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AD2 Fernando Pessoa

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Aluna: Elisandra Ramos de Carvalho Matricula: 
Polo: Itaperuna
AD2 de Literatura Portuguesa II
Autopsicografia
O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente 
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente. 
E os que lêem o que escreve, 
Na dor lida sentem bem, 
Não as duas que ele teve, 
Mas só a que eles não têm. 
E assim nas calhas de roda 
Gira, a entreter a razão, 
Esse comboio de corda 
Que se chama coração. 
(PESSOA, 2006, p.164)
O poema “Autopsicografia”, de Fernando Pessoa é um dos poemas mais conhecidos, sendo considerado com espécie de arte poética.
Pessoa rompe com os moldes românticos da época, na medida em que se opõe as concepções adotadas de que a poesia e a arte eram produtos da inspiração e seus textos vistos como manifestações expressas de suas emoções e sentimentos. Entende que tais manifestações quando convertidas em linguagem, configuram apenas uma recriação, um fingimento, pois a escrita é incapaz de expressar a realidade como ela é de fato, apesar de sempre partir de um evento real, proclamando, dessa forma, a crise da mimeses, convertendo tudo em ficção.
Constata-se que Fernando Pessoa possui um entendimento peculiar sobre a mimeses, diferentemente de Platão e de Sócrates. Para Patão a poesia não representa a realidade (verdades absoluta), mas sim as coisas falsas (coisas do mundo sensível), imitando algo que já é imitação da imitação. Já para Aristóteles a imitação é proveniente da experiência, pois é através dela em que um individuo precisa saber e conhecer determinado tema, para depois “imitar”. 
Fernando Pessoa entende o fingimento como princípio de toda criação poética. O fingimento abordado no poema “Autopsicografia”, mas especificadamente no verso “O poeta é um fingidor.”, não esta fazendo referência ao ato de fingir ou mentir, mas sim ao fato de que ele possui a capacidade de transformar os seus sentimentos (internos), passando a ter um outro modo de sentir artisticamente e , com isso demonstrar e abordar várias emoções.
As emoções/sentimentos relatados no poema partem de um sentimento de dor ,que muitas vezes é real (“A dor que deveras sente”), fazendo com que o leitor compartilhe e sinta essa dor, não aquela em que o poeta sentiu ou que fingiu, mas sim a dor derivada da interpretação oriunda de sua leitura. Essa “dor” deixa de ser um sentimento e ao ser transportada para a linguagem passa a ser um recriação, um fingimento, podendo ser classificada em dor sentida (dor inicial), dor fingida (aquela dor recriada pelo poeta através da linguagem), dor lida (aquela em que o leitor projeta com a leitura) e dor não tida ( aquela que o leitor não tem), presentes na segunda estrofe.
Assim, a teoria do fingimento poético consiste na transformação intelectual do pensamento, onde o poeta finge completamente uma dor, uma emoção que não é vivida nem por ele próprio nem por quem a demonstrou artisticamente, sendo apenas emoções refletidas pelo poema.
Ressalta-se que além do poeta o leitor também é tido como um fingidor, pois ao ler o que o poeta escreveu, acaba recriando sensações. 
Por último, temos na terceira estrofe a retratação da emoção e da razão, na medida em que descreve o coração como um comboio de corda, que gira, a entreter, brincar, divertir a razão. 
Podemos concluir que o fingimento aqui retratado não é simplesmente o ato de mentir ou fingir, está além disso. É pura e simplesmente uma forma diferenciada de perceber (ser) e sentir as emoções e sentimentos, dando vida a cada uma.
Referências bibliográficas:
https://www.culturagenial.com/poema-autopsicografia-de-fernando-pessoa/ > Acesso em 24 abr.2018
Literatura PortuguesaII: volume 2/Ida Alves...[et al.] – Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2015.
http://ideiasemportugues.blogspot.com.br/2009/09/fernando-pessoa-ortonimo-teoria-do.html> Acessso em 24 abr.2018

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