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3 Direito na Idade Média

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O Direito na Idade 
Média
Prof. Dr. Doglas Cesar Lucas
Séc. IV-XIV 
(aproximadamente
)
Idade Média (séc. IV-XIV)
Quatro acontecimentos IMPORTANTES:
a. Divisão do Império Romano em ocidental e oriental, no ano
de 286 d.C., por Diocleciano.
b. Cristianismo adotado com religião oficial, em 313 d.C., por
Constantino.
c. Conquista do Império do ocidente pelos povos germanos em
476 d.C.  Surgimento de vários reinos germânicos.
d. Compilação e sistematização do legado legislativo e
jurisprudencial realizado por Justiniano em 533 d.C.
Inaugurou uma nova ordem de compreensão do mundo e suas
instituições. O Estado, conceito frágil entre os romanos, é
compreendido como uma espécie de mal necessário para proteger
os fracos e punir os pecadores.
A autoridade tem uma origem divina, por isso a ideia de
obediência quase incondicional ao soberano é uma característica
marcante do período, sobretudo na alta Idade Média. Papa
Gregório era enfático: “criticar um mau soberano era pecado [...];
um murmúrio levantado contra ele era na verdade um murmúrio
levantado contra Deus”.
O
 p
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sa
m
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 c
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st
ão
“A autoridade temporal do monarca desce 
sobre ele desde a fonte da autoridade 
universal, que é Deus”.
Dante Alighieri, 1265-1321.
“Não há mais judeu nem grego, não há escravo nem 
homem livre. Não há homem ou mulher. Vocês todos 
pertencem a um só: Cristo Jesus” (Apóstolo Paulo).
Ideia de igualdade.
A ideia de igualdade dos homens, defendida pelo 
cristianismo, envolveu a igreja em problemas práticos. 
Entre os séculos V e VIII, o mundo ocidental vive uma espécie de
regressão de todos os tipos: diminui a população, a moeda
praticamente desaparece e os reis bárbaros convertidos ao
cristianismo praticam toda espécie de punição e vingança.
Com os reinos bárbaros se instala uma progressiva pessoalidade das leis.
Para cada comunidade, um tipo de direito. O pluralismo de costumes
jurídicos é uma marca desse período histórico. Convivem paralelamente
vários modelos de direito, aplicáveis a grupos e pessoas distintas. Daí a
proibição quase geral de casamento fora da comunidade.
O direito dos bárbaros resulta da consolidação dos costumes.  A Lei Sálica
(séc. V-VI) é um exemplo disso. A violência era punida com castigos
públicos e, sobretudo, com indenizações. Não existe ainda qualquer ideia de
prisão.
Cópia manuscrita em pergaminho (séc. VIII) 
 Biblioteca Nacional da França.
Ao lado dos costumes locais, tentava-se, em algumas regiões, 
preservar alguma coisa do direito romano. Era uma forma de 
conquistar a simpatia dos romanos que viviam em meio aos 
povos bárbaros. Mas o predomínio era dos costumes. O direito 
romano, mesmo pouco aplicado, sobreviveu no ocidente e 
notadamente no oriente. 
A grande importância da igreja entre séculos V e XI tem relação com
dois eventos:
a. Vazio político da civilização medieval;
b. Aparecimento de fortes instituições eclesiásticas.
Na inexistência de Estados e de um poder central, tomam lugar 
os costumes, poderes senhoriais e normas da igreja. A igreja 
tinha medo de um retorno ao paganismo e às formas heréticas 
de cristianismo, por isso a necessidade de criar instrumentos de 
cristianização fortes: os concílios e o movimento monástico. O 
surgimento da confissão e dos penitenciais como forma de 
controle social.
Com a consolidação do feudalismo, um direito costumeiro 
governa as relações entre senhores e vassalos. Esse tipo de 
direito era distinto de lugar para lugar e sofreu modificações ao 
longo do período, especialmente a partir do séc. XI. A 
propriedade rural é o centro do pensamento medieval. As 
relações de vassalagem são juradas e vitalícias. A terra é um 
direito objetivo e por isso não pode ser vendida. O feudalismo 
desaparece justamente quando começa a se instalar a ideia de 
alienabilidade da terra e outros bens. 
