar oligárquico e o bem-estar democrático. 
Analisando o fator natureza de produção, algumas formas de bem-estar não podem ser 
generalizadas, enquanto a economia não conseguir solucionar os problemas derivados do 
consumo de matéria prima e da energia. 
O processo de industrialização traz consigo o chamado bem-estar industrial para 
aqueles que fazem parte das sociedades industrializadas. 
Nesse sentido Cristiane Derani7 preleciona que: 
 
[...] podem as sociedades industrializadas gozar da comodidade do bem-estar 
industrial, tão somente enquanto o mundo ainda não totalmente 
industrializado permanecer desindustrializado. Fosse o mundo ilimitado, 
fossem as possibilidades do planeta de absorver materiais danosos infinitas, 
não haveria tal problema. 
 
O desenvolvimento econômico traz, para uns, a comodidade desse desenvolvimento, 
mas ainda existe uma grande parte que não se utiliza desse beneficio, ficando parada no 
tempo, limitada por si só. 
Na economia clássica, o bem-estar está totalmente ligado à satisfação individual, que 
depende principalmente do crescimento do consumo. 
Para se manter o poder de compra e não interferir em despesas de trabalho, é reduzido 
o custo de produção por meio do barateamento de recursos naturais, buscando-se, mesmo 
assim, um avanço tecnológico. 
A necessidade social faz com que sejam moldadas as atividades coletivas, as relações 
individuais e sociais. A necessidade natural também molda a sociedade, mesmo sendo uma 
necessidade que surge naturalmente, sem que sociedade a “fabrique”. 
Diante das necessidades individuais, bem-estar e crescimento econômico, Cristiane 
Derani8 traduz: 
 
 
7
 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 133-134. 
8
 Op. Cit. p. 136. 
 19 
Portanto, atrelar-se a noção de bem-estar ao apaziguamento das necessidades 
individuais no modo de produção capitalista é procurar preencher o que não 
deve ser preenchido, uma vez que a produção material precisa deste motor 
da vontade para sua necessária expansão. 
 
O mercado é sustentado pelo consumo, com finalidade exclusiva de suprir as 
necessidades individuais. 
O bem-estar social, a partir da pacificação das necessidades individuais, dentro do 
modo capitalista, é fator que influencia diretamente o crescimento econômico. 
O desenvolvimento sustentável visa a desenvolver uma estrutura econômica e social 
que torne capaz a realização de um equilíbrio entre distribuição de produção social e dos 
sistemas naturais, satisfazendo somente as necessidades de consumo considerados como 
primordiais para a sobrevivência humana. 
A necessidade de crescimento econômico ultrapassa os limites territoriais. A busca de 
novos mercados coloca em risco o desenvolvimento social e o equilíbrio ambiental. 
O crescimento além das fronteiras é conhecido como o fenômeno da globalização, que 
é um processo de integração social, econômica, política e cultural que permite aos países 
centrais a conquista de maiores mercados, pois os mercados internos já estão saturados. A 
globalização traz consigo uma expansão capitalista, que é realizada por meio de transações 
financeiras. Devido a essa expansão capitalista, a globalização afeta principalmente o 
comércio internacional, a comunicação e a liberdade de movimentação. 
O comércio internacional trouxe a divisão mundial de produção, facilitando aos 
interessados uma maior mobilidade e facilidade para adquirir produtos e serviços. Mas essa 
divisão mundial promoveu um aumento desigual de distribuição de riquezas, ou seja, para 
alguns países a riqueza aumenta de forma grandiosa, enquanto diminui drasticamente em 
outros. Isto não pode ser considerado como referência, pois existem países ricos com alto 
nível de vida, mas parte da população vive em extrema miséria, com poucas condições dignas 
de sobrevivência. 
Assim, o bem-estar não se torna um privilégio de um determinado país, mas de uma 
determinada faixa de população. 
Os países que possuem balança comercial favorável, poderão se relacionar 
internacionalmente e obter grande sucesso, enquanto que, para os países que possuem uma 
balança comercial desfavorável, serão necessários ajustes em sua estrutura social na relação 
 20 
internacional. Nesse sentido, Cristiane Derani9 relata: “[...] não é possível modificar-se a 
estrutura de produção interna sem se reformar toda relação econômica externa”. 
Diante da má divisão de renda e da má gestão dos recursos naturais, é possível a um 
país como o Brasil, que possui o oitavo lugar na economia mundial e com grande potencial 
industrial, abrigar em seu território uma população com alto nível de miséria e pobreza. 
Para que haja um desenvolvimento sustentável, deve ser observada, em nível regional 
ou nacional, a diminuição de recursos naturais diante da capacidade de produção local. Isso 
tudo afeta a conservação da natureza, ligada diretamente ao desenvolvimento do mercado 
internacional. Se há desenvolvimento desordenado, há também destruição ambiental. 
A destruição ambiental pertence a um processo global, por via da produção. Issosignifica que nem todos os efeitos e causas da destruição estejam ligados a um único território 
nacional. 
As nações que possuem crescimento favorável dentro do mercado internacional 
precisam ter a sua disposição recursos naturais baratos e em grandes proporções, sob pena de 
terem que consumir de nações que são menos industrializadas. 
A transferência de matéria prima e de alimentos pela América Latina e África aos 
países considerados ricos, torna cada vez mais claras a desigualdade e a dependência 
financeira, ocorrendo situações em que as transações feitas por esses países praticamente não 
cobrem os custos de produção. 
A globalização é responsável pelo aumento de desigualdades de renda e, 
consequentemente, pelo aumento de índices de concentração de riquezas, sendo muitas vezes 
considerada como a causadora de crises financeiras internacionais, levando ao desemprego e à 
miséria aqueles que vivem em países menos desenvolvidos. 
Nas ultimas décadas, houve uma tendência ao crescimento dessas desigualdades 
dentro do plano global. O resultado da globalização criou um abismo social, em que fome e 
miséria são vistas continuamente. 
Os países explorados economicamente sentem os efeitos da destruição do ecossistema, 
estimulando o aumento de catástrofes naturais e climáticas, que, querendo ou não, acabam por 
atingir a toda a humanidade. 
Os Estados Unidos, como país desenvolvido e beneficiado por transações econômicas 
internacionais, não são responsabilizados pela emissão de gases que proliferam em todo 
 
