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000 ENTREVISTA ARAVENA 01

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Alejandro Aravena: 'O desafio da arquitetura é sair 
da especificidade da resposta e abordar a 
inespecificidade da pergunta' 
2 Março, 2017 
 
© Álvaro González 
 
Apresentamos uma entrevista exclusiva com o vencedor do prêmio Pritzker 
2016, Alejandro Aravena, publicada na edição número 31 da Revista AOA. Foi 
realizada pelo comitê editorial da Revista AOA -representado por Yves Besançon, 
Francisca Pulido e Tomás Swett- e acompanhado pelas fotografias de Álvaro 
González. A generosa disponibilidade e carinho de Aravena permitiu abordar questões 
profundas sobre seu pensamento e projeção arquitetônica, especialmente da Bienal de 
Veneza. 
 
Sem dúvidas, o ano de 2016 marcou a consolidação internacional do arquiteto, que em 
janeiro tornou-se o primeiro chileno a receber o Prêmio Pritzker, sendo também o 
primeiro diretor latino americano da Bienal de Arquitetura de Veneza. Desde ali, como 
reza o lema que define a mostra, continua "Reportando desde o fronte" e incentivando 
arquitetos de todo o mundo a compartilharem as batalhas em seus países. 
No total, foram 88 trabalhos de 37 países que abordam temáticas relacionadas à 
segregação, a desigualdade, os subúrbios, o saneamento, os desastres naturais, déficit 
habitacional, migração, marginalidade, tráfico, resíduos, poluição e a participação 
comunitária. Junto à declaração de princípios que acompanha o chamado que definiu a 
Bienal, Aravena explicou que a exposição é "sobre aprendizado e o enfoque das 
arquiteturas que, através da inteligência, intuição, ou ambos, são capazes de fugir do 
status quo (...). E no lugar da resignação ou amargura, propõem e fazem algo novo". 
Justamente é isso o que define o trabalho de Aravena e do Elemental, que em um passo 
além de este "fazer algo", recentemente liberou o uso de quatro de seus projetos de 
habitação social. Vale dizer, qualquer arquiteto ou instituição pública ou privada poderá 
utilizar as plantas e detalhes construtivos dos conjuntos Quinta Monroy de Iquique, 
Colonia Lo Barnechea em Santiago, Villa Verde em Constitución e as premiadas 
habitações expansíveis em Monterrey no México. Uma decisão que fala "da necessidade 
de trabalharmos juntos em abordar o desafio da rápida urbanização ao redor do mundo", 
muito alinhado com o tema da Bienal. 
Em uma longa conversa com o comitê editorial da Revista AOA ele abordou estas 
questões, tendo como ponto de partida o que está sendo feito -ou melhor, deixando de 
fazer- para formar arquitetos capazes de definir as perguntas adequadas que permitam à 
arquitetura fornecer as respostas sociais necessárias. 
 
