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Aula direito das coisas

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Direito das coisas
“um conjunto de normas que regem as relações jurídicas concernentes aos bens materiais (imóvel ou móvel) ou imateriais (o direito em si) suscetíveis de apropriação pelo homem”. (Maria Helena Diniz).
Direito das coisas - Teorias
 
a) realista: que diz que seria possível haver uma relação jurídica entre pessoa e coisa, havendo tão somente um sujeito ativo e um objeto, dispensando-se o sujeito passivo. 
 
b) personalista: determina sempre uma relação jurídica entre “pessoas”, sujeito ativo e sujeito passivo, havendo, entretanto, uma relação material (usar, fruir e dispor) entre o sujeito ativo e o objeto.
 
Direito das coisas - Características
 
a) oponibilidade erga omnes: o titular de um direito real tem a prerrogativa de opor-se a todos os demais sujeitos de direitos, de modo a salvaguardar os seus, é conhecido também como direito absoluto;
 
b) direito de seqüela: é o direito que o titular tem de ir buscar a coisa de quem injustamente a possua (art. 1228);
 
c) exclusividade: não existem dois direitos reais, de igual natureza e igual conteúdo sobre o mesmo bem, no mesmo momento;
Direito das coisas - Características
  
 d) privilégio: o titular de um crédito real terá prioridade em relação aos outros credores menos favorecidos. Ex. Banco (hipoteca) terá privilégio no crédito em face a credor de indenização que acabou por penhorar o imóvel do ofensor (casos da fiança e aval – obrigações pessoais);
 
e) objeto determinado: os bens que implicam direitos reais serão sempre certos e determinados, sob pena de se criar instabilidade jurídica perante um conjunto de pessoas.
 
f) perpetuidade: o direito real dura enquanto o seu detentor detiver personalidade. Após a perda dela, por decisão judicial ou pela morte, se transferirá à terceiro.
Diferença entre direitos reais e pessoais
  
 1- enquanto nos direitos reais figuram no polo passivo da demanda pessoas incertas (você está discutindo sobre coisa, e não pessoa detentora da coisa) no direito pessoal figuram no polo passivo pessoas certas e determinadas (o causador do dano, por exemplo, só ele tem o dever de indenizar);
 
2- enquanto os direitos reais são oponíveis contra todos (erga omnes), os direitos pessoais são oponíveis somente inter partes (locador só poderá opor-se ao locatário);
Diferença entre direitos reais e pessoais
  
3- enquanto o objeto dos direitos reais é sempre certo e determinado (coisa individualizada) e corpóreo, nos direitos pessoais pode ser meramente determinável (gênero e quantidade) e incorpóreo;
 
4- a violação do direito real, se dá por ação de alguém, do direito pessoal, via de regra (salvo nos casos de obrigação de não fazer) se dá por omissão;
 
5- direito real (ex: propriedade) é permanente, direito pessoal (ex: indenização) é transitório;
Obrigação propter rem
  
- aqui ocorre uma junção entre direito real e direito das obrigações, pois o titular de um direito real se vê obrigado a determinada prestação em razão de sua relação com a coisa.
 
- é a obrigação que decorre de um direito real. Ex. Condomínio, IPTU, SPU, taxa de lixo etc.
Obrigação propter rem
  IMPORTANTE!!!
A obrigação é da coisa, e não da pessoa titular da coisa. 
A obrigação acompanha o bem mesmo se houver transferência de titularidade.
Obrigação propter rem
RECURSO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. TAXA CONDOMINIAL. ADQUIRENTE DE UNIDADE HABITACIONAL. LEGITIMIDADE PASSIVA. "MESMO QUE SE REFIRAM AS DESPESAS CONDOMINIAIS A PERÍODO ANTERIOR A AQUISIÇÃO, POR ELAS DEVE RESPONDER O ADQUIRENTE INDEPENDENTEMENTE DA NATUREZA DO RESPECTIVO TÍTULO." (Ap. cível n. 24012, de São José, Relator Napoleão Amarante).
Obrigação propter rem
É CONSABIDO QUE AS TAXAS CONDOMINIAIS DECORREM DA UTILIZAÇÃO DO IMÓVEL E NÃO DE SUA PROPRIEDADE, ATÉ PORQUE SE TRATA DE DÍVIDA PROPTER REM, ISTO É, AQUELA QUE ACOMPANHA A COISA, INDEPENDENTEMENTE DE QUEM SEJA O TITULAR DO DOMÍNIO (APELAÇÃO CÍVEL N° 2010.050841-1, REL. DES. GILBERTO GOMES DE OLIVEIRA, J. EM 18/07/2013).
Obrigação propter rem
DE SABENÇA, CONSTITUIU-SE A CONTRIBUIÇÃO CONDOMINIAL EM OBRIGAÇÃO PROPTER REM, ASSIM CONSIDERADA AQUELA QUE, SEM DERIVAR DIRETAMENTE DA VONTADE DAS PARTES, DECORRE DAS RELAÇÕES DO DEVEDOR E DO CREDOR EM RELAÇÃO A UM BEM, ACOMPANHANDO-O INDEPENDENTEMENTE DAS MUTAÇÕES NA TITULARIDADE DOMINIAL (APELAÇÃO CÍVEL N° 2012.086073-3, REL. DES. TRINDADE DOS SANTOS, J. EM 16/06/2013)
Obrigação propter rem
- Conforme assentado pelo Superior Tribunal de Justiça em recurso representativo de controvérsia, o que define a responsabilidade pelo pagamento das obrigações condominiais não é o registro do compromisso de compra e venda, mas a relação jurídica material com o imóvel, representada pela imissão na possepelo promissário comprador e pela ciência inequívoca do condomínio acerca da transação (REsp 1345331, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 08/04/2015) 
Ônus reais
- é um gravame que recai sobre determinada coisa restringindo o direito do titular de um direito real. 
 
- limitam a fruição e disposição da propriedade. Pode-se considerar ônus reais todos os direitos reais sobre coisas alheias (veremos posteriormente), tais como: hipoteca, penhor, usufruto, superfície (art. 1369 – arrendamento rural, ex).
Diferença entre obrigação propter rem e ônus reais 
-enquanto na primeira o devedor responde com seu patrimônio caso não a cumpra (pode ter um carro penhorado para pagar IPTU), na segunda o próprio bem responderá pela obrigação (caso da hipoteca, onde a casa é dada como garantia de pagamento do financiamento imobiliário).
Espécies de direitos reais 
Art. 1.225. São direitos reais:
I - a propriedade;
II - a superfície;
III - as servidões;
IV - o usufruto;
V - o uso;
Espécies de direitos reais 
VI - a habitação;
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese.
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)
XII - a concessão de direito real de uso; e (Redação dada pela Medida Provisória nº 700, de 2015)
XIII - os direitos oriundos da imissão provisória na posse, quando concedida à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou às suas entidades delegadas e respectiva cessão e promessa de cessão.
Classificação dos direitos reais 
Incidem:
- sobre coisa própria, é aquele que apresenta um único titular com poder sobre a coisa.
 
- sobre coisa alheia, são aqueles onde existem dois titulares distintos com poderes distintos sobre a coisa.
 
