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EDS PROCESSOS GRUPAIS

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Módulo 1: O PROCESSO GRUPAL
O conceito de grupo e o processo grupal
Todos nós pertencemos a grupos. Determinadas concepções da Psicologia Social chegam a afirmar que só “somos”, efetivamente, em grupo. E você? Consegue se ver “sendo” a partir dos grupos, ou seria suficiente dizer que “somos” singulares, únicos, autônomos e, então, podemos pertencer a grupos humanos, especialmente aqueles dos quais escolhemos participar?
Sabemos que ninguém vive isolado e, ainda, que não se pode compreender o comportamento do indivíduo sem considerar a influência de outras pessoas. Estabelecemos relações onde há, naturalmente, uma intenção particular de cada uma das pessoas envolvidas. A nossa formação individual depende então, necessariamente, desse relacionamento, seja ele em qualquer tipo de grupo ao qual pertencemos, família, trabalho, clube, futebol, entre outros. A identidade historicamente construída tem como um de seus elementos mais importantes a ligação a grupos sociais.
Se pensarmos sobre a origem da palavra grupo, observamos que ela remonta a um termo técnico italiano das Artes Plásticas (groppo, gruppo), que designa vários indivíduos, pintados ou esculpidos, compondo um tema (ANZIEU; MARTIN, 1975). Somente no século XVIII, a palavra grupo vai designar um ajuntamento de pessoas. Além da “novidade” do conceito, Anzieu e Martin (1975), ao apresentarem diferentes concepções sobre grupos, indicam também que, até há pouco tempo, nas Ciências Sociais, havia um preconceito bem-estabelecido contra a ideia do grupo, do pequeno grupo. Esse mal-estar em relação ao conceito estaria presente porque seria entendido como categoria para o entendimento do social, e esta supostamente comportaria a negação do indivíduo. Para outros, esse incômodo se estenderia ao próprio fenômeno grupo, como perturbador da personalidade – os grupos de jovens e os grupos partidários, por exemplo.
Contemporaneamente, podemos reconhecer grupos definidos a partir de uma metáfora biológica (o grupo-organismo) ou mecânica (o grupo-maquina), ou simplesmente pelo ajuntamento de pessoas, nas multidões, nos bandos, nas aglomerações. A ideia de grupo também está presente em grupos nos quais os indivíduos se encontram face a face, os pequenos grupos sociais, ou nas organizações das quais todos participamos e por meio das quais temos um papel no jogo social.
Para discutir qual ou quais os sentidos de um grupo social e tentar traçar uma dinâmica dos grupos, isto é, o movimento de uns em relação a outros, é necessário descrever algo da história dos estudos sobre grupos a partir das maneiras como eles têm sido definidos. Algumas das referências para essas definições tem sido a quantidade de membros (se são pequenos grupos, categorias sociais, a “massa”), a medida da sua organização (aglomerados, categorias sociais, grupos estruturados, organizações, instituições) ou a medida do relacionamento entre seus membros (face a face ou não).
Bock (1999) explica que a instituição consiste em um valor ou regra social que reproduzimos em nosso cotidiano, enquanto um guia básico de comportamento e de padrão ético. Ela atravessa de forma sutil as nossas relações sociais (organização social e grupo social). Organização consiste na base concreta da sociedade, um aparato que reproduz o quadro de instituições no cotidiano da sociedade. Podemos identifica-la em um complexo organizacional (ministério da saúde ou igreja católica, por exemplo); uma grande empresa (como a Volkswagen do Brasil) ou mesmo em uma pequena creche. Percebemos que as instituições sociais serão mantidas e reproduzidas nas organizações. Por fim:
 
“O elemento que completa a dinâmica de construção da realidade é o grupo – o lugar onde a instituição se realiza. Se a instituição constitui o campo de valores e das regras (portanto, um campo abstrato) e se a organização é a forma de materialização destas regras (portanto, um campo abstrato), e se a organização é forma de materialização destas regras através da produção social, o grupo, por sua vez, realiza as regras e promove valores. O grupo é o sujeito que reproduz e que, em outras oportunidades, reformula tais regras. É também o sujeito responsável pela produção dentro das organizações e pela singularidade – ora controlado, submetido de forma crítica a essas regras e valores, ora sujeito da transformação, da rebeldia, da produção do novo.” (BOCK, 1999, p.217)
 
Geralmente, quando falamos em grupos, pensamos nos pequenos, aqueles dentro dos quais seus membros tem contato face a face, grupos que são estruturados, organizados por regras e com objetivos definidos, cuja ação está delimitada no espaço – por uma sala, um campo, uma instituição. Menos comum é chamarmos de grupos os agregados mais ou menos numerosos de indivíduos que não tem propriamente nenhum contato entre si, os amontoados percebidos por Sartre numa fila a espera do ônibus (uma serie) que não estão sujeitos a normas claras de comportamento comum, conjuntos que compreendem meros aglomerados ou categorias sociais que indicam um relacionamento de ordem simplesmente distributiva.
Estes últimos são aqueles das nacionalidades, da cor da pele, dos matizes ideológicos, do sexo ou da opção sexual. Contudo, mesmo nessa outra ordem de agrupamentos que se constitui a partir de sua simples nomeação, por um critério burocrático, filosófico, político e mesmo biológico ou étnico, tendemos a dizer dos indivíduos a eles pertencentes que se “comportam como um grupo”.
Ao nos referirmos a grupos, sabemos que a Psicologia Social tem ampla contribuição no tema, por iniciar os estudos nesta área. Os primeiros estudos sobre grupos foram iniciados no século XIX (“Psicologia de Massas”, por Gustav Le Bon, por exemplo), em que muitos pesquisadores foram influenciados pela revolução francesa. Nesta época se perguntava no campo da Psicologia: o que levaria uma multidão a seguir a um líder mesmo com risco a sua própria vida?.
No debate sobre a Psicologia dos Grupos, a literatura psicológica e sociológica trata dos grandes conjuntos humanos nas sociedades contemporâneas como “massa”, isto é, um agregado informe de indivíduos que não se conhecem pessoalmente, sem vínculos, sem objetivos comuns, entre os quais não se pode reconhecer autonomia, mas apenas a sujeição a ideias e opiniões produzidas em outros lugares e impostas a esses conjuntos, usualmente, pela mídia. De fato, quando falamos “massa”, normalmente tratamos dela com desdém – afinal, nesse caso, as pessoas não têm nomes nem ligações e, ainda mais, são necessariamente dominadas, controladas.
Seu comportamento, segundo cientistas sociais como Le Bon (2008), pode ser entendido como o de uma “manada”, sujeita a interferências sem a mediação da razão. A multidão reunida em grandes eventos ou em situações cotidianas nas ruas, nos terminais de transporte público ou nos estádios de futebol, por exemplo, teria comportamento imprevisível, que se caracterizaria pela possibilidade de os indivíduos realizarem atos de que, em outras situações, sem a presença da multidão, não seriam capazes. A violência de um quebra-quebra e de um linchamento seria a marca desse comportamento coletivo marcado pela diminuição do funcionamento intelectual, a razão, e pela ampliação da afetividade.
Freud, em Psicologia das Massas e Análise do Ego (2011), entra nesse debate a partir da discussão sobre a obra de Le Bon. Para ele, a psicologia individual não poderia ser separada da social, e toda psicologia é, num certo sentido, social, na medida em que se verificam nos indivíduos os traços recolhidos das suas relações sociais. Freud também considera entre os seres humanos um instinto gregário, chave para algo como uma mente grupal, cujo estudo da razão que sustenta o funcionamento dos grupos e parte desse trabalho. Reconhece também como as massas são influenciadas pela presença “fascinante”, hipnotizante, de um líder. As dimensões inconscientes envolvidas na constituição do grupo e sua incidência no indivíduo ajudam a compreender fenômenos já descritos por Le Bon, como a potência do indivíduoquando se vê pertencente ao grupo, ou mesmo a submissão, no grupo, a entendimentos até mesmo contrários às crenças individuais.
A suposição fundamental de Freud formulada nesse texto é de que as relações amorosas (laços emocionais) constituem a essência da mente grupal, e é nesse suporte que está, por exemplo, a importância do líder.
Você pode perceber a diversidade de conceitos e a complexidade que existe na literatura com relação a grupos.
Neste sentido, parece haver concordância entre alguns dos diversos autores quanto a haver um objetivo comum para duas ou mais pessoas. As concepções tradicionais sobre grupos usualmente os caracterizam como um conjunto de pessoas que compartilham um objetivo comum. Entretanto, numa perspectiva social critica, a melhor definição do processo grupal corresponde à sua inevitável sujeição à passagem do tempo e a inserção social.
