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15. Prebisch DSE 3q16

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Desenvolvimento Socioeconômico 
3º quadrimestre de 2016 
Profª Fernanda Cardoso 
4.1.1. A contribuição de Raúl Prebisch 
Estrutura da aula 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 2 
1. Breves notas biográficas 
2. A tese Singer-Prebisch 
BREVES NOTAS BIOGRÁFICAS 
Parte I 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 3 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 4 
Raúl Prebisch 
Raúl Prebisch 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 5 
 Economista argentino (1901-1986), nascido em Tucumán. 
 Iniciou seus estudos em economia em 1918, em Buenos 
Aires. 
 Ingressou na ONU em 1949, onde desempenhou papel de 
grande destaque. 
 Foi líder da Cepal (1949-1963) e chefe da Conferência das 
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (1964-
1969). 
O Keynes latino-americano 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 6 
“O enterro de Raúl Prebisch em 20 de abril de 1986 foi um 
evento importante em Santiago do Chile. Houve multidões, 
tributos e dedicatórias condizentes com um economista cujas 
ideias haviam mudado o século XX. Um cardeal da Igreja Católica 
rezou a missa na catedral de Santiago; presidentes e dignitários 
solidarizaram-se com a família. Os oradores, um após outro, 
entoaram louvores ao seu legado duradouro, chamando-o de 
Keynes latino-americano e de “pai do desenvolvimento”. 
O carisma, a gentileza e a generosidade de Prebisch mudaram a 
vida dos que o conheceram. Foi um dos poucos latino-americanos 
alçados ao título de personalidade mundial por sua energia e seu 
espírito de liderança” (Raúl Prebisch (1901-1986) – a construção da 
América Latina e do Terceiro Mundo, Edgar Dosman, 2013, p. 26). 
As ideias de Prebisch 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 7 
“Meu ingresso na CEPAL em 1949 ocorreu quando 
minhas ideias já tinham atingido maturidade, e eu 
estava, portanto, apto a cristalizá-las em vários estudos 
publicados no início dos anos 1950. Nesses estudos, eu 
busquei tanto diagnosticar os problemas como 
sugerir políticas que serviriam como alternativas 
àquelas propostas pelo pensamento ortodoxo. Graças 
aos horizontes mais amplos que minhas novas 
responsabilidades me permitiram, esses estudos se 
referiam não apenas à Argentina, mas à América Latina 
como um todo” (Prebisch, 1984 apud Cardoso, 2012a, 
p. 107). 
No final do “Manifesto”... 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 8 
“Neste, como em muitos outros casos, vemo-nos com 
um conhecimento precário da estrutura econômica de 
nossos países, sua forma cíclica de crescimento e suas 
possibilidades. Se conseguirmos realizar a investigação 
delas com imparcialidade científica e estimular a 
formação de economistas capazes de irem 
captando as novas manifestações da realidade, 
prevendo seus problemas e colaborando na busca de 
soluções, teremos prestado um serviço de importância 
incalculável para o desenvolvimento econômico na 
América Latina” (Prebisch, 1949, p. 136). 
A tese Singer-Prebisch 
Parte II 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 9 
Crítica à perspectiva clássica 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 10 
 A principal crítica de Prebisch se dirige à teoria do 
comércio internacional baseada na teoria das vantagens 
comparativas (TVC). 
 Segundo a TVC, os frutos do progresso técnico 
tenderiam a ser distribuídos entre as nações 
participantes do comércio internacional. 
 Assim, as nações especializadas na produção de bens 
primários não precisariam e nem deveriam se 
industrializar. 
Mas, para Prebisch... 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 11 
“Minha política de desenvolvimento proposta estava orientada 
no sentido do estabelecimento de um novo padrão de 
desenvolvimento que permitiria a superação das limitações do 
padrão anterior. Essa nova forma de desenvolvimento 
teria a industrialização como seu principal objetivo” 
(Prebisch, 1984, p. 177 apud Cardoso, 2012a, p. 108 ). 
 
Dinâmica centro-periferia 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 12 
 Conceito fundamental à construção teórica de 
Prebisch e do estruturalismo latino-americano. 
 Centro: de onde surge o progresso tecnológico. 
 Periferia: recebe os efeitos do progresso tecnológico. 
 A tecnologia que se propaga para a periferia não é 
adaptada à sua dotação de recursos. 
 Por outro lado, dada a irreversibilidade do progresso 
tecnológico, não teria alternativa senão absorvê-lo. 
 
