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Contrato de Mandato: Conceito e Características

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Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
Bloco 9 MANDATO 
 
A MANDATO 
 
1. Conceito 
 
Conforme GAGLIANO E OUTRO (2012, p. 359), mandato é o ‘negócio jurídico pelo qual 
uma pessoa, chamada mandatário, recebe poderes de outra, chamada mandante, para, em nome 
desta última, praticar atos ou administrar interesses’. 
Depreende-se tal conceito do art. 653, CC: “Art. 653. Opera-se o mandato quando alguém 
recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. A procuração 
é o instrumento do mandato.” 
Não confundir com MANDADO, que é a formalização de ordem judicial (ex: mandado de 
busca e apreensão). 
Note que estamos no campo da representação convencional, ou seja, decorrente de 
convenção. Há, ainda, a representação legal, determinada por lei, portanto. Neste último caso, se 
insere a representação de incapazes realizada por pais, tutores e curadores. 
Outra conceituação importante refere-se à procuração. Procuração tanto é o documento 
através do qual são transferidos os poderes do mandante para o mandatário, quanto o negócio 
jurídico unilateral de transferência destes poderes. Lembro que o contrato de mandato é negócio 
jurídico bilateral. 
Vamos entender melhor!!!! 
 É possível existir mandato sem representação. Imagine duas pessoas que estabelecem o 
contrato de mandato, mas não formalizaram a delegação de poderes através de procuração. Você 
pode estar se perguntando: mas é necessário? Sim, pois somente o contrato não delega poderes, é 
necessária a procuração. Ficou mais claro? 
Por outro lado, pode existir também representação sem mandato, como no caso da 
representação legal exemplificada acima. 
São exemplos da relação de mandato: pessoa que pede ao amigo para que este o inscreva em 
um concurso público; pessoa que contrata um advogado para representá-lo em um processo, etc. Em 
todos os casos, o mandante passará procuração para o mandatário. 
 
 
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2. Características do contrato de mandato 
 
a) Unilateral, como regra: A princípio, o mandato só gera obrigações para o mandatário. 
b) Gratuito, como regra: A princípio, por não haver remuneração do mandatário, este tem 
ônus e o mandante tem o bônus. É claro que as partes podem convencionar a remuneração 
do mandatário, então, o contrato será bilateral e oneroso. Neste sentido, o art. 658, CC: 
Art. 658. O mandato presume-se gratuito quando não houver sido estipulada retribuição, 
exceto se o seu objeto corresponder ao daqueles que o mandatário trata por ofício ou 
profissão lucrativa. 
Parágrafo único. Se o mandato for oneroso, caberá ao mandatário a retribuição prevista em 
lei ou no contrato. Sendo estes omissos, será ela determinada pelos usos do lugar, ou, na 
falta destes, por arbitramento. 
 
c) Não-solene: a lei permite que seja estabelecido até verbalmente, salvo exceção, como no 
caso do casamento por procuração, em que esta tem que ser feita por instrumento público. 
Sobre a forma do contrato de mandato, assim prevê o Código Civil: 
Art. 656. O mandato pode ser expresso ou tácito, verbal ou escrito. 
Art. 657. A outorga do mandato está sujeita à forma exigida por lei para o ato a ser 
praticado. Não se admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por escrito. 
Por óbvio que o terceiro com quem o mandatário irá contratar em nome do contratante 
poderá exigir procuração por escrito e com firma reconhecida. Neste caso, a forma se imporá: “Art. 
654. [...]§ 2o O terceiro com quem o mandatário tratar poderá exigir que a procuração traga a firma 
reconhecida.” 
Note que o mandato pode se estabelecer de forma tácita! O mandato verbal apresenta um problema 
prático: a prova de sua existência. É claro que, na esfera processual, poderá ser provado pelos meios 
legais (testemunhas, por ex.) 
Se o mandato tiver forma escrita, particular, deverão conter as seguintes informações: 
Art. 654. [...]. 
§ 1o O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a 
qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação 
e a extensão dos poderes conferidos. 
 
