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SENTENÇA E COISA JULGADA

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DISPOSIÇÕES GERAIS
SENTENÇA PROCESSUAL E A EXTINÇÃO DO FEITO EM PRIMEIRO GRAU SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO: As sentenças processuais são aquelas decisões que implicam nas hipóteses elencadas neste artigo. Tratam­se de sentenças que extinguem o processo em primeiro grau, a despeito de não analisarem diretamente a pretensão do autor (inclusive do réu, caso apresente pedido de natureza reconvencional). As matérias elencadas nos incisos do artigo em comento dizem respeito principalmente a ausência de pressupostos processuais, das condições da ação e, genericamente considerando, dos pressupostos de admissibilidade do juízo de mérito. Referida sentença como não chega a analisar a pretensão do autor e é por esta razão que a pretensão pode ser objeto de discussão em nova demanda. A exceção fica por conta das hipóteses enumeradas nos incisos II e III, os quais se referem à inércia da parte autora.
CONDIÇÕES DA AÇÃO: O novo Código de Processo Civil passou a consideração como condições da ação apenas a legitimidade ad causam e o interesse de agir. Dessa forma, a impossibilidade jurídica do pedido passou a ser considerada como questão que envolve o mérito, adotando assim o posicionamento que o próprio Liebman, um dos maiores defensores das três condições da ação, adotou quando da impossibilidade de continuar justificando a existência do instituto por meio do pedido de divórcio (antigamente vedado na Itália). Nesse sentido, para que o processo siga seu rumo até o julgamento de mérito, as partes que figuram na relação jurídica processual devem ser as mesmas titulares da relação jurídica material (ressalvados os casos legais de substituição processual), bem como devem buscar um provimento que ao mesmo tempo seja útil e adequado para aquela situação da vida.
ADOÇÃO DO NOME “CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM”: O antigo Código de Processo Civil parecia causar certa confusão a respeito de institutos bastantes semelhantes da arbitragem: a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. Agora, o Código adota em seu teor o nome convenção de arbitragem, que seria o gênero, enquanto compromisso e cláusula seriam as espécies.
PRINCÍPIO DA COMPETÊNCIA­COMPETÊNCIA: Este princípio, também denominado de kompetenz­kompetenz, parece ter sido adotado de forma um pouco mais expressa pelo novo Código de Processo Civil. Da leitura do inciso VII do artigo 485, infere­se que quem deve ser o órgão adequado para reconhecimento e julgamento sobre eventual jurisdição do árbitro ou do juiz estatal é o próprio árbitro.
DEVERES DE CONSULTA E PREVENÇÃO E COLABORAÇÃO: O novo Código de Processo Civil inaugurou expressamente um novo modelo de direito processual civil brasileiro: o modelo cooperativo. A cooperação ou colaboração processual, contudo, não ocorre somente no âmbito dos sujeitos parciais do processo, mas também alcança o Estado­juiz. O magistrado deve também colaborar com as partes para que seja alcançada uma decisão de mérito tempestiva e justa. É por essa razão que o novel diploma impõe ao juiz os deveres de consultar e de prevenção, aqui traduzidos pela necessidade de o próprio órgão julgador consultar e possibilitar que a parte sane eventual problema que possa levar à extinção da demanda sem resolução do mérito.
FIM DA DÚVIDA SOBRE A POSSIBILIDADE DO RECONHECIMENTO DE­OFÍCIO DE ALEGAÇÃO RELATIVA À CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM: Um problema encontrado no antigo Código de Processo Civil de 1973, após suas inúmeras reformas, era aquele decorrente da dicotomia existente entre cláusula e compromisso arbitral. Como dito (vrf. n. 3), O novo Código de Processo Civil passa a tratar – como deve ser – a cláusula e o compromisso como espécies do gênero convenção arbitral. Em razão dessa antiga confusão causada pelo Código anterior, havia dúvida se a cláusula compromissória poderia ser reconhecida deofício ou se ela deveria ser arguida pela parte interessada, assim como o compromisso. Parte da doutrina, interpretando literalmente o Código entendia exatamente que somente a cláusula compromissória poderia ser conhecida de­ofício; enquanto outra parcela da doutrina entendia que cláusula ou compromisso não eram passíveis de conhecimento deofício e, por esta razão, dependiam de arguição, sob pena de não o fazendo renunciar à jurisdição arbitral. O novo Código de Processo Civil acaba com as dúvidas. O novel diploma extirpa todas as possíveis interpretações anteriormente dadas à possibilidade de conhecimento de­ofício ou não da convenção de arbitragem pelo Poder Judiciário. Agora, a redação é clara ao determinar ser ônus do demandando sua alegação, sob pena de revogação tácita.
EXTINÇÃO POR ABANDONO: A extinção por abandono da causa não pode ser reconhecida de­ofício, cabendo ao réu pedi­la ao juiz.
JUÍZO DE RETRATAÇÃO NA APELAÇÃO: O novo Código de Processo Civil inaugura a possibilidade do juiz realizar uma retratação no caso de interposição de apelação contra sentença terminativa.
AO INC. VII DESSE ARTIGO APLICA­SE O ENUNCIADO DO FÓRUM PERMANENTE DE PROCESSUALISTAS CIVIS: A competência do juízo estatal deverá ser analisada previamente à alegação de convenção de arbitragem (Grupo: Arbitragem; redação revista no III FPPC­Rio) Ao inc. VII desse artigo aplica-se o enunciado do Fórum Permanente de Processualistas Civis: A alegação de convenção de arbitragem deverá ser examinada à luz do princípio da competência-competência. (Grupo: Arbitragem – enunciado aprovado por aclamação) Redação original: “Quando o juízo estatal que receber a demanda não tiver competência territorial e houver alegação de existência de convenção de arbitragem, a definição da competência do juízo estatal é prejudicial à análise da convenção de arbitragem”.
SENTENÇA PROCESSUAL E COISA JULGADA FORMAL: Como as sentenças processuais não analisam especificamente a pretensão do autor (mérito), esta pode ser objeto de discussão em outro processo, nada impedindo a sua repropositura. Trata-se de clássico exemplo onde se forma somente coisa julgada formal.
SENTENÇA DE MÉRITO: Qualquer decisão judicial que implique em qualquer uma das situações previstas nos incisos do artigo em comento. O trânsito em julgado da sentença de mérito permite a formação da coisa julgada material, impedindo que haja rediscussão em novos processos sobre a demanda que já tenha sido resolvida. A situação prevista no inciso I é verdadeiramente uma sentença de mérito (pronunciamento sobre a exata pretensão do autor ou do réu). 
FALSAS SENTENÇAS DE MÉRITO: Os incisos II e III do art. 487, versam sobre prescrição, decadência e sobre atos das partes (de uma ou de ambas) e não propriamente sobre julgamentos do mérito, pois o juiz não julga propriamente a pretensão do autor ou do réu. Nestas hipóteses ou o juiz reconhece a perda do direito de ação ou do próprio direito em razão de decurso de lapso temporal sem o seu devido exercício ou apenas homologa ato praticado pela parte, analisando apenas sua parte forma. 
DEVER DE CONSULTA E COLABORAÇÃO: Assim como em inúmeras outras passagens do novo Código de Processo Civil, nesta aparece mais uma vez menção ao modelo cooperativo de processo civil. O juiz, pelo dever de consulta, antes de reconhecer a prescrição ou a decadência deve sempre dar às partes a possibilidade de se manifestar em favor ou não do acolhimento destes institutos.
FAVORECIMENTO AO JULGAMENTO DO MÉRITO: O novo Código de Processo Civil positivou uma ideia já há muito tempo defendida: a de preferência pelo julgamento de mérito no lugar da extinção sem resolução dele. Segundo o artigo em comento, sempre que possível o juiz deve sentenciar a causa resolvendo o mérito, ainda que seja possível a extinção dela sem resolução do mérito.
DOS ELEMENTOS E DOS EFEITOS DA SENTENÇA
Ao §2º do art. 489 do NCPC aplica-se o enunciado do Fórum Permanente de Processualistas Civis: Considera-se omissa a decisão que não justifica o objeto e os critérios de ponderação do conflito entre normas. (Grupo: Sentença, coisa julgada e ação rescisória). 
A despeito do novo Código de Processo Civil ter excluído a expressão “decisão concisa”(art. 490), é importante ressaltar a importância de que toda e qualquer decisão (decisão interlocutória ou sentença) do juiz dada no processo deve ser apresentada da forma mais concisa possível, privilegiando sempre o conteúdo e a inteligibilidade de seu pronunciamento. A linguagem deve primar sempre pela simplicidade. Isso não quer dizer que a decisão deva ser incompleta ou lacônica. A fundamentação deve ser breve, mas ao mesmo tempo suficiente para garantir que não se tenha sido violada nenhuma garantia constitucional. 
