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Como citar o capítulo: 
Carlos Henrique de Marchi 
Moacir Fernandes de Godoy 
Sírio Hassem Sobrinho 
Ulisses Alexandre Croti 
D f . . -e 1 n 1 ça o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
Preva lência/incidência ......... ... ......... ... ... . . 
Et iologia ....... ... ......... ... .......... ... ... . 
Dados hist óricos ... .......... ... ......... ... .... . 
Morfologia .... .... ......... ... ......... .... ... . 
Quadro clínico . . ... .......... ... ......... ... .... . 
História natural . ... .......... ... ......... ... .... . 
Exames complementares ...... ... .......... ... .... . 
Tratamento .... ... .......... ... ......... ... ... . . 
A . -ssoc1açoes .... ... .......... ... ......... ... .... . 
Compl icações . .. ... .......... ... ......... ... .... . 
Resultados . .... ... .......... ... ......... ... .... . 
402 
402 
402 
402 
403 
404 
405 
407 
413 
421 
421 
421 
De Marchi CH, Godoy MF, Hassem Sobrinho S, Croti UA. Comunicação interventricular. ln: Croti UA, Mattos SS, Pinto Jr. VC,Aiello VD, 
Moreira VM. Cardiologia e cirurgia cardiovascular pediátrica. 2ª ed. São Paulo:Roca;2012. p. 401-22. 
402 - COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR 
Definição 
A comunicação interventricular (CIV) é a forma mais comum de 
cardiopatia congênita, caracterizando-se anatornicarnente pela 
presença de um ou mais orifícios, de tamanho e forma variáveis, 
no septo interventricular e fisiopatologicamente pela possibilidade 
de passagem de sangue da câmara ventricular com maior pressão 
para a câmara ventricular com menor pressão. Na grande maioria 
das vezes, essa passagem se faz da câmara ventricular esquerda 
em direção à câmara ventricular direita. Aproximadamente 50% 
dos casos se associam com outras alterações anatômicas cardio-
vasculares. No presente capítulo serão feitas considerações apenas 
em relação à CIV simples ou múltipla, mas que se apresente de 
forma isolada. 
Na língua inglesa, recebe a denominação de ventricular septal 
defect (VSD), embora sejam encontradas também muitas referên-
cias com a denominação de interventricular communication. 
Prevalência/ incidência 
A prevalência varia principalmente de acordo com a faixa etária 
estudada e o arrnamentário diagnóstico utilizado. De qualquer 
forma, em praticamente todas as estatísticas, a CIV é a cardiopatia 
congênita mais frequente, quando não se considera a valva aórtica 
bivalvulada isolada corno cardiopatia, com valores variando de 1 O 
a cerca de 40%. 
Samanek e Voriskova, em análise de 816 .559 crianças nascidas 
vivas entre 1980 e 1990, com auxílio de exame ecocardiográfico 
e comprovação por necropsia nos pacientes que foram a óbito, 
encontraram 5.030 casos de cardiopatia congênita (6,16 casos por 
1.000 nascidos vivos), o que corresponde a urna incidência de O ,6 
casos por 1.000 nascidos vivos por ano, sendo cerca de 42% de-
correntes de CIV, bem distante dos aproximadamente 9% em 
45 
40 
35 
30 
25 
20 
15 
10 
5 
o 
41,59 
8,67 
5,81 5,29 
0 CIV 
O CIA 
0 EAo 
0 EP 
0 TGA 
O CoAo 
O PCA 
Figura 24.1 - Prevalência de cardiopatias congênitas em 
816.559 crianças nascidas vivas entre 1980 e 1990 (modi-
f icado de Samanek e Voriskova, 1999). CIA = comunicação 
interatrial; CIV = comunicação interventricular; CoAo = 
coarctação da aorta; EAo = estenose aórtica; EP = estenose 
pulmonar; PCA =persistência de canal arterial; TGA = trans-
posição das grandes artérias. 
decorrência de comunicação interatrial, a segunda cardiopatia mais 
frequente (Figura 24.1). 
A grande maioria dos autores concorda que não há predile-
ção de sexo ou raça na ocorrência dessa malformação, embora 
Sands et al. tenham constatado ocorrência significativamente maior 
(P = O ,004) em neonatos de baixo peso do sexo f erninino. 
Etiologia 
Embora não haja evidência concreta de que o defeito seja herdado 
geneticamente, a recorrência de cardiopatia congênita na gestação 
de mãe que apresenta filho com CIV é de 6 a 10%. Em mais de 
95% dos casos não está associado a anormalidades cromossômicas 
e a causa é desconhecida. Sands et al., avaliando prospectivarnente 
com auxílio de exame ecocardiográfico 3 .971 neonatos de baixo 
risco, encontraram 173 (4,36%) portadores de CIV, sendo apenas 
1 O perirnernbranosas e todas as restantes do tipo apical ou mus-
cular. Em comparação com um grupo-controle de neonatos sem 
qualquer alteração ecocardiográfica, não notaram diferenças em 
termos de tabagismo ou consumo de álcool matemo, idade ma-
terna, idade gestacional, paridade, ou abortamentos prévios. 
Houve, porém, diferença sazonal com estatisticamente menos 
casos de CIV nascidos no verão (P = 0,04). Em termos etiológicos, 
um componente rnultifatorial, com interação entre predisposição 
hereditária e influências ambientais, parece ser o mais provável. 
A ocorrência de CIV já foi relacionada com a rubéola, tendo sido 
também descrita em recém-nascidos de mães que ingeriram tali-
domida no período inicial da gestação. 
Dados históricos 
Urna das primeiras descrições das manifestações clínicas da CIV é 
devida a Henri Roger, que em 1879, com base em pequeno grupo 
de pacientes entre 6 meses e 50 anos de idade, relatou as caracte-
rísticas auscultatórias dessa cardiopatia e chamou a atenção para a 
baixa ocorrência de sintomas, embora nenhum de seus pacientes 
tenha recebido confirmação diagnóstica pela necropsia. Apesar 
disso, seu nome está ligado à designação eponírnica da doença 
(doença de Roger), reservando-se essa denominação, de forma 
geral, às comunicações interventriculares localizadas na porção 
muscular do septo e que costumam evoluir de forma mais benigna. 
Em 1897, Victor Eisenrnenger descreveu o caso de homem de 
32 anos de idade, cianótico, que foi a óbito por hemorragia maciça 
e à necropsia apresentava grande CIV. Paul Hamilton Wood, em 
1958, utilizou o termo "complexo de Eisenrnenger" para casos de 
grande CIV que cursaram com aumento significativo da pressão 
e resistência vascular pulmonar com consequente inversão de 
fluxo pelo defeito, que passaria, portanto, a ser da direita para a 
esquerda, produzindo queda da saturação sistêrnica de oxi-
gênio. Atualmente, usa-se de modo genérico o termo síndrome 
de Eisenrnenger para todos os defeitos de septação cardíaca ou de 
Vl 
' 00 
N -' -"1" 
Vl 
00 
' 00 r-
0\ 
comunicação entre as grandes artérias acompanhados de doença 
vascular pulmonar com inversão de fluxo. 
As primeiras correções cirúrgicas com sucesso em uma série 
de pacientes portadores de CIV se devem aos doutores C. Walton 
Lillehei e Richard de Wall, nas décadas de 1950 e 1960. 
Morfologia 
Grosso modo, os defeitos do septo interventricular podem ser clas-
sificados em musculares e membranosos. Os defeitos chamados 
membranosos, porém, não se restringem apenas a essa região do 
septo interventricular, com frequência envolvendo alguma parte 
do septo adjacente, daí a denominação também corrente de comu-
nicações interventriculares perimembranosas. Do ponto de vista 
morfológico, a classificação proposta por Anderson tem larga 
aceitação por sua praticidade e é utilizada por grande parte dos 
ecocardiografistas, hemodinamicistas e cirurgiões. Assim, de acor-
do com essa abordagem, os defeitos do septo interventricular 
podem ser agrupados em três tipos, conforme verificado na Figu-
ra 24.2, a saber: 
• Defeitos perimembranosos: 
- Com extensão para a via de entrada. 
- Com extensão para a porção trabecular. 
- Com extensão para a via de saída. 
Anel da valva 
tricúspide 
Duplamente 
relacionada 
VCS--
VCI--- Muscular de via 
de entrada 
COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR - 403 
• Defeitos musculares: 
- Da via de entrada. 
- Trabeculares. 
- Da via de saída. 
• Defeitos duplamente relacionados ou justarteriais. 
As comunicaçõesinterventriculares perimembranosas corres-
pondem à grande maioria dos defeitos, sendo encontradas em 
cerca de 80% das necropsias ou operações. Localizam-se na via 
de saída do ventrículo esquerdo logo abaixo da valva aórtica e se 
observadas pela face ventricular direita estarão abaixo da crista 
supraventricular e posterior ao músculo papilar do cone (e o nus). 
Os defeitos perimembranosos podem envolver quantidade variável 
de tecido muscular adjacente e, desta forma, estenderem-se para 
via de entrada, porção trabecular, ou via de saída. 
Alguns defeitos perimembranosos apresentam graus variáveis 
de desalinhamento entre os septos infundibular e anterior, produ-
zindo cavalgamento da aorta. Desalinhamento posterior entre os 
septos também pode ocorrer e produzir estenose subaórtica, que 
pode estar associada a doenças com obstrução do arco aórtico. 
Nos corações com defeitos perimembranosos, a valva tricúspide 
pode sofrer pequenas alterações decorrentes provavelmente da 
lesão de jato e também participar do mecanismo de fechamento 
espontâneo, como será discutido adiante. Quando a comissura do 
septo da valva tricúspide tem implantação anormal, pode ocorrer 
passagem de sangue do ventrículo esquerdo para o átrio direito, 
TP 
Muscular de via 
de saída 
Perimembranosa de 
via de entrada 
Muscular 
trabecular 
-
Figura 24.2 - Classificação morfológica dos defeitos do septo interventricular com base na proposição de Anderson. Ao= 
aorta; TP =tronco pulmonar; VCI = veia cava inferior; VCS =veia cava superior. 
