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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 41ª VARA CRIMINAL DA COMARCA "X " DO ESTADO DE "X". Processo número: “x” RITA, qualificada nos autos do processo em epígrafe, por seu advogado(a) infra-assinado, vem, respeitosamente, com fulcro no artigo 593 inciso I e II do Código Processual Penal, interpor o RECURSO DE APELAÇÃO por entender, data vênia que a sentença de folhas "x" merece ser reformada, visto que não espalha a realidade dos fatos. Desde já requer a remessa dos autos ao EGRÉGIO TRIBUNAL DO ESTADO "X" para o conhecimento e provimento do presente recurso. Nesses termos, pede deferimento. (local, data, ano) (Advogado) (OAB UF) (Assinatura.) EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE "X" COLENDA CÂMARA EXCELENTÍSSIMO SENHORES DESEMBARGADORES Processo número: “x” Apelante: Rita Apelado: Ministério Público Origem: 41ª vara criminal da comarca de “x” RAZÕES RECURSAIS DA APELAÇÃO Trata-se de sentença penal condenatória proferida pelo ilustríssimo juízo da 41ª vara “X”, na qual optou pela condenação da apelante, atribuindo-lhe pena privativa de liberdade de 4 anos de reclusão, em regime inicial semiaberto e 80 (oitenta) dias-multa, nos termos do artigo 155, §4º, inciso I do Código Penal. Todavia, data vênia, verifica-se equívoco na sentença, deve ser reformada pelas razões e fundamentos jurídicos abaixo aduzidos. I – DOS FATOS No dia 10/11/2011 a acusada supostamente furtou cinco tintas de cabelo em uma grande rede de farmácias que totalizaram a quantia de R$ 49,95 (quarenta e nove reais e noventa e cinco centavos). Sob esse argumento, o órgão acusatório denunciou a apelante pela conduta tipificada no artigo 155°, §4º, inciso I do Código Penal. A denúncia foi regularmente recebida e processada pelo juízo da 41º Vara Criminal da Comarca da Capital do Estado ‘X’. Ressalta-se que durante esse período, a apelante se manteve em liberdade. No dia 18/10/2012 o órgão ministerial apresentou certidão cartorária atestando que em 15/05/2012 ocorrera o trânsito em julgado definitivo de sentença que condenava a apelante pela prática de delito de estelionato, portanto, dessa forma, o magistrado entendeu a presença de maus antecedentes. Assim, o magistrado acatou a tese acusatória e determinou em sede de primeira fase dosimetria de pena, a majoração da pena base cominada a autora acima do mínimo. Ademias, na segunda fase do cálculo de pena, o magistrado entendeu o cabimento de agravante por reincidência, em decorrência do trânsito em julgado anteriormente mencionado. Ressalta-se que o magistrado não acolheu a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito. Todavia, inconformada com a decisão, a recorrente passa a aduzir os motivos de fato e de direito, dos quais demonstram que tal sentença deverá ser reformada. II - DO DIREITO A. Da Absolvição – Atipicidade da Conduta – Princípio da insignificância Levando em consideração que o objeto ora subtraído é de pequeno valor, vale mencionar a atipicidade da conduta pelo princípio da insignificância pois não ocorreu ofensa ao patrimônio da vítima, visto que a conduta delituosa em nada afetou. Isso pois, conforme a narração dos fatos, o objeto furtado é de ínfimo valor em relação ao patrimônio da vítima. Portanto o nobre julgador deve analisar o referido princípio a fim de absolver a agente que está acobertada da premissa que o patrimônio não é lesado ou mesmo violado quando o furto for de pequeno valor. Nesses termos, dispõe julgado HC 445784/SP, STJ – 6ª Turma, Ministro Relator Nefi Cordeiro: “PENAL E PROCESSO PENA. HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO MEDIANTE ESCALADA. TENTATIVA. VALOR ÍNFIMO. HABITUALIDADE DELITIVA. CONDENAÇÃO PENDENTE DE DEFINITIVIDADE. IRRELEVÂNCIA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. ABSOLVIÇÃO. HABEAS CORPUS CONCEDIDO. 1. Sedimentou-se a orientação jurisprudencial no sentido de que a incidência do princípio da insignificância pressupõe a concomitância de quatro vetores, a saber: a) a mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma periculosidade social da ação; c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada. 2. Nenhum interesse social existe na intervenção estatal, na hipótese de tentativa de subtração de 1 rolo de 25 metros de fios de cobre – avaliado em R$ 68,00, que corresponde a aproximadamente 10,9% do salário-mínimo vigente à época dos fatos, sendo o caso de se excepcionar até mesmo a habitualidade delitiva do agente e a prática do delito mediante escalada, viabilizando-se, assim, a incidência do princípio da insignificância. Precedentes. 