No que se refere ao mérito do processo, o novo Código de Processo Civil parece adotar de uma vez por todas a teoria de que este é o equivalente ao pedido feito pela parte, não entrando no conceito de mérito o instituto da causa de pedir.
O pedido de condenação de pagar quantia, ainda que seja formulado de forma genérica, deve ser concedido de forma líquida quanto do proferimento da decisão. Isto é, em demandas que envolva pagamento de quantia, sendo reconhecido o an debeatur (se há ou não a obrigação), deve também desde logo proceder-se com a identificação do quantum debeatur (o valor da obrigação). O novo Código de Processo Civil buscou privilegiar as decisões que não dependam de fase de liquidação. 
É sabido que nem sempre será possível proferir decisões cujo conteúdo seja já totalmente delimitado. Isto é, em casos excepcionais, conforme previsão do próprio artigo em comento, a decisão poderá definir somente o na debeatur, deixando para uma fase posterior sua liquidação para o encontro do quantuam debeatur. Essa previsão busca facilitar e tornar mais célere a prestação jurisdicional quando impossível ou difícil a apuração do montante devido naquele exato momento.
A sentença deve ser uma resposta exata ao pedido do autor. Dessa forma, os limites da demanda e da causa de pedir são fixados pelo autor. Ao juiz é vedado ultrapassar esses limites, o qual não deverá proferir sentença concedendo ao autor bem da vida diverso (extra petita), em quantidade superior (ultra petita) ou inferior (infra ou citra petita) ao objeto do processo. Isso não quer dizer que não seja lícito ao juiz julgar parcialmente procedente a demanda. O que isso significa é que ele deve decidir todos os pontos. (Art. 492) 
Assim como o pedido deve ser certo e determinado (ou determinável), a sentença também deve. A certeza traduz-se na individualização do objeto em seus elementos (ex. aquele contrato de compra e venda do imóvel x, localizado no endereço y). Por sua vez, a determinação ou liquidez traduz a quantificação do objeto individualizado (z garrafas do vinho da uva sangiovese do produtor s).
Após a estabilização da demanda com a fixação de seus limites objetivos e subjetivos, é possível que surja algum direito superveniente que consista no advento de um fato ou direito que influa diretamente no julgamento do processo. Tal direito superveniente deve ser levado em consideração tanto em favor do autor, como em favor do réu (como no caso de perda superveniente do interesse de agir, por exemplo). 
O novo Código de Processo Civil adotou como modelo de estrutura do processo o modelo cooperativo, também denominado de modelo baseado na colaboração processual. Uma das bases de sustentação deste modelo é o dever de consulta do magistrado. Isto quer dizer que sempre que for proferir algum tipo de decisão com base em algo que não foi discutido pelas partes e por ele anteriormente, deve dar oportunidade a elas de se manifestarem para que possam exercer influência na formação do seu convencimento.
No que tange a alteração da sentença de ofício (art. 494), é lícito ao juiz alterar sua própria sentença de ofício (ou a requerimento da parte) desde que o faça para correção de erros materiais ou erros de cálculo. 
 Ainda que a sentença tenha transitado em julgado é lícito ao juiz de ofício (e às partes requererem) a correção de sentença que contenha erro de cálculo (STJ, 1ªT., REsp. n. 1.176.216SP, rel. Min. Luiz Fux, j. 4.11.10, p. 17.11.10, v.u.; STJ, 3ªT., REsp. n. 21.288, rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 16.6.92, p. 3.8.92, v.u.). 
O juiz também pode alterar sua sentença para corrigir eventual obscuridade, contradição ou omissão com a oposição de embargos de declaração, independentemente ou não da consequência que tal alteração irá trazer para o resultado final da decisão. O efeito infringente dos embargos de declaração não é motivo para sua rejeição, desde que tal efeito seja decorrente de uma alteração necessária em razão da correção do vício sanado pela via dos embargos declaratórios.
A hipoteca judiciária é um direito real dado ao credor sobre imóveis do perdedor da demanda (devedor), constituindo dessa maneira uma garantia para o recebimento do crédito que faça jus. Trata-se de um verdadeiro efeito secundário da sentença e que visa ao resguardo dos interesses do credor contra eventual possibilidade de descumprimento da ordem judicial pelo devedor e ocorrência de fraude. 
A eficácia da medida de hipoteca judiciária é independente da existência ou não de recurso com efeito suspensivo. Assim, ainda que haja apelação para ser julgada, a sentença favorável ao credor já poderá ser averbada na matrícula de imóvel de propriedade do devedor. Em caso de reforma da decisão, tal registro deve ser retificado.
DA REMESSA NECESSÁRIA
Conforme art. 496 do aludido diploma, toda e qualquer sentença de mérito proferida em desfavor do Estado e que não se enquadre nas exceções apresentadas no artigo em comento fica sujeito ao seu reexame pelo juízo de grau superior àquele em que ela foi proferida (duplo grau de jurisdição). Dessa maneira, é necessário que o litígio seja reapreciado em segundo grau de jurisdição para que a sentença desfavorável ao Estado passe a surtir efeitos. Em uma linguagem mais rasteira, seria uma apelação independentemente da vontade das partes. O reexame necessário não se aplica às sentenças processuais ou terminativas, pois elas não impedem que o Estado revisite a questão quando da propositura de uma nova demanda, sanado o vício que levou a anterior à extinção. O único prejuízo ao qual estará sujeito o Estado é o pagamento das verbas sucumbenciais, se o caso.
1 O JULGAMENTO NAS AÇÕES DE FAZER, NÃO FAZER E DE ENTREGAR COISA
Na sentença - e por consequência em todos os pronunciamentos decisórios proferidos em ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer o art. 497, caput, do Novo CPC, substancialmente, repete o art. 461, caput, do CPC/1973 ao prever que o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
A modificação redacional continua a levar a crer que a tutela específica e o resultado equivalente são espécies diferentes de tutela jurisdicional, quando, na realidade, a liberdade concedida ao juiz para a obtenção do resultado prático equivalente é voltada justamente para a obtenção da tutela específica dos direitos materiais. 
2 TUTELA INIBITÓRIA
A tutela inibitória é sempre voltada para o futuro, com o porvir, tendo como objetivo impedir a prática de um ato ilícito, o que pode ocorrer de três formas: (a) evitar a prática originária do ato ilícito, ou seja, impedir em absoluto a ocorrência de tal ato, hipótese na qual a tutela preventiva será conhecida como tutela inibitória pura; (b) impedir a continuação do ato ilícito, na hipótese de ato ilícito continuado; (c) impedir a repetição de prática de ato ilícito.
Importante notar que, mesmo que exista ato ilícito já praticado, a tutela inibitória não é voltada para essa realidade, que já faz parte do passado e, portanto, será objeto da tutela reparatória. Sempre voltada para o futuro, a tutela inibitória não diz respeito, tampouco gera seus efeitos sobre aquilo que já ocorreu.
A tutela inibitória, apesar de reconhecer o passado, é sempre voltada para o futuro, deixando o já ocorrido a cargo da tutela reparatória. É interessante anotar, inclusive, que a tutela inibitória e a tutela reparatóriapodem ser objeto de pretensão de um mesmo demandante num mesmo processo. O Ministério Público pode pedir a condenação do réu a parar com a poluição e a reparar o meio ambiente já lesado pela prática do ato ilícito, enquanto uma empresa pode pedir a proibição de veiculação de propaganda ofensiva a seu nome, bem como a condenação pelos danos já suportados pela propaganda já veiculada.
	A tutela inibitória surge historicamente com o objetivo de tutelar direitos materiais que não encontravam na tutela reparatória uma proteção plena, ou, ainda pior, nenhuma proteção. Sendo promessa constitucional, a inafastabilidade da tutela jurisdicional (art. 5°, XXXV, da CF), notou-se a imprescindível necessidade de admitir uma tutela ampla e genérica capaz de proteger esses direitos materiais de forma efetiva. 
Direitos tais como: o da integridade física, personalidade, saúde, meio ambiente, patrimônio histórico, entre outros, não encontram na tutela reparatória concretização da promessa constitucional de que nenhum direito agredido ou afrontado será excluído do Poder Judiciário. A fim de fazer valer a inafastabilidade da jurisdição, é aceita a ideia de uma tutela inibitória geral.