3. Partes contratantes 
 
Mandante é aquele que outorga poderes; mandatário, a pessoa que receba tais poderes. 
Sobre a capacidade destas duas partes, temos duas previsões legais: 
Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante instrumento 
particular, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante. 
Art. 666. O maior de dezesseis e menor de dezoito anos não emancipado pode ser 
mandatário, mas o mandante não tem ação contra ele senão de conformidade com as regras 
gerais, aplicáveis às obrigações contraídas por menores. 
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Para ser mandante, basta ser capaz; se incapaz, deverá ser representado ou assistido. Para ser 
mandatário, a pessoa deverá ser capaz, como regra; o menor entre 16 e 18 anos pode ser 
mandatário, mas o mandante assume um ônus: não poderá cobrar-lhe prejuízo, salvo se o menor 
ocultou a sua idade. 
 
4. Mandato conferido a mais de uma pessoa 
 
O mandato pode ser conferido a mais de uma pessoa, que assumirão a posição de 
mandatários. 
Sobre o tema, assim estabelece o art. 672, CC: 
Art. 672. Sendo dois ou mais os mandatários nomeados no mesmo instrumento, 
qualquer deles poderá exercer os poderes outorgados, se não forem expressamente 
declarados conjuntos, nem especificamente designados para atos diferentes, ou 
subordinados a atos sucessivos. Se os mandatários forem declarados conjuntos, não terá 
eficácia o ato praticado sem interferência de todos, salvo havendo ratificação, que 
retroagirá à data do ato. 
 
Depreende-se o dispositivo legal que o mandato pode ser assim classificado: 
a) Mandato solidário: qualquer dos mandatários poderá praticar os atos necessários, 
independente da participação dos demais. 
b) Mandato conjunto: os mandatários devem atuar juntos, para que o ato tenha eficácia. 
Admite-se, no entanto, a ratificação posterior pelo mandatário faltante ou pelo mandante. 
c) Mandato fragmentário/fracionário: no mesmo documento, são constituídos dois ou mais 
mandatários para atos diferentes. 
d) Mandato sucessivo: no mesmo documento, são constituídos dois ou mais mandatários para 
atos sucessivos (um mandatário realiza um ato, depois outro mandatário realiza outro ato). 
 
5. Mandato conferido por mais de uma pessoa 
 
 
Em uma mesma procuração e/ou contrato, mais de uma pessoa podem outorgar poderes para 
outrem. Neste caso, vale a regra do art. 680, CC: 
Art. 680. Se o mandato for outorgado por duas ou mais pessoas, e para negócio comum, 
cada uma ficará solidariamente responsável ao mandatário por todos os compromissos e 
efeitos do mandato, salvo direito regressivo, pelas quantias que pagar, contra os outros 
mandantes. 
 
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 Os mandantes são solidários perante o mandatário constituído. Exemplo: o mandatário 
poderá cobrar sua remuneração e despesas de qualquer dos mandantes e aquele que pagar cobra dos 
demais. 
 
 
6. Objeto do mandato 
 
A princípio, vale o mandato para qualquer negócio, desde que envolvam direito ou 
interesses queexijam a presença do mandante para sua realização. 
O objeto do mandato pode ser geral ou específico. Veja o que determinam os arts. 660 e 
661, CC: 
Art. 660. O mandato pode ser especial a um ou mais negócios determinadamente, ou geral a 
todos os do mandante. 
Art. 661. O mandato em termos gerais só confere poderes de administração. 
§ 1o Para alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outros quaisquer atos que exorbitem da 
administração ordinária, depende a procuração de poderes especiais e expressos. 
§ 2o O poder de transigir não importa o de firmar compromisso. 
Poderes gerais são aqueles ordinários, comuns para execução do negócio (faz-se necessário 
analisar cada caso). Para poderes específicos, a procuração deverá individualizá-los expressamente. 
 