Obs. importante: Não considere o casal proprietário como dois titulares distintos, o casamento é uma sociedade, onde cada um dos cônjuges possui 50% das “cotas”. Desse modo, o imóvel é da sociedade e não de cada um deles individualmente.
Direitos reais sobre coisa alheia
de fruição: onde o terceiro passa a ter o poder de fruir (usar) da coisa permanecendo o proprietário com todos os direitos sobre ela (ex. enfiteuse [usa pagando determinado valor – arrendamento], usufruto, servidão, direito real de habitação [inventário ou separação]);
de garantia: aquele onde o terceiro passa a ter o poder de executar ou de fruir dos bens a fim de garantir a obrigação principal contraída pelo proprietário (ex. hipoteca, penhor, anticrese [frutos que pagam a dívida]);
de aquisição: ocorre quando o proprietário aliena seu bem a um terceiro, de forma gradual (promessa de compra e venda onde só transfere a escritura após o pagamento da última parcela, enquanto não pagar o proprietário permanece com direitos reais, mas aí sobre coisa alheia (do comprador).
Posse
- Posse: relação da pessoa com a coisa, baseada na vontade do possuidor exteriorizada por uma situação fática (estar sobre um terreno, por exemplo);
 
- Propriedade: também é relação da pessoa com a coisa, entretanto, é baseada na vontade da lei, que estabelece assim um poder jurídico (a lei diz que é proprietário aquele que pode usar, gozar, reaver e dispor da coisa, a qualquer tempo).
Posse
- o conceito de possuidor do art. 1196
define, entrelinhas, o que é posse: posse é o exercício de fato (não de direito) de algum dos poderes da propriedade (não de todos). E qual os poderes inerentes à propriedade? Usar, gozar, reaver a dispor (art. 1.228).
Teoria subjetiva e objetiva da Posse
- a teoria subjetiva, que tem como pai Savigny (influenciado pelo direito romano), possuiu dois elementos essenciais: animus domini= vontade de ser dono e corpus= aparentar ser dono.
 
- consiste no poder de dispor fisicamente da coisa, com a vontade de tê-la como sua, animus domini, defendendo-a contra a intervenção de qualquer outro fazendo transparecer uma situação aparente, visível, de poder físico sobre a coisa, corpus, (vulgarmente, estar sobre a coisa).
Teoria subjetiva e objetiva da Posse
- a teoria objetiva, que tem como pai Ihering, ensina que a posse consiste na exteriorização, visibilidade, mera aparência de propriedade, sem, contudo, querer o sujeito ser dono da coisa, podendo ser meramente possuidor, ou em outras palavras, tê-la para si, sem que para isso seja dono, é o animus tenendi.
Teoria subjetiva e objetiva da Posse
- teoria subjetiva (Savigny)= animus domini (vontade de ser dono) + corpus (exteriorização da propriedade, como se dono fosse). 
 
- teoria objetiva (Ihering)= corpus.
Teoria subjetiva e objetiva da Posse
Se você encontra um amontoado de lenha na floresta, pode-se concluir ser de alguém? Mas se você encontra na mesma floresta uma pilha de lenha amarrada, pode-se concluir ser de alguém? Sim, pois a partir do momento em que você o amarrou, deixou claro à terceiros que aquela lenha é de alguém, que você exerce posse sobre ela, mesmo não querendo obrigatoriamente ser o dono dela.
Conceito de Posse para Maria Helena Diniz
“a posse é a exteriorização ou visibilidade da propriedade, ou seja, a relação exterior intencional, existente normalmente entre o proprietário e a sua coisa”.
Diferenças entre a teoria subjetiva e a objetiva
- na subjetiva todo possuidor quer ser proprietário, na objetiva, posse e propriedade não se misturam;
 
- na subjetiva é necessário, além do corpus, o animus domini, ou seja, a vontade de querer o domínio, de ser proprietário, enquanto que na objetiva basta o animus tenendi, ou seja, a vontade de ter a coisa, que se exterioriza somente pelo corpus, sem que para isso, queira o sujeito ser dono.
 
Obs: pela teoria subjetiva de Savigny, o usufrutuário e o locatário, por exemplo, não teriam posse, já que não querem ser proprietários, o que é um erro.
 
Conclusão
- a teoria adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro é a teoria objetiva de Ihering, bastando para se caracterizar a posse tão somente o corpus, que transparece à terceiros o animus tenendi, a vontade de ter a coisa.
Classificação da Posse
Posse direta x posse indireta
- quem tem posse direta? Aquele que detém a coisa materialmente, naturalmente, que possui visibilidade ou aparência de proprietário.
 
- dispõe o artigo 1197: “a posse direta, de pessoa que tenha a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto”.
 
- o artigo citado expõe de maneira clara o instituto do ius possessionis (direto de posse).
Classificação da Posse
Posse direta x posse indireta
- quem tem então a posse indireta? Aquele que concedeu ao primeiro o direito de possuir, conservando apenas a nua-propriedade. Ex. usufruto.
 
Obs. importante!!! Aquele que detém a posse direta pode defendê-la em caso de esbulho (perda da posse, remédio= reintegração), turbação (medidas atentatórias à posse, remédio= manutenção) ou ameaça (que terá como remédio ação de interdito proibitório) de qualquer pessoa, inclusive do possuidor indireto, é o ius possessionis, salvo se a posse for viciosa (proveniente de violência, precariedade ou clandestinidade). 
Classificação da Posse
Posse justa x posse injusta
- segundo o artigo 1200, a posse será justa quando:
 
- não for violenta (não for adquirida pela força física ou violência moral);
- não for clandestina (não for adquirida às escondidas daquele que tem interesse em conhecê-la [proprietário, ex]);
- não for precária (não for adquirida através de um abuso de confiança por parte de quem recebe a coisa com o dever de restituí-la [caso do comodato verbal entre patrão e empregado, ex]).
 
- desse modo, a posse será injusta quando se revestir de algum(ns) dos vícios dantes elencados.
Classificação da Posse
IMPORTANTE
A posse violenta e a clandestina deixam de assim se considerar com decurso do tempo (1 ano), a teor do art. 1.208.
A posse precária jamais se convalida, mesmo pelo decurso do tempo. Prova disso é a omissão intencional do legislador ao redigir a parte final do art. 1.208 do CC.
Classificação da Posse
Posse de boa-fé x posse de má-fé
- ocorre a posse de boa-fé quando o possuidor está convicto de que a coisa lhe pertence, ignorando que está prejudicando direito de outrem. Artigo 1201. (justo título = fato gerador da qual a posse deriva, é documento hábil para transferir a propriedade = escritura, art. 108).
- assim, será de má-fé quando o possuidor tem ciência da ilegitimidade do seu direito de posse, em razão de vício ou obstáculo impeditivo de sua aquisição.
Classificação da Posse
Posse de boa-fé x posse de má-fé
por qual razão é importante definir a posse em boa-fé ou má-fé? 
No campo das ações possessórias a classificação não tem a menor importância, já que tanto o possuidor de boa-fé como o de má-fé (art. 1238), podem usucapir coisa e usar das ações possessórias para defender sua posse. A classificação tem pertinência quanto à indenização pelas benfeitorias na coisa, que só será devida se o possuidor a tinha de boa-fé.
Efeitos da Posse
Posse ad interdicta x posse ad usucapionem
- toda posse é ad interdicta, ao passo que todo possuidor pode defendê-la através dos interditos possessórios (exceto contra o esbulhado). 
 
- a posse ad usucapionem é aquela que autoriza o possuidor a adquirir a coisa por meio da posse prolongada = interversão da posse.
Efeitos da Posse
Composse
- ocorre quando duas ou mais pessoas possuem a posse sobre o mesmo bem (no condomínio exercem além da posse a propriedade). Ex. casal que exerce a posse sobre determinado imóvel. Art. 1199.
 
- no caso do exemplo acima, a posse dos compossuidores será classificada como pro indiviso, pois não há uma divisão natural da posse, onde todos exercem-na sobre o todo.
 
