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MOBILIZAÇÃO PRECOCE NO PACIENTE CRÍTICO NA UTI INTRODUÇÃO Nos últimos anos, houve aumento das taxas de sobrevida de pacientes com doença crítica e, consequentemente, do número de morbidades deles em decorrência da permanência prolongada em unidades de terapia intensiva (UTI). Entre eles pode-se destacar a redução da capacidade física e funcional do paciente. O declínio funcional é caracterizado: Redução da capacidade de realizar as AVD’s. Podendo estar associado à diminuição do desempenho físico e cognitivo. Por isso é importante comparar o desempenho do paciente desde o pré-internamento na unidade até a alta hospitalar. FRAQUEZA ADQUIRIDA NA UTI Para minimizar esse declínio funcional o fisioterapeuta deve conhecer as causas que culminam na fraqueza adquirida na UTI. Fatores como VM prolongada Imobilismo no leito Desordens Clínicas como a sepse e a Síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SRIS) – O aumento na produção de macrófagos e citocinas geram uma alteração da estrutura muscular, podem gerar disfunções por neurotoxicidade. Déficit Nutricional Utilização de bloqueadores neuromusculares e corticosteroides – Geram inatividade dos canais de cálcio, levando a redução da passagem de neurotransmissores na placa motora. SNC acometido – Gerando redução da condução nervosa, diminuição da função cognitiva, delírio e desorientação. IMPACTO DO IMOBILISMO SOBRE OS DIVERSOS SISTEMAS Sistema Musculoesquelético Sistema Cardiovascular Sistema Respiratório Redução da síntese proteica muscular Alteração do Sistema Autonômico Atelectasia Atrofia Muscular Diminuição do Débito Cardíaco Pneumonia Redução da força muscular Redução da resistência vascular periférica Diminuição da força muscular inspiratória e expiratória Contraturas articulares e musculares Trombose venosa profunda Redução da capacidade vital forçada Diminuição da densidade óssea Úlceras por pressão Modificado de Truong et al, 2009. AVALIAÇÃO MUSCULOESQUELÉTICA Manovacuometria – É fundamental para identificar e traçar protocolo de treinamento muscular respiratório, além disso, alguns trabalhos mostram que a Pimáx tem influencia direta sobre o fracasso no desmame em pacientes em VM. MRC – Utilizado para identificar paresias adquiridas na UTI. Lembrando que a obtenção de valores inferiores a 48 pontos ou um MRC médio inferior a 4 em duas avaliações diárias consecutivas sugerem a polineuromiopatia do paciente crítico. Dinamometria de preensão palmar – É um fator preditivo para diagnóstico de disfunção neuromuscular, sendo associado a esse declínio um valor de <11kgf para homens e <7 kgf para mulher. Padrão ouro: Testes Eletrofisiológicos e a análise histológica por biópsia – Porém são testes caros e de difícil realização no ambiente de terapia intensiva. AVALIAÇÃO DA FUNCIONALIDADE EM UTI Antes de iniciar a avaliação da funcionalidade dentro da UTI, deve-se identificar quais eram as participações e atividades que o paciente executava previamente ao internamento. Já na UTI deve-se avaliar a capacidade que o paciente tem de realizar transferências e deambulação, dentre elas se destacam os testes: Escala de Barthel Medida de Independência Funcional (MIF) Time Up to Go (TUG) Teste de caminhada de 6 minutos Escala de equilíbrio de Berg Escala de Mobilidade de Perm – Única escala que avalia se existe barreira para a mobilização CRITÉRIOS PARA INICIAR A MOBILIZAÇÃO Critérios Cardiovasculares: Avaliar se o paciente apresenta uma boa reserva cardíaca. Deve apresentar FC <50% da máxima Pressão sistólica entre 90 a 170 mmHg Não utilizar drogas vasopressoras (ou que estejam utilizando em baixa vazão) Ausência de arritmias, IAM recente ou descompensação cardíaca Critérios Respiratórios: SpO2 >90% Utilizando FiO2 <55% Pressão arterial de oxigênio >60mmhg FR de até 30 incursões por minuto Relação PaO2/FiO2 > 300 Capacidade de manter a ventilação mecânica durante a mobilização contraindicações ortopédicas. Outros Parâmetros: Hb >7ml/dL, temperatura corporal <38ºC, PIC <20mmHg e ausências de contraindicações ortopédicas. CRITÉRIOS PARA INTERROMPER A MOBILIZAÇÃO Pressão arterial média < 65 ou > 120 mmHg FC menor que 50 ou maior que 140 bpm Quadro de arritmia Alteração de oxigenação e ventilação pulmonar (FiO2 > 60%, SpO2 < 85%) Taquipneia Temperatura superior a 38ºC Sinais de desconforto respiratório ou torácico Hipoglicemia Pacientes com piora do quadro clínico Sonolência, confusão, visão borrada, perda de coordenação, comprometimento do julgamento, tempo de reação lento, atividade maníaco-depressiva. PROTOCOLOS DE MOBILIZAÇÃO PRECOCE Nos últimos anos alguns protocolos foram publicados e discutidos no meio científico. A ideia central dos protocolos é padronizar e estabelecer um pensamento uniforme