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intervenção estatal questões privadas

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A Intervenção do Estado 
em Questões Privadas
A questão da legitimidade estatal em intervir 
em assuntos de orientação sexual e de gênero
César Macêdo
Giovana Porto
Lays Caceres
Vitor Oliveira Pinto1
“Não há caminho fácil para a liberdade.”
Nelson Mandela 
1 Os autores gostariam de agradecer à colaboradora Fernanda Ferreira Mota, pela atenta 
revisão e pelas sugestões providas a nosso artigo.
#02
63
Justiça Enquanto Responsabilidade
1. Introdução
“Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direi-
tos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação 
umas às outras com espírito de fraternidade” (ONU, 1948). Este 
artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos Humanos1 
está intrinsecamente relacionado à temática deste artigo, afinal, 
ao mesmo tempo em que garante a liberdade, estabelece preceitos 
que, a princípio, só podem ser garantidos com certa restrição à 
autonomia individual.
O limite da intervenção estatal nas liberdades individuais ge-
rou debate entre diversos teóricos ao longo da história (BONA-
VIDES, 1972). Pensadores do Estado Liberal, do Estado Social e 
do Estado Democrático envolvidos nessa temática são inúmeros 
(ABRÃO, 2008). Os contratualistas, ao buscarem explicar o surgi-
mento da sociedade ou do Estado e encontrar um fundamento de 
legitimidade para os mesmos, também contribuíram para a com-
preensão da função do Estado na sociedade (ABRÃO, 2008).
A intervenção nas liberdades individuais pode ocorrer de di-
versas formas, e vir em diferentes intensidades e de várias dire-
ções, moldando o indivíduo e criando padrões de comportamento 
(SUZI, 2006). Ela pode vir através da legislação, da força policial, 
do poder midiático, com o apoio do Estado ou, até mesmo, através 
dos discursos morais reproduzidos na sociedade, como será visto 
em seções posteriores (SUZI, 2006). 
Para entender melhor essa questão é preciso analisar, inicial-
mente, qual o conceito e o contexto do surgimento dos direitos 
e das garantias individuais. Esse será o objeto da primeira seção, 
que abordará, principalmente, os principais ordenamentos que 
1 A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi documento assinado em 1948 na 
Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU, 1948). 
64
Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014
inovaram ao prever tais direitos. Tal seção analisará ainda de que 
maneira esses direitos interferem no processo legislativo atual. 
Em um segundo momento, será estudado como o Estado se 
insere nessa tendência interventora; será analisado a partir de que 
momento, por exemplo, o Estado passa a ser visto como atuante ati-
vamente na regulação das atividades individuais, com um discurso 
de garantia do bem-estar. Finalmente, na terceira seção, será reali-
zada uma abordagem mais prática do assunto. Serão delimitados, 
em um primeiro momento, a partir da análise das teorias de alguns 
autores da filosofia do direito, alguns problemas, vantagens e limites 
da intervenção estatal. Afinal, como se detalhará posteriormente, a 
garantia da liberdade não pressupõe total ausência de controle, na 
medida em que o indivíduo não pode fazer tudo aquilo que quiser 
em nome de sua autonomia (AZEVEDO LOPES, 2006). 
Existem certas esferas, contudo, que são estritamente indivi-
duais e que, portanto, não deveriam ser objeto de regulação pela 
via legislativa (DWORKIN, 2007). Será objeto deste artigo, mais 
especificamente, a questão da criação de leis anti-homossexuali-
dade e da criminalização do aborto. 
2. Os direitos humanos como limites à atuação do Estado.
A Declaração Universal de 1948 é, geralmente, o primeiro do-
cumento citado ao se pensar na história dos direitos humanos. O 
surgimento destes, contudo, certamente remonta a um período 
anterior. No entanto, existem muitas reflexões e indagações no 
sentido de se eles sempre existiram ou se são construções histó-
ricas (DIRCEU; PICCIRILLO, 2013). Tendo isso em vista, serão 
abordados, a seguir, fatos históricos determinantes para o surgi-
mento da concepção de direitos humanos.
Com a queda do modelo da democracia ateniense e da re-
pública romana, passou a vigorar, a partir do século IV a.C., o 
modelo de império, com os poderes concentrados nas mãos de 
um governante (COMPARATO, 2012). Este modelo persistiu no 
continente europeu até o século V da era cristã, quando se deu a 
extinção do império romano do Ocidente. 
Durante a Baixa Idade Média2, volta a tomar corpo a ideia de 
2 A Idade Média é o período iniciado no ano 453 da era cristã, com a extinção do 
império romano do Ocidente, dando início a uma nova civilização, constituída por in-
stituições clássicas, valores cristãos e costumes germânicos. Os historiadores costumam 
dividi-la em dois períodos, a Baixa Idade Média e a Alta Idade Média, cuja linha de 
separação se situa na passagem do século XI para o século XII, período em que duas 
“cabeças reinantes, o imperador carolíngio e o papa, passaram a disputar asperamente 
a hegemonia suprema sobre todo o território europeu” (COMPARATO, 2012, p. 44).
65
Justiça Enquanto Responsabilidade
limitação do poder dos governantes, ideia esta que é pressuposto 
do reconhecimento feito séculos mais tarde da existência de di-
reitos comuns a todos os indivíduos (COMPARATO, 2012). A 
partir do século XI, há novamente um processo de concentração 
de poder. Entretanto, na Inglaterra a Magna Carta de 1215, que 
dá destaque à liberdade3, surge com o intuito de enfraquecer esse 
processo (COMPARATO, 2012). Em 1688, também na Inglaterra, 
editou-se a Bill of Rights, documento surgido no âmbito da Re-
volução Gloriosa4. Essa Declaração de Direitos foi elaborada pelo 
Parlamento e limitava os poderes do monarca, mudando a con-
cepção de justiça, evitando que o rei atuasse de forma arbitrária 
(MAER; GAY, 2009).
Já no século XVIII, o Iluminismo desencadeou eventos de gran-
de repercussão, como a Independência Americana (1776) e a Re-
volução Francesa (1789). Esses eventos evidenciavam um desejo de 
mudança do sistema vigente e inauguravam uma nova ordem polí-
tica mundial (VICENTINO, 2006). A Declaração de Independência 
dos Estados Unidos (1776) incorpora a ideia de que os seres huma-
nos são livres por natureza e que possuem certos direitos inatos, 
isto é, direitos que nascem com o indivíduo, como desfrutar da vida 
e da liberdade, direitos dos quais não podem se dispor ou serem 
negados (COMPARATO, 2012). A “busca da felicidade”, presente 
nesta declaração, “é a razão de ser desses direitos inerentes à própria 
condição humana. Uma razão de ser imediatamente aceitável por 
todos os povos, em todas as épocas e civilizações. Uma razão uni-
versal, como a própria pessoa humana” (COMPARATO, 2012, p. 
49). A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, elaborada 
na Revolução Francesa reafirma e reforça a liberdade e a igualdade 
dos seres humanos (COMPARATO, 2012).
O historiador Eric Hobsbawm (2004) considera que o prin-
cipal objetivo do surgimento da concepção de direitos humanos 
era libertar o indivíduo do sistema social dominante na Europa 
na Idade Média, marcado não por um racionalismo e sim por um 
tradicionalismo ignorante. A liberdade, a igualdade e, em seguida, 
a fraternidade de todos os homens eram os slogans usados para 
combater a superstição das igrejas e a irracionalidade que dividia 
as pessoas em uma hierarquia de patentes mais baixas e mais altas 
3 Fábio Konder Comparato (2012) ressalta que não se tratava de uma liberdade geral em 
benefício de todos, mas sim de uma liberdade específica, em favor dos estamentos supe-
riores da sociedade – o clero e a nobreza. A liberdade geral, sem distinção de condição 
social, só seria declarada ao final do século XVIII.
4 A Revolução Gloriosa ocorreu na Inglaterra em 1688, culminando na destituição do 
então rei Jaime II e na ascensão ao trono de Guilherme de Orange(VICENTINO, 2006).
66
Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014
de acordo com o nascimento ou algum outro critério irrelevante 
(HOBSBAWM, 2004).
A Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) representa um divisor 
de águas na história dos direitos humanos (FACCHI, 2011). O regi-
me nazista suprimia direitos individuais e negava a própria ideia de 
humanidade, programando a exterminação completa de parte dela. 
Em nome da obediência à ordem, a responsabilidade e a autonomia 
do indivíduo foram ignoradas assim como séculos de lutas políticas 
e conquistas sociais e jurídicas em nome do poder e da pretensa 
superioridade de um povo (FACCHI, 2011). Evidenciou-se a fragi-
lidade das construções da democracia e dos direitos fundamentais. 