- se os possuidores exercerem posse exclusiva sobre uma fração ou parte certa da coisa, a posse será pro diviso. Ex. muro ou cerca que divide um imóvel, separando-o em duas partes.
Efeitos da Posse
Posse nova x posse velha
- a posse será nova se tiver menos de ano e dia (até 365 dias);
 
a posse será velha se tiver mais de ano e dia (366 dias).
- a importância de se classificar o tempo da posse diz respeito à possibilidade ou não de concessão de liminar para recuperá-la. 
 
- somente a posse nova admite pedido liminar, a posse velha não.
Objeto da Posse
- em princípio, todo bem corpóreo é objeto de posse, entretanto, é necessário ter ele valor econômico e estar no comércio. Assim, não são suscetíveis de posse:
 
a) todos os bens que por sua natureza estão fora do comércio: camada de ozônio, o ar, a lua, o clima etc.
b) todos os bens que o legislador entenda não serem passíveis de posse: ruas, praças, praias etc.
c) todos os bens públicos de uso especial e dominicais: prédios públicos, repartições etc.
Espécies de Posse
- Posse e detenção
 
- importante diferenciá-las, já que a primeira goza de proteção jurídica, e a segunda não.
 
- o que é detenção? A resposta está no art. 1198, ou seja, é quando alguém, que tem relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e sob suas ordens. Ex. Caseiro, empregado doméstico, comodatário ou quando o bem não for passível de ser possuído, caso do governador que é mero detentor da
residência oficial do governador, não exercendo sobre ela posse.
Espécies de Posse
- art. 1208: “não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância”.
 
- diferenças entre posse e detenção:
 
1) na posse, o possuidor a conserva para si, em seu nome, na detenção não, o faz para terceiro e sob suas ordens;
2) a posse pode ser objeto de usucapião, a detenção jamais, pois não goza de proteção jurídica.
- Ius possidendi (direito de possuir) e Ius possessionis (direito de posse)
- Ius possidendi: tem direito de possuir todo aquele titular de um direito real (art. 1225) (propriedade, penhor, hipoteca depois da dívida não paga) que utiliza a coisa como dono, independente de ter a posse ou não.
Ex: se sou proprietário de um terreno na praia, tenho o direito de possuir aquele imóvel.
- Ius possidendi (direito de possuir) e Ius possessionis (direito de posse)
- Ius possessionis: tem direito de posse todo aquele que tiver o poder de fato, independente de título, consequentemente sendo ele dono ou não.
Ex: se estou na posse de um terreno na praia, mesmo que não seja meu, tenho o direito de posse contra quem por ventura queira de mim tirá-la, inclusive contra o possuidor indireto, salvo se minha posse for viciosa (violenta, clandestina ou precária).
- Ius possidendi (direito de possuir) e Ius possessionis (direito de posse)
- Isso corrobora o entendimento de Ihering (teoria objetiva) de que a posse é totalmente independente da propriedade e pode ser defendida inclusive sem a presença desta (propriedade). 
Aquisição e perda da Posse
-Aquisição da posse
- conforme o artigo 1204, que condiz com a teoria objetiva de Ihering, “adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade”.
Aquisição e perda da Posse
- referida aquisição pode se dar de dois meios:
 
a) originário: quando a aquisição se der sem a transmissão da posse, e consequentemente, sem a anuência do antigo possuidor (ex. tomar posse de coisa abandonada; apreensão da coisa);
b) derivado: quando a aquisição for derivada de uma posse anterior, sendo transmitida ao novo possuidor com a anuência do antigo (ex. alienação, herança, permuta).
Aquisição e perda da Posse
- e pode se classificar como:
 
a) unilateral: quando a manifestação de vontade depender de um só agente (ex. da aquisição originária);
b) bilateral: quando a manifestação de vontade depender de dois sujeitos (ex. da aquisição derivada);
Aquisição e perda da Posse
- quem pode adquirir a posse?
 
- o artigo 1205 responde: I- pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; II- por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. 
Aquisição e perda da Posse
- Perda da posse (art. 1223)
 
a) pelo abandono: quando o possuidor, intencionalmente se afasta do bem com a intenção de não exercer sobre ele os atos possessórios (ex. abandono de animais, de veículo e até mesmo de imóvel);
b) pela tradição: quando o possuidor transfere sua posse a terceiro, perdendo-a para ele;
c) pela perda da própria coisa: quando o bem se perder não podendo mais ser encontrado (ex. jóia que cai no fundo do mar);
Aquisição e perda da Posse
 
d) pela destruição da coisa: decorrente de evento natural ou fortuito, de ato do próprio possuidor ou de terceiro (ex. veículo queimado pelo dono ou por relâmpago);
e) pela sua inalienabilidade: por ter sido colocado fora do mercado por motivo de ordem pública, moral, segurança etc. não podendo ser possuído porque é impossível exercer, com exclusividade, os poderes inerentes ao domínio (ex. produto de beleza que oferecia riscos ao consumidor);
Aquisição e perda da Posse
f) pela posse de outrem: ainda que contra a vontade do possuidor se este não foi manutenido ou reintegrado em tempo competente. A inércia do possuidor, deixando escoar ano e dia, acarreta perda da posse, dando lugar a uma nova (ex. imóvel invadido em que o real possuidor permanece inerte por mais de ano e dia – lembrando que o prazo prescricional para reintegração é de 10 anos [regra geral], para a liminar é de 1 ano);
g) pelo constituo possessório: que ocorre quando o possuidor de um bem, que o possui em nome próprio, passa a possuí-lo em nome alheio (ex. A tem um imóvel que aluga pra B. Certo tempo depois A vende o imóvel para B, mas permanece nele pagando ao B aluguel). 
Efeitos processuais da Posse
- são as consequenciais jurídicas por ela produzidas, em virtude da lei ou da norma jurídica. São elas:
 
I- o possuidor tem o poder de invocar os interditos possessórios, ou seja, propor as ações possessórias quando for ameaçado, turbado, esbulhado em sua posse. O direito brasileiro admite as seguintes ações possessórias:
Efeitos processuais da Posse
Espécies de interditos possessórios:
a) ação de manutenção de posse: meio pelo qual o possuidor se mantém na posse quando a tem turbada (molestada) por terceiro (art. 1210, e 926 a 931 CPC). Admite-se a justiça privada (art. 1210 §1);
b) ação de reintegração de posse: meio pelo qual o possuidor, que perdeu a posse em razão de violência, clandestinidade ou precariedade, para terceiro, tem de retomá-la (art. 1210 e 921 do CPC);
c) interdito proibitório: é a proteção preventiva da posse diante de ameaça. Ocorre antes mesmo do esbulho ou turbação (art. 1210 2ª parte);
Efeitos processuais da Posse
d) nunciação de obra nova: visa impedir que a posse, ou detenção, seja prejudicada por uma obra nova no prédio vizinho (art. 934 CPC). Só cabe referida ação se a obra estiver em vias de construção;
e) ação de dano infecto: ação que busca evitar que a demolição ou ruína do prédio vizinho lhe cause prejuízos (art. 826 CPC);
f) ação de imissão de posse: ação que busca a (re)investidura da posse pelo meio judicial;
Efeitos processuais da Posse
g) embargos de terceiro senhor e possuidor: processo acessório que busca defender bens daqueles que, não sendo parte num processo, sofrem turbação ou esbulho em sua posse. Ex. A deve para B e por isso sofre execução. B penhora um imóvel de A no qual ele nunca exerceu a posse, que é exercida por C. No momento em que o imóvel de A é penhorado por B, C entra com embargos de terceiro possuidor, (art. 674 CPC/2015).
Efeitos processuais da Posse
II- o possuidor tem direito à percepção dos frutos: o possuidor de boa-fé tem direito aos frutos percebidos, podendo assim usar e gozar da coisa, objeto da posse, retirando dela todas as vantagens (art. 1214). O possuidor de má-fé não terá direito aos frutos, somente às despesas de produção e custeio (art. 1216).
Efeitos processuais da Posse
III- o possuidor tem direito à indenização das benfeitorias: o possuidor de boa-fé, privado do bem em favor do reinvidicante ou evictor, tem direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias e úteis; pode levantar as voluptuárias, desde que não danifique a coisa; e pode exercer o direito de retenção, pelas benfeitorias necessárias ou úteis (art. 1219). O possuidor de má-fé só será ressarcido do valor das benfeitorias necessárias (já que o proprietário seria forçado a fazê-las, se estivesse na posse da coisa) (art. 1220).
Efeitos processuais da Posse
IV- o possuidor tem responsabilidade pela deterioração e perda da coisa: o possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração a que não deu causa (art. 1217). O de má-fé responde, ressarcindo os danos, pela perda e deterioração, mesmo se advindas de força maior ou caso fortuito (ex. possuidor desmata mata ciliar da margem de imóvel ribeirinho, vem enxurrada e o carrega), só se exonerando delas se provar que aconteceriam de qualquer modo, mesmo estando o reivindicante na posse (ex. enchente) (art. 1218).
Efeitos processuais da Posse
V- o possuidor pode adquirir a propriedade pela posse continuada: ou seja, pela usucapião.
 