3. Habeas corpus concedido para afastar a tipicidade material do fato, absolvendo o paciente dos fatos imputados nos autos da ação penal n. 0040844-222012.8.26.0050, além de determinar a consequente expedição de alvará de soltura, se por outro motivo não estiver preso.” Caso Vossa Excelência mantenha a presente condenação que seja concedido o privilégio em questão considerando o pequeno valor do objeto subtraído. B. Afastamento de Reincidência - Artigo 63° do Código Penal Subsidiariamente, não há falar-se em consideração a reincidência, visto que a ré na época do suposto furto não sofreu condenação alguma conforme aduz a legislação penal em seu artigo 63° do Código Penal. Compactuando com esse entendimento, ensina o ilustre Cezar Roberto Bitencourt (2013, página 611) “Reincidente é quem pratica um crime após ter transitado em julgado sentença que, no País ou no estrangeiro, condenou-o por crime anterior, enquanto não houver transcorrido cinco anos do cumprimento ou da extinção da pena.” C. Furto Privilegiado - Artigo 155, § 2° do Código Penal Conforme elencado no artigo 155 § 2º do Código Penal, o delito imputado a ré trata-se de furto privilegiado, nesses casos, deve substituir a pena privativa de liberdade por multa ou mesmo conferir a diminuição da pena. Tal hipótese encontra fundamento na súmula 511° do STJ que diz: “É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.” D. No Bis in Idem Embora na dosimetria da pena, o juiz tenha levado em conta os maus antecedentes e reincidência, ele jamais deveria ter considerado isso. A elevação da pena se deu por circunstâncias judiciais de maus antecedentes na pena base e na segunda fase da dosimetria da pena o juiz aplica ainda a agravante de reincidência prevista no artigo 61 inciso I do Código Penal. Sendo assim, é cabível o afastamento da reincidência pelo “no bis in idem”, visto que é vedado o aumento da pena pelo mesmo motivo. Nesses termos, dispõe julgado HC 563256 / PB, STJ – 5ª Turma, Ministro Relator Ribeiro Dantas (Grifo nosso): “PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. DOSIMETRIA. CULPABILIDADE. CIRCUNSTÂNCIAS. MOTIVOS. ANTECEDENTES. PERSONALIDADE. COMPORTAMENTO DA VÍTIMA. CARÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA PARA A ELEVAÇÃO DA PENA-BASE. CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. INCREMENTO MANTIDO. WRIT NÃO CONHECIDO E ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado. 2. A individualização da pena é submetida aos elementos de convicção judiciais acerca das circunstâncias do crime, cabendo às Cortes Superiores apenas o controle da legalidade e da constitucionalidade dos critérios empregados, a fim de evitar eventuais arbitrariedades. Destarte, salvo flagrante ilegalidade, o reexame das circunstâncias judiciais e dos critérios concretos de individualização da pena mostram-se inadequados à estreita via do habeas corpus, pois exigiriam revolvimento probatório. 3. Quanto à culpabilidade, para fins de individualização da pena, talvetorial deve ser compreendida como o juízo de reprovabilidade da conduta, ou seja, o menor ou maior grau de censura do comportamento do réu, não se tratando de verificação da ocorrência dos elementos da culpabilidade, para que se possa concluir pela prática ou não de delito. No caso, o Magistrado processante limitou-se a afirmar que o réu agiu dolosamente, tendo buscado saciar a própria lascívia, o que não excede a própria tipicidade do delito do art. 217-A do CP. 4. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que considerações genéricas e desvinculadas do contexto fático dos autos, assim como elementos inerentes ao próprio tipo penal não servem para o agravamento da pena, como se constata na espécie. In casu, em que pese a gravidade da conduta, percebe-se que nada de concreto restou deduzido para justificar a elevação da pena pelo modus operandi do delito, devendo, pois, ser decotado o incremento por tal vetor. 5. Nos moldes do entendimento consolidado deste Tribunal, "tratando-se de crime contra a dignidade sexual, injustificado o aumento, porquanto a intenção de satisfazer a lascívia é inerente ao tipo incriminador imputado ao paciente" (HC 289.604/BA, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 13/12/2016, DJe 19/12/2016). 6. No que tange aos antecedentes, a sentença não fez menção a qualquer título condenatório transitado em julgado a ser sopesado na fixação da pena-base, impondo-se, portanto, o afastamento da valoração negativa dessa vetorial. Além disso, ainda que se possa deduzir que o réu já havia sido previamente condenado, tanto é que estava cumprindo pena em livramento condicional quando do cometimento do delito, a reincidência do réu foi valorada na segunda fase da dosimetria, não sendo possível sopesar tal condenação para desabonar os seus antecedentes, sob pena de indevido bis in idem. 7. A personalidade do agente resulta da análise do seu perfil subjetivo, no que se refere a aspectos morais e psicológicos, para que se afira a existência de caráter voltado à prática de infrações penais, com base nos elementos probatório dos autos, aptos a inferir o desvio de personalidade de acordo com o livre convencimento motivado, independentemente de perícia. Na hipótese em apreço, o decreto condenatório considerou que o réu é ardiloso em conseguir burlar regras sociais e jurídicas, maquinando como fazer o mal sem despertar suspeitas nos outros. Ora, a conduta apurada nos autos é praticada, em regra, na clandestinidade e com utilização de subterfúgios para garantir a impunidade do delito, não servindo tal motivação para elevar a reprimenda para negativar a personalidade do agente. 