No pós-guerra, os direitos humanos voltaram a ser o limite da atu-
ação do legislativo e o compromisso do governo, tendo a função de 
proteger as liberdades individuais, inclusive daqueles que não espe-
lhavam a maioria (FACCHI, 2011). 
Os direitos humanos passam a ter como característica princi-
pal a universalidade, que postula que eles devem ser reconhecidos 
e respeitados em todo o mundo, independentemente de particu-
laridades culturais (MORAES, 2002). A Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, estabelecida pela Assembleia Geral das Nações 
Unidas em 1948 após as atrocidades cometidas na Segunda Guer-
ra Mundial, caracteriza direitos humanos como:
[...] o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as 
nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da so-
ciedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através 
do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos 
e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter na-
cional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua 
observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios 
Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua 
jurisdição (ONU, 1949).
Enquanto as Declarações de direitos e as Constituições na-
cionais podem ser consideradas produtos de sociedades relati-
vamente homogêneas culturalmente, a Declaração de 1948 parte 
de Estados e povos extremamente heterogêneos, e logo surgem 
as divergências relacionadas à relação entre o universalismo dos 
direitos e o particularismo das culturas (FACCHI, 2011). A partir 
do momento em que direitos ligados à história e cultura europeias 
são estendidos a todas as pessoas do mundo, surgem as dificul-
dades de aplicá-los às situações que envolvem relações completa-
mente diferentes entre sociedade, famílias e indivíduos (FACCHI, 
67
Justiça Enquanto Responsabilidade
2011). A própria ideia de direitos subjetivos individuais, funda-
mental à concepção de direitos humanos, não é bem recepcionada 
em diversas sociedades em que as pessoas não são consideradas 
como cidadãos autônomos perante o Estado, mas inseridas em 
famílias, classes, clãs e castas, pensadas com base na socialização 
da pessoa, em sua participação na coletividade, em deveres mais 
que em direitos, e tendo direitos variados conforme seu papel e 
pertencimento ao grupo (FACCHI, 2011). 
Isso leva à reflexão sobre se os direitos realmente são universais, 
ou se são fruto de um grupo específico de pessoas e, desta forma, 
inadequados para representar interesses, valores e necessidades de 
grupos de pessoas diferentes. Apesar disso, os direitos humanos 
são cada vez mais difundidos pelo mundo, em documentos nacio-
nais e internacionais, em organizações não governamentais e den-
tro de cada sociedade. Isso porque invocar os direitos humanos 
representa um poderoso veículo de reivindicações, de protestos e 
de legitimação das escolhas políticas (FACCHI, 2011).
3. Da Intervenção Estatal
No fim da Idade Média, foi constituído o Estado Moderno, 
caracterizado, basicamente, pela soberania5 em vez da suserania6, 
pela criação de leis aplicadas à população, pela unificação do sis-
tema de pesos e medidas e pela existência de um idioma nacional 
(MORAIS, 2011). Esse Estado teve, como primeira fase, a consoli-
dação do Estado Absolutista, em que um rei possuía o poder abso-
luto e ilimitado para aplicar e criar leis de âmbito socioeconômico, 
militar, religioso e político (MORAIS, 2011). 
No entanto, as Revoluções Burguesas do século XVII e do 
XVIII, como a Revolução Puritana e a Gloriosa, a Independência 
dos Estados Unidos da América e a Revolução Francesa, contri-
buíram para o fim do Estado Absolutista e para a implantação de 
um modelo de Estado de Direito, consagrado pela ideologia libe-
5 A soberania de um Estado é indivisível, pois o que ocorre no Estado é fato universal, 
geral, que atinge praticamente toda a sociedade. Além disso, é inalienável, pois sem a 
soberania, o povo, a nação ou o Estado, detentores dela, desaparecem. O fato de ser 
imprescindível também constitui uma das características da soberania, já que não pode 
haver um prazo de validade para existir a soberania (ALVES, 2010). É o poder absoluto 
e perpétuo de uma República (BODIN, 2010 [1576]).
6 A suserania era uma das relações verticais entre senhores e servos no feudalismo. O 
suserano poderia conceder a posse de terra produtiva com os trabalhadores correspon-
dentes ao vassalo, nas relações de suserania e vassalagem entre os membros da nobreza 
feudal. Entre o suserano e o vassalo havia uma parcelarização do poder, em que havia 
uma série de direitos para os senhores feudais em detrimento dos servos (BARROS, 
2008).
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Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014
ral (SANTOS, 2010). O fim do absolutismo monárquico também 
estava associado ao desejo da sociedade ao advento de um Estado 
não interventor e à vontade de que o governante fosse submisso a 
limites jurídicos em sua atuação (SANTOS, 2010).
O Estado de Direito, de acordo com Ferrajoli (1995), consistia 
em um Estado regulado pela lei e oriundo das Constituições mo-
dernas. Além disso, o novo Estado possuía características básicas 
como o princípio da legalidade, em que o poder legislativo, o ju-
diciário e o administrativo estavam subordinados a leis gerais e 
abstratas7 (FERRAJOLI, 1995). O serviço dos poderes estatais em 
prol da garantia dos direitos fundamentais e dos direitos à liberda-
de e da satisfação aos direitos sociais também constituíam atribu-
tos desse Estado (FERRAJOLI, 1995). Rosenfeld também definiu 
alguns constituintes desse novo Estado: a submissão dos cidadãos 
somente a leis publicamente promulgadas, a máxima similaridade 
entre a função do poder Legislativo e do Judiciário e a soberania 
das leis sobre todos os indivíduos (ROSENFELD, 2003). 
Além das características apresentadas, a abordagem do que 
são os direitos fundamentais é necessária para a compreensão 
do Estado de Direito. Ferrajoli (2001) classifica os direitos fun-
damentais de acordo com certas categorias. Os direitos humanos, 
caracterizados como direitos primários relativos a todas as pesso-
as, como o direito à educação e à saúde, correspondem a uma das 
categorias. A outra diz respeito aos direitos públicos, que também 
são direitos primários relativos aos cidadãos, sendo exemplos o 
direito ao trabalho e à residência, de acordo com a legislação de 
cada país (FERRAJOLI, 2001). Há, ainda, os direitos civis, direitos 
secundários relativos às pessoas com poder negocial e com liber-
dade de iniciativa empresarial, por exemplo; e os direitos políticos, 
também direitos secundários relativos aos cidadãos com a capaci-
dade de votarem e de serem votados (FERRAJOLI, 2001). 
As Constituições, relativas ao Estado de Direito, primeiramen-
te, incorporaram a defesa da garantia dos direitos de liberdade, 
caracterizando, assim, o Estado Liberal de Direito (CADEMAR-
TORI; CADEMARTORI, 2006). No século XX, porém, houve 
uma ampliação dos direitos fundamentais devido à incorporação 
das obrigações correspondentesaos direitos sociais que, de acordo 
com Marshall, são os associados às necessidades individuais como 
a saúde, a educação e o salário, o que caracterizou o Estado Social 
de Direito (CADEMARTORI e CADEMARTORI, 2006). O Esta-
7 As normas gerais são aquelas que regulam a conduta de sujeitos indeterminados, ou seja, 
não individualizados e não especificados; as normas abstratas são aquelas que se referem a 
um evento descrito pela norma que não foi materializado (CARVALHO, 1999).
69
Justiça Enquanto Responsabilidade
do de Direito, portanto, passou a ser visto como um conjunto de 
direitos liberais e sociais, além de outros direitos que começaram 
a ser exigidos pela sociedade como os econômicos e os culturais, 
condizentes com a garantia da igualdade, da dignidade humana e 
a cidadania (FERREIRA, 2010). Houve a incorporação, também, 
de princípios da democracia política, que defende que as autorida-
des devem ser eleitas pela maioria dos cidadãos, direta ou indire-
tamente (CADEMARTORI e CADEMARTORI, 2006).
A partir disso, surge o Estado Democrático de Direito, marca-
do, principalmente, pela garantia das liberdades civis, dos direitos 
humanos e dos direitos fundamentais, por meio de proteção jurí-
dica dos cidadãos, como algumas das funções (SANTOS, 2011). 
Zimmermman (2002) também atribui algumas características a 
esse Estado, dentre as quais cabe destacar que a sociedade política 
é fundamentada por meio de uma Constituição escrita e que ma-
nifesta a aceitação do princípio da separação dos poderes. Além 
disso, também são propriedades do Estado Democrático de Di-
reito, a limitação das ações estatais e o reconhecimento de que os 
direitos fundamentais devem ser considerados como inalienáveis 
à pessoa humana (ZIMMERMMAN, 2002). 
