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petição inicial caso concreto 1

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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUÍZ(A) DE DIREITO DA ___ 
VARA CÍVEL DA COMARCA DE ITABÚNA/BA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JOANA (SOBRENOME), brasileira, solteira, técnica em contabilidade, 
portadora da cédula de identidade (número) – (órgão emissor/UF), inscrita no CPF sob o 
(número), (endereço eletrônico), residente e domiciliada a (Rua), (número), (Bairro), 
Itabuna/BA, (CEP), vem, com o devido acatamento, por intermédio do advogado que esta 
subscreve, com endereço profissional a (endereço completo), onde recebe intimações, perante 
Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO JURÍDICO em 
face de JOAQUIM (SOBRENOME), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portador da 
cédula de identidade (número) – (órgão emissor/UF), inscrito no CPF sob o (número), 
(endereço eletrônico), residente e domiciliado a (Rua), (número), (Bairro), Itabuna/BA, (CEP), 
pelos motivos fáticos e jurídicos que passa a discorrer para, ao final, postular: 
 
 
 
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JUSTIÇA GRATUITA 
 
A parte autora, inicialmente, postula os beneplácitos da gratuidade da justiça, 
em razão de não ter condições de arcar com as despesas processuais e os honorários 
advocatícios, sem prejuízo do sustento próprio e de sua família, estando, assim enquadrado na 
situação legal de necessitada, nos termos do art. 98 e ss. do Código de Processo Civil. 
 
 
DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO 
 
Por atenção a busca da celeridade processual e visando prestigiar a composição 
amigável dos conflitos, a Promovente vem manifestar interesse na realização de audiência de 
conciliação ou mediação, nos termos do art. 319, inc. VII do Código de Processo Civil. 
 
 
DOS FATOS 
 
No dia 20/12/2016, a Autora recebeu notícia que seu filho Marcos, de 18 
(dezoito) anos de idade, tinha sido preso de forma ilegal e encaminhado equivocadamente ao 
presidio XXX. 
 
No mesmo dia, a peticionante procurou um advogado criminalista para atuar no 
caso, tendo mencionado profissional cobrado o importe de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) à 
título de honorários contratuais. 
 
A Requerente, ao chegar em casa, comentou com o Réu, que é seu vizinho, que 
não tinha o valor cobrado pelo advogado e que estava desesperada diante da prisão de seu 
filho. 
 
O Promovido, ciente do estado de fragilidade e desespero da Requerente para 
levantar a quantia necessária para a contratação de um advogado para solucionar a situação do 
filho, aproveitou a oportunidade para obter uma vantagem patrimonial, oportunidade em que 
propôs a Acionante a compra do veículo desta pelo de valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), 
 
 
 
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apesar de ter conhecimento de que o valor de mercado do automóvel é no valor de R$ 
50.000,00 (cinquenta mil reais), o que fora aceito de pronto pela peticionante. 
 
No dia seguinte ao negócio jurídico celebrado entre a Autora e o Demandado, 
antes mesmo daquela ir ao escritório do advogado criminalista acima citado, a peticionante 
descobriu que a avó paterna de seu filho tinha contratado outro advogado criminalista para 
atuar no caso, e que este tinha conseguido a liberdade do rapaz através de um Habeas Corpus. 
 
Diante destes novos fatos, a Promovente procurou o Réu objetivando desfazer o 
negócio acima mencionado. Todavia, o Réu rechaçou tal possibilidade. 
 
Assim, diante do flagrante estado de necessidade em que se encontrava a 
peticionante, que viciou sua livre vontade, condição basilar para a validade do negócio jurídico, 
imperioso se faz a intervenção do Estado Juiz para declarar a anulação do negocio jurídico 
celebrado entre Autora e Réu. 
 
 
DO DIREITO 
 
O Código Civil Brasileiro prevê, em seu art. 104, alguns requisitos para a 
validade do negócio jurídico. Senão vejamos: 
 
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: 
I - agente capaz; 
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; 
III - forma prescrita ou não defesa em lei. 
 