VI- o ônus da prova compete ao adversário do possuidor: quando o direito deste for contestado.
 
VII- o possuidor goza, processualmente, de posição mais favorável.
Direitos
Reais
- como visto, o Código Civil tratou do tema “posse” em seu título I, passando a cuidar dos direitos reais tão somente no título II, e da propriedade em si, espécie do gênero direito real, no título III.
 
- isso prova o dantes tratado, ou seja, a posse não é direito real, já que não está inserida no título II, muito menos no taxativo art. 1225. A posse é uma situação de fato que gera consequências jurídicas. E só.
 
- o direito real é o direito que regula a relação da pessoa com a coisa afetando-a direta e imediatamente (elemento intrínseco), conferindo ao seu titular o poder de aderência (ou sequela), ou seja, de buscar a coisa de quem quer que injustamente a possua ou detenha (elemento extrínseco), (polo ativo determinado: proprietário; polo passivo universal: indeterminado, podendo ser qualquer um que possua ou detenha injustamente a coisa.
Direitos Reais
- os direitos reais são classificados em 2 grandes grupos:
 
- o primeiro é a propriedade (direito real sobre coisa própria, com um único titular de poder sobre a coisa);
 
- o segundo são os direitos reais sobre coisa alheia, que estão dispostos no art. 1225, a partir do inciso II (com dois titulares com poderes distintos sobre o mesmo bem), sendo eles:
Direitos Reais (espécies – art. 1.225)
II- superfície (art. 1369): a antiga enfiteuse (abolida pelo CC 2002), é quando o proprietário cede à terceiro o uso da superfície do seu bem, como nos casos de arrendamento rural.
 
III- servidões (art. 1378): é a facilidade ou proveito que um prédio serve ao outro, também pode ser em razão da passagem de linha elétrica, gás, água, etc.
 
IV- usufruto (art. 1390): é o direito de usar a coisa e tirar dela os seus frutos, por certo período de tempo, restando ao dono da coisa a “nu-propriedade”, já que é dono, mas não pode dela dispor.
Direitos Reais (espécies – art. 1.225)
V- uso (art. 1412): é o direito de alguém de usar a coisa de outrem, servindo-se dos frutos necessários a si ou sua família, é um usufruto mais restrito, já que não pode ser cedido. (empresa que cede ao funcionário casa ou carro).
 
VI- habitação (art. 1414 e 1831): direito concedido ao cônjuge supérstite (ou ao filho) de permanecer residindo, por tempo indeterminado, no imóvel que servia de moradia do casal/família, caso ele seja o único imóvel.
 
VII- o direito do promitente comprador: direito garantido ao promitente comprador de registrar o contrato de promessa na matrícula do imóvel para que surta efeitos perante terceiros, tirando-o da esfera privada do inter partis, transformando-o em erga omnes, art. 167, I, 20, lei 6015/73 .
Direitos Reais (espécies – art. 1.225)
VIII- o penhor (art. 1434): garantia que recai sobre coisa móvel.
 
IX- hipoteca (art. 1473): garantia que recai sobre coisa imóvel.
 
X- anticrese (art. 1506): garantia pela qual o credor vê seu crédito satisfeito através dos frutos gerados pela coisa (aluguel).
 
XI- concessão de uso especial para fins de moradia: semelhante ao V, mas aqui entre ente público e particular. Tem o fito da regulamentação fundiária.
Direitos Reais (espécies – art. 1.225)
XII- concessão de direito real de uso: é o poder que administração pública tem de ceder o uso de seus bens para o particular, onerosa ou gratuitamente, por tempo determinado ou não para que ele utilize a coisa para fins específicos de urbanização, industrialização ou qualquer outra função de interesse social. Ex. Município de Itajaí que cedeu o direito real de uso para o Teconvi operar o porto.
Direitos Reais sobre coisa alheia
- os direitos reais sobre coisa alheia se dividem em 3 grupos:
 
1- quando o proprietário transfere ao terceiro o poder de fruição (usar), ficando com o poder de dispor (vender, doar, abandonar). 
São eles, superfície (concessão de plantio), servidão (passagem), usufruto, uso, habitação, concessão para fins de moradia, concessão de direito real de uso (caso do art. 1831);
Direitos Reais sobre coisa alheia
 
2- quando o proprietário transfere a terceiro uma garantia sobre a coisa.
São eles o penhor (coisa móvel dada em garantia), hipoteca (coisa imóvel dada em garantia) e a anticrese (entrega de bem imóvel ao credor para que, com os frutos, satisfaça a dívida).
Direitos Reais sobre coisa alheia
 
3- Novo direito real sobre coisa alheia ocorre quando o proprietário aliena a coisa a terceiro, mas mantém poder sobre ela até o pagamento integral do preço. 
É o caso do promitente vendedor que aceita o pagamento parcelado, ficando a escritura vinculada ao último pagamento.
Aquisição dos Direitos Reais
- se a coisa for móvel (art. 82), sua aquisição se dará pela tradição (entrega da coisa), art. 1226;
 
- se a coisa for imóvel (art. 79), somente o registro transferirá a propriedade ao comprador, art. 1227.
 
- Desse modo, trataremos a partir de agora dos dois grandes grupos do direito real, quais sejam, a propriedade e os direitos reais sobre coisas alheias.
Propriedade
A propriedade é absoluta?
Ao lado das restrições voluntárias ao direito de propriedade, como a superfície, as servidões, o usufruto, as cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade ou incomunicabilidade, instituídas pelo próprio proprietário ou com o seu consentimento, existem também as oriundas de imposição legal, como a preservação do meio ambiente, do patrimônio histórico (casos de tombamento), proteção de áreas indígenas, desapropriação por necessidade pública...
Propriedade
- essas restrições, ou limitações, servem para evitar que a propriedade particular cause prejuízo ao bem-estar social, permitindo, desse modo, o desempenho da função social da propriedade.
 