As modificações durante séculos na estrutura organizacional 
das sociedades resultaram nas diferentes formas de Estado (SAN-
TOS, 2011). Ao mesmo tempo em que houve a exigência social de 
um Estado Mínimo, em que havia pouca intervenção do Estado 
na ação individual, especialmente econômica, um Estado inter-
ventor também era exigência de alguns, a partir da ampliação do 
exercício da cidadania nos países. Essa ampliação foi possibilitada 
pela incorporação de direitos civis, correspondentes às liberdades, 
como a de ir e vir, a de realizar negócio; de políticos, que se re-
ferem à participação política; e de direitos sociais, associados às 
necessidades do indivíduo, como educação, saúde, trabalho e la-
zer (MARSHALL,1967). No entanto, o Estado interventor, mesmo 
que possua a limitação da ação dos governantes, pode interferir 
nas liberdades particulares dos cidadãos (BONAVIDES, 1972). 
O papel do Estado quanto às restrições na escolha da vesti-
menta e à intolerância religiosa em alguns países islâmicos, por 
exemplo, é alvo de discussões (SUZI, 2006). A proibição da prática 
da eutanásia ativa na França e no Brasil, ou os limites do suposto 
cuidado corporal com o uso de anabolizantes, também provocam 
a reflexão dos cidadãos se eles devem se submeter à permissão ou 
à proibição de seus atos pelo Estado e em que medida essa atuação 
estatal é legítima ou favorável à sociedade (SUZI, 2006). Além des-
sas questões, a resposta do Estado à opção da mulher sobre man-
70
Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014
ter ou não a gestação e a intervenção estatal na orientação sexual 
dos indivíduos, permitindo ou proibindo a homossexualidade ou 
o poliamor8, também são discutíveis (SUZI, 2006).
Teóricos do Estado Liberal debateram sobre qual deveria ser o 
limite da intervenção estatal nas liberdades individuais (ABRAO, 
2008). Não só eles, mas também os teóricos do Estado Social e 
os do Estado Democrático (BONAVIDES, 1972). Afinal, em que 
contexto ocorreu a transição entre o Estado Liberal, o Social e o 
Democrático? Como ocorreu a implantação deles? O que os di-
ferencia? Como a intervenção do Estado ocorre? A legislação e 
o uso da violência estatal podem conter as manifestações das li-
berdades individuais? A mídia possui algum papel na limitação 
da ação do Estado na vida privada? As possíveis respostas a essas 
perguntas serão abordadas nas subseções seguintes.
3.1 Perspectiva histórica do surgimento de um Estado interventor
Algumas teorias buscaram explicar a origem do Estado, que, de 
acordo com Fachin (2000), possui diferentes conceituações. Dal-
mo Dallari, por exemplo, afirmou que o Estado é baseado na ideia 
da força e na noção de sua natureza jurídica, ou seja, na noção de 
que só se torna componente do Estado aquilo que é integrado à 
ordem jurídica9 estatal (DALLARI, 2000). A noção de força fez 
com que Bourdieu definisse o Estado como institucionalização do 
poder, que Marx Weber conceituasse como monopólio da força, 
e que Heller afirmasse que a definição de Estado é a unidade de 
dominação (DALLARI, 2000).
Além das definições do que é o Estado, há teorias que descre-
vem o surgimento dele, como a teoria da origem familiar, cujo 
principal defensor foi Aristóteles, que defende que a família é a 
base para o surgimento do Estado; e a teoria da origem patrimo-
nial, defendida por Platão e Engels, que afirmava que a proprieda-
de definia a origem estatal (FACHIN, 2000). Há, também, a teoria 
da força, em que Hobbes e Weber defendiam a supremacia dos 
vencedores sobre os vencidos como fundamental no nascimen-
to do Estado (FACHIN, 2000). A teoria acerca do contrato social 
também fundamentava o nascimento do Estado e/ou da socieda-
de política. Os contratualistas, em geral, afirmavam que os indiví-
duos viviam em um estado pré-político e pré-social, o estado de 
8 Poliamor é definido como as relações íntimas e duradouras com mais de um parceiro 
(BEATRIZ, 2013).
9 O termo “ordem jurídica” é definido como a ordem coercitiva da conduta humana 
(KELSEN, 1998).
71
Justiça Enquanto Responsabilidade
natureza, em que eram livres e iguais, e estes indivíduos, mediante 
um acordo voluntário, firmam um contrato, hipotético, em que 
as pessoas transferiam a um ente soberano o poder para criar e 
aplicar as leis (ABRÃO, 2008).
Apesar das diversas teorias acerca da origem do Estado, a te-
oria contratualista será a abordada nesta seção por meio do pen-
samento de Thomas Hobbes e de Jean J. Rousseau. Além disso, o 
posicionamento de Kant, mesmo não sendo um contratualista, é 
importante também para a compreensão do surgimento do Esta-
do interventor na sociedade, e também será tratado mais adiante 
(BONAVIDES, 1972). 
Thomas Hobbes (1979) alegava que a solução racional para o 
estado de guerra iminente do estado natural era a celebração de 
um contrato que forçaria os indivíduos, por medo da sanção, a 
cumprirem os pactos e as leis (MARTINS, 1994). O contrato so-
cial de Hobbes não possuía a função de limitar a atuação política, 
mas de justificar a soberania, considerada absoluta (MARTINS, 
1994). O contrato social celebrado resultava na criação de um Es-
tado, denominado Leviatã por Hobbes. Esse Estado possuía o di-
reito de representar os seus membros e era dotado de demasiado 
poder e força, suficientes para permitir a direção das vontades dos 
indivíduos à paz e ao auxílio coletivo contra inimigos externos 
do Estado pelo Leviatã (HOBBES, 1979). Além disso, ele teria o 
poder para decretar e executar as leis, delimitar e garantir a pro-
priedade privada e reivindicar a obediência incondicional dos que 
estariam sendo governados por meio das instituições públicas, 
contanto que fosse mantido o respeito aos dois direitos naturais 
intransferíveis: o direito à vida e à paz (HOBBES, 1979).
Rousseau, por sua vez, defendia que os indivíduos eram sú-
ditos das leis, o que seria concretizado pela submissão às leis e 
à autoridade do governante que os representaria (ROUSSEAU, 
1965). Diferentemente de Hobbes, o contrato social não era uma 
mera submissão dos indivíduos em trocade proteção, nem um 
ato ilimitado de confiança, mas estava associado a uma entidade 
para a qual o indivíduo fez uma entrega total de sua autonomia, ou 
seja, da capacidade de promover e seguir vontades próprias (BO-
NAVIDES, 1972). Embora a sociedade fosse constituída por uma 
coletividade de indivíduos, a sociedade política resultante do con-
trato celebrado possuía uma vontade geral única, em que todos os 
cidadãos pudessem ser reconhecidos, caracterizada também pela 
busca do bem comum (MARTINS, 1994). 
O posicionamento de Immanuel Kant (2002) também é funda-
mental para a compreensão da intervenção estatal. A partir de um 
72
Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014
contrato originário, os indivíduos renunciavam às suas liberdades e, 
posteriormente, como integrantes da república, as adquiriam nova-
mente (KANT, 2002). O contrato originário justificaria o Estado de 
Direito e as suas leis (MARTINS, 1994). Há, ainda, a afirmação kan-
tiana de que a liberdade, a igualdade e a autonomia privada neces-
sitam de um Estado baseado na formação democrática da vontade 
geral para serem concretizados (MARTINS, 1994). Sendo assim, as 
vontades particulares estariam contidas nas gerais, o que possibili-
tava que o poder para a criação de leis pelo soberano, pertencente à 
vontade geral, fosse ilimitado (BONAVIDES, 1972). No entanto, a 
liberdade, em Kant, é vista como apenas uma ideia, uma autonomia 
da vontade, um conflito ético10 possível de solução apenas no cam-
po dos valores (BONAVIDES, 1972).
3.1.1 Quanto ao Estado Liberal de Direito
A fim de combater o regime político e o poderio sociopolítico 
da nobreza11 no Estado Absolutista, a burguesia12 recorria a uma 
teoria com o intuito de fundamentar o combate ao regime político 
vigente (BONAVIDES, 1972). A teoria era a da propriedade pri-
vada como direito natural e a sua formulação foi feita pelo filóso-
fo inglês John Locke no livro Segundo Tratado sobre o Governo 
Civil (1690), no final do século XVII. De acordo com o filósofo, 
a propriedade foi estabelecida por Deus na criação do mundo e 
do homem, sendo vista, então, como direito natural de todos os 
membros da sociedade (LOCKE, 2001 [1690]). O liberalismo, 
uma ideia concretizada por Locke na obra supracitada, conside-
rado em sua vertente política, está associado à intervenção estatal 
mínima na sociedade, tendo o Estado como função a proteção das 
liberdades fundamentais do indivíduo (a propriedade privada, a 
vida e a liberdade em si) (LOCKE, 2001 [1690]).
