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OFICINA LITERÁRIA AULA 9

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Oficina Literária
AULA 09: A leitura de epopeias
CEL0762 – OFICINA LITERÁRIA
Aula 09: O universo narrativo
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AULA 09: A leitura de epopeias
As obras literárias são classificadas em vários 
grupos que correspondem a sua estrutura de 
composição e à forma como se apresentam, 
revelando a atitude do escritor perante a 
realidade artística que está criando.São os 
chamados gêneros literários. O filósofo grego 
 Aristóteles, no século V. a.C., estabeleceu uma 
divisão entre os gêneros que persiste até hoje:
- gênero épico (ou épica);
- gênero lírico (ou lírica) 
- gênero dramático (ou dramática) 
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 A grosso modo, diríamos que o gênero lírico acontece quando um eu 
registra sua subjetividade e emoções, trata-se da ; se nos é contada alguma 
história, trata-se do épico; mas se atores, através de gestos e falas , 
representam uma ação no palco, nos referimos ao  dramático.
 A divisão estabelecida por Aristóteles foi retomada durante o 
Renascimento e transformada em códigos rígidos e regras invioláveis. 
Séculos depois, os românticos revisaram e até mesmo questionaram estes 
conceitos. No século XX, chegou-se a propor a abolição das fronteiras entre 
eles e, inclusive a declará-los inválidos ou inúteis. 
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O universo romanesco
“(...) ele tem a necessidade vital de falar. Como não há ninguém, ele cria 
com a bola Wilson uma relação de amizade, de companheirismo.”
 “(...)bola é o reflexo dele mesmo. É como se ele estivesse conversando 
consigo mesmo. Dessa forma, vem à tona toda a sua individualidade. Num 
estado de solidão e conversando com o seu próprio eu, o personagem deixa 
aflorar todos os seus medos, todos os seus questionamentos, enfim, tudo o 
que o move, ali, enquanto indivíduo.” 
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EU
MEDOS
INCERTEZAS
QUESTIONAMENTOS
ANSIEDADES
INDIVIDUALIDAD
E
SUBJETIVIDADE
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O romance é o espaço literário para 
expor as individualidades, as 
subjetividades. É o espaço onde se 
entrecruzam protótipos da vida real 
com toda a sua subjetividade. 
Trata-se de um tipo de discurso que 
revela o indivíduo nos seus mais 
variados aspectos. 
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É o discurso que vira o homem do 
avesso para revelar tudo aquilo que 
ele tem de mais recôndito. Neste 
contexto, até o silêncio fala, ou 
seja, até o silêncio deve ser 
entendido pelo leitor.
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Romance: é um texto completo, com tempo, espaço e personagens bem definidos de 
carácter verossímil.
Fábula: é um texto de carácter fantástico que busca ser inverossímil e a finalidade é 
uma lição de moral.
Epopéia ou Épico: é uma narrativa feita em um longo poema, ressaltando os feitos de 
um herói ou de um povo. 
Novela: é um texto intermediário entre a longevidade do romance e a brevidade do 
conto. 
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Conto: é um texto narrativo breve, e de ficção, geralmente em prosa, que conta 
situações rotineiras.
Crônica:narrativa informal, ligada à vida cotidiana, com linguagem coloquial, 
e humor ecrítica.
Ensaio: é um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, expondo 
ideias, críticas e reflexões morais e filosóficas a respeito de certo tema. 
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A obra literária reconhecida como “Romance” é uma grande herdeira do 
gênero narrativo. consagrou diversos escritores com o surgimento da prosa 
romântica, que vinha surgindo da Europa em contraposição ao clássico. 
A Epopeia é uma narrativa feita em versos!
COMO DIFERENCIAR A EPOPÉIA DO 
ROMANCE
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Herdeiro direto da estrutura narrativa da epopéia clássica, o romance emerge 
– como o concebemos hoje – entre meados do século XVI e início do século 
XVII, especialmente na Espanha, expandindo-se em seguida pela Inglaterra, 
França e Alemanha. Já no século XVIII, o romance havia se transformado na 
mais popular de todas as formas literárias. 
