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MEMORIAIS LUIZ

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Núcleo Jurídico-UNIVAG
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EXCELENTISSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA 11ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE MACEIÓ – ALAGOAS.
LUIZ, já devidamente qualificado no auto, por seu procurador, com endereço profissional constante no rodapé desta, onde recebe as intimações de estilo, vem diante da honrosa presença de Vossa Excelência, apresentar:
ALEGAÇÕES FINAIS, EM FORMA DE MEMÓRIAIS, ART.403, §3º CPP.
Na forma que passa expor, ao final pedir: 
1-DOS FATOS
Luiz foi denunciado pela prática do crime de estelionato, previsto no artigo 171, §2º, VI do Código Penal, tendo em vista que teria feito compras em uma grande loja de departamentos no valor de R$ 36,00(trinta e seis reais). 
A referida compra foi efetuada através de um cheque e este teria retornado sem provisão de fundos. Entretanto há de se destacar que antes mesmo de ser oferecida a denúncia contra o acusado, este realizou o pagamento durante a fase de inquérito policial.
Diante dos fatos foi ofertada a suspensão condicional do processo, mas não foi aceita pelo acusado, finda instrução, foi requerida pela defesa a presente alegações finais sob a forma de memoriais.
2 - DO DIREITO
2.1 DA ATICIPIDADE FORMAL
Conforme já relatado nos autos o acusado já tinha efetuado o pagamento durante a fase das investigações, não sendo apreciado pelo Juízo pela absolvição sumária.
Ainda, com base na súmula 554 do STF, o pagamento de cheque sem fundos, antes do recebimento da denúncia não caracteriza o delito pelo qual o acusado foi denunciado: 
“Súmula 554
“O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal”.
Destarte, o pagamento realizado antes do recebimento da denúncia, obsta o prosseguimento da ação penal, assim, não há crime, uma vez sendo atípica a conduta do acusado, tendo em vista que foi juntado provas nos autos que o mesmo teria realizado o pagamento durante a fase de inquérito policial.
Portanto, pode-se facilmente perceber que, quando o pagamento efetuar-se antes do recebimento da denúncia, fica impedida a instauração da ação penal. No caso em apreço, foi justamente o que aconteceu. O Acusado saldou a dívida ainda durante a investigação criminal, razão pela qual sequer deveria ter sido proposta a presente ação e, tendo-a sido, indevidamente, certamente não pode resultar na condenação do Acusado. 
Conforme julgados do STJ, cuja ementa transcreve: 
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. 1. CRIME DE ESTELIONATO. INADIMPLEMENTO DE DÍVIDA. CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE BEM IMÓVEL. PAGAMENTO POR MEIO DE CHEQUES PÓS-DATADOS. EMISSÃO DE CONTRAORDEM. AUSÊNCIA DE ORDEM DE PAGAMENTO À VISTA. GARANTIA DE DÍVIDA. DESCARACTERIZAÇÃO DO ESTELIONATO. JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. ENTENDIMENTO QUE PODE SER AFASTADO. PARTICULARIDADES DO CASO CONCRETO. NECESSIDADE DE ANÁLISE INDIVIDUALIZADA. 2. FATO NARRADO NA DENÚNCIA. TRANSFERÊNCIA DO IMÓVEL. INEXISTÊNCIA DE ERRO. EMISSÃO DE CONTRAORDEM. PREVISÃO NA LEI DO CHEQUE. ART. 35 DA LEI Nº 7.357/1985. AUSÊNCIA DE MEIO FRAUDULENTO. ELEMENTOS TÍPICOS NÃO DESCRITOS. ATIPICIDADE DA CONDUTA. 3. ART. 171, § 2º, VI, DO CP. AUSÊNCIA DE FRAUDE. SÚMULA 246/STF. PAGAMENTO DOS CHEQUES ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. ÓBICE AO PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL. SÚMULA 554/STF. 4. NECESSIDADE DO DIREITO PENAL QUE DEVE SER AVALIADA. RESTRIÇÃO DA LIBERDADE. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA. POSSIBILIDADE DE SOLUÇÃO POR MEIO DE OUTRAS INSTÂNCIAS DE CONTROLE. PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE. BENS DE MAIOR IMPORTÂNCIA. AGRESSÕES INTOLERÁVEIS. NÃO VERIFICAÇÃO. 5. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS PROVIDO. Outrossim, a reparação integral do dano, antes do recebimento da denúncia, nos termos do que retratado nos autos, impede o prosseguimento da ação penal. Inteligência do enunciado nº 554 da Corte Suprema.Recurso ordinário em habeas corpus a que se dá provimento para trancar a ação penal nº 301.01.
(STJ - RHC: 37029 SP 2013/0111056-0, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Data de Julgamento: 13/08/2013, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 20/08/2013).Grifo nosso.