- a função social da propriedade a obriga não só a ser produtiva, mas também a ser socialmente justa, devendo ser exercida em prol da coletividade, tendo uma utilização socioeconômica.
- busca-se com isso equilibrar o interesse particular da propriedade com o interesse público. A propriedade está impregnada de socialidade e limitada pelo interesse público, é o que prescreve o art. 1228, § 1°.
Propriedade
- embora o Código Civil não tenha definido a propriedade, definiu o seu conteúdo no art. 1228, ou seja, todo aquele que puder dispor, usar, gozar e reaver a coisa, é seu proprietário.
 a) dispor: é o direito de fazer da coisa o que quiser, podendo vendê-la, doá-la, cedê-la;
 b) usar: é o direito de tirar dela todos os serviços que ela pode prestar, sem alterar sua substância (direito limitado pelo bem-estar social);
 c) gozar: é o direito de tirar da propriedade seus frutos e produtos, explorando-a economicamente;
 d) reaver: é o direito que tem o proprietário de mover ação para obter a coisa de quem injustamente a detenha.
Propriedade
Macete (ex. de Mourlon): usar de uma casa é habitá-la, gozar dela é alugá-la, dispor dela é demoli-la ou vendê-la e reaver é poder tomá-la de volta caso o locatário cesse os aluguéis e nela queria permanecer injustamente.
Propriedade - características
a) absoluta: a propriedade é absoluta, não no sentido de ser ilimitada (como visto anteriormente), mas no de constituir direito absoluto em relação a um direito relativo, isto é, é oponível erga omnes (art. 1231);
b) exclusiva: um determinado bem não pode pertencer simultaneamente a duas ou mais pessoas (lembrar que no caso de casal, a coisa pertence à sociedade conjugal, tendo cada um deles, metade sobre ela) (art. 1231);
Propriedade - características
c) perpétua: a propriedade permanece com seu titular por toda a vida (salvo os casos de direito público - desapropriação) podendo aliená-la ou transmiti-la pela morte. 
d) aderente: a propriedade acompanha o seu titular aonde quer que ele vá, está “grudada” à ele, podendo este buscá-la de volta de quem injustamente a possua ou detenha (sequela);
e) limitada: como visto, a propriedade pode possuir limitações voluntárias e legais (tanto de direito público - desapropriação, quanto de direito privado – bem de família).
Propriedade
– efeitos processuais
- são as medidas que podem ser tomadas pelo proprietário contra qualquer um (erga omnes) que atente contra seu direito, são elas:
a) ação reivindicatória: é a ação do proprietário não possuidor contra o possuidor não proprietário (art. 1228). Diferença com a reintegração de posse consiste no sentido de que a reintegração deriva de uma situação fática e a reivindicatória de uma situação jurídica (título de propriedade), o reivindicante pode pedir liminar (não se aplica posse nova e velha) para ser imitido na posse.
Para a concessão da reivindicatória, basta o proprietário provar a injusta posse do possuidor (não a do art. 1.200, mas sim que ela é desprovida de causa jurídica);
Reivindicatória x Reintegratória
Só pode pleitear proteção possessória quem cumpridamente prova posse anterior, nos precisos termos do art. 927, do Código de Processo Civil. Se a pretensão reintegratória é pavimentada em direito de propriedade a questão é de ser resolvida por meio de ação reivindicatória, não assim possessória. (Apelação Cível n. 2009.070988-2, de Lages, rel. Des. Gilberto Gomes de Oliveira) (TJSC, Apelação Cível n. 2010.020515-1, da Capital - Norte da Ilha, rel. Des. Stanley da Silva Braga, j. 4-10-2012).
Reivindicatória x Reintegratória
É dever do autor da ação possessória comprovar a efetiva posse anterior do bem em litígio, sob pena de improcedência do pleito reintegratório, não lhe sendo permitido fundamentar seu pedido exclusivamente em direito de propriedade, visto que a via processual adequada para tanto é a ação reivindicatória. (Apelação Cível nº 2013.048503-3, rel. Des. João Batista Góes Ulysséa, j. em 29/05/2014) (grifou-se).
Reivindicatória x Reintegratória
Impossível seja reconhecida a existência de fungibilidade entre as demandas possessória e petitórias, a despeito do que preconizam os princípios da celeridade, instrumentalidade e economia processuais, dado que enquanto a ação reintegratória é embasada na posse, a reivindicatória tem como fundamento a propriedade, institutos clara e absolutamente distintos. (Apelação Cível nº 2013.004163-5, rel. Des. Jorge Luis Costa Beber, j. em 11/09/2014) (grifou-se).
A propósito, insta registrar que as ações possessórias encontram-se previstas nos artigos 927 e seguintes do Código de Processo Civil, devendo ser utilizadas por aqueles que se virem desapossados de determinado imóvel por esbulho ou turbação praticados por outrem e as petitórias, como direito inerente à propriedade, estão previstas no artigo 524 do Código Civil de 1916, aplicável à espécie.
Nessa esteira de entendimento, é preciso frisar que as ações possessórias são identificadas pela sua causa de pedir e não pela pretensão deduzida em Juízo, vale dizer, o pedido, devendo constituir-se em direito de posse ameaçado ou esbulhado por terceira pessoa.
Tal definição se faz importante para que sejam devidamente classificadas as ações possessórias, que são a reintegração de posse, o interdito proibitório e a manutenção de posse, somente podendo ser aplicada pelo Juiz da causa a disposição do artigo 920 do Código de Processo Civil, concernente à fungibilidade dos pedidos possessórios, no caso de eventual confusão feita pelos autores quanto a esses três procedimentos.
Em se utilizando a parte do procedimento previsto para as ações possessórias quando a causa de pedir se funda em direito real de propriedade, ou vice-versa, como no caso dos autos, não se mostra possível a aplicação do referido princípio da fungibilidade, eis que se verificam ritos diferentes a serem adotados, com a devida venia à posição adotada pela douta Juíza de primeiro grau. (Des. Otávio Portes, TJMG).
Propriedade – efeitos processuais
b) ação ex empto: ação real que visa a entrega da parte faltante da coisa, sendo requerida pelo Autor a complementação da área. Ocorre quando o vendedor entrega área menor do que aquela constante na escritura e o comprador requer a parte faltante (art. 500);
c) ação negatória: ação real pela qual o proprietário se defende de ofensa dirigida à posse, por meios de atos de turbação (art. 1231). Visa cessar a turbação à posse. Se diferencia da manutenção de posse, pois aquela também deriva de situação fática;
Propriedade – efeitos processuais
d) ação confessória: ação real que busca reconhecer o direito de servidão e respeitá-la. Ocorre quando o dono de um imóvel impede a instituição ou utilização da servidão sobre seu imóvel (art. 1378 e 1383);
e) ação demarcatória: ação real que busca delimitar com precisão imóveis confinantes quando há dúvida quanto a seus limites. Requisitos: ambos os vizinhos precisam ser proprietários; os imóveis precisam ser limítrofes e; precisa haver dúvida entre seus limites (art. 1297);
Propriedade – efeitos processuais
f) ação demolitória: ação real que objetiva a demolição de prédio construído sem observância dos direitos de vizinhança (ex. 1301) ou que coloque em risco (a exemplo do dano infecto) propriedade alheia. A ação de nunciação de obra nova e até mesmo de dano infecto, em regra, culminam em demolitória (art. 1277, 1299 a 1313);
g) ação discriminatória: ação real que visa promover a discriminação de terras devolutas da União (terras devolutas são aquelas pertencentes ao Estado e que não são usadas para nenhum fim público, pertenciam à Coroa Portuguesa e restaram ao Brasil na sua independência);
Propriedade – efeitos processuais
h) ação divisória: ação real que objetiva resguardar direito do condomínio de exigir a divisão de coisa comum (condomínio é a instituição de um bem para vários proprietários, que exercem sobre ele direitos igualitários de propriedade, quando não há a divisão amigável da coisa comum, a ação divisória é remédio cabível) (art. 588 do NCPC);
i) ação publiciana: ação real que objetiva tornar público o usucapião ainda não declarado por sentença. Ocorre quando o possuidor, que já detém a posse por tempo suficiente para usucapião e ainda não o fez, a perde para terceiro. Desse modo precisa tornar público o fato de ser proprietário pelo uso (uso+capião) para resgatá-la de quem injustamente a detém.
Ação Publiciana
Sem posse ad usucapionem não se opõe a ação publiciana (RE n.° 10.604, julg. em 25.07.1950, rel. Min. Orozimbo Nonato). É ação real à favor de quem tem posse ad usucapionem. Funda-se na posse que conduz à prescrição.
Pode ser considerada como “ação reivindicatória” do proprietário de fato (não de direito).
Ação Publiciana
A doutrina ensina: “quem tem justo título, apto, em tese, para a aquisição do domínio, pela prescrição aquisitiva, pode intentar a ação publiciana, para exigir a posse, de que carece, para completar seu direito de propriedade. Pede-se a posse hábil para gerar a prescrição aquisitiva, que o investirá em pleno domínio da coisa ou do imóvel”. (SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro, Forense, p. 61).
Propriedade – aquisição
- a propriedade de coisa imóvel no Brasil se adquire, exclusivamente, por 4 meios:
 