A ascensão da burguesia colaborou para a construção de um 
ideal de liberdade do homem perante o Estado, baseado nas con-
cepções burguesas de política, constituídas pela pretensão da clas-
se em ascender politicamente, se fundamentando na técnica se-
paratista por aparatos constitucionais (BONAVIDES, 1972). Esse 
10 A ética, nesse contexto, deve ser entendida como uma ciência das leis da liberdade 
(TERRA, 1995). Ou ainda, como a prática da liberdade, por meio da autonomia da von-
tade, proposta por Kant (FERNANDES, 2007).
11 A nobreza era composta por senhores de terras, por detentores de títulos de nobres e 
por herdeiros de famílias com títulos de nobreza (BURNS, 2005).
12 A burguesia era composta pelos proprietários dos meios de produção de bens mate-
riais (BURNS, 2005).
73
Justiça Enquanto Responsabilidade
ideal de liberdade burguês colaborou para o advento da Revolu-
ção Francesa cujo lema pregado era “Liberdade, Fraternidade e 
Igualdade”, possibilitando, assim o surgimento do Estado Liberal 
e a queda do Estado Absolutista (BONAVIDES, 1972). A Revo-
lução Francesa foi a responsável pela separação dos poderes, que 
possuía por objetivo a garantia da limitação do poder estatal e o 
fundamento da proteção dos direitos da liberdade, definidos na 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, que 
afirmava que a liberdade consistia em poder fazer tudo que não 
prejudicasse a outrem (SUZI, 2006). 
A liberdade de todos era fundamento do Estado Liberal de Di-
reito, ou seja, os indivíduos deveriam ser livres (direito de cada 
um a não estar submetido a mais do que às leis), proprietários (di-
reito dos indivíduos a possuírem algo, que, segundo Locke (1994) 
era um direito natural de todos os membros da sociedade) e iguais 
(igual submissão de todos às leis), em um Estado alicerçado no 
império das leis e na separação de poderes (MAULAZ, 2010; 
TRINDADE, 2009). No Estado Liberal originado, a exaltação da 
vida, da liberdade e da propriedade, como valores máximos libe-
rais, era função estatal (MAULAZ, 2010). Além disso, constituíam 
funções do Estado Liberal a garantia da igualdade perante a lei, da 
segurança jurídica por proteção legal, da tutela jurisdicional13 e da 
segurança pública (MAULAZ, 2010). O Estado Liberal também 
assumiu uma função regulatória, propondo que o mercado distri-
buísse oportunidades e benefícios de forma igual (CADERMAR-
TORI; MORAIS, 1992). 
No entanto, o Estado Liberal não resolveu problemas essen-
ciais no âmbito econômico das camadas não detentoras dos meios 
de produção14 da sociedade. Ele não solucionou as contradições 
sociais, como o crescimento das populações, as dificuldades eco-
nômicas e sociais e as guerras, por isso, o Estado Liberal entrou em 
crise (BONAVIDES, 1972). A crise do Estado Liberal foi acompa-
nhada por um momento de desenvolvimento do movimento de-
mocrático e do surgimento do capitalismo monopolista15, do au-
mento das demandas sociais e políticas, além da Primeira Guerra 
13 A tutela jurisdicional consiste na função estatal de resolver conflitos no campo de at-
uação político-jurídico por meio da aplicação de leis aos casos concretos (SILVA, 2010).
14 Os meios de produção são os objetos de trabalho e os meios de trabalho, como canais, 
estradas, ferramentas e máquinas (COLMÁN; POLA, 2009).
15 O capitalismo monopolista, originário de mudanças no sistema de produção capital-
ista do fim do século XIX, possuía certas características, como: o desenvolvimento de 
empresas gigantes e a mudança na base de circulação, o desenvolvimento da indústria 
cultural, da publicidade, do crédito e do capital financeiro, e a incorporação sistemática 
da ciência pelo processo produtivo (GOLDENSTEIN, 1986).
74
Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014
Mundial (1914-1918) (BONAVIDES, 1972). Houve, portanto, a 
necessidade da expansão do intervencionismo do Estado na eco-
nomia e em políticas de assistência social (BONAVIDES, 1972).
O Estado Mínimo passou, portanto, por uma transição para 
um maior papel interventor do Estado na sociedade ao longo do 
século XX. Nas circunstâncias em que a superação do conflito 
entre igualdade política e desigualdade social foi almejada pelos 
regimes políticos, surgiu a noção contemporânea do Estado Social 
(BONAVIDES, 1972).
3.1.2 Quanto ao Estado Social de Direito
 
O Estado Social, naturalmente, é um Estado intervencionista, que 
necessita da presença do poder político nas esferas sociais, nas quais 
há o crescimento da dependência do indivíduo em relação ao Estado 
(BONAVIDES, 1972). A Constituição mexicana de 1917, a partir da 
qual a ordem econômica assumiu dimensão jurídica, e a alemã de 
Weimar de 1919, que preservou as garantias dos direitos individuais 
conquistados pelo liberalismo, foram as primeiras a prever a inter-
venção estatal no domínio econômico e social (SILVA, 1996).
O Estado Social possui como características a proteção16 e o 
paternalismo17 (BONAVIDES, 1972). Ele busca, como Estado de 
coordenação e colaboração, amenizar a luta de classes (oposição 
de interesses entre diferentes classes sociais) e promover entre os 
homens a justiça social e a estabilidade econômica (BONAVIDES, 
1972). Luhmann afirmou que essas características estão associa-
das à função do Estado de promover a compensação, necessária 
devido às grandesdesigualdades socioeconômicas, e a inclusão de 
grupos com baixo poder aquisitivo nas redes de proteção jurídicas 
estatais (LUHMANN, 1983).
A velocidade com que ocorreu a expansão dos mecanismos 
subordinados ao governo na administração da legislação tam-
bém foi uma das repercussões da ação do Estado Social de Direito 
(MAULAZ, 2010). O resultado das medidas estatais foi a reper-
cussão da “legislação social” nas diversas áreas da sociedade, não, 
necessariamente, de modo direto (MAULAZ, 2010). Em 1900, na 
Europa, por exemplo, propostas estatais relacionadas à responsa-
bilidade social por meio do seguro-desemprego, à incapacidade 
física ou mental, à velhice, ou ao acesso da população aos servi-
ços de saúde e de saneamento básico, eram ínfimas se comparadas 
16 Intervenção coativa no comportamento de uma pessoa a fim de evitar que provoque 
danos a si mesma e proibição de condutas consideradas imorais (VALDES, 1993).
17 Tentativa de se controlar e de suprir as necessidades da nação (MARTINELLI, 2013).
75
Justiça Enquanto Responsabilidade
à fase do Estado de Bem-Estar Social, em meados da década de 
1950 (BONAVIDES, 1972). 
O modelo social também se mostrou inadequado, tanto pela falta 
de preparação das políticas assistencialistas, quanto pelos dispendio-
sos custos a fim de que as desigualdades na sociedade fossem ameni-
zadas (BONAVIDES, 1972). Além disso, os prejuízos econômicos e 
sociais, como as diversas mortes, advindos da Segunda Guerra Mun-
dial, o endividamento do setor público em economias ocidentais e 
a crise do petróleo contribuíram para que parte das sociedades oci-
dentais questionasse o papel e a racionalidade do Estado-interventor, 
abrindo espaço para o surgimento de um novo paradigma: o Estado 
Democrático de Direito (BONAVIDES, 1972; PINTO, 2003).
3.1.3 Quanto ao Estado Democrático de Direito
Novas reivindicações sociais surgiram com a crise do Estado 
Social (PINTO, 2003). Entraram na pauta das manifestações as 
questões relativas à preservação do meio ambiente e à concessão 
de direitos aos grupos minoritários, como os raciais e os ligados à 
questão da orientação sexual (PINTO, 2003). A busca de ampla 
participação política nas eleições, por meio da expansão da cidada-
nia, ou seja, a universalização de benefícios políticos, sociais e civis, 
também compôs a pauta das novas reivindicações (PINTO, 2003).