7. Substabelecimento 
 
O substabelecimento é negócio em que os poderes recebidos em mandato são transferidos a 
um terceiro. Em outras palavras: o mandante outorga poderes para o mandatário, este, por sua vez, 
os transfere para um terceiro. Este terceiro se chama substabelecido e o mandatário se chamará 
substabelecente. 
O substabelecimento pode ser feito com reservas ou sem reservas. No primeiro caso, o 
mandatário continua sendo representante do mandante, mas o substabelecido passa a ter poderes de 
representação também. Se o substabelecimento for sem reservas, o mandatário deixará de ser 
representante do mandante, passando o substabelecido a sê-lo, ou seja, este passa a ser o novo 
mandatário, sozinho. 
A forma do substabelecimento está prevista no art. 655, “CC: Art. 655. Ainda quando se 
outorgue mandato por instrumento público, pode substabelecer-se mediante instrumento particular.” 
Note que o substabelecimento deverá ser feito por instrumento público quando a lei ou o negócio 
exigir a forma pública. 
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A princípio, o mandatário pode substabelecer (GAGLIANO, 2012, p. 371), mas o mandante 
pode proibi-lo, através de cláusula no contrato de mandato ou na procuração mesmo. O mandatário 
que substabelece responde pelos atos do substabelecido conforme art. 667, CC: 
Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do 
mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem 
substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente. 
§ 1o Se, não obstante proibição do mandante, o mandatário se fizer substituir na execução 
do mandato, responderá ao seu constituinte pelos prejuízos ocorridos sob a gerência do 
substituto, embora provenientes de caso fortuito, salvo provando que o caso teria 
sobrevindo, ainda que não tivesse havido substabelecimento. 
§ 2o Havendo poderes de substabelecer, só serão imputáveis ao mandatário os danos 
causados pelo substabelecido, se tiver agido com culpa na escolha deste ou nas instruções 
dadas a ele. 
§ 3o Se a proibição de substabelecer constar da procuração, os atos praticados pelo 
substabelecido não obrigam o mandante, salvo ratificação expressa, que retroagirá à data do 
ato. 
§ 4o Sendo omissa a procuração quanto ao substabelecimento, o procurador será 
responsável se o substabelecido proceder culposamente. 
 
Como regra, o mandatário responde ao mandante pelos prejuízos causados pelo 
substabelecido, se este agiu com culpa (negligência, imprudência ou imperícia) ou dolo1 ou se 
aquele procedeu com culpa ao escolhê-lo2 ou ao passar-lhe instruções. Mas se o mandante proibir o 
substabelecimento, o mandatário responderá por qualquer prejuízo ocorrido durante a atuação do 
substabelecido, ainda que causado por caso fortuito, a menos que prove que o prejuízo teria 
ocorrido de qualquer jeito, independentemente da atuação do substabelecido. 
 
8. Mandato judicial 
 
É aquele estabelecido entre advogado e cliente, para ajuizamento e/ou acompanhamento de 
demanda judicial. 
Este é disciplina pelas regras do Código de Processo Civil e do Estatuto do Advogado, 
conforme Art. 692: “O mandato judicial fica subordinado às normas que lhe dizem respeito, 
constantes da legislação processual, e, supletivamente, às estabelecidas neste Código.” 
Vejamos os art. 112 do CPC: 
 
1 Imagine que o substabelecido realizou um péssimo negócio em nome do mandante, por não ter lido a lei ou 
o contrato com atenção. 
2 Imagine que o negócio exigia um perito, um expert e o mandatário, por falta de tempo, passa poderes ao 
substabelecido, que acabou de se formar, inexperiente. 
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Art. 112. O advogado poderá renunciar ao mandato a qualquer tempo, provando, na forma 
prevista neste Código, que comunicou a renúncia ao mandante, a fim de que este nomeie 
sucessor. 
§ 1o Durante os 10 (dez) dias seguintes, o advogado continuará a representar o mandante, 
desde que necessário para lhe evitar prejuízo 
§ 2o Dispensa-se a comunicação referida no caput quando a procuração tiver sido 
outorgada a vários advogados e a parte continuar representada por outro, apesar da 
renúncia. 
. 
 
Na procuração judicial podem constar dois tipos de cláusulas: 
a) Cláusula ad juditia: trata-se da cláusula que outorga poderes gerais para o foro, 
autorizando o advogado a atuar em todos os atos processuais; 
b) Cláusula extra juditia: trata-se da cláusula que outorga poderes especiais para os 
atos de maior relevância no processo, que, em tese, deveriam ser feitos pessoalmente pela 
parte. (GAGLIANO, 2012, p. 378) 
Os atos especiais estão relacionados no caput do art. 105, CPC: 
Art. 105. A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento público ou particular 
assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, exceto receber 
citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao 
direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar 
declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula específica. 
Note que, a princípio, o advogado precisa da procuração para atuar em nome do seu cliente, 
parte no processo. Mas a procuração poderá ser dispensada, provisoriamente, em situações 
emergenciais, conforme descrito no art. 104, CPC: 
Art. 104. O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração, salvo para 
evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado urgente. 
§ 1o Nas hipóteses previstas no caput, o advogado deverá, independentemente de caução, 
exibir a procuração no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável por igual período por 
despacho do juiz. 
§ 2o O ato não ratificado será considerado ineficaz relativamente àquele em cujo nome foi 
praticado, respondendo o advogado pelas despesas e por perdas e danos. 
 
