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MARCELO DOS REIS ICMS ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL MARÍLIA - SP 2011 2 MARCELO DOS REIS ICMS ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Direito da Universidade de Marília como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Direito, sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Roberto Pereira de Souza. MARÍLIA 2011 3 MARCELO DOS REIS ICMS ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Direito da Universidade de Marília, área de concentração Empreendimentos Econômicos, Desenvolvimento e Mudança Social, sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Roberto Pereira de Souza. Aprovado pela banca examinadora em ___/___/_____. _______________________________________________ Prof. Dr. Paulo Roberto Pereira de Souza _______________________________________________ Prof. (a) Dr.(a) Maria de Fátima Ribeiro _______________________________________________ Prof. Dr. Nelson Borges 4 Dedico este trabalho a minha esposa Ellen e aos meus filhos João Vinícius e Marcela, por todo apoio e inspiração, além de abdicar do tempo de convívio, em prol do desenvolvimento desta Dissertação, que terá grande relevância em busca da satisfação e do desenvolvimento intelectual. Dedico também a meus pais, por todo apoio desprendido na realização deste Mestrado. 5 Agradeço a Deus por toda saúde e disposição para estar sempre buscando o conhecimento por meio das pesquisas por este Mestrado propostas. Agradeço a todos os professores que de alguma forma contribuíram para minha formação neste Mestrado, em especial a Coordenação do Curso.. Ofereço um agradecimento caloroso a meu Orientador que além de dirimir dúvidas quanto ao caminho a ser traçado neste trabalho, cendo um grande incentivador para se desenvolver a pesquisa aqui apresentada. 6 Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização. (Martin Luther King) 7 ICMS ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL Resumo: O meio ambiente equilibrado e sustentável, para as presentes e futuras gerações, é tratado como direito fundamental no texto da Constituição Federal. O Estado, por meio da instituição de tributo ambiental com a finalidade de proteção, exerce sua competência com mecanismos de comando e controle, com o objetivo de aplicar os recursos arrecadados na preservação do meio ambiente. Essas aplicações esbarram em preceitos tributários quanto à destinação de tais arrecadações, pois o imposto, sendo um tributo não vinculado, destina-se a atender às despesas gerais da administração. O objetivo desta pesquisa é apresentar a tributação ambiental, não mais como um imposto que sobrecarrega os contribuintes, mas, sim, como incentivo à preservação do meio ambiente. Nesse sentido, aparece o ICMS Ecológico. Trata-se de um tributo verde eminentemente extrafiscal, com o objetivo de estimular os municípios a preservarem suas biodiversidades, a partir de uma compensação financeira. Esse tributo possibilita também a criação de uma legislação municipal, que viabilizará o repasse de parte do valor arrecadado pelos municípios para aqueles proprietários de Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN. A metodologia adotada é a de uma pesquisa exploratória, de caráter não-experimental, com abordagens qualitativas e utilização de dados secundários, mostrando que o ICMS Ecológico contribui de forma incontestável para a preservação das reservas naturais. Unidades de Conservação, que até então eram consideradas um problema para os municípios e seus proprietários, desde que cadastrados no órgão ambiental estadual e reconhecidas dessa forma, serão uma fonte de renda. O imposto, que antes dificultava o desenvolvimento, passa a ser utilizado como um grande aliado dos Municípios, em busca de um meio ambiente equilibrado e sustentável. Palavras-Chave: ICMS Ecológico. Instrumento de Incentivo. Preservação Ambiental. 8 ICMS ECOLOGICAL AS A TOOL OF ENVIRONMENTAL PROTECTION Abstract: The balanced and sustainable environment for present and future generations is treated as a fundamental right in the text of the Constitution. The State, through the imposition of environmental taxes, wields its authority with mechanisms of command and control and has the aim of applying the funds raised in the preservation of the environment. These applications are hindered by tax provisions regarding the disposition of such collections, once considering the tax as a tribute not a bound, they are intended to meet the overhead costs of administration. The objective of this research is to present environmental taxation, not as a tax burden to taxpayers, but rather as an incentive to the environment preservation. In this sense, the Ecological ICMS (Tax over Circulation of Goods and Services) is an imminently extra-fiscal green character, with the aim of encouraging the municipalities to preserve their biodiversity from a financial compensation. This tribute also enables the creation of a municipal law that will allow the transfer of part of the amount collected by the municipalities for those owners of Private Natural Heritage Reserves (RPPN). The methodology is a non-experimental exploratory search with qualitative approaches using secondary data, showing that the Ecological ICMS contributes to the preservation of natural reserves. Conservation Units, previously considered a problem for the municipalities and their owners, provided that registered in the state environmental agency and recognized as such will become a source of income. The tax, which so far hindered development, shall be used as an important ally to the municipalities in the search of a balanced and sustainable environment. KeyWords: Ecological ICMS, Financial Compensation, Environmental Preservation. 9 LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS Gráfico 1 - Distribuição do ICMS conforme previsto na Constituição Federal..............82 Gráfico 2 - Apresenta hipoteticamente os critérios de repasse do ICMS........................83 Gráfico 3 – Estatística das Unidades de Conservação no Paraná ...................................92 Gráfico 4 – Estatística das Unidades de Conservação no Rio Grande do Sul................ 94 Gráfico 5 – Estatística das Unidades de Conservação em São Paulo............................. 96 Gráfico 6 - Estatística das Unidades de Conservação em Minas Gerais ........................98 Gráfico 7 – Estatística das Unidades de Conservação no Mato Grosso do Sul...................99 Gráfico 8 - Estatística das Unidades de Conservação em Rondônia.............................101Gráfico 9 - Estatística das Unidades de Conservação no Amapá .................................102 Gráfico 10 - Estatística das Unidades de Conservação no Mato Grosso.......................103 Gráfico 11 - Estatística das Unidades de Conservação em Pernambuco......................105 Tabela 12 - Tabela que ilustra os critérios de repasse do ICMS Ecológico..................107 10 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ICMS - Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação RPPN - Reserva de Patrimônio Particular Natural MERCOSUL – Mercado Comum do Sul REMA - Reuniões Especializadas em Meio Ambiente ISO - International for Standardization Organization LRF - Lei de Responsabilidade fiscal CIDE – Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano ITR – Imposto Territorial Rural EIA - Estudo de Impacto Ambiental CONAMA - Conselho Nacional Do Meio Ambiente OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico IPI – Imposto sobre produtos industrializados IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores TCFA - Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis APAs - Áreas de Proteção Ambiental PNB - Política Nacional de Biodiversidade APP - Área de Preservação Permanente IC – Índice de Conservação UC`s – Unidades de Conservação SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza TNC - The Nature Conservancy CI - Conservação Internacional IAP - Instituto Ambiental do Paraná FREPESP - Federação das Reservas Ecológicas Particulares do Estado de São Paulo CNRPPN - Confederação Nacional de RPPN 11 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................12 1 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E O MEIO AMBIENTE ..........................15 1.1 DESENVOLVIMENTO SOCIAL E CRESCIMENTO ECONÔMICO .....................15 1.2 ORDEM ECONÔMICA E PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE .............................26 1.3 POLÍTICAS AMBIENTAIS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL...............28 2 TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO DO ECOSSISTEMA ................32 2.1 FISCALIDADE E EXTRAFISCALIDADE................................................................32 2.2 INCENTIVOS E BENEFÍCIOS FISCAIS X TUTELAS PROCESSUAIS DO MEIO AMBIENTE .............................................................................................................................35 