Fala-se em tutela inibitória geral porque essa espécie de tutela é antiga conhecida de nosso ordenamento jurídico, mas tradicionalmente era tratada de forma específica, prevista somente para tutelar algumas situações determinadas. O mandado de segurança preventivo, o interdito proibitório, a ação cominatória, são exemplos de tradicionais espécies de tutela inibitória específica de nosso sistema. Atualmente, a tutela inibitória geral é uma realidade incontestável de nosso direito processual em virtude das previsões contidas nos arts. 84 do CDC e 497 do Novo CPC.
Ainda que se admita que a tutela inibitória surja para preencher um vácuo deixado pela tutela reparatória, estando voltada para determinados direitos materiais que necessitavam de uma proteção preventiva por meio da jurisdição, logo se notou que, mesmo naqueles casos em que é possível e eficaz a tutela reparatória, pode ser preferível a tutela inibitória. Aplica-se, no âmbito jurídico, um antigo e conhecido brocardo popular: “melhor prevenir do que remediar”. 
Não é correto falar de preferência de uma espécie de tutela, mas é indiscutível que mesmo naquelas situações em que cabível a tutela reparatória, pode, a parte, sempre que possível, optar pela tutela inibitória.
3 TUTELA DE REMOÇÃO DO ILÍCITO
Cumpre lembrar a tese inteligentemente defendida por Marinoni que diferencia a tutela inibitória da tutela de remoção do ilícito, reconhecendo que ambas são tutelas preventivas, voltadas para o futuro. 
Para o processualista paranaense, existe uma diferença entre efeitos continuados do ato ilícito e a prática continuada do ilícito. Na hipótese de o ato ser continuado, é possível imaginar uma tutela que impeça sua continuação, sendo o caso de tutela inibitória. 
Por outro lado, é possível que o ato ilícito faça parte do passado, não mais existindo, o que não se pode afirmar quanto aos seus efeitos, que continuam a ser gerados. Nessa hipótese, não se pode falar em evitar a continuação do ato porque o ato ilícito já foi praticado na sua totalidade, por exemplo, no caso de uma propaganda enganosa que já foi realizada e continua a gerar seus efeitos. Será o caso de tutela de remoção do ilícito.
4 AÇÃO DE ENTREGAR COISA CERTA
Na ação que tenha como objeto o cumprimento de uma obrigação de entregar coisa, a concessão de tutela específica significa justamente a tutela capaz de entregar a coisa pretendida ao autor. Nesse caso, antes de aplicar as medidas executivas para que sua decisão seja devidamente cumprida, cabe ao juiz fixar um prazo para o cumprimento da obrigação.
O juiz ao fixar o prazo previsto no caput do art. 498 do Novo CPC deve atentar para a complexidade da obrigação a ser cumprida pelo destinatário da decisão judicial. Tratando- -se de prazo judicial, na omissão do juiz em fixá-lo no caso concreto, aplica-se o art. 218, § 3o, do Novo CPC, ou seja, o prazo será de 5 dias.
Coisa incerta deve ser considerada coisa indeterminada - mas determinável -, em que a escolha tem a sua importância em razão da diferente qualidade entre os bens que poderão ser escolhidos. Recaindo a obrigação de entregar sobre coisa incerta, é preciso individualizar a coisa que será objeto do cumprimento da obrigação. O art. 498, parágrafo único, do Novo CPC, trata justamente dessa hipótese.
Caso caiba, ao autor, a escolha, por previsão contratual ou legal, a individualização já deve ser realizada na petição inicial. Cabendo a escolha ao réu, ele a individualizará ao entregar a coisa cm juízo, no cumprimento da decisão judicial no prazo fixado pelo juiz.
Diz o artigo 499 que obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.
Tomando-se por base o critério da coincidência de resultados gerados pela prestação da tutela jurisdicional com os resultados que seriam gerados pela satisfação voluntária da obrigação, a tutela jurisdicional pode ser classificada em tutela específica e tutela pelo equivalente em dinheiro. 
Na primeira, a satisfação gerada pela prestação jurisdicional é exatamente a mesma que seria gerada com o cumprimento voluntário da obrigação, enquanto na segunda, a tutela jurisdicional prestada é diferente da natureza da obrigação e, por consequência, cria um resultado distinto daquele que seria criado com a sua satisfação voluntária.
A tutela inibitória é sempre tutela específica porque, ao evitar a prática do ato ilícito, obtém-se o status quo ante, conseguindo o demandante a criação de uma situação que será exatamente a mesma que seria criada caso o demandado tivesse voluntariamente deixado de praticar o ato ilícito. O resultado da tutela inibitória sempre será idêntico àquele que seria criado com o voluntário cumprimento da obrigação.
Já a tutela reparatória pode ser prestada de forma específica (reparação in natura) ou pelo equivalente em dinheiro, dependendo do caso concreto. Tratando-se de obrigação inadimplida de pagar quantia certa, naturalmente a única forma de a tutela ser prestada será mediante a entrega do valor, sendo correto entender que a única forma de tutela possível nesse caso é a específica, porque, se a obrigação já é de pagar dinheiro, não seria correto dizer que a tutela foi prestada pelo equivalente em dinheiro. 
O dinheiro é dinheiro e não o “equivalente em dinheiro”. Registre-se apenas a atipicidade gerada pela adjudicação de bens, considerando-se que, nesse caso, a obrigação de pagar quantia certa gera a satisfação do credor por meio da entrega do bem penhorado. Nesse caso, como é evidente, não se pode falar em identidade com o cumprimento voluntário da obrigação e, tampouco, em tutela pelo equivalente em dinheiro.
Tratando-se de obrigação inadimplida de fazer, não fazer e entrega de coisa, passa a ser possível a tutela ser prestada tanto de forma específica como pelo equivalente por dinheiro.
Nas obrigações de fazer e de não fazer, o essencial é verificar a natureza do inadimplemento. Sendo o inadimplemento definitivo, o que significa dizer que não existe mais a possibilidade de cumprimento da obrigação, a única tutela jurisdicional possível será a tutela pelo equivalente em dinheiro. 
Caso ainda exista a possibilidade de cumprimento, quando haverá somente um retardamento no cumprimento da prestação, a tutela poderá ser prestada de forma específica, desde que esse ainda seja o interesse do credor. Nas obrigações de entregar coisa, deve ser analisada a possibilidade de a coisa, objeto da obrigação, ser entregue por meio do processo ao demandante. 
Sendo isso materialmente possível, caberá tutela específica; em caso contrário, a única tutela cabível será pelo equivalente em dinheiro. Naturalmente que, tratando-se de coisa fungível, a entrega de qualquer bem de mesma condição gera tutela específica, porque nessa espéciede obrigação não há preocupação com o bem exatamente individualizado, mas sim com as suas características gerais.
5 CUMULAÇÃO DA INDENIZAÇÃO EDA MULTA
O art. 500 do Novo CPC é absolutamente correto ao prever que serão cumuláveis os valores referentes à indenização por perdas e danos e os valores gerados pela multa cominatória (astreintes) no caso de descumprimento da obrigação. O dispositivo, corretamente, considera a diferente natureza dessas verbas, já que enquanto a primeira tem natureza reparatória, ressarcindo a parte pelos danos que suportou, a segunda é uma medida executiva, que tem como objetivo pressionar a parte contrária ao cumprimento de uma obrigação.
Dessa forma, devem ser somados os valores obtidos na conversão em perdas e danos quando a parte abre mão da tutela específica e parte para a tutela por equivalente em dinheiro, com os valores gerados pela multa no caso de descumprimento de tal obrigação, o que obviamente ocorrerá, já que se a obrigação for cumprida não haverá sua conversão em perdas e danos.
Registre-se que, havendo a conversão da obrigação em perdas e danos, a multa imediatamente deixa de incidir, de forma que o cálculo de seu valor tomará como termo final tal conversão.
6 AÇÃO POR OBJETO EMISSÃO DE DECLARAÇÃO DE VONTADE
Entre as obrigações infungíveis, existem aquelas que são naturalmente infungíveis, decorrência da característica pessoal do devedor, e aquelas em que a fungibilidade é apenas jurídica, decorrente de algum princípio jurídico, podendo o ordenamento criar mecanismo para a obtenção de resultado prático equivalente ao adimplemento da obrigação.
A obrigação de emitir declaração de vontade é de natureza infungível, mas essa é uma infungibilidade meramente jurídica, sendo possível - e até mesmo aconselhável - que o ordenamento disponha de regras que permitam a substituição da declaração de vontade por uma decisão judicial, gerando-se os mesmos efeitos daquela.
 É justamente isso que faz o ordenamento processual no artigo ora comentado, prevendo que a sentença produz os mesmos efeitos que a declaração teria produzido se emitida pelo executado, o que basta para a satisfação do direito, considerando-se que, nesse caso, o autor não tem interesse na atividade do réu em si, mas na produção de seus efeitos, o que pode ser obtido por meio de decisão judicial.