© Álvaro González 
 
Você muitas vezes se refere à necessidade de buscar perguntas ao 
invés de dar respostas frente a uma problemática arquitetônica. 
Com este foco, o que você acha da formação dos novos arquitetos? 
O que é necessário para definir os problemas reais de contingência 
e, desde aí, abordar o ensino da arquitetura? 
Se você esclarecer a que deve se dedicar arquitetura, por adição consegue o que ou 
como deve ensiná-la, por isso tentarei acometer o tema desde vários focos. O primeiro é 
assumir que o que se ensina hoje é, basicamente, um conjunto de regras disciplinares 
segundo o qual se julgam os objeto que são produzidos. Pelo geral, se alude mais ao 
artístico formal e leis de composição do que a uma tradição disciplinar específica. Se 
bem que isso pode desenvolver e fazer expandir a disciplina desde seu próprio conjunto 
de regras, o risco é que tanto as regras como o tipo de problemas não sejam 
compartilhados pelo restante da sociedade, e somente importem a outros arquitetos. 
Então a discussão arquitetônico converte-se em um crítica especializada ou a análises 
estilísticas formais que importam muito pouco ao resto da sociedade. Portanto, uma 
primeira questão é ver quanto se deve introduzir uma pessoa nesse corpo de 
conhecimentos específicos e quanto partir desde problemas absolutamente 
inespecíficos, que lhe importem e nos que possam opinar qualquer cidadão. Ou seja, 
sair da especificidade do problema e ir à inespecificidade da pergunta. Se pudermos 
entender que os problemas de que a arquitetura tem que lidar são aqueles que importam 
à sociedade, a maneira de contribuir é a partir deste corpo de conhecimento 
específico. Ou seja, traduzir as forças em jogo em formas, que é finalmente o que os 
arquitetos sabem fazem. Não é transformar-se em economista, político ou antropólogo, 
mas conhecer as suas linguagens permite-nos compreender o código das forças que, em 
seguida, devem ser traduzidas em formas. Geralmente fazemos pouco o exercício 
de compreender as linguagens de outras disciplinas e, quando fazemos, abandonamos o 
núcleo da arquitetura, que é fazer projetos. 
Há anos, em uma discussão que tive com Hashim Sarkis, então reitor de Harvard e hoje 
Diretor do MIT, dizíamos que há um momento em que a arquitetura bifurca-se, 
provavelmente no final dos anos 60 e início dos 70. De um lado estão aqueles que 
afirmam algum tipo da competência criativa para serem gênios, e desenvolvem-se todos 
os ismos possíveis: pós-modernismo, minimalismo, desconstrutivismo, etc. Mas essa 
autonomia disciplinar tem uma linha muito fina com a irrelevância, ou seja, ocupar-se 
de coisas que não preocupam a mais ninguém, senão os próprios arquitetos. O outro 
caminho é os que optam por ocuparem-se de problemas de pobreza, 
subdesenvolvimento e desigualdade, mas abandonando o conhecimento específico da 
arquitetura para transformarem-se em consultores de organismos com siglas e fazer 
artigos acadêmicos. Visto isso, podemos concluir que o problema está em não organizar 
a informação em forma de propostas. O valor da arquitetura é que não toma a 
informação para fazer um diagnóstico, mas uma proposta. A organização das 'partículas' 
de informação em forma de propostas é o poder específico de arquitetura... 
Montar o quebra-cabeça, mais que organizar as peças soltas? 
É como afiar uma espada. Quando isso é alcançado, é porque todas as partículas estão 
na mesma direção. Não estão necessariamente todas de acordo ou dizem o mesmo, mas 
apontam a uma direção. O desafio da arquitetura, e por extensão, de seu ensino, é ser 
capaz de afastar-se da arquitetura na área de problemas não-específicos que podem ser 
importantes à sociedade e sintetizá-los em propostas arquitetônicas específicas. Para 
que, em seguida, a proposta seja devolvida para a sociedade e julgada. Por isso que é 
tão difícil produzir uma boa obra de arquitetura. 
O que definiria, então, uma boa obra? 
É aquela capaz de sintetizar um espectro ou camadas de variáveis que partem em 
questões absolutamente práticas e concretas. Os Starchitect são criticados por se 
preocuparem com a dimensão icônica da arquitetura, respondendo ao estritamente 
disciplinar quando devem se preocupar também com os problemas das pessoas. Mas se 
consideramos somente os problemas e abandonamos a dimensão artística do projeto, ele 
também está incompleto. 
Voltando ao tema da educação, devemos entender que se algum poder há na arquitetura 
é o da síntese, e nesse sentido não se deve ter medo de começar por projetar a pergunta 
e identificar quantas variáveis tem a equação. Ao falar de 'equação' o que explicita são 
os termos nos quais deverão ser respondidos depois. A dificuldade -ou talvez a graça- 
da arquitetura, é que, para essa determinada equação, não há uma resposta única. Mas a 
capacidade de explicitar que é o que informa a forma do projeto é o tipo de questão que 
se esperaria abordar no ensino da arquitetura. Normalmente, o que fazem os arquitetos, 
e o que se ensina a fazer, é que ante a possibilidade de que forças 
contraditórias façam que a obra ou oobjeto final não seja todo o elegante julgado a 
partir do conjunto de regras de arquitetura, acomoda-se a pergunta. 
 
