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Prova dos Atos Jurídicos

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PROVA DOS ATOS JURÍDICOS
INTRODUÇÃO:
No Código Civil de 1916, a prova era tratada juntamente ao negócio jurídico, contudo o novo Código de 2002 mudou essa perspectiva, por razão de todos os fatos jurídicos, não só o negócio, poderem ser provados. 
Para poder alegar a titularidade de um direito, é necessário a comprovação do fato jurídico ao qual o mesmo está relacionado. Por isso, não adianta argumentar que o direito existe se não comprovar de onde ele surgiu.
CONCEITO:
Prova é conjunto de meios legais que comprovam a veracidade e a existência de negócios jurídicos.
REQUISITOS DA PROVA:
Para ser válida ao fim a que se destina, a prova deve ser:
ADMISSÍVEL: não pode ser proibida por lei e deve ser aplicável ao caso que está sendo analisado;
PERTINENTE: adequada à demonstração dos fatos em questão;
CONCLUDENTE: capaz de esclarecer os fatos controversos.
MEIOS DE PROVA (art. 212, CC)
Existem fatos jurídicos para os quais a lei estabelece uma forma especial de comprovação. Quando a lei exigir esta forma especial como o instrumento público para a validade do negócio jurídico, nenhuma outra prova, por mais especial que seja, pode suprir-lhe a falta. Caso contrário, não havendo nenhuma exigência quanto à forma (ato não formal), qualquer meio de prova pode ser utilizado, desde que não proibido.
Então, quando o art. 212 do CC enumera os meios de prova dos negócios jurídicos a que se não impõe forma especial, o faz apenas de maneira exemplificativa, ou seja, não é um rol taxativo, admite outros aspectos que não foram inseridos.
Os meios de prova listados no art. 212 do Código Civil são: confissão, documento, testemunha, presunção e perícia.
Confissão (art. 213 e 214):
A confissão é o reconhecimento, por uma das partes, como verdadeiros, de fatos contrários ao seu interesse e favoráveis ao adversário. Desse modo, somente quem assume essa posição na relação jurídica pode confessar.
Ela pode ser classificada em:
Judicial: quando realizada em juízo;
Extrajudicial: quando realizada fora do juízo;
Espontânea: resulta de iniciativa do próprio confitente, que dirige petição ao juiz manifestando o seu propósito de confessar;
Provocada: a requerimento da parte contrária, ou ainda determinada ex officio, pelo juiz;
Expressa: quando é realizada por ato expresso do confesso;
Presumida ou Ficta: quando decorre dos efeitos da revelia processual, ou seja, se o citado não comparecer à audiência, devem ser considerados confessados ou verdadeiros os fatos alegados pelo autor;
A confissão tem como elementos essenciais a capacidade da parte, a declaração de vontade e o objeto possível.
É importante ressaltar que, como a confissão gera consequências negativas ao confessor, para torná-la efetiva, não basta ter a capacidade genérica dos atos da vida civil, mas também a titularidade dos direitos em questão.
A confissão da pessoa incapaz não produzirá efeitos jurídicos, mas, se feita pelo representante, apenas terá eficácia dentro dos limites em que puder vincular o representado. A princípio, o representante legal não pode confessar, porque lhe é vedado agir contra os interesses do titular de direito, nesse caso o incapaz. Contudo, a representação voluntária dá legitimidade ao representante confessar desde que a ele seja, expressamente, atribuído tal poder.
Uma vez feita a confissão esta é irrevogável, ou seja, tal relato será insuscetível de retratação. Mas, pode ser anulada se a mesma se deu por erro de fato ou em virtude de coação.
Documento (arts. 216 a 226):
É considerado documento quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares, com relevância jurídica, que possam ser de prova.
Público: são os documentos elaborados por autoridade pública, no exercício de suas funções, como as certidões, traslados, guias de imposto, ato notariais, entre outros.
Particulares: são aqueles elaborados por particulares, por exemplo, cartas, telegramas, fotografias, avisos bancários, entre outros.
Escritura Pública
A escritura pública é o instrumento jurídico de declaração de vontades celebrado entre uma ou mais pessoas perante um tabelião, que tem a responsabilidade legal e formal para a sua lavratura, pois está legalmente investido da fé pública outorgada pelo Poder Público competente.
Ela é necessária para dar validade formal ao ato jurídico exigido por Lei (o ato jurídico pode ser uma compra/venda; uma doação; uma simples declaração; etc.) e proporciona maior segurança jurídica às pessoas que a formalizam.
