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Artigos de Revisªo Princípios da Fisiologia do Exercício no Treino dos Músculos do Pavimento Pélvico Margarida Ferreira , Paula Santos1 2 1 2 Mestre fisioterapeuta em CiŒncias de Fisioterapia na Faculdade de Motricidade Humana, Lisboa Doutoranda na Faculdade de Desporto do Porto, Docente na Escola Superior de Saœde e Tecnologia do Porto E-mail: margasufer@gmail.com e paulaclara@estesp.ipp.ptCorrespondência: Resumo Abstract A primeira intervençªo no tratamento da incontinŒncia urinÆria de stress consiste no treino dos mœsculos do pavimento pØlvico (TMPP). A e a concluírem que o TMPP Ø invariavel- mente melhor do que ausŒncia de tratamento ou tratamento placebo. A base científica para o TMPP Ø fundamentada nos princípios da fisiologia do exer- cício. A eficÆcia do treino depende do treino específico dos mœsculos do pavimento pØlvico, da intensidade da carga, duraçªo, frequŒncia e adesªo aos protocolos de treino. O objectivo do presente artigo Ø expor os princípios da fisiologia do exercício e perceber o papel desses princípios nos protocolos de TMPP. incontinŒncia urinÆria de stress, anatomofisiologia e fisiopatologia do tracto urinÆrio inferior, programas de treino/exercício dos mœsculos do pavimento pØl- vico, princípios da fisiologia do exercício The first-line intervention for stress urinary incontinence in women is pelvic floor muscle training (PFMT). The Agency for Healthcare Research and Quality and the Cochrane Incontinence Group concluded that PFMT was consistently better than no treatment or placebo treatment. The scientific foundation for PFMT is based on the principles of exercise physiology. The efficacy of training depends of exposure of the isolated muscle to sufficient load intensity, duration, frequency of training and adherence to maintenance protocols of training. The purpose of this article is to explain the principles of exercise physiology and to understand the role these principles PFMT protocols. stress urinary incontinence, anatomy and physiology lower tract urinary, pathophysiology, pelvic floor muscle training/exercise, principles of exercise physio- logy Agency for Healthcare Research and Quality Cochrane Incontinence Group Palavras-chave: Keywords: 31Acta Urológica 2009, 26; 3: 31-38 www.apurologia.pt Introduçªo Anatomofisiologia A incontinŒncia urinÆria de stress (IUS) re- sulta da disfunçªo anatómica das estruturas de suporte da bexiga e uretra (sub posicionamento das estruturas em repouso ou esforço) e/ou neuro- muscular, ambas importantes no controlo da pres- sªo uretral . A e recomendam o treino dos mœsculos do pavimento pØlvico (TMPP) como primeira intervençªo na IUS porque este tratamento permite uma menor incidŒncia de efeitos adversos, baixo custo e nªo inviabiliza fu- turas opções de tratamento . O tratamento da IUS atravØs do TMPP Ø baseado em duas funções dos mœsculos do pavimento pØlvico (MPP): suporte dos orgªos pØlvicos (bexiga, colo vesical e uretra) e no mecanismo do esfíncter uretral (aumento da pressªo intra uretral durante o esforço) . As investigações mostram uma grande multi- plicidade de protocolos de exercícios e todos tŒm uma eficÆcia similar . Nªo existe nenhum proto- colo específico de treino de força dos MPP ou orientações especiais para todos os indivíduos. Mas Ø importante que todo o treino de força inclua exercícios para ambos os tipos de fibras muscu- lares, dentro de uma actividade funcional . A lite- ratura Francesa recomenda protocolos de exercí- cio com supervisªo do profissional de saœde e/ou no domicílio, incluindo diversos parâmetros (tipo de contracçªo, intensidade, posiçªo, frequŒncia e duraçªo) para melhorar a eficÆcia do treino. Arnold