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* A Crise da Economia Clássica Inicia-se em meados dos anos 60 do sc. XIX Deve-se a: 1. Deficiências teóricas 2. Problemas metodológicos 3. Políticas deficientes em face dos problemas sociais Prof. Ricardo Feijó * O PRESTÍGIO DA ESCOLA CLÁSSICA Mais na Inglaterra. Sistema teórico de Ricardo e Mill imperou de 1840 a 1860. Escritos metodológicos de Mill Prosperidade que acompanhou a abolição da lei dos cereais * INÍCIO DA CRISE DE CONFIANÇA Período de críticas destrutivas desacreditou a escola clássica Críticas centradas nas teorias de valor e distribuição (salários) * DUAS TEORIAS DE SALÁRIOS CRITICADAS Teoria do Fundo de salários Doutrina da taxa natural de salários * PRINCIPAIS CRÍTICOS Cliffe Leslie (EHI) Fleming Jenkin Francis D. Longe John Elliot Cairnes William T. Thornton W.S. Jevons * Jevons afirma: “Outras doutrinas geralmente aceitas têm-me parecido sempre ilusórias, especialmente a assim chamada Teoria do Fundo de Salários. Essa teoria aparenta fornecer uma solução para o principal problema da ciência – determinar os salários do trabalho; contudo, num exame mais minucioso descobre-se que sua conclusão não passa de mero truísmo qual seja, que a taxa média de salário é encontrada pela divisão do montante total destinado ao pagamento dos salários pelo número daqueles entre os quais esse montante é dividido” (A teoria da economia política, prefácio). * ALTERNATIVAS À TFS Longe: demanda geral de trabalho Thornton: demandas e ofertas pretendidas de trabalho; excedente do consumidor; ação de sindicatos Cairnes (Nova exposição dos princípios líderes da economia política): demanda e oferta realizadas versus estimadas; gerais versus específicas; defesa da lei de Say e indeterminação salário/lucro * TEORIA DOS SALÁRIOS AGREGADOS MÉDIOS DE CAIRNES Como são determinados os investimentos em geral e cada tipo deles (contratação de m.o.)? O que condiciona, no agregado, o que é investido em capital fixo, m.p. e salários? Hipótese de trabalho heterogêneo na explicação de salários relativos (nova teoria do fundo de salários) Existência de grupos não competitivos * MODELO MULTIFATORES DE TRABALHO Indivíduos diferenciados competem entre si, preferindo cada um as profissões mais bem pagas. No equilíbrio, os salários relativos seriam explicados pelas diferenças de talento e qualificação individual. Cairnes também propôs uma teoria ad hoc sobre a existência de grupos não competitivos dentro do modelo de multiplicidade de fatores de trabalho. Cairnes era excessivamente malthusiano e sua defesa de Mill acabou comprometendo ainda mais o sistema teórico clássico. * LIGAÇÃO SALÁRIO-PRODUTIVIDADE Típica em autores alemães: Friedrich von Hermann (1832) Karl Heinrich Rau (1863) Hans von Mangoldt (1863) Fizeram a ligação teórica do salário com a produtividade. Idéia que acabou prevalecendo na Economia moderna, mas que ainda era pouco usual à época. A produtividade determina a distribuição de renda e esta afeta a demanda do consumidor. * CONSTATAÇÃO DE SCHUMPETER Comentando o período, o célebre Schumpeter nos diz que, nos anos 70 “assassinar a teoria do fundo de salários tornou-se o esporte favorito entre os economistas”. O próprio Mill, em 1869, acabou abandonando-a. * DESCRÉDITO DA IDÉIA DE TAXA NATURAL DE SALÁRIOS Fatores externos: Melhoria no padrão de vida mesmo com forte crescimento demográfico Não explica como salários são afetados pelas importações de alimentos Pouco conteúdo empírico da teoria Crítica à teoria da população de Malthus Nassau Senior McCulloch Robert Torrens * LIGAÇÃO DO SALÁRIO COM A PRODUTIVIDADE Os críticos viam a existência de muitas exceções às teorias de salário de Ricardo e Mill, que se tornam mais importantes que o caso geral. No entanto, não havia algo mais elaborado que pudesse substituir as teorias vigentes. Nessa época, inicia-se o desenvolvimento de explicações que elaboram pensamentos na direção da análise da produtividade marginal. A partir de então, cada vez mais, populariza-se a explicação dos salários pela produtividade do trabalho. * CRÍTICA À TEORIA DO VALOR-TRABALHO Mesmo clássicos como Mill e Cairnes aceitavam a teoria do