7 COISA JULGADA FORMAL E MATERIAL
O Novo Código de Processo Civil, em seu art. 502, que conceitua a coisa julgada, substitui uma palavra e uma expressão do art. 467 do CPC/1973. Em vez de prever que a coisa julgada é a eficácia da sentença que a torna imutável e indiscutível, o dispositivo legal sugerido menciona a autoridade da sentença. Acredito que a substituição do termo “eficácia” por “autoridade” busca deixar clara a distinção entre coisa julgada e efeitos da decisão. Substitui também “sentença” (espécie) por “decisão de mérito” (gênero), o que deve ser elogiado, considerando-se que sempre houve outras decisões de mérito aptas a transitar em julgado e produzir coisa julgada material, como as decisões monocráticas finais de relator e acórdãos de tribunal. Por outro lado, o dispositivo implicitamente reconhece a existência de decisões interlocutórias de mérito, com capacidade de geração de coisa julgada material.
Em todo processo, independentemente de sua natureza, haverá a prolação de uma sentença (ou acórdão nas ações de competência originária dos tribunais), que em determinado momento torna-se imutável e indiscutível dentro do processo em que foi proferida.
 Para tanto, basta que não seja interposto o recurso cabível ou ainda que todos os recursos cabíveis já tenham sido interpostos e decididos. Na excepcional hipótese de aplicação do art. 496 do Novo CPC, ainda que não seja interposta apelação contra a sentença, haverá o reexame necessário, de forma que o processo só chegará ao seu final, após essa análise obrigatória da decisão pelo tribunal de segundo grau. A partir do momento em que não for mais cabível qualquer recurso ou tendo ocorrido o exaurimento das vias recursais, a sentença transita em julgado.
Esse impedimento de modificação da decisão por qualquer meio processual, dentro do processo em que foi proferida, é chamado tradicionalmente de coisa julgada formal, ou ainda depreclusão máxima, considerando-se tratar de fenômeno processual endoprocessual. Como se pode notar, qualquer que seja a espécie de sentença - terminativa ou definitiva - proferida em qualquer espécie de processo - conhecimento (jurisdição contenciosa e voluntária), execução, cautelar - haverá num determinado momento processual o trânsito em julgado e, como consequência, a coisa julgada formal.
Se todas as sentenças produzem coisa julgada formal, o mesmo não pode ser afirmado a respeito da coisa julgada material. No momento do trânsito em julgado e da consequente geração da coisa julgada formal, determinadas sentenças também produzirão, nesse momento procedimental, a coisa julgada material, com projeção para fora do processo, tornando a decisão imutável e indiscutível além dos limites do processo em que foi proferida. Pela coisa julgada material, a decisão não mais poderá ser alterada ou desconsiderada em outros processos.
Essa imutabilidade gerada para fora do processo, resultante da coisa julgada material, atinge tão somente as sentenças de mérito proferidas mediante cognição exauriente, de forma que haverá apenas coisa julgada formal nas sentenças terminativas ou mesmo em sentenças de mérito, desde que proferidas mediante cognição sumária, como ocorre para a maioria doutrinária na sentença cautelar. Como se nota, a coisa julgada material depende da coisa julgada formal, mas o inverso não acontece.
8 RESOLUÇÃO DA QUESTÃO PREJUDICIAL
Nos termos do art. 503, caput, do Novo CPC, a decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida. Essa é a regra, excepcionada pelo § l.°, que permite que a coisa julgada material alcance a resolução da questão prejudicial, decidida expressa e incidentemente no processo. A expressa menção à decisão expressamente decidida impede a coisa julgada implícita de decisão que resolve a questão prejudicial.
Correta a conclusão do Enunciado 165 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC), de que a coisa julgada da decisão da questão prejudicial independe de pedido expresso da parte, bastando para que ocorra o preenchimento dos requisitos legais. Também, correta a conclusão do Enunciado 313 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC) no sentido de que os requisitos legais para a formação da coisa julgada, na circunstância ora analisada, são cumulativos.
Havendo, no processo, questão prejudicial, o juiz obrigatoriamente a decidirá antes de resolver o mérito, mas, para que essa decisão gere coisa julgada material, devem ser observados, no caso concreto, os requisitos previstos pelos incisos do art. 503, § l.°, do Novo CPC. O § 2o do mesmo dispositivo funciona como requisito negativo.
Não me oponho à opção do projeto de estender a autoridade da coisa julgada à decisão da questão prejudicial, mas desconsiderar que ela faça parte dos motivos da decisão é ficção jurídica com a qual não estou disposto a conviver. Dessa forma, a questão prejudicial será resolvida na fundamentação da decisão, mas excepcionalmente fará coisa julgada material desde que preenchidos os requisitos legais.
Nos termos do art. 503, § 1°, I, do Novo CPC, a resolução da questão prejudicial só faz coisa julgada se dessa resolução depender o julgamento do mérito. Justamente em razão do próprio conceito de questão prejudicial, é preciso se interpretar o dispositivo legal de forma que se dê a ele alguma utilidade prática.
Sou adepto da distinção entre questão preliminar e prejudicial pela sua natureza, versando a primeira sobre direito processual e a segunda, sobre direito material. 
	Ocorre, entretanto, que o tema é controvertido na doutrina e, para aqueles que entendem pela possibilidade de questão prejudicial processual,o art. 503, § Io, I, do Novo CPC é aplicável para afastar a coisa julgada de sua resolução.
Por outro lado, também é possível aplicar-se o dispositivo para afastar a coisa julgada de questão prejudicial resolvida obiter dictum, ou seja, que o julgar decida apenas como exercício de retórica, apenas para completar seu raciocínio decisório, sem, portanto, desempenhar papel fundamental da formação da decisão.
	O art. 504 do Novo CPC, com desnecessárias repetições, confirma que somente o dispositivo torna-se imutável e indiscutível em razão da coisa julgada material, prevendo que não fazem coisa julgada: (I) os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; (II) a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença.
Na realidade, os motivos e a verdade dos fatos fazem parte da fundamentação da sentença, e por isso não produzem coisa julgada material. Não precisaria ser dito tanto para dizer tão pouco; bastaria ao dispositivo apontar sem rodeios que somente o dispositivo da sentença faz coisa julgada material. Ou seja, somente o dispositivo da sentença produz coisa julgada. 
O art. 505, caput, do Novo CPC, consagra a regra do sistema processual: já tendo o juiz decidido a causa, ela não poderá ser decidida novamente, nem por ele mesmo nem por outro juiz. A norma vem a corroborar os efeitos negativos e positivos da coisa julgada material. Os incisos do dispositivo legal, entretanto, preveem, ao menos aparentemente, exceções à regra consagrada no caput do dispositivo.
A imutabilidade gerada pela coisa julgada material impede que a mesma causa seja novamente enfrentada judicialmente em novo processo. Por mesma causa, entende-se a repetição da mesma demanda, ou seja, um novo processo com as mesmas partes (ainda que em polos invertidos), mesma causa de pedir (próxima e remota) e mesmo pedido (imediato e mediato) de um processo anterior já decidido por sentença de mérito transitada em julgado, tendo sido gerada coisa julgada material. 
O julgamento no mérito desse segundo processo seria um atentado à economia processual, bem como fonte de perigo à harmonização dos julgados. Na realidade, mesmo que a segunda decisão seja no mesmo sentido da primeira, nada justifica que a demanda prossiga, sendo o efeito negativo da coisa julgada o impedimento de novo julgamento de mérito, independentemente do seu teor.
Importante salientar que nessa análise entre diferentes processos, deve-se considerar a parte no sentido material, e não no sentido processual, de forma que, havendo substituição processual em hipótese de legitimação extraordinária concorrente, a propositura de novo processo com a mesma parte contrária, mesma causa de pedir e mesmo pedido, ainda que com outra parte processual defendendo o mesmo direito, já defendido anteriormente, não afasta o efeito negativo da coisa julgada. 
No caso de ações civis públicas movidas pelo Ministério Público e por uma associação, contra o mesmo réu, com uma mesma causa de pedir e um mesmo pedido, serão consideradas dois processos com a mesma ação.
Havendo a modificação de qualquer um desses elementos da demanda, ainda que parcialmente (p. ex., novos fatos jurídicos com a manutenção da mesma fundamentação jurídica), afasta-se qualquer impedimento ao novo julgamento, considerando-se tratar de nova demanda, ainda que consideravelmente parecida com aquela que já foi julgada e cuja decisão está protegida pela coisa julgada material.