Vale aqui indicar o entendimento de Lane (1986) sobre os grupos, para os quais ela reivindica a mesma preocupação quanto à importância da história na sua instituição. Lane (1986) insiste em tratar o grupo como processo ao caracterizá-lo como uma unidade que não se faz como permanente, que se constitui fundamentalmente de pessoas e relações e que está inserida num determinado contexto histórico e social. Ora, tudo isso que irá compor a concepção e a materialidade dos grupos é sujeito a passagem do tempo, isto é, muda, transforma-se, por conta dessa passagem. É por isso que se poderá, assim, falar em processo, porque o grupo só existe sendo; não é coisa que possa ser abstraída de sua condição histórica.
Assim, é importante considerar que a ideia de grupo dá conta de uma variedade importante de conjuntos de indivíduos. Se ela se presta a caracterização de uma categoria social que compreende determinada identidade profissional (o grupo de psicólogos, por exemplo), a ideia de grupo também estará presente quando falamos de pequenos grupos, quando os indivíduos estão face a face, envolvidos em uma pratica social determinada, como numa empresa (os funcionários da empresa X), na escola (os alunos ou os professores) ou em uma ação de assistência social (educadores, técnicos, gestores).
 
Dentre os diferentes entendimentos sobre os grupos e as tradições históricas e filosóficas as quais estão vinculados, uma chave para sua apresentação é percorrer a incidência do imaginário nesses universos. Destacamos, inicialmente, a Psicologia dos Grupos voltada para as questões individuais, marcadamente ideológicas, de ordem funcionalista, uma Psicologia Social dos pequenos grupos naturais. Esta se verifica mais intensamente no âmbito da Psicologia Social americana, com autores como Lewin, Newcomb, Asch, Stoessel e Maisonnave, e é voltada para os problemas de produção e de eficiência, seja num grupo de soldados ou de operários, seja num grupo terapêutico, estudando os relacionamentos intragrupo, a liderança e a motivação.
Na outra ponta, na Psicologia Social das categorias sociais, estão os estudos sobre grupos que colocam em jogo os elementos da história e da cultura nas quais os grupos estão inseridos. Alinhados a Psicologia Social “sociológica”, que veio se desenvolvendo principalmente na Europa do Pós-guerra, esses estudos que privilegiam os fatores históricos, ideológicos e políticos identificam a Psicologia Social europeia e os trabalhos de autores como Tajfel, Doise e Moscovici.
Numa posição intermediaria em relação a essas duas vertentes, no que diz respeito aos estudos sobre grupos, estariam os trabalhos sobre Psicoterapia de Grupo, sejam ou não de inspiração freudiana, mais ou menos próximos da vertente americana, como Moreno, ou da vertente europeia, como Guattari, e os desenvolvidos por psicólogos sociais sul-americanos, como Baremblitt, Bauleo, Bleger e Pichon-Riviere.
Em qualquer das vertentes da Psicologia Social – a Psicologia Social dos pequenos grupos naturais, a Psicoterapia de Grupo ou a Psicologia Social das categorias sociais –, a presença do imaginário como elemento para identificação e mediação entre os grupos traz, de maneira indiscutível, a tensão entre a ordem e a desordem no âmbito dos grupos.
É importante ressaltar que a representação que se tem de um grupo social compreende aquilo que se “vê” e o que se espera dele numa determinada circunstância. Assim, é preciso estar atento não apenas ao que está sendo representado e em qual contexto, mas também a quem representa, para se poder compreender, na história das ideias sobre grupo, as explicações que se oferecem a como e por que os indivíduos se associam, classificam e categorizam uns aos outros, assim como os efeitos dessas associações nos relacionamentos que ocorrem dentro dos grupos e entre eles.
Acompanhe o seguinte exemplo de exercício: 
Na perspectiva da Psicologia Social sócio histórica, o grupo é compreendido a partir de sua inserção no espaço e no tempo, o que o caracteriza como processo ao invés de “coisa”. Nestas condições, as relações entre os membros do grupo devem ser estudadas porque:
(a)  definem lugares pré-estabelecidos e prontos;
(b)  explicam o porquê do comportamento dos indivíduos;
(c)  estão submetidas a mudanças com o passar do tempo;
(d)  organizam as funções dentro do grupo;
(e)  são perturbadoras do bom funcionamento do grupo.
Se você compreendeu adequadamente a proposta relativa ao conceito de grupo na perspectiva sócio histórica, assinalou a alternativa c. As afirmações a-b-d-e não partem do princípio de que o grupo é visto como processo, mas como uma unidade estanque e sem considerar sua história. A visão sócio histórica caracteriza o grupo como uma unidade que não se faz como permanente, que se constitui fundamentalmente de pessoas e relações e que está inserida num determinado contexto histórico e social. Ora, tudo isso que irá compor a concepção e a materialidade dos grupos é sujeito a passagem do tempo, isto é, muda, transforma-se, por conta dessa passagem. É por isso que se poderá, assim, falar em processo, porque o grupo só existe sendo; não é coisa que possa ser abstraída de sua condição histórica.
A instituição do grupo
Você já percebeu que muitas vezes nos colocamos diante de grupos com que não tínhamos nenhum contato? Por exemplo, quando você entrou para a faculdade e passou a fazer parte de uma turma de 40 ou 50 pessoas desconhecidas e teve que realizar atividades em pequenos grupos. A este tipo de convívio podemos chamar de solidariedade mecânica, quando a filiação a algum grupo independe de nossa vontade. No entanto, a solidariedade orgânica consiste no convívio com nossos pares, pessoas escolhidas por nós. É o caso das ditas “panelinhas” da sala de aula.   Quando os fenômenos grupais passam a atuar sobre os indivíduos e sobre o grupo, chamamos isto de processo grupal.  Neste sentido, a coesão grupal é uma forma que os indivíduos têm para que seus membros sigam as regras estabelecidas e se obtenha a fidelidade dos mesmos. Os grupos podem apresentar maior ou menor coesão, de acordo com suas características, bem como a fidelidade ao grupo dependerá do tipo de pressão exercida. (BOCK,1999). 
Então, o que faz com que o indivíduo queira se agregar a um grupo? 
Se considerarmos que as pessoas vão gradativamente descobrindo uma forma mais simples e econômica de desempenhar suas atividades cotidianas, começam por estabelecer regularidades comportamentais. Um hábito estabelecido por razões concretas, com o passar do tempo e gerações, transforma-se em tradição, onde as bases estabelecidas não são mais questionadas. Quando a regra social estabelecida após a passagem de gerações perde sua referência de origem, dizemos que ela foi institucionalizada. Na verdade, vivemos imbuídos de instituições. De acordo com Berger e Luckmann (apud BOCK,1999), o processo de institucionalização se inicia com o estabelecimento de regularidades comportamentais.
No entanto, segundo Schutz (apud BERGAMINI, 2006), todo o indivíduo tem três necessidades interpessoais: Inclusão, Controle e Afeição e, ao associar-se a um grupo, cada pessoa passará por diferentesformas de atendimento de suas necessidades.
De acordo com Borges e Albuquerque (apud ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004), o processo de socialização, implica sempre em certo conformismo porque o indivíduo se insere em um contexto de normas e costumes previamente definidos por outros. Realmente, para melhor compreensão do funcionamento dos grupos precisamos entender a natureza da influência social, pois:
 
As pressões para uniformidade se exercem mediante a interação social na qual os membros tentam modificar suas crenças, atitudes e ações de forma mútua (...). Surgem processos similares sempre que um grupo tenta tomar uma decisão sobre metas a escolher ou sobre a maneira de alcançá-las. Coordenar as atividades de grupo exige que a conduta de cada membro se ajuste a dos outros, e se efetue a liderança mediante o processo de influência sobre os demais. (ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004, p.53)
 
Na maioria das vezes, os grupos são formados de acordo com similaridades naquilo que as pessoas fazem ou produzem. Podem ser agrupadas de acordo com as tarefas que executam – agrupamento por função - ou de acordo com o fluxo de trabalho desde o início até a conclusão – agrupamento por fluxo de trabalho.
Neste contexto, Bergamini (2006) distingue dois tipos de pequenos grupos: o sociogrupo – aquele que se organiza e se orienta em função da execução ou cumprimento de uma tarefa; e o psicogrupo – estruturado em função da polarização dos seus próprios membros.
Adorno e Horkheimer (1973) apresentam uma classificação de grupos, diferenciando microgrupos de macrogrupos. Os microgrupos, ou grupos primários, como a família, são importantes para a produção da subjetividade e para a manutenção de ideias e ideais sociais. Sua presença é praticamente universal, porque estes se encontram ao longo de toda a história civilizatória. Esses grupos estão vinculados a aprendizagem de uma “natureza humana”, mais propriamente – o que significa que os microgrupos estão associados a socialização dos indivíduos desde a infância. A ênfase nesses microgrupos justifica-se pela sua função psicossocial: o contato direto entre aqueles que pertencem a tais grupos permite a identificação entre seus membros e com o próprio grupo. Nos microgrupos, os indivíduos têm experiências de si simultaneamente vinculadas às presenças de outras pessoas.