2.3 REPERCURSSÕES DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL NA CONCESSÃO DOS INCENTIVOS E DEMAIS BENEFICIOS TRIBUTÁRIOS .................41 2.4 SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO:.......................................................45 2.4.1 Da Necessidade de Tributar.......................................................................................45 2.4.2 Espécies Tributárias: Considerações .........................................................................48 2.4.3 Princípios Constitucionais Tributários de Proteção Ambiental.................................52 2.5 TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NA PRESERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE.........67 3 ICMS ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE INCENTIVO A PROTEÇÃO AMBIENTAL .........................................................................................................................75 3.1 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO ICMS ECOLÓGICO ...................................76 3.2 ICMS ECOLÓGICO NOS ESTADOS DA FEDERAÇÃO ........................................82 3.3 DA REPARTIÇÃO DOS RECURSOS DO ICMS ECOLÓGICO AOS MUNICÍPIOS. ....................................................................................................................................102 3.4 O REPASSE DA ARRECADAÇÃO DO ICMS ECOLÓGICO AOS PROPRIETÁRIOS DE RPPN: ANÁLISE À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL........104 3.5 AVALIAÇÃO E ANÁLISE DA EFETIVA CONTRIBUIÇÃO DO ICMS ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL..................108 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................115 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................118 ANEXOS ...............................................................................................................................128 12 INTRODUÇÃO O meio ambiente equilibrado e sustentável para as presentes e futuras gerações, diante do crescimento econômico e da globalização, será o grande desafio desta pesquisa científica. A manutenção do ecossistema é tratada como direito fundamental no texto Constitucional, cabendo ao Estado e a toda sociedade, por meio de mecanismos de controle e de comando, além da criação de políticas ambientais, os cuidados necessários para a preservação ambiental. A dificuldade de se estimar o quantum de prejuízo causado, a partir de catástrofes ambientais, faz as medidas punitivas muitas vezes ineficazes, deixando de atingir seu objetivo maior, que é a preservação do meio ambiente na sua integralidade. Com o crescimento econômico, o Estado necessita de mecanismos eficientes para agir em proteção da biodiversidade, com a finalidade de obter um desenvolvimento econômico preocupado com as externalidades negativas que as questões econômicas podem causar a toda sociedade, ao longo dos anos. O fenômeno da globalização irradia, por todo o planeta, a poluição resultante do crescimento econômico, ultrapassando os limites de fronteiras e provocando reações negativas em nações menos industrializadas, sendo estas atingidas pelo mau uso dos recursos naturais por países desenvolvidos. Nesse sentido, a tributação ambiental, pautada pela extrafiscal, aparece como um instrumento econômico de caráter preventivo, capaz de contribuir ativamente com a preservação ambiental. Agindo não mais com finalidade meramente arrecadatória, os tributos extrafiscais, por intermédio de benefícios e incentivos à preservação do meio ambiente, representam, por meio de imposição tributária, a busca dos fins sociais. Com a possibilidade legal da criação de incentivos e benefícios fiscais, aparece o ICMS Ecológico, como um tributo verde com caráter eminentemente extrafiscal, com o objetivo de estimular os municípios a preservarem sua biodiversidade, a partir de uma compensação financeira. A tributação ecológica do ICMS é uma espécie de Sanção Premial, de baixo custo operacional, agindo na forma de reeducação institucional. Na primeira seção, será feita uma análise dos reflexos que o crescimento econômico causa ao meio ambiente, diferenciando desenvolvimento econômico e crescimento e apresentando a importância das políticas públicas de estímulos fiscais para a manutenção da 13 biodiversidade. Ainda nessa seção, referencia-se a necessidade da intervenção estatal, inibindo ou desestimulando condutas consideradas lesivas ao meio ambiente, a partir de preceitos previstos na ordem econômica, objetivando o desenvolvimento sustentável. Superadas as questões econômicas, faz-se necessário apresentar, em uma segunda seção, conceitos de fiscalidade e extrafiscalidade, demonstrando a eficácia da aplicabilidade de tributos extrafiscais, por meio de incentivos e benefícios à proteção do ecossistema. Cabe destacar a necessidade de obediência que esses estímulos tributários deverão ter em relação à Lei de Responsabilidade Fiscal, sob pena de prática de crime de renúncia de receita. As questões tributárias, no que tange a conceitos e princípios, farão parte do elo do tributário ao ambiental, para umamelhor compreensão da tributação, cabendo também, nessa mesma seção, a menção aos principais princípios que norteiam o direito ambiental e o tributário, além de considerações sobre as espécies tributárias. Os principais mecanismos de tutelas ambientais serão tratados por meio de uma análise de possíveis resultados junto à proteção ambiental, em contraponto aos incentivos e benefícios econômicos e a sua aplicabilidade na repartição das receitas do ICMS aos Municípios. Na última seção, o ICMS Ecológico será demonstrado sob todos os aspectos, desde a previsão Constitucional para instituí-lo e a possibilidade de vinculação dos recursos, para possíveis reparos junto ao ecossistema, até às legislações estaduais que possibilitam o repasse de parte da arrecadação do ICMS às municipalidades. Essa seção trata dos resultados alcançados por diversos Estados da Federação, após a implantação do ICMS Ecológico, além da forma em que se dá o percentual do repasse aos municípios, ressaltando os pontos fortes da legislação de cada Estado e a necessidade de alguns deles aprimorarem o texto já existente. Inclui-se, nesse contexto, a possibilidade de se repassar parte dos valores arrecadados com este tributo ecológico aos proprietários de Unidades de Conservação do tipo RPPN (Reserva de Patrimônio Particular Natural). Apresenta-se, também, a avaliação de doutrinadores e representantes de diversos órgãos ambientais dos Estados da real contribuição que o ICMS Ecológico propicia à proteção ambiental, nos diferentes tipos de Unidades de Conservação. Como contraponto, faz-se uma análise da eficácia do ICMS Ecológico diante dos problemas ambientais atualmente vividos nas cidades, quanto ao lixo residencial e industrial e seu correto manejo. Os Estados da Federação instituíram legislações próprias, de acordo com a necessidade de incentivo, conforme a biodiversidade local. 14 No final desta pesquisa, consta um anexo com algumas das legislações estaduais vigentes que obtiveram resultados positivos quanto ao aumento de áreas preservadas em seu território, após a criação da Legislação do ICMS Ecológico. 15 1 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E O MEIO AMBIENTE 1.1 DESENVOLVIMENTO SOCIAL E CRESCIMENTO ECONÔMICO O crescimento econômico, ao longo dos anos, era visto como independente e que, a qualquer custo, estava embasado no conceito de satisfação pessoal, levando em conta somente o caráter financeiro, desprezando o aspecto qualitativo. O desenvolvimento econômico possui um conceito bem mais amplo do que o simples crescimento econômico, tendo como premissa o aspecto qualitativo e desprezando o desenvolvimento pautado pelo crescimento quantitativo. Para melhor assinalar, Josué de Castro1 retrata: “[...] o conceito de desenvolvimento não é meramente quantitativo, mas compreende os aspectos qualitativos dos grupos humanos a que concerne”. O crescimento econômico não valoriza a solução de problemas sociais e nem contribui na correção das desigualdades regionais e na melhoria da distribuição de renda. Diante do crescimento, as questões ambientais também ficaram em segundo plano, e, nesse sentido, Adriana Migliorini Kieckhofer2 relata: Durante décadas o segmento econômico foi privilegiado em detrimento do social e do ambiental, pois se acreditava que somente com um setor produtivo forte e atuante poderiam ser resolvidos os problemas sociais, uma vez que a remuneração, advinda do emprego de mão-de-obra, proporcionaria a satisfação das necessidades da população. Isto, de certa forma, não estava errado. Entretanto foram esquecidos neste sistema os valores de repartição e distribuição dos rendimentos advindos da produção. Isso fez com que as diferentes classes se tornassem ainda mais distantes dando origem a graves problemas sociais como a miséria e suas enormes conseqüências. Foram esquecidos também os valores ambientais, pois se acreditava que na natureza tudo era infinito, ou seja, que ela estava à disposição do homem para servi-lo infinitamente. (destacou-se) Ao contrário do crescimento econômico, o desenvolvimento é mais abrangente e se preocupa com as consequências que as questões econômicas podem trazer a toda sociedade, ao longo do tempo. 