entre os profissionais, melhorando a assistência prestada aos pacientes. A sistematização dos atendimentos baseados em protocolos vem mostrando que existe segurança, não gera aumento de custos e reduz tempo de internação hospitalar. Entretanto, a maior parte das pesquisas relacionadas à mobilização são internacionais (cultura relativamente diferente_ e ainda existe questionamento sobre o melhor tipo de protocolo. A maioria dos protocolos estratifica os pacientes e estima etapas de mobilização, com base principalmente no nível de consciência, na força muscular e na condição clínica do paciente. Pode ser iniciada com posicionamento funcional Mobilização passiva Mobilização Ativa Sedestação Ortostatismo Deambulação. Além disso, pode-se utilizar outros recursos para potencializar o treinamento nesses pacientes críticos, como a eletroestimulação neuromuscular, treinamento de força muscular respiratória, prancha ortostática e cicloergômetro. PRINCIPAL PROTOCOLO PUBLICADO ATÉ HOJE Divide em 5 estágios de mobilização: 1. O primeiro ainda se dá com o paciente inconsciente, realizando alongamento passivo e mobilização passiva nos quatros membros. Essas atividades devem ser feitas 3 vezes por dia, cinco repetições para cada articular durante aproximadamente 30 segundos. Além disso deve ser realizado o reposicionamento corporal a cada 2 horas, visando a prevenção de ulceras de pressão. 2. Quando o paciente começar a contactar com o meio, obedecendo a comandos como abrir os olhos, abrir a boca e protrair a língua e direcionar o olhar. O paciente deve ter força muscular grau 2 para MMSS baseados no MRC. Incrementa-se exercícios ativo-assistido ou livres além de transferências de deitado para sentado no leito por, no mínimo, 20 minutos. 3. O paciente apresenta força muscular grau 3 para MMSS também com base no MRC. Os exercícios passaram a ser ativos contra a gravidade ou com auxílio de pesos, transferência de deitado para sentado com MMII pendentes e a inclusão do cicloergômetro para MMII. 4. O paciente passa para o estágio 4 se as extremidades inferiores conseguirem vencer a gravidade, ou seja, um MRC ≥ 3. Além dos exercícios feitos na fase 3, inclui transferências para poltrona e treino de ortostase. 5. O paciente deve ser estimulado a realizar treino de equilíbrio e deambulação. TREINAMENTO MUSCULAR RESPIRATÓRIO O tempo prolongado de VM, dentre outros fatores, pode gerar redução da força muscular periférica e diafragmática. Sendo assim, o treinamento muscular respiratório deve começar o mais precoce possível, visando melhorar ou até mesmo manter a força e/ou resistência dos músculos respiratórios. Em pacientes em VM, o treinamento de musculatura respiratória reduz o tempo de desmame. Threshold – Impõe uma resistência contra a inspiração do paciente, gerando uma sobrecarga. O músculo só aumenta sua força quando for estimulado contracarga acima daquela encontrada normalmente. 3 vezes por dia – 7 dias na semana Intervalo de 1 minuto entre as séries Com carga de 30 a 40% do valor da PImáx Endurace: carga e repetições Força: carga e repetições TREINAMENTO MUSCULAR RESPIRATÓRIO Outras maneiras de treinamento são: Resistores de orifícios Redução da pressão de suporte Períodos de ventilação em Tubo T Ajuste de sensibilidade ventilatória – menos específico. Lembrar do principio da REVERSIBILIDADE é fundamental, pois ele afirma que só permanecerá forte se for continuamente estimulado. ORTOSTATISMO É um recurso a ser empregado tanto de forma ativa como passiva. Benefícios: Melhora do controle autônomo cardiovascular Incremento na oxigenação Aumento da ventilação Melhora do nível de consciência Prevenção contra ulceras de pressão Prevenção de contraturas Efeitos Adversos: Instabilidade Hemodinâmica Diminuição da saturação periférica de O2 Aparecimento de arritmias O método mais comum para assumir a posição ortostática é a prancha ou mesa ortostática que proporciona ortostase de forma gradual naqueles pacientes incapacitados ou inseguros em adotar a posição vertical. Deve-se Inclinar a Prancha obedecendo à angulação de 20 a 30º permanecendo de 10 a 20 minutos em cada posição possibilitando uma readaptação do fluxo sanguíneo, verificando assim a PA constantemente por causa da Hipotensão Ortostática. ORTOSTATISMO Estudos demonstram que a adição da postura ortostática em paciente crítico gera: otimização do volume corrente, capacidade vital e pressão inspiratória máxima, acarretando discreto aumento da FC e da PA média dentro dos valores de segurança para o paciente. ELETROESTIMULAÇÃO NEUROMUSCULAR A eletroestimulação neuromuscular (EENM) é uma técnica que promove atividade muscular sem demandar uma sobrecarga ao sistema cardiovascular e respiratório. Utiliza corrente elétrica de baixa intensidade mimetizando um estímulo