kegel, em 1948, popularizou o TMPP ou exercícios de Kegel no tratamento da IU pós- -parto. Os estudos experimentais e aleatórios de Kari Bø e colaboradores contribuíram para a con- firmaçªo da relaçªo positiva entre o aumento da força dos MPP e melhoria da IUS. A selecçªo dos parâmetros de treino de força Ø baseada na avaliaçªo e no conhecimento da ana- tomia e fisiologia do tracto urinÆrio inferior. A funçªo da bexiga, colo vesical e uretra de- pende da integridade das estruturas de suporte (arco tendinoso, elevador do ânus e fascia endo- pØlvica) e nervosa . Esta complexa interacçªo mantØm intacto o mecanismo de encerramento uretral, eficÆcia na transmissªo de forças à uretra e 1 2-4 1 5 5 6 7-9 5, 10 Agency for Healthcare Research and Quali- ty Cochrane Incontinence Group colo vesical e activaçªo reflexa dos MPP ao au- mento da pressªo intra abdominal . O encerramento uretral envolve a integridade do mecanismo de continŒncia intrínseco e extrín- seco e um abundante plexo vascular nas camadas submucosa e mucosa . Cada componente deste mecanismo contribui em 1/3 para a pressªo de encerramento da uretra em repouso . O meca- nismo de continŒncia inclui os mœsculos estria- dos (controlo voluntÆrio) e liso (involuntÆrio) . O mœsculo liso Ø composto por fibras de baixo limiar de excitabilidade, resistentes à fadiga e con- tribuem para a manutençªo da continŒncia em re- pouso. O mœsculo estriado Ø constituído por fibras de alto limiar de excitabilidade e contribui para a continŒncia, atravØs da contracçªo voluntÆria ou reflexa durante o aumento sœbito da pressªo intra abdominal . Classicamente o mœsculo liso asse- gura a continŒncia passiva e o estriado a continŒn- cia activa. O esfíncter interno ocupa o colo vesical e 20% da uretra proximal, enquanto o esfíncter externo abrange entre 20% a 80% da uretra . O sœbito aumento da pressªo intra abdominal Ø transmitido directamente à bexiga e uretra pro- ximal na posiçªo retropœbica na mesma propor- çªo . O gradiente de pressªo uretrovesical Ø asse- gurado pelo arco tendinoso, fascia endopØlvica e ligamentos uretropØlvicos . O arco tendinoso e a fascia endopØlvica formam uma camada fibroten- dinosa com fixaçªo em pontos fixos e tŒm a funçªo de suportar passivamente a bexiga e colo vesical, manter o ângulo uretrovesical e evitar a descida dos orgªos pØlvicos durante o aumento da pressªo intra abdominal . Esta camada forma um suporte fascial interactivo com a contracçªo do mœsculo elevador do ânus que se insere na fascia endopØl- vica, parede vaginal, cóccix, pœbis e tuberosi- dades isquiÆticas . A contracçªo do elevador do ânus permite a estabilizaçªo, alinhamento e com- pressªo da uretra e elevaçªo do colo vesical du- rante o aumento da pressªo intra abdominal . As actividades diÆrias conduzem ao aumento da pressªo intra abdominal e posterior transmis- sªo da pressªo à uretra e bexiga que contŒm recep- tores sensíveis a esta variaçªo de pressões. Os impulsos aferentes originados na uretra e bexiga sªo enviados por via simpÆtica ao nœcleo Onu- frowicz’s (Onuf’s) na regiªo sagrada da espinal medula. Os impulsos eferentes por via simpÆtica resultam na contracçªo reflexa dos MPP, encerra- mento do esfíncter uretral e relaxamento do detru- 11 12 12, 13 12, 13 12, 13 12 11 5, 14 5, 15 5, 13 15 32 Margarida Ferreira, Paula Santos Acta Urológica 2009, 26; 3: 31-38 www.apurologia.pt sor. A integridade do mecanismo neuromuscular conduz ao equilíbrio das pressões intra abdominal e vesical e consequentemente à continŒncia uri- nÆria . O diafragma pØlvico Ø constituído pelo mœs- culo estriado elevador do ânus e coccígeo e forma uma camada horizontal com uma abertura para o hiato urogenital e ânus . O elevador do ânus Ø o principal mœsculo