9
 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 121. 
 21 
globo, fazendo-se omisso quanto à necessidade de diminuir a emissão de moléculas de 
carbono. 
Joseph E. Stiglitz10 traduz a falta de cuidados das grandes potências econômicas nos 
seguintes termos: 
 
Não surpreende que os Estados Unidos, o pior poluidor do mundo, que 
acrescentam quase 6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano à 
atmosfera, finjam que não acreditam nas provas de que é preciso diminuir 
sua emissão de gases de efeito estufa. Se esses gases ficassem apenas sobre 
os Estados Unidos, o país poderia levar adiante seu próprio experimento; 
infelizmente, as moléculas de dióxido de carbono não respeitam fronteiras. 
E, embora as emissões americanas afetem a atmosfera global, os Estados 
Unidos (ou China, ou qualquer outro pais) não tem de pagar pelos efeitos 
fora de suas fronteiras. Em conseqüência, têm incentivos insuficientes para 
reduzir suas emissões [...]. 
 
O desenvolvimento econômico internacional a qualquer custo coloca em risco a 
qualidade de vida e o bem-estar de todo o planeta, devendo-se destacar que não haverá 
crescimento econômico no futuro, tanto em países ricos como nos pobres, se não se 
intensificarem os cuidados com as riquezas naturais. 
Para Joseph E. Stiglitz11: 
 
Fazer a globalização econômica funcionar terá pouca utilidade se não 
resolvermos nossos problemas ambientais globais. Nossa atmosfera e nossos 
oceanos são recursos globais; a globalização e o assim chamado progresso 
econômico aumentaram nossa capacidade de explorar esses recursos de um 
modo mais impiedoso e num ritmo mais rápido do que o crescimento de 
nossa capacidade de geri-las. 
 
Neste momento, deve-se ressaltar a necessidade da criação de mecanismos que 
contenham o uso indiscriminado dos recursos naturais ante o crescimento descontrolado da 
economia globalizada. 
Diante do crescimento econômico e da globalização, é inevitável que os recursos 
naturais sejam comprometidos. Desta forma, Fernando Alcoforado12 expressa a importância 
do desenvolvimento sustentável até o ano de 2030: 
 
 
10
 STIGLITZ, Joseph E. Globalização: como dar certo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.274. 
Traduzido por: Pedro Maia Soarez. 
11
 Op. Cit. p.275. 
12
 ALCOFORADO, Fernando. Globalização. São Paulo: Nobel, 1997, p.80. 
 22 
Com o atual modelo de desenvolvimento da sociedade, não há como evitar a 
degradação do meio ambiente do planeta. De acordo com a Wordwtch 
Institute para se promover o desenvolvimento sustentável em todo o planeta, 
é preciso faze-lo até o ano 2.030. Se não alcança-lo dentro deste prazo, é 
provável que a deterioração do meio ambiente e o declínio econômico 
alimentam-se reciprocamente, arrastando-nos em uma especial descendente 
de desintegração social, que tende a assumir proporções catastróficas não 
apenas pelo declínio econômico decorrentes das restrições ambientais, mas 
também pela exclusão social resultante do processo em curso de inovação 
tecnológica e gerencial em todo o sistema capitalista mundial no contexto da 
globalização. 
 
Os países mais ricos, que muitas vezes não estão comprometidos com a gestão 
ambiental em suas produções, afetam todo planeta, pois os problemas causados ao meio 
ambiente ultrapassam suas fronteiras. Sobre esse aspecto, Antonio Carlos Brasil Pinto13 
apresenta a necessidade de conscientização das nações na tentativa de inibir as consequências 
negativas causadas pela globalização: 
 
A temática ambiental afigura-se como emblemática no estudo do processo 
de globalização, sobretudo em relação às recentes possibilidades de inter-
relação entre os dois fenômenos. 
O ponto de partida para esta abordagem pode ser traduzido na evidência da 
conscientização de que os problemas ambientais não respeitam fronteiras 
políticas e, com bastante freqüência, apresentam conseqüências também 
globais [...]. 
 
O controle da poluição terá que ultrapassar as fronteiras, pois as normas internas de 
cada país são insuficientes diante da globalização da economia. 
Os tratados internacionais são mecanismos hábeis para solucionar questões além das 
fronteiras e deverão ser instituídos na busca do desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, 
Cristiane Derani14 apresenta a importância de se criar um desenvolvimento pautado pela 
sustentabilidade: 
 
[...] Por isto, paralelamente ao desenvolvimento normativo interno, julgo de 
extrema importância o trabalho coordenado com tratados e normas 
internacionais. E não me refiro somente àqueles propriamente destinados à 
conservação de determinados recursos, mas, sobretudo àqueles referentes à 
importação, exportação, exploração de recursos naturais, bem como os 
relativos à transferência de tecnologia e produtos. 
 
 
13
 PINTO, Antonio Carlos Brasil. A Globalização, o Meio Ambiente e os movimentos ecológicos. In LEITE, 
José Rubens Morato; FILHO, Ney de Barros Bello (Org). Direito Ambiental Contemporâneo. Barueri: Manole, 
2004. 
14
 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 126. 
 23 
O desenvolvimento normativo interno deve beneficiar a todos os países sem distinção, 
pois se o desenvolvimento econômico é necessário, o equilíbrio natural é ainda mais 
importante e deve ultrapassar os limites territoriais. 
Diante do desenvolvimento econômico, os países deverão adotar mecanismos internos 
de controle da exploração dos recursos naturais face ao crescimento da economia, oferecendo 
estímulos e políticas públicas que favoreçam significativamente aquelas pessoas físicas ou 
jurídicas que contribuírem para a proteção ambiental. 
A União Europeia há anos vem lutando para a conservação do meio ambiente, 
incentivando o uso responsável de recursos naturais e buscando alternativas empresariais sem 
desestimular o crescimento econômico. 
A saúde ambiental e o desenvolvimento com sustentabilidade fizeram com que a 
União Europeia criasse medidas educativas para que o próprio consumidor participe 
efetivamente da exclusão do consumo daqueles produtos que se utilizam de forma 
irresponsável dos recursosnaturais15. 
O Tratado de Assunção constituído pela República Argentina, República Federativa 
do Brasil, República do Paraguai e República Oriental do Uruguai, denominados "Estados 
Partes", conhecido como MERCOSUL, desde o início de sua instituição demonstrou, como 
um dos seus objetivos, o desenvolvimento econômico por meio da integração dos países 
participantes, e, no preâmbulo do tratado, destacou que a preservação ambiental seria uma de 
suas preocupações. 
O decreto nº. 351, de 21 de novembro de 1991, promulga o Tratado de Assunção e, 
em sua introdução enfatiza que os objetivos do MERCOSUL deverão ser construídos em 
obediência aos seguintes aspectos: 
 