Não se admite, com efeito, provar com testemunhas contra ou além do instrumento público. No entanto, se algum dos presentes não for conhecido do tabelião, nem estiver apto de identificar-se por documento, deverão participar do ato pelo menos duas testemunhas que o conheçam e atestem sua identidade.
A escritura pública deve conter a data e local de sua realização; reconhecimento da identidade e capacidade das partes e quantos hajam comparecido ao ato, por si, como representantes, intervenientes ou testemunhas; nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência das partes e demais comparecentes, com a indicação, quando necessário, do regime de bens do casamento, nome do outro cônjuge e filiação; manifestação clara da vontade das partes e dos intervenientes; referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais inerentes à legitimidade do ato; declaração de ter sido lida na presença das partes e demais comparecentes ou de que todas a leram; assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião ou seu substituto legal, encerrando o ato.
O descumprimento desses requisitos provoca a nulidade da escritura pública, que deve ser redigida na língua nacional. Se qualquer um dos presentes não souber a língua nacional e o tabelião não entender o idioma em que ele se expressa, deverá comparecer tradutor público para servir de intérprete ou, não havendo na localidade, outra pessoa capaz que, a juízo do tabelião, tenha idoneidade e conhecimento bastantes. E ainda, se algum dos presentes não puder ou não souber escrever, outra pessoa que tiver capacidade assinará por ele, a seu pedido.
Instrumento particular
O instrumento particular é realizado somente com a assinatura dos próprios interessados, desde que estejam na livre disposição e administração de seus bens. O instrumento particular, além de dar existência ao ato negocial, serve-lhe de prova. É dotado de função probatória entre as partes, sendo que, para valer contra terceiro que do ato não participou, deverá ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos, que autentica seu conteúdo.
A anuência necessária à validade de um ato
Existem casos em que a lei requer para a efetivação de um ato negocial válido a anuência ou a autorização de outrem, como ocorre com a venda de imóvel por pessoa casada, não sendo o regime matrimonial de separação de bens, em que há a necessidade de outorga. A prova dessa anuência ou autorização indispensável à validade do negócio jurídico se fará do mesmo modo que este, devendo sempre que possível contar no próprio instrumento.
Certidões
Certidão é a reprodução ou cópia autêntica do teor de ato escrito, registrado em autos ou em livro, feito por pessoa que tenha fé pública. Para que em juízo façam a mesma prova que os originais, as certidões devem ser textuais, isto é, verbo ad verbum, portanto, abrangente de todo o conteúdo do ato. Quando resumida, contendo apenas os pontos essenciais requeridos pela parte interessada, chama-se certidão em breve relatório. Traslado é a cópia fiel e imediata passada pelo próprio tabelião ou escrivão, de escritura ou documento, constante de livros públicos ou do arquivo de repartições ou cartórios. O traslado de autos é extraído pelo próprio escrivão e por outro consertado.
Telegrama, títulos de crédito, cópias e reproduções em geral
O telegrama serve de prova, conferindo-se com o original assinado, se lhe for contestada a autenticidade. A cópia fotográfica de documento, autenticada por tabelião de notas, também vale como prova de declaraçãode vontade e, sendo impugnada sua autenticidade, o original deverá ser apresentado. Se a lei ou as circunstâncias condicionarem o exercício do direito à exibição de título de crédito ou original, a prova produzida, na falta deles, não suprirá sua não apresentação.
As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova plena destes, se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão, não se exigindo que sejam autenticadas.
Livros e fichas dos empresários e sociedades
Os livros e fichas de empresários e sociedades servem não só de prova contra aqueles a quem pertencem, mas também a seu favor se escriturados sem quaisquer vícios. Tais livros e fichas não constituirão provas suficientes nos casos em que a lei exigir instrumento público ou, até mesmo, particular revestido de requisitos especiais. Havendo comprovação de falsidade ou inexatidão dos lançamentos, sua força probatória poderá ser refutada. 
Documentos redigidos em língua estrangeira
Os documentos redigidos em língua estrangeira poderão ser registrados em nosso país, no original, para fins de sua conservação, mas, para que possam ter eficácia e para valerem contra terceiros, deverão ser traduzidos para a língua portuguesa, e tal tradução deverá ser registrada.
Testemunha (art. 227 a 229):
A prova testemunhal consiste nas declarações feitas por pessoas que saibam ou digam saber dos fatos que se pretendem provar.
As testemunhas podem ser:
Judiciárias: quando prestam depoimento em juízo;
Instrumentárias: quando assinam o instrumento, como as testemunhas de um contrato de locação.