De acordo com José da Silva (1994), o Estado Democrático 
de Direito possui alguns princípios como a constitucionalidade18, 
a divisão dos poderes e a correspondência a uma democracia 
(SILVA, 1994). Bulos já defendeu a existência de outros princí-
pios desse Estado, como o surgimento de todo e qualquer poder 
somente através do povo e a existência da proteção e garantia dos 
direitos de tal forma que haja a proteção e o respeito ao cidadão 
(BULOS, 2008). Além disso, a superação das desigualdades sociais 
e a instauração de um regime democrático que garanta a justiça 
social, que significa, basicamente, a igualdade de acesso aos di-
reitos, constituem funções desse Estado (SILVA, 1994). Alguns 
Estados Democráticos de Direito também, a partir do século XX, 
passaram a incorporar princípios e normas jurídicas internacio-
nais (CANOTILHO, 2002; CASTRO, 2007). 
3.2. As principais consequências da tendência interventora 
A partir da crise do Estado Liberal, a intervenção do Estado na 
18 “O controle de constitucionalidade das leis consiste no exame da adequação das mes-
mas à Constituição” (BASTOS, 1986, p. 11).
76
Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014
sociedade passou a ser uma reivindicação social (CRUZ, 2003). 
No Estado Social, a intervenção se constituiu, basicamente, pela 
prestação de serviços públicos e da gerência de empresas públicas 
que fortalecessem o mercado e o sistema capitalista em alguns pa-
íses (CRUZ, 2003). Já no Estado Democrático, os órgãos estatais 
passaram a intervir diretamente nas questões socioeconômicas e 
culturais, a fim de que os cidadãos tivessem igualdade de oportu-
nidades em alguns países e que houvesse desenvolvimento econô-
mico (CRUZ, 2003). 
Neste Estado, a intervenção acontece, geralmente, no âmbito 
das legislações, do uso da violência pelo Estado através da força po-
licial, por exemplo, do controle das massas pelo discurso midiático, 
dos debates políticos e do sistema financeiro (SUZI, 2006). Basica-
mente, todos os campos da vida em sociedade são regulados por 
normas estatais. Isso caracteriza um estágio de possível manipula-
ção dos contratos que o Estado quer que os indivíduos celebrem e 
de direcionamento das ações pessoais e coletivas (SUZI, 2006). 
As normas de intervenção são normas de conduta que direcio-
nam direta ou indiretamente as ações dos indivíduos, de acordo 
com a posição que estes ocupam na sociedade. Elas ordenam, re-
gulam, comandam, estabelecem e orientam a forma como devem 
ser feitos os negócios, os contratos, a realização de condutas e de 
procedimentos na sociedade (SUZI, 2006). 
O Estado age nos contratos, por exemplo, não apenas com a 
aplicação de normas públicas, mas também com a adoção de revi-
são judicial dos contratos, alterando-os, estabelecendo-lhes con-
dições de execução, ou mesmo exonerando a parte lesada. Sendo 
assim, a intervenção, pelo legislador ou pelo poder judiciário, é 
necessária nas relações contratuais (SUZI, 2006). 
Além disso, a Constituição direciona as ações dos governantes, 
no entanto, eles podem agir de diversas formas, seja pela teleco-
municação, pela força, por regulamentos, pela economia, ou pelas 
manifestações culturais. Sendo assim, a intervenção normativa do 
Estado orienta a ação pública e privada, por meio da formalização 
legal de regras e normas sociais que fazem parte da cultura, e que 
podem tanto ser aceitas por certos grupos quanto rejeitadas por 
outros, mas que estão presentes no âmbito social (SUZI, 2006). 
Em vista disso, o Estado intervém da maneira que lhe é mais 
cabível. A intervenção estatal pode ser por meio do controle da mí-
dia, por exemplo, que possui o poder de formar agendas de deba-
te político ou público, de controlar as massas com ideologias para 
amenizar ou mascarar certos conflitos sociais e, até mesmo, agir na 
formação de vontades e de decisões individuais (MIGUEL, 2003). O 
77
Justiça Enquanto Responsabilidade
papel da mídia está relacionado, também, ao pensamento de Lukes 
(1985) quanto à ideia de que a terceira - e mais crucial - dimensão 
do poder residiria na capacidade de fazer com que os grupos e in-
divíduos tivessem desejos contrários a seus verdadeiros interesses, 
impedindo a eclosão do conflito não apenas na arena pública, em 
que há debates e até mesmo conflitos de interesses sociais, mas tam-
bém na consciência dos agentes sociais (LUKES, 1985).
O Estado, muitas vezes, utiliza seus meios legítimos de violên-
cia, como as forças policiais e as Forças Armadas, para que haja 
receio de alguns em agirem na sociedade, seja por medo da re-
pressão pelo uso de uma vestimenta ou da manifestação da orien-
tação sexual (SUZI, 2006). No entanto, o receio da intervenção 
estatal nem sempre retém as manifestações em prol da ampliação 
de direitos nos países - as passeatas em favor da descriminaliza-
ção das drogas no Brasil e no Chile representam isso, assim como 
as manifestações dos movimentos feministas, como a Marcha das 
Vadias, e as passeatas LGBTs, que visam assegurar aos homosse-
xuais os mesmos direitos já assegurados aos heterossexuais, como 
a constituição de uma família, e que objetivam, principalmente, o 
respeito às diferenças (SUZI, 2006). 
4. A intervenção na prática
O apanhado histórico realizado nas seções anteriores serve 
como base para a compreensão da origem de um Estado inter-
ventor e da forma como, ainda assim, a partir dele, foi possível o 
surgimento do conceito dos direitos e das garantiasindividuais. 
Esta seção se desenvolverá, inicialmente, de forma a explicitar o 
problema da intervenção do Estado em questões privadas. Pos-
teriormente, a análise das situações de intervenção será restrita a 
dois exemplos, as leis anti-homossexualidade e as leis antiaborto, 
de forma a concretizar o debate, trazendo à tona assuntos atuais 
que convergem ao tema.
Em sua obra “Levando os direitos a sério” (1977), Dworkin 
aponta e, ao mesmo tempo, critica um dos argumentos que po-
deria legitimar a criação de leis que interferissem na esfera indivi-
dual. Basicamente, o ponto levantado é que as sociedades moder-
nas são guiadas por uma série de princípios morais (DWORKIN, 
1977). Alguns destes são meramente individuais e não poderiam, 
portanto, ser impostos aos demais. Outros, por outro lado, são 
aceitos e adotados pela maioria da população, o que acaba por 
criar, consequentemente, um sentimento de dependência em rela-
ção a tais preceitos (DWORKIN, 1977).
78
Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014
Considerando a necessidade que a sociedade tem de proteger 
e garantir a sua existência, emanaria dela o direito de tentar con-
servar certos padrões de moralidade. Esses padrões seriam garan-
tidos a partir de leis que criassem verdadeiras sanções àqueles que 
não se enquadrassem aos preceitos ditados (DWORKIN, 1977).
Esse argumento é desconstruído pelo próprio Dworkin (1977) 
ao longo de sua obra. É importante ressaltar que a importância das 
liberdades individuais já era discutida ainda no século XIX. John 
Stuart Mill, por exemplo, em seu livro “On Liberty”,
[...] apresentou pela primeira vez a ideia de que o direito penal não 
podia punir certos atos só por serem atos que a sociedade desapro-
vava e queria reprimir; e que a fronteira além da qual a força do 
Estado não tinha direito de avançar era a que separava os atos que 
“afetam os outros”, isto é, os que prejudicam a terceiros, atos esses 
que a lei estava de fato autorizada a reprimir, dos atos que “afetam 
seu autor”, os quais, visto que não diziam respeito a ninguém a não 
ser seu autor, não interessavam ao Estado ou à sociedade e, portan-
to, representavam um território em que o próprio direito penal era 
um transgressor (KELLY, 2010, p. 447).
O que se coloca como ponto central do pensamento de Mill, 
portanto, é a questão de conciliar liberdades individuais e interes-
ses sociais. Ou seja, existem limites ao exercício da liberdade na 
medida em que seu exercício não pode causar danos aos demais, 
muito menos impedimento para que os outros exerçam sua pró-
pria liberdade, buscando seu bem (AZEVEDO LOPES, 2006).
Nesse sentido, reconhece-se que nem todos os assuntos relati-
vos à esfera privada devem estar desvinculados de devida regula-
mentação (AZEVEDO LOPES, 2006). Afinal, se essa ideia é levada 
ao extremo, todas as leis constituiriam uma violação à liberdade 
(DWORKIN, 1977). A propriedade, por exemplo, está atrelada ao 
cumprimento de sua função social19, não bastando a existência do 
título de propriedade para garantir a posse (RIZZARDO, 2012).