a) registro imobiliário (1245 a 1247);
b) usucapião (1238 a 1244);
c) acessão (1248 a 1259);
d) sucessão (livro V, parte especial).
Aquisição - classificação
1- quanto a origem: 
originária, sem a transferência e consentimento do antigo proprietário (ex. alguém invade e o usucapi); 
derivada, quando há transferência/transmissão do antigo proprietário ao novo (ex. compra e venda, doação);
Aquisição - classificação
2- quanto ao título da aquisição: 
universal, quando se adquire uma universalidade de coisas, sem distinção ou individualização (ex. herança, onde se recebe um conjunto de bens); 
singular: quando se adquire bem individualizado (ex. compra e venda de imóvel, usucapião).
Aquisição - classificação
3- quanto à eficácia da forma da aquisição: 
declaratória, cuja eficácia é retroativa (antes mesmo de ser registrada, o titular já é proprietário) (ex. usucapião - basta ter o tempo que já será proprietário. Sucessão, basta a morte (saisine 1784), 
constitutivo,
das formas de aquisição, o registro é o único com esse caráter (11245 §1°). Tem eficácia ex nunc (1246).
Aquisição - classificação
podemos fixar a seguinte natureza para as formas de aquisição:
registro: derivado, singular e constitutivo;
usucapião: originário, singular e declaratória;
acessão: originário, singular e declaratória;
sucessão: derivado, singular ou universal, declaratória.
Registro
- é o ato pelo qual se leva ao registro de imóveis título translativo de propriedade capaz de transferir a propriedade (ex, escritura pública). Referido título será registrado na matrícula do imóvel, observando o princípio da continuidade (A vendeu pra B que vendeu pra C).
 
- com isso, se torna pública a propriedade acerca daquele bem, podendo ser oposta erga omnems, já que é documento público de consulta obrigatória.
Livros do Registro de Imóveis
- o RI possui 5 livros:
 
Livro 1 – protocolo (art. 174, 6015): apontamento dos títulos apresentados;
 
Livro 2 – registro geral (art. 176, 6015): onde se encontram as matrículas dos imóveis com seus registros e averbações;
 
Livro 3 – registro auxiliar (art. Art. 177, 6015): serve para o registro de atos que, muito embora atribuídos ao RI por disposição legal, não digam respeito diretamente a imóvel matriculado, tais como a convenção de condomínio, convenção antenupcial, penhor de máquinas e equipamentos industriais...
Livros do Registro de Imóveis
Livro 4 – indicador real (art. 179, 6015): índice geral dos imóveis registrados, o que permite a busca por nome de bairro, rua etc.
 
Livro 5 – indicador pessoal (art. 180, 6015): índice geral dos nomes das pessoas que ativa ou passivamente figurem nos demais livros, fazendo referência ao número de ordem da matrícula que seu nome está registrado, o que permite a busca pelo nome das pessoas. 
Princípios norteadores do Registro de Imóveis
a) princípio da publicidade (art. 17 LRP): oponibilidade erga omnes ao titular. O registro tem eficácia perante todos!
b) princípio da legalidade (art. 167, I LRP): só pode ser registrado ou averbado aquilo que a lei expressamente determina;
c) princípio da veracidade registral ou fé pública: presume-se a veracidade dos registros (art. 1247 CC);
d) princípio da obrigatoriedade: o registro é ato obrigatório para a transferência de propriedade (art. 1245 §1 CC);
Princípios norteadores do Registro de Imóveis
e) princípio da continuidade (art. 195 LRP): é a causalidade do registro, devendo obedecer a cadeia proprietária (A vende para B que vende para C);
f) princípio da prioridade objetiva (art. 186 LRP): é a preferência ditada pela ordem cronológica da apresentação. Se ocorrer duplicidade de registro (duas escrituras por exemplo), considera-se eficaz apenas o primeiro);
g) princípio da especialidade (art. 225 §2 LRP): determina a rígida caracterização do imóvel e sua absoluta individualização para fins registrais;
h) princípio da unitariedade (art. 176, §1 LRP): corresponde a individualização do bem de raiz, em que cada imóvel deve ter a sua matrícula, e cada matrícula não pode ter por objeto mais de um imóvel.
Procedimento para o registro
1° passo: celebração do contrato translativo da propriedade (escritura) ou extração do mandado judicial translativo dos autos (caso de usucapião ou de sentença que determine o registro);
 
2° passo: apresentação do título translativo no Cartório de Registro de Imóveis do local do imóvel;
 
3° passo: caso o imóvel não esteja matriculado, proceder-se-á a abertura da matrícula, que corresponde ao primeiro registro do imóvel;
Procedimento para o registro
4° passo: o título é apresentado ao oficial, que o lança no “livro protocolo”, ganhando um número de ordem em razão da sequência rigorosa de sua apresentação (art. 183 LRP);
 
5° passo: após protocolizado o título, proceder-se-á o registro em até 30 dias, pondendo o oficial solicitar exigências a serem cumpridas para tal (art. 198 LRP) ou pode o Oficial suscitar dúvida caso entenda ser descabido o registro (interessado tem 15 dias pra impugnar, MP tem de intervir e o juiz tem de sentenciar em 15 dias mandando registrar ou não);
Efeitos do registro
a) oponibilidade erga omnes: o imóvel registrado dá poder ao proprietário de opor-se perante todos;
b) transfere a propriedade: como visto pelo artigo 1245 §1.
c) outorga da disponibilidade: só o registro autoriza o titular a alienar a coisa, já que ninguém pode vender o que não é seu.
Usucapião
- do latin, adquirir pelo uso contínuo. É forma originária, singular e declaratória de aquisição.
 