Em relação à epopéia, o romance traz importantes novidades:
- A metrificação (verso) é abandonada e a prosa de tom relativamente 
coloquial torna-se uma característica da linguagem narrativa.
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- Por se estruturar a partir da dissolução da epopéia clássica e do declínio das 
novelas pastoris, galantes e de cavalaria da Idade Média, o romance emerge 
sem regras fixas ou modelos a serem obedecidos. Por isso, por não ter uma 
passado a guardar, ele se tornou a mais aberta de todas as formas literárias.
- Os personagens centrais – os heróis – deixam de ser o aristocrata guerreiro 
ou o grande homem de aventuras e conquistas, com os seus rígido códigos de 
honra e seus valores típicos da nobreza. Ao contrário, agora são homens 
comuns, normalmente de origem burguesa ou plebéia, e que vivem dramas 
corriqueiros. Suas ações já não lhes proporcionam fama e poder. Giram em 
torno de fatos relativamente insignificantes: sentimentos, sociais e 
financeiras, comuns a maioria das pessoas. 
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Os personagens do romance já não são personalidades inteiriças e perfeitas. 
Agora a interioridade se dissocia da aventura e a alma fica fraturada entre os 
desejos íntimos e a realidade quase sempre hostil. Por viverem tal dualidade, 
os protagonistas apresentam uma complexidade maior. Portanto, a sondagem 
interior, mais tarde conhecida como análise psicológica, nasce com o 
romance. 
- Os conflitos que embasam a epopeia clássica colocam em oposição apenas 
os personagens e a realidade exterior. No romance, ao inverso, ocorrem 
também dentro dos próprios protagonistas. É o chamado conflito interior. Isso 
não impede o choque dos indivíduos com o mundo, expressos sobretudo na 
lua dos mesmos contra as normas e os preconceitos sociais. 
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- Este último confronto torna-se clássico no romance: um indivíduo com 
valores autênticos tenta impô-los à realidade. Sede de amor, de justiça e de 
dignidade humana impelem-no ao desejo de mudança de um mundo, 
geralmente insensível e injusto. No entanto, o resultado desse esforço é, no 
mais das vezes, o fracasso. Desamparado, o personagem ou adere à ordem 
opressiva ou sucumbe à desilusão, à loucura e até à morte. Por isso, inúmeros 
romances se apresentam como um verdadeiro inventário de ilusões perdidas.
 Contudo, em muitas obras do gênero, há um triunfo do herói comum, seja 
pela realização de seus afetos ou de seus ideais, seja pela satisfação de suas 
exigências de escalada social, às vezes alcançada graças à sua esperteza e à 
sua flexibilidade ética.
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Estas diferenças entre a epopeia e seu mais ilustre descendente levaram o 
filósofo alemão Hegel, nos primórdios do século XIX, a cunhar a célebre 
afirmação: 
“O romance é a epopeia de um mundo 
sem deuses”
Ou seja, o romance é a epopeia do cotidiano!
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A grande diferença entre epopeia e 
romance é a questão do tempo. A 
epopeia está presa ao passado. Ela 
vive de memória. O seu objeto de 
representação é o passado e a sua 
fonte está nos mitos e lendas. 
O objeto do romance é o momento 
presente. A sua fonte, o dínamo 
propulsor da criação, são os fatos 
atuais. O romance não trabalha com 
memória, mas com registros atuais. 
Ele discute a contemporaneidade. 
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Publicado em 1937, Capitães da Areia é o sexto romance de Jorge Amado, um 
dosmais famosos e traduzidos escritores brasileiros do século 20. No prefácio 
ao livro, escreve o romancista que, com essa obra, encerra o ciclo de "os 
romances da Bahia". 