9 COISA JULGADA E EFEITOS DA DECISÃO
A doutrina, acertadamente, ensina que todos os sujeitos - partes, terceiros interessados e terceiros desinteressados - suportam naturalmente os efeitos da decisão, mas a coisa julgada os atinge de forma diferente. As partes, inclusive o Ministério Público quando participa do processo como fiscal da ordem jurídica está vinculada à coisa julgada, os terceiros interessados sofrem os efeitos jurídicos da decisão, enquanto os terceiros desinteressados sofrem os efeitos naturais da sentença, sendo que em regra nenhuma espécie de terceiro suporta a coisa julgada material. 
A eficácia inter partes justificava-se em razão dos princípios da ampla defesa e do contraditório, não sendo plausível que a sentença de mérito se tornasse imutável e indiscutível para sujeito que não participou do processo.
 Essa justificativa só tinha algum sentido quanto aos terceiros interessados (que têm interesse jurídico na causa), porque no tocante aos terceiros desinteressados (não mantêm nenhuma relação jurídica interdependente com a relação jurídica objeto da demanda), número infinito de pessoas, faltaria interesse processual para discutir a decisão transitada em julgado, de forma que a sua imutabilidade torna-se uma consequência natural da impossibilidade processual de modificar a decisão.
10 PRECLUSÃO E EFICACIA
Não há dúvida de que a preclusão é instrumento para evitar abusos e retrocessos e prestigiar a entrega de prestação jurisdicional de boa qualidade. A preclusão atua em prol do processo, da própria prestação jurisdicional, não havendo qualquer motivo para que o juiz não sofra seus efeitos, pelo menos na maioria das situações.
Tradicionalmente, a preclusão é classificada em três espécies: a consumativa, a lógica e a temporal.
A preclusão consumativa se verifica sempre que realizado o ato processual. Dessa forma, somente haverá oportunidade para realização do ato uma vez no processo e, sendo esse consumado, não poderá o interessado realizá-lo novamente e tampouco complementá-lo ou emendá-lo. 
Na preclusão lógica, o impedimento de realização de ato processual advém da realização de ato anterior incompatível logicamente com aquele que se pretende realizar. Exemplo clássico dessa espécie de preclusão é a aquiescência prevista no art. 1.000 do Novo CPC, que extingue o direito da parte de recorrer quando pratica ato de concordância, expressa ou tácita, com a decisão.
A preclusão temporal pode ser excepcionalmente afastada diante do descumprimento de um prazo próprio se a parte convencer o juiz de que não praticou o ato processual por justa causa, ou seja, em razão de evento alheio à vontade da parte, suficiente para impedir a ela ou a seu mandatário de praticar o ato processual. 
O art. 508 do Novo CPC prevê que com o trânsito em julgado considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia ter levado ao processo para fundamentar tanto o acolhimento como a rejeição do pedido. Trata-se da eficácia preclusiva da coisa julgada.
É simples entender a regra quando aplicada para as possíveis alegações de defesa do réu. Havendo mais de uma matéria defensiva, caberá ao réu apresentá-las em sua totalidade, não lhe sendo possível ingressar com outra demanda, arguindo matéria de defesa que deveria ter sido apresentada em processo já extinto com coisa julgada material. 
O réu que alega somente o pagamento de dívida e vem a ser condenado a pagá-la não poderá ingressar com outro processo alegando a prescrição e requerendo a repetição de indébito, porque a alegação de prescrição deveria ter sido elaborada como matéria de defesa do primeiro processo.
Aplicada ao autor, a regra da eficácia preclusiva da coisa julgada gera maior controvérsia. A parcela majoritária tem o entendimento que parece ser o mais correto: a eficácia preclusiva da coisa julgada atinge tão somente as alegações referentes à causa de pedir que fez parte da primeira demanda, porquanto alegado outro fato jurídico ou outra fundamentação jurídica, não presentes na primeira demanda, afasta-se do caso concreto a tríplice ideíítidade, considerando-se tratar-se de nova causa de pedir.
Alegada a falta de pagamento na ação de despejo e sendo julgado o pedido improcedente, é admissível uma nova ação de despejo fundada em danos causados ao imóvel locado.
Outra parcela doutrinária entende que a eficácia preclusiva da coisa julgada é mais ampla, atingindo alegações alheias à causa de pedir presente na demanda que produziu coisa julgada material. Para essa parcela da doutrina, o art.508 do Novo CPC atinge todos os fatos jurídicos deduzíveis na ação, o que naturalmente o faz atingir inclusive fatos jurídicos alheios à causa de pedir narrada pelo autor.
É possível ainda indicar uma terceira corrente doutrinária, intermediária entre as duas mais comuns, que entende que a eficácia preclusiva da coisa julgada atinge todos os fatos da mesma natureza conducentes ao mesmo efeito jurídico, mas não fatos de natureza diversa ou fatos de mesma natureza que produzam efeitos jurídicos diversos.
11 LIQUIDAÇÃO
Não resta dúvida de que a atividade desenvolvida na liquidação da sentença tem natureza cognitiva, já que nela não são praticados atos de execução. Na realidade, excepcionalmente a atividade cognitiva é dividida em duas fases: na primeira há a fixação do an debeatur e na segunda do quantum debeatur.
 A divisão dessa atividade em duas fases não é, naturalmente, capaz de afastar a sua natureza jurídica cognitiva.
A lição, tradicional e que não encontra resistência, é importante para justifica a opção do Novo Código de Processo Civil em não prever a liquidação da sentença no Livro II, destinado à execução. A liquidação de sentença vem prevista no Capitulo XIV do Título I. 
 Compreende-se a opção do legislador porque, além da natureza não executiva da liquidação de sentença, por vezes a atividade cognitiva nela desenvolvida gera justamente a frustração da execução.
Liquidar uma sentença significa determinar o objeto da condenação, permitindo-se assim que a demanda executiva tenha início com o executado sabendo exatamente o que o exequente pretende obter para a satisfação de seu direito. Apesar de ser pacífico na doutrina esse entendimento, há uma séria divergência a respeito de quais as obrigações que podem efetivamente ser liquidadas.
O único dispositivo legal que prevê o procedimento da liquidação por arbitramento é o art. 510 do Novo CPC, sendo totalmente omisso quanto ao início dessa espécie de liquidação. A formalidade desse início dependerá do momento processual: sendo a liquidação uma fase incidental, o início se dará por meio de mero requerimento, enquanto se a liquidação der início ao processo sincrético, deverá haver uma petição inicial, nos termos do art. 319 do Novo CPC.
O dispositivo legal, ora comentado, é omisso quanto à possibilidade de apresentação de defesa pelo demandado, prevendo apenas a intimação das partes para a apresentação de pareceres ou documentos elucidativos.
Decorrido o prazo de 5 dias, caso o demandado tenha apresentado defesa, o juiz deverá, sempre que possível, resolvê-la de plano. Sendo acolhida alguma defesa peremptória (por exemplo, inadequação da forma de liquidação), a liquidação será extinta, e, sendo acolhida alguma defesa dilatória (por exemplo, incompetência do juízo), as medidas cabíveis serão tomadas. Sendo rejeitada a defesa, ou não tendo sido apresentada, o juiz, nos termos do art. 510 do Novo CPC, intimará as partes para a apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, tendo tal medida o objetivo de municiar o juiz de elementos de convicção suficientes para a prolação de decisão, fixando o valor devido sem a necessidade da realização da perícia. 
Apesar da nobre intenção do legislador, considerando-se o custo e demora da prova pericial, a experiência no tocante ao tema não é animadora, considerando-se a extrema raridade na praxe forense da dispensa da perícia motivada por documentos apresentados pelas partes.
Para a alegação e prova de um fato novo, a liquidação em muito se assemelha a um processo - ou fase procedimental - de conhecimento, tanto assim é que o art. 511 do Novo CPC prevê que após a intimação do requerido e do transcurso de seu prazo de 15 dias para a contestação será observado, no que couber, o disposto no Livro I da Parte Especial do diploma processual.
Em virtude da própria complexidade dessa espécie de liquidação de sentença, após a intimação/citação do demandado, sempre na pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, a resposta do requerido poderá ser a mais ampla possível, dentro apenas dos limites do procedimento estabelecido. 
Apesar de certa divergência quanto à possibilidade de o demandado responder à sua intimação/citação com intervenções de terceiros ou reconvenção, o que me parece admissível desde que haja, no caso concreto, o preenchimento dos requisitos legais (o que certamente se mostrará difícil), não resta muita dúvida de que a contestação poderá ser a mais ampla possível, com defesas processuais dilatórias e peremptórias e defesas de mérito direta e indireta.