1 CASTRO, Josué de. Desenvolvimento e subdesenvolvimento apud KIECKHOFER, Adriana Migliorini. Empreendimentos Econômicos e Desenvolvimento Sustentável. Marília: Arte e Ciência, 2008, p.22. 2 KIECKHOFER, Adriana Migliorini. Empreendimentos Econômicos e Desenvolvimento Sustentável. Marília: Arte e Ciência, 2008, p.31, 32. 16 O desenvolvimento sustentável deve ser o objetivo a ser alcançado, moldando questões meramente econômicas para que não cause danos a toda a sociedade. Desta forma, Maria de Fátima Ribeiro e Jussara Suzi Assis Borges Nasser Ferreira3 esclarecem: O desenvolvimento sustentável exige três situações: crescimento econômico, qualidade de vida e justiça social. [...] O crescimento econômico tem que continuar a acontecer. Porém, deve-se procurar alternativas e formas de crescimento econômico que não sejam degradadoras do meio ambiente, que não sejam impactantes, e, se o forem, devem ser procuradas fórmulas a fim de neutralizar os efeitos nocivos para que o crescimento econômico continue, proporcionando as duas outras situações acima mencionadas: Qualidade de vida e Justiça social. O crescimento econômico se faz necessário. Contudo, a responsabilidade social desse crescimento deve ser observada com o intuito de reprimir as influências negativas que possa causar. O crescimento econômico traz consigo riscos iminentes de danos ambientais, comportando uma maior necessidade de proteção ambiental. Diante da necessidade legal de proteção ambiental, ocorreu um aumento dos gastos em investimento de novas tecnologias para que o ecossistema não seja prejudicado, mesmo que de forma parcial. Com o aumento do crescimento econômico, cresce também a necessidade de se estabelecer limites e cuidados necessários para com os recursos naturais. Adriana Migliorini Kieckhofer4, nesse sentido, apresenta: A primeira Conferência Mundial do Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, colocou a questão ambiental nas agendas internacionais. Pela primeira vez, representantes de governo se uniram para discutir a necessidade de medidas efetiva de controle dos fatores que causam a degradação ambiental, rompendo a idéia de ausência de limites para a exploração dos recursos naturais, e se preocupando com questões como o crescimento populacional, o processo de urbanização e a tecnologia envolvida na industrialização. Nos últimos anos, ocorreu um avanço significativo nos investimentos para a proteção do meio ambiente, interferindo diretamente no custo da produção, que q rigor na 3 RIBEIRO, Maria de Fátima; FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser. O Papel do Estado no Desenvolvimento Econômico Sustentável: Reflexões sobre a Tributação Ambiental como Instrumento de Políticas Públicas. IDTL, 16 setembro de 2.005. Disponível em: <http://idtr.com.br/artigos/133/pdf>. Acesso em: 28 jan. 2011. 4 KIECKHOFER, Adriana Migliorini. Empreendimentos Econômicos e Desenvolvimento Sustentável. Marília: Arte e Ciência, 2008, p.26. 17 regularização do uso dos recursos naturais requer investimentos de maiores valores. Contudo, as políticas públicas se restringem às sanções penais e administrativas, deixando a desejar no que concerne a incentivos e benefícios ou até mesmo a medidas compensatórias que estimulem a preservação ambiental, sem causar prejuízos ao crescimentoeconômico. Entretanto, a doutrina tem apontado de forma expressiva para a necessidade de se incentivar os estímulos tributários e uma melhor aplicação dos recursos advindos dessas arrecadações. Acerca desse tema, Maria de Fátima Ribeiro, Daniela Braga Paiano e Sérgio Cardoso5 ratificam: No Brasil pode ser observado que as políticas públicas no sentido de incentivo à proteção ambiental precisam ser intensificadas, mesmo considerando o meio ambiente positivamente inserido na ordem social. Qualquer política ambiental deve estar integrada com o planejamento urbanístico, com a saúde pública, com o desenvolvimento entre outros aspectos. Assim, é necessário que o governo, em todos os seus segmentos, disponha de política econômica, financeira e tributária que faça com que haja efetivamente este desenvolvimento sustentado, destacando no artigo 225 da Constituição Federal. Embora a Constituição brasileira determine que o Estado e a sociedade sejam responsável pela preservação ambiental, poucos são os mecanismos para que essa preservação se efetive. Para o cumprimento das disposições legais e administrativas, aparecem no mercado empresas capazes de auxiliar o crescimento econômico, objetivando um mínimo de equilíbrio ambiental. Essas indústrias, especializadas em limpeza ambiental, têm como objetivo a produção de aparelhos capazes de sanar os estragos decorrentes da má gestão do lixo industrial. A propósito das atividades desenvolvidas por tais empresas, vale ressaltar a visão de Cristiane Derani6 : Tais indústrias incorporam o produto interno e fazem-no crescer, embora não haja aumento de qualquer produção para consumo social. O que ocorre é uma “meta-industrialização”. É toda mobilização de recursos e energia para produção de corretores de uma produção existente. 5 RIBEIRO, Maria de Fátima; PAIANO, Daniela Braga; CARDOSO, Sérgio. Tributação Ambiental no Desenvolvimento Econômico: Considerações sobre a Função Social do Tributo. IDTL, 16 setembro de 2005. Disponível em: <http://idtr.com.br/artigos/133/pdf>. Acesso em: 28 jan. 2011. 6 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 105. 18 O produto interno produzido e oferecido por essas indústrias, não aumenta a produção de lixos ou resíduos, mas cria uma sustentabilidade ambiental juntamente com o desenvolvimento econômico, como uma correção da produção já existente. Nem todos podem consumir os bens que são produzidos pelas indústrias, existindo diferenças entre as possibilidades de crescimento, o que leva a entender que existem dois tipos de bem-estar: o bem-estar oligárquico e o bem-estar democrático. Analisando o fator natureza de produção, algumas formas de bem-estar não podem ser generalizadas, enquanto a economia não conseguir solucionar os problemas derivados do consumo de matéria prima e da energia. O processo de industrialização traz consigo o chamado bem-estar industrial para aqueles que fazem parte das sociedades industrializadas. Nesse sentido Cristiane Derani7 preleciona que: [...] podem as sociedades industrializadas gozar da comodidade do bem-estar industrial, tão somente enquanto o mundo ainda não totalmente industrializado permanecer desindustrializado. Fosse o mundo ilimitado, fossem as possibilidades do planeta de absorver materiais danosos infinitas, não haveria tal problema. O desenvolvimento econômico traz, para uns, a comodidade desse desenvolvimento, mas ainda existe uma grande parte que não se utiliza desse beneficio, ficando parada no tempo, limitada por si só. Na economia clássica, o bem-estar está totalmente ligado à satisfação individual, que depende principalmente do crescimento do consumo. Para se manter o poder de compra e não interferir em despesas de trabalho, é reduzido o custo de produção por meio do barateamento de recursos naturais, buscando-se, mesmo assim, um avanço tecnológico. A necessidade social faz com que sejam moldadas as atividades coletivas, as relações individuais e sociais. A necessidade natural também molda a sociedade, mesmo sendo uma necessidade que surge naturalmente, sem que sociedade a “fabrique”. Diante das necessidades individuais, bem-estar e crescimento econômico, Cristiane Derani8 traduz: 7 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 133-134. 8 Op. Cit. p. 136. 