Macrogrupos ou grupos secundários são grupos de outra ordem e não se diferenciam dos microgrupos necessariamente pelo tamanho. Neles, a privacidade dos membros é mais preservada.
Outra fórmula para tentar classificar os grupos é toma-los a partir de alguns elementos básicos. Um grupo pode ser considerado de acordo com a maneira como está organizado, os seus objetivos compartilhados, a quantidade de pessoas que o compõem e o contato e vínculo entre seus participantes, assim como quanto a sua duração.
Vejamos alguns exemplos de grupos conforme essa classificação. Numa extremidade, encontramos nas sociedades contemporâneas grandes conjuntos humanos, formados por milhares ou mesmo milhões de pessoas, que podem ser caracterizados como grupos. Pouco organizados, neles, as pessoas não se conhecem pessoalmente e mal compartilham objetivos comuns; mas, ainda assim, são reconhecidas como possuidoras de uma mesma identidade. Não nos recusamos a prever seus comportamentos, as maneiras pelas quais podem e irão resolver as situações cotidianas. São as categorias sociais, como “as mulheres”, “os psicólogos”, “os playboys”, ou “os moradores da zona leste”.
No outro extremo, estão os pequenos grupos, os grupos de interação face a face, em que todos se conhecem e se relacionam a partir de alguma organização, pelo exercício de determinadas funções dentro do grupo. Uma variável importante no que diz respeito ao seu funcionamento é o vínculo, isto é, as relações simbólicas e afetivas que se constroem ao longo da existência do grupo. O vínculo também é dependente da história e do contexto, atualizado nas posições exercidas dentro do grupo. O psicólogo social Pichon-Riviere (2009) propõe que se deva entender a interação dos membros de um grupo como um vaivém de determinações que ele representa como uma espiral dialética, em que tanto sujeito quanto objeto realimentam-se mutuamente, num processo que pode ser compreendido, por exemplo, nas relações entre profissional e cliente.
 Pensando no processo grupal na visão da Psicologia Social Crítica, apesar de haver uma consistente crítica aos modelos teóricos existentes, percebe-se um resguardo dos aspectos funcionais da dinâmica de grupos concordantes com Lewin e uma consideração positiva sobre o enquadramento psicanalítico por levar em conta a dinâmica interna dos grupos. A crítica prevalece sobre a visão a-histórica ou a maneira estática como alguns teóricos enquadram o grupo. (BOCK, 1999).
Na perspectiva sócio histórica da psicologia social (Silvia Lane) chega-se a afirmar que só “somos”, efetivamente, em grupo. Mas este entendimento não é “natural”. Ou ao menos é tão natural quanto dizer exatamente o contrário. Isto é, que “somos” singulares, únicos, autônomos e, então, podemos pertencer a grupos humanos, especialmente àqueles dos quais escolhemos participar.
As concepções tradicionais sobre os grupos usualmente os caracterizam como um conjunto de pessoas que compartilham um objetivo comum. Silvia Lane (1984) ao falar sobre os grupos sociais, reivindica a importância da história e das relações na sua instituição. Assim, numa perspectiva social crítica, se define o processo grupal em função da sua inevitável sujeição à passagem do tempo e à inserção social.
Nesta visão, considera-se fundamental que não existe grupo abstrato mas sim um processo grupal que se reconfigura a cada momento. Assim, Silvia Lane (apud BOCK, 1999, p. 224) detecta 3 categorias de produção grupal:
 
Categoria de produção: a produção das satisfações de necessidades do grupo está diretamente relacionada com a produção das relações grupais. O processo grupal caracteriza-se como atividade produtiva de caráter histórico.
Categoria de dominação: os grupos tendem a reproduzir as formas sociais de dominação. Mesmo um grupo de características democráticas tende a reproduzir certas hierarquias comuns ao modo de produção dominante (no nosso caso, o modo de produção capitalista).
Categoria grupo-sujeito (de acordo com Lourau): trata-se do nível de resistência à mudança apresentada pelo grupo. Grupos com menos resistência à autocrítica e, portanto, com capacidade de crescimento através da mudança, são considerados grupos-sujeitos. Os grupos que se submetem cegamente às normas institucionais e apresentam maior dificuldade para a mudança, são os grupos-sujeitados.
 Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
O ser humano é um ser social que busca satisfazer sua necessidade de relacionar-se, formando ou agregando-se a grupos. Com relação a instituição de um grupo, analise as afirmativas a seguir.
I – Há concordância entre vários autores quanto a um grupo ser formado pela união de pessoas que interagem umas com as outras visando objetivos inter-relacionados
II – A interação das pessoas no grupo permite que as pessoas que o compõe não influenciem uns aos outros
III – Os grupos se constituem apenas pela necessidade de compartilhar conhecimentos
Sobre grupos podemos afirmar que:
Os itens I e III estão incorretos
Apenas o item III está incorreto
Os itens II e III estão incorretos
Os itens I e II estão incorretos
Os itens I, II e III estão incorretos
Se você compreendeu adequadamente a proposta relativa a instituição de um grupo, assinalou a alternativa c. As afirmações II está incorreta pois as relações sociais pressupõem a influência de uns sobre os outros, bem como a III está incorreta pois as necessidades de afiliação não residem apenas no objetivo de compartilhar conhecimentos mas também de afeição, controle e inclusão, como afirma Schutz (1994) por exemplo. 
QUESTÕES
Exercício 1:
No que se refere às considerações sobre ao processo grupal, assinale, dentre as alternativas abaixo, qualNÃO pode ser considerada verdadeira:
A) O conceito de Grupo tem correspondido à união de duas ou mais pessoas que interagem umas com as outras visando o alcance de objetivos.
B) Grupo e individuo não se diferenciam, pois em ambos há alta elevação de interdependência na execução das atividades, pois o indivíduo isolado não age de forma diferente de quando está junto ao grupo.
C) Segundo Schutz (1994), todo o indivíduo tem três necessidades interpessoais: Inclusão, Controle e Afeição e, ao associar-se a um grupo, cada pessoa passará por diferentes formas de atendimento de suas necessidades.
D) Silvia Lane (1984) ao falar sobre os grupos sociais, reivindica a importância da história e das relações na sua instituição.
E) Diversos fatores podem interferir no funcionamento de um grupo, dentre eles estão as características do grupo e da tarefa e os aspectos situacionais.
R: B
Exercício 2:
O ser humano é um ser social que busca satisfazer sua necessidade de relacionar-se, formando ou agregando-se a grupos. Analise as afirmativas a seguir. 
I – Um grupo é formado pela união de pessoas que interagem umas com as outras visando objetivos inter-relacionados
II – A interação das pessoas no grupo permite que as pessoas que o compõe não influenciem uns aos outros
III – Os grupos se constituem apenas pelo senso de identidade e compartilhamento de conhecimentos e habilidades
Sobre grupos podemos afirmar que:
A) Os itens I e III estão incorretos
B) Apenas o item III está incorreto
C) Os itens II e III estão incorretos
D) Os itens I e II estão incorretos
E) Os itens I, II e III estão incorretos
R: C
Exercício 3:
Rafael, jovem de 30 anos, formado em Direito, trabalha numa empresa há 3 meses como assistente jurídico. É comunicativo e muito brincalhão, constantemente convida alguns colegas do seu trabalho para sair, ir ao clube e a igreja com ele. Relata gostar muito de estar sempre entre amigos, pois mora sozinho, pois sua família mora em outro Estado. Diante do relato acima, percebe-se que Rafael é um rapaz que faz parte de vários grupos, como forma de sentir-se menos só. Para Minicucci (1995) há diversas razões pelas quais os indivíduos passam a pertencer a vários grupos. Identifique   abaixo qual alternativa NÂO corresponde às razões que levam as pessoas a pertencer a grupos.
A) Companheirismo – necessidade de se relacionar
B) Identificação – semelhança com o outro
C) Direção – guiar os outros para o comportamento perfeito
D) Apoio – oferece apoio ao indivíduo no desenvolvimento de suas atividades
E) Proteção – proteção das pressões externas
R: C
Exercício 4:
Os estudos de pequenos grupos sociais têm sido tradicionalmente ligados à teoria de Kurt Lewin, que os analisa em termos de espaço topológico e de sistema de forças no qual o grupo é visto como a-histórico numa sociedade a-histórica (Lane, 1987). Considere as afirmativas abaixo e identifique aquelas que se filiam a esse modo a-histórico de conceber os processos grupais:
I.          Os pequenos grupos atuam no sentido de reprodução, através das aprendizagens que reproduzem o sistema social mais amplo.
II.         Os pequenos grupos têm implícitos valores que visam reproduzir os do individualismo, da harmonia e da manutenção.
III.        A função do grupo é definir papéis e, consequentemente, a identidade social dos indivíduos é garantir a sua produtividade social.
IV.       Todo e qualquer grupo exerce uma função histórica de manter ou transformar as relações sociais desenvolvidas em decorrência das relações de produção.