© Álvaro González 
 
 
 
Como fazer os croquis depois da obra terminada... 
Exato, e isso tem várias dificuldades. Por um lado, como arquiteto deve-se ser capaz de 
sintetizar na forma do projeto e em uma única proposta inclusive forças contraditórias. 
Por outro lado, requer-se de uma mudança de paradigma: se seguimos pedindo a um 
projeto de habitação social que somente seja respondido como dimensão escultórica, 
estamos julgando mal. É a pergunta que deve ser distinta, não a resposta. Por isso sou 
tão crítico de como está o ensino da arquitetura hoje, porque o que vejo, geralmente na 
academia, é um circuito de pessoas que depende de publicações, simpósios e 
congressos, e que se ocupam somente de temas que parecem muito potentes. Os 
problemas que, de verdade, importam, parecem não ter méritos desde o ponto de vista 
acadêmico, são muito comuns e correntes, e por isso não têm glamour. É preciso 
entender e dar outra tensão às perguntas e logo, ao julgar, também compreender a 
verdadeira complexidade do problema e, portanto, reavaliar a maneira em com a qual 
decide-se se um projeto é exitoso ou não. 
Forças em jogo 
 
A capacidade de questionamento que hoje tem um aluno ou um 
jovem profissional muitas vezes, é baixa, buscando resultados 
imediatos e diretos. A fase inicial do questionamento é bastante 
limitada, a lógica do processo de concepção não parece ser 
desenvolvido na formação dos arquitetos. 
Antes do questionamento está a abertura em abordar o problema com tudo o que venha 
ao caso, uma mentalidade que permita distinguir o relevante do que não é. Não é 
questionamento no sentido crítico ou de juízo negativo. Mas é complexo, pois quando 
um cliente chega com uma demanda, não necessariamente tem clara a pergunta. A 
construção da pergunta é parte do ato criativo, deve discriminar o que importa e o que 
não: que vai informar a forma, a estrutura, o orçamento, o clima, as normas, o usuário, 
etc., partindo desde questões muito concretas e mensuráveis. No entanto, estão as 
dimensões intangíveis, regidas pelo que chamamos de 'certezas indizíveis', onde é difícil 
saber se estão bem ou mal e que também formam parte do projeto, como o caráter do 
edifício. Nisso radica a dificuldade da produção arquitetônica. Por muito que se tem 
identificado e hierarquizado todas as variáveis, e não há receita para a construção da 
pergunta, mas é um ato criativo. E logo o salto desde que identificas as variáveis do 
problema à proposta que sintetiza todas essas forças em jogo... É arte, no sentido de se 
mover com certezas parciais, é intuitivo, não está garantido, não é um processo linear, 
ou consequência de suas circunstâncias, aparecem variáveis que são mais que as 
circunstâncias e ainda assim são pertinentes... Ensinar tudo isso é muito complexo. 
 