A narrativa, de cunho realista, gira em torno das peripécias de um grupo de 
"meninos de rua" que sobrevive de furtos e pequenas trapaças. Por viverem 
em uma espécie de armazém à beira do cais, os garotos do bando, liderados 
por Pedro Bala, são conhecidos pela má-fama de "capitães da areia". É lá, no 
trapiche abandonado, que Pedro Bala, órfão, (o pai foi morto à bala por liderar 
uma greve, daí a alcunha do garoto, enquanto a mãe tem o paradeiro 
desconhecido) se refugia com seu grupo. 
Capitães da areia – Jorge Amado
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As epopéias caracterizam-se por serem anônimas e brotarem da alma dos 
povos jovens. São uma espécie de criação coletiva em que o poeta 
desempenha a função de rapsodo ou compilador. Os épicos gregos apresentam 
uma estrutura composta por quatro partes: composição, invocação, narração e 
epílogo. Na proposição dá-se o enunciado da obra, conforme; na invocação há 
o apelo aos deuses para que ajudem o poeta; a narração é parte central e mais 
extensa da epopéia. Contém relato minucioso das ações do herói, devendo 
obedecer a uma seqüência lógica, mas podendo começar no meio; o epílogo é 
a parte final da narrativa, deve guardar um imprevisto, ser verossímil, coerente 
e conter um final feliz. 
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A história é conduzida em função dos destinos individuais de cada integrante 
do bando. Assim, Jorge Amado ilustra a marginalização definitiva de uns e a 
desalienação de outros. Mostra das injustiças sociais e a luta dos 
trabalhadores, por exemplo
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Percebemos que Jorge Amado deixou em Capitães da Areia a marca digital do 
seu engajamento partidário, preocupando-se com seu testemunho histórico: o 
de um homem que participou efetivamente de um período frenético da 
história do Brasil.
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A teoria bakhtiniana parte da asserção de que a realidade da linguagem é o 
fenômeno social da interação verbal. A linguagem verbal não é vista apenas 
como sistema formal, mas como atividade, como um conjunto de práticas 
socioculturais. A partir desses pressupostos, em Bakhtin (1997) a interação 
verbal é fundamentalmente uma filosofia da linguagem. É uma 
translinguística , que constitui um foco que possibilita enxergar todas as 
categorias radicadas na linguagem. Essas considerações fazem do romance o 
meio preferido por Bakhtin para a dramatização de suas ideias sobre a 
linguagem, a teoria social e a história da percepção, pois para esse autor russo 
toda as peculiaridades da vida humana estão permeadas pela linguagem. Para 
Bakhtin o romance é o grande livro da vida
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Seguindo a teoria bakhtiniana, as falas articuladas pelas personagens que 
compõem a trilogia Os subterrâneos, formam um plurilinguismo (ou 
heteroglossia) são discursos de todos os segmentos sociais; universos sociais 
em comunicação e conflito. Encontram-se na obra vozes do comunismo 
mediadas por líderes das células entre os operários e simpatizantes do 
comunismo, que é uma demonstração de como essas vozes vão sendo 
absorvidas por aqueles que lutam contra o Estado Novo. Ao mesmo tempo, 
existem vozes que partem das elites carioca e paulista que se contrapõem às 
vozes comunistas, num verdadeiro jogo de diferentes verdades sociais ..
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Jorge Amado elabora um discurso onde as verdades sociais podem ser vistas a 
cada momento. A dialogização das personagens na obra se apresenta como um 
mundo de vozes sociais em múltiplas relações. De acordo com Bakhtin 
(CLARK,1998), podemos perceber o romance como uma espécie de radiografia, 
de uma visão de mundo a um dado tempo e a uma dada camada social em 
uma sociedade determinada. Assim, um gênero encarna uma idéia 
historicamente específica do que significa ser humano. 