SOMENTE está correto o que se afirma em:
A) I e II somente
B) II e III somente
C) II e IV somente
D) I, III e IV somente
E) I, II e III somente
R: E
Exercício 5:
Em se tratando de produção teórica crítica sobre grupos em psicologia, analise as afirmações abaixo:
 I. O significado da existência e da ação grupal só pode ser encontrado dentro de uma perspectiva histórica que considere a sua inserção na sociedade, com suas determinações econômicas, institucionais e ideológicas.
II. O caráter processual dos grupos, do ponto de vista psicossocial, reside no fato de que o grupo se constitui no tempo e não se institui de imediato.
III. O grupo deve ser conhecido enquanto processo histórico, e nesse sentido é mais adequado o termo processo grupal, em vez de dinâmica de grupo.
 
Está correto APENAS o que se afirma em:
A) I
B) I e II
C) II e III
D) I e III
E) I, II e III
R: E
Exercício 6:
Os estudos sobre grupos numa perspectiva sócio histórica contrariam posturas teóricas tradicionais, nas quais a função do grupo estaria relacionada a:
A) definir os papéis sociais dos indivíduos
B) garantir um espaço democrático para a construção da subjetividade
C) valorizar a individualidade de cada sujeito do grupo
D) cultuar a diversidade histórica e cultural nos grupos
E) identificar os sujeitos problema para torná-los críticos
R: A
Exercício 7:
Para Lane (1984), o grupo deve ser reconhecido no seu caráter processual, quando os determinantes sociais e históricos estão presentes nas relações entre seus participantes. Para a autora passa a ser fundamental algumas premissas para conhecermos o processo grupal, tal como:
A) O significado da existência e da ação grupal só pode ser encontrado dentro de uma perspectiva a-histórica.
B) O próprio grupo só poderá ser conhecido enquanto um processo histórico
C) O grupo exerce uma função autoritária, simbólica e abstrata na vida do sujeito
D) Tanto na sua forma de organização como nas suas ações o processo grupal é seguro, estável e garante a tradição
E) O processo grupal tem aspectos naturais e universais que são fundamentais para se consolidar dialeticamente.
R: B
Exercício 8:
Para Lane (1984) o grupo deve ser reconhecido como processo, e a partir de uma análise dialética é que poderemos compreendê-lo inserido numa totalidade maior. Para se construir o processo grupal é preciso assumir determinados entendimentos. Identifique a alternativa INCORRETA em relação a estes fundamentos:
A) Toda a análise que se fizer do indivíduo terá de se remeter ao grupo familiar pois esse grupo é quem determina a maneira de ser do sujeito.
B) Os sujeitos precisam estar num grupo humano para desenvolver-se psicologicamente.
C) A socialização é processo que atravessa toda a vida de um sujeito, pelas relações estabelecidas com diferentes grupos sociais
D) A família, a classe social, o grupo de amigos, o grupo de trabalho e outros grupos a que o sujeito pertença devem ser analisados a partir de uma relação dialética homem-sociedade.
E) O homem precisa ser reconhecido como síntese de muitas determinações sociais
R: A 
Módulo 2: A DINÂMICA GRUPAL E SEUS FUNDAMENTOS
A dinâmica grupal
Neste momento, além de compreender as classificações possíveis de um grupo, você deve estar refletindo sobre como se apresentam os estudos sobre os estágios de um grupo e/ou como pode se apresentar o seu desenvolvimento. Diversos autores apontaram as fases de desenvolvimento de um grupo, tais como Buchanan e Huczynski,1985; Greenberg e Baron,1995; Ivancevich e Matteson,1999; Tosi, Rizzo e Carroll,1994, (apud ZANELLI,2004) e Lacoursiere,1980 (apud ROTHMANN e COOPER, 2009)
Segundo Scholtes (1992), uma equipe passa por estágios razoavelmente previsíveis:
Estágio 1 – Formação ou iniciação
Fase em que se inicia a formação da equipe, em que seus membros pesquisam as fronteiras do comportamento adequado ao grupo. Estágio da transição da condição de indivíduo para membro.
Estágio 2 - Turbulência ou diferenciação
Fase em que os membros da equipe começam a perceber a quantidade de trabalho que têm à frente e é comum entrarem em estado de pânico. É o estágio mais difícil para a equipe.
Estágio 3 - Normas ou integração
Fase do restabelecimento do propósito central da equipe. À medida que os membros da equipe se acostumam a trabalhar em conjunto, sua resistência inicial vai desaparecendo.
Estágio 4 - Atuação ou maturidade
Neste estágio, a equipe já definiu seu relacionamento e suas expectativas.Entretanto, Albuquerque e Puente-Palacios (2004) se referem aos estágios de desenvolvimento do grupo como sendo: formação, conflito, normatização, desempenho e desintegração. Esta última fase de desenvolvimento dos grupos (desintegração) ocorre quando objetivos que levaram á criação da equipe são atingidos e não há mais motivo para ela continuar a existir. Também é possível que o grupo nunca atinja o estágio final ou faça o possível para não atingi-lo.
E neste momento você deve estar se perguntando: por que é importante identificar tais fases para a psicologia? A importância em identificar tais estágios do desenvolvimento do grupo consiste em reconhecer que certos períodos de turbulência fazem parte do processo grupal, sendo necessário identificar em qual momento será interessante e prudente uma intervenção externa. Os autores ressaltam a importância de reconhecer estas fases consiste justamente em saber quando intervir externamente com prudência, visto que certa turbulência também faz parte do grupo. 
Além de analisarem os estágios de um grupo, alguns autores buscam entender em que sentido as formas de comunicação podem influenciar a relação grupal.
Wagner e Hollenbeck (1999) citam a estrutura de comunicação de um grupo como fator crucial para a eficácia de um grupo, pois se os membros não conseguem trocar informações entre si, o grupo não consegue funcionar eficazmente. Segundo eles, para uma boa gestão de um grupo é importante conhecer os diferentes tipos de estrutura de comunicação grupal e ser capaz de implementar aqueles que estimulem a maior produtividade do grupo.
Em pesquisas realizadas sobre comunicação e produtividade do grupo, cinco estruturas têm recebido especial atenção: redes de comunicação radiais, em Y, encadeadas, circulares e de conexão total. As três primeiras são mais centralizadas (um membro pode controlar os fluxos de informação no grupo) e nas redes descentralizadas circulares e de conexão total, todos os membros são igualmente capazes de enviar e receber mensagens. A rede de conexão total, por exemplo, coloca cada pessoa do grupo em contato com todas as outras.
 A composição do grupo também pode exercer a influência sobre o mesmo, tanto como grupo homogêneo quanto heterogêneo. Um grupo homogêneo é considerado mais útil para tarefas simples e sequenciais, que exijam cooperação e requeiram rapidez. Um grupo heterogêneo é mais útil para tarefas complexas, coletivas, que exijam criatividade e que não dependam de rapidez (GRIFFIN; MOORHEAD, 2006).
Além da influência da disposição e comunicação do grupo, também existe a influência do tamanho do grupo sobre seu desempenho.
Sobre isto, Griffin e Moorhead (2006) apontam que uma equipe com muitos membros tem mais recursos disponíveis e completa um grande número de tarefas relativamente independentes, com interações e comunicações provavelmente mais formais e, consequentemente, uma grande parcela do tempo é utilizada para questões administrativas. Os autores sugerem que o tamanho mais adequado a um grupo é determinado pela capacidade de seus membros interagirem uns aos outros de modo eficaz.
Entretanto, Robbins (2004) sugere que as equipes mais eficazes são justamente nem muito pequenas e nem muito grandes, com cerca de 4 a 12 pessoas:
 
“As muito pequenas costumam apresentar diversidade de pontos de vista. No entanto, quando possuem mais de 10 ou 12 membros, torna-se difícil realizar alguma coisa. Os membros sentem dificuldade de interagir construtivamente enquanto para chegar a um consenso, e muitas pessoas não conseguem desenvolver a coesão, o comprometimento e a responsabilidade mútua, necessários para um bom desempenho.” (ROBBINS, 2004, p.112).
           
Considerando os aspectos que influenciam a estrutura de um grupo, também precisamos ressaltar a importância das normas, as quais consistem em padrões de comportamentos e desempenhos tolerados, aceitos e esperados, sustentados pelos membros do grupo. As normas regulamentam e estabelecem o que se pode e o que não se pode fazer, as quais são informalmente estabelecidas pelos membros do grupo. Elas se apresentam mais explícitas do que implícitas, pois é comum que os membros do grupo entendam o que se espera deles, como por exemplo, o tipo de vestimenta ou conduta social de cooperação. Cada grupo desenvolve as normas através da comunicação com os outros e podem evoluir através de um processo interpessoal de negociação, construindo historicamente o que é um comportamento aceitável. (ZANELLI, BORGES-ANDRADE E BASTOS, 2004; GRIFFIN; MOORHEAD, 2006; ROTHMANN e COOPER, 2009).