TRATADO PARA A CONSTITUIÇÃO DE UM MERCADO COMUM 
ENTRE A REPÚBLICA ARGENTINA, A REPÚBLICA FEDERATIVA 
DO BRASIL, A REPÚBLICA DO PARAGUAI E A REPÚBLICA 
ORIENTAL DO URUGUAI 
(Tratado de Assunção) 
A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do 
Paraguai e a República Oriental do Uruguai, doravante denominados 
"Estados Partes"; 
Considerando que a ampliação das atuais dimensões de seus mercados 
nacionais, através da integração, constitui condição fundamental para 
acelerar seus processos de desenvolvimento econômico com justiça social; 
Entendendo que esse objetivo deve ser alcançado mediante o 
aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis, a preservação do 
meio ambiente, o melhoramento das interconexões físicas, a coordenação de 
 
15Disponível em: <http://europa.eu/pol/env/index_pt.htm>. Acesso em: 28/03/2011. 
 24 
políticas macroeconômicas e a complementação dos diferentes setores da 
economia, com base nos princípios de gradualidade, flexibilidade e 
equilíbrio;(destacou-se).16 
 
A tendência proposta no tratado do MERCOSUL tem sua previsão pautada em 
desenvolvimento econômico com sustentabilidade. 
A REMA (Reuniões Especializadas em Meio Ambiente) teve um papel importante no 
estudo ambiental, diante da abertura de mercado proposta pelo Tratado, recomendando a seus 
participantes a proteção associada ao crescimento econômico, e, nesse sentido, foi criada a 
Resolução nº. 10/9417, disciplinando diretrizes de política ambiental. 
Após a criação da Resolução nº. 10/94, surge, a partir da Declaração de Taranco, o 
subgrupo nº. 6, com o objetivo de direcionar a solução das questões ambientais. 
A grande dificuldade de uniformizar os principais temas ambientais está na 
diversidade apresentada nas legislações de cada membro do MERCOSUL, tendo como foco 
 
16
 BRASIL. Decreto nº. 351 de 21 de novembro de 1991. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 
28 mar. 2011. 
17
 O GRUPO MERCADO COMUN 
RESOLVE: 
Art. 1 - Aprovar o Documento "Diretrizes Básicas em Matéria de Política Ambiental" que figura como Anexo à 
presente Resolução. 
ANEXO 
1 - Assegurar a harmonização da legislação ambiental entre os Estados Partes do Tratado de Assunção, 
entendendo - se que harmonizar não implica o estabelecimento de uma legislação única. Para fins de análise 
comparativa de legislações serão consideradas tanto as normas vigentes como sua real aplicação. Em caso de 
lacunas nas legislações ambientais, será promovida a adoção de normas que considerem adequadamente os 
aspectos ambientais implicados e assegurem condições equânimes de competitividade no MERCOSUL. 
2 - Assegurar condições equânimes de competitividade entre os Estados Partes pela inclusão do custo ambiental 
na análise da estrutura de custo total qualquer processo produtivo. 
3 - Garantir a adoção de práticas não degradantes do meio ambiente nos processos que utilizam os recursos 
naturais. 
4 - Assegurar a adoção do manejo sustentável no aproveitamento dos recursos naturais renováveis a fim de 
garantir sua utilização futura. 
5 - Assegurar a obrigatoriedade de adoção de prática de licenciamento/habilitação ambiental para todas as 
atividades potencialmente degradante ao meio ambiente nos Estados Partes, tendo como um dos instrumentos a 
avaliação de impacto ambiental. 
6 – Assegurar a minimização e/ou eliminação do lançamento de poluentes a partir do desenvolvimento e adoção 
de tecnologias apropriadas, tecnologias limpas e de reciclagem, e do tratamento adequado dos resíduos sólidos, 
líquido e gasosos. 
7 - Assegurar o menor grau de deterioração ambiental nos processos produtivos e nos produtos de intercâmbio, 
tendo em vista a integração regional no âmbito do MERCOSUL. 
8 - Assegurar a concertação das ações objetivando a harmonização de procedimentos legais e/ou institucionais 
para o licenciamento/habilitação ambiental, e a realização dos respectivos monitoramentos das atividades que 
possam gerar impactos ambientais em ecossistemas compartilhados. 
9 - Estimular a coordenação de critérios ambientais comuns para a negociação implementação de atos 
internacionais de incidência prioritária no processo integração. 
10 - Promover o fortalecimento das instituições para a gestão ambientalmente sustentável mediante o aumento da 
informação substantiva para a tomada decisões; o melhoramento da capacidade da avaliação; e o 
aperfeiçoamento das instituições de ensino, capacitação e pesquisa. 
11 - Garantir que as atividades relacionadas ao desenvolvimento do turismo entre os Estados Partes considerem 
os princípios e normas que assegure equilíbrio ambiental. 
 25 
principal não a imposição de uma regra absoluta, mas sim de se harmonizar as peculiaridades 
legais de cada país. 
No ano de 2001, em Assunção, foi instituído o acordo para harmonizar as políticas 
ambientais conhecido como Acordo Quadro sobre Meio Ambiente18, estabelecido diante dos 
preceitos da Agenda 21 e da Declaração do Rio, no qual os países membros do MERCOSUL 
deverão ser orientados a partir dos preceitos nele estabelecido. 
Como já visto, os danos causados ao ecossistema diante do crescimento econômico 
globalizado, não respeitam fronteiras, estendendo-se ilimitadamente por todo o globo. 
A Declaração de Canela, que teve a assinatura do Brasil, Paraguai, Uruguai e 
Argentina, além do Chile, teve grande influência na tentativa de conter os danos aos recursos 
ambientais, impondo que deverão ser incluídos os custos ambientais nas etapas de produção, 
inibindo assim a transferências dessas externalidades negativas para as gerações futuras. 
Para que se tenha crescimento econômico com sustentabilidade, as relações 
comerciais e questões ambientais deverão caminhar juntas, e, nesse sentido, o Tratado de 
Assunção, em seu texto, prioriza a preservação ambiental. Entretanto, os temas pertinentes à 
preservação ambiental, em muitos momentos, são deixados em segundo plano, priorizando as 
discussões de assuntos relacionados diretamente ao crescimento econômico. A inexistência de 
 