404 - COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR 
além do ventrículo esquerdo para o ventrículo direito. A comuni-
cação isolada entre o ventrículo esquerdo e o átrio direito é urna 
condição rara. 
Os defeitos interventriculares do tipo justarterial ou dupla-
mente relacionados situam-se anatomicamente acima da crista 
supraventricular, logo abaixo da valva pulmonar e da válvula 
coronariana direita da valva aórtica, sendo responsáveis por 8 a 
10% dos casos. Sabe-se que em japoneses a ocorrência desse tipo 
anatômico é bem mais frequente, podendo chegar a 30% dos casos 
de CIV. Os defeitos justarteriais podem apresentar extensão para 
o septo membranoso. 
As comunicações que envolvem a via de entrada do septo in-
terventricular compreendem cerca de 10 a 15% dos defeitos, são 
mais posteriores e inferiores que os defeitos perirnernbranosos e 
localizam-se abaixo do folheto do septo da valva tricúspide, in-
feriormente ao músculo papilar do cone. Os defeitos chamados do 
tipo canal atrioventricular devem ser diferenciados e constituem 
um capítulo à parte, pois fazem parte do defeito do septo atrio-
ventricular, em que em geral há anormalidades das valvas 
atrioventriculares e o sistema de condução não apresenta a mesma 
localização dos defeitos perirnernbranosos. 
Os defeitos musculares são muitas vezes múltiplos e correspon-
dem a 5 a 20% dos defeitos achados nas operações ou necropsias. 
Os localizados na região apical são de difícil visibilização pelo 
lado ventricular direito em razão da grande quantidade de trabé-
culas nessa região. 
O tamanho das comunicações interventriculares é bastante 
variável, podendo ir de 1 a cerca de 25 mm. O mais adequado, 
porém, é relacionar o tamanho da CIV ao diâmetro do anel aórtico 
medido no ecocardiograrna, classificando-se com isso os defeitos 
em pequenos (inferiores a 25% do diâmetro do anel aórtico), 
médios (25 a 75% do diâmetro do anel valvar aórtico) e grandes 
(acima de 75% do diâmetro do anel valvar aórtico). De forma 
geral, mas havendo exceções, os defeitos de tamanhos médio ou 
grande situam-se nas regiões membranosa ou perimernbranosa do 
septo, ao passo que os defeitos pequenos se restringem mais à 
região muscular. 
Quadro clínico 
O quadro clínico é variável e depende principalmente do tamanho 
da CIV e do grau de resistência arteriolar pulmonar. 
Um dos elementos característicos no diagnóstico clínico da CIV 
é a presença de sopro sistólico bastante evidente, em geral acom-
panhado de frêmito, do terceiro ao quinto espaço intercostal, na 
região paraestemal esquerda, com irradiação em faixa semelhante 
à direção do fluxo. A intensidade da segunda bulha dá indicação 
indireta da pressão arterial pulmonar, podendo ser bastante forte 
nos casos em que há hipertensão nesse território. O sopro, ca-
racteristicamente, aparece apenas depois de queda suficiente da 
resistência arteriolar pulmonar normalmente presente no período 
neonatal, permitindo assim a passagem livre de sangue da cavidade 
ventricular esquerda para a direita. Nesse sentido, o aparecimento 
de sopro é tão mais precoce quanto menor o defeito, pois nessas 
condições a queda da resistência arteriolar pulmonar também se 
dará em prazo mais rápido. 
Comunicação interventricular 
de pequeno tamanho 
Nas CIV de pequeno tamanho, o pequeno orifício oferece resis-
tência ao livre fluxo da esquerda para a direita, daí a denomi-
nação de defeitos restritivos. Nesses casos, a pressão sistólica 
ventricular direita é normal ou muito pouco elevada e o fluxo 
pulmonar raramente excederá urna vez e meia o fluxo sistêmico. 
O quadro clínico nesses casos é pouco expressivo e grande parte 
dos portadores costuma ser assintornática, sendo o diagnóstico 
muitas vezes feito apenas após exame ocasional de rotina para 
esclarecimento de um sopro. O sopro quase sempre é apenas pro-
tossistólico ou protornesossistólico e não costuma se acompa-
nhar de sopro de enchimento ventricular esquerdo. A segunda 
bulha no foco pulmonar é normal. 
Comunicação interventricular 
de tamanho moderado 
Quando a CIV é de tamanho moderado, a pressão sistólica ven-
tricular direita em geral está elevada, mas não costuma superar o 
equivalente à metade da pressão sistólica ventricular esquerda, 
fazendo com que o fluxo pulmonar seja cerca de duas e meia a 
três vezes maior que o fluxo sistêmico. Em termos de sintomas, 
estes se apresentam em intensidade intermediária com relação aos 
extremos característicos dos defeitos pequenos e grandes, sendo 
de forma geral bem tolerados. 
Comunicação interventricular 
de grande tamanho 
Nas comunicações interventriculares de grande tamanho há pouca 
ou nenhuma resistência ao fluxo da cavidade ventricular esquerda 
para as câmaras direitas, o que caracteriza o defeito corno não res-
tritivo. Dessa forma, a pressão sistólica ventricular direita se 
iguala à do ventrículo esquerdo, ficando a relação entre o fluxo 
pulmonar e o sistêmico (QP/QS) dependente do grau de resistência 
arteriolar pulmonar. Nas comunicações interventriculares de gran-
de tamanho, o sopro costuma ser holossistólico, em geral acom-
panhado de sopro diastólico de enchimento ventricular esquerdo, 
audível no foco mitral, decorrente do fluxo pulmonar aumentado. 
A intensidade da segunda bulha no foco pulmonar se eleva depen-
dendo do grau de hipertensão pulmonar. As grandes comunicações 
em geral são diagnosticadas em faixas etárias mais precoces,justa-
rnente pela existência do sopro característico associado a sintomas 
de insuficiência cardíaca, baixo ganho de peso, infecções pulmo-
nares de repetição e alterações em exames complementares. 
História natural 
Fechamento espontâneo 
Curiosamente, a famosa precursora do diagnóstico e do tratamento 
das cardiopatias congênitas, Dra. Helen B. Taussig, afirmava em 
seu livro Malformaciones congenitas del corazón nunca ter tido 
a oportunidade de constatar em algum dos laboratórios de anato-
mia patológica à sua disposição o fechamento espontâneo de urna 
CIV, concluindo de forma equivocada que "se o sopro desaparece, 
com toda probabilidade o diagnóstico original era errôneo" e que 
"um defeito do septo interventricular persiste por toda a vida". 
Cerca de urna década depois, porém, surgiram vários relatos con-
firmando amplamente aquela possibilidade. 
A avaliação combinada de váriosestudos mostra que a proba-
bilidade de fechamento espontâneo varia de 23 a 79% dos casos, 
devendo-se destacar que existem diferenças na taxa de ocorrência 
de fechamento espontâneo de acordo com a localização anatômica 
do defeito. Assim, os defeitos localizados na região perirnernbra-
nosa têm taxas de fechamento variando de 15 a 44 % , ao passo que 
os musculares exibem valores mais altos, entre 42 e 88%. O me-
canismo de fechamento espontâneo dos defeitos perirnernbranosos 
parece estar relacionado com o crescimento de tecido acessório 
do folheto do septo da valva tricúspide, podendo algumas vezes 
f armar os chamados aneurismas do septo membranoso. Já os 
defeitos do tipo muscular podem apresentar fechamento espon-
tâneo a partir do crescimento progressivo de tecido nas bordas da 
face ventricular direita do defeito. 
Sopro sistólico 
.. 
Diminuição da duração 
ECG 
COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR - 405 
Tomita et al., no Japão, contribuíram com informação relevante 
a respeito do fechamento espontâneo, mais especificamente das 
CIV do tipo via de saída. Corno já assinalado, esse tipo de CIV é 
bastante frequente em japoneses. Relataram a observação de 
expressiva série de 742 pacientes com diagnóstico clínico e eco-
cardiográfico de CIV do tipo via de saída, dos quais 450 com 
idades entre 1 mês e 65 anos (8 ± 11 anos) foram seguidos por 
pelo menos 1 ano (1a18 anos) . Desses 450 pacientes, apenas 17 
(3 ,8 % ) fecharam de modo espontâneo e, caracteristicamente, isso 
aconteceu somente em defeitos de pequeno tamanho, chamando 
atenção para a diferença de comportamento em relação aos demais 
• A • tipos anatormcos. 
Turner et al. procuraram correlacionar o tamanho e a posição dos 
defeitos septais ventriculares isolados com a taxa de fechamento 
espontâneo em um grupo de 68 crianças, diagnosticadas ao nasci-
mento e tendo confirmação por ecocardiografia, acompanhadas 
por mais de 6 anos. Nesse grupo, 49 apresentavam defeitos de 
pequeno tamanho, 14 tinham defeito de tamanho moderado e 
cinco eram grandes. Do total, 35 fecharam de modo espontâneo 
ao longo do seguimento (cerca de um terço dos perirnernbranosos 
e pouco mais de dois terços dos musculares). Concluíram que a 
posição do defeito é extremamente relevante em termos de história 
natural, pois os localizados na região perirnernbranosa relaciona-
ram-se mais às comunicações de tamanho moderado ou grande 
que necessitaram de intervenção cirúrgica. 
Lien et al. enfocaram a influência de aspectos hernodinârnicos 
na interpretação da história natural da CIV isolada. Para tanto, 
Intensidade igual ou aumentada 
ECG 
Normal HVD Normal HVE HVD 
Fechamento 
parcial 
Hipertensão 
pulmonar 
Fechamento 
parcial 
Condição 
inalterada 
Estenose 
infundi bular 
reativa 
Figura 24.3 - Algoritmo para avaliação e seguimento de pacientes portadores de comunicação interventricular, tomando 
como parâmetros as características do sopro e o padrão eletrocardiográfico (modificado de Fernández et ai., 2004). ECG = 
eletrocardiograma; HVD =hipertrofia ventricu lar d ireita; HVE =hipertrofia ventricu lar esquerda. 