8. O comportamento da vítima é circunstância judicial ligada à vitimologia, que deve ser necessariamente neutra ou favorável ao réu, sendo descabida sua utilização para incrementar a pena-base. Com efeito, se não restar evidente a interferência da vítima no desdobramento causal, como ocorreu na hipótese em análise, tal circunstância deve ser considerada neutra. 9. Em relação às consequências do crime, que devem ser entendidas como o resultado da ação do agente, a avaliação negativa de tal circunstância judicial mostra-se escorreita se o dano material ou moral causado ao bem jurídico tutelado se revelar superior ao inerente ao tipo penal. In casu, o trauma suportado pela vítima, menor de 7 anos de idade, que se tornou uma criança tristonha e que não participa das atividades na escola, segundo sua professora, permite o incremento da crime pelas consequências do delito. 10. Deve ser afastado o incremento da pena-base pelos antecedentes, culpabilidade, circunstâncias, personalidade, motivos e comportamento da vítima, ficando, porém, mantida a elevação da básica pelas consequências do crime. 11. Writ não conhecido. Ordem concedida, de ofício, a fim de reduzir a reprimenda a 18 anos, 1 mês e 11 dias de reclusão.” E. Do regime aberto - Artigo 33°, § 2°, alínea "c" do Código Penal Em mantida a condenação e afastada a reincidência há de se conceder a ré o cumprimento da pena em regime aberto conforme elencado no artigo 33°, § 2º alínea “c” do Código Penal. Nesses termos, dispõe julgado HC 88620 / RR, STJ – 5ª Turma, Ministro Relator Napoleão Nunes Maia Filho: “HABEAS CORPUS. FURTO SIMPLES. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL (2 ANOS). REGIME PRISIONAL FECHADO. REINCIDÊNCIA NÃO CARACTERIZADA. IMPOSIÇÃO DE REGIME MAIS GRAVOSO. POSSIBILIDADE. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. REGIME MAIS SEVERO, NO CASO, É O SEMI-ABERTO E NÃO O FECHADO. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA, APENAS PARA IMPOR O REGIME SEMI-ABERTO PARA O INÍCIO DO CUMPRIMENTO DA PENA. 1. Revela-se desproporcional a imposição do regime fechado para o início do cumprimento da pena privativa de liberdade imposta ao paciente, considerando a quantidade da sanção fixada (2 anos) e o crime (furto simples), cometido sem violência ou grave ameaça a pessoa, sendo certo que o regime mais gravoso, para essa hipótese, seria o semi-aberto. 2. No caso presente, a determinação, pelo Juízo monocrático, do regime fechado, revela-se exacerbada, pois, se a jurisprudência admite a possibilidade de fixação de regime semi-aberto ao condenado reincidente cuja pena seja inferior a 4 (quatro) anos, consoante a Súmula 269/STJ, com mais razão deve-se aplicar o referido entendimento ao réu primário (art. 64, inciso I, do Código Penal), como é o caso do paciente. 3. No caso, não há necessidade de dilação probatória para a aferição da primariedade do paciente, atestada pela documentação juntada e, enfaticamente, pelo próprio Ministério Público Estadual, que se manifestou pela manutenção do regime fechado por outros fundamentos. 4. Ordem parcialmente concedida, apenas para alterar o regime inicial de cumprimento da pena, do fechado para o semi-aberto, sem prejuízo do exame, pelo Tribunal de origem, das demais alegações do Apelo defensivo, em que pese o parecer ministerial em sentido contrário.” F. Substituição da Pena - Artigo 44° do Código Penal Solicita-se, subsidiariamente, caso mantenha-se a condenação a substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direito com fulcro no artigo 44° do Código Penal. Isso pois, em decorrência dos fatos, ausente a relevância da conduta, tal pena é suficiente para advertir a acusa. Compactuando com esse entendimento, ensina o jurista Rogério Greco (2015, página 619): “nos dias de hoje, a pena de multa atende às necessidades atuais de descarcerização, punindo o autor da infração penal com o pagamento de importância determinada pelo juiz, cujo valor deverá obedecer aos limites mínimo e máximo ditados pelo Código Penal.” III - DOS PEDIDOS Isto posto, o conhecimento do presente recurso a fim de que no mérito seja a sentença reformada, determinando-se: A. Absolvição pela atipicidade de conduta. B. Subsidiariamente, afastamento da Agravante e Reincidência, nos termos do artigo 63° do Código Penal. C. Subsidiariamente, reconhecimento do Privilégio, nos termos do artigo155° § 2º do do Código Penal e Súmula 511 do STJ. D. Subsidiariamente, reconhecimento do bis in idem. E. Subsidiariamente, possibilidade de cumprimento da pena no regime aberto, nos termos do artigo 33° § 2º alínea “c” do Código Penal. F. Subsidiariamente, substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direito, nos termos do artigo 44° do Código Penal. Nesses termos, pede deferimento. (Local, Data, Ano) (Advogado/OAB) (Assinatura)
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