Por sua vez, o artigo 171, inciso II, do mesmo diploma legal, traz algumas 
situações que possibilitam a anulação do negócio jurídico, em especial quando da ocorrência 
dos vícios de consentimento por parte dos contratantes. Vejamos: 
 
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio 
jurídico: 
I - por incapacidade relativa do agente; 
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra 
credores. 
(Grifamos) 
 
 
 
 
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Urge mencionar, que para além dos requisitos acima destacados, a doutrina é 
uníssona quanto a necessidade da livre vontade dos contratantes quando da celebração do 
contrato. Assim, se observado em um negócio jurídico a ausência da livre vontade de uma, ou 
ambas as partes contratantes, este estará sujeito a anulação. 
 
No entanto, para a perfeita validade de um negócio jurídico, não basta a 
declaração pura e simples da vontade. É necessário que a mesma tenha sido idônea, consciente, 
em consonância com o verdadeiro querer do agente. Para Maria Helena Diniz, a validade do 
negócio jurídico depende da manifestação de vontade e que esta haja funcionado 
normalmente1. 
 
Caio Mário da Silva Pereira leciona que “na verificação do negócio jurídico, 
cumpre de início apurar se houve uma declaração de vontade. E, depois, indagar se ela foi 
escorreita”2 
 
Conforme acima explanado, indiscutível se mostra que a peticionante somente 
realizou o negócio jurídico com o acionado, em face do grave dano ao qual seu filho estava 
sendo submetido, da ameaça a integridade física deste, vez que é indiscutível a perversidade e 
precariedade do sistema prisional brasileiro. 
 
Ademais, imperioso ressaltar que o Promovido tinha plena consciência de tal 
fato, tendo, verdadeiramente tomado proveito para celebrar a compra e venda do veículo de 
propriedade da autora de forma extremamente onerosa e desproporcional em desfavor daquela. 
 
Tal situação encontra-se plenamente prevista em nosso Código Civil, através do 
instituto da lesão, previsto como causa passível de anulação do negócio jurídico, no art. 157. 
Vejamos: 
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da 
prestação oposta. 
§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo 
em que foi celebrado o negócio jurídico. 
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, 
ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. 
 
 
1 Curso de direito civil brasileiro. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. (v. 1), p. xx. 
2 Instituições de direito civil. v. 1, 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. xx. 
 
 
 
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Os tribunais pátrios já se manifestaram sobre o assunto, reconhecendo a lesão 
como vício de consentimento passível a anulação do negócio jurídico. Vejamos: 
 