406 - COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR 
acompanharam 32 pacientes (de 2 meses a 20 anos e meio; média 
de 3 anos e meio) que tinham dois ou mais estudos hemodinâmicos 
(intervalo médio de 4 anos e 8 meses), não incluindo pacientes 
com desvio associado, com gradientes transvalvares pulmonares 
acima de 1 O rnmHg, ou pacientes com saturação venosa pulmonar 
abaixo de 90%. Do total, 17 (53,l %) mostraram redução na im-
portância funcional do defeito caracterizada por diminuição no 
valor da relação entre a pressão sistólica pulmonar e a pressão 
sistólica sistêmica e também diminuição no grau de desvio da 
esquerda para a direita e na relação entre fluxo pulmonar e fluxo 
sistêmico. Essa redução funcional foi igualmente frequente em 
crianças abaixo de 6 meses ou acima de 1 ano. Além disso, da-
queles 17 pacientes com redução na importância funcional do 
defeito, 15 (88%) tiveram redução relativa na taxa de resistência, 
o que confirma a melhora hemodinâmica ao longo da evolução. 
Vale ressaltar que dentre 14 pacientes que não exibiram redução 
funcional do defeito, 5 (36%) tiveram alterações para menos na 
resistência arteriolar pulmonar, consistentes em maturação normal 
do leito vascular pulmonar, e outras 5 (36%) apresentaram de-
créscimo retardado em relação ao esperado para a faixa etária, 
caracterizando maturação retardada do leito vascular pulmonar. 
Assim, dos pacientes que não mostraram redução funcional do 
defeito ao longo da evolução, 4 (28%) tiveram manutenção ou 
progressão da resistência arteriolar pulmonar. 
Femández et al. sugerem um algoritmo interessante e prático 
no auxílio da avaliação e do seguimento de pacientes portadores 
de CIV, tomando como parâmetros as características do sopro e o 
padrão eletrocardiográfico (Figura 24.3), destacando-se que a 
redução da duração do sopro na concomitância de hipertrofia 
ventricular direita pode indicar piora da condição (hipertensão 
pulmonar) e, por outro lado, um aumento de intensidade do sopro, 
se em conjunto com normalização do eletrocardiograma, aponta 
para fechamento parcial do defeito. 
Síndrome de Eisenmenger 
A síndrome de Eisenmenger consiste na forma mais avançada de 
hipertensão arterial pulmonar associada à cardiopatia congênita e 
deve-se à disfunção endotelial desencadeada pelo hiperfluxo pul-
monar. O aumento do fluxo produz estiramento circunferencial e 
tensão de cisalhamento no leito vascular pulmonar, o qual sofre 
remodelamento com proliferação de células musculares lisas, au-
mento da matriz extracelular e trombose intravascular. O resul-
tado final é o aumento da resistência vascular pulmonar com a 
inversão do fluxo pela CIV. 
Nesses casos, há cianose, baqueteamento de dedos, policitemia 
e aumento da viscosidade sanguínea. Os sintomas mais comums 
são dispneia, fadiga, tontura e síncope. No exame físico especí-
fico do coração, nota-se que a segunda bulha é única no foco 
pulmonar e encontra-se bastante aumentada de intensidade, sen-
do muitas vezes palpável, ao passo que o sopro e o frêmito 
provocados pela CIV podem nem existir ou ser pouco significa-
tivos. Em virtude do aumento da pressão no território pulmonar, 
sopros de insuficiência pulmonar (sopro de Graham Steel) e in-
suficiência tricúspide podem ocorrer. 
Os pacientes que sobreviverem às grandes CIV sem tratamento 
cirúrgico podem evoluir para essa síndrome em até 50% dos casos. 
A sobrevivência nessa síndrome é inferior à da população geral, 
embora muitos pacientes possam viver por longos períodos. A 
idade do óbito é em tomo da quarta década. Comparando com a 
hipertensão pulmonar idiopática, os pacientes com a síndrome de 
Eisenmenger têm melhor prognóstico. 
As complicações sistêmicas que podem ocorrer nesta síndrome 
são: acidente vascular cerebral, abscesso cerebral, gota úrica, osteo-
patia hipertrófica, escoliose, calculose de vesícula, hemoptise, 
alterações renais, distúrbios de coagulação, doença renal e arritmias. 
As principais causas de mortalidade são: morte súbita (30%), 
insuficiência cardíaca (25%) hemoptise (15% ), doença infecciosa, 
gravidez e cirurgia não cardíaca. A pressão atrial direita acima de 
7 rnmHg e o fluxo sistêmico reduzido (menor que 2,9 f /min) esti-
veram associados de modo independente com a mortalidade. 
Medidas terapêuticas gerais incluem evitar exercícios intensos 
e competitivos, altas altitudes e desidratação. Recomenda-se pro-
filaxia de endocardite e prevenção de infecções com vacinação 
antipneumocócica e influenza. Há alto risco de complicações em 
anestesia e cirurgia não cardíaca. 
A gravidez não deve ser permitida na síndrome de Eisenmenger, 
pois há risco de morte materna de até 50%. Altas taxas de ocor-
rência de abortamentos espontâneos (35,8%) e anormalidadescardíacas fetais (20%) também podem ocorrer. 
Atualmente, a hemodiluição tem indicação restrita aos pacien-
tes com sintomas relacionados com a hiperviscosidade e hemató-
crito superior a 65%. Deve-se ter cuidado em repor o volume de 
sangue retirado com soluções isotônicas e evitar a deletéria de-
pleção de ferro . 
Não há consenso quanto à administração crônica de oxigênio. 
Apesar de poder melhorar alguns sintomas, os estudos não com-
provaram melhora de sobrevida. 
A anticoagulação oral é controversa devido ao risco de sangra-
mento. Pode ser discutida nos casos de fibrilação atrial ou 
presença de trombo em tronco pulmonar nos pacientes de baixo 
• nsco. 
Os bloqueadores dos canais de cálcio não devem ser utilizados 
na síndrome de Eisenmenger, pois podem provocar síncope e 
morte súbita por diminuírem a pressão arterial sistêmica aumen-
tando o fluxo direita-esquerda. Deve-se ter cuidado com o uso de 
diuréticos para evitar hiperviscosidade sanguínea. O digital pode 
ser utilizado para controle da resposta ventricular na presença de 
fibrilação atrial. 
Com os recentes avanços no conhecimento da fisiopatologia da 
disfunção endotelial, a possibilidade de se intervir nesse processo 
tem aberto um novo horizonte no tratamento da síndrome de 
Eisenmenger. A terapia direcionada ou avançada com prostanoides 
(epoprostenol, teprostinil), inibidores da endotelina (bosentana) e 
inibidores da fosfodiesterase (sildenafila, tadalafila) tem obtido 
resultados animadores na melhora hemodinâmica e na tolerância 
, . . 
ao exerc1c10 nesses pacientes. 
Endocardite infecciosa 
A endocardite infecciosa é uma das potenciais complicações em 
pacientes portadores de CIV. A endocardite é seis vezes mais fre-
quente nos pacientes com CIV do que na população geral apre-
sentando incidência de 2 casos por I .000 pacientes ao ano. Nesses 
pacientes, a doença se exterioriza com pneumonia, pois a vegeta-
ção se localiza no ventrículo direito ou na valva tricúspide. 
Corone et al. relatam o seguimento de 790 pacientes portadores 
de CIV mantidos sem intervenção cirúrgica por até 25 anos (segui-
mento médio de 6 anos),perfazendo um total de 4.7I7 pacientes-
-ano. Nesse grupo, a incidência de endocardite infecciosa foi de 
2,4 casos por I .000 pacientes-ano, equivalente a uma frequência 
de ocorrência de 3,7%. Recentemente, Glen et al., acompanhando 
I .I27 pacientes nos quais foi diagnosticada CIV isolada, sendo 
862 (76%) perimembranosas e 265 (24%) musculares, concluíram 
que o risco de endocardite é baixo em populações informadas 
sobre a necessidade de uso profilático de antibióticos por ocasião 
de procedimentos. Di Filippo et al. detectaram apenas 36 casos de 
endocardite infec.ciosa entre I 966 e 2002 em pacientes com CIV, 
II dos quais já haviam sido operados. Concluem que a endocar-
dite infec.ciosa pode comprometer de modo grave a evolução 
habitualmente benigna da CIV e que o reparo cirúrgico reduz a 
possibilidade dessa ocorrência, mas não a elimina, provavelmente 
em decorrência da concomitância de pequenas anomalias asso-
ciadas, sendo de vital importância a profilaxia antibiótica e o 
diagnóstico de processos infecciosos latentes, principalmente os 
de origem odontológica. 
A CIV não operada se inclui na categoria de risco moderado 
para desenvolvimento de endocardite infecciosa, indicando-se a 
profilaxia com antibiótico em situações de procedimentos poten-
cialmente associados a bacteriemia. No entanto, a profilaxia da 
endocardite tem sofrido mudanças no decorrer do tempo e há 
tendência atual de recomendação somente para os pacientes de 
alto risco. Isso se justifica pelo fato atualmente reconhecido de que 
a bacteriemia transitória pode ocorrer não somente após procedi-
mentos dentários, mas também durante a mastigação, depois do 
uso do fio dental e na escovação e também por não haver evidências 
científicas da eficácia da profilaxia de endocardite. Além disso, é 
necessário o uso de antibióticos em um número muito grande de 
pacientes para que seja evitado um único caso de endocardite, sem 
contar o risco de choque anafilático e o possível risco de resistên-
cia antibiótica em virtude do uso inapropriado dos antibacterianos. 
Assim, não há recomendação de profilaxia de endocardite nos 
pacientes com CIV, exceto: 
• Nos seis primeiros meses após correção cirúrgica adequada. 
• Na presença de CIV residual (após fechamento cirúrgico ou 
com dispositivos). 