Resta claro não há dolo do acusado em lesar o patrimônio do acusado, vez que o pagamento foi devidamente realizado, não podendo ser caracterizado o crime, por atipicidade de conduta.
Portanto, o acusado deve ser absolvido, considerando o pagamento anterior ao recebimento da denúncia, causa que não constitui infração penal, conforme artigo. 386, inciso III do CPP.
2.2 ATIPICIDADE MATERIAL
O princípio da insignificância, princípio implícito fundamentado nos preceitos constitucionais de igualdade, liberdade, razoabilidade, fragmentariedade, subsidiariedade e proporcionalidade, age como limite tático da norma penal, excluindo a tipicidade material nas infrações que afetem insignificantemente o bem jurídico tutelado pela norma. Princípio este que consiste em afastar a própria tipicidade penal da conduta, ou seja, o ato praticado não é considerado crime, o que resulta na absolvição do acusado.
Segundo a jurisprudência do STF, para sua aplicação devem estar presentes os requisitos abaixo expostos:
I. a mínima ofensividade da conduta do agente;
II. a nenhuma periculosidade social da ação;
III. o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e
IV. a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Isso significa que o Direito não deve preocupar-se com condutas incapazes de lesar o bem jurídico. No sistema penal, os tipos incriminadores exigem um mínimo de lesividade, ou seja, condutas totalmente inofensivas ou incapazes de lesar o interesse protegido não são de grande relevância. Sempre que a lesão for insignificante, incapaz de ofender o bem tutelado, não haverá adequação típica. O Superior Tribunal de Justiça tem reconhecido a tese da exclusão da tipicidade nos chamados delitos de bagatela, aos quais se aplica o princípio da insignificância. 
Neste caso, o acusado não agiu com grave ameaça, nem violência física, não estando presente nenhuma ofensividade da conduta, nem periculosidade social da ação. Por conseguinte, o acusado é primário e, além de ser ínfimo o valor do bem, não houve prejuízo algum a vítima, tendo em vista que se trata de uma grande loja de departamento.
Do exposto, resta claro expressamente o princípio da insignificância, razão pela qual a absolvição do acusado se impõe, nos moldes do já aludido artigo 386, inciso III do Código de Processo Penal, sob pena de torna-se um contra-senso jurídico.
2.3 DA APLICAÇÃO DA PENA MÍNIMA, ART.59 CP
Subsidiariamente, em caso de condenação, requer-se a desclassificação do crime de estelionato imputado ao réu para a figura privilegiada, prevista no §1º do artigo 171 do Código Penal, aplicando o artigo 155, §2º, cuja a pena de reclusão será substituída por detenção, tendo em vista que o réu é primário e o valor do prejuízo é ínfimo, sendo de apenas R$ 36,00 (trinta e seis reais).
Ainda com base na súmula 444 do STJ, sobre os eventuais procedimentos criminais instaurados e não encerrados em definitivo não podem funcionar para a majoração da pena-base, para prejudicar o Réu:
"É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base" 
Na fixação da pena base, aplique-se o mínimo legal, (O acusado não possui maus antecedentes). Não há, no caso em tela, circunstâncias agravantes, majorantes ou quaisquer qualificadoras que elevem a pena além do mínimo legal, observado o artigo 59, do Código Penal.
Conforme o entendimento do TRF da 1ª Região de Brasília:
DIREITO PROCESSUAL PENAL. REVISÃO CRIMINAL. HIPÓTESES DO ART. 621 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. RÉU CONDENADO POR ESTELIONATO QUALIFICADO (ARTIGO 172, PARÁGRAFO 3º, CÓDIGO PENAL). ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBIILIDADE. CONDENAÇÃO BASEADA NA PROVA DOS AUTOS. REVISÃO DA DOSIMETRIA DA PENA EM SEDE DE AÇÃO REVISIONAL. CABIMENTO. ARTIGO 626 DO CPP. PENA - BASE FIXADA MUITO ACIMA DO MÍNIMOLEGAL. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. RÉU PRIMÁRIO, SEM ANTECEDENTES CRIMINAIS, COM OCUPAÇÃO LÍCITA. PROCEDÊNCIA PARCIAL DO PEDIDO. REDUÇÃO DE PENA. 1. O manejo da via excepcional da revisão criminal, que detém caráter desconstitutivo de sentença penal condenatória, condiciona-se à demonstração de existência de alguma das hipóteses previstas no artigo 621 do Código de Processo Penal. 2. A possibilidade de revisão da dosimetria da pena, em sede de ação revisional, está prevista no artigo 626 do CPP e tem sido aceita pela melhor jurisprudência, em reverência ao dogma constitucional da individualização da pena. Precedentes dos egrégios Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça. 3. Embora tenha feito satisfatória apreciação das circunstâncias judiciais (artigo 59 do CP), não agiu o sentenciante com razoabilidade e obediência à lei ao fixar a pena-base em 04 (quatro) anos de reclusão e 120 (cento e vinte) dias-multa. Aproximou-se demasiadamente da pena máxima, no tocante à privativa de liberdade, tendo também se excedido ao estabelecer a pena pecuniária. 4. Evidenciada violação à diretriz estabelecida no artigo 59 do Código Penal, em vista da análise feita pelo próprio juiz que proferiu a sentença condenatória, deve ser revista a dosimetria da pena imposta ao réu/requerente. 5. Pedido julgado parcialmente procedente. Penas reduzidas, nos termos do artigo 626 do CPP.