18
 ACORDO-QUADRO SOBRE MEIO AMBIENTE DO MERCOSUL 
DECISÃO CMC/DEC/02, de 22 de junho de 2001, firmada em Assunção, Paraguai 
[...] 
Art. 3º Em suas ações para alcançar o objetivo deste Acordo e implementar suas disposições, os Estados Partes 
deverão orientar-se, inter alia, pelo seguinte: 
a) promoção da proteção do meio ambiente e aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis mediante a 
coordenação de políticas setoriais, com base nos princípios de gradualidade, flexibilidade e equilíbrio; 
b) incorporação da componente ambiental nas políticas setoriais e inclusão das considerações ambientais na 
tomada de decisões que se adotem no âmbito do MERCOSUL para fortalecimento da integração; 
c) promoção do desenvolvimento sustentável por meio do apoio recíproco entre os setores ambientais e 
econômicos, evitando a adoção de medidas que restrinjam ou distorçam de maneira arbitrária ou injustificável a 
livre circulação de bens e serviços no âmbito do MERCOSUL; 
d) tratamento prioritário eintegral às causas e fontes dos problemas ambientais; 
e) promoção da efetiva participação da sociedade civil no tratamento das questões ambientais; e 
f) fomento à internalização dos custos ambientais por meio do uso de instrumentos econômicos e regulatórios de 
gestão. 
CAPÍTULO II 
Objetivo 
Art. 4º O presente Acordo tem como objetivo o desenvolvimento sustentável e a proteção do meio ambiente 
mediante a articulação entre as dimensões econômica, social e ambiental, contribuindo para uma melhor 
qualidade do meio ambiente e de vida das populações. 
CAPÍTULO III 
Cooperação em Matéria Ambiental 
Art. 5o Os Estados Partes cooperarão no cumprimento dos Acordos Internacionais que contemplem matéria 
ambiental dos quais sejam parte. Esta cooperação poderá incluir, quando se julgar conveniente, a adoção de 
políticas comuns para a proteção do meio ambiente, a conservação dos recursos naturais, a promoção do 
desenvolvimento sustentável, a apresentação de comunicações conjuntas sobre temas de interesse comum e o 
intercâmbio de informações sobre posições nacionais em foros ambientais internacionais. 
[...]. 
 26 
uma agenda que dê primazia à solução dos problemas ambientais, coloca em risco o futuro do 
desenvolvimento equilibrado em todo o globo. 
 
1.2 ORDEM ECONÔMICA E PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 
 
O texto Constitucional aborda a ordem econômica com duas especificações, podendo 
ser utilizado quando se referir ao “mundo do dever ser”, ou seja, ao conjunto de prescrições 
normativas por meio dos quais serão moldadas as relações econômicas e, também, à ordem 
econômica que é usada para determinar o conjunto das práticas, ou seja, o “mundo do ser”. 
Diante dessas duas abordagens, tem-se que ambas estão praticamente interligadas, 
relacionando fático e normativo. Isso acontece devido a uma simbiose entre os elementos do 
mundo do dever ser e do mundo do ser, não existindo, nesse caso, mundos distintos. 
A partir de tais afirmações, Cristiane Derani19 nos apresenta: “A ordem econômica 
(mundo do ser) compõe as prescrições relativas ao dever ser da ordem econômica, que por sua 
vez atuam imediatamente produzindo modificações no mundo dos fatos, pois as prescrições se 
substantivam”. 
Desenvolvimento econômico e equilíbrio estão constitucionalmente prescritos no 
artigo 170 e têm como objetivo o aumento da produção e, consequentemente, do nível de 
emprego, estando sempre, no entanto em obediência aos princípios da atividade econômica 
conforme os ditames da justiça social, de forma racional e equilibrada. 
O artigo 174 da Constituição Federal estabelece que o próprio Estado tem autonomia 
para fiscalizar, incentivar, regular, planejar, tornando-se um agente normativo, desde que siga 
os princípios nela contidos, limitando-se sobre ações administrativas, conforme dispõe: 
 
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o 
Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e 
planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para 
o setor privado. 
§ 1º - A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do 
desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará 
os planos nacionais e regionais de desenvolvimento.[...].20 
 
Cabe ao Estado e a toda a coletividade a manutenção do meio ambiente saudável e 
equilibrado, tanto por via do poder de polícia do Estado, quanto por meio de incentivos, 
benefícios e políticas públicas. 
 