© Álvaro González 
 
Qualquer temática gera possibilidade de questionamento para fazer 
a pergunta? Quais devem ser abordados sempre dentro da 
equação? 
Em princípio, eu diria que basta que haja acordo sobre algo que importa. Uma das 
maneiras de se adentraste bem no problema é que não é preciso fazer um seminário para 
explicá-lo. Ao dizer 'poluição', todos entendemos que há um problema, todos o sofrem e 
todos podem opinar. O mesmo com congestionamento, segregação, insegurança, 
sustentabilidade, migrações... O assunto é como entrar em uma discussão que não 
pertence à arquitetura, mas com o conhecimento específico da arquitetura, que é traduzir 
em forma e logo organizar em forma de proposta o que começa levantar para esse 
problema. Há componentes físicos, de processos, de governabilidade e se decompõe em 
seus componentes sociais, políticos, econômicos, ambientais, etc. O tema é que seja 
algo que todos entendamos que seja desejável ocupar-se e, logo, que a entrada ao 
problema seja criativa. O que marca a diferença não é suar a camisa, não é somente 
trabalhar muito, porque se você não conseguir chegar a algo que clareie e traga o 
problema para um estado diferente, esse esforço é inútil. Como, também não importa 
somente ter uma ideia e depois não ser capaz de implementá-la ou alcançar uma 
mudança significativa. 
De alguma forma este discurso supõe uma volta à dimensão pública 
do papel da arquitetura e do arquiteto em nosso país? A dimensão 
social que o Elemental tem impresso na sua arquitetura, de certa 
forma, está reposicionando um papel que existia há 50 anos. O 
mesmo feito que o MOP tinha te convidado a colaborar é uma 
conquista para todos os arquitetos. Você sente estar a fazer uma 
mudança a este respeito? 
Sim e não. Você sente que tem feito algo diferente, por algo que está posto no olho da 
atenção. Mas ainda não há nada que teria que ser feito para mudar o que estamos 
olhando para fora da janela de bilhões de pessoas. Mais do que uma volta para o social, 
do que tem sido discutido muito, eu diria que há uma confiança de que quando vai 
chegar a questões complexas que são importantes, mas um será capaz de fazer uma 
contribuição. 
Mas isso, necessariamente, supõe riscos. 
Em geral, se os arquitetos não têm garantido 100% preferem não se envolver. Escolhem 
bem os encargos e se acomodam. Mas se o problema importa -e isso é a mudança do 
julgamento, embora falte muito para chegar lá-, se ganhamos 51-49 já valeu a pena ter 
ido. Mas é preciso saber viver com 49 que não atendem a expectativa de "sucesso". A 
mudança está em entender que você deve primeiro identificar um problema que importe 
e depois ver como fazer a diferença. E, para isso, devemos entender que as restrições 
são a melhor coisa que pode acontecer. Em vez de removê-las, deve-se agregá-las, 
porque quanto maior a complexidade, maior a necessidade de síntese. Um artigo 
acadêmico é linear, de cima para baixo, da esquerda para a direita. Em vez disso, uma 
proposta é tudo simultâneo, e a capacidade de sintetizar essas forças opostas é 
tremendamente poderoso. 
 
© Álvaro González 
 
É o que reconhece teu Prêmio Pritzker? 
Se algo aconteceu com o Pritzker não é tanto ter ganho, mas com que tipo de projetos. 
Por natureza, a arquitetura pode caber em áreas que importam, de volta no radar do tipo 
de profissão que você vai quando você tem um problema complexo. A mudança é 
novamente feita para se sentir sociedade pode contribuir em seus próprios termos. Na 
medida em que somos capazes de demonstrar com fatos que não são custo adicional, 
mas um valor agregado, vamos voltar a clamar para questões complexas e transversais. 
O caso mais emblemático que tocamos no Elemental é Constitución. Houve uma 
pergunta inicial -como se protege a cidade contra o tsunami-, mas com o processo de 
participação da comunidade entendemos que isso era apenas um quarto da questão. 
Havia outras dimensões a serem respondidas: proteção contra inundações e não só 
contra tsunami; carência de espaços públicos, onde passar o tempo livre; e construção 
de identidade associada com acesso ao rio, porque era a natureza e não os edifícios 
destruídos o que construía a identidade. Se você não entendesse que a pergunta tinha 
quatro coisas para contestar, haveria respondido bem a pergunta equivocada. Quando 
você analisa o projeto é um bosque de mitigação entre a cidade e o mar a um custo de 
U$ 48 milhões, contra U$ 30 milhões que custaria para simplesmente desapropriar e 
fazer do zero, ou U$ 42 milhões que teria custado um muro, cerrto, a partir desse ponto 
de vista é um custo extra. Mas quando você entende as quatro variáveis para responder e 
projetos existentes no sistema de investimento público para o mesmo lugar no totalde 
US $ 52 milhões, o que fez o projeto foi para salvar US $ 4 milhões por entender que a 
questão era mais complexa. Se alguém puder provar que a proposta de valor, em vez de 
chamar apenas quando há dinheiro e tempo, você vai ser quem é chamado quando não 
há nem dinheiro nem o tempo. 
A batalha de Veneza 
É o selo que você procurou imprimir na Bienal de Veneza com o 
chamado de "reportando do fronte"? Significa dar a resposta 
adequada inclusive a perguntas que podem estar equivocadas? 
Identificar perguntas que importem e dar boas respostas conta, é complexo, difícil e até 
ingrato. Implica uma certa luta, a batalha. E supõe que quem enfrentou essas batalhas 
pode compartilhar como fizeram para alcançar uma proposta de valor, como no caso de 
Constitución. Buscou-se compartilhar casos, ferramentas, estratégias, experiências, de 
tal maneira que ao voltar ao lugar de origem, todos possam fazer como fazer com mais 
armas, com dimensões que talvez nem imaginavam pertinentes para teu lugar de 
origem. Poder antecipar-se a ver que um problema que hoje não existe em sua realidade, 
está latente... Se você compartilha os conflitos, tem uma capacidade antecipatória, e 
eventualmente compartilha conhecimentos replicáveis em outros contextos. Mais que 
compartilhar a pesquisa, necessitam-se experiências. Isso é reportar desde o fronte. 
Como foi recebido o chamado? Respondeu-se segundo o que havias 
visualizado? 
O título funcionou bem, algo assim como "onde aperta o sapato". Por um lado ordena: 
falemos de coisas difíceis, controversas e do que é feito para resolver. Mas é também 
um chamado amplo o suficiente para que todos os problemas tenham lugar: questões de 
imigração, ambientais, econômicas... A migração na Europa não é uma questão de 
arquitetos, afeta a todos os que têm imigrantes e vão querer ver na Bienal que ideias 
existentes para lidar com isso. E também se refere ao país de origem: o que você 
poderia fazer para mudar as condições de desigualdade que empurram o deslocamento 
da população. No geral, funcionou porque provocou discussão de questões que são das 
sociedades, e não arquitetos. 
Em qualquer caso, quis concentrar a chamada na qualidade do entorno construído, nem 
sequer na arquitetura, porque inclui espaços públicos, infraestrutura, inclusive o 
território. E é a qualidade do ambiente construído que, desde nosso âmbito, pode 
contribuir para a qualidade de vida, assim como há outros que projetam as políticas 
econômicas e sociais eficientes ou fazem invenções científicas. Não apenas as 
emergências, catástrofes ou crises humanitárias destroem a qualidade de vida, também a 
mediocridade das periferias da Europa ou a banalidade da construção nos Estados 
Unidos, onde ninguém corre o risco de deixar o catálogo por medo de processos 
judiciais. Os exemplos são milhares, cada lugar pode relatar quais são essas condições 
que não permitem oferecer qualidade no ambiente construído e, consequentemente, 
prejudicam a qualidade de vida... 
 