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Todo discurso é produzido num determinado espaço com todas as suas facetas 
ideológicas. Portanto, é impossível ler um romance sem pensar que, nas suas 
entrelinhas, existe um viés ideológico. Fica claro, então, que o tempo no 
romance é o presente. Ele fala daqueles e daquilo que está próximo. Seria 
impossível, no espaço romanesco, haver um deslocamento para o passado 
absoluto ou trazê-lo para a nossa realidade.
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O narrador exerce um papel fundamental, pois ele é aquele que fala de seu 
momento presente, para aqueles que são seus iguais, no patamar do tempo, e 
de acordo com o ponto de vista de sua época. Ele é o homem de sua época, ou 
seja, pensa como a sua época.
Enquanto a epopeia é um universo fechado, acabado, o romance é um gênero 
aberto e imortal. Ele vive em constante estado de renovação
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Desde o seu início, o romance apresenta, em maior ou menor escala, uma forte 
índole realista pois os escritores buscaram elaborar uma síntese entre os dois 
elementos fundamentais do gênero:
- Personagens fictícios que vivem acontecimentos imaginários.
- O contexto histórico e as circunstâncias reais (costumes, espaço físico-
geográfico, vida cotidiana, etc.) em que esses personagens se movimentam.
Dar ao leitor a impressão de que o enredo é um reflexo da realidade, 
fornecendo-lhe uma sólida e consistente descrição de múltiplos aspectos da 
existência humana, constitui o objetivo da expressiva maioria dos romancistas. 
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No prólogo do ciclo de relatos que constituem A comédia humana (1830-
1850), Balzac define sua tarefa como uma espécie de historiador do cotidiano:
“Ao fazer o inventário de vícios e virtudes, ao reunir os principais feitos das 
paixões, pintar os caracteres, eleger os principais acontecimentos da sociedade, 
compor tipos mediante a fusão de vários traços de caráter, quem sabe eu 
poderia chegar a escrever essa história esquecida pelos historiadores, a história 
dos costumes.” 
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Uma outra questão importante é que a prosa romanesca quebra o verticalismo 
do mundo épico. Se o artista é um homem de sua época, como dissemos, tudo 
é colocado na horizontalidade. Não há, por exemplo, a imagem de um herói 
acima do bem e do mal. Muito pelo contrário! O homem aparece com todas as 
suas fragilidades. Ele não é estático. Por isso, a personagem está sempre em 
movimento, isto é, sempre em transformação. Além disso, os conflitos vividos 
pelas personagens fazem parte da existência humana.
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Os elementos da narrativa
NARRATIVA
(AVENTURA)
P
O
N
T
O
D
E
V
I
S
T
A
PERSONAGENS
TEMPO
ESPAÇO
ENREDO
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PERSONAGENS - são os agentes da narrativa. Eles movimentam a trama, 
dando sentido às ações. Podem ser, quanto ao papel que desempenham no 
enredo, protagonistas, antagonistas ou personagens secundários.
TEMPO - sabemos que toda narrativa apresenta fatos que acontecem dentro 
de um fluxo de tempo - cronológico ou psicológico.
ESPAÇO - conjunto de elementos que caracterizam tanto o exterior quanto 
 interior. As ações das personagens podem acontecer tanto no espaço físico 
quanto psicológico.
ENREDO - mesma coisa que trama ou intriga. É a sequência de fatos ou a 
forma como os acontecimentos estão organizados.
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PONTO DE VISTA - também é chamado de foco narrativo. Trata-se da posição 
ocupadapelo narrador. Se narra em primeira pessoa, participando dos fatos 
narrados, é chamado de narrador-personagem. Se narra em terceira pessoa e 
está fora dos fatos narrados, é chamado de narrador-observador. Neste caso, 
ele tudo sabe, tudo vê e está em todos os lugares. Pode-se dizer que é 
onisciente e onipresente.
Produção Textual
AULA 02: O que é "texto".
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