valor dependente da demanda no comércio internacional Jevons: falta de generalidade; efeito dos custos depende da demanda; trabalho heterogêneo Menger: por que uma teoria particular para a renda da terra? Walras: não aceita divisão dos bens entre raros e bens reproduzíveis; determinação simultâneo dos preços dos bens e dos fatores * TRÊS PILARES BÁSICOS DA ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA QUE FORAM BASTANTE CRITICADOS: A doutrina da população de Malthus A teoria do fundo de salários A teoria do valor-trabalho Poderíamos acrescentar: a teoria da renda (era contestada por não se acreditar na lei da produtividade decrescente da terra ou porque alguns autores, como Richard Jones, criticavam o próprio conceito ricardiano de renda da terra) * CANDIDATOS FRACASSADOS A SUBSTITUIR OS CLÁSSICOS Escola Histórica: conquistou certo prestígio nos Estados Unidos, principalmente nos escritos de T. Veblen. Nada que impedisse a aceitação da Economia marginalista e seu aprimoramento em trabalhos de brilhantes economistas norte-americanos como Irving Fisher e John Bates Clark. Institucionalismo: foi nos EUA o sucessor da escola histórica, padeceu da fraqueza de não propor uma compreensão alternativa dos problemas teóricos. * MARX COMO ALTERNATIVA AOS CLÁSSICOS O legado de Karl Marx seria outra alternativa à escola clássica se tivesse atraído para si os descontentes dela. Entretanto, na década de 80 do século XIX, sua contribuição em nada afetou o ambiente acadêmico dos economistas. Embora o primeiro volume de sua obra máxima O capital tenha sido publicado em 1867, ele só foi traduzido para o inglês em 1887. Marx morreria desconhecido em 1883. Jevons, Menger e Walras não sabiam das idéias de Marx. * CRISE ECONÔMICA E MUDANÇAS SOCIAIS NA INGLATERRA Ao lado das críticas em teoria e método, na crescente hostilidade para com a escola clássica contribuíram elementos que se relacionam ao ambiente social e econômico da época. A descrença estava voltada não apenas aos aspectos teóricos da ortodoxia, a própria orientação política derivada dos princípios da doutrina econômica clássica era contestada pela opinião pública. * PAPEL DOS EVENTOS SOCIAIS DA ÉPOCA A breve exposição dos eventos sociais que marcaram esta época na Inglaterra facilita a compreensão de como fatos extra-teóricos impulsionaram a crise na Economia Política. * PROSPERIDADE E AGRAVAMENTO SOCIAL Os anos de 1850 a 1870 foram marcados por uma notável prosperidade econômica na Inglaterra impulsionada pelo crescimento da industrialização. As técnicas produtivas executam grandes saltos, com o aumento no tamanho das fábricas, especialmente na indústria mecânica e nos setores de aço, ferro, transporte e comunicação. * A companhia limitada é substituída pela firma de sociedade anônima, propiciando um novo e privilegiado instrumento de mobilização e controle do capital. Essa prosperidade, no entanto, não se refletiu positivamente nas relações sociais; pelo contrário, os problemas sociais só se agravaram no período. * INOVAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO Ocorrem inovações organizacionais trazidas pelos novos métodos na administração das empresas. Tais inovações resultam em uma relação mais hierárquica e mais burocrática no interior das firmas, simbolizada pela introdução da figura do gerente de fábrica. * TENSÕES SOCIAIS Não só no plano interno das empresas, mas também em toda a sociedade, o período assiste ao agravamento nas relações sociais. Ao lado da deterioração das condições de trabalho e do prolongamento de sua jornada, novas mudanças são propiciadas pela incorporação no mercado de trabalhode mulheres e crianças. * SINDICATOS E CARTÉIS A resposta dos trabalhadores fez-se sentir no avanço da organização sindical. Os sindicatos conquistaram grande poder de mobilização, o que parecia ameaçar interesses econômicos de grupos organizados. Por outro lado, as firmas intensificam o uso de práticas de conluios, com fusões e formação de cartéis. Há um crescimento generalizado no poder de monopólio. * MAIS INTERVENVENCIONISMO A vida social, exacerbada por uma configuração mais conflituosa entre as classes, que se traduzia em tensões