Diante da diversidade de aspectos pesquisados sobre o processo grupal, consideramos que apesar da Psicologia Social ter surgido com a pesquisa das massas, podemos observar como as pesquisas de grupos menores é que se constitui então seu objeto, particularmente por terem objetivos claramente definidos.  Historicamente, foi com as pesquisas de Kurt Lewin (professor alemão refugiado do nazismo) em Massachusetts Institute of Technology – MIT, que se desenvolveu a primeira teoria consistente sobre grupos, principalmente contribuindo para aplicação e estudo das relações humanas no trabalho. (BOCK,1999). 
Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
Para Wagner III e Hollenbeck apud Fiorelli (2000, p.41) “grupo é um conjunto de duas ou mais pessoas que interagem entre si de tal forma que cada uma influencia e é influenciada pela outra”. Nesta relação social ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS (2004) apresentam a existência de fases no caminho de um grupo. Indique a alternativa incorreta quanto as etapas de desenvolvimento de grupos:
a) Iniciação ou Formação
b) Diferenciação ou Conflito
c) Integração ou Normatização
d) Incorporação ou anexação
e) Maturidade ou desempenho.
Se você compreendeu adequadamente a proposta relativa a etapas de desenvolvimento de um grupo, assinalou a alternativa d. As demais alternativas correspondem as etapas descritas por ZANELLI et al (2204): formação, conflito, normatização, desempenho e desintegração. A alternativa (d) não corresponde a uma das fases apontadas pelos autores pois não se percebe uma fase específica em que exista a incorporação ou anexação do grupo a outro grupo ou de um indivíduo ao grupo.
Fundamentos teóricos em Dinâmica de Grupo: Kurt Lewin.
Kurt Lewin tem como uma das principais contribuições de sua Psicologia Social as investigações sobre a solução de conflitos nos pequenos grupos, por elaborar conceitos e uma metodologia que pudesse ampliar o entendimento dos pequenos grupos para também intervir nos grupos sociais.
Os estudos sobre a dinâmica dos pequenos grupos realizados por Lewin buscariam responder a duas perguntas relativas ao funcionamento dos grupos sociais nesse contexto tão decisivo da nossa história: como se pode produzir o nazismo como fenômeno psicológico? Qual a prevenção psicológica contra ele? Temas de seu grande interesse – ele próprio judeu e egresso da Europa durante a guerra.
De acordo com BOCK (1999) a teoria dos grupos desenvolvida por Lewin abordou temas como coesão do grupo (condições necessárias para a sua manutenção); pressões e padrão do grupo (argumentos reais ou imaginários, manifestos ou velados utilizados para garantia de fidelidade); motivos individuais e objetivos do grupo; liderança e realização do grupo e, por fim, as propriedades estruturais dos grupos (forma de comunicação, papéis, dentre outros).
Kurt Lewin (apud BERGAMINI, 2006) considera que a dinâmica do grupo é determinada pelo conjunto de interações existentes no interior de um espaço psicossocial. O comportamento dos indivíduos ocorre em função dessa dinâmica grupal, independente das vontades individuais. Portanto, foram por ele elaborados quatro pressupostos:
• A interação do indivíduo no grupo depende de uma clara definição de sua participação no seu espaço vital;
• O indivíduo utiliza-se do grupo para satisfazer às suas necessidades próprias;
• Nenhum membro de um grupo deixa de sofrer o impacto do grupo e não escapa à sua totalidade;
• O grupo é consideradocomo um dos elementos do espaço vital do indivíduo.
O espeço vital psicológico ou espaço de vida corresponde a um conceito desenvolvido por Kurt Lewin que designa “a totalidade de fatos que determinam o comportamento de um indivíduo em um certo momento” (Lewin,1973, p.28). O autor se refere a totalidade de fatos como situação e, portanto, o comportamento do indivíduo é determinado em função da situação.
Nas pesquisas com grupos de crianças em que se variava o clima das relações com um monitor (autoritário, democrático, laissez-faire), ele procurou identificar o efeito do ambiente político e de suas mudanças sobre a capacidade dos indivíduos de realizarem tarefas, assim como suas repercussões sobre a satisfação e a agressividade.
Com relação ao desempenho de um grupo, observa-se que apresenta características situacionais, dinâmicas e evolutivas, modificando suas estratégias e comportamentos para ajustá-los às circunstâncias. Por exemplo, uma orquestra sinfônica possui certas características no momento de desempenho perante a plateia e outras bem diferentes durante os ensaios. Mais do que isso, a orquestra muda o comportamento dependendo da plateia.
A importância alcançada por Lewin na Psicologia Social americana pode também ser encontrada no seu linguajar físico, ao tratar do confronto de forças intragrupos e intergrupos, o que conferiria um maior reconhecimento cientifico as suas teorias. Com seu interesse aumentado pelo fascínio que o desenvolvimento de tecnologia, inclusive para a manipulação de seres humanos, produziu a partir das Grandes Guerras, como “arma” contra literalmente quaisquer problemas, inclusive os sociais, as teorias de Lewin viriam a reafirmar as concepções sobre pequenos grupos, que, desenvolvidos em ambiente de guerra, serviriam para a otimização de seus comportamentos. É importante reconhecer que Lewin foi inovador ao abordar aspectos da personalidade como referidos ao contexto cultural e, mais do que isso, político, ao tratar da presença da democracia, dando status cientifico a essas considerações. Também é importante considerar o contexto em que são feitas suas pesquisas: em meio as Grandes Guerras, num ambiente em que parecia ser preciso marcar a diferença entre o “povo alemão” e o “povo americano” – de sua nova pátria. Ainda assim, mesmo reconhecendo os aspectos históricos dos fenômenos grupais, herança notável de sua formação cientifica europeia, Lewin elabora nessa mesma tradição um entendimento sobre grupos tratando daquilo que e “visível”, ainda que seja seu efeito, como as forças de atração e de repulsão interindividuais. Nas suas considerações, em que pese a importância da valoração dos grupos e de suas diferenças, elementos essencialmente simbólicos, o grupo continua mantendo uma existência natural. Portanto, não são consideradas as dimensões imaginarias (isto é, afetivas, sócio históricas) nos fenômenos grupais, as quais poderiam auxiliar na explicação do que produz e sustenta essas valorações e diferenças.
Como você pode perceber, o ideário de Kurt Lewin torna-se referência indispensável nos estudos relacionados a dinâmica de grupo, pois suas pesquisas praticamente marcaram o aparecimento desse campo. Foi a partir desta referência que vários pesquisadores puderam contribuir para a construção desse saber, tais como Moreno, Piaget, Bales, Mucchielli, entre outros. Moreno trouxe uma abordagem baseada em  uma conotação psicanalítica, criando os grupos de psicodrama, sociograma, role-playing e outras técnicas. Piaget criou a corrente da epistemologia genética, na psicologia do desenvolvimento, enfatizando o grupo como elemento fundamental na educação do pensamento lógico. Bales, na comunicação no grupo, desenvolveu um referencial acerca do chamado grupo de trabalho.  Nestes referenciais, as definições de relações humanas estão ligadas à experiência vivencial dos indivíduos, que se desempenham dentro dos roles correspondentes a seus agrupamentos biológicos (sexo, idade), e a sua adaptação social, adquirida através de seu crescimento e capacitação. (MINICUCCI, 2001).
 
“Os acontecimentos mais significativos para a vida dos indivíduos e dos grupos estão vinculados ao esclarecimento dessas diferenças funcionais e biológicas, referentes a cada ser humano. As comparações, imitações, rivalidades, satisfações e desilusões de cada um constituem o drama dos seres humanos, que convivem e que se empenham em encontrar a maneira de manter sua posição individual num mundo que pertence aos demais. As inter-relações existentes dos grandes e dos pequenos, dos jovens e dos velhos, dos homens e das mulheres satisfazem a esta descrição universal das diferenças possíveis com uma significação dinâmica para cada ser humano.”  
 
É importante reconhecer que Lewin foi inovador ao abordar aspectos da personalidade como referidos ao contexto cultural e, mais do que isso, político, ao tratar da presença da democracia, dando status científico a essas considerações. Mesmo reconhecendo os aspectos históricos dos fenômenos grupais, herança de sua formação científica europeia, Lewin elabora dentro dessa mesma tradição um entendimento sobre grupos tratando daquilo que é “visível”, ainda que seja seu efeito, como as forças de atração e de repulsão interindividuais.
Assim, na perspectiva sócio histórica, a teoria de Lewin não considera as dimensões afetivas e sócio históricas nos fenômenos grupais, as quais poderiam auxiliar na explicação do que produz e sustenta essas valorações e diferenças.
Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
A proposta de trabalho com grupos de Kurt Lewin, a partir da compreensão e intervenção sobre sua dinâmica, abre uma nova frente de atuação para a psicologia. A novidade desta proposta pode ser reconhecida:
(a)  na compreensão do grupo como lugar de forças e interações;
(b)  na concepção de grupos numa perspectiva positivista;
(c)  na tentativa de construir um teoria psicológica de forte concepção matemática e física;
(d)  no desafio às concepções humanistas em psicologia;
(e)  na submissão de Lewin aos fundamentos da psicologia social americana.
Se você compreendeu adequadamente a proposta teórica apresentada por Kurt Lewin, assinalou a alternativa a. As demais alternativas não correspondem ao arcabouço teórico proposto por Lewin pois o autor não corresponde a uma corrente positivista e, apesar de ter se utilizado de conceitos da matemática e física, não se constituiu o foco da construção de sua teoria. Apesar de Lewin dar um status científico a essas considerações, tão pouco elaborou uma teoria especificamente para contrapor as concepções humanistas ou foi submisso a psicologia social americana, visto seu caráter inovador, ao abordar aspectos da personalidade como referidos ao contexto cultural e, mais do que isso, político, ao tratar da presença da democracia.
Exercício 1:
Considere as afirmações abaixo relativas a grupos e instituições.
I.  O trabalho em grupo no qual os indivíduos têm autonomia e controle sobre as tarefas facilita a atividade criativa e os habilita a resolver imprevistos.
II. Os problemas de comunicação em grupos ou instituições nas quais a estrutura é predominantemente autocrática podem ter relação com a centralização da informação.
III. Conflito interpessoal e competição são fenômenos observados em grupos ou instituições hierarquizadas, mas não nos que possuem uma gestão democrática.
SOMENTE está correto o que se afirma em:
A) I
B) II
C) III
D) I e II
E) II e III
R: D
Exercício 2:
Segundo Scholtes (1992) um grupo passa por estágios razoavelmente previsíveis. Assinale a resposta que corresponde aos quatro estágios apresentados pelo autor.
A) modelação, racionalização, derivativo, negação
B) preservação, útero protetor, espaço para catarse, negação
C) formação ou iniciação, turbulência, normas ou interação, atuação ou maturidade
D) redução da ousadia, sentimento de identidade excessivo, consenso obrigatório, radicalização
E) radicalização, racionalização, preservação, maturidade
R: C
Exercício 3:
(Adaptadodo ENADE 2015-Psicologia) Considerando as características das etapas de desenvolvimento dos grupos ilustrado na figura de ZANELLI et al (2004), assinale a alternativa correta:
A) Denomina-se etapa de formação a fase de ajuste e negociação em que se pode instalar a disputa pelo poder no interior do grupo.
B) A etapa de desintegração decorre do atingimento de objetivos pelos grupos, sobretudo naqueles constituídos para realizar tarefas com prazos definidos
C) A etapa do conflito é caracterizada pela incerteza, momento em que o próprio objetivo do grupo é melhor definido, assim como as regras do jogo
D) Na etapa da normatização, o grupo está focado no atingimento de metas e objetivos e sua energia está voltada para a realização de tarefas.
E) A etapa de desempenho caracteriza-se pela coesão e identificação dos membros do grupos, que resulta de relações mais próximas e maior compartilhamento de percepções e sentimentos
R: B
Exercício 4:
Belkiss Romano (USP/INCOR), uma da pioneiras da psicologia da saúde no Brasil, afirma, em relação à equipe multiprofissional: “A equipe se dá por integração de métodos. O que nos une não são as tarefas específicas, mas o método de investigação comum”. A respeito do trabalho em equipe multiprofissional, considere as seguintes afirmativas:
I.          A presença constante não é necessária e significa para uma equipe receptiva muito tempo gasto discutindo casos presentes e passados. Não é um investimento necessário e insubstituível e a demonstração em manejar casos difíceis não é importante.
II.         Desde o momento de sua constituição, um grupo pode receber a influência de três tipos de fatores: o ambiente, o próprio grupo e o indivíduo. Cada um desses fatores gera consequências que explicam porque alguns conseguem desenvolver a capacidade de trabalhar em equipe e outros não.
III.        Segundo Will Schutz, no desenvolvimento grupal existem três fases de necessidades interpessoais: inclusão, controle e afeto. Para ele todos os grupos passam por essas três fases, em que há oportunidades para os membros satisfazerem suas necessidades interpessoais.
SOMENTE está incorreto o que se afirma em:
A) I
B) II
C) III
D) I e II
E) II e III
R: A
Exercício 5:
Considere as seguintes afirmações com relação ao referencial de grupos apresentado por Kurt Lewin:
I.          Existem condições que podem criar um clima favorável para a participação e o trabalho em equipe: as pessoas conhecerem, compartilharem e concordarem com os objetivos do grupo; os chefes, com estilo participativo, ouvirem e acatarem sugestões; e é fator positivo, também, a organização da equipe ser bem vista no meio externo.
II. Lewin foi inovador ao abordar aspectos da personalidade como referidos ao contexto cultural e, mais do que isso, político, ao tratar da presença da democracia, dando status científico a essas considerações.
III.        Coesão pode ser fator ambíguo: de um lado, contribui para a eficácia e o bem-estar de cada um e, do outro, impede a entrada de novos membros, terminando por provocar a obsolescência. Pode gerar a ideia de que o que vem de fora não é bom e o conflito, assim, pode ser reprimido.
SOMENTE está correto o que se afirma em:
A) I
B) II
C) III
D) I e II
E) I, II e III
R: E
Exercício 6:
A proposta de trabalho com grupos de Kurt Lewin, a partir da compreensão e intervenção sobre sua dinâmica, abre uma nova frente de atuação para a psicologia. A novidade desta proposta pode ser reconhecida na compreensão do grupo como lugar de forças e interações
PORQUE
Lewin elaborou uma teoria psicológica de forte concepção matemática especificamente para contrapor as concepções humanistas, numa perspectiva positivista.
 
A respeito dessas duas afirmações, é correto afirmar que
A) As duas afirmações são falsas
B) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira
C) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira
D) A primeira afirmação é verdadeira, e a segunda é falsa
E) A primeira afirmação é falsa, e a segunda é verdadeira
R: D
Exercício 7:
A construção fundamental de Lewin, para compreendermos suas proposições sobre os processos grupais (ou as dinâmicas de grupo), é a chamada “Teoria de Campo”, que envolve os conceitos de campo psicológico e campo social.  Segundo o autor, o que é o “CAMPO SOCIAL”? Assinale a alternativa correta.
A) O campo social é uma totalidade dinâmica constituída de entidades sociais coexistentes, não necessariamente integradas entre si.
B) O campo social é definido pelas posições absolutas que nele ocupam os diferentes elementos que o constituem.
C) O campo social é a soma dos grupos, subgrupos e indivíduos que nele coexistem e que ele engloba.
D) O campo social é uma totalidade dinâmica constituída de entidades sociais coexistentes, necessariamente integradas entre si.
E) Assim como o indivíduo em seu ambiente formam o campo social, o grupo e seu ambiente formam o campo psicológico.
R: A
Exercício 8:
Um dos principais temas estudados pela Dinâmica de Grupo é o da “Liderança”. Foram identificados três tipos de liderança: autocrática, democrática e permissiva (“laissez-faire”). Em relação às características dessas lideranças, assinale a alternativa INCORRETA.
A) Liderança autocrática: há a total centralização do poder nas mãos do líder.
B) Liderança democrática: as decisões são tomadas por maioria, o líder é apenas um representante da vontade de seus liderados.
C) Liderança permissiva: cada integrante do grupo age como deseja
D) Liderança democrática: não há, efetivamente, qualquer ação de liderança.
E) Liderança autocrática: a liderança é exercida por meio da coerção.
R: D
Módulo 3: ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE GRUPOS-1 
Contribuições teóricas: Moreno
Jacob Levy Moreno, o criador do Psicodrama, nasceu em 6 de maio de 1889, na cidade de Bucareste, na Romênia e morreu em Beacon, em 14 de maio de 1974, aos 85 anos de idade. Era de origem judaica (sefardim) e sua família veio da península ibérica e radicou-se na Romênia na época da Inquisição. Aos cinco anos de idade mudou-se com a família para Viena e foi neste local que vivenciou a brincadeira de ser deus, que ele, com humor, relaciona a sua ideia de espontaneidade como centelha divina que existe em cada um de nós.