19 Portanto, atrelar-se a noção de bem-estar ao apaziguamento das necessidades individuais no modo de produção capitalista é procurar preencher o que não deve ser preenchido, uma vez que a produção material precisa deste motor da vontade para sua necessária expansão. O mercado é sustentado pelo consumo, com finalidade exclusiva de suprir as necessidades individuais. O bem-estar social, a partir da pacificação das necessidades individuais, dentro do modo capitalista, é fator que influencia diretamente o crescimento econômico. O desenvolvimento sustentável visa a desenvolver uma estrutura econômica e social que torne capaz a realização de um equilíbrio entre distribuição de produção social e dos sistemas naturais, satisfazendo somente as necessidades de consumo considerados como primordiais para a sobrevivência humana. A necessidade de crescimento econômico ultrapassa os limites territoriais. A busca de novos mercados coloca em risco o desenvolvimento social e o equilíbrio ambiental. O crescimento além das fronteiras é conhecido como o fenômeno da globalização, que é um processo de integração social, econômica, política e cultural que permite aos países centrais a conquista de maiores mercados, pois os mercados internos já estão saturados. A globalização traz consigo uma expansão capitalista, que é realizada por meio de transações financeiras. Devido a essa expansão capitalista, a globalização afeta principalmente o comércio internacional, a comunicação e a liberdade de movimentação. O comércio internacional trouxe a divisão mundial de produção, facilitando aos interessados uma maior mobilidade e facilidade para adquirir produtos e serviços. Mas essa divisão mundial promoveu um aumento desigual de distribuição de riquezas, ou seja, para alguns países a riqueza aumenta de forma grandiosa, enquanto diminui drasticamente em outros. Isto não pode ser considerado como referência, pois existem países ricos com alto nível de vida, mas parte da população vive em extrema miséria, com poucas condições dignas de sobrevivência. Assim, o bem-estar não se torna um privilégio de um determinado país, mas de uma determinada faixa de população. Os países que possuem balança comercial favorável, poderão se relacionar internacionalmente e obter grande sucesso, enquanto que, para os países que possuem uma balança comercial desfavorável, serão necessários ajustes em sua estrutura social na relação 20 internacional. Nesse sentido, Cristiane Derani9 relata: “[...] não é possível modificar-se a estrutura de produção interna sem se reformar toda relação econômica externa”. Diante da má divisão de renda e da má gestão dos recursos naturais, é possível a um país como o Brasil, que possui o oitavo lugar na economia mundial e com grande potencial industrial, abrigar em seu território uma população com alto nível de miséria e pobreza. Para que haja um desenvolvimento sustentável, deve ser observada, em nível regional ou nacional, a diminuição de recursos naturais diante da capacidade de produção local. Isso tudo afeta a conservação da natureza, ligada diretamente ao desenvolvimento do mercado internacional. Se há desenvolvimento desordenado, há também destruição ambiental. A destruição ambiental pertence a um processo global, por via da produção. Issosignifica que nem todos os efeitos e causas da destruição estejam ligados a um único território nacional. As nações que possuem crescimento favorável dentro do mercado internacional precisam ter a sua disposição recursos naturais baratos e em grandes proporções, sob pena de terem que consumir de nações que são menos industrializadas. A transferência de matéria prima e de alimentos pela América Latina e África aos países considerados ricos, torna cada vez mais claras a desigualdade e a dependência financeira, ocorrendo situações em que as transações feitas por esses países praticamente não cobrem os custos de produção. A globalização é responsável pelo aumento de desigualdades de renda e, consequentemente, pelo aumento de índices de concentração de riquezas, sendo muitas vezes considerada como a causadora de crises financeiras internacionais, levando ao desemprego e à miséria aqueles que vivem em países menos desenvolvidos. Nas ultimas décadas, houve uma tendência ao crescimento dessas desigualdades dentro do plano global. O resultado da globalização criou um abismo social, em que fome e miséria são vistas continuamente. Os países explorados economicamente sentem os efeitos da destruição do ecossistema, estimulando o aumento de catástrofes naturais e climáticas, que, querendo ou não, acabam por atingir a toda a humanidade. Os Estados Unidos, como país desenvolvido e beneficiado por transações econômicas internacionais, não são responsabilizados pela emissão de gases que proliferam em todo 9 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 121. 21 globo, fazendo-se omisso quanto à necessidade de diminuir a emissão de moléculas de carbono. Joseph E. Stiglitz10 traduz a falta de cuidados das grandes potências econômicas nos seguintes termos: Não surpreende que os Estados Unidos, o pior poluidor do mundo, que acrescentam quase 6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano à atmosfera, finjam que não acreditam nas provas de que é preciso diminuir sua emissão de gases de efeito estufa. Se esses gases ficassem apenas sobre os Estados Unidos, o país poderia levar adiante seu próprio experimento; infelizmente, as moléculas de dióxido de carbono não respeitam fronteiras. E, embora as emissões americanas afetem a atmosfera global, os Estados Unidos (ou China, ou qualquer outro pais) não tem de pagar pelos efeitos fora de suas fronteiras. Em conseqüência, têm incentivos insuficientes para reduzir suas emissões [...]. O desenvolvimento econômico internacional a qualquer custo coloca em risco a qualidade de vida e o bem-estar de todo o planeta, devendo-se destacar que não haverá crescimento econômico no futuro, tanto em países ricos como nos pobres, se não se intensificarem os cuidados com as riquezas naturais. Para Joseph E. Stiglitz11: Fazer a globalização econômica funcionar terá pouca utilidade se não resolvermos nossos problemas ambientais globais. Nossa atmosfera e nossos oceanos são recursos globais; a globalização e o assim chamado progresso econômico aumentaram nossa capacidade de explorar esses recursos de um modo mais impiedoso e num ritmo mais rápido do que o crescimento de nossa capacidade de geri-las. Neste momento, deve-se ressaltar a necessidade da criação de mecanismos que contenham o uso indiscriminado dos recursos naturais ante o crescimento descontrolado da economia globalizada. Diante do crescimento econômico e da globalização, é inevitável que os recursos naturais sejam comprometidos. Desta forma, Fernando Alcoforado12 expressa a importância do desenvolvimento sustentável até o ano de 2030: 10 STIGLITZ, Joseph E. Globalização: como dar certo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.274. Traduzido por: Pedro Maia Soarez. 11 Op. Cit. p.275. 12 ALCOFORADO, Fernando. Globalização. São Paulo: Nobel, 1997, p.80. 22 Com o atual modelo de desenvolvimento da sociedade, não há como evitar a degradação do meio ambiente do planeta. De acordo com a Wordwtch Institute para se promover o desenvolvimento sustentável em todo o planeta, é preciso faze-lo até o ano 2.030. Se não alcança-lo dentro deste prazo, é provável que a deterioração do meio ambiente e o declínio econômico alimentam-se reciprocamente, arrastando-nos em uma especial descendente de desintegração social, que tende a assumir proporções catastróficas não apenas pelo declínio econômico decorrentes das restrições ambientais, mas também pela exclusão social resultante do processo em curso de inovação tecnológica e gerencial em todo o sistema capitalista mundial no contexto da globalização. Os países mais ricos, que muitas vezes não estão comprometidos com a gestão ambiental em suas produções, afetam todo planeta, pois os problemas causados ao meio ambiente ultrapassam suas fronteiras. Sobre esse aspecto, Antonio Carlos Brasil Pinto13 apresenta a necessidade de conscientização das nações na tentativa de inibir as consequências negativas causadas pela globalização: A temática ambiental afigura-se como emblemática no estudo do processo de globalização, sobretudo em relação às recentes possibilidades de inter- relação entre os dois fenômenos. O ponto de partida para esta abordagem pode ser traduzido na evidência da conscientização de que os problemas ambientais não respeitam fronteiras políticas e, com bastante freqüência, apresentam conseqüências também globais [...]. O controle da poluição terá que ultrapassar as fronteiras, pois as normas internas de cada país são insuficientes diante da globalização da economia. Os tratados internacionais são mecanismos hábeis para solucionar questões além das fronteiras e deverão ser instituídos na busca do desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, Cristiane Derani14 apresenta a importância de se criar um desenvolvimento pautado pela sustentabilidade: [...] Por isto, paralelamente ao desenvolvimento normativo interno, julgo de extrema importância o trabalho coordenado com tratados e normas internacionais. E não me refiro somente àqueles propriamente destinados à conservação de determinados recursos, mas, sobretudo àqueles referentes à importação, exportação, exploração de recursos naturais, bem como os relativos à transferência de tecnologia e produtos. 13 PINTO, Antonio Carlos Brasil. A Globalização, o Meio Ambiente e os movimentos ecológicos. In LEITE, José Rubens Morato; FILHO, Ney de Barros Bello (Org). Direito Ambiental Contemporâneo. Barueri: Manole, 2004. 14 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 126. 