crescentes na política, levou a uma ação mais incisiva do Estado na economia com o objetivo de atenuar esses conflitos. * CRISE DOS ANOS 1870 Os anos 1870 acentuaram as contradições da sociedade inglesa. O processo de mudança estrutural mantém sua continuidade e até se intensifica. A economia desse país enfrenta agora uma reversão cíclica com o aparecimento de dificuldades econômicas. Trata-se da Grande Depressão, vista por alguns autores como o primeiro sinal da crise geral do capitalismo, cujo epicentro se localiza no ano de 1873. * Esse grave período da economia fez aumentar ainda mais a intervenção do Estado. Os problemas da economia inglesa afetaram a outros países, especialmente a Alemanha. A Inglaterra já não consegue exercer com a mesma eficácia seu papel de coordenadora internacional do mercado de capitais. Graves crises financeiras verificam-se, em diferentes países, nos anos de 1873, 1882 e no começo da década de 1890. O sistema bancário inglês, o emprestador em última instância, não mantém o controle da situação. * CRISE NA AGRICULTURA A situação na agricultura também não é boa. O trigo inglês não consegue competir com a produção dos Estados Unidos, gerando grande queda na renda dos agricultores. O crescimento no comércio internacional, sob a égide do padrão-ouro, acirra a competição, o que leva parte da opinião pública inglesa a clamar por um maior protecionismo. * EFEITO DA CRISE A intervenção do Estado aumenta em conseqüência desses eventos, não só para dirimir os conflitos sociais internos, mas também visando melhorar o desempenho da economia e restabelecer a competitividade internacional daquela nação européia. * SEITAS SOCIAIS Outro movimento pode ser observado no plano das idéias. O laissez-faire cedia cada vez mais espaço para a necessidade de uma doutrina que regulasse a intervenção do Estado com base em princípios racionais de ação da esfera pública inspirados nos avanços das ciências. Já nos anos 60, nota-se a eclosão de um interesse renovado pela ciência social. A crença generalizada nas potencialidades dessa ciência em modelar a vida social levou a uma proliferação de várias seitas sociais. * CONTRA OS CLÁSSICOS Os pensamentos de Mill, Comte, Spencer, T. H. Green, H. George e Marx, o evolucionismo de Darwin e outras correntes proporcionam um rico painel de idéias, de cores variadas, que na época iluminou as mentes dos entusiastas da reforma social. Ao mesmo tempo, a doutrina do livre mercado, ainda forte, passa a encontrar rivais a altura, que se valeram do mau resultado da competição no lado da distribuição para galvanizar os descontentes. * TEORIAS DE DISTRIBUIÇÃO Há, no fim do século XIX, uma crescente ênfase no problema da distribuição. A Economia clássica era admoestada por ter-se preocupado em demasia com o lado da produção. Acreditava-se na existência de um amplo escopo para políticas de distribuição. * NOVOS PROBLEMAS A questão da acumulação de capitais, central entre os clássicos, pareceu, aos olhos da época, menos importante. O problema da má alocação de recursos tornou-se mais relevante. Em sintonia com o clima da época, a teoria marginalista iria priorizar a questão da eficiência alocativa. * O PAPEL DO MARGINALISMO Sem contestar o laissez-faire, a análise marginalista explicava que a inabilidade do capitalismo em controlar a anarquia de mercado era apenas aparente e que esse controle poderia ser restabelecido se o governo combatesse as coalizões internas feitas por trabalhadores e patrões. * RAZÕES EXTERNAS DA CRISE Ao lado dos problemas internos à teoria clássica, há razões externas que explicam sua crise. O ressurgimento de um conflito social claro e endêmico tornou a comunidade acadêmica e os círculos políticos e culturais críticos à teoria clássica e particularmente receptivos à nova teoria marginalista. * O CASO GOSSEN O fato de o livro de H. Gossen, que não encontrou público em seu lançamento em 1854, ter alcançado extraordinário sucesso, quando em 1889 um editor de Berlim o republicou com um breve prefácio, demonstra que havia uma grande demanda pela visão proporcionada pela teoria marginalista.
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