nervoso para o músculo esquelético. Efeitos: Prevenção de Hipotrofia Aumento de força muscular Melhora da capacidade oxidativa muscular Redução do Edema e da Inflamação devido ao aumento do fluxo sanguíneo. ELETROESTIMULAÇÃO NEUROMUSCULAR Contra-Indicações: Instabilidade Cardíaca Presença de marca-passo Aumento da PIC Hipertemia (>38ºC) Hemoglobina baixa de 7 mg/DL Cuidados: Não estimular uma região com pele lesionada Pacientes com Hipossensibilidade Gravidez Existem 3 tipos de correntes: 1. Corrente Direta, que pode ser contínua ou monofásica 2. Corrente alternada, sendo bifásica, continuada ou formato de onda quadrada, triangular ou senoidal 3. Corrente pulsada, com apresentação monofásica ou bifásica, separada por intervalos entre pulsos formato de onda quadrada, triangular ou senoidal. Deve-se levar em consideração a duração do pulso, a frequência de pulso, ciclo on-off e intensidade. A duração do pulso deve ser ajustada pensando no grupo muscular trabalhado e no objetivo terapêutico, podendo variar de 150 a 140 μs. A duração do treino pode ser de 45 min, dependendo da intensidade e da aceitação do paciente. Um ponto importante para a efetividade da técnica é o posicionamento dos eletrodos e a localização do ponto motor, local da pele que apresenta menor resistência a passagem da correntente, reduzindo a quantidade necessária de estímulos para promover contração. CICLOERGÔMETRO O cicloergômetro é um aparelho de utilização estacionária que permite rotações cíclicas, seja de forma passiva, ativa ou com resistência. A realização de exercícios pode ser em membros superiores ou inferiores. Benefícios: • Aumento da capacidade de exercícios • Aumento da força muscular periférica • Redução da sensação de fadiga e dispneia • Preservação das estruturas osteomioarticulares Pesquisas demonstram que a utilização do cicloergômetro em pacientes críticos apresenta uma pequena variação sobre as variáveis hemodinâmicas, como FC, PA sistêmica, SpO2, FR e escala de Borg. Sendo assim, apesar de essa variação estar dentro de um parâmetro de segurança, a monitorizaão pré, durante e pós atividade deve ser realizada. DEAMBULAÇÃO A deambulação pode ser realizada tanto com o paciente em ventilação espontânea como em ventilação mecânica, sendo um procedimento complexo, porém seguro, havendo riscos de extubação que pode ser minimizado pela adoção de critérios de segurança e está associado à diminuição do tempo de internamento na UTI e hospital. Deambulação precoce por 5 vezes na semana: Aumento da força periférica e respiratória Aumento da funcionalidade Aumento do tempo fora da ventilação mecânica invasiva Prevenção neuromusculares Efeitos Cardiovasculares: Diminuição da PA a médio e longo prazo Aumento da FC Aumento de Débito Cardíaco comparado ao exercício estático, porque a Pós-carga é mais alta no coração durante exercício estático e o trabalho cardíaco torna-se significativamente mais alto que no exercício dinâmico. CONSIDERAÇÕES FINAIS A mobilização precoce deve começar a partir do momento em que o paciente demonstra estabilidade clínica e hemodinâmica, continuando durante toda a internação na UTI, podendo melhorar a função física e cognitiva fazendo com que o paciente retorne suas atividades funcionais o mais breve possível. Essa atividade é segura e viável, porém são necessários estudos estabelecendo o tipo de exercício, a duração, a intensidade e os parâmetros de segurança. Essa mobilização exige o desenvolvimento de uma equipe multidisciplinar coordenada, cujos membros compartilham uma expectativa cultural de atividade precoce em todos os pacientes. REFERÊNCIAS Sarmento, George. Fisioterapia respiratória de A a Z. Editora Manole, 2016. Dantas, C.M, Silva, P.F.S., Siqueira, F.H.T., Pinto, R,M,F., Matias, S., Maciel, C., et al. Influência da mobilização precoce na força muscular periférica e respiratória em pacientes críticos. Rev Bras Ter Intensiva. 2012; 24(2): 173-178. Acesso: 27 maio de 2018. Disponivel: http://www.scielo.br/pdf/rbti/v24n2/13.pdf França, E.E.T., et al. Proposta de Organograma para estabelecer níveis de progressão da mobilização do doente crítico: Força Tarefa sobre a fisioterapia em pacientes críticos adultos: Diretrizes da Associação Brasileira de Fisioterapia Respiratória e Terapia Intensiva (ASSOBRAFIR). Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Conceição TM, Gonzáles AI, Figueiredo FC, Vieira DS, Bündchen DC. Critérios de segurança para iniciar a mobilização precoce em unidades de terapia intensiva. Revisão sistemática. Rev Bras Ter Intensiva. 2017;29(4):509-519. Acesso: 27 maio de 2018. Disponível: http://www.scielo.br/pdf/rbti/v29n4/0103-507X-rbti-29-04-0509.pdf OBRIGADA! Dra. Laís Lemos CREFITO 256570 – F Fisioterapeuta
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