 
9. Limites dos poderes 
 
Se uma pessoa atuar em nome de outra, sem que esta tenha conferido àquela tais poderes, o 
“mandante” não responderá por estes atos perante o terceiro com quem contratou o suposto 
“mandatário”, muito embora possa o suposto “mandante” confirmar tais atos, hipótese em que terão 
eficácia: 
Art. 662. Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o tenha sem poderes 
suficientes, são ineficazes em relação àquele em cujo nome foram praticados, salvo se este 
os ratificar. 
Parágrafo único. A ratificação há de ser expressa, ou resultar de ato inequívoco, e retroagirá 
à data do ato. 
 
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Da mesma forma, vale a regra se o mandatário atuar extrapolando os poderes conferidos por 
procuração: “Art. 665. O mandatário que exceder os poderes do mandato, ou proceder contra eles, 
será considerado mero gestor de negócios, enquanto o mandante lhe não ratificar os atos.” 
Simplificando: o terceiro com quem contrata o suposto “mandatário” deve exigir prova do 
mandato (procuração) para que possa exigir do mandante o cumprimento do negócio. 
 
10. Direitos e obrigações no mandato 
 
Vamos dissecar algumas previsões do Código Civil acerca dos direitos e obrigações do 
mandante e do mandatário: 
 
a) Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do 
mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem 
substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente. 
Este regra já foi por nós analisada. Trata da responsabilidade do mandatário pelos atos do 
substabelecido. 
b) Art. 668. O mandatário é obrigado a dar contas de sua gerência ao mandante, transferindo-
lhe as vantagens provenientes do mandato, por qualquer título que seja. 
A prestação de contas (das atividades desempenhadas, das despesas, dos valores recebidos) é 
direito do mandante e obrigação do mandatário. 
c) Art. 669. O mandatário não pode compensar os prejuízos a que deu causa com os proveitos 
que, por outro lado, tenha granjeado ao seu constituinte. 
Os proveitos obtidos pelo mandatário para o mandante, ainda que inesperados, não podem 
ser compensado com os prejuízos causados pelo mandatário. Os proveitos pertencem ao 
mandante (porque decorrente do mandato), assim como a indenização pelos prejuízos. 
Sendo assim, como o mandatário poderia compensar tais valores, se nenhum deles lhe 
pertence? 
d) Art. 670. Pelas somas que devia entregar ao mandante ou recebeu para despesa, mas 
empregou em proveito seu, pagará o mandatário juros, desde o momento em que abusou. 
Se o mandatário recebe valores do mandante para executar a tarefa determinada ou se recebe 
(de terceiros) valores pertencentes ao mandante e emprega tais valores em assuntos 
particulares, comete ilícito contratual e deverá responder por este ato, devolvendo o valor do 
mandante, acrescido de juros. 
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e) Art. 671. Se o mandatário, tendo fundos ou crédito do mandante, comprar, em nome 
próprio, algo que devera comprar para o mandante, por ter sido expressamente designado 
no mandato, terá este ação para obrigá-lo à entrega da coisa comprada. 
Se o mandatário é contratado para realizar compra em nome do mandante e o faz em nome 
próprio (por ter achado o negócio vantajoso, por exemplo), deverá entregar a coisa ao 
mandante. 
f) Art. 673. O terceiro que, depois de conhecer os poderes do mandatário, com ele celebrar 
negócio jurídico exorbitante do mandato, não tem ação contra o mandatário, salvo se este 
lhe prometeu ratificação do mandante ou se responsabilizou pessoalmente. 
O terceiro não tem ação contra o mandatário, se sabia que este agia fora dos limites da 
procuração, menos que o mandatário tenha prometido obter o consentimento do mandante 
ou se ele se responsabilizou pessoalmente pelo negócio. 
Note que o terceiro também não terá ação contra o mandante. 
g) Art. 674. Embora ciente da morte, interdição ou mudança de estado do mandante, deve o 
mandatário concluir o negócio já começado, se houver perigo na demora. 
Em caso de morte do mandante, este é o chamado mandato post mortem. 
O mandatário, que já iniciou as negociações, deve concluir a tarefa, para que haja prejuízo 
para o mandante ou seus herdeiros. 
h) Art. 675. O mandante é obrigado a satisfazer todas as obrigações contraídas pelo 
mandatário, na conformidade do mandato conferido, e adiantar a importância das despesas 
necessárias à execução dele, quando o mandatário lho pedir. 
O mandante tem que observar os negócios realizados pelo mandatário, nos limites do 
mandato, perante terceiros. E ainda: para custear as despesas do negócio, o mandante tem que 
adiantar tais valores para o mandatário, pois este não está obrigado a custeá-las do próprio bolso. É 
claro que as partes podem combinar que o mandatário assume os custos do negócio e o mandante 
lhe paga posteriormente. 
i) Art. 676. É obrigado o mandante a pagar ao mandatário a remuneração ajustada e as 
despesas da execução do mandato, ainda que o negócio não surta o esperado efeito, salvo 
tendo o mandatário culpa. 
O mandatário tem obrigação de meio e não de resultado, sendo assim deve agir com toda a 
diligência do homem probo, mas não está obrigado a atingir o resultado. Se não fará jus à 
remuneração combinada, se o resultado não tiver sido agido por sua culpa. 
 