do pavimento pØlvico e Ø com- posto pelo mœsculo pubococcigeo (puborectal e pubovaginal) e eliococcigeo . Estes mœsculos sªo envolvidos pela fascia endopelvica (parietal),na qual se ligam aos orgªos pØlvicos, assistindo ao seu suporte. Os mœsculos tŒm fibras com orienta- ções diferentes, podendo contrair isoladamente e ter funções diversas . No entanto, só se conhece a contracçªo voluntÆria em massa dos MPP no sen- tido anterior e cefÆlico encerrando a uretra, vagina e ânus . O pubococcigeo e puborectal tŒm origem no osso pœbico e arco tendinoso e formam uma banda em U envolvendo o recto e inserindo-se no cóccix (pubococcigeo) e pœbis (puborectal). A fun- çªo deste grupo muscular consiste em dar suporte às estruturas viscerais em repouso, auxilia a fascia endopØlvica e Ø o principal suporte durante o sœbito aumento da pressªo intra abdominal . O iliococcigeo e o coccígeo representam a porçªo posterior dos MPP, formam uma camada fibro- muscular, mantendo uma contracçªo tónica e de suporte das vísceras do pavimento pØlvico . O elevador do ânus Ø constituído por fibras tipo I e II. As fibras tipo I (oxidativas) sªo de con- tracçªo lenta, tónicas, resistentes à fadiga e tŒm a funçªo de suporte durante o repouso. As fibras tipo II (glicoliticas) sªo de contracçªo rÆpida, rapidamente fatigÆveis e mantŒm-se activas du- rante o aumento de pressªo intra abdominal (riso, tosse ou esforço) . Em contraste com outros mœs- culos estriados, o elevador do ânus e o esfíncter anal tŒm uma actividade constante das fibras lentas (tonus de repouso) . A composiçªo histo- quimica do mœsculo elevador do ânus Ø de aproximadamente 70% de fibras do tipo I e 30% do tipo II . O padrªo de recrutamento das unida- des motoras pode ser modificado com o tipo de treino (principalmente com o parâmetro inten- sidade). O tipo de treino pode converter as fibras 10 16 15, 16 15 17 14 18 16 19 16 Características do músculo estriado tipo IIb em IIa (mais resistentes à fadiga em relaçªo às IIb) . O diafragma urogenital Ø a camada mais super- ficial ou distal do pavimento pØlvico, constituída na sua porçªo anterior pelo mœsculo transverso profundo do períneo. Este mœsculo tem um papel importante na acçªo voluntÆria da continŒncia urinÆria . A funçªo dos diafragmas consistem em manter um tonus de contracçªo constante , suportar o pa- vimento pØlvico e conservar o eixo normal da pØl- vis, junçªo uretrovesical e sincronia de uma co- -contracçªo automÆtica ao aumento da pressªo abdominal evitando as perdas urinÆrias . Os MPP e o recto abdominal tŒm uma acçªo de sincronia, isto Ø, a contracçªo do mœsculo abdo- minal (tosse, espirro), leva a uma contracçªo recí- proca do musculo pubococcigeo estabilizando e mantendo o colo vesical na posiçªo retropubica, facilitando a igualdade das pressões transmitidas da cavidade abdominal ao colo vesical e uretra proximal, mantendo a continŒncia urinÆria . Este sincronismo Ø a sequŒncia da activaçªo de origem central em que primeiramente sªo acti- vados os neurónios motores para os MPP em resposta ao aumento da pressªo intra abdominal. Algumas investigações, demonstraram que a con- tracçªo automÆtica dos MPP nas mulheres conti- nentes, Ø precedida ao aumento da pressªo intra abdominal . A contracçªo prØvia dos MPP antes do aumento intra abdominal indica que esta res- posta Ø prØ programada. A actividade antecipada nªo pode ser de uma resposta reflexa a uma en- trada aferente, resultante de um aumento da pres- sªo abdominal. Deve de estar prØ programado no SNC e antecipa-se ao aumento da pressªo intra ab- dominal para manter a continŒncia . A fisiopatologia Ø considerada multifactorial e estÆ associada à hipermobilidade da uretra e do colo vesical devido a uma laxidez das