19
 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 235. 
20
 BRASIL. Constituição (1988). Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2011. 
 27 
A intervenção do Estado na economia contribui de forma significativa para a 
preservação do ecossistema, podendo tanto inibir algumas condutas lesivas como até mesmo 
desestimula-las com a cobrança de tributos. 
No que tange a desenvolvimento e a equilíbrio, nos dias de hoje, para se falar em 
desenvolvimento econômico segundo as normas Constitucionais, dever-se-á, necessariamente, 
associá-lo ao eficiente uso dos recursos naturais, visando à proteção ambiental e à 
consequente sustentabilidade. 
O texto constitucional demonstrou extrema preocupação com o ambiente natural, 
tratando este como direito fundamental e criando um capítulo que estabelece todos os 
cuidados necessários e a responsabilidade sobre os danos a ele causados. 
O artigo 225 da Constituição Federal trata do direito ao meio ambiente equilibrado, 
não impedindo o desenvolvimento econômico, mas demonstrando a necessidade de sua 
proteção. 
Diante do exposto, faz-se necessário ressaltar: 
 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, 
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para 
as presentes e futuras gerações. 
[...] 
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente 
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, sanções penais e 
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos 
causados.21 
 
A preocupação com o desenvolvimento econômico racional não está esquecida e está 
contemplada no Título VII da CF/88 que trata da Ordem Econômica e Financeira, ressaltando 
a defesa do Meio Ambiente como um dos Princípios Gerais da Atividade Econômica. 
O artigo 170, VI assegura ser viável e importante o desenvolvimento, desde que 
observe o cumprimento do princípio que visa à defesa do meio ambiente, evitando o máximo 
possível de impactos negativos: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e 
na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme 
os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: 
[...] 
 
21
 BRASIL. Constituição (1988). Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2011. 
 28 
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado 
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos 
de elaboração e prestação.22 
 
A sustentabilidade traz consigo a qualidade de vida, a satisfação de liberdade, de 
poder usufruir de bens, como paisagens, áreas verdes, lugares de recreação, entre outros. 
A proteção ao ecossistema e a biodiversidade abrange todas as medidas necessárias 
para a melhoria e sua manutenção, que possam evitar ou pelo menos diminuir os danos 
causados, incentivando a correta utilização dos recursos naturais. 
 
1.3 POLÍTICAS AMBIENTAIS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 
 
A política nacional de defesa ambiental e a criação de competências legislativas 
tiveram seu aprimoramento com o advento da Constituição, que recepcionou o texto da lei 
6.938/81. 
Tanto a previsão infraconstitucional quanto a Constitucional vieram para disciplinar as 
matérias pertinentes à proteção ambiental, ante a necessidade de um ecossistema equilibrado e 
um adequado caminho. 
As políticas ambientais juntamente com as políticas econômicas, como pressuposto de 
um desenvolvimento sustentável, têm a função de diminuir a tensão potencial que está ligada 
ao desenvolvimento econômico e também à sustentabilidade ecológica. 
Para Maria de Fátima Ribeiro, Sérgio Cardoso e Daniela Braga Paiano23, o referido 
tema deve assim se apresentar: 
 
O desenvolvimento econômico equilibrado implica em dispor de uma 
política ambiental onde de ser determinado pelo país, que organiza e efetiva, 
diversas ações que visam à preservação e melhoramento da natureza e 
consequentemente da vida humana. 
Dentre as Diretrizes da Política Nacional de Meio Ambiente está a 
compatibilizarão da proteção ambiental com o objetivo de desenvolvimento 
sócio-econômico.Em um primeiro momento, pode ocorrer colisão entre as 
políticas de proteção ambiental com as políticas de desenvolvimento 
econômico [...]. 
 
 
22
 BRASIL. Constituição (1988). Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2011. 
23
 RIBEIRO, Maria de Fátima; PAIANO, Braga Daniela; CARDOSO, Sérgio. Tributação Ambiental no 
Desenvolvimento Econômico: Considerações sobre a Função Social do Tributo. IDTL, 16 setembro de 2005. 
Disponível em: < http://idtr.com.br/artigos/133/pdf>. Acesso em: 28 jan. 2011. 
 29 
O desenvolvimento sustentável delimita-se a partir do compromisso com as futuras 
gerações, assegurando-lhes o desfrutar de uma vida com qualidade. 
A busca de um ponto de equilíbrio entre o desenvolvimento social, a utilização de 
recursos naturais e o crescimento econômico exige um planejamento territorial que não 
ultrapasse os limites da sustentabilidade, tanto nas áreas rurais quanto nas urbanas. 
O desenvolvimento econômico e a preservação ambiental devem caminhar juntos, 
sem que um acarrete a anulação do outro. 
Para Cristiane Derani24: “[...] além da sua função na manutenção dos processos dos 
ecossistemas, os bens ecológicos (ou recursos naturais) possuem um valor sócio-econômico, 
que nem sempre é fácil de visualizar”. 
O valor dos recursos naturais dependerá sempre de sua utilização, que, para Franco 
Archibugi25, pode ser classificado da seguinte forma: 
 
a) valor de uso; 
b) valor do afastamento de risco; 
c) valor de quase opção; 
d) valor moral ou existencial; 
e) valor de uso virtual; 
f) valor de herança. 
 
O recurso natural que recebe um determinado valor, torna-se um bem ambiental. 
Assim, o desenvolvimento sustentável caminha junto com a realidade, passando a ser tratada 
como problema de escolha, de opção política. 
Uma indústria, mesmo afirmando certo consumo, irá sempre necessitar de mais 
recursos naturais. 
Praticamente todos os processos econômicos são considerados irreversíveis, pois 
transformam matéria e energia. Devido a isso as condições para o desenvolvimento, como 
também os limites dos processos, não podem possuir dados fixos ou seja, a atividade 
econômica é instável, pode haver crescimento negativo ou positivo. Essas atividades 
modificam totalmente o meio ambiente e isso significa uma restrição externa, pois um recurso 
que, por sua vez, foi consumido, não poderá ser reutilizado. 
Para Elmar Altevater26: “Industrialização é um luxo exclusivo para parte da população 
mundial, e não para a grande maioria que somará, no início do próximo milênio, algo como 
6,25 bilhões de pessoas”. 
 