DIREITO CIVIL. NEGÓCIO JURÍDICO. VÍCIO DE CONSENTIMENTO. 
ALEGAÇÃO DE ESTADO DE PERIGO, NULIDADE POR INOBSERVÂNCIA 
DO DIREITO DE PREFERÊNCIA PREVISTO NO ART. 1.794 DO CÓDIGO 
CIVIL (CC) E SIMULAÇÃO. DECADÊNCIA. PRELIMINAR DE MÉRITO 
AFASTADA. DIFERENÇAS ENTRE ESTADO DE PERIGO E LESÃO. 
REQUALIFICAÇÃO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO STJ. NEGÓCIOS 
JURÍDICOS CELEBRADOS SOB PREMENTE NECESSIDADE (OBTENÇÃO DE 
RECURSOS COM A FINALIDADE DE CUSTEAR TRATAMENTO CONTRA O 
CÂNCER). PRESTAÇÃO MANIFESTAMENTE DESPROPORCIONAL AO 
VALOR DA PRESTAÇÃO OPOSTA (PREÇO MUITO ABAIXO DO VALOR DO 
MERCADO). 1. Quando se trata de demanda por tutela jurisdicional constitutiva 
negativa, ou, em outras palavras, ação anulatória, o decurso do tempo pode implicar 
em decadência. 2. Em tais casos, não há razão para pensar em preclusão, porque essa 
consiste na “perdada faculdade de praticar ato processual” (Nelson Nery Jr. e 
Rosa Maria de Andrade Nery, Comentários ao CPC, 2015, p. 743, n. 2). Esse 
fenômeno apenas acontece como consequência da própria atividade processual, seja 
pelo decurso de um prazo processual sem que se tenha praticado o ato (preclusão 
temporal); seja porque já se praticou o ato e, por isso, ele não pode mais ser repetido 
(preclusão consumativa); seja porque a parte adotou posturas contraditórias com um 
ato processual, o que veda a sua prática (preclusão lógica, derivada da vedação de 
comportamento contraditório Â- non venire contra factum proprium). Como se vê, a 
preclusão pressupõe a instauração de um processo, razão pela qual não se verifica tal 
fenômeno nas hipóteses em que, antes da propositura da demanda, não houve 
atividade processual. 3. Também não faz sentido discutir se houve prescrição, porque 
essa apenas atinge a pretensão e, portanto, desse fenômeno apenas se cogita 
relativamente às demandas por tutela jurisdicional condenatória. Em outras palavras, 
só se perquire acerca da prescrição naquelas ações que visam à proteção de um direito 
a uma prestação. 4. Nessas circunstâncias, apenas se pode interpretar a alegação como 
sendo de decadência, que é o fenômeno a que se sujeitam as demandas constitutivas, 
como a que levou à instauração do presente processo, em que se pede a 
desconstituição, ou seja, a anulação de negócios jurídicos supostamente viciados. 5. 
Segundo o art. 178 do Código Civil de 2002, “é de quatro anos o prazo de 
decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado [Â…] no [caso] 
de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se 
realizou o negócio jurídico”. 6. Ao passo em que, no estado de perigo, a necessidade 
é a de salvar a si ou a outrem (por quem o negociante com vontade viciada tenha afeto 
digno de tutela jurídica) de grave dano conhecido pela outra parte, na lesão, a 
premente necessidade pode ser de outra ordem. 7. Enquanto o estado de perigo tem 
por elemento objetivo que o negociante premido pela necessidade de salvar a si ou a 
outrem assuma “obrigação excessivamente onerosa” (art. 156 do CC), a lesão se 
configura quando o negociante premido por necessidade digna de tutela jurídica “se 
obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta” (art. 
157 do CC). É claro que a obrigação excessivamente onerosa também é uma 
prestação manifestamente desproporcional. Entretanto, não se deve presumir que a 
previsão em lei de dois institutos diversos é inútil. 8. No caso em que uma pessoa 
diagnosticada com câncer aliena todos os bens economicamente interessantes do seu 
patrimônio por um valor bem abaixo do de mercado, o desequilíbrio sinalagmático é 
melhor assimilável à desproporção entre prestação e contraprestação, própria da lesão 
(art. 157 do CC), do que à assunção de obrigação excessivamente onerosa, peculiar ao 
estado de perigo (art. 156 do CC). Isso porque o negociante premido pela necessidade 
de obter recursos para o tratamento de saúde não permaneceu, em consequência dos 
contratos que celebrou, obrigado a uma prestação excessivamente onerosa a ser 
futuramente adimplida. Ao contrário, o prejuízo sofrido pelo alienante doente se 
consumou na própria celebração dos contratos de compra e venda da casa e de cessão 
dos direitos hereditários sobre os diversos bens. 9. O simples reenquadramento dos 
fatos narrados na inicial, para qualificá-los juridicamente como um defeito do negócio 
 
 
 