Diferente da liquidação por arbitramento, na qual não há fatos novos que precisem de prova, de forma que não há nenhuma lógica em falar em presunção de veracidade dos fatos alegados pelo demandante diante da ausência de defesa do demandado, na liquidação ora analisada a situação é outra. Nessa espécie de liquidação, o demandante indica expressamente em sua peça inaugural - petição inicial ou requerimento - quais são os fatos que pretende provar como verdadeiros para chegar à fixação do quantum debeatur, de forma que a ausência de defesa do demandado, configura sua revelia e, ainda mais importante, a geração de presunção de que os fatos que o demandante pretendia provar são verdadeiros.
Deve-se recordar que a liquidação pelo procedimento comum, conforme já afirmado, é uma verdadeira fase de conhecimento de cognição limitada, seguindo o procedimento comum, donde se pode concluir que tudo o que se aplica em fase de conhecimento que siga o procedimento comum deva também se aplicar à liquidação pelo procedimento comum, outrora chamada de liquidação por artigos.
 Esse pensamento, naturalmente, se estende à revelia, em especial quanto à presunção de veracidade dos fatos alegados, até porque, quanto à desnecessidade de intimação, não haverá a geração de tal efeito, pois, uma vez representado nos autos, o demandado será regularmente intimado por meio de seu advogado.
O art. 512 do Novo CPC permite a liquidação da sentença ainda que no processo exista pendente de julgamento um recurso que tenha sido recebido no efeito suspensivo. Parece que nesse ponto o legislador incluiu ao lado de outros fenômenos processuais - a hipoteca judiciária é o mais tradicional deles a liquidação como um dos efeitos secundários da sentença, ou seja, aquele efeito que é gerado automaticamente com a prolação da sentença, independentemente de pedido expresso do demandante ou da pendência de recurso com efeito suspensivo.
fase procedimental, ainda que excepcionalmente, nesse caso, ela se desenvolva concomitantemente com a fase cognitiva em sede recursal.
A liquidação de sentença, a exemplo do que ocorre no cumprimento de sentença, só ocorrerá mediante provocação da parte interessada, ainda mais na hipótese de liquidação provisória, na qual 0 demandante assume todos os riscos de começar a liquidar uma sentença que poderá ser modificada pelo recurso pendente de julgamento. Ainda que seja aplicável na liquidação provisória, a teoria do risco-proveito, sendo a atividade desenvolvida de natureza cognitiva, sem atos de constrição de bens ou de restrição de direitos, o risco que o autor corre é infinitamente menor do que aquele a qual se submete na execução provisória. O menor risco nesse caso se justifica porque o proveito também é menor: em vez da satisfação de seu direito, o autor obtém apenas a fixação do quantum debeatur.
O requerimento inicial - aqui também se dispensa a petição inicial -, sem maiores formalidades, deverá ser instruído com “cópias das peças processuais pertinentes”, cuja pertinência deverá ser analisada pelo demandante no caso concreto, sendo possível, mas não obrigatória, a aplicação por analogia do art. 522 do Novo CPC.
No que concerne à instrução, duas observações são interessantes: (i) as peças não precisam ser autênticas, sendo dispensável inclusive a declaração de autenticidade pelo próprio advogado, como previsto pelo art. 425, IV, do Novo CPC; (ii) eventual falha na instrução nãogera o indeferimento de plano da liquidação, devendo se conceder ao demandante a oportunidade de juntar as peças que o juiz entender indispensáveis no caso concreto.
Cumpre por fim fazer mais um registro. Já foi afirmado que o demandante assume todos os riscos de ingressar com a liquidação enquanto a decisão ainda não for definitiva. Na realidade, isso não é uma exclusividade da liquidação como efeito secundário da sentença, também havendo a aplicação da teoria do risco-proveito na liquidação realizada enquanto pendente de julgamento o recurso sem efeito suspensivo.
DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA
Em relação ao Título II, o qual se refere ao cumprimento da sentença, far-se-á precipuamente comentários às disposições gerais sobre a temática a qual está disposta do artigo 513 ao artigo 519, todos do Código de Processo Civil de 2015.
Seguindo-se a tradição de nosso sistema processual o procedimento de cumprimento de sentença receberá a aplicação supletiva, no que couber e conforme a natureza da obrigação, das regras pertinentes ao processo de execução, tais como aquelas pertinentes à responsabilidade patrimonial, a penhora, formas de expropriação, satisfação do crédito, suspenso e extinção do processo. O procedimento que busca o pagamento de quantia determinada deverá contar com o requerimento do interessado para ter início, porém nos casos de cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer, de não fazer ou de entregar coisa o procedimento poderá ser instaurado de ofício pelo juiz.
A nova legislação dedicou especial atenção ao ato de intimação do devedor para o cumprimento da sentença, adotando como regra de referência a intimação na pessoa do advogado constituído nos autos, sem afastar o recurso a outras formas, conforme descritas no § 2º do art. 513. Neste contexto merece destaque a previsão no sentido de que na hipótese do requerimento para o cumprimento da sentença vir a ser formulado somente após um ano do trânsito em julgado da sentença, a intimação respectiva será feita na pessoa do devedor. A nova codificação implementa o sistema de intimação presumida, que será aplicado quando o devedor houver mudado de endereço sem prévia comunicação do juízo, reputando- se este intimado quando o ato for efetivado por carta ou por correspondência eletrônica.
O cumprimento da sentença é direcionado ao devedor, ou seja, aquele que consta do título executivo judicial, de forma que não poderá ser direcionado em face do fiador, do coobrigado ou do corresponsável que não participou da fase de conhecimento. Estes são partes ilegítimas para o procedimento. O STJ manifestou esta orientação ao dispor no enunciado de súmula nº 268, dispondo que “o fiador que não integrou a relação processual na ação de despejo não responde pela execução do julgado”. É importante que seja evitada a confusão entre o terceiro que não consta do título executivo judicial com a condição do legitimado passivo superveniente, como é o caso do sucessor do devedor, que será considerado parte legítima para o cumprimento da sentença. Ainda há que se atentar para a possibilidade de ocorrência do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, que poderá acarretar a ampliação do polo passivo do procedimento de execução do julgado, com a inclusão de sócio (ou ex-sócio) ou administrador da pessoa jurídica devedora.
O art. 515 apresenta o rol de títulos executivos judiciais, trazendo algumas inovações em relação ao CPC de 73, a saber: (a) a inserção do crédito do auxiliar da justiça (perito, intérprete, tradutor, leiloeiro, dentre outros), quando à custa ou honorários tiverem sido aprovado por decisão judicial, (b) a decisão interlocutória estrangeira após a concessão de exequatur à carta rogatória pelo STJ, e (c) a referência expressa à autocomposição judicial poder envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo. José Miguel Garcia Medina destaca a presença de heterogeneidade no rol de títulos executivos, observando: “entre os títulos que a lei considera judiciais, há julgamentos (que condenam, ou apenas reconhecem a existência da obrigação) realizados por órgão judicial estatal e, também, por juízo arbitral. Há, também, decisões judiciais homologatórias, em que o título executivo é complexo, composto por duas manifestações (das partes e do Juiz)” (Novo Código de Processo Civil Comentado, São Paulo: RT, 2015, p. 799).
A competência para o procedimento de cumprimento de sentença é, de regra, do juízo que decidiu a causa em sede de primeiro grau de jurisdição. Entretanto, nas causas de competência originária dos tribunais – como ocorre em relação à ação rescisória - estes passam a assumir a atribuição para este procedimento. A competência dos tribunais neste caso será absoluta, mas é autorizada a possibilidade de delegação de atribuições para a prática de atos executivos aos juízos inferiores. Quando o título executivo judicial em questão for consubstanciado em sentença penal condenatória, sentença arbitral ou sentença estrangeira, o cumprimento de sentença será realizado perante o juízo cível competente.
Em interessante inovação a legislação prevê a possibilidade da sentença transitada em julgado ser levada a protesto, após o transcurso sem sucesso do prazo para pagamento voluntário. Para tanto o credor deverá apresentar no cartório de protesto certidão de teor da decisão, que será fornecida no prazo de três dias, indicando o nome e a qualificação do exequente e do executado, o número do processo, o valor da dívida e a data do decurso do prazo para pagamento voluntário. A comprovação da satisfação integral da obrigação permitirá o cancelamento do referido protesto, cabendo ao executado requerer a expedição de ofício neste sentido ao juiz do feito, dirigido ao cartório de protestos respectivo. Sérgio Seiji Shimura lembra que “se porventura a obrigação já estiver satisfeita antes do protesto, o executado tem direito à indenização pelo apontamento indevido”, acrescentando: “conforme a jurisprudência do STJ, neste caso, o dano é presumido” (Breves comentários ao novo Código de Processo Civil, Coordenadores Teresa Arruda Alvim Wambier, Fredie Didier Jr. e Bruno Dantas, São Paulo: RT, 2015, p. 1.334).