24
 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 136. 
25
 ARCHIBUGI, Franco [Et al.], 1989, p. 5-6 apud DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São 
Paulo: Max Limonad, 1997, p. 137. 
 30 
O desenvolvimento sustentável deve ser orientado por uma política ambiental e 
também uma política econômica. 
Um grande desafio das atividades econômicas está ligado diretamente a manter a 
reprodução derivada dos sistemas ecológicos e a produção econômica. Essas atividades 
acabam por liberar substâncias químicas que formam materiais de moléculas estranhas no 
meio natural. 
O ecossistema, hoje, vem armazenando milhares de produtos químicos altamente 
tóxicos e concentra grandes toneladas de metais pesados. Esses fatores não podem ser 
esquecidos dentro do desenvolvimento sustentável. 
Cristiane Derani27 discorre sobre a realidade do sistema econômico: 
 
A realidade do sistema econômico é um sistema aberto que precisa extrair, 
processar e descartar grande quantidade de matéria. O modelo de analise 
econômica dentro da corrente neoclássica consiste basicamente na redução 
das atividades produtivas a função de custo - beneficio, nem pré-existente 
conjunto composto por recursos independentes, “commodities” e serviços. 
Este modelo é fechado, trabalha com recursos abstratos, a serem 
infinitamente convertidos em bens e serviços abstratos, que, por sua vez, são 
“consumidos” por um trabalho abstrato e finalmente, retornam como 
recurso. [...] 
 
Esse modelo fechado é o ideal, pois não estaria afetando totalmente o meio ambiente, 
como é o caso do sistema aberto. 
As políticas ambientais têm como objetivo a preservação e a recuperação do 
ecossistema, assegurando o desenvolvimento econômico e social, por meio de ações 
governamentais, educação ambiental e incentivo para o uso racional do solo e dos recursos 
hídricos. 
A falta de políticas ambientais causa preocupação com o impacto ambiental, 
principalmente com o crescimento econômico descontrolado. Nesse sentido, Maria de Fátima 
Ribeiro e Jussara Suzi Assis Borges Nasser Ferreira28 expõem: 
 
Enquanto a economia preocupa-se com a lei da oferta e da procura com a 
busca de novos mercados; no meio ambiente pode ser observado que o 
 
26
 ALTVATER, Elmar, 1992, p. 22, apud DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max 
Limonad, 1997, p. 139. 
27
 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 140. 
28
 RIBEIRO, Maria de Fátima; FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser. O Papel do Estado no 
Desenvolvimento Econômico Sustentável: Reflexões sobre a Tributação Ambiental como Instrumento de 
Políticas Públicas. IDTL, 16 setembro de 2005. Disponível em: <http://idtr.com.br/artigos/133/pdf>. Acesso 
em: 28 jan. 2011. 
 31 
comportamento humano muitas vezes pode gerar um impacto ambiental 
provocado pelo desenvolvimento de determinada atividade econômica, se 
não forem observados os cuidados com a proteção ambiental. 
 
Diante da necessidade de um Desenvolvimento Sustentável, na busca de um 
crescimento econômico ordenado, faz-se o seguinte questionamento: que vem a ser 
Desenvolvimento Sustentável? Para Paulo Roberto Pereira de Souza29: “Desenvolvimento 
Sustentável é aquele tipo de desenvolvimento onde se atende às necessidades das gerações 
atuais sem comprometer a vida das gerações futuras”. 
Cabe esclarecer, que em dias atuais, quando o assunto é a preservação de áreas rurais, 
diante do desenvolvimento e do aprimoramento da produção agrícola e da pecuária, as Áreas 
de Preservação Permanente e as Áreas de Reservas Legais, são por muitos consideradas 
improdutivas, necessitando, assim, de rigorosa legislação e multas administrativas, para coibir 
a degradação e o mau uso das áreas de preservação ambiental. 
Políticas de incentivos ambientais aparecem em pequenas proporções para solucionar 
a questão da sustentabilidade, dando aparência de que desenvolvimento econômico e 
sustentabilidade não podem caminhar juntos. 
Para Paulo Roberto Pereira de Souza30: “[...] é possível continuarmos a ter 
desenvolvimento econômico, atividades econômicas de maneira em geral, e o mais 
importante, é possível fazer tudo isso de uma forma sustentável”. 
Quando se fala em crescimento econômico, a tributação com a simples função 
arrecadatória interfere negativamente junto ao desenvolvimento. 
Em se tratando de meio ambiente, não poderia ser diferente: impostos, taxas e 
contribuições são criadas sem que seus recursos sejam destinados à recuperação e à 
preservação do ambiental. 
Os incentivos são meios eficazes que poderão se associar ao desenvolvimento 
econômico em todas as áreas e nas mais diversas atividades, contribuindo de forma 
significativa com o ambiente natural e, acima de tudo, transformando todos aqueles potenciais 
poluidores em aliados das lutas ambientais. 
Desenvolvimento e meio ambiente terão que caminhar juntos em busca do 
crescimento e do bem estarsocial, diante da ordem econômica, objetivando por através de 
incentivos e benefícios de ordem econômica, meios eficazes na procura do equilíbrio e da 
sustentabilidade. 
 
29
 SOUZA, Paulo Roberto Pereira de. O Direito e a Sociedade Sustentável – I Jornada de Estudos da Justiça 
Federal Circunscrição Judiciária de Maringá. 2002. Videoteca/Lab. Com.Social – Faculdade Maringá. 
30
 Op. Cit. 
 32 
2 TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO DO ECOSSISTEMA 
 
 
2.1 FISCALIDADE E EXTRAFISCALIDADE 
 
A Constituição Federal trata da possibilidade de se cobrar tributos por meio do 
Sistema Tributário Nacional, estabelecendo competências e espécies tributárias que serão 
objeto de arrecadação por parte da União, Estados Membros, Municípios e Distrito Federal. O 
texto constitucional é taxativo na imposição de limites ao poder de tributar, com o objetivo de 
assegurar o direito de os contribuintes não serem surpreendidos com exações que extrapolem 
o poder estatal. 
O princípio da legalidade atua diretamente na necessidade da criação de lei para 
instituir ou aumentar tributos, garantindo ao cidadão um processo legislativo para a alteração 
da carga tributária. Ainda exemplificando os limites ao poder de tributar, deve ser garantida 
ao contribuinte a observância ao princípio da anterioridade, que tem o condão de impor um 
período de vacatio legis para que se tenha ciência da entrada em vigor de uma nova cobrança 
tributária ou do aumento de um tributo existente. 
As imunidades tributárias também aparecem como vedações da cobrança de alguns 
tributos sobre pessoas e coisas que estão previstas constitucionalmente. 
A cobrança de um tributo deve estar diretamente ligada ao seu fato gerador, 
respeitando os limites constitucionais do poder de tributar. 
O Estado, por meio da arrecadação de tributos e respeitadas as competências político-
administrativas dos entes federativos, fará a obtenção de recursos financeiros para custear as 
atividades estatais. Esta arrecadação, com finalidade meramente arrecadatória para custear as 
atividades do Estado é conhecida no mundo jurídico tributário, como Fiscalidade. A 
Fiscalidade é o principal meio utilizado para arrecadar recursos financeiros destinados a 
movimentar a máquina administrativa, além de garantir direitos básicos constitucionalmente 
previstos aos cidadãos. 
Nesse sentido, Cláudia Campos de Araújo31 apresenta: 
 