 
© 
Álvaro González 
 
Dos arquitetos atuais, quem você considera relevante pela 
qualidade de suas respostas a desafios como estes? 
De novo, em distintas dimensões, aqueles que tentam sintetizar ou abarcar componentes 
que não eram evidentes. Shigeru Ban entra em campos aparentemente alheios ao 
arquiteto, tais como refugiados na África. Em si mesmo o fato de lidar com uma criança 
africana não é garantia de qualidade, todavia é preciso fazer, por meio da arquitetura, 
alguma contribuição. E a capacidade de Ban está fazendo a diferença através do projeto. 
Não necessariamente tudo é da ordem humanitária. Seguindo com os Pritzker, em Peter 
Zumthor, a intensidade e a qualidade de sua arquitetura dão uma resposta duradoura 
para a sustentabilidade, que embora não seja barata, envolve uma espécie de reserva 
moral como para resistir ao passar do tempo. Ele está preocupado com várias 
dimensões, pode-se dizer que está no espectro da arte. Ou mesmo Kazuyo Sejima, que 
depura um projeto até não restar mais nada dele. Seus projetos não são minimalistas, 
porque sintetizam o que é a resposta, não a pergunta. Souto de Moura é outro capaz de 
integrar uma maneira de fazer que tem consequências sobre a mão de obra que ocupa ou 
recursos que são os mesmos de sempre, mas usados de maneira surpreendente. Wang 
Shu, com o Museu de Ningbo na China é um daqueles momentos quando alguém 
consegue sintetizar desde a maneira de construir, usando telhas e tijolos de demolição 
do entorno, para redefinir a tipologia de museu. Se você tiver apenas qualidade formal, 
fantástico, é uma forma de contribuir, mas não o suficiente. É desejável entrar em 
questões que importem a muitos e cujo benefício atinja o maior número possível de 
pessoas.

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