Protecionismo transitório 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 13 
 Prebisch nunca sugeriu que os países da periferia deveriam 
fechar suas economias ao comércio internacional. 
 O protecionismo era necessário ao desenvolvimento industrial 
(PSI) e as exportações constituíam fonte crucial de divisas. 
 Ademais, o próprio capital externo era importante – mas 
deveria ser essa uma “ajuda transitória”. 
 “A solução não está em crescer à custa do comércio exterior, mas em 
saber extrair, de um comércio exterior cada vez maior, os elementos 
propulsores do desenvolvimento econômico” (Prebisch, 1949, p. 73 
apud Cardoso, 2012a, p. 109). 
Reflexão (I) 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 14 
“De maneira geral, minha crítica ao protecionismo no centro 
e minha defesa do protecionismo na periferia têm sido mal 
interpretados. Eu encarava o último tipo de proteção como 
necessário durante um bastante longo período de transição, 
no qual essas disparidades na elasticidade da 
demanda deveriam ser corrigidas. O protecionismo no 
centro agrava essas disparidades, enquanto que, na periferia, 
ele tende a corrigi-las, desde que não excedam certos 
limites. Quanto maior a disparidade, maior a necessidade de 
substituição de importação” (Prebisch, 1984, p. 181 apud 
Cardoso, 2012a, p. 108). 
Deterioração dos termos de troca 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 15 
 Dados de 1876 a 1947 do Relatório do Conselho Econômico e Social 
das Nações Unidas: os termos de troca moveram-se adversamente 
à periferia. 
 A explicação para tal seriam as diferenças na elasticidade-renda 
das importações: baixa no centro e alta na periferia. 
 Assim, quando aumenta a renda, a tendência é que as 
importações do centro cresçam menos do que as da periferia. 
 Além do centro preservar os frutos do seu progresso técnico, 
ainda se beneficia do progresso na periferia. 
Distribuição de renda 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 16 
 No centro, em períodos de expansão, lucros e salários 
aumentam. 
 Na periferia, em períodos de expansão, salários crescem 
menos (ou se mantêm) do que os lucros. 
 No centro, em períodos de contração, salários caem menos 
do que a atividade econômica. 
 A pressão de ajuste nos lucros do centro desloca-se para a 
periferia – queda dos preços dos primários. 
 Na periferia, em períodos de contração, lucros caem (embora 
menos do que as exportações) e salários não se sustentam. 
Reflexão (II) 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 17 
“Quando, na fase descendente, o lucro tem que se contrair, a 
parte que se transformou nos citados aumentos perde sua 
liquidez no centro, em virtude da conhecida resistência à queda 
dos salários. A pressão desloca-se então para a periferia, com 
força maior do que a naturalmente exercível (…) Assim, 
quanto menos a renda pode contrair-se no centro, 
mais ela tem que fazê-lo na periferia” (Prebisch 1949, p. 
87 apud Cardoso, 2012a, p. 111). 
Tendência ao desequilíbrio externo 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 18 
 O crescimento pautado pelo progresso técnico traria implícita 
uma tendência ao desequilíbrio externo na periferia, por duas 
vias: 
1. Redução da importância relativa dos produtos primários no 
valor dos produtos finais; 
2. Novos padrões de consumo direcionados aos bens mais 
complexos. 
 Assim,Prebisch conclui: dado o progresso técnico, a tendência 
à deterioração dos termos de troca da periferia seria 
inevitável. 
 
Caminho da industrialização 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 19 
 Dado o quadro de inevitabilidade descrito, o 
caminho para a periferia seria a industrialização. 
 Assim, seria possível crescer a um ritmo mais 
elevado do que o do crescimento das exportações de 
produtos primários. 
 A industrialização permitiria, em tese: 
absorver a mão de obra de outros setores menos 
dinâmicos; 
a produção de itens antes importados ou de difícil 
importação. 
Planejamento e Estado 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 20 
 Era necessário administrar a pauta importadora e incrementar as 
exportações. 
 A redução do coeficiente de importações é “mera adaptação das 
importações à capacidade de pagamento conferida pelas exportações” (1949, p. 
119 apud Cardoso, 2012a, p. 109). 
 Como alocar os recursos disponíveis? 
 Para Prebisch, a prioridade tinha que ser dada ao setor industrial, 
mesmo que os bens produzidos fossem mais caros do que os 
importados [qual a lógica dessa estratégia?]. 
 E como as exportações estavam sujeitas a oscilações, necessidade 
de políticas anticíclicas. 
 
Estrutura e desigualdade 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 21 
 “A tarefa de corrigir um atraso econômico não pode ser comparada 
ao problema da recuperação econômica europeia, nem mesmo 
depois de uma guerra destrutiva” (Prebisch, 1964, apud 
Cardoso, 2012a, p. 115). 
 Os problemas da periferia são reflexo e resultado de sua 
estrutura. 
 As políticas adotadas não teriam enfrentado os problemas 
em sua raiz. 
 Para o autor, o foco dos programas de desenvolvimento 
deveria ser melhorar o padrão de vida dos mais pobres. 
Necessidade de transformação 
estrutural 
UFABC - Desenvolvimento Socioeconômico 22 
 A industrialização, por si só, não corrigiria a disparidade de 
distribuição de renda. 
 Dentre os fatores internos de estrangulamento, Prebisch 
concede destaque à produção agrícola. 
 “A prova da robustez dinâmica de um sistema está em sua 
capacidade de imprimir velocidade ao ritmo de desenvolvimento e 
de melhorar progressivamente a distribuição de renda” (Prebisch, 
1963, p. 455 apud Cardoso, 2012a, p. 116). 
 Desse modo, a transformação da estrutura produtiva deve 
ser acompanhada por uma transformação social.

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