Quando a discussão, contudo, gira em torno de questões re-
lativas apenas ao indivíduo enquanto ser, sem atingir, com isso, a 
esfera coletiva, não seria legítima a criação de leis que condenas-
19 A função social pode ser definida como um princípio atrelado ao direito subjeti-
vo que defende que um interesse privado, mais do que beneficiar o indivíduo a que se 
refere, deve satisfazer os interesses de toda a coletividade, respeitando-se os princípios 
Constitucionais (DELAITI DE MELO, 2013). A Constituição Brasileira, por exemplo, 
estabelece em seu artigo 5º, XXIII que “a propriedade atenderá a sua função social”; ain-
da, no art. 170, III, estabelece que a ordem econômica observará o princípio da função 
social (BRASIL, 1988).
79
Justiça Enquanto Responsabilidade
sem ações e concepções supostamente minoritárias em nome de 
justificativas morais ou religiosas (DWORKIN, 1977). As teorias 
passam a englobar o que se pode chamar de justificativas para a 
intervenção estatal respeitando, é claro, a ideia de autonomia. Jun-
tamente com Dworkin, a temática é incluída no discurso de vários 
outros autores da segunda metade do século XX (KELLY, 2010).
Devlin aborda uma perspectiva mais tradicional na qual o 
direito penal20 estaria intrinsecamente relacionando à moral, na 
medida em que a função deste seria preservar a “ordem pública” e 
preservar os cidadãos que se encontram em situação de vulnera-
bilidade (KELLY, 2010). Dessa forma,
[...] não é função do direito interferir na vida privada dos cidadãos, 
ou procurar impor qualquer padrão particular de comportamento, 
num grau maior do que aquele que é necessário para pôr em prática 
os propósitos cima resumidos (KELLY, 2010, p. 587).
Em contraposição à teoria de Devlin, Hart pontua que as in-
tervenções propostas no direito penal adviriam não de princípios 
morais, mas sim de uma política muito mais racional, destinada 
a proteger os indivíduos contra si mesmos, quase como que um 
paternalismo21 (KELLY, 2010). 
Ao adentrar a esfera privada, é importante, também, que seja 
feita uma segunda distinção. A sociedade patriarcal22 pode impe-
dir a neutralidade da ideia liberal de não intervenção do Estado na 
vida doméstica (OKIN, 2008). O ambiente doméstico, a partir do 
momento em que é dominado pela figura masculina, pode se tor-
nar, ao invés de um meio de exercício das liberdades individuais, 
uma estrutura de repressão para a mulher (OKIN, 2008).
20 O Direito Penal pode ser definido, de forma simplificada, como “a parte do orde-
namento jurídico que define as infrações penais (crimes e contravenções) e comina as 
respectivas sanções, penas e medidas de segurança” (QUEIROZ, 2012, p. 29). Ainda, 
sob um viés sociológico, conforme defendido por García-Pablos, pode ser visto como 
um mecanismo de controle dos cidadãos realizado pelo estado a partir do ordenamento 
(QUEIROZ, 2012).
21 O termo “paternalismo” é utilizado, aqui, em seu sentido jurídico, consistindo na 
tentativa de se controlar e suprir as necessidades da nação assim como um pai faz com 
seu filho. Tal tentativa envolve intervenção na liberdade de escolha do cidadão, com 
ou sem coerção, sob a justificativa da prática do “bem comum” (MARTINELLI, 2013).
22 O patriarcado pode ser definido como “o sistema institucionalizado de dominância 
masculina que é expresso na família e na sociedade como um todo” (AL-MUNGHINI, 
2001, p. 17). A sociedade patriarcal pode ser entendida, portanto, como aquela centrada 
na figura masculina provedora, que controla todos os integrantes daquele determinado 
núcleo (NARVAZ; KOLLER, 2006).
80
Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014
Desconstrói-se, dessa forma, a ideia de que a família é um 
núcleo intransponível a partir do momento em que deixa de ser 
vista como um organismo único e indissolúvel, e seus componen-
tes passam a ser vistos como efetivos sujeitos de direito (OKIN, 
2008). Só assim seria possível aplicar a máxima do pensamento 
liberal explicitada, nos parágrafos anteriores, a partir do pensa-
mento de Mill (OKIN, 2008).
Partindo dessa perspectiva de gênero, outra autora conside-
rada central no que tange à discussão entre o público e o privado 
relacionados à questão da privacidade é Cohen (1997), apesar se 
suas conclusões serem um pouco distintas das apresentadas por 
Okin (LIMA, 2012). Uma das principais críticas apontadas pela 
autora é, justamente, o fato de serem associados, necessariamente, 
os conceitos de privacidade com os de propriedade e de família 
patriarcal (LIMA, 2012).
 Cohen constrói sua argumentação em torno da defesa do di-
reito de aborto nos Estados Unidos e defende a existência de dois 
níveis de privacidade: 
[...] um a nível individual, da autonomia das decisões, no caso o 
direito de as mulheres, enquantoindivíduos (e não enquanto mães, 
esposas, donas de casa etc.), decidirem ou não ter filhos; e um a ní-
vel relacional, que defenda as relações íntimas da intrusão do estado 
ou de outras pessoas, desde que essas sejam relações nas quais as 
demandas de justiça não sejam violadas (LIMA, 2012, p. 27).
Conforme já visto em seções anteriores, são diversas as restri-
ções estatais referentes à esfera individual presentes na legislação. 
Tais restrições são, conforme perspectiva já explicitada acima, in-
devidas e constituem, conforme previsão da Declaração Universal 
dos Direitos Humanos23, uma violação a esses direitos (ONU, 1948). 
Tendo em vista a quantidade de exemplos passíveis de análise, 
serão abordadas, preferencialmente, questões relativas aos seguin-
tes temas: a existência de leis anti-homossexualidade e a questão 
da criminalização do aborto.
4.1 A criminalização do aborto
O direito ao aborto24 é uma questão polêmica que envolve di-
23 A liberdade individual é termo bastante recorrente na Declaração como um todo. 
Podem ser utilizados como exemplos, aqui, os artigos 18 e 19, que estabelecem liberdade 
de pensamento, consciência, religião, opinião e expressão (ONU, 1948).
24 O aborto é “um procedimento para finalizar uma gravidez não desejada” (OMS, 2012, p. 18).
81
Justiça Enquanto Responsabilidade
versas controvérsias. Sem pretender revisar toda a vasta literatu-
ra dedicada ao tema, esta seção observa que a criminalização do 
aborto é uma expressão clara de interferência do Estado nas liber-
dades individuais da mulher25, porque restringe o controle dela 
sobre seu corpo, sujeitando-a a riscos de saúde desnecessários26 
(ONU, 2011). É uma questão que envolve decisões da mulher, en-
quanto cidadã, em relação ao seu próprio corpo e à sua própria 
vida (MIGUEL, 2012).
O Estado laico é uma condição fundamental para a discussão 
sobre a possibilidade da interrupção voluntária da gravidez. A li-
berdade de crença impede que determinadas convicções religiosas 
sejam impostas coercitivamente a todos os cidadãos. Com a lai-
cidade do Estado, a liberdade de consciência é inviolável, aque-
les que não compartilham da religião dos outros não podem ser 
submetidos a leis de justificação apenas religiosa. É o princípio de 
que certas interferências do Estado nas liberdades individuais dos 
indivíduos não podem ser aceitas (LOPES, 2005).
A literatura convencional insere o aborto na questão moral 
(saber se o feto é ou não uma pessoa) ou em um problema de saú-
de pública. Assumindo a laicidade do Estado, a compreensão con-
vencional do debate é equívoca: é necessário perceber a questão 
como um problema político. Mas a teoria política, em geral, não 
diz nada sobre o aborto (MIGUEL, 2012), uma vez que as ques-
tões de gênero tendem a ser desprezadas e vistas como contrárias 
à concepção real da política (SCOTT, 1999).
Ainda assim, a questão do aborto pode ser vinculada aos di-
reitos elementares do acesso à cidadania. O direito ao aborto en-
contra fundamento no pensamento liberal, em que, para Locke 
(1690), a propriedade do indivíduo (isto é, do homem) sobre ele 
mesmo é a base para o acesso à cidadania. A teoria feminista dis-
cute a exclusão da mulher na política e conclui que a “socieda-
de civil criada através do contrato original é uma ordem social 
patriarcal” (PATEMAN, 1993, p. 16), ou seja, o contrato original 
estabelece a subordinação da mulher ao homem. Com as contri-
buições do feminismo, a exclusão da mulher não é mais aceita 
25 As mulheres (e os homens homossexuais; ver subseção 4.2.), geralmente, são mais 
propensas a experimentar violações do seu direito à saúde sexual e reprodutiva. Es-
tereótipos do papel das mulheres na sociedade estabelecem normas baseadas na crença 
de que a liberdade da mulher, especialmente no que diz respeito à sua identidade sexual, 
deve ser reduzida e regulamentada (ONU, 2011).