Restrições à admissibilidade ampla da prova testemunhal
A prova testemunhal é menos segura do que a documental. Por essa razão, só se admite, salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal dos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse dez vezes maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito.
A prova testemunhal, que resulta no depoimento oral das pessoas que viram, ouviram ou souberam dos fatos relacionados à causa, por estar impregnada de alto grau de subjetividade, é sempre alvo de críticas dentro do sistema jurídico. Daí as restrições à sua admissibilidade ampla.
Embora não se admita prova exclusivamente testemunhal nos contratos, o comodato, por exemplo, cujo valor exceda ao limite previsto em lei, há uma tendência para considerar que, quanto aos efeitos pretéritos do contrato, é admissível a prova exclusivamente testemunhal, qualquer que seja o seu valor. Assim, quando se tratar, não da prova da existência da sociedade em si, mas de um fato consumado – a comunhão de bens e interesses –, qualquer meio de prova é admissível.
Pessoas que não podem ser admitidas como testemunhas
Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas. São elas: os menores de dezesseis anos; aqueles que, por enfermidade ou retardamento mental, não tiverem discernimento para a prática dos atos na vida civil; os cegos e surdos, quando a ciência do fato que se quer provar dependa dos sentidos que lhe faltam; o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes; os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro grau de alguma das partes, por consanguinidade, ou afinidade.
No entanto, a lei abre uma exceção ao impedimento de tais pessoas para testemunhas. Tal exceção se dá em relação à prova de fatos que só elas conheçam, caso em que pode o juiz admitir o depoimento das pessoas citadas.
E ainda, sendo estritamente necessário, o juiz ouvirá testemunhas impedidas ou suspeitas; mas os seus depoimentos serão prestados independentemente de compromisso e o juiz lhes atribuirá o valor que possam merecer.
Além disso, ninguém pode ser obrigado a depor sobre fato a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar segredo; a que não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, parente em grau sucessível, ou amigo íntimo; que o exponha, ou às pessoas referidas anteriormente, a perigo de vida, de demanda, ou de dano patrimonial imediato.
Presunção
A presunção é a conclusão que se extrai de um fato conhecido para se chegar a um fato desconhecido. Não pode a presunção ser confundida com o indício, o qual não passa de mero meio pelo qual se chega à presunção, como no caso do achado de peça de roupa de pessoa desaparecida em naufrágio há vários meses, que é indício para a presunção de sua morte.
As presunções podem ser:
Legais (juris): as que decorrem da lei, como a que recai sobre o marido, que a lei presume ser pai do filho nascido de sua mulher, na constância do casamento;
Comuns (hominis): as que se baseiam no que ordinariamente acontece, na experiência da vida. Presume-se, por exemplo, embora não de forma absoluta, que as dívidas do marido são contraídas em benefício da família.
As presunções, que não são legais, ou seja, as comuns, não se admitem nos casos em que a lei exclui a prova testemunhal.
As presunções legais dividem-se em:
Absoluta (juris et de jure): as que não admitem prova em contrário. A presunção de verdade atribuída pela lei a certos fatos, é nestes casos, indiscutível. Exemplo: a de que são fraudatórias dos direitos dos outros credos as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.
Relativas (juris tantum): as que admitem prova em contrário. Por exemplo, a presunção de paternidade atribuída ao marido, em relação ao filho de sua mulher nascido na constância do casamento, pode ser elidida por meio da ação negatória de paternidade.
Perícia (art. 231 e 232):
Perícia é o exame, vistoria ou avaliação necessários para a comprovação de um fato e para a formação do convencimento do juiz.
Exame: é a apreciação de alguma coisa, por peritos, para auxiliar o juiz a forma a sua convicção. Exemplos: exame de DNA, exame grafotécnico etc.
Vistoria: é a perícia restrita à inspeção ocular. É diligência frequente nas ações imobiliárias, como possessórias e demarcatórias. A vistoria destinada a perpetuar a memória de certos fatos transitórios, antes que desapareçam, é denominada ad perpetuam rei memoriam.
Avaliação: é a atribuição ao bem do seu valor de mercado. O arbitramento é forma de avaliação; é o exame pericial destinado a apurar o valor de determinado bem, comum nas desapropriações e ações de indenização.
Nos casos em que se faz necessária a prova do fato por meio de exame médico, se alguém se recusar a efetuar perícia médica ordenada pelo magistrado sua recusa poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame, como no caso de uma ação de investigação de paternidade onde necessário o exame de DNA o réu se nega a ceder o material orgânico para a realização do teste de DNA. Neste caso, a sua recusa operará em seu desfavor.

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