• Na síndrome de Eisenmenger. 
• Naqueles pacientes com CIV que apresentam história pregressa 
de endocardite. 
COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR - 407 
Insuficiência aórtica 
A insuficiência valvar aórtica decorrente de prolapso valvar em 
portadores de CIV localizada principalmente na via de saída 
ventricular tem sido citada como uma das complicações que 
potencialmente comprometem de modo significativo a evolução 
desses pacientes. 
Corone et al. relatam o seguimento de 790 pacientes portado-
res de CIV mantidos sem intervenção cirúrgica por até 25 anos 
(seguimento médio de 6 anos), perfazendo um total de 4 .7I7 pa-
cientes-ano. Nesse grupo, a incidência de insuficiência aórtica foi 
de 4,3 casos por I .000 pacientes-ano, equivalente a uma frequên-
cia de ocorrência de 6,3%. 
Tomita et al. procuraram avaliar a evolução do prolapso valvar 
aórtico e da consequente regurgitação aórtica em pacientes porta-
dores de CIV em via de saída e, além disso, determinar a validade 
de índices de gravidade dessa condição. Essas avaliações foram 
medidas ecocardiográficas do índice de deformidade da válvula 
coronariana direita da aorta e da relação dessa deformidade em 
comparação à válvula coronariana esquerda. Realizaram ecocar-
diografia em 3I6 pacientes, constatando que naqueles em que os 
índices avaliados tinham valores baixos, o refluxo valvar aórtico 
era leve e não havia progressão da alteração ao longo do tempo, 
ocorrendo progressão e até ruptura da válvula quando os valores 
eram elevados, concluindo pela não necessidade de intervenção 
cirúrgica na primeira situação e intervenção na segunda. 
Exames complementares 
Eletrocardiogrania 
O eletrocardiograma (ECG) na CIV reflete as alterações hemodi-
nâmicas, relacionadas com o tamanho do defeito e com o grau de 
comprometimento vascular pulmonar. 
Na CIV de pequeno tamanho, o ECG tem padrão normal para 
a idade. Alguns casos de CIV pequenas apresentam padrão rsR' 
em VI ou V 4R. A presença de bloqueio da divisão anterossuperior 
do ramo esquerdo sugere CIV do tipo defeito do septo atrioven-
tricular, perimembranosa de via de entrada, ou múltiplas. 
A CIV de moderado tamanho com mistura da esquerda para a 
direita produzindo dilatação das câmaras esquerdas apresenta 
ECG com sobrecarga do ventrículo esquerdo (SVE) e em geral 
também do átrio esquerdo. A SVE é diagnosticada pela presença 
de ondas Q, R e T amplas (maiores que os limites superiores para 
a idade) nas derivações DII, DIII, aVF e V6. As ondas Q são 
maiores que O ,4 m V e as T são simétricas e apiculadas. A sobre-
carga do átrio esquerdo (SAE) é definida por onda P bifásica, 
com duração aumentada em D I, a VR ou V 6 e deflexão negativa 
em VI proeminente. 
Na CIV de grande tamanho, o traçado eletrocardiográfico mais 
típico é o de sobrecarga biventricular com ondas R e S amplas 
(maiores que 4,5 m V) nas derivações precordiais médias (V3 e V 4). 
408 - COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR 
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Figura 24.4 - Eletrocardiograma de criança do sexo feminino, com 5 meses de idade, portadora de comunicação interventri-
cular de grande tamanho, demonstrando sinais de sobrecarga biventricular caracterizados por ondas R e S amplas em V3. 
Sobrecarga ventricular esquerda também é demonstrada pela grande amplitude das ondas R, Q e T em V4, VS e V6. 
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Figura 24.5 - Eletrocardiograma de criança do sexo mascul ino, com 5 meses de idade, portadora de grande comunicação 
interventricular de v ia de entrada e h ipertensão arterial pulmonar. Há predomínio de sobrecarga ventricular direita de-
monstrada por onda R pura em V1 e V2. Como sinal de sobrecarga ventricular esquerda, observam-se ondas T amplas em 
VS e V6. Sobrecarga atrial esquerda é sugerida pela fase negativa da onda P em V1. O desvio para a esquerda do eixo do 
complexo QRS indica b loqueio divisional anterossuperior esquerdo. 
A sobrecarga do ventrículo direito (SVD) também se manifesta com 
padrões rR' ou rsR' em Vl e a amplitude da onda R' é proporcio-
nal ao aumento da pressão ventricular direita. Pode-se ainda 
encontrar padrão de SAE traduzindo a sobrecarga volumétrica 
atrial decorrente do hiperfiuxo pulmonar (Figuras 24.4 e 24.5). 
O desenvolvimento de DOVP ou a manutenção do padrão de 
resistência arteriolar fetal impedem o hiper:fluxo pulmonar e, 
em consequência, os sinais de SAE e SVE no ECG, o qual 
apresenta apenas SVD com onda R ampla e S ausente ou pe-
quena em Vl e S profundo em V6. Deve-se lembrar que o 
achado de ECG com SVD em CIV pequena ou com padrão 
vascular pulmonar normal causa suspeita de presença de asso-
ciação com obstrução da via de saída do ventrículo direito ou 
associação com banda anômala. 
Radiografia de tórax 
A radiografia de tórax tem papel importante no diagnóstico, na 
avaliação clínica e no acompanhamento da CIV, pois além de 
fornecer informações sobre o tamanho da área cardíaca identi-
ficando quais câmaras estão envolvidas, dá indicações sobre o 
estado da circulação pulmonar pelo padrão vascular e o tamanho 
de tronco e hilos pulmonares. 
Corno o grau de cardiornegalia e a quantidade de fluxo pulmo-
nar relacionam-se ao tamanho da CIV e à resistência vascular 
pulmonar, as alterações radiológicas ocorrem paralelamente aos 
eventos da circulação transicional e da história natural da CIV. 
Assim, um recém-nascido, mesmo com CIV de grande tamanho, 
apresenta radiografia de tórax com área cardíaca e vasculatura 
pulmonar normais e somente em tomo de 40 dias é que se podem 
identificar cardiornegalia e hiper:fluxo pulmonar. 
COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR - 409 
Na CIV de pequeno tamanho, a radiografia de tórax em geral 
é normal. 
Na CIV de moderado ou grande tamanho, com resistência 
vascular pulmonar normal ou pouco elevada, podem-se encontrar 
cardiornegalia e aumento da vasculatura pulmonar de graus varia-
dos, proporcionais à magnitude da mistura sanguínea da esquerda 
para a direita. 
O aumento do ventrículo esquerdo é sugerido pelo alongamen-
to para baixo e para a esquerda da silhueta cardíaca na projeção 
posteroanterior. Sugere-se o aumento do átrio esquerdo pela ele-
vação do brônquio-fonte esquerdo na projeção posteroanterior e 
pelo alongamento posterior da silhueta cardíaca com luxação do 
esôfago na projeção lateral. O aumento da vasculatura pulmonar 
ocorre tanto na região central quanto na periferia dos campos 
pulmonares, sendo acompanhado de dilatação do tronco pulmonar 
(arco médio) e de certo grau de congestão pulmonar (Figura 24 .6). 
Nos defeitos do septo interventricular de grande tamanho em que 
a resistência vascular pulmonar está muito elevada e desenvolveu-
-se doença obstrutiva vascular pulmonar (DOVP), a radiografia de 
tórax mostra área cardíaca de tamanho normal, sinais de hipertro-
fia ventricular direita com o ápice cardíaco rodado discretamente 
para cima, para a esquerda e de modo posterior e dilatação signi-
ficativa do tronco pulmonar e das artérias pulmonares centrais com 
diminuição significativa da vasculatura na periferia. 
Ecocardiografia 
A ecocardiografia é instrumento de grande importância para 
diagnóstico, acompanhamento e orientação do tratamento da CIV, 
fornecendo informações anatômicas precisas e fisiológicas mui-
to bem correlacionadas ao cateterisrno cardíaco. 
Figura 24.6 - Radiografias de tórax em projeções posteroanterior (A) e lateral esquerda (8) de criança do sexo mascul ino, 
com 6 meses de idade e síndrome de Down, portadora de comunicação interventricu lar de tamanho moderado, demons-
trando aumento da área cardíaca e hiperfluxo pulmonar. 
41 O - COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR 
Em relação à anatomia, a ecocardiografia informa a localização 
da CIV (qual segmento do septo está envolvido), o tamanho, as 
bordas e o alinhamento dos componentes do septo, a relação com 
as valvas cardíacas e com a implantação das cordoalhas das valvas 
atrioventriculares e o número de defeitos. 
Para a localização da CIV segundo a classificação de Anderson 
em perimembranosa, muscular, ou duplamente relacionada, é ne-
cessária a identificação dos componentes do septo interventricular 
membranoso e muscular, sendo este subdividido em via de en-
trada, trabecular e via de saída a partir do ventrículo direito. A 
Figura 24.7 representa as diferentes partes do septo interventricu-
lar visibilizadas em vários cortes ecocardiográficos bidimensionais. 
Assim, a CIV perimembranosa é vista no corte de cinco câmaras 
(apical ou subcostal) e no de eixo curto dos vasos da base (paraes-
ternal ou subcostal) relacionada com o folheto do septo da valva 
tricúspide e tendo como borda superior a valva aórtica, localização 
que permite continuidade entre essas duas valvas. 
A CIV de via de entrada é identificada nos cortes apical ou 
subcostal de quatro câmaras e no corte paraesternal de eixo curto 
entre a valva mitral e o músculo papilar. 
A CIV trabecular é diagnosticada na porção média ou apical do 
septo nos cortes apical ou subcostal de quatro ou cinco câmaras 
e no paraesternal de eixo longo do ventrículo esquerdo. No corte 
paraesternal de eixo curto entre a valva mitral e os músculos pa-
pilares podem-se identificar os defeitos trabeculares anteriores 
entre 12 e 1 h e os defeitos médios entre 9 e 12 h . 
