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Caso de Constitucional Avançado

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FERNANDO MÁRCIO DE ARAÚJO - 201401325297
Direito Constitucional Avançado – tuma noite
Professor Hugo Lontra
Confeiteiro X Boda Gay
	O caso de um chef confeiteiro que se negou a fazer um bolo de casamento para um casal homossexual dividiu os nove juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos. O relacionamento entre a homossexualidade e a religião varia de maneira enorme durante tempos e lugares. Nem todas as religiões reprovam explicitamente a homossexualidade; algumas meramente omitem considerações a respeito.
	Se fosse, o mesmo caso, analisado conforme o ordenamento jurídico brasileiro, nos dias atuais, possivelmente a conclusão a que chegariam os julgadores seria diversa da decisão norte-americana, que condenou o confeiteiro. Todavia, ainda assim seria um litígio intrincado, pois envolve o conflito entre princípios fundamentais de igualdade sem distinção de sexo ou de orientação sexual e o princípio da liberdade religiosa neste estado democrático brasileiro. Deve-se, portanto, ponderar esses valores constitucionais e chegar a uma equanimidade.
	Jack Phillips, o confeiteiro de uma tradicional confeitaria do Colorado, se negou a fazer bolo para um casamento gay, alegando questões religiosas. O casal Charlie Craig e David Mullins só queria um bolo bonito na festa de casamento. O caso foi parar na Justiça. E virou muito mais que uma relação entre comerciante e cliente. E de fato levantou questões religiosas e também de direitos constitucionais.
	A Comissão Estadual de Direitos Civis determinou que, ou Jack faz para todo mundo, ou não pode mais vender bolo para ninguém. O advogado do casal discriminado disse que quando um comerciante abre uma loja, tem que atender a todos, sem distinção. A defesa do confeiteiro rebateu dizendo que é um absurdo que pessoas como Jack, que não concordam com o casamento gay, sejam processadas apenas por não concordarem e manifestarem sua opinião.
	Os quatro magistrados progressistas pareciam convencidos de que o confeiteiro tinha que atender todos os clientes, independentemente de sua orientação sexual. Porém, os juízes conservadores da mais alta corte do país deram ouvidos aos argumentos de que o confeiteiro não poderia ser obrigado a usar seu talento criativo para transmitir uma "mensagem" contrária a suas convicções cristãs.
	Fosse no Brasil, estariam em jogo princípios valiosos para nossa sociedade, como liberdade religiosa, igualdade de gênero e liberdade de expressão, protegidos pela nossa Constituição. Dever-se-ia refletir sobre ser justo ou não o artista confeiteiro ser obrigado a manifestar sua arte em detrimento de suas próprias crenças religiosas. Como seria o caso de um pintor ser obrigado a pintar quadros que contrariam sua própria moral. Onde ficariam a liberdade de expressão e religiosa nesses casos?
	O advogado do casal insistiu que o artista tinha se negado a fazer o bolo após a única menção de que era para o casamento deles. Certamente eles têm o direito de ser gay. Mas será que todos são obrigados a concordar com a orientação sexual deles a ponto de terem obrigatoriedade de participar direta ou indiretamente dos seus hábitos homossexuais? Seria algo semelhante a um satanista adentrar a uma loja cristã e promover um culto satânico, tendo o comerciante a obrigação de receber as preces do suposto cliente.
	O casal homossexual declarou ter sido rejeitado pelo que são, disseram que foram humilhados publicamente por serem gays. Pois veja, ser gay foi uma escolha deles e eles devem ser tratados com igualdade, sem distinção de orientação sexual. De maneira nenhuma o confeiteiro pode discriminá-los e deve respeitá-los. Mas não há, por parte dele, a obrigação de fazer. Ou seja, ele decide se determinado trabalho é viável ou oneroso demais para sua alçada e conclui se quer fazer.
	Não há contrato pré-estabelecido entre o comerciante e o iminente cliente. Assim como um pedreiro pode avaliar a reforma de uma casa e decidir se ele vai se obrigar a fazer ou não a reforma. É poder discricionário do trabalhador fechar o contrato ou não. O pedreiro pode concluir ser aquela reforma muito penosa, onerosa, dispendiosa, etc. O confeiteiro artista pode, no mesmo sentido, concluir que não vai fechar o contrato porque é algo que está além da sua habilidade, ou porque é algo pouco lucrativo, ou porque a mãe do contratante é feia. Nesse caso, ele escolheu não fazer o bolo porque os contratantes são gays e isso contrariaria a sua moral. Ele também se recusa a criar bolos personalizados para outros eventos como Halloween e despedidas de solteiro, que ele considera igualmente contrários à sua fé. O motivo particular que o leva a se negar a realizar o contrato é irrelevante, está apenas no seu plano subjetivo, é o seu ponto de vista, sua liberdade de expressão. Um contrato não é uma declaração unilateral de vontade, depende da comunhão de desígnios de ambas as partes; deve-se considerar, assim, o Princípio da Autonomia da Vontade.
	O confeiteiro Jack, que provavelmente serviu pessoas de todas as origens, durante anos, teria, no direito brasileiro, grandes chances de exercer a sua liberdade de expressão e de religião. Ele apenas se recusou a usar seus talentos artísticos para promover uma mensagem e um evento dos quais ele discorda, e não foi ofensivo ou injuriou alguém. Os artistas merecem ter a liberdade de expressar ideias ou se recusar a criar certas mensagens de acordo com suas crenças.

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