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1. DECISÃO SANEADORA Em primeiro lugar, cita-se que, sendo apresentada ou não a resposta do réu, inicia- se a fase do procedimento denominada de fase de saneamento ou fase de ordenamento do processo. Nessa fase, o magistrado, se for o caso, deve tomar providências que deixem o processo apto para que nele seja proferida uma decisão, chamada de julgamento conforme o estado do processo (art. 347, CPC). Cabe ressaltar que a fase de saneamento inicia-se após o escoamento do prazo de contestação, contudo, há a possibilidade de, após esse momento, a fase postulatória se prolongue, pois o réu pode ter reconvindo ou denunciado a lide um terceiro. Ademais, é possível que o autor requeira o aditamento ou alteração do pedido ou da causa de pedir, com o consentimento do réu, com base no art. 329, II, do Código de Processo Civil. Portanto, os primeiros atos da fase de saneamento podem coincidir com a prática dos últimos atos da fase postulatória. Nesse diapasão, se não for o caso de extinção do processo sem resolução do mérito, nem de extinção do processo com resolução do mérito, deverá o magistrado proferir uma decisão de saneamento e organização do processo (art. 357, CPC). Nesse sentido, há uma situação em que o órgão jurisdicional terá de resolver o objeto litigioso, mas ainda não há elementos probatórios nos autos que lhe permitam fazer isso, tendo, pois, de preparar o processo para a atividade instrutória. Nessa decisão, o órgão jurisdicional: I – Resolverá as questões processuais pendentes, se houver: assim, deixará o processo apto ao início da audiência de instrução, para colheita de novas provas; II – Delimitará as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova admitidos: neste momento o órgão jurisdicional identificará os fatos controvertidos e determinará qual meio de prova serve a cada um deles. Desse modo, organiza-se a atividade instrutória (art. 357, II, CPC); III – Definirá a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373: este é o momento ideal para eventual redistribuição judicial do ônus da prova; IV – Definirá as questões de direito relevantes para a decisão do mérito (art. 357, IV, CPC); V – Designará, se necessário, audiência de instrução e julgamento: a depender dos meios de prova que serão produzidos, o juiz marcará a data da audiência de instrução e julgamento (art. 357, V, CPC). Assim, proferida a decisão de saneamento e organização do processo, as partes têm o direito de pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de 5 dias, findo o qual a decisão se torna estável (art. 357, § 1°, CPC). Não havendo impugnação, a decisão transita em julgado e vinculará a atividade jurisdicional a partir daí. Nesse aspecto, frisa-se que a decisão de saneamento e organização do processo não se submete à preclusão: enquanto pendente o processo, será sempre possível o controle ex officio dos requisitos de admissibilidade, inclusive com o reexame daqueles que já houverem sido objeto de decisão judicial. O fundamento legal dessa concepção é o § 3° do artigo 485, que teria imunizado as decisões sobre os requisitos de admissibilidade do processo à preclusão. Nesse caso, o enunciado n. 424 da súmula do Supremo Tribunal Federal não se aplicaria a esse tipo de questão, pois há o entendimento de que não se pode cogitar preclusão para as matérias que podem dar ensejo à ação rescisória. 2. SENTENÇA Primeiramente, pode-se dizer que os pronunciamentos judiciais são aqueles pelos quais o magistrado decide uma questão ou simplesmente impulsiona o procedimento, fazendo com que ele avance em suas fases. Nessa vertente, à primeira espécie de pronunciamento judicial, que tem conteúdo decisório, dá-se o nome de decisões lato sensu; à segunda, que não tem conteúdo decisório, dá-se o nome de despachos. Os pronunciamentos judiciais que têm conteúdo decisório podem ser classificados em duas espécies: decisões proferidas pelo juízo singular e decisões proferidas em um órgão colegiado. Cita-se que os despachos são pronunciamentos judiciais sem conteúdo decisório que tanto podem ser proferidos pelo juízo singular quanto pelo órgão colegiado. Decisões proferidas pelo juízo singular O art. 203 do CPC estabelece que os pronunciamentos com conteúdo decisório podem ser de duas espécies: sentenças e decisões interlocutórias. Dito isso, segundo o § 1° do mesmo artigo, sentença é o pronunciamento do juízo singular que, com fundamento no art. 485 ou no art. 489 do CPC, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum ou extingue a execução. Destaca-se que não é apenas a sentença que pode fundar-se em uma das hipóteses desses dispositivos, pois