• Membranosa • Trabecular 
A CIV de via de saída é identificada no corte paraesternal de 
eixo curto dos vasos da base entre 12 e 2 h, relacionada com a 
valva pulmonar e no corte paraesternal de eixo longo do ventrí-
culo direito. 
Para o diagnóstico da CIV duplamente relacionada, é muito útil 
o corte subcostal de eixo curto com visibilização do defeito na 
região de via de saída do ventrículo direito logo abaixo da valva 
pulmonar, a qual está em continuidade com a valva aórtica. 
A Figura 24.8 mostra a visão ecocardiográfica deconjunto da 
localização anatômica de vários tipos de comunicações interven-
triculares. 
A repercussão hemodinâmica da CIV pode ser avaliada pela 
dilatação de átrio e ventrículo esquerdos, pelo cálculo do QP/QS 
e pela estimativa das pressões em cavidades direitas. O estudo 
com Doppler, além de demonstrar a direção do fluxo sanguíneo 
através do defeito, permite o cálculo do gradiente de pressão in-
terventricular. Para isso, utiliza-se a equação simplificada de 
Bernoulli, em que o gradiente em mrnHg corresponde a 4 V2, com 
V correspondendo à velocidade máxima em m/s do fluxo pela 
CIV. Assim, a pressão arterial pulmonar é igual à pressão arterial 
sistêmica menos o gradiente de pressão interventricular. Também 
com a equação de Bernoulli estima-se a pressão sistólica do ven-
trículo direito (com a velocidade máxima do fluxo de regurgitação 
tricúspide) e as pressões diastólica final e média em tronco pul-
monar (pelas velocidades diastólicas final e inicial da insuficiência 
pulmonar funcional, respectivamente). 
• Via de entrada • Via de saída 
Figura 24.7 - Componentes do septo interventricular identificados em vários p lanos ecocardiográficos. (A) Paraesternal 
de eixo longo do ventrículo esquerdo (VE); (8) apical de quatro câmaras; (C) apical de cinco câmaras; (D) paraesternal de 
eixo curto dos vasos da base; (E) paraesternal de eixo curto na porção basal; e (f) paraesternal de eixo curto na porção 
média. AD= átrio direito; AE =átrio esquerdo; Ao= aorta; TP =tronco pulmonar; VD =ventrículo direito; VSVE =via de 
saída do ventrículo esquerdo. 
COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR - 41 1 
-
Figura 24.8 - Visão ecocardiográfica da localização anatômica de vários t ipos de comunicação interventricular (CIV). 
(A) CIV duplamente relacionada em corte subcostal de eixo curto. (8) CIV muscular trabecular apical evidenciada pelo 
Doppler colorido em corte paraesternal de eixo longo do ventrículo esquerdo (VE). (C) CIV perimembranosa de via de 
entrada em corte subcostal de eixo curto. (D) CIV muscular de via de entrada do tipo canal atrioventricular em corte 
apical de quatro câmaras. (E) CIV muscular trabecular na porção média do septo interventricular em corte paraesternal 
transverso. AD= átrio d ireito; AE =átrio esquerdo; TP =tronco pulmonar; VD =ventrículo direito. 
Figura 24.9 - Corte paraesternal de eixo curto 
dos vasos da base (A) e apical de quatro câ-
maras (8), demonstrando aneurisma do septo 
membranoso com pequena comunicação inter-
ventricu lar (setas). AD= átrio d ireito; AE =átrio 
esquerdo; TP =tronco pulmonar; VD = ventrí-
culo d ireito; VE =ventrículo esquerdo. 
O estudo com Doppler colorido, além de facilitar a identificação 
de comunicações muito pequenas, também contribui para o diag-
nóstico de comunicações múltiplas. 
A ecocardiografia permite o acompanhamento do processo de 
fe.chamento de algumas comunicações interventriculares. Nas 
perimembranosas observa-se a participação de tecido da valva 
tricúspide e nas musculares há crescimento progressivo de tecido 
nas bordas da face ventricular direita do defeito. A presença de 
aneurisma do septo membranoso com CIV (Figura 24.9) parece 
estar associada ao processo de fechamento do defeito com a par-
ticipação de tecido tricúspide. 
Defeitos associados à CIV também são diagnosticados pela 
ecocardiografia, como insuficiência da valva aórtica, obstrução da 
via de saída do ventrículo esquerdo, straddling ou overriding das 
valvas atrioventriculares em relação ao septo interventricular, além 
da possível presença de vegetações por endocardite (Figura 24 .1 O). 
412 - COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR 
Tabela 24.1 - Exames complementares 
CIV pequena CIV moderada CIV grande DOVP 
Radiografia de tórax: cardiomegalia Ausente Moderada Significativa Ausente 
Eletrocardiograma Normal SAE e SVE SAE, SVE e SVD SVD isolada 
Ecocardiografia: relação CIV/raiz aórtica Menor que um terço De um a dois terços Maior que dois terços Maior que dois terços (em geral) 
Ecocardiografia: tamanho das câmaras Normal i AE e i VE i AE, iVE e iVD Hipertrofia do VD 
PSVD (% PSVE) 25 a 30% 30 a 50% 60 a 80% 100% 
AE =átrio esquerdo; CIV = comunicação interventricular; DOVP = doença obstrutiva vascular pulmonar; PSVD = pressão sistólica no ventrículo direito; PSVE = pressão sistólica 
no ventrículo esquerdo; SAE =sobrecarga do átrio esquerdo; SVD =sobrecarga do ventrículo direito; SVE =sobrecarga do ventrículo esquerdo; VD =ventrículo direito; 
VE = ventrículo esquerdo. 
Outras modalidades de ecocardiografia contribuem para o acom-
panhamento da CIV. A ecocardiografia transesofágica possibilita 
a realização do exame em jovens ou adultos com janela ecocardio-
gráfica transtorácica inadequada. A ecocardiografia intraoperatória 
fornece informações imediatas sobre as condições do reparo. A 
ecocardiografia pós-operatória auxilia no diagnóstico diferencial 
de sopros residuais, avalia função ventricular e derrame pericár-
dico e acompanha a redução da pressão arterial pulmonar. 
O diagnóstico pré-natal das cardiopatias congênitas evoluiu 
muito nos últimos anos. A Figura 24.11 mostra uma CIV detec-
tada em ecocardiograma fetal em gestação de 28 semanas. 
A Tabela 24.1 resume os achados de radiografia de tórax, ele-
trocardiograma e ecocardiografia correlacionados ao tamanho da 
CIV e após o desenvolvimento de DOVP. 
Estudo hemodinâmico 
O estudo hemodinâmico ou cateterismo cardíaco vem sendo utili-
zado no diagnóstico de cardiopatias congênitas há cerca de 60 anos 
e desde então tem havido rápido progresso, tanto no que se refere 
às técnicas angiográficas quanto a equipamento utilizado, meios de 
contraste e controle anestésico. Recentemente, o grande desen-
volvimento obtido com a ecocardiografia tem possibilitado, em 
Figura 24.10- Corte apical de quatro câmaras demonstran-
do ecos anômalos aderidos ao folheto do septo da valva 
tricúspide, compatíveis com vegetações (setas) em criança 
portadora de comunicação interventricular perimembranosa 
de via de entrada com quadro cl ín ico e laboratorial de en-
docardite. AD = átrio direito; AE = átrio esquerdo; VD = 
ventrículo direito; VE =ventrículo esquerdo. 
muitos centros, a não utilização do cateterismo como ferramenta 
primária no diagnóstico da maioria das cardiopatias congênitas, 
sendo as operações planejadas e executadas com base apenas na 
ecocardiografia. Técnicas mais modernas, como tomografia compu-
tadorizada e ressonância magnética, também vêm sendo progressi-
vamente utilizadas, permitindo muitas vezes o diagnóstico de forma 
menos invasiva, inclusive em crianças de baixo peso e neonatos . 
Apesar de na CIV isolada e não complicada o cateterismo car-
díaco vir sendo substituído, ainda pode ser útil nos casos de cardio-
patias complexas, outras malformações associadas, como anomalias 
de coronárias, avaliação dos vasos intrapulmonares e conexões sis-
têmico-pulmonares. Mesmo nos dias atuais, o cateterismo cardíaco 
é insubstituível para definir a resistência arteriolar pulmonar e 
estudar a resposta aos vasodilatadores, em especial o óxido nítri-
co, nos casos de CIV com hipertensão pulmonar e dúvida na in-
dicação cirúrgica. As Figuras 24.12 e 24.13 ilustram alguns 
aspectos angiográficos da comunicação interventricular. 
Ressonância magnética 
Na atualidade, a ressonância magnética tem se tomado um instru-
mento não invasivo importante na avaliação das cardiopatias 
congênitas. Nos pacientes portadores de CIV, a ressonância magné-
tica pode auxiliar com mais informações nos casos com janela 
Figura 24.11 - Ecocardiograma feta l de gestação de 28 se-
manas evidenciando comunicação interventricular (seta) no 
corte de quatro câmaras, caracterizada por ausência de ecos 
no septo interventricular e presença de artefato em T (bor-
das h iper-refringentes). AD = átrio direito; AE = átrio es-
querdo; VD = ventrícu lo direito; VE = ventrículo esquerdo. 
Figura 24.12-(A e 8) Estudo hemodinâmico pós-ope-
ratório tardio de ampla comunicação interventricu-
lar perimembranosa com extensão para a via de 
saída ventricular esquerda. O paciente apresentava 
hipertensão arterial pulmonar, tendo sido submeti-
do a bandagem de tronco pulmonar (TP). Nota-se 
fluxo bidirecional (setas). Ao= aorta; CIV = comuni-
cação interventricular; VD =ventrículo direito; VE = 
ventrículo esquerdo. 
Figura 24.13-(A e 8) Estudo hemodinâmico 
com ventriculografia esquerda em d iástole e 
sístole. Constata-se pequena comunicação 
interventricular muscular trabecular (seta). 