26 A criminalização do aborto não significa que o procedimento não é realizado, mas sim 
que é realizado por profissionais não qualificados, em condições insalubres (OMS, 2011). 
Porém, quando realizado por profissionais de saúde treinados, em condições adequadas, o 
aborto é um dos procedimentos médicos mais seguros disponíveis (OMS, 2003).
82
Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014
pelos liberais e a teoria feminista é incorporada ao liberalismo. 
Apesar disso, ainda existe uma grave desigualdade entre homens e 
mulheres, uma vez que a mulher foi inserida na política de forma 
diferente do homem (MIGUEL, 2012).
O cidadão, isto é, o homem, ingressa na esfera política dotado de 
soberania sobre si mesmo, mas para a mulher tal soberania é condi-
cional. Sob determinadas circunstâncias, ela deixa de exercer arbítrio 
sobre seu próprio corpo e se torna o instrumento para um fim alheio. 
Nesse processo ocorre uma inversão: em vez de a sociedade ficar com 
a obrigação de garantir as condições para que as mulheres possam le-
var a cabo gestações livremente decididas, a gravidez passa a ser uma 
obrigação perante a sociedade (MIGUEL, 2012, p. 666).
Assim, a possibilidade de interrupção voluntária da gravidez é 
um direito fundamental da mulher, associado à propriedade dela 
em relação ao seu próprio corpo. E como apresentado por Ma-
cpherson (1962), a soberania sobre si mesmo é a base para o aces-
so à cidadania. Dessa forma, as leis antiaborto violam a dignidade 
da mulher e impedem seu acesso pleno à cidadania. Além disso, 
geram uma grave assimetria, impondo à mulher limitações sobre 
seu próprio corpo, que os homens não sofrem (MIGUEL, 2012). 
Nesse sentido, a legalidade do aborto é uma questão de igualdade 
e respeito às liberdades individuais.
Os defensores da ilegalidade do aborto afirmam que é inco-
erente o direito ao aborto ser tratado como um imperativo dos 
direitos humanos27, pois o Artigo 3º da Declaração Universal dos 
Direitos Humanos (1948) estabelece que “Todo o indivíduo tem 
direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”, logo, o feto tam-
bém deve possuir este direito. Entretanto, Kaplan (2008) desen-
volve a tese de que um embrião, embora esteja vivo, não é um ser 
vivo, portanto não tem os mesmos direitos que pessoas já nasci-
das. Além disso, Dworkin (2003) observa que cada exceção aceita 
ao aborto – como estupro, risco de vida para a mãe, má-formação 
– deixa claro que mesmo os conservadores não julgam que o feto 
seja uma pessoa com os mesmo direitos que as outras. Então, tra-
ta-se claramente de uma situação de recusa à autonomia da mu-
lher (MIGUEL, 2012).
Segundo a ONU (2011), a criminalização do aborto é discri-
minatória por natureza, uma vez que nega a participação plena 
27 O direito ao aborto está relacionado ao direito à vida, direito à saúde, direito à igual-
dade, direito à autonomia reprodutiva, direito a não ser submetido a tratamentos cruéis, 
desumanos ou degradantes, e direito a desfrutar dos benefícios do pregresso científico.
83
Justiça Enquanto Responsabilidade
da mulher na sociedade e viola a dignidade humana ao restrin-
gir liberdades individuais. Além disso, gera efeitos negativos para 
a saúde, resultando em mortes que poderiam ter sido evitadas28, 
uma vez que a criminalização do aborto resulta em mulheres 
procurando abortos clandestinos, e, provavelmente, inseguros29 
(ONU, 2011). Ademais, enquanto o impacto psicológico de um 
aborto ilegal ou de continuar uma gravidez indesejada é bem 
documentado, não há evidência correspondente à existência de 
sequelas de saúde mental a longo prazo resultantes do aborto le-
gal (CHARLES et al., 2008). Dessa forma, as restrições legais30 in-
fluenciam se o aborto é seguro ou não, visto que abortos inseguros 
são mais susceptíveis a ocorrer em regimes legais que restringem 
o aborto (MUNDIGO, 2006). 
Em diversos relatórios, a ONU (2011) recomenda claramente 
a descriminalização do aborto, “O acessoao aborto seguro e legal 
é um direito fundamental da mulher, independentemente do local 
em que ela vive” (OMS, 2006, p. 1, tradução nossa). Entretanto, 
apenas 42% da população mundial vive em países que permitem o 
aborto sem restrições (ONU, 2013).
Os Estados citam, mais frequentemente, dois motivos para a cri-
minalização do aborto: a saúde pública e a moralidade pública. A mo-
ralidade pública não pode servir como justificativa para a promulga-
ção ou aplicação de leis que podem resultar em violações dos direitos 
humanos, como leis destinadas a regular a conduta sexual e reprodu-
tiva e a tomada de decisão. E apesar de garantir a saúde pública ser 
um objetivo legítimo do Estado, as medidas tomadas para alcançar 
28 Estima-se que os abortos inseguros causam quase 13% de todas as mortes maternas 
globais (OMS, 2011).
29 Os ativistas antiaborto acreditam que as mulheres farão menos abortos se ele for 
proibido ou restringido, mas na prática a mulher que quer interromper uma gravidez 
não desejada encontra uma maneira de fazer isso, se o aborto for legal ou não (CENTER 
FOR REPRODUCTIVE RIGHTS, 2005).
30 “A segurança e a acessibilidade do aborto dependem em grande parte das leis e políti-
cas que o regulam. Na legislação e regulamentação sobre o aborto, os governos devem 
fazer dos direitos humanos das mulheres – os seus direitos à autonomia reprodutiva, 
igualdade e saúde – sua principal consideração. Os governos devem assegurar que o 
aborto esteja disponível sem restrições, independentemente das razões da mulher. Mas 
até mesmo leis que permitem o aborto podem comprometer a escolha das mulheres co-
locando barreiras processuais ao aborto. Exemplos de barreiras ao aborto incluem acon-
selhamento obrigatório, períodos de espera, exigência de consentimento de terceiros, 
prazos curtos, cláusulas de consciência, limitação do financiamento, restrição de pessoal 
e instalações médicas, e restrição à publicidade do aborto. Estas barreiras processuais 
são incompatíveis com os deveres dos governos de respeitar os direitos humanos das 
mulheres, e eles não devem aparecer na legislação ou regulamentação que afeta o aces-
so ao aborto” (CENTER FOR REPRODUCTIVE RIGHTS, 2004, p. 1, tradução nossa).
84
Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014
este objetivo devem ser baseadas em evidências e devem ser propor-
cionais para garantir o respeito aos direitos humanos. Quando leis 
não são nem baseadas em evidências, nem proporcionais, os Estados 
devem abster-se de usá-las para regular a saúde sexual e reprodutiva, 
uma vez que não só violam o direito à saúde dos indivíduos afetados, 
mas também contradizem a sua própria justificação (ONU, 2011).
Embora seja um assunto que suscita diversas opiniões, o acesso ao 
aborto é antes de tudo um direito humano. Onde o aborto é legal e se-
guro, ninguém é obrigado a ter um. Onde o aborto é ilegal e inseguro, 
as mulheres são obrigadas a levar uma gravidez indesejada ou sofrer 
graves consequências para a saúde, incluindo a morte (HRW, 2009). 
Há que se considerar, ainda, que no Estado Democrático de Direito 
não há problema que alguém expresse seus pontos de vista e seja con-
trário ao aborto - inclusive muitas pessoas não são a favor do aborto 
propriamente dito, mas sim a favor de que as mulheres possam de-
cidir se querem continuar uma gravidez ou não e de que a mulher 
tenha controle sobre seu próprio corpo (LEONHARDT, 2013).
Portanto, a criminalização do aborto é uma coerção específica do 
Estado sobre as mulheres, pois as leis antiaborto impedem o acesso 
pleno das mulheres ao seu próprio corpo e, por consequência, à ci-
dadania (MIGUEL, 2012). O Estado viola as liberdades individuais 
ao ditar como a mulher deve lidar com o aborto, visto que esta de-
veria ter o direito fundamental de decidir por si mesma. A opinião 
das pessoas sobre suas próprias vidas deve ser valorizadas, elas devem 
estar livres da interferência do Estado, especialmente em questões tão 
íntimas quanto a decisão de interromper uma gravidez. Em suma, os 
cidadãos devem ter o direito de tomar decisões de acordo com suas 
próprias convicções, independentemente de suas motivações.