23 O desenvolvimento normativo interno deve beneficiar a todos os países sem distinção, pois se o desenvolvimento econômico é necessário, o equilíbrio natural é ainda mais importante e deve ultrapassar os limites territoriais. Diante do desenvolvimento econômico, os países deverão adotar mecanismos internos de controle da exploração dos recursos naturais face ao crescimento da economia, oferecendo estímulos e políticas públicas que favoreçam significativamente aquelas pessoas físicas ou jurídicas que contribuírem para a proteção ambiental. A União Europeia há anos vem lutando para a conservação do meio ambiente, incentivando o uso responsável de recursos naturais e buscando alternativas empresariais sem desestimular o crescimento econômico. A saúde ambiental e o desenvolvimento com sustentabilidade fizeram com que a União Europeia criasse medidas educativas para que o próprio consumidor participe efetivamente da exclusão do consumo daqueles produtos que se utilizam de forma irresponsável dos recursosnaturais15. O Tratado de Assunção constituído pela República Argentina, República Federativa do Brasil, República do Paraguai e República Oriental do Uruguai, denominados "Estados Partes", conhecido como MERCOSUL, desde o início de sua instituição demonstrou, como um dos seus objetivos, o desenvolvimento econômico por meio da integração dos países participantes, e, no preâmbulo do tratado, destacou que a preservação ambiental seria uma de suas preocupações. O decreto nº. 351, de 21 de novembro de 1991, promulga o Tratado de Assunção e, em sua introdução enfatiza que os objetivos do MERCOSUL deverão ser construídos em obediência aos seguintes aspectos: TRATADO PARA A CONSTITUIÇÃO DE UM MERCADO COMUM ENTRE A REPÚBLICA ARGENTINA, A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, A REPÚBLICA DO PARAGUAI E A REPÚBLICA ORIENTAL DO URUGUAI (Tratado de Assunção) A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai, doravante denominados "Estados Partes"; Considerando que a ampliação das atuais dimensões de seus mercados nacionais, através da integração, constitui condição fundamental para acelerar seus processos de desenvolvimento econômico com justiça social; Entendendo que esse objetivo deve ser alcançado mediante o aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis, a preservação do meio ambiente, o melhoramento das interconexões físicas, a coordenação de 15Disponível em: <http://europa.eu/pol/env/index_pt.htm>. Acesso em: 28/03/2011. 24 políticas macroeconômicas e a complementação dos diferentes setores da economia, com base nos princípios de gradualidade, flexibilidade e equilíbrio;(destacou-se).16 A tendência proposta no tratado do MERCOSUL tem sua previsão pautada em desenvolvimento econômico com sustentabilidade. A REMA (Reuniões Especializadas em Meio Ambiente) teve um papel importante no estudo ambiental, diante da abertura de mercado proposta pelo Tratado, recomendando a seus participantes a proteção associada ao crescimento econômico, e, nesse sentido, foi criada a Resolução nº. 10/9417, disciplinando diretrizes de política ambiental. Após a criação da Resolução nº. 10/94, surge, a partir da Declaração de Taranco, o subgrupo nº. 6, com o objetivo de direcionar a solução das questões ambientais. A grande dificuldade de uniformizar os principais temas ambientais está na diversidade apresentada nas legislações de cada membro do MERCOSUL, tendo como foco 16 BRASIL. Decreto nº. 351 de 21 de novembro de 1991. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 28 mar. 2011. 17 O GRUPO MERCADO COMUN RESOLVE: Art. 1 - Aprovar o Documento "Diretrizes Básicas em Matéria de Política Ambiental" que figura como Anexo à presente Resolução. ANEXO 1 - Assegurar a harmonização da legislação ambiental entre os Estados Partes do Tratado de Assunção, entendendo - se que harmonizar não implica o estabelecimento de uma legislação única. Para fins de análise comparativa de legislações serão consideradas tanto as normas vigentes como sua real aplicação. Em caso de lacunas nas legislações ambientais, será promovida a adoção de normas que considerem adequadamente os aspectos ambientais implicados e assegurem condições equânimes de competitividade no MERCOSUL. 2 - Assegurar condições equânimes de competitividade entre os Estados Partes pela inclusão do custo ambiental na análise da estrutura de custo total qualquer processo produtivo. 3 - Garantir a adoção de práticas não degradantes do meio ambiente nos processos que utilizam os recursos naturais. 4 - Assegurar a adoção do manejo sustentável no aproveitamento dos recursos naturais renováveis a fim de garantir sua utilização futura. 5 - Assegurar a obrigatoriedade de adoção de prática de licenciamento/habilitação ambiental para todas as atividades potencialmente degradante ao meio ambiente nos Estados Partes, tendo como um dos instrumentos a avaliação de impacto ambiental. 6 – Assegurar a minimização e/ou eliminação do lançamento de poluentes a partir do desenvolvimento e adoção de tecnologias apropriadas, tecnologias limpas e de reciclagem, e do tratamento adequado dos resíduos sólidos, líquido e gasosos. 7 - Assegurar o menor grau de deterioração ambiental nos processos produtivos e nos produtos de intercâmbio, tendo em vista a integração regional no âmbito do MERCOSUL. 8 - Assegurar a concertação das ações objetivando a harmonização de procedimentos legais e/ou institucionais para o licenciamento/habilitação ambiental, e a realização dos respectivos monitoramentos das atividades que possam gerar impactos ambientais em ecossistemas compartilhados. 9 - Estimular a coordenação de critérios ambientais comuns para a negociação implementação de atos internacionais de incidência prioritária no processo integração. 10 - Promover o fortalecimento das instituições para a gestão ambientalmente sustentável mediante o aumento da informação substantiva para a tomada decisões; o melhoramento da capacidade da avaliação; e o aperfeiçoamento das instituições de ensino, capacitação e pesquisa. 11 - Garantir que as atividades relacionadas ao desenvolvimento do turismo entre os Estados Partes considerem os princípios e normas que assegure equilíbrio ambiental. 25 principal não a imposição de uma regra absoluta, mas sim de se harmonizar as peculiaridades legais de cada país. No ano de 2001, em Assunção, foi instituído o acordo para harmonizar as políticas ambientais conhecido como Acordo Quadro sobre Meio Ambiente18, estabelecido diante dos preceitos da Agenda 21 e da Declaração do Rio, no qual os países membros do MERCOSUL deverão ser orientados a partir dos preceitos nele estabelecido. Como já visto, os danos causados ao ecossistema diante do crescimento econômico globalizado, não respeitam fronteiras, estendendo-se ilimitadamente por todo o globo. A Declaração de Canela, que teve a assinatura do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, além do Chile, teve grande influência na tentativa de conter os danos aos recursos ambientais, impondo que deverão ser incluídos os custos ambientais nas etapas de produção, inibindo assim a transferências dessas externalidades negativas para as gerações futuras. Para que se tenha crescimento econômico com sustentabilidade, as relações comerciais e questões ambientais deverão caminhar juntas, e, nesse sentido, o Tratado de Assunção, em seu texto, prioriza a preservação ambiental. Entretanto, os temas pertinentes à preservação ambiental, em muitos momentos, são deixados em segundo plano, priorizando as discussões de assuntos relacionados diretamente ao crescimento econômico. A inexistência de 18 ACORDO-QUADRO SOBRE MEIO AMBIENTE DO MERCOSUL DECISÃO CMC/DEC/02, de 22 de junho de 2001, firmada em Assunção, Paraguai [...] Art. 3º Em suas ações para alcançar o objetivo deste Acordo e implementar suas disposições, os Estados Partes deverão orientar-se, inter alia, pelo seguinte: a) promoção da proteção do meio ambiente e aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis mediante a coordenação de políticas setoriais, com base nos princípios de gradualidade, flexibilidade e equilíbrio; b) incorporação da componente ambiental nas políticas setoriais e inclusão das considerações ambientais na tomada de decisões que se adotem no âmbito do MERCOSUL para fortalecimento da integração; c) promoção do desenvolvimento sustentável por meio do apoio recíproco entre os setores ambientais e econômicos, evitando a adoção de medidas que restrinjam ou distorçam de maneira arbitrária ou injustificável a livre circulação de bens e serviços no âmbito do MERCOSUL; d) tratamento prioritário eintegral às causas e fontes dos problemas ambientais; e) promoção da efetiva participação da sociedade civil no tratamento das questões ambientais; e f) fomento à internalização dos custos ambientais por meio do uso de instrumentos econômicos e regulatórios de gestão. CAPÍTULO II Objetivo Art. 4º O presente Acordo tem como objetivo o desenvolvimento sustentável e a proteção do meio ambiente mediante a articulação entre as dimensões econômica, social e ambiental, contribuindo para uma melhor qualidade do meio ambiente e de vida das populações. CAPÍTULO III Cooperação em Matéria Ambiental Art. 5o Os Estados Partes cooperarão no cumprimento dos Acordos Internacionais que contemplem matéria ambiental dos quais sejam parte. Esta cooperação poderá incluir, quando se julgar conveniente, a adoção de políticas comuns para a proteção do meio ambiente, a conservação dos recursos naturais, a promoção do desenvolvimento sustentável, a apresentação de comunicações conjuntas sobre temas de interesse comum e o intercâmbio de informações sobre posições nacionais em foros ambientais internacionais. [...]