acórdãos e decisões proferidas por relator também podem fundar-se nas mesmas hipóteses. Além disso, o mesmo se pode dizer das decisões interlocutórias. Isso demonstra que, para que seja sentença, não importa saber qual o conteúdo do pronunciamento, mas qual o seu efeito em relação ao procedimento em primeira instância: se põe fim a uma das suas fases, é sentença. O § 1° do art. 203 ressalva “as disposições expressas dos procedimentos especiais”, passando a ideia de que a definição de sentença vale apenas para o procedimento comum. Entretanto, tal ressalvar teve por objetivo chamar atenção de que alguns processos que tramitam sob rito especial estão divididos em mais de uma fase. Sucede que o processo que tramita sob o procedimento comum também pode desdobrar- se em mais de uma fase. Portanto, não há mais de um conceito de sentença no Código de Processo Civil. Assim, sentença, no procedimento comum ou nos procedimentos especiais, é o pronunciamento do juízo singular que encerra uma fase do processo, sela ela cognitiva ou executiva. Por outro lado, o art. 316 do CPC diz que “a extinção do processo dar-se-á por sentença”, mas é preciso destacar que nem todo processo se extingue por sentença e nem toda sentença extingue o processo. Em primeiro lugar, o processo pode extinguir-se por acórdão e por decisão unipessoal de um membro do tribunal. Ademais, a sentença não necessariamente extingue o processo, basta que contra ela se interponha recurso e o processo terá continuidade, ou em sentença que impõe um dever de prestação, basta que se deflagre a fase de execução. No que se refere a decisão interlocutória, o art. 203 deixa evidente que se trata de todo pronunciamento com conteúdo que não se enquadre na definição de sentença, isto é, todo pronunciamento judicial com conteúdo decisório que não põe fim à fase do procedimento em primeira instância. Salienta-se que a decisão interlocutória pode, em certos casos, resolver parte do mérito da causa de modo definitivo, apto à coisa julgada. Decisões proferidas em órgão colegiado As decisões proferidas em órgão colegiado se dividem em acórdãos e decisões unipessoais. Nesse ínterim, acórdão é o pronunciamento judicial com conteúdo decisória proferido por um órgão colegiado (art. 202, CPC). Há acórdãos finais e interlocutórios, sendo que os primeiros têm aptidão para encerrar o procedimento perante o tribunal, e os segundos são aqueles que não possuem essa aptidão. No entanto, a lei ou mesmo o regimento interno do tribunal confere a apenas um dos membros do colegiado a competência para a análise de determinadas questões. Nesse caso, é possível que apenas um dos membros do colegiado profira a decisão, que será uma decisão unipessoal. Essa competência para decidir sozinho pode ser atribuída ao Presidente ou vice-Presidente do tribunal, bem como ao relator de um recurso. Nesse último caso, a decisão unipessoal por ele proferida também poderá ser interlocutória ou final. Diante disso, haverá decisão unipessoal final do relator quando o pronunciamento, à semelhança do que ocorre com a sentença, tiver aptidão para, se não for atacado pro recurso no momento próprio, pôr fimao procedimento naquela instância. Já a decisão unipessoal interlocutória ocorrerá quando o pronunciamento não tiver aptidão para pôr fim ao procedimento naquela instância. Sentenças definitivas e sentenças terminativas Doutrinariamente, sentenças definitivas são aquelas por meio das quais se põe fim ao processo com resolução de mérito, aplicando-se uma das hipóteses do art. 487 do CPC, e as terminativas são conceituadas como sendo aquelas que põe fim ao processo sem exame de mérito, aplicando um dos casos do art. 485 do CPC. Esse entendimento objetiva esclarecer que as sentenças definitivas, por resolverem o mérito da demanda, têm aptidão para ficarem acobertadas pela coisa julgada, enquanto as terminativas, por não versarem sobre o objeto litigioso do procedimento, não têm aptidão, submetendo-se apenas à coisa julgada formal. A congruência da decisão judicial Segundo os arts. 141 e 492 do CPC, a decisão deve ser plena, isto é, deve analisar todos os pedidos deduzidos e mais aqueles denominados de pedidos implícitos, mas deve limitar-se, em regra, a tais pedidos, não podendo ir além deles. Nesse ínterim, a decisão judicial não precisa ser congruente apenas em relação à demanda que ela resolve: precisa também ser congruente em relação aos sujeitos a quem atinge e precisa ser congruente em si mesma. Por isso fala-se em congruência externa e congruência interna da decisão. A primeira diz respeito à necessidade de que ela seja correlacionada, em regra, com os sujeitos envolvidos no processo e