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j) Art. 677. As somas adiantadas pelo mandatário, para a execução do mandato, vencem juros 
desde a data do desembolso. 
Se o mandatário custear as despesas do objeto do mandato, terá direito de cobrar tais 
valores, com juros, do mandante. 
Inclusive, se não pagas a sua remuneração e as despesas que custeou, terá direito de reter o 
objeto do negócio, conforme prevê o art. 664, CC: “Art. 664. O mandatário tem o direito de 
reter, do objeto da operação que lhe foi cometida, quanto baste para pagamento de tudo que 
lhe for devido em consequência do mandato.” 
O direito de retenção está previsto também no Art. 681: “O mandatário tem sobre a coisa de 
que tenha a posse em virtude do mandato, direito de retenção, até se reembolsar do que no 
desempenho do encargo despendeu.” 
k) Art. 678. É igualmente obrigado o mandante a ressarcir ao mandatário as perdas que este 
sofrer com a execução do mandato, sempre que não resultem de culpa sua ou de excesso de 
poderes. 
Se o mandatário sofrer prejuízos enquanto cumpre o objeto do mandato, o mandante terá que 
indenizá-lo, a menos que aquele tenha agido com culpa ou extrapolado os limites do 
mandato. 
l) Art. 679. Ainda que o mandatário contrarie as instruções do mandante, se não exceder os 
limites do mandato, ficará o mandante obrigado para com aqueles com quem o seu 
procurador contratou; mas terá contra este ação pelas perdas e danos resultantes da 
inobservância das instruções. 
 
Por exemplo: o mandatário está intermediando a alienação de um bem imóvel e o mandante 
deixou claro que não aceita vender por menos de 1 milhão de reais. O mandatário conclui o 
negócio por R$ 800.000,00. O comprador poderá exigir o cumprimento do contrato perante 
o mandante e este cobrará seu prejuízo do mandatário. 
 
11. Irrevogabilidade do mandato 
 
Como regra, o mandato é revogável. Assim, o mandante poderá revogar a outorga dos 
poderes ao mandatário, sem apresentar motivo, a qualquer tempo, devendo apenas pagar a 
remuneração (se tiver sido ajustada) e as despesas pagas pelo mandatário até o momento da 
revogação. 
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Assim prevê o art. 683, CC: “Quando o mandato contiver a cláusula de irrevogabilidade e o 
mandante o revogar, pagará perdas e danos.” Traduzindo: se houver cláusula de irrevogabilidade, o 
mandante que revogar o mandato terá que indenizar o mandatário. 
Mas o Código Civil prevê hipóteses de irrevogabilidade absoluta (a eventual revogação de 
poderesnão produzirá efeitos): 
Art. 684. Quando a cláusula de irrevogabilidade for condição de um negócio bilateral, ou 
tiver sido estipulada no exclusivo interesse do mandatário, a revogação do mandato será 
ineficaz. 
Art. 685. Conferido o mandato com a cláusula "em causa própria", a sua revogação não terá 
eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatário 
dispensado de prestar contas, e podendo transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto 
do mandato, obedecidas as formalidades legais. 
 