Se o executado tiver ajuizado ação rescisória em relação à decisão judicial levada a protesto, poderá requerer, as suas expensas e sob sua responsabilidade, que seja realizada anotação da propositura desta demanda à margem da sentença protestada.
Orientando-se pela simplificação dos procedimentos, a nova sistemática processual determina que todas as questões relativas à validade do procedimento de cumprimento de sentença e dos atos executivos subsequentes poderão ser arguidas pelo executado nos próprios autos e nestes serão decididas pelo juiz.
As decisões proferidas durante o procedimento de cumprimento de sentença serão impugnadas por meio do recurso de agravo de instrumento, por decorrência da previsão constante do parágrafo único do art. 1.015. Ficam ressalvadas, no entanto, as decisões que acarretem a extinção do processo ou que vier a declarar satisfeito o crédito, que propiciam o recurso de apelação.
DO CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE SENTENÇA QUE RECONHECE A EXIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA
Passar-se-á aos comentários referentes ao Capitulo II, do Título II, o qual dispõe acerca do cumprimento provisório de sentença que reconhece a exibilidade de obrigação de pagar quantia certa, estando às previsões dispostas especificamente nos artigos 520 aos 522. Seguem-se supracitados comentários: 
O cumprimento provisório de sentença poderá ser realizado, a critério do credor, nos casos em que a decisão final – sentença ou acórdão – for impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo, como é o caso dentre outras espécies, dos recursos especial e extraordinário. O procedimento então seguirá a mesma forma que o cumprimento definitivo.
A efetivação provisória da sentença que reconhece a exigibilidade da obrigação de pagar quantia certa serárealizada sob integral responsabilidade do exequente, que ficará sujeito a reparar eventuais danos causados ao executado na hipótese de sentença que motivou a execução provisória vir a ser reformada total ou parcialmente em grau recursal. Neste caso a liquidação dos danos ocorrerá nos mesmos autos.
O legislador dedicou especial atenção aos casos de levantamento do depósito em dinheiro e à prática de atos que importem transferência de posse ou alienação de propriedade ou de outro direito real, impondo a necessidade de oferta de caução suficiente e idônea, arbitrada pelo juiz e prestada nos próprios autos. Esta exigência, no entanto, é afastada (salvo quando a sua dispensa resultar manifesto risco de grave dano e de difícil ou incerta reparação) quando: (a) o crédito executado for de natureza alimentar, seja qual for a sua origem – v.g. parentesco, reparação por dano decorrente de ato ilícito, etc., (b) o credor demonstrar situação de necessidade, (c) houver agravo em recursos especial ou extraordinário pendente de julgamento e, (d) se a sentença a ser provisoriamente cumprida estiver em consonância com súmula de jurisprudência do STF ou STJ ou em conformidade com acordo proferido no julgamento de casos repetitivos.
Para afastar a incidência de multa o executado poderá, no prazo de quinze dias, depositar o valor executado, sendo que este ato não será considerado como incompatível como recurso anteriormente interposto.
CUMPRIMENTO DEFINITIVO DA SENTENÇA QUE RECONHECE A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA
No que tange ao cumprimento definitivo da sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, mencionado tema está previsto no Capítulo II, do já mencionado título II, presentes especificamente entre os artigos 523 aos 527, Código de processo Civil vigente hodiernamente. Seguem-se os comentários a matéria: 
O cumprimento definitivo de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa poderá ter início por requerimento do credor ou efetivado mediante atitude do devedor, remindo voluntariamente a dívida no prazo legalmente indicado antes de ser intimado para o pagamento.
O requerimento formulado pelo credor visando o cumprimento de sentença será instruído com o demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, atendendo às indicações previstas nos incisos do artigo 524. Este cálculo poderá ser revisado pelo julgador, quando entender pela sua inadequação, valendo-se de trabalho a ser desenvolvido pelo contabilista do juízo. Recebido o requerimento de cumprimento da sentença o devedor será intimado para realizar o pagamento da dívida no prazo de 15 dias, acrescido do valor das custas, se houver.
Não sendo efetuado o pagamento no prazo apontado, será acrescido ao débito o percentual de 10% a título de multa e serão fixados honorários advocatícios também neste mesmo percentual. Ocorrendo o pagamento não integral, o referido acréscimo – multa e honorários advocatícios – recairá sobre a diferença restante.
Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo assinalado pelo juízo, abre-se automaticamente o prazo de quinze dias para o executado oferecer sua impugnação, que ocorrerá nos próprios autos, independentemente de penhora. A matéria objeto da impugnação ficará restrita às hipóteses previstas nos incisos do art. 525. Cabe anotar que o prazo para a impugnação será computado em dobro quando houver litisconsórcio de devedores, com procuradores de escritórios de advocacia distintos.
A impugnação ao requerimento de cumprimento de sentença, como regra geral, é desprovida de efeito suspensivo, de forma que não tem o condão de impedir a continuação do procedimento, com a efetivação dos atos executórios. Entretanto poderá o julgador atribuir efeito suspensivo que atingirá total ou parcialmente o objeto da execução, mediante pedido do devedor, cabendo a este demonstrar que o prosseguimento dos atos executivos é capaz de lhe causar grave dano e de difícil reparação. Para a obtenção desse efeito suspensivo é indispensável que ocorra a devida garantia do juízo (com penhora, caução ou depósito suficiente).
A remição da dívida por iniciativa do devedor ocorre quando este comparece ao juízo para o cumprimento da sentença e reconhece a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, oferendo o pagamento antes de vir a ser provado para este ato, mediante intimação. O réu oferecerá em pagamento o valor que entende devido, apresentando memória discriminada do cálculo. O credor, então, será intimado para impugnar o valor depositado, no prazo de cinco dias, sem prejuízo do levantamento do depósito da parcela incontroversa. Se o pagamento oferecido for considerado insuficiente sobre o saldo incidirão multa e honorários advocatícios fixados em 10%, prosseguindo-se na execução com a penhora. Se o credor nada opuser neste prazo de cinco dias, a obrigação será considerada satisfeita e o feito será extinto.
DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS
A execução de alimentos poderá assumir diferentes roteiros procedimentais, conforme a natureza do título que lhe serve de fundamento. Sendo o crédito alimentar lastreado em título executivo extrajudicial, será obedecido o roteiro procedimental consignado nos arts. 911 a 913. Existindo decisão judicial definidora do dever de prestação de alimentos, aplicar-se-á o disposto nos arts. 528 a 533. A nova sistemática processual apresenta uma série de inovações em relação à execução visando o cumprimento de obrigação de natureza alimentar. O primeiro aspecto a ser posto em destaque diz respeito à adoção do posicionamento no sentido de que a obrigação alimentar passa a ser executada como cumprimento de sentença, quer se refira a alimentos provisórios e aqueles fixados em sentença ainda não transitada em julgado, quer sejam definitivos. No primeiro caso o procedimento de cumprimento da decisão judicial que fixou a obrigação alimentar será efetivado em autos apartados e na segunda hipótese, será realizada nos próprios autos do processo em que foi fixada a verba.
A fase de cumprimento de decisão que fixa obrigação alimentar não poderá ser instaurada de ofício pelo juízo, observando-se o princípio da inércia da jurisdição, de forma que somente terá início mediante pedido da parte credora A intimação para pagamento, que sempre será pessoal, fixará o prazo de três dias para que o devedor (a) efetive o pagamento, (b) demonstre que já pagou, ou (c) apresente justificativa da impossibilidade absoluta de efetuar o pagamento. Transcorrido este prazo sem que alguma dessas alternativas venha a ser atendida, o juiz lançará mão de duas técnicas de execução indireta, encaminhando a decisão judicial que fixou a obrigação alimentar para protesto junto ao cartório competente e decretando a prisão do executado, pelo prazo de um a três meses, que será cumprida em regime fechado, ficando separado dos presos comuns. Acompanhando a orientação constante do enunciado da súmula nº 309 do STJ, o débito alimentar que autoriza a prisão civil é aquele que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem durante o seu curso. Poderá o credor de alimentos optar pelo procedimento do cumprimento de sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, seguindo o regramento indicado nos arts. 523 a 527, onde não há viabilidade de prisão civil do devedor. 