O direito inglês e sua origem feudal
O common law inglês é um sistema desenvolvido pelas Cortes 
reais contra os costumes locais que não conseguiam impor-se a 
todo o reino. Como titular de toda a terra, o rei detinha o poder 
de resolver todos os conflitos havidos entre seus súditos. Com 
isso, uniformiza um tipo direito que não sofrerá a influência do 
modelo romano. 
A formação e a importância do direito canônico
A racionalização e a formalização do direito, 
bem como as ideias de processo e jurisdição, 
têm muita participação do direito canônico. Até 
o século XI, a igreja conformava mais um poder 
espiritual tradicional e moral do que jurídico e 
mesmo político. Com Papa Gregório VII, uma 
burocracia e uma jurisdição canônica exsurge. A 
ideia é libertar a igreja do poder secular. Para 
tanto, é necessário um poder político mais 
potente do que o dos seus adversários. Logo 
este modelo de direito passa a ser imitado por 
reis e autoridades seculares. 
O não reconhecimento de um conjunto de disposições pautadas por
Gregório VII* inicia uma ruptura entre igreja e Estado que vai se
consolidar com a reforma no século XVI, após muitas guerras. Gregório
queria os reis dentro da Igreja e não acima dela. Dentro da igreja a
autoridade maior seria o Papa. A guerra das investiduras foi um evento
marcante. O fato de nem igreja e nem reis se firmarem como autoridade
única marcou a modernidade ocidental para sempre.
*Ver p. 72  LOPES.
Importância de uma burocracia 
centralizadora que funda a universalidade 
do próprio poder da Igreja, mas que separa 
funções e poderes bem claros. 
O direito canônico se consolida no decreto 
de Graciano, no séc. XII. Uma junção entre 
burocracia, formalismos e as experiências 
do direito romano estudado em Bolonha. 
Universidade de Bolonha
As universidades começaram a estudar o direito romano e o 
direito canônico. 
a. Processo conduzido por profissionais;
b. Sistema de recursos que permitia a centralização das decisões;
c. Perspectiva investigativa (inquisitorial);
d. Impôs s escrita sobre a oralidade. 
Importância do direito canônico na formação da jurisdição 
São fundamentais na separação das jurisdições e na formalização do 
processo. Surgimento de um regime de provas (antes vigia um sistema das 
provas irracionais) e de defesa (advogado).
A inquisição medieval nasce num contexto de revoltas no séc. XII e XII. 
Em 1252, Inocêncio IV permite o uso da tortura para obtenção de uma 
confissão do suspeito. 
Com o direito canônico surge a separação patrimonial típico das pessoas 
jurídicas. 
Irnério (1100)  Bolonha: propôs o estudo do Digesto de 
Justiniano. Dois períodos da escola: Glosadores e 
comentaristas. Podiam aplicar neste texto não sacro a dialética, 
tópica e retórica gregas. Fazer um estudo racional sobre os 
textos. Entendia o Digesto como uma totalidade. Esses 
pioneiros estabeleceram o direito romano como a suprema 
expressão da razão jurídica e política e fizeram com esse direito 
fosse recepcionado e fundido com os sistemas frágeis dos 
Estados e pequenos principados medievais. 
O nascimento das Universidades e a importância para a nova 
ciência jurídica: ressurgimento do Direito Romano
Universidade de Bolonha
Digesto de Justiniano
O estudo do direito natural de corte aristotélico continua 
importante, mas agora é contrastado com um sistema de 
regras jurídicas objetivas. Direito natural, direito 
canônico, direito romano e direito feudal passam a ser 
estudados de maneira sistêmica e dialética, procurando 
entender, explicar e refutar as contradições entre as 
normas jurídicas.

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