 6
jurídico diverso daquele sugerido pelo autor, não implica em ofensa à regra da 
adstrição da sentença ao pedido, ou da coerência entre a tutela jurisdicional 
demandada e a tutela jurisdicional prestada. Cândido Rangel Dinamarco esclarece 
que, "entre os limites da demanda, que o art. 128 do Código de Processo Civil [de 
1973] manda o juiz observar, estão incluídos os fundamentos de FATOs contidos na 
petição inicial. O juiz é rigorosamente adstrito aos FATOS trazidos na causa de pedir, 
não lhe sendo lícito decidir apoiados em fatos ali não narrados nem omitir-se quanto a 
algum deles. Tais são os fatos constitutivos (...)" (Instituições de Direito Processual 
Civil, vol. III. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 285). Na sequência, o doutrinador deixa 
claro que "OS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO PEDIDO também integram a 
causa de pedir (CPC, art. 282, inc. III) MAS NÃO VINCULAM O JUIZ, O QUE É 
INERENTE AO SISTEMA DA SUBSTANCIAÇÃO, ADOTADO NO DIREITO 
PROCESSUAL BRASILEIRO (JURA NOVIT CURIA...)" (ob. cit., loc. cit.). 
Doutrina e precedentes do STJ. 10. A obtenção de recursos para custear o tratamento 
de grave doença se constitui em premente necessidade, digna de tutela jurídica. Pouco 
importa se o negociante doente estava ou não abalado, porque o Código Civil não 
exige, para a configuração da lesão, um particular estado psicológico assumido pela 
pessoa diante da premente necessidade. A premente necessidade não precisa vir 
acompanhada de “abalo psicológico”. Essa dimensão psicológica, para 
caracterização da lesão, é um irrelevante jurídico. 11. A lesão é defeito do negócio 
jurídico que impõe a anulação dele, com base no art. 171, II, do CC, de acordo com o 
qual “é anulável o negócio jurídico [Â…] por vício resultante de [Â…] lesão”. 12. 
A consequência da anulação do negócio jurídico, que nada mais é do que a 
desconstituição dele, está prevista no art. 182 do CC, segundo o qual, “anulado o 
negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, 
não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente”. Por 
incidência desse dispositivo, impõe-se a prestação de tutela jurisdicional constitutiva 
negativa com efeitos ex tunc. Doutrina e precedente do STJ. 13. Apelação conhecida 
e improvida. (TJ-PI - AC: 00010283420068180028 PI 200900010045990, Relator: 
Des. Francisco Antônio Paes Landim Filho, Data de Julgamento: 13/04/2016, 3ª 
Câmara Especializada Cível, Data de Publicação: 03/05/2016). 
(Grifamos) 
 
No presente caso, o retorno ao “status quo ante” é possível, sendo necessário 
apenas que, além da anulação do negócio jurídico, seja determinado pelo juízo a restituição ao 
acionado dos valores pagos pelo mesmo no ato da compra, e a devolução do veículo. 
 
Por todos os motivos supramencionados, melhor atitude não há, senão a 
procedência do pedido formulado, com a respectiva anulação do negócio jurídico realizado 
entre autora e réu. 
 
 
DO PEDIDO 
 
EX POSITIS, é a presente para requerer que Vossa Excelência, digne-se de: 
 
a) Conceder a gratuidade da justiça; 
 
 
 
 
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b) Que seja designada audiência de conciliação ou mediação e conseqüente citação e intimação 
do Réu para comparecer aquela audiência, ficando ciente que não havendo acordo, iniciará o 
prazo para contestar, na forma da lei; 
 
c) Ao final, ver declarada a procedência do pedido para anular o negócio jurídico realizado 
entre a autora e o requerido, e, em ato continuo, a devolução da quantia paga no ato da 
celebração deste. E ainda, que seja expedido ofício ao Departamento Estadual de Transito do 
Estado da Bahia para proceder às alterações necessárias; 
 
d) Condenar o Requerido nos ônus da sucumbência. 
 
DAS PROVAS: 
 
Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, na amplitude dos 
artigos 369 e seguintes do CPC, em especial a prova documental, testemunhal e o depoimento 
pessoal dos Réus, sob pena de confissão. ou qualquer outra providência que Vossa Excelência 
julgue necessário para a perfeita resolução do feito, ficando desde logo requerida. 
 
DO VALOR DA CAUSA: 
 
Dá-se à causa o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) para os efeitos de lei. 
 
Segue em anexo os comprovantes do recolhimento das custas pertinentes. 
 
Nestes termos, 
Pede Deferimento. 
 
LOCAL/DATA. 
 
 
ADVOGADO 
OAB/UF

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