- em regra, a prescrição faz com que o titular perca direitos (de ação) (prescrição extintiva). 
- no usucapião a prescrição tem efeito oposto, fazendo com que o titular adquira direitos (reais) (prescrição aquisitiva).
Usucapião
- pressupostos:
 
a) coisa hábil: qualquer coisa (móvel ou imóvel) pode ser objeto de usucapião, desde que esteja no comércio, seja fisicamente possível e não seja pública;
b) posse: a posse tem de ser ininterrupta, não podendo sofrer perda de continuidade fática (abandonar a coisa) ou jurídica (quando há interposição de ação judicial buscando ver a posse reintegrada);
c) boa-fé: aquele que busca o usucapião deve ignorar completamente algum vício ou obstáculo que o impeça de adquirir a coisa (justo título presume boa-fé) (art. 1201 p.u.);
d) tempo: o usucapião consuma-se em um período fixado pela lei, entre o mínimo de 5 e o máximo de 15 anos (de servidão é de 20 anos). 
Usucapião - espécies
a) usucapião constitucional urbano (art. 183 CF e 1240cc): adquire a propriedade aquele que, por 5 anos, possuir imóvel de até 250m², estabelecendo nele sua moradia, não tendo outro imóvel no seu nome.
b) usucapião constitucional rural (art. 191 CF e 1239cc): adquire a propriedade aquele que, por 5 anos, possuir imóvel rural de até 50 hectares, tornando-o produtivo por seu trabalho ou de sua família, não tendo outro imóvel.
Usucapião - espécies
c) usucapião extraordinário (art. 1238cc): adquire a propriedade aquele que, por 15 anos, possuir ininterruptamente, como seu, imóvel (independente de área), independente de título e boa-fé. 
 
O prazo se reduzirá para 10 anos se estabelecer no imóvel sua moradia (§ único).
Usucapião - espécies
d) usucapião ordinário (art. 1242cc): adquire a propriedade do imóvel aquele que, por 10 anos, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé o possuir.
 
O prazo se reduzirá para 5 anos se o justo título tiver sido registrado e posteriormente cancelado, desde que o possuidor nele tenha estabelecido sua moradia.
Usucapião - espécies
apelação cível. ação reivindicatória. domínio da requerente comprovado. área objeto da causa corretamente individualizada. defesa. arguição de usucapião ordinário. contrato particular de promessa de compra e venda. justo título. precedentes do stj. posse de boa-fé comprovada documentalmente. [...]. (Apelação Cível n. 2006.027708-7, rel. Des. Substituto Ronaldo Moritz Martins da Silva, j. em 08/07/2010) (grifou-se).
 
ação de usucapião ordinário. petição inicial indeferida in limine. contrato particular de compra e venda que não foi considerado justo título para efeitos de usucapião. recurso provido. anulação do processo a partir da sentença, inclusive. (Apelação Cível n. 2000.021366-7, rel. Des. Carlos Prudêncio, j. em 11/09/2001) (grifou-se).
Usucapião - espécies
direito das coisas. recurso especial. usucapião. imóvel objeto de promessa de compra e venda. instrumento que atende ao requisito de justo título e induz a boa-fé do adquirente. [...].
1. O instrumento de promessa de compra e venda insere-se na categoria de justo título apto a ensejar a declaração de usucapião ordinária. Tal entendimento agarra-se no valor que o próprio Tribunal - e, de resto, a legislação civil - está conferindo à promessa de compra e venda. Se a jurisprudência tem conferido ao promitente comprador o direito à adjudicação compulsória do imóvel independentemente de
registro (Súmula n. 239) e, quando registrado, o compromisso de compra e venda foi erigido à seleta categoria de direito real pelo Código Civil de 2002 (art. 1.225, inciso VII), nada mais lógico do que considerá-lo também como "justo título" apto a ensejar a aquisição da propriedade por usucapião. [...]. (REsp 941464/SC, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 29/06/2012) (grifou-se).
Usucapião - espécies
e) usucapião marital (art. 1.240-A): confere ao cônjuge o direito de requer a declaração da propriedade sobre a metade do imóvel que cabia ao outro cônjuge (que abandonou o lar), após 2 anos.
- O imóvel não pode ter mais de 250m², o cônjuge que o requer não pode ter outro imóvel e só poderá requerê-lo uma única vez.
Usucapião - espécies
f) usucapião coletivo (art. 10, lei 10.257/01): possibilidade de usucapir favelas e cortiços, possibilitando que uma coletividade regularize sua situação. Requisitos, renda inferior a 3 s.m.; posse ininterrupta por 5 anos; não exista ação de reivindicação de posse; não individualização das áreas.
Usucapião - espécies
g) extrajudicial (art. 1071 do NCPC, que alterou a lei 6015): possibilidade de se optar pela via extrajudicial para ver o usucapião declarado, desde que preenchidos os requisitos exigidos por Lei.
São eles:
Usucapião - espécies
Art. 216-A.  Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por advogado, instruído com:
I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e seus antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias;
II - planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente habilitado, com prova de anotação de responsabilidade técnica no respectivo conselho de fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes;
III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente;
IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem, a continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o pagamento dos impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel.
Usucapião - espécies
§ 1o O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo da prenotação até o acolhimento ou a rejeição do pedido.
§ 2o Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, esse será notificado pelo registrador competente, pessoalmente ou pelo correio com aviso de recebimento, para manifestar seu consentimento expresso em 15 (quinze) dias, interpretado o seu silêncio como discordância.
§ 3o O oficial de registro de imóveis dará ciência à União, ao Estado, ao Distrito Federal e ao Município, pessoalmente, por intermédio do oficial de registro de títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de recebimento, para que se manifestem, em 15 (quinze) dias, sobre o pedido.
§ 4o O oficial de registro de imóveis promoverá a publicação de edital em jornal de grande circulação, onde houver, para a ciência de terceiros eventualmente interessados, que poderão se manifestar em 15 (quinze) dias.
§ 5o Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida, poderão ser solicitadas ou realizadas diligências pelo oficial de registro de imóveis.
Usucapião - espécies
§ 6o  Transcorrido o prazo de que trata o § 4o deste artigo, sem pendência de diligências na forma do § 5o deste artigo e achando-se em ordem a documentação, com inclusão da concordância expressa dos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, o oficial de registro de imóveis registrará a aquisição do imóvel com as descrições apresentadas, sendo permitida a abertura de matrícula, se for o caso.
§ 7o Em qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento de dúvida, nos termos desta Lei.
§ 8o Ao final das diligências, se a documentação não estiver em ordem, o oficial de registro de imóveis rejeitará o pedido.
§ 9o A rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de ação de usucapião.
§ 10.  Em caso de impugnação do pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, apresentada por qualquer um dos titulares de direito reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, por algum dos entes públicos ou por algum terceiro interessado, o oficial de registro de imóveis remeterá os autos ao juízo competente da comarca da situação do imóvel, cabendo ao requerente emendar a petição inicial para adequá-la ao procedimento comum.”
Usucapião - espécies
- procedimento art. 246, §3º NCPC:
 
- pólo ativo: possuidor, pólo passivo: proprietário.
 
- planta do imóvel com descrição minuciosa; citação do proprietário (registrado no r.i.) ou negativa caso não tenha; citação dos confinantes.
 
- intervenção do MP (como fiscal da lei) é obrigatória.
Acessão
- a palavra acessio significa soma ou agregação. 
- é modo originário, singular e declaratório de aquisição de propriedade por meio de aderência ou soma ao solo de um bem, ampliando o volume e o valor daquele.
 