O objetivo dos tributos sempre foi angariar recursos financeiros para o 
Estado. Certamente, essa é a imposição tradicional do direito tributário, 
 
31
 ARAÚJO, Cláudia Campos de [et al.]. Meio Ambiente e sistema tributário: novas perspectivas. São Paulo: 
Ed. Senac, 2003, p.29. 
 33 
denominada tributação fiscal, que visa à arrecadação de tributos cuja 
finalidade é custear serviços fornecidos pelo poder público. 
 
Um tributo é fiscal quando sua cobrança visa à arrecadação de recursos financeiros 
para os cofres públicos, objetivando a sustentação dos encargos dos órgãos centrais da 
administração. 32 
Para garantir os direitos fundamentais aos cidadãos, a tributação fiscal terá como 
objetivo angariar recursos de forma compulsória, respeitando competências para a imposição 
e fiscalização dos tributos. 
Assim, os artigos 145, 148, 149 e 149-A da Constituição Federal, prescrevem: 
 
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão 
instituir os seguintes tributos: 
I - impostos; 
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, 
efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados 
ao contribuinte ou postos a sua disposição; 
III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. 
[...] 
Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos 
compulsórios: 
[...] 
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de 
intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias 
profissionais ou econômicas, [...]. 
Art. 149-A Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, 
na forma das respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação 
pública, observado o disposto no art. 150, I e III.33 
 
Os entes da federação deverão instituir tributos diante do exercício de sua atividade 
estatal, observados os preceitos constitucionais. Entretanto, diante do crescimento econômico 
e da globalização, a tributação pode ter outros objetivos além da simples arrecadação de 
tributos, ou seja, poderá intervir na economia com finalidade diversa da meramente fiscal. A 
tributação poderá ser utilizada como instrumento de regulação, incentivando ou até mesmo 
desestimulando o exercício de alguma atividade prejudicial à sociedade ou até mesmo o 
consumo de produtos. 
Os incentivos fiscais e o desestímulo à prática de determinados atos nocivos dão uma 
nova face à aplicação da tributação. A busca do desenvolvimento sócio-econômico, a partir da 
tributação como sanção premial ou compensatória, apresenta o caráter extrafiscal do tributo. 
 
32
 FANUCHI, Fábio. Curso de direito tributário brasileiro. 3. ed. Brasília: Resenha Tributária – MEC, 1975, 
p.55. 
33
 BRASIL. Constituição (1.988). Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 01 fev.. 2011. 
 34 
A extrafiscalidade no tributo interfere na economia com objetivos diversos daqueles tributos 
com finalidades meramente arrecadatórias. 
Para Hely Lopes Meirelles34, a extrafiscalidade deve ser interpretada da seguinte 
forma: 
 
A extrafiscalidade é a utilização do tributo como meio de fomento ou 
desestímulo a atividade reputada conveniente ou inconveniente à 
comunidade. È ato de polícia fiscal, isto é de ação do governo para o 
atingimento de fins sociais através da maior ou menor imposição tributária. 
 
Cabe, neste momento, ressaltar o previsto no artigo 151, I da Constituição Federal, 
que apresenta a possibilidade de criar incentivos para o desenvolvimento sócio-econômico: 
 
Art. 151. É vedado à União: 
I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou 
que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito 
Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida à concessão de 
incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do 
desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País;[...]35. 
(destacou-se) 
 
A corroborar, a Constituição no artigo 150, § 6º expressa: 
 
[...] 
§ 6.º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de 
crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou 
contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, 
estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima 
enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do 
disposto no art. 155, § 2.º, XII, g 36. 
 
A Constituição Federal não poupou esforços para garantir o direito de criação de 
incentivos e benefícios fiscais, fortalecendo ainda mais o uso desses artifícios para garantir os 
direitos fundamentais individuais e, principalmente, aqueles que abrangem toda a 
coletividade. 
Como já exposto no capítulo que trata do desenvolvimento econômico, a manutenção 
do ecossistema é tratada como direito fundamental no texto Constitucional, necessitando de 
mecanismos e políticas ambientais eficientes, ante as destruições causadas por pessoas físicas 
 
34
 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 45. 
35
 BRASIL. Constituição (1988). Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2011. 
36
 Op. Cit 
 35 
e jurídicas,sendo que a preservação ambiental é um dever do Estado e de todos os cidadãos, 
podendo se dar por meio de repressão ou até mesmo por meio de incentivos e benefícios 
econômicos. 
Na tributação ambiental, a extrafiscalidade cumpre um papel de extrema relevância, 
estimulando os potenciais poluidores a participarem efetivamente do processo de preservação 
ambiental, além de o Estado possuir uma ferramenta importante para coibir, por meio do 
desestímulo, a proliferação de produtos que possuem alta potencialidade de degradação 
ambiental. 
 