Ao = aorta; VE = ventrículo esquerdo. 
ecocardiográfica inadequada, quando a CIV estiver associada a 
defeitos complexos, no diagnóstico de defeitos extracardíacos 
( coarctação da aorta e estenose de ramos pulmonares) e também 
forne.cer dados hemodinâmicos (relação QP/QS, volumes ventri-
culares, pressão e resistência vascular pulmonar). 
Tratamento 
Tratamento clínico 
O tratamento clínico medicamentoso está indicado para os lacten-
tes portadores de CIV com sintomas de insuficiência cardíaca 
congestiva enquanto aguardam o fechamento cirúrgico do defeito. 
Diuréticos (furosemida e ou espironolactona) associados ou não 
a inibidores da enzima de conversão da angiotensina ( captopril ou 
enalapril) podem ser utilizados. Pressão arterial sistêmica, função 
renal e nível sérico de potássio devem ser monitorados, principal-
mente durante o uso dos inibidores da enzima de conversão. 
E importante dar atenção à vacinação e à nutrição adequada, já 
que esses pacientes muitas vezes estão com o peso abaixo do 
percentil esperado e podem apresentar infecções pulmonares de 
repetição agravando o quadro clínico. 
Descompensações súbitas, com graves quadros infecciosos ou 
de insuficiência cardíaca congestiva, podem demandar internação 
COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR - 413 
hospitalar, emprego de inotrópicos, diurético intravenoso e até 
intubação. 
Os pacientes portadores da síndrome de Down merecem um 
acompanhamento especial, pois apresentam maior risco de evoluí-
rem precocemente com elevação da resistência vascular pulmonar 
se comparados à população geral . O atraso na indicação cirúrgica 
para esse grupo pode provocar irreversibilidade do quadro com 
aparecimento da síndrome de Eisenmenger. 
Procedimento percutâneo 
Na tentativa de evitar as morbidades do tratamento cirúrgico, tais 
como defeitos residuais, bloqueio atrioventricular e complicações 
da circulação extracorpórea, tem sido proposto o fechamento da 
CIV com dispositivos pela via percutânea. Desde 1988, têm apa-
recido na literatura relatos do uso de vários tipos de dispositivos 
para fechamento percutâneo da CIV, sendo o modelo Amplatzer® 
(AGA Medical Corporation, Golden Valley, MN, Estados Unidos) 
um dos mais utilizados na atualidade. Esses métodos têm sido es-
pecialmente úteis para defeitos do septo muscular, os quais, por 
outro lado, são considerados os mais difíceis para acesso cirúrgico 
(Vick III e Penny, 2011). Os resultados têm sido animadores e 
espera-se que em breve, com redução na ocorrência de complicações, 
essa forma de tratamento venha a ser utilizada em maior escala. 
41 4 - COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR 
Operação 
Os pacientes a serem submetidos à operação são selecionados de 
acordo com tamanho e tipo da CIV, história clínica, sintomas e 
complicações. 
O procedimento deve ser realizado em centros de referência 
para o tratamento de cardiopatias congênitas e por cirurgiões 
especializados. 
Crianças com CIV grande, independentemente do tipo, com 
quadro de insuficiência cardíaca congestiva que não responde ao 
tratamento medicamentoso, devem ser operadas aos 3 meses de 
idade. Quando respondem ao tratamento com medicações, opera-se 
aos 6 meses de idade aquela CIV não restritiva e com hipertensão 
pulmonar, antes de o hiperfiuxo ocasionar doença vascular pulmo-
nar irreversível. Após essa idade, essa forma de CIV provavelmen-
te não se fechará de modo espontâneo. 
Crianças com CIV pequena ou moderada (QP/QS < 2) e na 
ausência ou com poucos sinais e sintomas devem ser acompanha-
das clinicamente durante o primeiro ano de vida, pois há grande 
possibilidade de fechamento espontâneo. 
Tabela 24.2 - Indicações para correção da comumicação 
interventricular (adaptado de ESC Guidelines for the 
management of grown-up congenital heart disease, 2010) 
Indicações Classe Nível 
Pacientes com sintomas atribuídos ao fluxo E-D através 
da CIV e sem doença vascular pulmonar importante 
(ver adiante) deveriam fechar a CIV cirurgicamente 
Pacientes assintomáticos com evidência de sobrecarga 
volumétrica de VE atribuída a CIV deveriam fechar a 
CIV cirurgicamente 
Pacientes com história prévia de EI deveriam ser 
considerados para fechamento cirúrgico da CIV 
Pacientes com CIV associada a prolapso de uma válvula 
aórtica cursando com IAo progressiva deveriam ser 
considerados para cirurgia 
Pacientes com CIV e HAP deveriam ser considerados 
para cirurgia se ainda existir fluxo E-D evidente 
(QP:QS > 1,5} e PAP ou RVP < 2/3 dos valores 
sistêmicos (basal ou após vasodilatadores, de 
preferência óxido nítrico, ou após terapia direcionada 
para HAP) 
Cirurgia deve ser evitada na presença de CIV com 
Eisenmenger e desaturação induzida por exercício 
Evitar cirurgia se a CIV for pequena, não subarterial, 
sem sobrecarga volumétrica de VE ou hipertensão 
pulmonar e sem h istória de EI 
lla 
lla 
lla 
111 
111 
Classe 1: situação em que existem evidências e/ou concordância geral de que o 
procedimento é benéfico e efetivo. 
Classe li: situação em que haja evidências conflitantes e/ou divergentes sobre a 
utilidade e a eficácia do procedimento ou tratamento. 
e 
e 
e 
e 
e 
e 
e 
Classe lla: situação em que o peso das evidências e opiniões favorece a utilização do 
procedimento ou tratamento. 
Classe llb: situação em que a utilização e a eficácia do procedimento ou tratamento 
não estão bem suportadas pelas evidências e opiniões. 
Classe Ili: situação em que existem evidências e/ou concordância geral de que o 
procedimento ou tratamento não é benéfico, podendo até ser deletério. 
Nível de evidência A: dados obtidos a partir de vários ensaios randomizados ou de 
meta-análises de ensaios clínicos randomizados. 
Nível de evidência B: dados obtidos de um único ensaio clínico randomizado, ou de 
vários estudos não randomizados. 
Nível de evidência C: dados obtidos de opiniões consensuais de especialistas no assunto. 
CIV =comunicação interventricular; E-D = da esquerda para a direita; EI = endocardite 
infecciosa; HAP = hipertensão arterial pulmonar; IAo = insuficiência aórtica; 
PAP = pressão arterial pulmonar; QP:QS = relação entre fluxo pulmonar e sistêmico; 
RVP = resistência vascular pulmonar; VE =ventrículo esquerdo. 
A operação está indicada, de forma geral, independentemente 
da localização ou da idade, de acordo com o quadro clínico, sempre 
que existir QP/QS maior que 1,5: 1, havendo melhor prognóstico 
nos casos com resistência arteriolar pulmonar inferior a 4 unidades 
Wood/m2. 
Quando houver dúvida se a hipertensão arterial pulmonar já 
provocou lesão vascular irreversível, os pacientes devem ser 
submetidos ao estudo hemodinâmico. Ainda podem ser consi-
derados para o fechamento cirúrgico aqueles pacientes que 
possuem fluxo da esquerda para a direita pela CIV e pressão 
arterial pulmonar ou resistência vascular pulmonar abaixo de dois 
terços dos respectivos valores sistêmicos, mesmo que seja necessá-
rio teste de resposta aguda a vasodilatadores (preferencialmente 
o óxido nítrico) ou uso de terapia direcionada à hipertensão pul-
monar, como sildenafila ou bosentana. 
O prolapso valvar aórtico com regurgitação moderada ou sig-
nificativa associada é indicação precisa para ofechamento da CIV, 
independentemente de tipo, tamanho, idade, ou história clínica. 
Do mesmo modo, episódio prévio de endocardite infecciosa 
também justifica o fechamento da CIV independentemente do 
tamanho ou do quadro clínico. 
Em nosso meio, por inúmeros motivos, alguns locais ou servi-
ços de cardiologia e cirurgia cardiovascular não possuem condições 
para o tratamento definitivo ou algumas vezes não há possibilidade 
de encaminhamento do paciente. Nessas situações, em últimas 
circunstâncias, pode-se realizar a bandagem do tronco pulmonar, 
que protegerá os pulmões para uma posterior correção defini-
tiva. Importante salientar que esse não é o procedimento cirúr-
gico ideal para essa doença. Exceção deve ser considerada nos 
portadores de comunicações múltiplas (CIV do tipo queijo suíço), 
em que a bandagem pulmonar ainda tem sua indicação como 
procedimento paliativo para controlar o fluxo pulmonar. Esses 
pacientes devem ser acompanhados com ecocardiograma, obser-
vando-se a hipertrofia septal e oclusão dos pequenos orifícios. 
Assim, alguns poderão ser abordados no futuro de forma conven-
cional para fechamento da CIV por via atrial, evitando-se a aber-
tura do ventrículo esquerdo. 
A Tabela 24.2 resume as indicações para intervenção em CIV. 
Circulação extracorpórea 
O estabelecimento da circulação extracorpórea (CEC) é comu-
mente realizado com três cânulas introduzidas na aorta, na cava 
superior e na cava inferior após heparinização com 4 mg/kg. 
Quando há veia cava superior esquerda persistente, pode-se optar 
por uma quarta cânula, aspirador no seio coronariano, ou sim-
plesmente garroteamento temporário, caso o tempo para o 
fechamento da CIV seja curto. Iniciada a CEC, orienta-se para 
normotermia ou hipotermia moderada a 28ºC, pinçamento aórtico, 
abertura do átrio direito e fenestração no septo interatrial para 
introdução de aspirador, o que irá descomprimir as cavidades 
esquerdas e permitir a operação com campo cirúrgico sem sangue. 