estruturas de suporte e fraqueza dos MPP e/ou diminuiçªo da pressªo de encerramento uretral . A debilidade das estruturas de suporte estÆ associada à idade, menopausa, parto vaginal, epi- siotomia, obstipaçªo persistente e tosse crónica. Howard e colaboradores confirmaram uma maior 10 16 14 12-14 11, 14 20 16 21, 22 23 Co-contracçªo Fisiopatologia 33Princípios da Fisiologia do Exercício no Treino dos Músculos do Pavimento PØlvicoActa Urológica 2009, 26; 3: 31-38 www.apurologia.pt variaçªo da mobilidade do colo vesical durante a tosse e manobra de valsalva nas mulheres primí- paras com IUS do que nas mulheres continentes nuliparas e primíparas. As mulheres continentes activam os mœsculos durante a tosse e estabilizam a uretra, prevenindo a descida . A lesªo do siste- ma de activaçªo neuromuscular e do tecido conec- tivo compromete a estabilizaçªo da uretra . A lesªo do mœsculo elevador do ânus, leva a uma hipermobilidade da uretra, diminuiçªo da força de contracçªo e a uma reduçªo ou atraso no mecanismo de acçªo, conduzindo à ineficÆcia do encerramento uretral . Uma contracçªo reflexa rÆpida e forte dos MPP previne a descida da bexiga e da uretra e pressiona a uretra contra a sínfise pœbica aumentando a pressªo uretral. O reflexo de contracçªo dos MPP pode preceder ao aumento da pressªo vesical por 200 a 250 ms (Constantinou e colaboradores, 1982 citado por CSP, 2004) . A posiçªo anatómica do colo vesical e uretra para a transmissªo correcta das pressões depende da integridade das estruturas ligamentares e de suporte. A ptose do colo vesical (abaixo do bordo inferior da sínfise pœbica) altera o mecanismo de transmissªo da pressªo. O gradiente uretrovesical torna-se negativo porque a pressªo Ø unicamente transmitida à bexiga . A deficiŒncia do esfíncter interno conduz a uma diminuiçªo da pressªo e tónus na uretra. A perda da funçªo do mœsculo liso uretral, fÆscias periuretrais e alterações da mucosa levam a per- das urinÆrias . Todos os componentes do esfíncter uretral, especialmente a mucosa do tecido, podem ser adversamente afectados pela privaçªo de es- trogØnios . As agressões locais como os processos inflamatórios, traumatismos do parto, diminuiçªo de estrogØnios contribuem para a instalaçªo da IUS pela deficiŒncia do mecanismo esfincteriano . A disfunçªo do pavimento pØlvico pode estar igualmente relacionada com a perda de proprio- cepçªo e desconhecimento das estruturas e fun- çªo dos MPP. A contracçªo voluntÆria dos MPP Ø uma funçªo adquirida, nªo Ø inata e o desenvol- vimento da força dos MPP requer um treino es- pecífico (conhecimento e consciŒncia da contrac- çªo) e dedicaçªo ao programa de exercícios . promoveu a percepçªo da contracçªo 24 23 17 2 18 16 25 2 2 Percepçªo da Contracçªo Correcta The American College of Obstetricians and Gy- necologists correcta atravØs de um panfleto com a instruçªo de “parar o fluxo urinÆrio a meio da micçªo sem contrair os membros inferiores ou os abdomi- nais”. Bump e colaboradores demonstraram que 25% de uma amostra de 47 mulheres, nªo reali- zava uma contracçªo efectiva dos MPP, capaz de aumentar a pressªo de encerramento uretral, com uma instruçªo verbal. Se existe uma dimi- nuiçªo da força dos MPP e alteraçªo da posiçªo anatómica das estruturas, nªo Ø uma simples ins- truçªo verbal que Ø suficiente para curar ou me- lhorar esta condiçªo. A sociedade internacional de continŒncia (2001) concluiu que uma simples instruçªo verbal ou escrita nªo representa uma adequada preparaçªo para a mulher iniciar o TMPP . O estudo de Parkkinem e colaboradores de- monstraram que 73% das mulheres nªo conseguia contrair correctamente os MPP na primeira ten- tativa. Algumas mulheres nªo sªo capazes de con- trair correctamente os MPP porque