 4.2. A criminalização da homossexualidade31
 
Todos os dias os homossexuais32, em grande parte do mundo, 
têm seus direitos humanos violados – incluindo o direito à vida, à li-
berdade, à segurança, ao reconhecimento como pessoa e à igualda-
de. Os Estados estão em diferentes fases em relação à legislação so-
bre a homossexualidade, no entanto, a maior parte continua a violar 
a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Segundo a 
31 Mesmo que os argumentos desta subseção possam abranger toda a comunidade 
LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), será tratado 
apenas de homossexuais, pois o intuito dela é exemplificar a intervenção do Estado em 
questões privadas e não explorar a fundo a orientação sexual ou a identidade de gênero.
32 Homossexual é um homem ou uma mulher “que descobriu na sua vida que é atraído 
ou atraída, emocional e sexualmente, pelo mesmo sexo; alguém que, do ponto de vista 
prático, não teve uma opção, de fato, a esse respeito” (SULLIVAN, 1996, p. 23).
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Justiça Enquanto Responsabilidade
ILGA (2013) – Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bisse-
xuais, Trans e Intersex – as relações com pessoas do mesmo sexo 
são criminalizadas em pelo menos 76 países e puníveis com morte 
em sete (Mauritânia, Sudão, Nigéria, Somália, Irã, Arábia Saudita e 
Iêmen). Em contraste, apenas 14 países possuem leis que protegem 
os homossexuais da discriminação (ILGA, 2013).
As possíveis soluções para os abusos dos direitos humanos 
contra os homossexuais esbarram, frequentemente, em barreiras 
religiosas. Em países em que a religião tem forte influência políti-
ca, a homossexualidade é severamente condenada. Alguns países 
adotam, inclusive, para as relações entre pessoas do mesmo sexo, 
penalidades que violam as leis internacionais. Nas palavras do se-
cretário-geral da Organização das Nações Unidas Ban Ki-moon:
Quando indivíduos são atacados, abusados ou aprisionados por 
causa de sua orientação sexual, devemos nos pronunciar. Onde há 
tensão entre atitudes culturais e direitos humanos universais, os di-
reitos humanos universais devem vir em primeiro lugar. Desapro-
vação pessoal, até mesmo a desaprovação da sociedade, não é des-
culpa para prender, deter, aprisionar, perseguir ou torturar alguém 
(EACDH, 2010, tradução nossa).
O Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos 
(1948) estabelece que “todos os seres humanos nascem livres e 
iguais em dignidade e em direitos”33, incluindo a liberdade de fa-
zer tudo aquilo que não causa dano aos outros. Dworkin (2007) 
esclarece que o dano não pode ser apenas um mal-estar fundado 
na tradição e no preconceito. Então, em respeito aos direitos hu-
manos, não cabe ao Estado intervir em uma questão tão indivi-
dual quanto a orientação sexual de uma pessoa. Assim, a questão 
central não é a criação de novos direitos para os homossexuais, 
mas sim que eles tenham seus direitos humanos garantidos.
Contudo, um dos maiores obstáculos para alcançar a igualda-
de plena de direitos para os homossexuais é, sobretudo, a ordem 
heteronormativa, que toma a heterossexualidade como natural e 
toda outra expressão de sexualidade como antinatural. Nesse sen-
tido, a homofobia surge como consequência da heteronormativi-
dade. Isto é, ela é a própria manifestação do preconceito contra o 
dito antinatural (BORRILLO, 2010).
Então, a ordem dita natural é uma ordem sexista, pois privilegia 
determinado gênero ou orientação sexual em detrimento de ou-
33 Todos os seres humanos deveriam desfrutar dos seus direitos humanos independen-
temente da sua orientação sexual ou identidade de gênero (ONU, 1948).
86
Simulação das Nações Unidas para Secundaristas– 2014
tro gênero ou orientação sexual, perpetuando, assim, estereótipos 
(YOUNG, 1990). Consequentemente, estes estereótipos estabele-
cem e alimentam as normas da sociedade, como a própria crimina-
lização da homossexualidade e do aborto, como abordado na subse-
ção anterior, e acabam violando os direitos humanos (ONU, 2011).
Dessa forma, o sexismo é condenado não por ditar que outro 
estatuto é superior “mas por negar a validade de todos os estatutos 
particulares e por considerar que esses estatutos são quase sempre 
criações imaginárias, destinadas a privar os indivíduos empíricos 
de suas prerrogativas como titulares de direitos universais” (ROU-
ANET, 2001, p. 89). Assim, é necessário que todas as identidades 
e formas de experiência de vida sejam tratadas como equivalentes.
Portanto, a luta homossexual não é a luta pelo convencimen-
to da maioria quanto ao valor de uma minoria, mas a luta pelo 
pluralismo e pelo reconhecimento da diversidade (LOPES, 2005). 
As pessoas têm o direito de desaprovar a homossexualidade, e de 
expressarem sua desaprovação, mas não têm o direito de usar a 
lei para violar os direitos dos demais seres humanos apenas por 
desaprovarem seus comportamentos. A criminalização da homos-
sexualidade é uma grave violação às liberdades individuais e cabe 
ao Estado garantir e valorizar a pluralidade e garantir a diversi-
dade. Por isso, o Estado deve garantir a liberdade das pessoas de 
buscarem seu próprio bem, da sua própria maneira, desde que não 
impeçam ninguém de fazer o mesmo (MILL, 1974).
5. Considerações finais
Conforme observado, a concepção de direitos humanos sur-
ge na Idade Média para libertar o indivíduo de um sistema so-
cial opressor (HOBSBAWM, 2004). No contexto do pós-Segunda 
Guerra Mundial surge a Organização das Nações Unidas, que ela-
bora a Declaração Universal dos Direitos Humanos para proteger 
as liberdades individuais, inclusive daqueles que não espelham a 
maioria (FACCHI, 2011). A universalidade desses direitos é ques-
tionada, uma vez que a própria ideia de direitos subjetivos indi-
viduais não é bem aceita em sociedades onde as pessoas tem sua 
autonomia relativizada em prol da família, da classe ou do clã nos 
quais estão inseridas. No entanto, os direitos humanos são cada 
vez mais difundidos pelo mundo dentro de cada sociedade, uma 
vez que representam um poderoso veículo de reivindicações e de 
legitimação das escolhas políticas (FACHI, 2011).
A comunidade internacional objetiva, também, estabelecer 
limites à atuação dos Estados e buscar fundamentos para tais li-
87
Justiça Enquanto Responsabilidade
mites, para que não se observe outra vez na história a acenção de 
regimes que, em nome da obediência à lei e à ordem, negam direi-
tos fundamentais a uma parcela da humanidade (FACCHI, 2011). 
O Estado deve conciliar liberdades individuais e interesses 
sociais, estabelecendo limites a serem observados por ele e seus 
agentes, de forma que não haja danos aos demais, tampouco im-
pedimento para que as pessoas exerçam sua própria liberdade 
(AZEVEDO LOPES, 2006). O direito penal, por exemplo, não 
deve intervir na vida privada ou impor um padrão de compor-
tamento, devendo se restringir a preservar a ordem pública e a 
preservar aqueles que se encontram em situação de vulnerabili-
dade (DEVLIN apud KELLY, 2010). Desta forma, apesar de repre-
sentantes do povo e expressão de sua vontade, o legislador não é 
soberano absoluto, também ele deve observar limites.
Conforme abordado na última sessão, o Estado, ao criminalizar 
o aborto, intervém nas liberdades individuais da mulher, uma vez 
que restringe sua autonomia sobre seu corpo e a sujeita a riscos de 
saúde desnecessários, provocados pelas complicações dos abortos 
realizados de forma precária (ONU, 2011). Ao contrário do homem, 
a mulher é proibida de exercer o arbítrio sobre seu corpo e é obri-
gada a ser um instrumento para um fim alheio (MIGUEL, 2012). 
Tampouco cabe ao Estado intervir em uma questão intrinsi-
camente individual como a orientação sexual da pessoa. Deve-se 
respeitar a liberdade de fazer tudo aquilo que não causa dano aos 
outros, como relacionar-se afetivamente com uma pessoa do mes-
mo sexo. O dano que se queira evitar não pode ser apenas um mal
-estar fundado na tradição e no preconceito (DWORKING, 2007).
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