Inicia-se a cardioplegia, conforme a rotina do serviço (ver capí-
tulo Proteção miocárdica). Rotineiramente, utiliza-se solução 
\/) 
' 00 
N -' ?:l -"1" 
\/) 
00 
' 00 r-
0\ 
cardioplégica sanguínea, anterógrada, hipotérmica a 4 ºC, na dose 
de 20 mflkg, repetida a cada 15 a 20 min. Após a correção do 
defeito, procede-se a descanulação, administração de protamina 
na dose de 1 ;l: 1 de heparina, hemostasia e fechamento de tórax 
de forma habitual. 
Sistema de condução 
O conhecimento do sistema de condução elétrica na CIV é funda-
mental para o cirurgião e está bem determinado. Sabe-se que lesões 
no nó atrioventricular, no feixe de condução direito, esquerdo, ou 
ambos, podem ser causadas por trauma direto da sutura ou tração 
inadequada do tecido. 
No defeito do tipo perimembranoso, correspondente a aproxima-
damente 80% dos pacientes operados, o cirurgião que visibiliza 
pelo átrio direito e pela valva tricúspide deve ter muito cuidado 
nas bordas posterior e inferior do defeito . Essa região em geral 
está entre a área do músculo papilar do cone (músculo de Lancisi) 
e o ângulo no qual o defeito se encontra relacionado com o anel 
tricúspide. O nó atrioventricular pode ser localizado no ápice do 
triângulo de Koch, que é o ponto de referência para localização 
do nível de penetração do feixe de His no septo interventricular. 
Variações anatômicas ocorrem de acordo com o tipo de CIV. 
Na CIV do tipo muscular geralmente não há risco de lesão do 
sistema de condução. 
,, 
COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR - 415 
Vias de abordagem 
A abordagem da CIV pode ser feita por cinco vias: átrio direito, 
tronco pulmonar, ventrículo esquerdo (mais utilizadas), ventrículo 
direito e aorta (menos utilizadas) . Algumas vezes, é necessária a 
associação de duas abordagens, dependendo de a extensão do 
defeito ser para a via de entrada, a porção trabecular, ou a via de 
saída do ventrículo direito. 
,, 
Atrio direito 
Utilizada com mais frequência, principalmente na CIV do tipo 
perimembranosa e em alguns tipos musculares. 
Com a abertura do átrio direito, a CIV pode ser encontrada 
expondo-se as cúspides anterior e do septo da valva tricúspide 
(Figura 24 .14). Quando mesmo assim todas as bordas do defeito 
não podem ser visibilizadas, opta-se pela abertura da valva tri-
cúspide de forma circunferencial, paralelamente ao seu anel 
(Figura 24.15, A). Nesse momento, é essencial a atenção à valva 
aórtica, em razão de sua proximidade com a valva tricúspide e o 
risco de lesão, podendo causar insuficiência valvar aórtica. 
Com a CIV localizada, inicia-se a passagem de pontos em U 
de polipropileno 5-0 ou 6-0, de acordo com o peso da criança, 
ancorados em pequenas almofadas de pericárdio bovino. Os pon-
tos devem ser passados na face ventricular direita, superficialmente 
Figura 24.14- Comunicação interventricular perimembranosa com extensão para a via de entrada (seta) visibilizada após 
retração da cúspide anterior da va lva tricúspide. AD = átrio direito; Ao = aorta; VCI = veia cava inferior; VCS = veia cava 
superior; VT = valva tricúspide. 
416 - COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR 
e com muita atenção às bordas posterior e inferior para evitar 
lesão do feixe de condução elétrica (Figura 24 .15, B). O triângulo 
de Koch orienta para a localização do sistema de condução (ver 
capítulo Anatomia cardíaca e análise segmentar sequencial nas 
cardiopatias congênitas). Os fios são passados acompanhando 
as bordas da CIV, muitas vezes na borda superior, junto ao 
"anel" valvar aórtico, no qual há maior índice de CIV residual. 
Completadas todas as bordas, inclusive com alguns pontos po-
dendo ser passados no anel da valva tricúspide, todos são trans-
fixados a uma placa de pericárdio, a qual deve apresentar 
sempre tamanho um pouco maior que o orifício do defeito (Fi-
gura 24.15, C). Faz-se, então, a fixação dessa placa, ocluindo a 
comunicação (Figura 24.15, D). 
Quando houver necessidade de desinserção de parte da valva 
tricúspide, esta pode ser reconstruída com sutura contínua de 
polipropileno 6-0 (Figura 24.15, E). 
Algumas comunicações do tipo muscular (Figura 24.16) neces-
sitam de fechamento com a utilização de placa de pericárdio 
bovino, ao passo que outras, em geral menores, podem ser fecha-
das com sutura direta e sem risco de lesão do sistema de condução. 
A presença de duas ou mais comunicações (Figura 24 .17) tam-
bém pode ocorrer e devem ser tratadas sempre que possível pela 
mesma via de abordagem, de preferência sem abertura ventricular. 
Tronco pulmonar 
Abordagem de utilização comum na CIV do tipo muscular com 
extensão para a via de saída do ventrículo direito (Figura 24.18), 
ou então na CIV duplamente relacionada (Figura 24.19). 
Incisa-se longitudinalmente o tronco pulmonar e com dois 
afastadores a valva pulmonar é tracionada. Na borda superior 
do defeito alguns pontos podem ser ancorados na junção do anel 
valvar pulmonar com o seio valvar (Figura 24.20,A), diminuin-
do as chances de CIV residual. Essa sutura deve ser cuidadosa 
para evitar má funcionalidade da valva pulmonar. As válvulas 
pulmonares devem estar livres e com mobilidade preservada 
após a sutura e a comunicação sempre fechada com o auxílio 
de uma placa (Figura 24.20, B). Deve-se evitar a sutura direta, 
mesmo que o orifício seja pequeno, pois pode causar distorção 
e regurgitação da valva aórtica. O tronco pulmonar é fechado 
, 
com sutura continua. 
Ventrículo esquerdo 
Essa abordagem deve ser evitada, sendo somente utilizada em CIV 
muscular trabecular, em que não é possível sua visibilização ade-
quada pelo átrio direito. O septo interventricular em sua face 
direita apresenta trabeculações e pode dar falsa ideia do tamanho 
e do local da CIV. Na CIV muscular do tipo "queijo suíço" também 
se deve dar preferência a essa via. A incisão apical, o mais distan-
te possível dascoronárias, pode ser vertical ou transversal e deve 
ser a menor possível para evitar disfunção ventricular esquerda 
(Figura 24 .21). 
Ventrículo direito 
Abordagem raramente necessária para fechamento de CIV quan-
do este for o único defeito cardíaco. Pode facilitar o fechamento 
da CIV em situações em que é necessária a abertura do ventrículo 
direito, como na tetralogia de Fallot com necessidade de abertura 
da via de saída do ventrículo direito e em doenças como tronco 
arterial ou atresia pulmonar com CIV, em que é necessária a 
incisão no ventrículo direito para reconstrução da continuidade 
com as artérias pulmonares. Atenção especial deve ser dada à 
distribuição das artérias coronárias, para que não haja lesão de 
ramos importantes como o interventricular anterior. 
Aorta 
Opção utilizada quando há necessidade de correção de lesões 
associadas, como plastia valvar aórtica, ressecção de estenoses 
valvar ou subvalvar, como na síndrome de Shone. A incisão na 
aorta pode ser longitudinal, oblíqua, ou transversal na face anterior 
da aorta ascendente. É importante observar a origem dos óstios 
coronarianos e as comissuras no momento da incisão para que seja 
evitada lesão das estruturas anatômicas. A valva aórtica é afastada 
com cuidado e expõe-se o defeito. Quando há ausência de borda 
fibrosa ou muscular, os pontos podem ser passados no próprio anel 
valvar aórtico, ficando-se atento para evitar lesão das válvulas. 
Essa via de acesso não é a preferencial, podendo ser utilizada nas 
situações citadas e tendo-se muita atenção com o feixe de condu-
ção elétrica. 
Bandagem do tronco pulmonar 
A bandagem do tronco pulmonar está indicada para os portadores 
de CIV com altas pressões pulmonares, em que o risco de falên-
cia ventricular direita no pós-operatório seja considerável e 
também na CIV muscular do tipo "queijo suíço", como citado 
anteriormente. 
Pode ser realizada por toracotomia anterolateral ou transestemal 
mediana. Esta é a via preferencial, pois permite dissecção adequada 
das estruturas e fixação do material utilizado na bandagem em 
pelo menos dois pontos, evitando que a bandagem migre e oca-
sione estenose dos ramos pulmonares ou fique muito próxima da 
valva pulmonar, dificultando o segundo tempo operatório para 
correção definitiva. 
O comprimento da banda deve ser calculado com base na regra 
de Trusler, ou seja, 20 mm de comprimento, mais o número de 
milímetros correspondente ao peso da criança em quilogramas. 
Em algumas cardiopatias complexas cianogênicas, usam-se 24 mm 
para o cálculo. 
Após o tronco pulmonar ser laçado pela banda, dois cateteres 
são introduzidos no tronco pulmonar distalmente e na aorta, para 
aferição contínua das pressões . Nesse momento, com fração de 
oxigênio inspirada de 100%, inicia-se a restrição do tronco pulmo-
nar com a bandagem. Observa-se a saturação periférica (sempre 
com dois oxímetros de pulso), a qual deve ficar entre 7 5 e 85 % e 
a relação entre as pressões sistólicas da aorta e pulmonar, em que 
• ,. 1 .,. . .. -. . ... tft ,.. • • . a· .,. . .' .. 
l • • 
\ ?fº 
• 
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AD 
• 
• 
• • 
Figura 24.15 - (A) Abordagem pelo átrio direito (AD). Cúspide 
anterior da valva tricúspide desinserida (seta) para facilitar o 
fechamento da comunicação interventricular (CIV). (8) Posicio-
namento adequado dos pontos nas bordas posterior e inferior 
(setas) evitando lesão do sistema de condução. (Q Fios transfi-
xados em p laca de pericárdio bovino (setas) usada para fecha-
mento do defeito. (D) Comunicação interventricular fechada 
com placa de pericárdio bovino (setas). (!) Reinserção da cúspide 
anterior da valva tricúspide (seta). Ao = aorta; se = seio coro-
nariano; SIA = septo interatrial; VT = valva tricúspide. 
COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR - 417 
\ AD 
' 
• 
" . . 
• 
AD 1' • 
• • 
418 - COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR 
Figura 24.16 - Abordagem pelo átrio direito (AD). Comuni-
cação interventricular (CIV) muscular com extensão para a via 
de entrada do ventrículo d ireito (seta). Ao = aorta; VT = 
valva tricúspide; SIA = septo interatrial. 
Figura 24.17 - Abordagem pelo átrio direito (AD). Presença 
de duas comunicações interventricu lares (CIV) (setas), uma 
perimembranosa com extensão para a via de entrada do 
ventrículo direito e outra muscular com extensão para a por-
ção trabecular. Ao = aorta; VT = valva tricúspide. 
• 
I 
VD 
• 
Figura 24.18 - Abordagem pelo tronco pulmonar (TP). Comu-
nicação interventricular (CIV) muscular com extensão para a 
via de saída do ventrículo d ireito (seta). Ao= aorta; AD= átrio 
direito; VCS =veia cava superior; VD =ventrículo direito. 
VD 
' 
VPul 
Figura 24.19 - Abordagem pelo tronco pulmonar (TP). Co-
municação interventricular (CIV) duplamente relacionada. 
Observa-se o prolapso da valva aórtica (VA) (seta). VD = 
ventrículo direito; VPul =valva pulmonar. 
Figura 24.20 - (A) Abordagem pelo tronco 
pulmonar (TP). Pontos ancorados em torno 
do defeito muscular na via de saída do ven-
trículo esquerdo. A lguns pontos transfixam 
o anel valvar pulmonar. (8) Placa de pericár-
dio bovino ocluindo o defeito (seta). Nota-se 
a valva pulmonar livre tracionada pela pinça. 
Ao= aorta; VD =ventrículo direito. 
Figura 24.21 - Abordagem pelo ventrícu lo esquerdo (VE) 
em comunicação interventricular muscular com extensão 
trabecular apical (seta). Ao= aorta; VD =ventrículo direito. 
COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR - 419 
VD 
( • 
420 - COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR 
a pressão desta deve ser menor que 50% daquela. Não havendo 
cianose significativa, bradicardia, ou instabilidade hemodinâmica, 
inicia-se a fixação da banda como já descrito . 
A retirada da banda é realizada quando o paciente apresentar 
condições clínicas e hemodinâmicas para a correção definitiva da 
CIV. Quando a bandagem tem menos de 6 meses, pode-se sim-
plesmente retirar a banda. Porém, se a banda tiver mais tempo, 
forma-se fibrose significativa nessa região. Nessa situação, é ne-
cessária a reconstrução do tronco pulmonar término-terminal, com 
ressecção total de toda a área fibrosada (Figura 24.22). 
Figura 24.22 - Técnica para retirada de bandagem tardia do tronco pulmonar {TP). (A) Secção do tronco entre a bandagem 
e a valva pulmonar (seta). Notam-se a estenose e a fibrose no local da bandagem. (8) Segmento da bandagem (seta) resse-
cado e comparado seu d iâmetro com a porção distal do tronco pulmonar. (C) Anastomose da parede posterior do tronco 
pulmonar (seta) após ressecção do segmento da bandagem. (D) Aspecto final após reconstrução do tronco pulmonar (seta). 
AD = átrio direito; Ao = aorta; VCS =veia cava superior; VD =ventrícu lo direito. 
Associações 
Quando a CIV apresentar outros defeitos associados, todos devem 
ser tratados no mesmo ato cirúrgico. 
A persistência do canal arterial e a comunicação interatrial 
não oferecem dificuldades no tratamento e devem ser corrigi-
das de forma habitual . O canal deve ser ligado e seccionado e a 
comunicação interatrial fechada com sutura direta ou com placa 
de pericárdio. 
A regurgitação valvar aórtica comumente diminui somente com 
o fechamento da CIV, muitas vezes não havendo necessidade de 
intervenção na valva aórtica com regurgitação discreta. Porém, na 
regurgitação moderada ou importante é necessária também a 
plastia valvar aórtica. 
A estenose subvalvar aórtica também pode ocorrer por excesso 
de tecido fibroso nas cúspides e no aparelho subvalvar da valva 
tricúspide na região perimembranosa do septo. 
A insuficiência valvar tricúspide pode ocorrer quando a CIV 
tiver repercussão hemodinâmica significativa e nessa situação 
realiza-se a plastia da valva como preconizado por De Vega. 
Quando houver coarctação da aorta significativa ou interrupção 
do arco aórtico, faz-se necessária a hipotermia profunda com hi-
pofluxoou parada circulatória total. 
Porém, é sempre importante estar atento à relação direta que 
existe entre a mortalidade e o fluxo sanguíneo da esquerda para a 
direita, a idade do paciente e o grau de hipertensão pulmonar, não 
sendo o peso um fator limitante ao fechamento da CIV com sucesso. 
Complicações 
Em geral, relacionam-se a lesões das estruturas anatômicas, ou 
seja, do sistema de condução, da valva tricúspide e da valva aór-
tica. Arritmias transitórias são comuns após o fechamento da CIV, 
podendo associar-se com a cardioplegia e o próprio contato do 
remendo com o nó atrioventricular e o feixe de His. 
Quando houver necessidade de fechamento pelo ventrículo 
direito , encontra-se bloqueio de ramo direito no pós-operatório. 
100 
Figura 24.23 - Curva atuarial de sobre- #. 
vivência (Kaplan-Meier) de 343 pacien- > u tes após a correção de comunicação CIJ "'O 
interventricular (CIV) no Serviço de o llO 
Cirurgia Cardíaca Pediátrica de São ...,. CIJ .... .... José do Rio Preto - Hospital de Base o 50 u ' (FUNFARME)/Faculdade Regional de "' -o a. 
Medicina de São José do Rio Preto o +-' 
(FAMERP), SP. A taxa de sobrevivência .o -o 
até 100 meses de seguimento foi de CIJ "'O 
"' 96, 1 ± 1,3°/o. CIJ .... > 
_J 
o o 
343 
COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR - 421 
Quando houver bloqueio atrioventricular total, deve-se aguardar 
14 dias com uso de marca-passo temporário e com implante de 
marca-passo definitivo caso não haja reversão ao ritmo sinusal. 
Corticoides são administrados nesse período com o intuito de 
diminuir o edema cardíaco. 
A valva aórtica pode ser lesionada em duas situações: quan-
do se retira a valva tricúspide para o fechamento da CIV, ou no 
momento da sutura da placa próximo ao anel. Ambas podem 
provocar perfuração da valva aórtica, ocasionando insuficiência 
valvar e algumas vezes hemólise no pós-operatório. 
A insuficiência da valva tricúspide pode ocorrer quando as 
cordas tendíneas são cortadas para o fechamento da CIV. 
A CIV residual que ocorre em menos de 5% dos pacientes 
operados pode se dar por deiscência da sutura, doença miocárdica, 
ou endocardite. A reoperação está indicada nas mesmas condições 
que no portador de CIV virgem de tratamento. 
Resultados 
Em 10 anos de experiência no Serviço de Cirurgia Cardíaca Pediá-
trica de São José do Rio Preto - Hospital de Base (FUNFARME)/ 
Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), 
em São José do Rio Preto, SP, 343 pacientes foram submetidos ao 
fechamento da crv. 
Cento e oitenta e três (53,35%) pacientes eram do sexo mascu-
lino e 160 (46,65%) do sexo feminino . Quarenta e cinco (13,12%) 
eram portadores da síndrome de Down, dos quais 5 ( 11,11 % ) 
, , . 
morreram no pos-operatono. 
O peso médio no momento da operação foi de 14 ± 12 kg, com 
mediana de 8,9 kg. A idade média foi de 43 ± 53 meses, com me-
diana de 17 meses, o que reflete a necessidade de diagnóstico e 
tratamento especializado mais precoces em nosso meio. 
O tempo de auxílio de circulação extracorpórea médio foi de 
74 ± 34 min, com mediana de 68 min. O tempo de isquemia mio-
cárdica médio foi de 54 ± 28 min, com mediana de 49 min. A 
temperatura média foi de 29 ± 3ºC, com mediana de 28ºC. 
Dez (2,92 % ) pacientes morreram (9 óbitos imediatos e 1 tardio) . 
As principais causas foram disfunção ventricular por hipertensão 
96, 1±1,3% 
30 60 90 meses evolução 
85 32 7 sob risco 
422 - COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR 
pulmonar em 3 pacientes, broncopneumonia em 2 e sepse em 4. 
Desses, um paciente tinha anemia falciforme, um tinha hipoplasia 
importante de artéria pulmonar direita e um tinha hipoplasia do 
parênquima pulmonar esquerdo. O óbito tardio ocorreu por leu-
cemia rnieloide aguda. 
A curva atuarial de sobrevivência dos 343 pacientes operados 
em nosso serviço no período de 2002 a 2011 corrobora a ideia de 
que a mortalidade operatória em nosso país continental e com 
tantas dificuldades pode ser baixa na dependência de inúmeros 
fatores, tais corno diagnóstico precoce, acompanhamento clínico 
adequado, possibilidade de tratamento cirúrgico no melhor mo-
mento e em centro especializado com técnicas de circulação 
extracorpórea, preservação rniocárdica e cuidados pós-operatórios 
próprios para portadores de cardiopatias congênitas. 
A Figura 24.23 mostra a curva atuarial de sobrevivência 
(Kaplan-Meier) de 343 pacientes após a correção de CIV no Ser-
viço de Cirurgia Cardíaca Pediátrica de São José do Rio Preto 
- Hospital de Base (FUNFARME)/Faculdade Regional de Me-
dicina de São José do Rio Preto (FAMERP), SP. A taxa de 
sobrevivência até 100 meses de seguimento foi de 96,l ± 1,3%. 
LEITURA RECOMENDADA 
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