Até 1920, Moreno teve uma intensa vida religiosa, fazendo parte de um grupo que fundou a "Religião do Encontro". Eles expressavam sua rebeldia diante dos costumes estabelecidos usando barbas, vivendo pelas ruas à maneira dos mais pobres e procurando novas formas de interação com o povo. Neste período, ele ia aos jardins de Viena e criava jogos de improviso com as crianças, favorecendo-lhes a espontaneidade, e participou, no ano de 1914, em Amspittelberg, juntamente com um médico venereologista e um jornalista, de um trabalho com prostitutas vienenses através do qual, utilizando técnicas grupais, conscientizou-as de sua condição, o que proporcionou que organizassem uma espécie de sindicato.  Formou-se em medicina em 1917. Interessou-se pelo Teatro, fundando, em 1921, o Teatro Vienense da Espontaneidade, experiência que constituiu a base de suas ideias da Psicoterapia de Grupo e do Psicodrama. A proposta do Teatro da Espontaneidade consistia na criação de uma representação espontânea, sem texto pronto e decorado, com os atores criando no momento e assim relacionando-se com a plateia. A partir daí ele criou o "jornal vivo", em que dramatizava as notícias do jornal diário junto com o grupo participante, lançando naquele momento as raízes do Sociodrama. Ao trabalhar com os pacientes do hospital psiquiátrico usando o "Teatro da Espontaneidade", criou o Teatro Terapêutico, que depois foi chamado "Psicodrama Terapêutico".  Em 1925 emigrou para os EUA, onde, dois anos depois, fez a primeira apresentação do Psicodrama fora da Europa. Em 1931 introduziu o termo Psicoterapia de Grupo e este ficou sendo considerado o ano verdadeiro do início da Psicoterapia de Grupo científica, embora as fundamentações e experiências tenham iniciadoem Viena. (ALMEIDA, GONÇALVES e WOLFF, 1988)
A palavra "Drama" significa "ação" em grego e, neste sentido, o. Psicodrama pode ser definido como uma via de investigação da alma humana mediante a ação. O Psicodrama consiste em um método de pesquisa e intervenção nas relações interpessoais, nos grupos, entre grupos ou de uma pessoa consigo mesma. O objetivo se relaciona a mobilizar para vivenciar a realidade a partir do reconhecimento das diferenças e dos conflitos e facilita a busca de alternativas para a resolução do que é revelado, expandindo os recursos disponíveis. Tem sido amplamente utilizado na educação, nas empresas, nos hospitais, na clínica, nas comunidades.
O Psicodrama é uma parte de uma construção muito mais ampla, criada por Jacob Levy Moreno, a Socionomia. Na verdade, a denominação da parte foi estendida para o todo e, quando as pessoas usam o termo Psicodrama, estão, geralmente, se referindo à Socionomia - ciência das leis sociais e das relações, que se caracteriza fundamentalmente por seu foco na intersecção do mundo subjetivo, psicológico e do mundo objetivo, social, contextualizando o indivíduo em relação às suas circunstâncias. Divide-se em três ramos: a Sociometria, a Sociodinâmica e a Sociatria, que guardam em comum a ação dramática como recurso para facilitar a expressão da realidade implícita nas relações interpessoais ou para a investigação e reflexão sobre determinado tema.
            A Sociometria, através do teste sociométrico, mensura as escolhas dos indivíduos e expressa-as através de gráficos representativos das relações interpessoais, possibilitando a compreensão da estrutura grupal.
            A Sociodinâmica investiga a dinâmica do grupo, as redes de vínculos entre os componentes dos grupos.
            A Sociatria propõe-se à transformação social, à terapia da sociedade.
A Sociodinâmica e a Sociatria têm objetivos complementares e utilizam-se das mesmas técnicas: o Psicodrama, o Sociodrama, o Role Playing, o Teatro Espontâneo, a Psicoterapia de Grupo. Enquanto técnicas, a diferença entre o Psicodrama e o Sociodrama consiste em que no primeiro o trabalho dramático focaliza o indivíduo - embora sempre visto como um ser em relação - e no segundo focaliza o próprio grupo.
De acordo com a FEBRAP – Federação Brasileira de Psicodrama (http://www.febrap.org.br, 2016), a transformação social e o trabalho com a comunidade era o grande sonho de Moreno. No começo do século XX, ele buscava relacionar-se com crianças e adultos nas praças e ruas de Viena, estimulando-os a descobrirem novas formas de estar no mundo. A filosofia do momento, que embasa a teoria e a prática psicodramática, foi sendo configurada através de sua observação do potencial criativo do ser humano. Desde então, o Psicodrama vem se transformando, desenvolvendo-se como teoria e como prática. Profissionais da área clínica adaptaram-no para o atendimento processual em consultório, muitas vezes num enquadre de psicoterapia individual, trazendo novas contribuições para a teoria psicodramática do desenvolvimento emocional e para a compreensão da psicopatologia, assim como para a configuração de modelos referenciais na compreensão da experiência emocional humana e dos grupos. Neste contexto, mais comumente, a expressão dos impedimentos e conflitos envolve tensão, agressividade e, principalmente, o reconhecimento e acolhimento da dor psíquica.
 A prática psicodramática, em suas inúmeras modalidades, começa pelo envolvimento das pessoas com o tema ou com a experiência a ser vivenciada, através de lembranças ou histórias do cotidiano dos indivíduos e/ou das organizações. Cabe ao diretor manejar as técnicas psicodramáticas, como recursos de ação, para garantir o envolvimento do grupo e a escolha da cena protagônica, que refletirá a experiência dos presentes. Ele vai convidando todos para participarem na criação conjunta do enredo, favorecendo a emergência da realidade grupal.
Neste sentido, o Psicodrama é facilitador da manifestação das ideias, dos conflitos sobre um tema, dos dilemas morais, impedimentos e possibilidades de expressão em determinada situação. Fundamentado na teoria do momento e no princípio da espontaneidade, promove a participação livre de todos e estimula a criatividade na produção dramática e na catarse ativa. Finaliza-se com os comentários, inicialmente dos participantes da cena e depois do grande grupo, com a identificação da realidade que acaba de ser vivenciada e com o levantamento de soluções possíveis para as questões abordadas.
Nas atividades desenvolvidas no âmbito social, buscam-se soluções práticas e reais para os problemas, contribuindo para a descoberta de alternativas que promovam o desenvolvimento sustentável nas comunidades.
O principal objetivo da ação dramática é favorecer aos membros do grupo a descoberta da riqueza inerente em vivenciar plenamente o status nascendi da experiência grupal, participando com a maior honestidade possível no momento. Desta maneira, os participantes recriarão no grupo seus modelos de relacionamento, confrontando e sendo confrontados com as diferenças individuais, condição necessária para apreenderem a distinção entre sua experiência emocional e a dos outros, sendo cada um deles agente transformador dos demais. O Psicodrama vem expandindo suas fronteiras, ampliando a diversidade de experiências de intervenção psicossocial. Acompanhando esta expansão, a produção científica tem procurado aprofundar as questões provocadas por esta prática renovada. 
Contribuições teóricas: Piaget
Jean Piaget nasceu em 1896 e faleceu em 1980, renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu processo de raciocínio, obtendo com isso um significativo impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia.  Piaget aos 11 anos de idade publicou seu primeiro trabalho sobre sua observação de um pardal albino, estudo que é considerado o início de sua brilhante carreira científica. Ele frequentou a Universidade de Neuchâtel, onde estudou Biologia e Filosofia, recebendo seu doutorado em Biologia em 1918, aos 22 anos de idade.
Após formar-se, Piaget foi para Zurich, onde trabalhou como psicólogo experimental. Lá ele frequentou aulas lecionadas por Jung e trabalhou como psiquiatra em uma clínica, experiências que muito o influenciaram em seu trabalho. Ele passou a combinar a psicologia experimental, que é um estudo formal e sistemático, com métodos informais de psicologia: entrevistas, conversas e análises de pacientes. Em 1919, Piaget mudou-se para a França, onde foi convidado a trabalhar no laboratório de Alfred Binet, um famoso psicólogo infantil que desenvolveu testes de inteligência, padronizados para crianças. Piaget notou que crianças francesas da mesma faixa etária cometiam erros semelhantes nesses testes e concluiu que o pensamento lógico se desenvolve gradualmente. Foi então em 1919 que Piaget iniciou seus estudos experimentais sobre a mente humana e começou a pesquisar também sobre o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de Biologia levou-o a enxergar o desenvolvimento cognitivo de uma criança como sendo uma evolução gradativa. Jean Piaget revolucionou as concepções de inteligência e de desenvolvimento cognitivo partindo de pesquisas baseadas na observação e em entrevistas que realizou com crianças. Buscando analisar as relações que se estabelecem entre o sujeito que conhece e o mundo que tenta conhecer, considerou-se um epistemólogo genético porque investigou a natureza e a gênese do conhecimento nos seus processos e estágios de desenvolvimento. Em 1921, Piaget voltou à Suíça e tornou-se diretor de estudos no Instituto J. J. Rousseau da Universidade de Genebra, buscando observar crianças brincando e registrando meticulosamente as palavras, ações e processos de raciocínio delas. As teorias de Piaget foram, em grande parte, baseadas em estudos e observações de seus filhos que ele realizou aolado de sua esposa. Piaget lecionou em diversas universidades europeias, dentre elas a Universidade de Sorbonne (Paris, França), onde permaneceu de 1952 a 1963. Até a data de seu falecimento, Piaget fundou e dirigiu o Centro Internacional para Epistemologia Genética. Ao longo de sua brilhante carreira, Piaget escreveu mais de 75 livros e centenas de trabalhos científicos. Piaget desenvolveu diversos campos de estudos científicos: a psicologia do desenvolvimento, a teoria cognitiva e o que veio a ser chamado de epistemologia genética, as quais tinham o objetivo de entender como o conhecimento evolui. Piaget parte do pressuposto de que o conhecimento evolui progressivamente por meio de estruturas de raciocínio que substituem umas às outras por meio de estágios. Isso significa que a lógica e formas de pensar de uma criança são completamente diferentes da lógica dos adultos.