A procuração em causa própria (também chamado mandato in rem suam) é utilizada para 
alienação de bens. O mandante transfere poderes de alienação para o mandatário, para que este 
possa concluir o negócio CONSIGO MESMO. O mandante é o vendedor do bem, a prazo, e o 
mandatário é o comprador. Geralmente utilizada na compra e venda de bem imóvel, com 
parcelamentos longos. Ao final dos pagamentos, o mandatário, com a procuração, poderá promover 
a transferência do bem para seu nome. 
Note que o terceiro de boa-fé que ignora da revogação do mandato (porque esta foi 
comunicada apenas ao mandatário) está protegido, estando garantidos os negócios feitos com estes, 
cabendo ao mandante apenas exigir perdas e danos do mandatário: 
Art. 686. A revogação do mandato, notificada somente ao mandatário, não se pode opor aos 
terceiros que, ignorando-a, de boa-fé com ele trataram; mas ficam salvas ao constituinte as 
ações que no caso lhe possam caber contra o procurador. 
 
12. Extinção do mandato 
 
O Código Civil enumera quatro formas de extinção do contrato: 
Art. 682. Cessa o mandato: 
I - pela revogação ou pela renúncia; - a revogação é ato do mandante e a renúncia, ato 
do mandatário. Na renúncia, o mandatário abre mãos dos poderes a ele conferidos 
pelo mandante. 
II - pela morte ou interdição de uma das partes; - o mandato é personalíssimo, por isso se 
extingue. 
III - pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o 
mandatário para os exercer; 
IV - pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio. 
 
 Vamos ver cada hipótese: 
 
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a) I - pela revogação ou pela renúncia; - a revogação é ato do mandante e a renúncia, ato 
do mandatário. Na renúncia, o mandatário abre mãos dos poderes a ele conferidos pelo 
mandante. 
b) II - pela morte ou interdição de uma das partes; - o mandato é personalíssimo, por isso 
se extingue. Mas enquanto o mandatário não souber que o mandante morreu ou foi 
interditado, seus atos valem perante terceiros de boa-fé. Assim prevê o art. 689, CC: 
“Art. 689. São válidos, a respeito dos contratantes de boa-fé, os atos com estes ajustados em 
nome do mandante pelo mandatário, enquanto este ignorar a morte daquele ou a extinção do 
mandato, por qualquer outra causa.” 
 
c) III - pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o 
mandatário para os exercer; 
Por exemplo: o mandante se torna incapaz; o mandatário assume cargo público que 
impede sua continuação, etc. 
 
d) IV - pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio. 
Se o mandato é estabelecido em razão de um objeto específico, exaurido este, termina o 
contrato. Da mesma forma, se findo o seu prazo determinado. 
 
 
Note que, em caso de renúncia por parte do mandatário, se causar prejuízos ao mandante, 
por ter sido inesperada, sem tempo para constituição de outro, haverá a obrigação de indenizá-lo: 
Art. 688. A renúncia do mandato será comunicada ao mandante, que, se for prejudicado 
pela sua inoportunidade, ou pela falta de tempo, a fim de prover à substituição do 
procurador, será indenizado pelo mandatário, salvo se este provar que não podia continuar 
no mandato sem prejuízo considerável, e que não lhe era dado substabelecer. 
 
 
No caso de falecimento do mandatário, deverão seus herdeiros informar o mandante e 
procurar zelar pelos seus interesses, na medida do possível, evitando-se prejuízo: 
Art. 690. Se falecer o mandatário, pendente o negócio a ele cometido, os herdeiros, tendo 
ciência do mandato, avisarão o mandante, e providenciarão a bem dele, como as 
circunstâncias exigirem. 
Art. 691. Os herdeiros, no caso do artigo antecedente, devem limitar-se às medidas 
conservatórias, ou continuar os negócios pendentes que se não possam demorar sem perigo, 
regulando-se os seus serviços dentro desse limite, pelas mesmas normas a que os do 
mandatário estão sujeitos.

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