Neste caso, recaindo a penhora em dinheiro, a concessão de efeito suspensivo à impugnação não obsta que o exequente levante mensalmente a importância da prestação. O credor poderá requerer que a prestação alimentícia seja efetivada mediante desconto na folha de pagamento do devedor, quando este for funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa ou empregado sujeito à legislação do trabalho.
 A decisão autorizadora do referido desconto será cumprida pela autoridade, empresa ou empregadora a contra do protocolo do ofício, que realizará o desconto a partir da primeira remuneraçãoposterior do executado, sob pena de caracterização de crime de desobediência. O débito objeto da execução de alimentos poderá vir a ser descontado dos rendimentos e rendas do devedor, de forma parcelada, que somada à parcela devida, não poderá ultrapassar 50% dos ganhos líquidos do executado. O legislador não deixou evidenciado se o procedimento de cumprimento de obrigação alimentar que contempla a prisão civil alcança apenas o débito alimentar de direito de família ou se estende a dívidas de alimentos de origem diversa. 
Considerando o entendimento majoritário na seara doutrinária e em sede de STJ, entendemos que a referida execução indireta, pelo seu caráter excepcionalíssimo, fica restrita aos alimentos que tenham por base as regras de direito de família. Porém Daniel Amorim Assumpção Neves defende a interpretação no sentido de que a nova codificação teria trazido tratamento homogêneo à execução de alimentos, argumentando que “a necessidade especial do credor de alimentos não se altera em razão da natureza desse direito, não havendo sentido criar um procedimento protetivo limitando sua aplicação a somente uma espécie de direito alimentar” (Novo CPC: inovações, alterações, supressões, comentadas, SP; Método, 2015, p. 349).
DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA PELA FAZENDA PÚBLICA
O NCPC oferece importante inovação na questão referente aos processos executivos em relação às dividas atribuídas às Fazendas Públicas. Na sistemática constante do CPC de 73, independentemente da espécie de título executivo (judicial ou extrajudicial) era constituído um processo autônomo de execução. Na nova legislação foram pontuadas claramente duas possibilidades, de forma que o cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa pela Fazenda Pública seguirá o itinerário procedimental regulado nos artigos 534 e 535; já na execução fundada em título extrajudicial será observado o roteiro do artigo 910. 
No cumprimento de obrigação de pagar quantia certa pela Fazenda Pública alguns aspectos procedimentais ganham destaque, voltados a corresponder às peculiaridades do executado. O procedimento terá início mediante requerimento formulado pelo interessado, com demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, atendendo às exigências dos incisos do artigo 534. Nas demandas executivas em relação a entes públicos é muito comum a ocorrência de pluralidade de credores, sendo que cada um deles deverá apresentar o seu próprio demonstrativo. Considerando a disciplina do litisconsórcio facultativo disposto no artigo 113 e seus parágrafos, poderá haver a limitação do número de exequentes quando o excesso de requerentes vier a comprometer a efetividade dos atos de cumprimento da sentença.
 A natureza diferenciada da Fazenda Pública exige que a multa pelo não pagamento, consignada no § 1º do artigo 523 seja inaplicável a esta espécie de procedimento executivo. 
A intimação do Ente Público ocorrerá na pessoa de seu representante judicial (v. g. Advogado da União, Procurador Federal, Procurador do Estado, Procurador do Município) o que ocorrerá mediante carga dos autos, remessa ou mesmo por meio eletrônico. 
A impugnação será realizada no prazo de 30 dias, ficando restrita às hipóteses indicadas nos incisos do artigo 535, sendo que a na ausência desta ou em ocorrendo a sua improcedência surgem as seguintes possibilidades: (a) expedição de precatório em favor do exequente, por intermédio do presidente do tribunal respectivo, atendendo ao disposto na CF, (b) será ordenado o pagamento de obrigação de pequeno valor, a ser realizado no prazo de dois meses contados da data da entrega da requisição, o que deve ser efetivado mediante depósito na agência de banco oficial mais próxima da residência do exequente.
 Se a impugnação não for relativa a todo o crédito, a parte incontroversa, que não foi objeto da impugnação, será executada de imediato.
DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, DE NÃO FAZER OU DE ENTREGAR COISA
	No cumprimento da sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer o legislador preza em especial pela efetividade da satisfação dos interesses do credor, autorizando a permissão de medidas executivas que visem à tutela específica ou a obtenção de resultado prático equivalente. Neste sentido podem ocorrer, inclusive, situações de exceção ao princípio da adstrição, sendo autorizado ao juiz que realize tutela diversa daquela postulada pelo autor, desde que alcance resultado que lhe seja equivalente.
 A iniciativa executória poderá ocorrer de ofício e será orientada pelo princípio da atipicidade dos meios executivos, pois a realização da pretensão do credor poderá ser alcançada por meio da efetivação de meios executivos não contemplados expressamente no § 1º do art. 536, que contempla rol meramente exemplificativo. 
Dentre as medidas executivas viáveis a efetivação das obrigações de fazer ou não fazer a cominação de multa (astreintes) assume posição de destaque, recebendo assim detalhamento normativo especial (art. 537), tendo cabimento na fase de conhecimento, em tutela antecipada, na sentença ou na execução. 
A legislação consagra a eficácia imediata da multa, permitindo a sua execução provisória, caso em que o levantamento de seu valor pelo credor dependerá do trânsito em julgado ou pendência de recurso de agravo em recurso especial ou extraordinário. Considerando a finalidade da multa, no sentido de pressionar o devedor ao cumprimento da prestação, a sua eficácia imediata é manifestamente adequada.
Seguindo entendimento já consolidado em nosso sistema processual o valor fixado na multa ou a sua periodicidade poderão ser alterados de ofício pelo juiz ou a requerimento da parte credora quando esta se mostrar insuficiente ou excessiva, ou ainda nos casos em que ocorrer o cumprimento parcial e proveitoso da obrigação ou justa causa para o seu descumprimento. O julgador poderá também vislumbrar a presença de outros motivos suficientes para justificar a modificação dos parâmetros fixados na multa, sempre levando em consideração a orientação jurisprudencial do STJ no sentido de evitar a proliferação da chamada indústria das astreintes. 
A quantia resultante da aplicação da multa cominada ao devedor reverterá em favor da outra parte.
A sistemática processual distingue as ações executivas para a entrega de coisa tendo como referência a natureza do título que lhe dá sustento. Se a demanda for fundada em título executivo extrajudicial, o procedimento a ser observado será aquele fixado nos artigos 806 a 813. Se houver sentença reconhecendo a exigibilidade de obrigação de entregar coisa, incidirá o disposto no art. 538. 
O dispositivo normativo em questão repete, em grande parte, a regra contida no § 2º do art. 461-A do CPC de 1973. Não cumprida a obrigação de entregar coisa determinada no prazo estabelecido na sentença, será expedido mandado de busca e apreensão, em se tratando de bem móvel, ou de imissão na posse de bem imóvel, em favor do credor. A novidade concentra-se na regulamentação sobre a existência de benfeitorias e ao eventual direito de retenção sobre elas. 
A existência de benfeitorias deve ser alegada na contestação, de forma discriminada e com a atribuição, se possível e de forma justificada, do seu respectivo valor. O mesmo deve ser observado em relação à alegação de direito de retenção sobre as benfeitorias, que também deve ser exercido na oportunidade da defesa do processo de conhecimento. Esta orientação se afasta um pouco da tendência manifestada pelo STJ na vigência do CPC anterior, que se orientava pela aceitação da impugnação de retenção por benfeitorias formulada na fase de cumprimento da sentença, desde que a existência destas tivesse sido alegada na fase de conhecimento. 
Entretanto, como adequadamente adverte Daniel Amorim Assumpção Neves o referido prazo para a alegação da existência de benfeitorias “é preclusivo, servindo apenaspara permitir o exercício do direito de retenção, de forma que, caso o réu não alegue em sua contestação o direito à retenção em razão de benfeitorias, ele não poderá o direito, em ação autônoma, de exigir o seu pagamento”, complementando: “só não poderá alegar a matéria em sede de defesa executiva pretendendo condicionar a entrega da coisa ao pagamento” (Novo CPC: inovações, alterações, supressões, comentadas. SP; Método, 2015, p. 346).
 REFERÊNCIAS
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 13a ed. Salvador: Editora Juspodivm, 2016, v. 3.
OAB. Novo código de processo civil anotado. – Porto Alegre: OAB RS, 2015.
SILVEIRA, Artur Barbosa da. A sentença e a coisa julgada no CPC de 2015. Disponível em: < http://www.prolegis.com.br/a-sentenca-e-a-coisa-julgada-no-cpc-de-2015/> Acesso em: 22 de Ago. 2016
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 47a ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, v. 3.

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