efectuam a manobra de valsalva, inversªo do comando peri- neal ou contracçªo perineal paradoxal, contraem os glœteos e adutores exclusivamente ou em com- binaçªo com a contracçªo dos MPP.Esta prÆtica Ø corrente e nªo deve ser negligenciada porque representa 11% a 30% das mulheres incapazes de efectuar uma contracçªo correcta . Sampselle e colaboradores concluíram que 68% das mulheres contraía os MPP com uma ins- truçªo verbal, no entanto constatou-se, que só 29% contraía correctamente os MPP após uma ins- truçªo adicional e 3% eram incapazes de contrair os MPP. O biofeedback e palpaçªo digital sªo os instrumentos adicionais na identificaçªo dos mœsculos e na aprendizagem de uma correcta con- tracçªo . A observaçªo de uma correcta contracçªo dos MPP foi demonstrada clinicamente atravØs de uma ressonância magnØtica. Kari Bø verificou que durante a contracçªo voluntÆria dos MPP o cóccix descrevia um movimento cranial em direc- çªo à sinfise pœbica. Esta contracçªo voluntÆria Ø simultaneamente uma contracçªo de todos os MPP e descreve um movimento de elevaçªo, na di- recçªo cefÆlica encerrando as aberturas pØlvicas. Nªo pode envolver nenhum movimento da pØlvis nem a contracçªo de outros grupos musculares relativamente aos mœsculos fracos e destreinados dos MPP. 26 2 27 26 28 2, 26 29 34 Margarida Ferreira, Paula Santos Acta Urológica 2009, 26; 3: 31-38 www.apurologia.pt Fisiologia do Exercício O mœsculo estriado adapta-se às exigŒncias dos programas de treino baseado nos princípios da fisiologia do exercício que incluem especifici- dade, sobrecarga e reversibilidade. A frequŒncia, duraçªo das sessões e do programa de treino tŒm igualmente um impacto nos resultados. Segundo a a força Ø definida como a contracçªo voluntÆria mÆxima, numa œnica repetiçªo, implicando o re- crutamento temporal e espacial mÆximo das uni- dades motoras . Existe uma variedade de factores intrínsecos (tipo de fibra, composiçªo histoquimica, tamanho do mœsculo) e extrínsecos (mecanismo neuromus- cular) responsÆveis no desenvolvimento da força muscular. A força mÆxima gerada tem uma forte correlaçªo com a Ærea seccional do mœsculo (vo- lume muscular), no entanto, demonstrou-se que um factor determinante da força Ø o mecanismo de controlo neural (somaçªo temporal e espacial) . O incremento de força nas primeiras 6 a 8 se- manas Ø predominantemente neural (frequŒncia de activaçªo e recrutamento das unidades moto- ras). Este aumento de força estÆ entre os 20% e os 40% sem se verificar o aumento do volume mus- cular. A hipertrofia Ø um processo mais lento e usualmente inicia-se após as 6 a 8 semanas, po- dendo prolongar-se por anos. A hipertrofia Ø gene- ralizada a todas as fibras, no entanto, o potencial da hipertrofia Ø maior nas fibras rÆpidas que nas fibras lentas. A distribuiçªo das fibras Ø heredi- tÆrio e as alterações observadas tŒm sido unica- mente nos subgrupos (fibras rÆpidas a e b) . O programa de treino de força muscular altera a morfologia do mœsculo com o aumento da Ærea seccional, modifica a funçªo neuromuscular pelo aumento da capacidade em recrutar unidades mo- toras adicionais e pela frequŒncia de excitaçªo, melhora o tonus muscular e propriedades visco elÆsticas do tecido conectivo . A literatura refere diferentes programas que podem ser utilizados para desenvolver a força ver- sus resistŒncia muscular. Assim, a força Ø adquiri- da com cargas mÆximas e baixo nœmero de repeti- ções; a resistŒncia sucede com baixas cargas e um elevado nœmero de repetições. Ocorrem altera- ções a nível celular (adaptaçªo metabólica) e a ní- American College of Sports Medici- ne 30 30, 31 30 30, 31 Especificidade vel das fibras (hipertrofia e padrões de recruta- mento) . O programa de treino