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Crimes Sexuais - Estupro de Vulnerável - art. 217


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INTRODUÇÃO
O Código Penal, com o advento da Lei de número 12.051/2009, prevê o delito de estupro de vulnerável quando ocorre a prática de conjunção carnal ou de qualquer outro ato libidinoso com pessoa menor de 14 (quatorze) anos de idade, contra pessoa portadora de doença mental ou enferma, que não possuem pleno discernimento para a prática do ato sexual.
Luiz Regis Prado entende que "a vulnerabilidade, seja em razão da idade, seja em razão do estado ou condição da pessoa, diz respeito a sua capacidade de reagir à intervenção de terceiros quando no exercício de sua sexualidade".
O delito de estupro de vulnerável se tem por consumado, quando preenchido um dos requisitos do tipo penal (menor de quatorze anos, enfermo ou possuir doença mental), sendo dispensável a análise da vontade da vítima.
DESENVOLVIMENTO
 O artigo 217 do Código Penal diz sobre o estupro de vulnerável contra menores de quatorze anos, doentes mentais ou pessoas enfermas que não têm o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
O texto do artigo expôs a vulnerabilidade absoluta frente a qualquer ato libidinoso praticado contra menor de quatorze anos, independente do sexo e de consentimento da vítima, tendo como punição a pena de oito a quinze anos de reclusão. Além disso, conforme estabelece o parágrafo terceiro do artigo 217 do Código Penal, se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave, a pena será de dez a vinte anos e caso resulte em morte, pena de doze a trinta anos.
O estupro de vulnerável, seja cometido em sua forma simples ou em sua forma qualificada, é considerado crime hediondo preterdoloso, conforme Lei n.º 8.072/90.
Além disso, o texto do artigo apresenta dois verbos: ter e praticar. Logo, conclui-se que é dispensável a violência, configurando-se o crime, não apenas o ato sexual in concreto, mas a prática de qualquer ato libidinoso com vulnerável.
Conjunção carnal conceitua-se como o coito vagínico, a introdução do pênis na vagina da mulher. É a intromissão do órgão genital masculino no interior da cavidade vaginal, ou seja, no órgão genital feminino. Ato libidinoso é todo ato de satisfação da libido, isto é, de satisfação do desejo, como o coito anal, a prática de sexo oral, a masturbação e o beijo lascivo.
O elemento objetivo do crime é a conjunção carnal e o ato libidinoso enquanto o elemento subjetivo é o dolo. O sujeito ativo do delito, o autor, pode ser qualquer pessoa, enquanto que somente as pessoas descritas no artigo 217 podem figurar como sujeitos passivos, ou seja, vítimas do crime.
 Por não haver plena capacidade de a vítima consentir com o ato sexual, por sua personalidade ainda estar em desenvolvimento, o direito tutela a dignidade sexual da vítima e não a liberdade sexual, pois esta ainda não está presente no indivíduo, com o objetivo de proteger a futura dignidade sexual do menor. Assim, pela vulnerabilidade da vítima em face do agente, existe a necessidade de proteção do Estado para que seja tutelado os seus direitos fundamentais e esta não seja prejudicada pela sua fragilidade.
PALAVRA DA VÍTIMA 
 O depoimento da vítima vulnerável é tão importante quanto a prova material – senão a mais importante. Contudo, por lei, os menores de 14 (quatorze) anos não são obrigados a depor a verdade em seus testemunhos. Assim, a valoração do depoimento do menor será dada pelo juiz de acordo com a verossimilhança dos fatos narrados, sua coerência e harmonia com as informações levadas aos autos. 
 Para tanto, deve-se levar em conta que uma das peculiaridades do crime de estupro de vulnerável é que, na maioria das vezes, o fato ocorre na clandestinidade, isto é, envolve apenas os sujeitos ativo e passivo do delito e em lugares isolados – "solus cum sola in solitudine" –, o que dificulta a obtenção de provas, tanto material quanto testemunhal. Assim sendo, a palavra da vítima ganha uma relevância essencial por ser muitas vezes a única forma de se provar o ocorrido.
 Devemos levar em consideração também que, por mais que a palavra da vítima seja de extremo valor, nos casos de estupro e assédio sexual - de acordo com o STF -, e que pode ser suficiente para a condenação do agressor, muita das vezes é provado que não, tendo em vista as várias condenações indevidas no Brasil. Onde as crianças e pré-adolescentes são facilmente influenciáveis por palavras ou situações ao serem ouvidas, por não quererem desagradar os que estão lhe acompanhando e não tem nem a coragem de desmentir o que disseram, acabam por muitas vezes relatando situações fantasiosas. Há vários outros casos em que houve condenação, baseando-se apenas em palavra da suposta vítima. Algumas até se retratam e assumem seus erros. 
 Assim, segundo o princípio da Presunção de Inocência e o in dubio pro reo que é aceito expressamente pela Constituição Federal de 1988, direito que serve tanto para proteger os indivíduos de possíveis abusos do Estado, quanto para regular as atividades do mesmo, é muito importante para o processo penal, visto que em decorrência dele, tem-se que o ônus da prova é do Estado, por meio do Ministério Público, que tem a missão de provar a culpabilidade do imputado, sob o risco do mesmo ser absolvido por falta de provas.
CONCLUSÃO
 É verdade que nem sempre o acusado é condenado injustamente, alguns realmente praticam o ato e merecem a devida punição. É um crime onde os profissionais devem se atentar aos cuidados que devem ser tomados na oitiva das testemunhas e principalmente da vítima onde influencia diretamente a decisão a ser tomada pelo magistrado.
 A criança, ainda na tenra idade, vítima de agressão sexual, dificilmente irá esquecer a cena traumatizante e carregará por toda vida uma personalidade ferida; sem contar as vítimas vulneráveis com enfermidade ou com deficiência mental, que não possui discernimento para relatar sobre a trágica violência sexual ou ato libidinoso, onde este pode passar despercebido, tendo em vista que uma criança de 0 a 3 anos de idade não sabe falar nitidamente, demonstrando apenas tal rejeição pelo agressor através de choros ou gemidos, sendo assim, realmente a palavra da vítima não é tão relevante. 
 Por fim, nas palavras de Cyrulnik – neurologista e psiquiatra - a respeito da sensação de uma vítima de estupro: "O que a destruiu não foi o ato sexual. Foi a representação de uma penetração sexual imposta pela violência, um arrombamento de seu corpo e de sua alma em que ela jamais tinha pensado".