A essência do trabalho de Piaget ensina que ao observarmos cuidadosamente a maneira com que o conhecimento se desenvolve nas crianças, podemos entender melhor a natureza do conhecimento humano. Em sua teoria identifica os quatro estágios de evolução mental de uma criança, sendo que cada estágio é um período onde o pensamento e comportamento infantil é caracterizado por uma forma específica de conhecimento e raciocínio: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal.
A capacidade de adaptar-se para Piaget é o processo de funcionamento do organismo a uma nova situação, e como tal, implica a construção contínua do modo como as partes ou elementos se relacionam, e que determina as características ou o funcionamento do todo. Essa adaptação refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica. De tal forma, indivíduos progridem intelectualmente a partir do ato de exercitar e estímulos oferecidos pelo meio que os cercam. Ramozzi-Chiarottino citado por Chiabal (1990) diz que o que vale igualmente dizer que a inteligência humana pode ser praticada, buscando um aperfeiçoamento de potencialidades, que passam gradativamente de um estado a outro desde o nível mais primitivo da existência, caracterizado por trocas bioquímicas até o nível das trocas simbólicas.
    Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo, sendo caracterizada como uma teoria interacionista. A inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo com o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente” será o indivíduo. As teorias piagetianas abrem campo de estudo não somente para a psicologia do desenvolvimento, mas também para a sociologia e para a antropologia, além de permitir que os pedagogos tracem uma metodologia baseada em suas descobertas.  A adaptação intelectual constitui-se então em um "equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodação complementar". Piaget situa o problema epistemológico no âmbito de uma interação entre o sujeito e o objeto. E de acordo com Piaget (1982) essa dialética resolve todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas, empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas sem gênese, e permite seguir fases sucessivas da construção progressiva do conhecimento.
O construtivismo piagetiano analisa os processos de desenvolvimento e aprendizagem como resultados da atividade do homem na interação com o ambiente. E para explicar tal interação Piaget citado em Goulart (1983) propõe alguns conceitos centrais como: assimilação, acomodação e adaptação.
A assimilação é considerada como a incorporação dos dados da realidade nos esquemas disponíveis no sujeito, ou seja, o indivíduo assimila tudo o que ouve, transformando isso em conhecimento próprio. “No processo de acomodação o sujeito modifica os esquemas para internalizar os elementos novos. Do equilíbrio desses dois processos ocorre uma adaptação ao mundo cada vez mais adequada e uma consequente organização mental”. (GOULART, 1983).
Piaget (1982) apresenta o pressuposto de que a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais que são, em geral, negligenciadas. Porém, apesar de tal afirmação, Piaget não se deteve sobre essa questão do papel dos fatores sociais no desenvolvimento humano e sim, das influências e determinações dessa mesma interação sobre a inteligência do ser humano.
As observações de Piaget põem em foco as condições intelectuais que tornam a pessoa capaz de cooperar e explicam o efeito da cooperação na formação de sua mente. A estruturação do pensamento em agrupamentos e em grupos móveis permite que cada indivíduo adote múltiplos pontos de vista. Outro tipo de comportamento que a atividade grupal desenvolve, segundo a linha de Piaget, é chamado de reciprocidade. No momento em ocorre contribuições de ajuda mútua, colaboração. O indivíduo raciocina com mais lógica quando discute com os outros, em reciprocidade. (MINICUCCI, 1997). Para o autor o indivíduo raciocina com mais lógica quando discute com outro, pois, frente ao companheiro, a primeira coisa que procura é evitar a contradição. Por outro lado, a objetividade, o desejo de comprovação, a necessidade de dar sentido ás palavras e ás idéias são não só obrigações sociais, como também condições de pensamento operatório. (MINICUCCI, 1997).
Mediante experiências em grupo, o indivíduo aprende que, ante algo objetivo, pode - se adotar diferentes pontos de vista correlatos e que as diversas observações extraídas não são contraditórias, mas complementares. O indivíduo que intercambia em grupo suas idéias, com seus semelhantes, tende a organizar de maneira operatória seu próprio pensamento, portanto, o grupo favorece o desenvolvimento do chamado pensamento operatório. (MINICUCCI, 1997).
Considerando estes conceitos centrais, o educador deve tornar a atividade grupal proporcional ao nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos, não podendo ir além das suas capacidades, nem deixá-los agindo sozinhos, uma vez que, busca-se que o sujeito seja capaz de formar esquemas conceituais de conteúdos com flexibilidade de pensamento, estimulando-se a reflexão e construção de conceitos e princípios ao interagir com o outro.
Exercício 1:
O Psicodrama permite o acesso a uma forma de realidade raramente atingida por outras abordagens terapêuticas, alcançando o território dionisíaco, que é a libertação das convenções corriqueiras, que Moreno chamou de realidade suplementar. Seu conceito é fundamental e foi introduzido para ajudar na apresentação da verdade pessoal do protagonista - “o decidir”. De acordo com os princípios da realidade suplementar, a autora ao escrever o texto pretendia...
A) Livrar-se de um sentimento de perda através da escrita.
B) Demonstrar que temos escolhas diante das circunstâncias vividas.
C) Transparecer que o mais importante é o que parece como verdadeiro e faz parte de uma verdade pessoal.
D) Dizer que a fantasia anda muito distante da realidade.
E) Ela simplesmente se sente dessa forma, livre para decidir.
R: C
Exercício 2:
“O principal objetivo da ação dramática é favorecer aos membros do grupo a descoberta da riqueza inerente em vivenciar plenamente o status nascendi da experiência grupal, participando com a maior honestidade possível no momento”.
Essa síntese constitui um pensamento do autor:
A) Levy Moreno
B) Félix Guattari
C) Pichon-Rivière
D) Jean Piaget
E) Gregorio Baremblit
R: A
Exercício 3:
Piaget trouxe grande contribuição ao estudar o desenvolvimento do pensamento, evidenciando as condições intelectuais que tornam a criança capaz de cooperar, explicando o efeito da cooperação na formação da mente. No entanto, quanto ao entendimento de Piaget em relação ao processo grupal, se pode afirmar que:
A) O conceito de reciprocidade corresponde as “coerções deformantes” provindas do pensamento individualista do grupo.
B) A criança deixa de raciocinar com mais lógicaquando discute com outra em grupo.
C) A criança que intercambia em grupo suas ideias, com seus semelhantes, bem como o adulto, tende a desorganizar operativamente o seu pensamento.
D) As condições intelectuais da cooperação serão cumpridas num grupo quando cada integrante for capaz de compreender os pontos de vista dos demais. 
E) As condições intelectuais da cooperação não serão atingidas no grupo mesmo que cada integrante adaptar sua própria ação ou contribuição verbal à deles.
R: D
Exercício 4:
Com relação ao Psicodrama desenvolvido por Levy Moreno, podemos afirmar que:
A) A viabilização do psicodrama enquanto prática se assenta sobre o tripé: contextos, etapas e instrumentos.
B) O contexto dramático constitui-se pela realidade dramática que atinge um espaço fantasioso.
C) O seu tempo é fenomenológico, subjetivo e virtual, tanto quanto seu espaço ocupado.
D) O lugar do psicodrama é para o imaginário e para a fantasia, sendo que o tempo trabalhado corresponde ao passado.
E) O psicodrama compreende três etapas: Aquecimento, dramatização e compartilhamento. 
R: E
Exercício 5:
Jacob Levy Moreno desenvolveu as técnicas psicodramáticas, oriundas da Teoria Socionômica. Sua preocupação básica consistia em fazer teatro e foi a descoberta de seu valor terapêutico que deu origem ao Psicodrama. Neste sentido, a respeito do Psicodrama é correto afirmar que: 
A) Os sujeitos são estimulados a continuar e completar suas ações através da técnica de vínculo para o cumprimento de tarefas
B) Quando necessário os outros papéis podem ser desempenhados pelos demais membros do grupo.
C) As técnicas utilizam-se exclusivamente da comunicação verbal.
D) Utiliza-se da técnica de role playing, mas sem realizar a inversão de papéis.
E) As cenas que são apresentadas não comportam retratar lembranças de situações vividas pelo sujeito. 
R: B

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