com os elementos objetivos da demanda que lhe deu ensejo e da resposta do demandado. Já a congruência interna, diz respeito aos requisitos para a sua inteligência como ato processual, ou seja, a decisão precisa revestir-se dos atributos da clareza, certeza e liquidez. Efeitos da decisão judicial Primeiramente, tem-se a eficácia principal, na qual os efeitos principais decorrem diretamente do conteúdo da decisão e dizem respeito à situação jurídica controvertida. Além disso, há a eficácia reflexa, que produz efeitos também sobre a relação jurídica estranha ao processo, mas que mantém um vínculo de conexão jurídica com a relação discutida. Nessa toada, há também a eficácia anexa. Dizem-se anexos ou secundários, os efeitos que uma norma jurídica anexa à decisão judicial, ou seja, não são consequências do conteúdo da decisão, mas de uma específica determinação normativa à sentença. Tal norma toma a sentença como um fato da vida e anexa a ela efeitos que, se dependesse do seu conteúdo, a decisão não os produziria. Tais defeitos independem de pedido da parte, da manifestação do juiz ou do conteúdo da decisão, pois são indiretos e automáticos que resultam do fato de a decisão existir. Por fim, há a eficácia probatória, que trata da eficácia da sentença como fonte de prova. Nesta acepção, serve como fonte de prova da própria existência (prova do próprio ato decisório), bem como dos fatos processuais presenciados pelo órgão julgador e na sentença referidos como premissas da sua conclusão. Trata-se de efeito relevante, notadamente se houver necessidade de restaurar os autos do processo (arts. 712-718, CPC), eventualmente extraviados. COISA JULGADA O art. 502 do CPC definiu a coisa julgada como uma autoridade, uma força que qualifica uma decisão como obrigatória e definitiva. Assim, como situação jurídica, a coisa julgada é um efeito jurídico. Diante disso, a segunda parte do mesmo artigo preceitua dois corolários dessa autoridade: a decisão torna-se indiscutível e imutável. Em se tratando da imutabilidade da coisa julgada, frisa-se que ela é regra, mas há hipóteses em que a coisa julgada pode ser revista ou desfeita. Já a indiscutibilidade da decisão projeta-se para fora do processo em que proferida, pois sendo admitida a coisa julgada parcial, é possível que, de um mesmo processo, surja mais de uma coisa julgada. Além disso, a indiscutibilidade opera em duas dimensões: em uma dimensão, a coisa julgada impede que a mesma questão seja decidida novamente (efeito negativo da coisa julgada); na outra dimensão, a coisa julgada deve ser observada, quando utilizada como fundamento de uma demanda (efeito positivo da coisa julgada). No que se refere aos pressupostos para a formação da coisa julgada, há a combinação de dois fatos: a) uma decisão jurisdicional fundada em cognição exauriente; b) o trânsito em julgado. Nesse tocante, a decisão judicial apta à coisa julgada deve fundar-se em cognição exauriente, e as proferidas em cognição sumária não estão aptas à coisa julgada. Isso porque a coisa julgada é uma estabilidade que pressupõe tenha havido encerramento da cognição sobre a questão. O segundo pressuposto, o trânsito em julgado, ocorre quando contra a decisão não couber mais recurso, qualquer recurso, ordinário ou extraordinário. É válido ressaltar que a interposição intempestiva de um recurso não impede o trânsito em julgado (art. 1.029, § 3°, CPC). Por fim, existe também a coisa julgada formal, que é uma categoria doutrinária. Para a doutrina majoritária, a coisa julgada formal se refere à indiscutibilidade e à imutabilidade de uma decisão no âmbito do processo em que proferida. Ou seja, é uma estabilidade endoprocessual da decisão e, por isso, distingue-se da coisa julgada material, que se projeta para fora do processo em que produzida. Nessa vertente, coisa julgada formal é uma espécie de preclusão, a que se sujeita qualquer decisão, inclusive aquela que não pode tornar-se indiscutível pela coisa julgada material. Coisa julgada formal é, portanto, o trânsito em julgado, um dos pressupostos para a formação da coisa julgada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Enunciado 424. Corte ou Tribunal. Súmula. Disponível em: https://www.coad.com.br/busca/detalhe_16/189/Sumulas_e_enunciados#:~:text=S%C3 %9AMULA%20424%20%2D,IMPLICITAMENTE%2C%20PARA%20A%20SENTE N%C3%87A(*). BRASIL. Congresso Nacional. Código de Processo Civil, de 15 de março de 2015. Diário Oficial da União, Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 1 ago. 2022. DIDIER JÚNIOR, Fredie Souza. Curso de Direito Processual Civil. 10 ed. Juspodivm, Salvador-BA, v. 2, 2015.
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