. 26 uma agenda que dê primazia à solução dos problemas ambientais, coloca em risco o futuro do desenvolvimento equilibrado em todo o globo. 1.2 ORDEM ECONÔMICA E PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE O texto Constitucional aborda a ordem econômica com duas especificações, podendo ser utilizado quando se referir ao “mundo do dever ser”, ou seja, ao conjunto de prescrições normativas por meio dos quais serão moldadas as relações econômicas e, também, à ordem econômica que é usada para determinar o conjunto das práticas, ou seja, o “mundo do ser”. Diante dessas duas abordagens, tem-se que ambas estão praticamente interligadas, relacionando fático e normativo. Isso acontece devido a uma simbiose entre os elementos do mundo do dever ser e do mundo do ser, não existindo, nesse caso, mundos distintos. A partir de tais afirmações, Cristiane Derani19 nos apresenta: “A ordem econômica (mundo do ser) compõe as prescrições relativas ao dever ser da ordem econômica, que por sua vez atuam imediatamente produzindo modificações no mundo dos fatos, pois as prescrições se substantivam”. Desenvolvimento econômico e equilíbrio estão constitucionalmente prescritos no artigo 170 e têm como objetivo o aumento da produção e, consequentemente, do nível de emprego, estando sempre, no entanto em obediência aos princípios da atividade econômica conforme os ditames da justiça social, de forma racional e equilibrada. O artigo 174 da Constituição Federal estabelece que o próprio Estado tem autonomia para fiscalizar, incentivar, regular, planejar, tornando-se um agente normativo, desde que siga os princípios nela contidos, limitando-se sobre ações administrativas, conforme dispõe: Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. § 1º - A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento.[...].20 Cabe ao Estado e a toda a coletividade a manutenção do meio ambiente saudável e equilibrado, tanto por via do poder de polícia do Estado, quanto por meio de incentivos, benefícios e políticas públicas. 19 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 235. 20 BRASIL. Constituição (1988). Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2011. 27 A intervenção do Estado na economia contribui de forma significativa para a preservação do ecossistema, podendo tanto inibir algumas condutas lesivas como até mesmo desestimula-las com a cobrança de tributos. No que tange a desenvolvimento e a equilíbrio, nos dias de hoje, para se falar em desenvolvimento econômico segundo as normas Constitucionais, dever-se-á, necessariamente, associá-lo ao eficiente uso dos recursos naturais, visando à proteção ambiental e à consequente sustentabilidade. O texto constitucional demonstrou extrema preocupação com o ambiente natural, tratando este como direito fundamental e criando um capítulo que estabelece todos os cuidados necessários e a responsabilidade sobre os danos a ele causados. O artigo 225 da Constituição Federal trata do direito ao meio ambiente equilibrado, não impedindo o desenvolvimento econômico, mas demonstrando a necessidade de sua proteção. Diante do exposto, faz-se necessário ressaltar: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. [...] § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.21 A preocupação com o desenvolvimento econômico racional não está esquecida e está contemplada no Título VII da CF/88 que trata da Ordem Econômica e Financeira, ressaltando a defesa do Meio Ambiente como um dos Princípios Gerais da Atividade Econômica. O artigo 170, VI assegura ser viável e importante o desenvolvimento, desde que observe o cumprimento do princípio que visa à defesa do meio ambiente, evitando o máximo possível de impactos negativos: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] 21 BRASIL. Constituição (1988). Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2011. 28 VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.22 A sustentabilidade traz consigo a qualidade de vida, a satisfação de liberdade, de poder usufruir de bens, como paisagens, áreas verdes, lugares de recreação, entre outros. A proteção ao ecossistema e a biodiversidade abrange todas as medidas necessárias para a melhoria e sua manutenção, que possam evitar ou pelo menos diminuir os danos causados, incentivando a correta utilização dos recursos naturais. 1.3 POLÍTICAS AMBIENTAIS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A política nacional de defesa ambiental e a criação de competências legislativas tiveram seu aprimoramento com o advento da Constituição, que recepcionou o texto da lei 6.938/81. Tanto a previsão infraconstitucional quanto a Constitucional vieram para disciplinar as matérias pertinentes à proteção ambiental, ante a necessidade de um ecossistema equilibrado e um adequado caminho. As políticas ambientais juntamente com as políticas econômicas, como pressuposto de um desenvolvimento sustentável, têm a função de diminuir a tensão potencial que está ligada ao desenvolvimento econômico e também à sustentabilidade ecológica. Para Maria de Fátima Ribeiro, Sérgio Cardoso e Daniela Braga Paiano23, o referido tema deve assim se apresentar: O desenvolvimento econômico equilibrado implica em dispor de uma política ambiental onde de ser determinado pelo país, que organiza e efetiva, diversas ações que visam à preservação e melhoramento da natureza e consequentemente da vida humana. Dentre as Diretrizes da Política Nacional de Meio Ambiente está a compatibilizarão da proteção ambiental com o objetivo de desenvolvimento sócio-econômico.Em um primeiro momento, pode ocorrer colisão entre as políticas de proteção ambiental com as políticas de desenvolvimento econômico [...]. 22 BRASIL. Constituição (1988). Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2011. 23 RIBEIRO, Maria de Fátima; PAIANO, Braga Daniela; CARDOSO, Sérgio. Tributação Ambiental no Desenvolvimento Econômico: Considerações sobre a Função Social do Tributo. IDTL, 16 setembro de 2005. Disponível em: < http://idtr.com.br/artigos/133/pdf>. Acesso em: 28 jan. 2011. 29 O desenvolvimento sustentável delimita-se a partir do compromisso com as futuras gerações, assegurando-lhes o desfrutar de uma vida com qualidade. A busca de um ponto de equilíbrio entre o desenvolvimento social, a utilização de recursos naturais e o crescimento econômico exige um planejamento territorial que não ultrapasse os limites da sustentabilidade, tanto nas áreas rurais quanto nas urbanas. O desenvolvimento econômico e a preservação ambiental devem caminhar juntos, sem que um acarrete a anulação do outro. Para Cristiane Derani24: “[...] além da sua função na manutenção dos processos dos ecossistemas, os bens ecológicos (ou recursos naturais) possuem um valor sócio-econômico, que nem sempre é fácil de visualizar”. O valor dos recursos naturais dependerá sempre de sua utilização, que, para Franco Archibugi25, pode ser classificado da seguinte forma: a) valor de uso; b) valor do afastamento de risco; c) valor de quase opção; d) valor moral ou existencial; e) valor de uso virtual; f) valor de herança. O recurso natural que recebe um determinado valor, torna-se um bem ambiental. Assim, o desenvolvimento sustentável caminha junto com a realidade, passando a ser tratada como problema de escolha, de opção política. Uma indústria, mesmo afirmando certo consumo, irá sempre necessitar de mais recursos naturais. Praticamente todos os processos econômicos são considerados irreversíveis, pois transformam matéria e energia. Devido a isso as condições para o desenvolvimento, como também os limites dos processos, não podem possuir dados fixos ou seja, a atividade econômica é instável, pode haver crescimento negativo ou positivo. Essas atividades modificam totalmente o meio ambiente e isso significa uma restrição externa, pois um recurso que, por sua vez, foi consumido, não poderá ser reutilizado. Para Elmar Altevater26: “Industrialização é um luxo exclusivo para parte da população mundial, e não para a grande maioria que somará, no início do próximo milênio, algo como 6,25 bilhões de pessoas”. 24 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 136. 25 ARCHIBUGI, Franco [Et al.], 1989, p. 5-6 apud DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 137. 