2.2 INCENTIVOS E BENEFÍCIOS FISCAIS X TUTELAS PROCESSUAIS DO MEIO 
AMBIENTE 
 
O direito ao meio ambiente equilibrado e sustentável, instituído constitucionalmente 
como Direito Fundamental, deve ser objeto de proteção por parte do Poder Público e de toda a 
sociedade. Ferramentas processuais foram incorporadas à legislação, dando ao poder público 
e, principalmente, a todos os cidadãos, a possibilidade e o dever de exercê-las em proteção ao 
ecossistema. 
A proteção ambiental ultrapassa os limites territoriais, utilizando-se da legislação 
constitucional, além de mecanismos internacionais capazes de combater os danos causados ao 
ecossistema. 
Devido à grande necessidade de proteger o meio ambiente mundialmente, criaram-se 
na esfera internacional, documentos com a finalidade de combate à poluição e a degradação 
ambiental. 
A tutela internacional do meio ambiente é definida por diversos documentos firmados 
entre os países participantes: tratados, convenções, recomendações, regras, declarações, 
diretrizes e normas protetivas. 
Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva37 conceitua o direito internacional do meio 
ambiente “[...] como sendo o conjunto de regras e princípios que criam obrigações e direitos 
de natureza ambiental para os Estados, as organizações intergovernamentais e os indivíduos”. 
De forma objetiva fica demonstrado, a partir do conceito referenciado, que as regras e 
princípios devem ser seguidos e, a partir deles, criado obrigações e direitos. 
 
37
 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento. Direito Ambiental Internacional. Rio de Janeiro: Thex, 1995, p. 5. 
 36 
As principais fontes do direito internacional ambiental são os tratados, as convenções, 
os atos das organizações, os costumes internacionais, os princípios gerais do direito, a 
doutrina internacional e a jurisprudência internacional. Os tratados e as convenções são fontes 
de excelência do direito internacional, pois são regras escritas que acabam integrando o 
ordenamento jurídico. Diante das fontes de direito internacional, a jurisprudência 
internacional são os precedentes firmados pela Corte Internacional de Justiça.38. 
Cabe aqui ressaltar a criação da ISO (International for Standardization Organization), 
uma entidade internacional que visa assegurar a qualidade de produtos da ISO 14.000, que 
indica se a empresa possui uma política ambiental implantada conforme as exigências e se os 
produtos são adequados ao uso e apresentam um menor impacto ambiental. Com a 
necessidade de exportar produtos, o Brasil se associou à ISO, razão pela qual os empresários 
brasileiros estão cada vez mais se adequando aos moldes das legislações internacionais, para 
tornar suas empresas competitivas internacionalmente. 
O Mercosul e as Comunidades Européias aumentam gradativamente suas exigências, 
impondo barreiras rígidas para a entrada de produtos importados, criando a Norma ISO 
14025, objetivando um melhor equilíbrio do ecossistema. 
O objeto de tutela jurídica é a proteção da qualidade do ambiente em função da 
qualidade de vida. A tutela se divide em dois tempos: o imediato, que significa a qualidade do 
meio ambiente; e a mediata, que expressa a qualidade de vida das pessoas. 
A presença do Poder Judiciário, para dirimir os conflitos ambientais, é hoje uma 
conquista social muito importante, pois abrange os países desenvolvidos e os em 
desenvolvimento. 
O acesso ao Judiciário tem diversas vias quando se trata da tutela do meio ambiente. 
A Ação Civil Pública Ambiental, regulada pela lei 7.347, de 24/07/1985, pela qual 
destacou-se por abrir as portas do Poder Judiciário, visando a proteger o meio ambiente, o 
consumidor e os bens e interesses de valor artístico, estético, paisagístico, turístico e histórico, 
dentre outros interesses difusos e coletivos. 
Além do Ministério público, os Estados, a União, Municípios e o Distrito Federal, 
autarquias, empresas públicas, fundações, sociedades de economia mista ou associações, têm 
legitimidade para propor a Ação Civil Pública. O Ministério Público teve um valor de suma 
importância em prol dos interesses difusos e coletivos. 
 
38
 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2006, p.424-425. 
 37 
Para Paulo Affonso Leme Machado39, “[...] as finalidades da ação civil pública são: 
cumprimento da obrigação de fazer, cumprimento da obrigação de não fazer e/ou a 
condenação em dinheiro.” 
No caso da indenização, o valor recebido não irá para as pessoas lesionadas, e, sim, 
para o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, e é ele que irá reparar o dano causado. 
O Inquérito Civil é uma medida preparatória de eventual ação civil pública, sendo este 
de suma importância, pois é por via do inquérito policial que se faz a coleta de materiais que 
irão dar suporte à ação, na qual o Ministério Público poderá, de imediato, ajuizar ação civil ou 
arquivar as peças de informação. 
Para Celso Antonio Pacheco Fiorillo40: 
 
[...] uma vez arquivado o inquérito civil, o Ministério Público não poderá 
mais propor a ação civil pública, pois é instaurado para formar a opinio actio 
do Parquet, esclarecendo-se nada tem que ver com os outros colegitimados à 
propositura da ação civil pública. 
 
Isso acontece porque o inquérito civil é regido pelo procedimento inquisitório, não 
sendo assegurado o principio do contraditório, pois ele serve apenas como instrumento de 
reunião de provas. 
Em casos em que o Ministério Público verifica, no inquérito civil, materialidade de 
crime e indícios de autoria, poderá promover ação civil pública e ação penal pública, em um 
só tempo. 
Conforme dispõe o artigo 5.º, § 6º da lei 7.347/8541: “Os órgãos públicos legitimados 
poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências 
legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial”. 
O compromisso de ajustamento é um acordo entre Ministério Público e empresa 
infratora ou grupo de pessoas, para que se regularize no prazo estipulado pela justiça. Trata-se 
de um ajuste de conduta e deve ser cumprido. E em caso de descumprimento, poderá sofrer as 
sanções impostas pela justiça, pois esta ação tem força de título executivo extrajudicial. O 
próprio Ministério Público poderá entrar em juízo, caso a empresa não cumpra o acordo. 
Celso Antonio Pacheco Fiorillo42, enumera os seguintes requisitos. 
 
39
 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 351. 
40
 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 
477. 
41
 BRASIL. Lei nº. 7347 de 24 de julho de 1985. Disponível: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 26 fev. 2011. 
42
 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 
479. 
 38 
 
a) Necessidade da integral reparação do dano, em razão da natureza 
indisponível do direito violado; 
b) Indispensabilidade de cabal esclarecimento dos fatos, de modo a ser 
possível a identificação das obrigações a serem estipuladas, já que desfrutará 
de eficácia de titulo executivo extrajudicial; 
c) Obrigatoriedade

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