específico de resistŒncia pode transformar as fibras rapidamente fatigÆveis (tipo IIb) em fibras mais resistentes à fadiga (tipo IIa), aumento do nœmero de mitocondrias e densi- dade capilar. A selecçªo do programa de treino adequado Ø influenciada pela actividade requeri- da e pelo grupo muscular . A escolha da natureza da carga depende da actividade individual e do nível de desenvolvi- mento muscular. A crescente capacidade funcio- nal e estrutural do mœsculo estÆ relacionada com a adaptaçªo ao esforço e incremento da carga. A pro- gressªo da carga deve ser gradual para permitir sobrecarga suficiente no sistema muscular e um processo de adaptações fisiológicas . Uma sobrecarga de exercícios poderÆ desenca- dear em fadiga muscular e uma carga incompleta poderÆ resultar no insucesso do ganho de força muscular. Um indivíduo destreinado ao realizar exercícios vigorosos frequentemente desenvol- ve mialgia pós esforço. Estes sintomas habitual- mente aparecem poucas horas após os exercícios e podem manter-se ao longo do dia. Deve-se a uma inflamaçªo das miofibrilhas e do tecido conectivo ou lesªo mecânica . A cicatrizaçªo das lesões no tecido resultam no aumento da força muscular, tornando-se menos susceptível a posteriores le- sões com o aumento da severidade do exercício (Astrand and Rodahl,1988 citado CPS,2004) . Manter a força muscular adquirida depende da continuidade do exercício. Um treino descontí- nuo conduz a uma diminuiçªo da força muscular. demonstrou uma reduçªo de 5-10% de força muscular por semana, com um treino de força descontínuo. Se a frequŒn- cia do treino for de uma a duas vezes com a mÆxi- ma intensidade, Ø o suficiente para manter a força muscular . O protocolo de treino dos MPP, exposto neste artigo, seguiu as recomendações do treino de força da , baseada 10, 30 10 30, 32 2, 30 2 30, 32 30 Sobrecarga Reversibilidade The Clinical Sports Medicine American College of Sports Medicine Protocolo de Treino dos Músculos do Pavimento Pélvico 35Princípios da Fisiologia do Exercício no Treino dos Músculos do Pavimento PØlvicoActa Urológica 2009, 26; 3: 31-38 www.apurologia.pt nos princípios da fisiologia do exercício para o mœsculo estriado e programa de treino elaborado por Kari Bø . Um programa de treino de força, incorpora um treino progressivo dos parâmetros: intensidade, frequŒncia, tempo de repouso, volume, duraçªo e especificidade . A força dos MPP Ø definida como um esforço mÆximo ou referida como contracçªo voluntÆria mÆxima (CVM) . A intensidade (CVM) parece ser um dos facto- res determinantes no desenvolvimento da força e volume muscular. Uma estimulaçªo forte permite aumentar a CVM (encerramento mÆximo), desta forma, existe um recrutamento maior do nœmero de unidades motoras, indiferentemente de serem fibras rÆpidas ou lentas. Assim, o tempo de uma contracçªo e uma contracçªo mÆxima podem di- minuir a incontinŒncia durante o esforço . Muitas mulheres sªo capazes de contrair cor- rectamente os MPP, mas as contracções sªo fracas. Uma contracçªo mÆxima requer uma tensªo ele- vada e para adquirir esta contracçªo, Ø necessÆrio estimular a mulher Æ mÆxima contracçªo e tentar manter essa contracçªo por alguns segundos. Kari Bø combinou trŒs princípios para estimular con- tracções de alta intensidade: 1- Contracções mÆxi- mas mantidas de seis a oito segundos, finalizando com trŒs a quatro contracções rÆpidas no topo da contracçªo mÆxima; 2- posições iniciais com os membros inferiores em abduçªo para dificultar a acçªo de outros mœsculos, 3-estimulo verbal forte para encorajar a mulher a contracções mÆximas. O objectivo consiste em fortalecer as fibras fÆsicas e tónicas, realizando contracções intensas e de curta duraçªo (fibras tipo II) combinadas com