30 O desenvolvimento sustentável deve ser orientado por uma política ambiental e também uma política econômica. Um grande desafio das atividades econômicas está ligado diretamente a manter a reprodução derivada dos sistemas ecológicos e a produção econômica. Essas atividades acabam por liberar substâncias químicas que formam materiais de moléculas estranhas no meio natural. O ecossistema, hoje, vem armazenando milhares de produtos químicos altamente tóxicos e concentra grandes toneladas de metais pesados. Esses fatores não podem ser esquecidos dentro do desenvolvimento sustentável. Cristiane Derani27 discorre sobre a realidade do sistema econômico: A realidade do sistema econômico é um sistema aberto que precisa extrair, processar e descartar grande quantidade de matéria. O modelo de analise econômica dentro da corrente neoclássica consiste basicamente na redução das atividades produtivas a função de custo - beneficio, nem pré-existente conjunto composto por recursos independentes, “commodities” e serviços. Este modelo é fechado, trabalha com recursos abstratos, a serem infinitamente convertidos em bens e serviços abstratos, que, por sua vez, são “consumidos” por um trabalho abstrato e finalmente, retornam como recurso. [...] Esse modelo fechado é o ideal, pois não estaria afetando totalmente o meio ambiente, como é o caso do sistema aberto. As políticas ambientais têm como objetivo a preservação e a recuperação do ecossistema, assegurando o desenvolvimento econômico e social, por meio de ações governamentais, educação ambiental e incentivo para o uso racional do solo e dos recursos hídricos. A falta de políticas ambientais causa preocupação com o impacto ambiental, principalmente com o crescimento econômico descontrolado. Nesse sentido, Maria de Fátima Ribeiro e Jussara Suzi Assis Borges Nasser Ferreira28 expõem: Enquanto a economia preocupa-se com a lei da oferta e da procura com a busca de novos mercados; no meio ambiente pode ser observado que o 26 ALTVATER, Elmar, 1992, p. 22, apud DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 139. 27 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 140. 28 RIBEIRO, Maria de Fátima; FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser. O Papel do Estado no Desenvolvimento Econômico Sustentável: Reflexões sobre a Tributação Ambiental como Instrumento de Políticas Públicas. IDTL, 16 setembro de 2005. Disponível em: <http://idtr.com.br/artigos/133/pdf>. Acesso em: 28 jan. 2011. 31 comportamento humano muitas vezes pode gerar um impacto ambiental provocado pelo desenvolvimento de determinada atividade econômica, se não forem observados os cuidados com a proteção ambiental. Diante da necessidade de um Desenvolvimento Sustentável, na busca de um crescimento econômico ordenado, faz-se o seguinte questionamento: que vem a ser Desenvolvimento Sustentável? Para Paulo Roberto Pereira de Souza29: “Desenvolvimento Sustentável é aquele tipo de desenvolvimento onde se atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a vida das gerações futuras”. Cabe esclarecer, que em dias atuais, quando o assunto é a preservação de áreas rurais, diante do desenvolvimento e do aprimoramento da produção agrícola e da pecuária, as Áreas de Preservação Permanente e as Áreas de Reservas Legais, são por muitos consideradas improdutivas, necessitando, assim, de rigorosa legislação e multas administrativas, para coibir a degradação e o mau uso das áreas de preservação ambiental. Políticas de incentivos ambientais aparecem em pequenas proporções para solucionar a questão da sustentabilidade, dando aparência de que desenvolvimento econômico e sustentabilidade não podem caminhar juntos. Para Paulo Roberto Pereira de Souza30: “[...] é possível continuarmos a ter desenvolvimento econômico, atividades econômicas de maneira em geral, e o mais importante, é possível fazer tudo isso de uma forma sustentável”. Quando se fala em crescimento econômico, a tributação com a simples função arrecadatória interfere negativamente junto ao desenvolvimento. Em se tratando de meio ambiente, não poderia ser diferente: impostos, taxas e contribuições são criadas sem que seus recursos sejam destinados à recuperação e à preservação do ambiental. Os incentivos são meios eficazes que poderão se associar ao desenvolvimento econômico em todas as áreas e nas mais diversas atividades, contribuindo de forma significativa com o ambiente natural e, acima de tudo, transformando todos aqueles potenciais poluidores em aliados das lutas ambientais. Desenvolvimento e meio ambiente terão que caminhar juntos em busca do crescimento e do bem estarsocial, diante da ordem econômica, objetivando por através de incentivos e benefícios de ordem econômica, meios eficazes na procura do equilíbrio e da sustentabilidade. 29 SOUZA, Paulo Roberto Pereira de. O Direito e a Sociedade Sustentável – I Jornada de Estudos da Justiça Federal Circunscrição Judiciária de Maringá. 2002. Videoteca/Lab. Com.Social – Faculdade Maringá. 30 Op. Cit. 32 2 TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO DO ECOSSISTEMA 2.1 FISCALIDADE E EXTRAFISCALIDADE A Constituição Federal trata da possibilidade de se cobrar tributos por meio do Sistema Tributário Nacional, estabelecendo competências e espécies tributárias que serão objeto de arrecadação por parte da União, Estados Membros, Municípios e Distrito Federal. O texto constitucional é taxativo na imposição de limites ao poder de tributar, com o objetivo de assegurar o direito de os contribuintes não serem surpreendidos com exações que extrapolem o poder estatal. O princípio da legalidade atua diretamente na necessidade da criação de lei para instituir ou aumentar tributos, garantindo ao cidadão um processo legislativo para a alteração da carga tributária. Ainda exemplificando os limites ao poder de tributar, deve ser garantida ao contribuinte a observância ao princípio da anterioridade, que tem o condão de impor um período de vacatio legis para que se tenha ciência da entrada em vigor de uma nova cobrança tributária ou do aumento de um tributo existente. As imunidades tributárias também aparecem como vedações da cobrança de alguns tributos sobre pessoas e coisas que estão previstas constitucionalmente. A cobrança de um tributo deve estar diretamente ligada ao seu fato gerador, respeitando os limites constitucionais do poder de tributar. O Estado, por meio da arrecadação de tributos e respeitadas as competências político- administrativas dos entes federativos, fará a obtenção de recursos financeiros para custear as atividades estatais. Esta arrecadação, com finalidade meramente arrecadatória para custear as atividades do Estado é conhecida no mundo jurídico tributário, como Fiscalidade. A Fiscalidade é o principal meio utilizado para arrecadar recursos financeiros destinados a movimentar a máquina administrativa, além de garantir direitos básicos constitucionalmente previstos aos cidadãos. Nesse sentido, Cláudia Campos de Araújo31 apresenta: O objetivo dos tributos sempre foi angariar recursos financeiros para o Estado. Certamente, essa é a imposição tradicional do direito tributário, 31 ARAÚJO, Cláudia Campos de [et al.]. Meio Ambiente e sistema tributário: novas perspectivas. São Paulo: Ed. Senac, 2003, p.29. 33 denominada tributação fiscal, que visa à arrecadação de tributos cuja finalidade é custear serviços fornecidos pelo poder público. Um tributo é fiscal quando sua cobrança visa à arrecadação de recursos financeiros para os cofres públicos, objetivando a sustentação dos encargos dos órgãos centrais da administração. 32 Para garantir os direitos fundamentais aos cidadãos, a tributação fiscal terá como objetivo angariar recursos de forma compulsória, respeitando competências para a imposição e fiscalização dos tributos. Assim, os artigos 145, 148, 149 e 149-A da Constituição Federal, prescrevem: Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I - impostos; II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. [...] Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: [...] Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, [...]. Art. 149-A Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III.33 Os entes da federação deverão instituir tributos diante do exercício de sua atividade estatal, observados os preceitos constitucionais. Entretanto, diante do crescimento econômico e da globalização, a tributação pode ter outros objetivos além da simples arrecadação de tributos, ou seja, poderá intervir na economia com finalidade diversa da meramente fiscal. A tributação poderá ser utilizada como instrumento de regulação, incentivando ou até mesmo desestimulando o exercício de alguma atividade prejudicial à sociedade ou até mesmo o consumo de produtos. Os incentivos fiscais e o desestímulo à prática de determinados atos nocivos dão uma nova face à aplicação da tributação. A busca do desenvolvimento sócio-econômico, a partir da tributação como sanção premial ou compensatória, apresenta o caráter extrafiscal do tributo. 32 FANUCHI, Fábio. Curso de direito tributário brasileiro. 3. ed. Brasília: Resenha Tributária – MEC, 1975, p.55. 33 BRASIL. Constituição (1.988). Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 01 fev.. 2011. 