- Possui a seguinte classificação:
 
a) imóvel a imóvel: bens imóveis incorporados a outro imóvel (aluvião, avulsão, formação de ilhas...);
b) móvel a imóvel: bens móveis incorporados a um imóvel (construções, plantações ou semeaduras);
c) móvel a móvel: bens móveis incorporados a outros móveis (confusão (não a de dtos): mistura de líquidos, ex, chuva ácida que cai sobre lagoa, o ácido passa a ser meu; comistão, mistura de sólidos, tempestade de areia que recai sobre minha propriedade...).
Acessão - Espécies
a) formação de ilhas (art. 1249): que ocorre de modo paulatino (como o vazamento de magma) ou pelo rebaixamento das águas;
 
b) aluvião (art. 1250): é o acréscimo insensível de terra às margens da propriedade, oriundo da ação contínua e vagarosa dos rios. Se divide em própria (quando o rio traz material que é acrescido) e imprópria (que ocorre pelo rebaixamento da água, aumentando a propriedade);
c) avulsão (art. 1251): ocorre com a incorporação ao imóvel ribeirinho de parte considerável e reconhecível (diferente do aluvião) de um prédio por meio de uma corrente natural. Na aluvião o ganho se dá por sedimentos, na avulsão, alguém perdeu um pedaço de sua propriedade, que foi agregado por outra pessoa. Quem perdeu o “pedaço” pode optar entre indenização ou remover a área agregada ao outro.
Acessão - Espécies
d) abandono de álveo (art. 1252): é quando um rio seca (sem interferência do homem!), e consequentemente, seu leito vem à tona, fazendo surgir nova área de terra. Essa nova área será dividida igualmente entre os proprietários das margens;
 
e) das construções e plantações: as construções (acessão artificial, porque feita pelo homem) constituem incorporação de um bem móvel ao solo, gerando acréscimo de área e de valor, assim como as plantações, que são acessões mistas (artificiais e naturais) que gera incremento em volume e valor. Ambos os casos se constituem como acessão de móvel a imóvel.
Sucessão
- trata-se de forma derivada, universal ou singular de aquisição de propriedade, onde uma pessoa física transmite seu patrimônio a outrem em razão de uma causa mortis.
 
- com a morte, ocorre a imediata transmissão da propriedade aos herdeiros ou testamentários, por força do artigo 1784 (princípio da saisine – em francês, encaminhamento);
 
- a simples abertura da sucessão já é modo de transmissão de propriedade visto que os bens deixados pelo falecido não podem “ficar pairando no ar” enquanto
não se encerra o inventário.
Sucessão
- lembrem-se, a única aquisição com caráter constitutivo é o registro. Todas as outras são declaratórias (antes mesmo do registro já há propriedade).
 
- há necessidade de se registrar a partilha para fins de deixar disponível as coisas para a alienação, já que o falecido não poderia assinar a escritura, por exemplo (outorga de disponibilidade).
Da aquisição da propriedade mobiliária
- a aquisição de bens móveis se dá de 4 formas:
 
a) usucapião;
b) ocupação;
c) tradição;
d) acessão.
Usucapião
se divide em:
 ordinário (art. 1260): posse ininterrupta por 3 anos com justo título e boa-fé; 
extraordinário (art. 1261): posse ininterrupta por 5 anos independente de justo título e boa-fé.
APELAÇÃO CÍVEL. USUCAPIÃO DE BEM MÓVEL. VEÍCULO ALIENADO FIDUCIARIAMENTE. POSSE INDIRETA DA CREDORA FIDUCIÁRIA. CIÊNCIA DO AUTOR DESSA CONDIÇÃO. POSSE EXERCIDA SEM ANIMUS DOMINI. EXEGESE DO ART. 1261 DO CÓDIGO CIVIL. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO.
I - Para a caracterização da prescrição aquisitiva capaz de dar azo à usucapião extraordinária de bem móvel, faz-se necessário que o interessado, com animus domini (posse plena ou absoluta), mantenha a posse contínua e incontestadamente da coisa por 5 anos, independentemente de justo título ou boa-fé (art. 1.261 do Código Civil).
II - Não merece guarida a pretensão à usucapião quando não se verificar o exercício da posse de forma plena pelo Autor, pois é cediço que com a alienação fiduciária ocorre o desdobramento da posse, permanecendo o credor fiduciário como possuidor indireto do bem (art. 1361, § 2º, CC), afastando-se, assim, o ânimo de dono necessário para a caracterização da prescrição aquisitiva. (Apelação Cível nº 2013.048300-8, Rel. Des. Joel Figueira Júnior, j. em 27/11/2014).
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO. PROCEDÊNCIA EM PRIMEIRO GRAU. INSURGÊNCIA DO REQUERIDO BEM MÓVEL. VEÍCULO USUCAPIENDO ALIENADO FIDUCIARIAMENTE. AUTOR QUE TINHA PLENA CIÊNCIA DA ILEGITIMIDADE DA POSSE QUE EXERCIA SOBRE O BEM. POSSE PRECÁRIA. AUSÊNCIA DE BOA-FÉ. REQUISITOS DO ART. 1260, DO CC NÃO DEMONSTRADOS. SENTENÇA REFORMADA COM INVERSÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAL. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.(Apelação Cível nº 2009.020865-8, Rel. Des. Cinthia Beatriz da Silva Bittencourt Schaefer, j. em 26/04/2012).
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO DE BEM MÓVEL. MOTOCICLETA. EXTINÇÃO NA ORIGEM, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, COM FULCRO NO ART. 267, I E IV, C/C ART. 295 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INTERESSE PROCESSUAL. VEÍCULO ANTIGO, ADQUIRIDO E RECEBIDO PELA SIMPLES TRADIÇÃO DA COISA QUE, EMBORA EMPLACADO, NÃO POSSUI QUALQUER REGISTRO PERANTE O ÓRGÃO DE TRÂNSITO. AUSÊNCIA DE OPORTUNIDADE PARA COMPROVAÇÃO DOS FATOS SUSCITADOS NA PETIÇÃO INICIAL. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. SENTENÇA CASSADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (Apelação Cível nº 2011.057148-6), Rel. Des. Odson Cardoso Filho, j. em 13/10/2011).
Ocupação
Art. 1263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei.
- modo originário da aquisição da propriedade de bem móvel, ou de semovente, sem dono, por não ter sido apropriado (animais selvagens) ou por ter sido abandonado (caso de um cão de rua).
Tradição
Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição.
Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico.
Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono.
§ 1o Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, considera-se realizada a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição.
§ 2o Não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um negócio jurídico nulo.
Tradição
- é a entrega da coisa do alienante para o adquirente, e pode se dar de três formas:
 
1- efetiva ou real: entrega da própria coisa (compra de TV numa loja);
2- simbólica: entrega de objeto simbólico que representa a coisa (entrega das chaves de um apartamento);
3- ficta: aquela derivada do constituto possessório (possuidor que possuía em nome próprio passa a possuir em nome alheio).
Acessão
Art. 1269 a 1274.
 
- se dá de dois modos:
 
1- especificação (art. 1269 a 1271): trata-se de um modo de adquirir o domínio pela manipulação de matéria-prima (transformar o couro em sapato, o barro em escultura, o ouro em jóia);
2- confusão (mistura de líquidos), comistão (mistura de sólidos) e adjunção (interpenetração, ou justaposição de uma coisa sobre outra – solda de uma peça):
Perda da Propriedade
- a propriedade perde-se de 5 meios, elencados no artigo 1275, são elas:
 
1- alienação: é a transferência da coisa de uma pessoa para outra, transmitindo-lhe a propriedade (art. 1245, §1º);
2- renúncia: ato voluntário, unilateral, irrevogável, expresso (não se presume) e não condicional pelo qual o titular abre mão de certo bem. O caso mais comum é no direito das sucessões;
3- abandono: quando o proprietário abre mão do que lhe pertence com a intenção de se desfazer da coisa;
4- perecimento: forma involuntária de perda da propriedade pela desvalorização do objeto ou seu desaparecimento;
5- desapropriação: forma involuntária de perda da propriedade por intervenção do Estado no patrimônio privado em virtude de interesse coletivo que supera o individual.
Perda da Propriedade
Art. 1275. Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis.
Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições.
§ 1o O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize.
§ 2o Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais.

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