contracções submÆximas e de maior duraçªo (fi- bras tipo I) . A frequŒncia Ø determinada pelo nœmero de dias por semana de treino do grupo muscular a treinar. Os indivíduos destreinados necessitam de uma frequŒncia de treino de trŒs dias semanais e nos indivíduostreinados Ø de duas vezes sema- nais por cada grupo muscular . A (CPS) , recomenda uma fre- quŒncia diÆria para os MPP. Kari Bø introduziu uma frequŒncia de treino semanal com supervisªo e um programa adicional no domicílio com uma frequŒncia diÆria. O programa de treino no domi- cílio consta de contracções voluntÆrias dos MPP, durante as actividades diÆrias (lavar a loiça, senta- 7-9 31, 32 31 30, 31 8 7, 8 30-32 2 8 Chartered So- ciety of Physiotherapy da no sofÆ, na paragem do autocarro…). Eram exe- cutadas dez contracções mantidas de oito segun- dos, em trŒs sØries intervaladas, em diferentes po- sições e durante uma actividade funcional diÆria. O repouso entre as contracções era igual ao tempo da contracçªo mantida . Entre as sØries po- dem ser introduzidas tØcnicas de relaxamento (Jacobson) local ou geral para promover o rela- xamento dos mœsculos sinØrgicos ; exercícios de alongamento dos mœsculos posturais para melho- rar a flexibilidade e diminuir a tensªo muscular e exercícios de reeducaçªo respiratória combinan- do a inspiraçªo com o relaxamento dos MPP e a expiraçªo com a contracçªo dos MPP . Deve ser solicitado o padrªo respiratório diagramÆtico e costal inferior para diminuir a intervençªo dos mœsculos acessórios cervicais, melhorar o suple- mento de oxigØnio nos MPP e manter uma postura correcta . O volume consiste no nœmero de sØries reali- zadas por um grupo muscular. É necessÆrio pre- cauçªo no aumento do volume na populaçªo des- treinada, Ø fundamental um tempo adequado para se habituar ao exercício e evitar as lesões de sobre- carga em fases iniciais do treino. Estes podem perder a vontade de praticar o programa de treino e reduzir a adesªo ao exercício . O padrªo inicial Ø de uma sØrie de 8-12 repetições, para 8 a 10 exercícios, sendo este o mais apropriado no início do treino com supervisªo . O parâmetro duraçªo do TMPP Ø importante para se obter adaptaçªo neural e hipertrofia mus- cular. recomenda um período mínimo de 15-20 sema- nas. As diversas investigações de Kari Bø , incluí- ram um programa de TMPP com duraçªo de vinte e quatro semanas. A especificidade do treino da força Ø exclusivo à Ærea a treinar. As mulheres teriam de solicitar a contracçªo isolada dos MPP . É imperioso a incorporaçªo no TMPP o ensino da tØcnica de Knack . Esta tØcnica consiste numa prØ contracçªo voluntÆria dos MPP durante um esforço. As mulheres sªo ensinadas a contrair os MPP antes e durante um esforço prevenindo as perdas urinÆrias com o aumento da pressªo abdo- minal. O estudo demonstrou uma reduçªo do vo- lume urinÆria mantendo a frequŒncia dos episó- dios de incontinŒncia; parece resultar nas mulhe- res que executam uma contracçªo correcta dos MPP e pode ser igualmente efectiva nas mulheres 3, 4 5 5, 33 33 31 8, 31 8 8, 31 34 The American College of Sports Medicine 36 Margarida Ferreira, Paula Santos Acta Urológica 2009, 26; 3: 31-38 www.apurologia.pt sedentÆrias, pois só perdem urina quando tossem ou riem . O sucesso do TMPP depende da capacidade de identificaçªo dos MPP e integraçªo da regiªo peri- neal no esquema corporal, consciŒncia da con- tracçªo correcta e adesªo e/ou motivaçªo ao proto- colo de exercicios. Para potenciar os resultados do TMPP a curto e longo prazo Ø imperativo respeitar os princípios da fisiologia do exercício e inserir o programa de TMPP nos cuidados de saœde diÆrios. 34 Conclusªo Bibliografia 1. Dumolin C, Hay-Smith J. 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