34 A extrafiscalidade no tributo interfere na economia com objetivos diversos daqueles tributos com finalidades meramente arrecadatórias. Para Hely Lopes Meirelles34, a extrafiscalidade deve ser interpretada da seguinte forma: A extrafiscalidade é a utilização do tributo como meio de fomento ou desestímulo a atividade reputada conveniente ou inconveniente à comunidade. È ato de polícia fiscal, isto é de ação do governo para o atingimento de fins sociais através da maior ou menor imposição tributária. Cabe, neste momento, ressaltar o previsto no artigo 151, I da Constituição Federal, que apresenta a possibilidade de criar incentivos para o desenvolvimento sócio-econômico: Art. 151. É vedado à União: I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida à concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País;[...]35. (destacou-se) A corroborar, a Constituição no artigo 150, § 6º expressa: [...] § 6.º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g 36. A Constituição Federal não poupou esforços para garantir o direito de criação de incentivos e benefícios fiscais, fortalecendo ainda mais o uso desses artifícios para garantir os direitos fundamentais individuais e, principalmente, aqueles que abrangem toda a coletividade. Como já exposto no capítulo que trata do desenvolvimento econômico, a manutenção do ecossistema é tratada como direito fundamental no texto Constitucional, necessitando de mecanismos e políticas ambientais eficientes, ante as destruições causadas por pessoas físicas 34 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 45. 35 BRASIL. Constituição (1988). Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2011. 36 Op. Cit 35 e jurídicas,sendo que a preservação ambiental é um dever do Estado e de todos os cidadãos, podendo se dar por meio de repressão ou até mesmo por meio de incentivos e benefícios econômicos. Na tributação ambiental, a extrafiscalidade cumpre um papel de extrema relevância, estimulando os potenciais poluidores a participarem efetivamente do processo de preservação ambiental, além de o Estado possuir uma ferramenta importante para coibir, por meio do desestímulo, a proliferação de produtos que possuem alta potencialidade de degradação ambiental. 2.2 INCENTIVOS E BENEFÍCIOS FISCAIS X TUTELAS PROCESSUAIS DO MEIO AMBIENTE O direito ao meio ambiente equilibrado e sustentável, instituído constitucionalmente como Direito Fundamental, deve ser objeto de proteção por parte do Poder Público e de toda a sociedade. Ferramentas processuais foram incorporadas à legislação, dando ao poder público e, principalmente, a todos os cidadãos, a possibilidade e o dever de exercê-las em proteção ao ecossistema. A proteção ambiental ultrapassa os limites territoriais, utilizando-se da legislação constitucional, além de mecanismos internacionais capazes de combater os danos causados ao ecossistema. Devido à grande necessidade de proteger o meio ambiente mundialmente, criaram-se na esfera internacional, documentos com a finalidade de combate à poluição e a degradação ambiental. A tutela internacional do meio ambiente é definida por diversos documentos firmados entre os países participantes: tratados, convenções, recomendações, regras, declarações, diretrizes e normas protetivas. Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva37 conceitua o direito internacional do meio ambiente “[...] como sendo o conjunto de regras e princípios que criam obrigações e direitos de natureza ambiental para os Estados, as organizações intergovernamentais e os indivíduos”. De forma objetiva fica demonstrado, a partir do conceito referenciado, que as regras e princípios devem ser seguidos e, a partir deles, criado obrigações e direitos. 37 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento. Direito Ambiental Internacional. Rio de Janeiro: Thex, 1995, p. 5. 36 As principais fontes do direito internacional ambiental são os tratados, as convenções, os atos das organizações, os costumes internacionais, os princípios gerais do direito, a doutrina internacional e a jurisprudência internacional. Os tratados e as convenções são fontes de excelência do direito internacional, pois são regras escritas que acabam integrando o ordenamento jurídico. Diante das fontes de direito internacional, a jurisprudência internacional são os precedentes firmados pela Corte Internacional de Justiça.38. Cabe aqui ressaltar a criação da ISO (International for Standardization Organization), uma entidade internacional que visa assegurar a qualidade de produtos da ISO 14.000, que indica se a empresa possui uma política ambiental implantada conforme as exigências e se os produtos são adequados ao uso e apresentam um menor impacto ambiental. Com a necessidade de exportar produtos, o Brasil se associou à ISO, razão pela qual os empresários brasileiros estão cada vez mais se adequando aos moldes das legislações internacionais, para tornar suas empresas competitivas internacionalmente. O Mercosul e as Comunidades Européias aumentam gradativamente suas exigências, impondo barreiras rígidas para a entrada de produtos importados, criando a Norma ISO 14025, objetivando um melhor equilíbrio do ecossistema. O objeto de tutela jurídica é a proteção da qualidade do ambiente em função da qualidade de vida. A tutela se divide em dois tempos: o imediato, que significa a qualidade do meio ambiente; e a mediata, que expressa a qualidade de vida das pessoas. A presença do Poder Judiciário, para dirimir os conflitos ambientais, é hoje uma conquista social muito importante, pois abrange os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. O acesso ao Judiciário tem diversas vias quando se trata da tutela do meio ambiente. A Ação Civil Pública Ambiental, regulada pela lei 7.347, de 24/07/1985, pela qual destacou-se por abrir as portas do Poder Judiciário, visando a proteger o meio ambiente, o consumidor e os bens e interesses de valor artístico, estético, paisagístico, turístico e histórico, dentre outros interesses difusos e coletivos. Além do Ministério público, os Estados, a União, Municípios e o Distrito Federal, autarquias, empresas públicas, fundações, sociedades de economia mista ou associações, têm legitimidade para propor a Ação Civil Pública. O Ministério Público teve um valor de suma importância em prol dos interesses difusos e coletivos. 38 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2006, p.424-425. 37 Para Paulo Affonso Leme Machado39, “[...] as finalidades da ação civil pública são: cumprimento da obrigação de fazer, cumprimento da obrigação de não fazer e/ou a condenação em dinheiro.” No caso da indenização, o valor recebido não irá para as pessoas lesionadas, e, sim, para o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, e é ele que irá reparar o dano causado. O Inquérito Civil é uma medida preparatória de eventual ação civil pública, sendo este de suma importância, pois é por via do inquérito policial que se faz a coleta de materiais que irão dar suporte à ação, na qual o Ministério Público poderá, de imediato, ajuizar ação civil ou arquivar as peças de informação. Para Celso Antonio Pacheco Fiorillo40: [...] uma vez arquivado o inquérito civil, o Ministério Público não poderá mais propor a ação civil pública, pois é instaurado para formar a opinio actio do Parquet, esclarecendo-se nada tem que ver com os outros colegitimados à propositura da ação civil pública. Isso acontece porque o inquérito civil é regido pelo procedimento inquisitório, não sendo assegurado o principio do contraditório, pois ele serve apenas como instrumento de reunião de provas. Em casos em que o Ministério Público verifica, no inquérito civil, materialidade de crime e indícios de autoria, poderá promover ação civil pública e ação penal pública, em um só tempo. Conforme dispõe o artigo 5.º, § 6º da lei 7.347/8541: “Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial”. O compromisso de ajustamento é um acordo entre Ministério Público e empresa infratora ou grupo de pessoas, para que se regularize no prazo estipulado pela justiça. Trata-se de um ajuste de conduta e deve ser cumprido. E em caso de descumprimento, poderá sofrer as sanções impostas pela justiça, pois esta ação tem força de título executivo extrajudicial. O próprio Ministério Público poderá entrar em juízo, caso a empresa não cumpra o acordo. Celso Antonio Pacheco Fiorillo42, enumera os seguintes requisitos. 39 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 351. 40 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 477. 41 BRASIL. Lei nº. 7347 de 24 de julho de 1985. Disponível: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 26 fev. 2011. 42 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 479. 38 a) Necessidade da integral reparação do dano, em razão da natureza indisponível do direito violado; b) Indispensabilidade de cabal esclarecimento dos fatos, de modo a ser possível a identificação das obrigações a serem estipuladas, já que desfrutará de eficácia de titulo executivo extrajudicial; c) Obrigatoriedade
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