(TRF-1 - RVCR: 21640 PA 2009.01.00.021640-1, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS OLAVO, Data de Julgamento: 06/10/2010, SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: e-DJF1 p.06 de 25/10/2010)
Do exposto requer-se, a fixação da pena base em seu patamar mínimo, nos moldes do artigo 59 do Código Penal, pois no caso não há circunstancias que venham a desqualificar o réu.
2.4 DA FIXAÇÃO DO REGIME INICIAL
Excelência, acaso a pena aplicada fixe-se no patamar mínimo ou abaixo dos quatro anos, é perfeitamente cabível o regime inicial ABERTO, nos termos do art. 33, § 2º, c, do Código Penal;
Que o Douto julgador reconheça o BENEFÍCIO PENAL da Substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos haja vista o acusado preencher todos os requisitos dos incisos I, II e III, do artigo 44 do Código Penal, caso venha a pena castigo ser aplicada no limite de quatro anos de privação da sua liberdade, observado a súmula nº 493, do STJ.
Conforme julgados dos Tribunais, cuja ementa transcreve: 
APELAÇÃO CRIMINAL. POSSE ILEGAL DE ARMA. PEDIDO DE APLICAÇÃO DA ABOLITIO CRIMINIS. IMPOSSIBILIDADE. CONDUTA NÃO ABRANGIDA PELA ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA DO ART. 30 DA LEI Nº 10.826/2003. ALEGAÇÃO DE ABSOLVIÇÃO POR ERRO DE PROIBIÇÃO INVENCÍVEL. IMPOSSIBILIDADE. PROVAS CONVINCENTES DOS AUTOS. APLICAÇÃO DA PENA-BASE EM SEU MÍNIMO LEGAL. POSSIBILIDADE, NO PRESENTE CASO EM CONCRETO, DE REDIMENSIONAMENTO DA PENA-BASE AO SEU PATAMAR MÍNIMO TENDO EM VISTA A INEXISTÊNCIA DE CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS DO ART. 59 DO CP. ALEGAÇÃO DE APLICAÇÃO DO REGIME ABERTO EM VIRTUDE DO QUANTUM DA PENA. POSSIBILIDADE. PREVISÃO DO ART. 33, § 2º, ALÍNEA C, DO CP. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR DUAS RESTRITIVAS DE DIREITO. POSSIBILIDADE. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS DO ARTIGO 44 DO CÓDIGO REPRESSIVO. SUBSTITUIÇÃO A SER ESPECIFICADA PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO PENAL COM OBSERVÂNCIA À NORMA JURÍDICA ENCARTADA NO ARTIGO 55 DO CÓDIGO PENAL. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO apenas para redimensionar a pena em 01 (um) ano de reclusão e 10 (dez) dias-multa (mínimo legal) em regime aberto, substituindo-se a pena privativa de liberdade por uma restritiva de direito a ser melhor aplicada pelo juízo das execuções penais, nos moldes do art. 44 do CP, mantendo-se a sentença ora guerreada em seus demais termos.
(TJ-PA - APL: 201330196086 PA, Relator: VERA ARAUJO DE SOUZA, Data de Julgamento: 08/10/2013, 1ª CÂMARA CRIMINAL ISOLADA, Data de Publicação: 10/10/2013) “Grifo nosso”
Desde modo requer a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, pelo todo exposto acima citado.
	
3-DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer a:
Absolvição do acusado, pelo pagamento antes do recebimento da denúncia não caracteriza o delito.
Caso não seja absolvido pelo critério acima exposto, seja absolvido pelo princípio da insignificância, nos moldes do artigo 386, inciso III do Código de Processo Penal.
A fixação da pena base em seu patamar mínimo, nos moldes do artigo 59 do Código Penal. 
Em face da pena aplicada como acima requerido é perfeitamente possível e cabível o regime inicial ABERTO, nos termos do art. 33, § 2º, c, do Código Penal;
O BENEFÍCIO PENAL da Substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos haja vista o acusado preencher todos os requisitos dos incisos I, II e III, do artigo 44 do Código Penal, caso venha a pena castigo ser aplicada no limite de quatro anos de privação da sua liberdade, observado a súmula nº 493, do STJ;
Nestes termos 
Pede deferimento.
Várzea Grande, 04 de junho de 2018.
 
	ADVOGADO

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